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61www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A PERÍODO EMBRIONÁRIO E FETAL Adaptado SADLER, T. W. (2013). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Figura 1 - Disco embrionário com 16 dias (A) e 18 dias (B). Aparecimento dos somitos e do sulco neural (C) e (D). Figura 2 - Embriões humanos com 22, 24, 26 e 28 dias. Figura 3 - Embrião humano com 32 dias. 1. INTRODUÇÃO Nas aulas anteriores falamos sobre a organogênese inicial, ou seja, do início da especialização dos tecidos embrionários: neurulação, diferenciação do mesoderma e formação do intestino primitivo e de um importante evento que leva ao estabelecimento da forma do embrião, o seu dobramento. Nesta aula, vamos resumir os principais acontecimentos do desenvolvimento e as mudanças na forma externa do embrião que ocorrem até a 8ª semana. No final do 2º mês, os principais sistemas orgânicos já se estabeleceram. 2. PERÍODO EMBRIONÁRIO No início da terceira semana, o disco embrionário tem um aspecto plano e ovoide (Fig. 1A e B). No final da terceira semana, ocorre o aparecimento dos primeiros somitos e do sulco neural (Fig. 1C e D), indicando o início do período de organogênese. No início da quarta semana (Fig 2), com 22 dias, o tubo neural já está se fechando, mas é amplamente aberto nos neuroporos anterior e posterior. Com 24 dias, o primeiro par de arcos faríngeos se origina e o coração é visto como uma grande saliência que bombeia sangue. Com 26 dias, o embrião torna-se curvado, é possível observar a saliência do encéfalo em desenvolvimento, o primórdio da orelha interna (fosseta ótica) se origina, bem como os placodes do cristalino. No final da 4a semana, com 28 dias (Fig 2), é possível notar o aparecimento dos brotos dos membros superiores e inferiores, os neuroporos encontram-se fechados e o sistema cardiovascular já está bem desenvolvido. Durante a 5ª semana (Fig. 3), as mudanças na forma externa do corpo do embrião são pequenas. A cabeça excede o crescimento das outras regiões do corpo devido ao rápido desenvolvimento do encéfalo e das proeminências faciais. Neste momento, ocorre a formação das cristas mesonéfricas, que são os rins provisórios. 62 EM BR IO LO GI A Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Figura 4 - Embrião humano com 42 dias. Figura 6 - Embriões humanos com 52 e com 56 dias. Figura 5 - Embrião humano com 48 dias. Figura 7 - Embriões humanos com 9, 12, 20, 28 e 38 semanas. Na 6º semana (Fig. 4), o embrião já apresenta respostas reflexas ao toque e movimentos espontâneos gerados por contrações musculares no tronco e nos membros. A cabeça ainda é muito maior do que o tronco. É possível também notar externamente o aparecimento dos raios digitais das mãos, as saliências auriculares da orelha externa e os olhos são bastante evidentes devido à pigmentação da retina. Na 7ª semana (Fig. 5), aparecem chanfraduras entre os raios digitais das placas das mãos indicando os futuros dedos. Neste momento a ossificação dos membros superiores já se iniciou. Na 8ª semana (Fig. 6), que é a última semana do período de organogênese, com 52 dias, os dedos já estão separados, mas ainda permanecem unidos por membranas. É possível notar o plexo vascular do couro cabeludo. Com 56 dias, os dedos são mais compridos e totalmente separados. A ossificação do fêmur também se inicia. Nesta fase, é possível notar os primeiros movimentos voluntários dos membros. No final da 8a semana, o embrião apresenta características nitidamente humanas, entretanto, a cabeça ainda é desproporcional em relação ao tamanho do tronco. 3. PERÍODO FETAL O período fetal se estende da 9ª semana até o nascimento (38 semanas). Neste período acontece um rápido crescimento corporal, elevado ganho de peso nas últimas semanas e ocorre também uma diminuição relativa do tamanho da cabeça em relação ao resto do corpo (Fig. 7). Uma característica importante do período fetal é a maturação dos tecidos, órgãos e sistemas. A duração da gravidez é de 280 dias (40 semanas) após a última menstruação (UPMN - Último Período Menstrual Normal) ou de 266 dias (38 semanas) após a fertilização. Nos estudos de embriologia, a idade do embrião/ feto será calculada a partir do momento da fertilização, ou seja, vamos considerar a duração de 38 semanas (266 dias). Na clínica utiliza-se o UPMN como sinônimo de tempo de gestação. 63www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A Adaptado SADLER, T. W. (2013). Adaptado SADLER, T. W. (2013). Adaptado SADLER, T. W. (2013). Adaptado SADLER, T. W. (2013). Tabela 1 - Crescimento em comprimento e peso durante o período fetal. Figura 8 - Proporção entre o tamanho da cabeça e do corpo no 3° mês (A), 5° mês (B) e no nascimento (C). O período gestacional é dividido em três trimestres: 1° trimestre → Já se formaram os sistemas; 2° trimestre → O feto cresce em tamanho; 3° trimestre → O feto pode sobreviver caso nasça prematuramente. A idade do feto pode ser estimada pela medida do comprimento cabeça-nádegas (CCN), também chamado comprimento craniocaudal (CCC). A tabela abaixo (Tabela 1) traz o crescimento em comprimento e peso de acordo com a idade do feto em semanas. Observe que o aumento de peso do início do período fetal até o nascimento é de cerca de 340 vezes, sendo que o maior aumento ocorre no último trimestre. Uma das alterações mais significativas do período fetal é a desaceleração do crescimento da cabeça em comparação ao restante do corpo. No início do terceiro mês, a cabeça constitui metade do comprimento craniocaudal (CCC), no 5° mês, constitui um terço do CCC e no nascimento representa um quarto (Fig. 8). No início do terceiro mês (Figura 9), a face é larga, os olhos são bem separados e as orelhas têm implantação baixa. No fim do 3° mês, os olhos movem-se para o aspecto ventral da face e as orelhas aproximam-se de sua posição definitiva. Até o final da 9ª semana, as genitálias ainda estão no estágio indiferenciado. Só é possível detectar o sexo do feto por ultrassonografia (USG) a partir da 12ª semana. Figura 9 - Fetos com 11 e 12 semanas. Figura 10 - Feto com 18 semanas. No quarto mês, os movimentos dos membros tornam-se ordenados. Neste período, a ossificação primária (diáfise) do esqueleto é ativa. No quinto mês (Fig. 10), os movimentos fetais (pontapés) são sentidos com maior frequência pela mãe. A pele é coberta por vernix caseoso e lanugo para proteção. A gordura parda se acumula e será uma importante fonte de calor para o recém-nascido. Com 20 semanas, os cabelos e sobrancelhas tornam-se visíveis. Aos 7 meses (Fig. 11), os pulmões alcançam a maturação suficiente para realizar trocas gasosas. O sistema nervoso também está maduro e pode dirigir os movimentos respiratórios rítmicos e a temperatura corporal. Deste modo, o feto 64 EM BR IO LO GI A Adaptado SADLER, T. W. (2013). ANOTAÇÕES consegue sobreviver com cuidados intensivos caso nasça prematuramente. Figura 11 - Feto com 7 meses. Com 35 semanas, o feto segura-se com firmeza e se orienta de forma espontânea à luz. Quando quase a termo, o sistema nervoso está suficientemente maduro para realizar funções integrativas. O nascimento é previsto para 38 semanas após a fertilização ou 40 semanas após a última menstruação. Entretanto cerca de 12% das crianças nascem de 1 a 2 semanas após a data esperada de nascimento. A maior parte dos fetos atinge o CCC de 360 mm e pesa cerca de 3.400 g. 65www.biologiatotal.com.br EX ER CÍ CI OS EXERCÍCIOS 1 2 3 4 5 6 7 8 Classifique os eventos abaixo de acordo com o intervalo de tempo (1ª-2ª; 3ª-8ª ou 9ª-38ª semanas) em que ocorrem. a) Cada um dos três folhetos embrionários, o ectoderma, o mesoderma e o endoderma, dá origem a vários tecidos e de órgãos específicos. b) Ao finaldesse período, a maioria dos sistemas orgânicos já se estabeleceu, tornando reconhecíveis as principais características externas do corpo. c) O embrião tornou-se um ser humano reconhecível, acontece um rápido crescimento corporal e a maturação de tecidos, órgãos e sistemas. d) Durante esse período ocorre a clivagem do zigoto, implantação do blastocisto, formação do disco bilaminar. São eventos que ocorrem durante o período embrionário, exceto: a) Fechamento dos neuroporos do tubo neural. b) Aparecimento da fosseta ótica. c) Movimentos espontâneos. d) Aparecimento dos brotos dos membros superiores e inferiores. e) Diferenciação das genitálias masculina e feminina. O período fetal é caracterizado: a) Pela formação das três camadas germinativas. b) Pelo aparecimento dos somitos. c) Pela maturação dos tecidos, órgãos e sistemas. d) Pela formação dos tecidos, órgãos e sistemas. e) Pelo dobramento do embrião. A fosseta ótica é o primórdio dos olhos. ( ) Certo ( ) Errado As cristas mesonéfricas são os rins provisórios. ( ) Certo ( ) Errado Os primeiros movimentos voluntários são percebidos durante o período fetal. ( ) Certo ( ) Errado A duração da gravidez de acordo com o Último Período Menstrual Normal (UPMN) é de ___________________ dias e _________________ semanas. Na clínica, o UPMN é utilizado como sinônimo para o tempo de gestação. O tempo será de __________________ dias e _________________ semanas após a fertilização. A idade do feto pode ser estimada pela medida do comprimento cabeça-nádegas (CCN), também chamado de comprimento craniocaudal (CCC). No início do período fetal (9ª até a 12ª semana), o CCC é de 5 a 8 cm. ( ) Certo ( ) Errado Uma das alterações mais significativas do período fetal é a desaceleração do crescimento da cabeça em comparação ao corpo. Qual é a proporção cabeça e corpo no início do período fetal? a) 1/3 b) ½ c) ¼ d) 1/5 e) 1 Um feto que nasce durante o sexto mês tem dificuldade de sobreviver porque os sistemas respiratório e nervoso central ainda não estão suficientemente maduros. ( ) Certo ( ) Errado 9 10 66 EM BR IO LO GI A GABARITO DJOW PERÍODO EMBRIONÁRIO E FETAL REFERÊNCIAS MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Embriologia Clínica. 9ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. SADLER, T.W. (2001). Langman Embriologia Médica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, S.A. SCHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Larsen, embriologia humana. 4ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. WOLPERT, L. et al.(2000). Princípios de Biologia do Desenvolvimento. Porto Alegre. Artes Médicas Sul. ANOTAÇÕES 1- A) 3ª-8ª semanas. B) 3ª-8ª semanas. C) 9ª-38ª semanas. D) 1ª-2ª semanas. 2- Alternativa e. 3- Alternativa c. 4- Errado. É o primórdio da orelha interna. 5- Certo. 6- Errado. Acontecem durante o período embrionário, na 8ª semana. 7- 280 dias; 40 semanas; 266 dias; 38 semanas. 8- Certo. 9- Alternativa b. 10- Certo. www.biologiatotal.com.br PERÍODO EMBRIONÁRIO E FETAL RESUMO DA AULA • Acompanha os principais acontecimentos do desenvolvimento e as mudanças na forma externa do embrião que ocorrem até a 8ª semana. PERÍODO EMBRIONÁRIO • No final da 3a semana, ocorre o aparecimento dos primeiros somitos e do sulco neural, indicando o início do período de organogênese. • No início da 4ª semana o tubo neural já está se fechando. No final da 4ª semana, com 28 dias, é possível notar o aparecimento dos brotos dos membros superiores e inferiores, os neuroporos encontram-se fechados e o sistema cardiovascular já está bem desenvolvido. • Durante a 5a semana, as mudanças na forma externa do corpo do embrião são pequenas. • Na 6a semana, o embrião já apresenta respostas reflexas ao toque e movimentos espontâneos gerados por contrações musculares no tronco e nos membros. A cabeça ainda é muito maior do que o tronco. • Na 7a semana aparecem chanfraduras entre os raios digitais das placas das mãos indicando os futuros dedos. • Na 8a semana, que é a última semana do período de organogênese, com 52 dias, os dedos já estão separados, mas ainda permanecem unidos por membranas. Nesta fase, é possível notar os primeiros movimentos voluntários dos membros. • No final da 8a semana, o embrião apresenta características nitidamente humanas, entretanto, a cabeça ainda é desproporcional em relação ao tamanho do tronco. Embriões humanos com 52 e com 56 dias. PERÍODO FETAL • O período fetal se estende da 9a semana até o nascimento (38 semanas). • Neste período acontece um rápido crescimento corporal, elevado ganho de peso nas últimas semanas e ocorre também uma diminuição relativa do tamanho da cabeça em relação ao resto do corpo, a maturação dos tecidos, órgãos e sistemas. www.biologiatotal.com.br Embriões humanos com 9, 12, 20, 28 e 38 semanas. A duração da gravidez é de 280 dias (40 semanas) após a última menstruação (UPMN - Último Período Menstrual Normal) ou de 266 dias (38 semanas) após a fertilização. O período gestacional é dividido em três trimestres: • 1° trimestre → Já se formaram os sistemas; • 2° trimestre → O feto cresce em tamanho; • 3° trimestre → O feto pode sobreviver caso nasça prematuramente. • No início do 3º mês, a face é larga, os olhos são bem separados e as orelhas têm implantação baixa. • Até o final da 9ª semana, as genitálias ainda estão no estágio indiferenciado. • Só é possível detectar o sexo do feto por ultrassonografia (USG) a partir da 12ª semana. • No 5º mês, os movimentos fetais (pontapés) são sentidos com maior frequência pela mãe. • Aos 7 meses, os pulmões alcançam a maturação suficiente para realizar trocas gasosas. O sistema nervoso também está maduro e pode dirigir os movimentos respiratórios rítmicos e a temperatura corporal. Deste modo, o feto consegue sobreviver com cuidados intensivos caso nasça prematuramente. • O nascimento é previsto para 38 semanas após a fertilização ou 40 semanas após a última menstruação. 67www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO DA PLACENTA Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Figura 1 - (A) Corte frontal do útero gravídico mostrando a elevação da decídua capsular. (B) Saco coriônico. (C) e (D) Corte sagital de um útero gravídico mostrando as membranas fetais e as decíduas. 1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento da viviparidade conferiu grandes vantagens ao concepto, dessas a estabilidade do ambiente é a maior delas. Essa situação atingiu o maior estado de desenvolvimento em mamíferos eutheria com o desenvolvimento da placenta. A placenta desempenha um papel chave na reprodução dos mamíferos porque regula a transferência de oxigênio e nutrientes da mãe para o feto e resíduos metabólicos na direção oposta. A placenta é um órgão de tecidos tanto fetais quanto maternos. É um órgão elo entre a mãe e o filho. Ela permite que os mamíferos se desenvolvam de simples ovos oligolécitos, diferindo dos répteis e das aves que se desenvolvem de ovos telolécitos, pois proporciona a garantia de suas necessidades básicas: respiração, nutrição e eliminação de seus catabólitos. O desenvolvimento dentro do corpo da mãe garante proteção ao embrião permitindo que se desenvolva um ou poucos indivíduos. 2. ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO DA PLACENTA Nos mamíferos placentários, a placenta passou por graus evolutivos culminando na placenta dos primatas, sem dúvidas a mais especializada. A placenta é um órgão fetomaterno que possui um componente fetal, o córion viloso, e um componente materno que é derivada do endométrio, chamado de decídua basal. 2.1. COMPONENTE MATERNO: DECÍDUA BASAL Em resposta aos níveis crescentes de progesterona no sangue materno, as células do tecido conjuntivo do endométrio aumentam de tamanho para formar as células deciduais. Esse aumento é decorrente do acúmulo de glicogênio e lipídios em seu citoplasma. Essas mudanças celulares e vasculares que ocorrem no endométrio durante a implantação do blastocistoconstituem a reação decidual. As células deciduais proporcionam uma fonte nutricional rica para o embrião e protegem o tecido materno contra uma invasão descontrolada do sinciciotrofoblasto. A decídua, portanto, é o endométrio gravídico da mulher, a camada funcional do endométrio que se desprende do restante do útero no parto. Três regiões da decídua são nomeadas de acordo com a sua relação ao local de implantação (Fig. 1): decídua basal, parte da decídua profunda ao concepto; decídua capsular, parte superficial da decídua que recobre o concepto; e decídua parietal, que compreende todas as outras partes restantes da decídua. A parte da decídua envolvida com a formação da placenta é a decídua basal. 2.2. COMPONENTE FETAL: CÓRION VILOSO O final da primeira semana de desenvolvimento é marcado pelo início do processo de implantação. Com a adesão do blastocisto ao epitélio 68 EM BR IO LO GI A Figura 2 - Concepto com 14-15 dias. Observe a constituição do córion. Figura 3 - Desenvolvimento das vilosidades coriônicas (A) primária, (B) Secundária e (C) terciária. endometrial, o trofoblasto se diferencia em duas camadas, o citotrofoblasto e o sinciciotrofoblasto. O sinciciotrofoblasto é o responsável pelo processo de invasão do blastocisto no estroma endometrial. A implantação nos humanos é do tipo intersticial, pois o concepto se implanta completamente no estroma endometrial. Na segunda semana, o sinciciotrofoblasto desenvolve uma grande número de lacunas que permitem a nutrição do embrião. Essas lacunas comunicam-se com os sinusoides maternos e, assim, se estabelece uma circulação uteroplacentária primitiva. O fim da segunda semana é caracterizado pelo surgimento das vilosidades coriônicas primárias. São extensões que crescem a partir da proliferação do citotrofoblasto para dentro do sinciciotrofoblasto. O mesoderma extraembrionário somático mais as duas camadas de trofoblasto (citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto) formam o córion, que envolve a cavidade coriônica (Fig. 2 e 3). No início da terceira semana, o mesênquima cresce no eixo central das vilosidades primárias. Nesse estágio, as vilosidades são chamadas vilosidade coriônicas secundárias e revestem toda a superfície do saco coriônico. Logo, algumas células mesenquimais das vilosidades se diferenciam em capilares e células sanguíneas. Quando esses capilares são visíveis, as vilosidade são chamadas de vilosidades coriônicas terciárias. Assim, ao final da terceira Adaptado SHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Adaptado SHOENWOLF, G.C. et al. (2009). semana, os arranjos anatômicos necessários para as trocas fisiológicas entre a mãe e o embrião estão estabelecidas (Fig. 3). Nas semanas iniciais do desenvolvimento, as vilosidades coriônicas recobrem toda a superfície do córion (Fig. 1C). Conforme a gravidez progride, as vilosidades coriônicas do polo abembrionário (oposto ao polo embrionário, que estão em contato com a decídua capsular) degeneram devido ao crescimento do saco coriônico que comprime essas vilosidades reduzindo o suprimento sanguíneo (Fig. 1D). Essas vilosidades logo degeneram, produzindo uma área relativamente avascular, formando o córion liso. Com o desaparecimento dessas vilosidades, as vilosidades associadas à decídua basal no polo embrionário rapidamente aumentam em número, ramificam-se e aumentam em tamanho, formando uma área espessa no saco coriônico, o córion viloso ou frondoso (Fig. 4). O córion viloso constitui a porção fetal da placenta. Figura 4 - Saco coriônico de um feto de 13 semanas. Observe a região do córion liso e do córion viloso. Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). 69www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A Adaptado SADLER, T. W. (2013). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Figura 5 - Placenta à termo. (A) Lado fetal da placenta. (B) Lado materno da placenta. Figura 7 - Com o dobramento do embrião, o pedículo de conexão aproxima-se do saco vitelino e com a expansão progressiva do âmnio forma-se um tubo de membrana amniótica. Figura 8 - Tubo de membrana amniótica que fecha o pedículo de conexão e o ducto vitelino, formando o cordão umbilical. (A) Corte longitudinal. (B) Corte transversal. Figura 6 - (A) Decídua basal em associação com o córion viloso formando a placenta. (B) A decídua basal é quase que completamente substituída por cotilédones; houve a degeneração da decídua capsular. Âmnio e córion fusionam-se e formam a membrana amniocoriônica. O formato da placenta é determinado pela área persistente das vilosidades coriônicas, normalmente é uma área circular que dá à placenta um formato discoide (Fig. 5). Ao final do quarto mês, a decídua basal é quase completamente substituída pelos cotilédones. Com o crescimento do concepto, a decídua capsular entra em contato e fusiona-se com a decídua parietal na parede oposta e, dessa forma, oblitera a cavidade uterina. Entre a 22° e a 24° semana de gestação, a decídua capsular se degenera e desaparece (Fig. 6). O saco amniótico aumenta de maneira mais rápida que o saco coriônico e, como resultado, o âmnio e o córion fusionam-se para formar a membrana amniocoriônica (Fig. 6). Essa membrana fusiona-se com a decídua capsular e depois, com o desaparecimento da decídua capsular, fusiona-se com a decídua parietal. É a membrana coriônica que se rompe no trabalho de parto. 3. DESENVOLVIMENTO DO CORDÃO UMBILICAL A principal função do cordão umbilical é transportar o sangue entre o embrião/feto e a placenta. Com o dobramento cefalocaudal do embrião, o pedículo de conexão aproxima-se do saco vitelino. Com a expansão progressiva do âmnio, cria-se um tubo de membrana amniótica que fecha o pedículo de conexão e o ducto vitelino, formando o cordão umbilical (Fig. 7 e 8). O saco vitelino e o ducto vitelino normalmente desaparecem até o nascimento. Adaptado SHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Adaptado SHOENWOLF, G.C. et al. (2009). 70 EM BR IO LO GI A ANOTAÇÕES Figura 9 - Estrutura de uma placenta à termo e o cordão umbilical. O cordão umbilical é constituído por duas artérias e uma veia umbilical. Estes vasos do cordão umbilical circundados por tecido conjuntivo (Geleia de Wharton) se desenvolvem no pedículo do embrião (Fig. 9). Adaptado SHOENWOLF, G.C. et al. (2009). 71www.biologiatotal.com.br EX ER CÍ CI OS EXERCÍCIOS 1 2 3 4 5 6 7 8 As vilosidades coriônicas terciárias apresentam: a) Exclusivamente citotrofoblasto. b) Exclusivamente sinciciotrofoblasto. c)Sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto e mesoderma. d) Sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto, mesoderma e vasos sanguíneos. e) Citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto. Sobre a constituição da placenta, responda: A) Qual é o componente fetal da placenta? B) Qual é o componente materno da placenta? A decídua basal: a) É a parte superficial que recobre o concepto. b) É a decídua profunda ao concepto, envolvida na formação da placenta. c) É pressionada contra a decídua parietal e desaparece no 5° mês. d) Não está envolvida na formação da placenta. e) É a parte fetal da placenta. As lacunas trofoblásticas formam-se no sinciciotrofoblasto e permitem a nutrição do embrião, já que se comunicam com os sinusóides maternos. ( ) Certo ( ) Errado As vilosidades coriônicas secundárias possuem os arranjos anatômicos necessários para as trocas fisiológicas entre a mãe e o embrião. ( ) Certo ( ) Errado A figura abaixo mostra as relações entre as membranas fetais e a parede do útero no final do segundo mês. Localize as seguintes estruturas: I – Decídua basal II – Decídua parietal III – Decídua capsular. IV – Córion viloso V – Córion liso VI – Saco vitelino VII – Cavidade amniótica VIII – Cavidade coriônica IX – Cavidade uterina A figura abaixo mostra as relações entre as membranas fetais e a parede do útero no final do terceiro mês. Localize as seguintes estruturas: I – Decídua parietal, âmnio e córion liso fusionados II – PlacentaIII – Cordão umbilical IV – Membrana amniocoriônica V – Cavidade amniótica O formato discoide da placenta a termo é determinado pela área persistente de vilosidades coriônicas. ( ) Certo ( ) Errado Sobre o desenvolvimento, estrutura e função do cordão umbilical, assinale verdadeiro (V) ou falso (F). a) ( ) A função do cordão umbilical é transportar o sangue entre o embrião/feto e a placenta. b) ( ) O saco vitelino e o ducto vitelino persistem até o nascimento. c) ( ) Com a expansão progressiva do âmnio forma-se um tubo de membrana amniótica em torno do ducto vitelino e do pedículo de conexão. 9 72 EX ER CÍ CI OS 10 ANOTAÇÕES d) ( ) O cordão umbilical é constituído por duas veias e uma artéria circundados pela geleia de Wharton. e) ( ) Os vasos sanguíneos do cordão umbilical desenvolvem-se no pedículo de conexão. A reação decidual acontece durante a implantação do blastocisto, quando mudanças celulares e vasculares levam ao acúmulo de glicogênio e lipídios no citoplasma das células do endométrio. ( ) Certo ( ) Errado 73www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A GABARITO DJOW PERÍODO EMBRIONÁRIO E FETAL REFERÊNCIAS MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Embriologia Clínica. 9ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. SADLER, T.W. (2001). Langman Embriologia Médica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, S.A. SCHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Larsen, embriologia humana. 4ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. WOLPERT, L. et al.(2000). Princípios de Biologia do Desenvolvimento. Porto Alegre. Artes Médicas Sul. 1- Alternativa d. 2- A) Córion viloso. B) Decídua basal. 3- Alternativa b. 4- Certo. 5- Errado. Somente as vilosidades coriônicas terciárias possuem os arranjos anatômicos necessários para as trocas fisiológicas. 6- 7- 8- Certo. 9- V; F; V; F; V. 10- Certo. ANOTAÇÕES www.biologiatotal.com.br ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO DA PLACENTA RESUMO DA AULA • A placenta é um órgão fetomaterno que possui um componente fetal, o córion viloso, e um componente materno que é derivada do endométrio, chamado de decídua basal. Componente materno: Decídua basal • As células deciduais proporcionam uma fonte nutricional rica para o embrião e protegem o tecido materno contra uma invasão descontrolada do sinciciotrofoblasto. • A decídua é o endométrio gravídico da mulher, a camada funcional do endométrio que se desprende do restante do útero no parto. Ela possui 3 regiões: decídua basal, decídua capsular e decídua parietal. A parte da decídua envolvida com a formação da placenta é a decídua basal. Componente fetal: Córion viloso • Na segunda semana, o sinciciotrofoblasto desenvolve um grande número de lacunas que permitem a nutrição do embrião. • O fim da segunda semana é caracterizado pelo surgimento das vilosidades coriônicas (antes chamadas de primárias). • No início da terceira semana, o mesênquima cresce no eixo central das vilosidades, que agora são chamadas de secundárias. • Logo, algumas células mesenquimais das vilosidades se diferenciam em capilares e células sanguíneas. Desta forma, as vilosidades são chamadas de terciárias. • Nas semanas iniciais do desenvolvimento, as vilosidades coriônicas recobrem toda a superfície do córion. • O córion viloso constitui a porção fetal da placenta. • O formato da placenta é determinado pela área persistente das vilosidades coriônicas, normalmente é uma área circular. • Entre a 22° e a 24° semana de gestação, a decídua capsular se degenera e desaparece. (A) Decídua basal em associação com o córion viloso formando a placenta. (B) A decídua basal é quase que completamente substituída por cotilédones; houve a degeneração da decídua capsular. Âmnio e córion fusionam-se e formam a membrana amniocoriônica. www.biologiatotal.com.br DESENVOLVIMENTO DO CORDÃO UMBILICAL • A principal função do cordão umbilical é transportar o sangue entre o embrião/feto e a placenta. • O cordão umbilical é constituído por duas artérias e uma veia umbilical. Estes vasos do cordão umbilical circundados por tecido conjuntivo (Geleia de Wharton) se desenvolvem no pedículo do embrião. Estrutura de uma placenta à termo e o cordão umbilical. 74 EM BR IO LO GI A FISIOLOGIA DA PLACENTA Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Figura 1 – Representação esquemática de uma placenta a termo. 1. INTRODUÇÃO O útero, o saco coriônico e a placenta aumentam de tamanho com o crescimento do feto. O crescimento no tamanho e na espessura da placenta continua até o feto atingir aproximadamente 18 semanas de idade. Quando desenvolvida por completo, a placenta recobre de 15 a 30% da decídua e pesa até 1/6 do peso do feto. A placenta a termo é discoide, com diâmetro entre 15 e 25 cm, aproximadamente 3 cm de espessura e pesa de 500 a 600 g. No nascimento ela se desprende da parede uterina e, cerca de 30 minutos após o nascimento, é expelida da cavidade uterina. Na superfície materna da placenta é possível visualizar de 15 a 20 cotilédones, recobertos por uma fina camada de decídua basal. As fossas entre os cotilédones são os septos deciduais. Já na face fetal, é possível observar que ela é completamente recoberta pela placa coriônica. Várias grandes artérias e veias, os vasos coriônicos convergem para o cordão umbilical. O córion, por sua vez, é recoberto pelo âmnio. 2. FISIOLOGIA DA PLACENTA A parte fetal da placenta está aderida à parte materna pela capa citotrofoblástica. Com a invasão das vilosidades na decídua basal, o tecido da decídua é erodido e são formados os septos placentários, os quais dividem a placenta em cotilédones (Fig. 1). As veias e artérias endometriais passam livremente através da capa citotrofoblástica e abrem-se no espaço interviloso. O espaço interviloso é derivado das lacunas do sinciciotrofoblasto e contém sangue materno. Mesmo sendo dividido em septos, há livre circulação de sangue entre os compartimentos (Fig. 1). 2.1. CIRCULAÇÃO PLACENTÁRIA MATERNA Os cotilédones recebem o sangue materno por meio de cerca de 80 a 100 artérias espiraladas do endométrio que penetram a capa citotrofoblástica e entram no espaço interviloso (Fig. 1). O sangue materno traz oxigênio, nutrientes e outras substâncias até o espaço interviloso. Lá, acontecerão as trocas entre o sangue materno e fetal e, então, o sangue pobre em oxigênio e com produtos residuais do feto será drenado pelas veias endometriais, retornando para a circulação materna. O sangue materno do espaço interviloso se move ao longo das vilosidades coriônicas, que têm uma área superficial de 4 a 14 m2. As trocas placentárias acontecerão nos locais onde os vasos fetais estão em contato íntimo com a membrana placentária, ou seja, na rede arterio-capilar-venosa (Fig. 2). 2.2. CIRCULAÇÃO FETAL O sangue fetal pouco oxigenado e com os produtos residuais do feto é transportado para a placenta pelas artérias umbilicais. O sangue chega então até as vilosidades coriônicas e fica bem próximo ao sangue materno na rede 75www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Figura 2 – (A) Vilosidade coriônica. (B) Corte transversal da vilosidade até a 20ª semana de gestação. (C) Corte transversal da vilosidade após a 20ª semana de gestação. Figura 3 – Representação esquemática do transporte e transferência através da membrana placentária. arterio-capilar-venosa, permitindo as trocas entre as circulações materna e fetal (Fig. 2). O sangue fetal rico em oxigênio e nutrientes retorna para a circulação fetal pela veia umbilical (Fig. 1). É importante ressaltar que normalmente não acontece a mistura de sangue materno e fetal, já que há a membrana placentária (Fig. 2B e 2C). As substâncias são transportadas por mecanismos de transporte, tais como difusão simples, difusão facilitada, transporte ativo e pinocitose. Além das trocas gasosas e de nutrientes, outras substânciascomo anticorpos, IgG e vitaminas podem chegar ao espaço interviloso através do sangue materno e atravessar a membrana placentária. Também substâncias nocivas como álcool, drogas, medicamentos e agentes infecciosos também podem atravessar a membrana placentária (Fig. 3). Bactérias, heparina, IgM e IgS são substâncias não transferíveis. 3. A PLACENTA PRODUZ HORMÔNIOS A placenta também tem função endócrina e produz alguns hormônios importantes para a gestação. Por exemplo, o corpo lúteo produz progesterona e estrógeno até a 11a semana de gravidez. A partir daí, a placenta assume essa função. Outro hormônio produzido pela placenta é a somatomamotropina, uma substância semelhante ao hormônio de crescimento e que dá ao feto prioridade sobre a glicose sanguínea e também promove o desenvolvimento mamário para produção de leite. Outras substâncias produzidas pela placenta incluem a tireotrofina coriônica humana, fatores de crescimento e prostaglandinas. ANOTAÇÕES 76 EX ER CÍ CI OS EXERCÍCIOS 1 2 3 4 5 6 7 8 O espaço interviloso contém todas as substâncias seguintes, EXCETO: a) Nutrientes. b) O 2 e CO 2 . c) Células sanguíneas maternas. d) Células sanguíneas fetais. e) Metabólitos. A membrana placentária é uma estrutura que consiste em tecidos extrafetais, que separam o sangue materno do sangue fetal. Entretanto, quantidades muito pequenas de sangue fetal sempre passam por essa membrana e chegam ao espaço interviloso. ( ) Certo ( ) Errado A região mais importante da decídua para a nutrição do concepto é a decídua: a) Basal b) Parietal c) Capsular d) Lisa e) Vilosa As estruturas abaixo pertencem à parte fetal da placenta, exceto: a) Vilosidades coriônicas b) Capa citotrofoblástica c) Decídua basal d) Artérias e veia umbilicais e) Placa coriônica As ________________ trazem o sangue materno rico em oxigênio, nutrientes e outras substâncias até o espaço _______________________. O sangue materno pobre em oxigênio e com produtos residuais do feto será drenado pelas _______________________. As trocas placentárias acontecem: a) Na rede arterio-capilar-venosa b) Em toda a extensão da vilosidade c) Na placa coriônica d) Na decídua basal e) No córion liso O sangue fetal pouco oxigenado e com produtos residuais do feto é transportado para a placenta pelas _______________________. Acontecem então as trocas entre as circulações materna e fetal e o sangue fetal rico em oxigênio e nutrientes retorna para a circulação fetal pela ________________________. As substâncias são transportadas entre o sangue materno e fetal por mecanismos de transporte, tais como difusão simples, difusão facilitada, transporte ativo e pinocitose. ( ) Certo ( ) Errado Além das trocas gasosas e de nutrientes, outras substâncias atravessam a membrana placentária, exceto: a) IgG b) Anticorpos c) Álcool d) Medicamentos e) Bactérias A placenta também possui função endócrina. Alguns dos hormônios produzidos são: Progesterona, estrógeno, somatomamotropina e tireotrofina coriônica humana. ( ) Certo ( ) Errado 9 10 ANOTAÇÕES 77www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A GABARITO DJOW PERÍODO EMBRIONÁRIO E FETAL 1- Alternativa d. 2- Errado. 3- Alternativa a. 4- Alternativa c. 5- Artérias espiraladas do endométrio; interviloso; veias endometriais. 6- Alternativa a. 7- Artérias umbilicais; veia umbilical. 8- Certo. 9- Bactérias. 10- Certo. ANOTAÇÕES REFERÊNCIAS MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Embriologia Clínica. 9ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. SADLER, T.W. (2001). Langman Embriologia Médica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, S.A. SCHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Larsen, embriologia humana. 4ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. WOLPERT, L. et al.(2000). Princípios de Biologia do Desenvolvimento. Porto Alegre. Artes Médicas Sul. www.biologiatotal.com.br FISIOLOGIA DA PLACENTA RESUMO DA AULA A parte fetal da placenta está aderida à parte materna pela capa citotrofoblástica. . Circulação placentária materna • Os cotilédones recebem o sangue materno por meio de cerca de 80 a 100 artérias espiraladas do endométrio. • O sangue materno traz oxigênio, nutrientes e outras substâncias até o espaço interviloso. Neste espaço acontecerão as trocas entre o sangue materno e fetal e, então, o sangue pobre em oxigênio e com produtos residuais do feto será drenado pelas veias endometriais, retornando para a circulação materna. • As trocas placentárias acontecerão nos locais onde os vasos fetais estão em contato íntimo com a membrana placentária, ou seja, na rede arterio-capilar-venosa. Circulação fetal • O sangue fetal pouco oxigenado e com os produtos residuais do feto é transportado para a placenta pelas artérias umbilicais. • O sangue chega então até as vilosidades coriônicas e fica bem próximo ao sangue materno na rede arterio-capilar-venosa. • O sangue fetal rico em oxigênio e nutrientes retorna para a circulação fetal pela veia umbilical. • É importante ressaltar que normalmente não acontece a mistura de sangue materno e fetal, já que há a membrana placentária. • Além das trocas gasosas e de nutrientes, outras substâncias como anticorpos, IgG e vitaminas podem, e até mesmo substâncias nocivas. (A) Vilosidade coriônica. (B) Corte transversal da vilosidade até a 20ª semana de gestação. (C) Corte transversal da vilosidade após a 20ª semana de gestação. www.biologiatotal.com.br A PLACENTA PRODUZ HORMÔNIOS • A placenta também tem função endócrina e produz alguns hormônios importantes para a gestação. 78 EM BR IO LO GI A MEMBRANAS EXTRAEMBRIONÁRIAS Adaptado SHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Figura 1 - Aparecimento da cavidade amniótica na 2ª semana de desenvolvimento. Figura 2 - Formação do âmnio e da membrana de Heuser (/exocelômica). 1. INTRODUÇÃO A evolução da placenta e do desenvolvimento interno nos mamíferos placentários substitui a casca rígida do ovo. O padrão básico de membranas extraembrionárias, no entanto, permanece o mesmo. Elas proporcionam ao embrião o desenvolvimento em um ambiente aquoso, acesso à nutrição, suprimento de oxigênio e eliminação de resíduos metabólicos. As membranas extraembrionárias são derivadas do zigoto e não contribuem em quase nada para a formação do corpo do embrião. São elas: córion, âmnio, saco vitelino e alantoide. Na aula anterior, falamos sobre a formação do córion, portanto, nesta aula, nosso foco será as demais membranas extraembrionárias: âmnio, saco vitelino e alantoide. 2. ÂMNIO Na segunda semana de desenvolvimento, o acúmulo de líquido entre as células do epiblasto e do trofoblasto faz com que a cavidade amniótica apareça (Fig. 1). Então, uma camada de células se expande a partir do epiblasto e recobre o teto da cavidade amniótica. Essa camada de células forma o âmnio, uma fina membrana que separa a cavidade amniótica do citotrofoblasto (Fig. 2). Adaptado SHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). O âmnio a princípio está preso às bordas do disco embrionário. Com o dobramento do embrião sua junção com o embrião passa a ser ventral e, desta forma, a envolver todo o embrião (Fig. 3). Por volta da 20ª semana, o âmnio continua se expandindo e gradualmente ocupa toda a cavidade coriônica, que deixa de existir. Deste modo, o âmnio funde-se com o córion e forma a membrana amniocoriônica, que é a membrana que se rompe durante o trabalho de parto (Fig. 4). Figura 3 - O dobramento do embrião faz com que a junção do âmnio com o embrião torne-se ventral. Figura 4 - A expansão do âmnio com o acúmulo de líquido amniótico oblitera a cavidade coriônica na 20ª semana de desenvolvimento. A cavidade amniótica é preenchida pelo líquido amniótico. A princípio o líquido é secretado pelas próprias células do âmnio. Com a progressão do desenvolvimento, ocorre a difusão de líquido através da membrana amniótica da decídua79www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A parietal e através da placenta. Também ocorre a secreção de líquido pelos sistemas respiratório e digestório fetais. O líquido amniótico é composto por células epiteliais fetais descamadas que estão suspensas no líquido; compostos orgânicos, como proteína, carboidratos, enzimas, hormônios, gorduras; sais inorgânicos; e com a progressão da gestação, há o acréscimo das excretas fetais, mecônio e urina. O líquido amniótico é importante ao desenvolvimento por proporcionar o crescimento simétrico do embrião/feto e permitir o movimento livre do feto, auxiliando o desenvolvimento muscular. O líquido constitui uma barreira às infecções, auxilia no desenvolvimento dos pulmões, controla a temperatura, amortece impactos recebidos pela mãe e é importante na manutenção da homeostase dos líquidos e eletrólitos. 3. SACO VITELINO As células do hipoblasto contribuem para a formação da membrana exocelômica (ou membrana de Heuser) (Fig. 2), uma membrana adjacente ao citotrofoblasto, que junto com o hipoblasto, forma o saco vitelino primário (também chamado de vesícula umbilical primitiva) (Fig. 5). Com a formação da cavidade coriônica, o saco vitelino primário diminui de tamanho. Durante a formação do saco vitelino definitivo ocorre o desprendimento de uma grande parte do saco vitelino primário (Fig. 6). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Figura 5 - Saco vitelino primário. Figura 7 - Corte longitudinal mostrando a formação do alantoide. Figura 6 - Desprendimento de parte do saco vitelino e formação do saco vitelino definitivo. Durante o dobramento do embrião, o saco amniótico empurra o saco vitelino e ele fica preso ao corpo do embrião por um fino pedículo vitelino (Fig. 3). Ao longo do desenvolvimento, o saco vitelino é reduzido e na 20ª semana quase não é visível (Fig. 4). O saco vitelino em embriões humanos não é funcional quanto ao armazenamento de vitelo, mas é importante porque no início da terceira semana a formação do sangue ocorre no mesoderma extra-embrionário que recobre externamente a parede do saco vitelino. Também porque as células germinativas primordiais ficam na parede do saco vitelino e mais tarde migram para as gônadas em desenvolvimento. Com o dobramento do embrião, parte do endoderma do saco vitelino é incorporado pelo embrião e contribui para a formação do intestino primitivo (Este assunto foi abordado na aula 10). 4. ALANTOIDE Durante a terceira semana de desenvolvimento, o alantoide aparece como uma evaginação em forma de dedo na parede caudal do saco vitelino (Fig. 7). Ele não é funcional quanto ao armazenamento de excretas nos embriões humanos, mas é importante porque acontece a formação de vasos sanguíneos nas suas paredes entre a 3ª e a 5ª semana e os seus vasos sanguíneos persistem como artérias e veia umbilicais. 80 EM BR IO LO GI A Com o crescimento da bexiga urinária, o alantoide involui e torna-se um tubo espesso chamado úraco que vai do umbigo à bexiga. Após o nascimento, o úraco forma o ligamento umbilical mediano, um cordão fibroso que se estende da bexiga até o umbigo (Fig. 8). Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Figura 8 - Cortes sagitais mostrando o úraco e o ligamento umbilical mediano. ANOTAÇÕES 81www.biologiatotal.com.br EX ER CÍ CI OS EXERCÍCIOS 1 2 3 4 5 6 7 8 O aumento do saco amniótico oblitera gradualmente a cavidade coriônica. Com o dobramento do embrião, o âmnio forma o revestimento epitelial do cordão umbilical. ( ) Certo ( )Errado São funções do líquido amniótico, exceto: a) Proporcionar o crescimento simétrico do embrião/feto. b) Permitir o livre movimento do feto. c) Constituir uma barreira às infecções. d) Eliminação de resíduos catabólicos. e) Manutenção da homeostase dos líquidos e eletrólitos. O âmnio é formado: a) A partir do citotrofoblasto. b) Por proliferação do hipoblasto. c) A parir do epiblasto. d) A partir do sinciciotrofoblasto. e) Por proliferação do mesoderma extraembrionário. Com o dobramento do embrião, a junção do âmnio com o embrião passa a ser ventral e o saco vitelino fica preso ao corpo do embrião por um pedículo vitelino. ( ) Certo ( ) Errado O __________________________ é formado pela membrana de Heuser (membrana exocelômica) junto com o hipoblasto. Após o desprendimento de uma parte desta estrutura, ocorre a formação do saco vitelino ____________________. É função do saco vitelino em embriões humanos: a) Armazenamento de vitelo. b) Armazenamento de excretas. c) Contribuir para a formação do intestino primitivo. d) Formar o úraco. e) Formar os vasos sanguíneos do cordão umbilical. O _________________________forma-se como uma evaginação na parede do saco vitelino durante a terceira semana de desenvolvimento. O alantoide em embriões/fetos humanos armazena os resíduos metabólicos. Após o nascimento, o resquício do alantoide forma o ligamento umbilical mediano. ( ) Certo ( ) Errado Qual membrana extraembrionária contribui para a formação da placenta? A proteção contra impactos mecânicos é realizada pelo: a) Saco vitelino b) Alantoide c) Saco amniótico d) Saco coriônico e) Placenta 9 10 ANOTAÇÕES 82 EM BR IO LO GI A GABARITO DJOW MEMBRANAS EXTRAEMBRIONÁRIAS 1- Certo 2- Alternativa d. 3- Alternativa c. 4- Certo. 5- Saco vitelino primário; saco vitelino definitivo. 6- Alternativa c. 7- Alantoide. 8- Errado. 9- O córion contribui para a formação da placenta. 10- Alternativa c. ANOTAÇÕES REFERÊNCIAS MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Embriologia Clínica. 9ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. SADLER, T.W. (2001). Langman Embriologia Médica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, S.A. SCHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Larsen, embriologia humana. 4ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. WOLPERT, L. et al.(2000). Princípios de Biologia do Desenvolvimento. Porto Alegre. Artes Médicas Sul. www.biologiatotal.com.br MEMBRANAS EXTRA-EMBRIONÁRIAS RESUMO DA AULA ÂMNIO • Na segunda semana de desenvolvimento, o acúmulo de líquido entre as células do epiblasto e do trofoblasto faz com que a cavidade amniótica apareça. • O âmnio é uma fina membrana que separa a cavidade amniótica do citotrofoblasto. • Por volta da 20a semana, o âmnio continua se expandindo e funde-se com o córion e forma a membrana amniocoriônica, que é a membrana que se rompe durante o trabalho de parto. • A cavidade amniótica é preenchida pelo líquido amniótico. • O líquido amniótico é composto por células epiteliais fetais descamadas que estão suspensas no líquido. • O líquido amniótico é importante ao desenvolvimento por proporcionar o crescimento simétrico do embrião/feto e permitir o movimento livre do feto, auxiliando o desenvolvimento muscular. • O líquido constitui uma barreira às infecções, auxilia no desenvolvimento dos pulmões, controla a temperatura, amortece impactos recebidos pela mãe e é importante na manutenção da homeostase dos líquidos e eletrólitos. A expansão do âmnio com o acúmulo de líquido amniótico oblitera a cavidade coriônica na 20ª semana de desenvolvimento. SACO VITELINO • As células do hipoblasto contribuem para a formação da membrana exocelômica (ou membrana de Heuser), uma membrana adjacente ao citotrofoblasto, que junto com o hipoblasto, forma o saco vitelino primário (também chamado de vesícula umbilical primitiva). • O saco vitelino em embriões humanos não é funcional quanto ao armazenamento de vitelo. • Com o dobramento do embrião, parte do endoderma do saco vitelino é incorporado pelo embrião e contribui para a formação do intestino primitivo. www.biologiatotal.com.br ALANTOIDE • Durante a terceira semana de desenvolvimento, o alantoide aparece como uma evaginação em forma de dedo na parede caudal do saco vitelino. • Ele é importante porque é através das suas paredes queacontece a formação de vasos sanguíneos entre a 3a e a 5a semana. • Com o crescimento da bexiga urinária, o alantoide involui e torna-se um tubo espesso chamado úraco que vai do umbigo à bexiga. • Após o nascimento, o úraco forma o ligamento umbilical mediano, um cordão fibroso que se estende da bexiga até o umbigo. Corte longitudinal mostrando a formação do alantoide. 83www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A GESTAÇÃO MÚLTIPLA Adaptado SADLER, T. W. (2013). Figura 1 - Gêmeos dizigóticos ou fraternos. (A) Placenta e córion separados. (B) Fusão da placenta e do córion entre os gêmeos. 1. INTRODUÇÃO As gestações múltiplas são aquelas em que há a presença simultânea de dois ou mais fetos ao mesmo tempo no útero. A incidência desse tipo de gestação aumentou nos últimos anos devido à idade materna mais avançada e ao maior acesso às terapias de fertilidade. No Brasil, segundo o DATASUS, em 2015, 2,1% dos nascidos vivos foram provenientes de gestações múltiplas, dupla, tripla ou de mais fetos. Existem dois tipos de gêmeos: dizigóticos ou fraternos e monozigóticos ou idênticos. Nas gestações múltiplas a morbimortalidade é maior do que nas gestações únicas. Isso acontece porque a incidência de baixo peso ao nascer, de prematuridade, crescimento intrauterino restrito (CIUR) e anomalias congênitas é maior nas gestações gemelares. 2. GÊMEOS DIZIGÓTICOS OU FRATERNOS Cerca de 90% dos gêmeos são dizigóticos ou fraternos. Esse tipo de gestação múltipla acontece devido à liberação simultânea de dois ou mais ovócitos e da fertilização por espermatozoides diferentes (Fig. 1). Sendo assim, possuem constituição genética diferente e não são mais parecidos do que outros irmãos. Eles podem ou não ter sexos diferentes. A gemelaridade dizigótica apresenta certa tendência à hereditariedade. Após a fertilização e clivagem, os blastocistos implantam-se individualmente no útero e cada um deles desenvolve sua própria placenta, âmnio e saco coriônico (Fig. 1A). Entretanto, a implantação em locais muito próximos pode resultar na fusão da placenta e do córion dos gêmeos (Fig. 1B). 3. GÊMEOS MONOZIGÓTICOS OU IDÊNTICOS A taxa de gêmeos monozigóticos é de 3 a 4 a cada 1000 gestações. Neste tipo de gestação múltipla, apenas um ovócito é fertilizado. A separação ocorre em diferentes estágios: no estágio de duas células (Fig. 2A) ou da massa celular interna (embrioblasto) (Fig. 2B). Esses gêmeos possuem constituição genética idêntica e, portanto, sempre são do mesmo sexo. A exposição a diferentes fatores ambientais pode levar a diferenças fenotípicas entre estes gêmeos. Quando a separação do zigoto ocorre no estágio de duas células, uma situação mais rara, cada um dos fetos desenvolve sua própria placenta, âmnio e saco coriônico (Fig. 2A). A separação da massa celular interna é o que ocorre na maior parte dos casos. Estes gêmeos compartilham a mesma placenta e a cavidade coriônica, mas possuem sacos amnióticos distintos (Fig. 2B). Em uma menor frequência, caso a separação do 84 EM BR IO LO GI A Adaptado SADLER, T. W. (2013). Adaptado SADLER, T. W. (2013). Adaptado SADLER, T. W. (2013). Figura 2 - Gêmeos monozigóticos ou idênticos. (A) A separação no estágio de duas células resulta na formação de placentas, córions e saco amniótico separados. (B) A separação no estágio de massa celular interna resulta na formação de uma placenta e córion comuns e de sacos amnióticos separados. (C) Quando a separação acontece em um estágio mais tardio do embrioblasto, além da placenta e do córion em comum, os gêmeos apresentam também um mesmo saco amniótico. Figura 3 - Classificação dos gêmeos de acordo com a natureza da união. embrioblasto ocorra em um estágio um pouco mais tardio, os gêmeos podem compartilhar, além da placenta e do saco coriônico, o mesmo saco amniótico (Fig. 2C). 3.1. GÊMEOS XIFÓPAGOS OU SIAMESES Em estágios mais tardios do desenvolvimento, a separação parcial do disco embrionário ou da linha primitiva pode resultar na formação de gêmeos xifópagos ou siameses. Estes gêmeos são classificados de acordo com a natureza da união em: toracópagos, quando a união é pelo tórax; pigópagos, quando a união é na região sacroccígea; e craniópagos, pelo crânio (Fig. 3). Em alguns casos, quando a conexão é somente pela pele, a separação cirúrgica é facilitada. Entretanto, essa união pode ser ainda mais extensa. Quando os órgãos vitais estão compartilhados, não é possível fazer a separação. 4. ANASTOMOSE DOS VASOS SANGUÍNEOS PLACENTÁRIOS A anastomose dos vasos placentários e comunicação arteriovenosa entre os sistemas circulatórios de gêmeos acontece quando as placentas estão fusionadas, no caso dos gêmeos dizigóticos, ou quando os gêmeos compartilham a mesma placenta, no caso de gêmeos monozigóticos. Isso pode não resultar em nenhuma complicação ou pode causar graves prejuízos aos fetos em desenvolvimento. Uma complicação bastante importante da anastomose dos vasos dos gêmeos é a Síndrome da Transfusão de um Gêmeo para o Outro (STGO). Essa síndrome acontece em cerca de 20% dos gêmeos monozigóticos e é resultante do desvio de sangue de um gêmeo para o outro. O gêmeo doador é pequeno, pálido e anêmico, enquanto o gêmeo receptor é maior e apresenta policitemia, que é o aumento acima do normal de hemácias (Fig. 4). Em cerca de 50 a 70% dos casos, ambos os gêmeos morrem. Figura 4 - Gêmeos que tiveram a Síndrome da Transfusão de um Gêmeo para o Outro. O menor era o gêmeo doador e o maior, o gêmeo receptor. 85www.biologiatotal.com.br EX ER CÍ CI OS EXERCÍCIOS 1 2 3 4 5 6 7 8 O que é gestação múltipla e por que a morbimortalidade neste tipo de gestação é maior do que na gestação única? Em relação às gestações múltiplas, classifique as sentenças abaixo como verdadeiras (V) ou falsas (V): a) ( ) Os gêmeos monozigóticos são formados a partir de dois zigotos. b) ( ) Os gêmeos dizigóticos não são mais parecidos do que irmãos concebidos em diferentes gestações. c) ( ) Os gêmeos monozigóticos são sempre do mesmo sexo e geneticamente idênticos, entretanto diferenças físicas podem ser induzidas por fatores ambientais. d) ( ) Gêmeos dizigóticos podem ser formados através da separação das células durante a clivagem. e) ( ) Gêmeos dizigóticos podem ter sexos diferentes. Sobre as membranas extra-embrionárias em gestações múltiplas, classifique as sentenças abaixo como verdadeiras (V) ou falsas (F): a) ( ) Gêmeos dizigóticos implantam-se individualmente no útero e, por isso, cada um desenvolve sua própria placenta, âmnio e saco coriônico. b) ( ) A fusão da placenta e do córion de gêmeos monozigóticos acontece quando a implantação acontece em locais muito próximos. c) ( ) Gêmeos monozigóticos podem ou não compartilhar a mesma placenta e cavidade coriônica. d) ( ) Além de compartilhar a placenta e o saco coriônico, os gêmeos monozigóticos podem também compartilhar o mesmo saco amniótico. Em uma ultrassonografia, caso se observe duas placentas e dois sacos coriônicos distintos, é possível afirmar com certeza que se trata de uma gestação de gêmeos dizigóticos. ( ) Certo ( ) Errado Em estágios mais tardios do desenvolvimento, a separação parcial do nó e da linha primitivos pode resultar na formação de gêmeos xifópagos. ( ) Certo ( ) Errado Classifique os gêmeos xifópagos representados abaixo de acordo com a natureza da união: A. __________________________ B._________________________ C._________________________ Os gêmeos dizigóticos são formados: a) Quando ocorre a fertilização de um ovócito por dois espermatozoides. b) Quando ocorre a separação do zigoto no estágio de duas células. c) Quando ocorre a separação da massa celular interna. c) Quando ocorre a separação incompleta da linha primitiva. e) Quando dois ovócitos são fertilizados cada um por um espermatozoide diferente. A incidência das gestações múltiplas aumentou nos últimos anos devido à idadematerna mais avançada e ao maior acesso às terapias de fertilidade. ( ) Certo ( ) Errado Sobre a Síndrome da Transfusão de um Gêmeo para o Outro (STGO) é incorreto afirmar: a) Pode acontecer devido à anastomose dos vasos placentários. b) Só pode acontecer em gêmeos monozigóticos, já que eles compartilham a mesma placenta. c) É resultante do desvio de sangue de um gêmeo para o outro. 9 86 EX ER CÍ CI OS 10d) O gêmeo doador é pequeno, pálido e anêmico. e)O gêmeo receptor é maior e apresenta policitemia. A anastomose dos vasos placentários pode ocorrer tanto em gêmeos monozigóticos, já que eles compartilham a mesma placenta, quanto em gêmeos dizigóticos, caso as placentas estejam fusionadas. ( ) Certo ( ) Errado ANOTAÇÕES 87www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A GABARITO DJOW GESTAÇÃO MÚLTIPLAS 1- Gestações múltiplas são aquelas em que há a presença simultânea de dois ou mais fetos ao mesmo tempo no útero. A morbimortalidade deste tipo de gestação é elevada devido à maior incidência de baixo peso ao nascer, prematuridade, crescimento intrauterino restrito (CIUR) e anomalias congênitas. 2- F; V; V; F; V. 3- V; F; V; V. 4- Errado. 5- Certo. 6- A: Toracópagos, B: Craniópagos, C: Pigópagos. 7- Alternativa e. 8- Certo. 9- Alternativa b. 10- Certo. ANOTAÇÕES REFERÊNCIAS MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Embriologia Clínica. 9ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. SADLER, T.W. (2001). Langman Embriologia Médica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, S.A. SCHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Larsen, embriologia humana. 4ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. WOLPERT, L. et al.(2000). Princípios de Biologia do Desenvolvimento. Porto Alegre. Artes Médicas Sul. www.biologiatotal.com.br CÉLULAS-TRONCO RESUMO DA AULA GÊMEOS DIZIGÓTICOS OU FRATERNOS • Cerca de 90% dos gêmeos são dizigóticos ou fraternos. • Isso acontece devido à liberação simultânea de dois ou mais ovócitos e da fertilização por espermatozoides diferentes. • Eles possuem constituição genética diferente e não são mais parecidos do que outros irmãos. • Eles podem ou não ter sexos diferentes. • A gemelaridade dizigótica apresenta certa tendência à hereditariedade. • Após a fertilização e clivagem, os blastocistos implantam-se individualmente no útero e cada um deles desenvolve sua própria placenta, âmnio e saco coriônico. • A implantação em locais muito próximos pode resultar na fusão da placenta e do córion dos gêmeos. GÊMEOS MONOZIGÓTICOS OU IDÊNTICOS • Apenas um ovócito é fertilizado. • A separação ocorre em diferentes estágios: no estágio de duas células ou da massa celular interna (embrioblasto). • Esses gêmeos possuem constituição genética idêntica e, portanto, sempre são do mesmo sexo. • Quando a separação do zigoto ocorre no estágio de duas células, uma situação mais rara, cada um dos fetos desenvolve sua própria placenta, âmnio e saco coriônico. • Estes gêmeos compartilham a mesma placenta e a cavidade coriônica, mas possuem sacos amnióticos distintos. • Os gêmeos podem compartilhar, além da placenta e do saco coriônico, o mesmo saco amniótico. GÊMEOS XIFÓPAGOS OU SIAMESES • Estes gêmeos são classificados de acordo com a natureza da união em: toracópagos, quando a união é pelo tórax; pigópagos, quando a união é na região sacroccígea; e craniópagos, pelo crânio. • Em alguns casos, quando a conexão é somente pela pele, a separação cirúrgica é facilitada. • Quando os órgãos vitais estão compartilhados, não é possível fazer a separação. ANASTOMOSE DOS VASOS SANGUÍNEOS PLACENTÁRIOS • A anastomose dos vasos placentários e comunicação arteriovenosa entre os sistemas circulatórios de gêmeos acontece quando as placentas estão fusionadas, ou quando os gêmeos compartilham a mesma placenta. • Pode não resultar em nenhuma complicação ou pode causar graves prejuízos aos fetos em desenvolvimento. 88 EM BR IO LO GI A TECNOLOGIAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA Figura 1 - Gráfico das porcentagens das causas de infertilidade na população. 1. INTRODUÇÃO A infertilidade é a incapacidade de reprodução apesar da manutenção de relações sexuais em uma frequência adequada e sem a utilização de métodos contraceptivos por um período que normalmente seria suficiente para a reprodução, no mínimo um ano. Cerca de 15 a 30% dos casais são inférteis. O gráfico abaixo mostra quais são as causas de infertilidade na população (Fig. 1). Dentre as causas femininas estão a oclusão das tubas uterinas por doença inflamatória pélvica ou cirurgia; alterações no muco cervical; imunidade aos espermatozoides; ausência de ovulação (anovulação); causas uterinas; causas cervicais, como alterações de formato, tamanho ou posição do colo uterino, miomas, pólipos, cervicites, lesões, etc; estresse; e idade materna avançada. As causas masculinas são anomalias nas vias excretoras ou nas glândulas acessórias; estresse; número insuficiente de espermatozoides; mobilidade reduzida dos espermatozoides. O número normal de espermatozoides é de cerca de 100 milhões/mL de ejaculato. Homens inférteis possuem cerca de 20 milhões/ mL ou menos, uma condição chamada oligospermia. Alguns homens não possuem espermatozoides no ejaculato, uma condição conhecida como azoospermia. 2. TECNOLOGIAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA Cerca de 90% dos casais considerados inférteis poderão conceber com alguma intervenção médica. Dentre as técnicas de menor complexidade estão aquelas em que a fertilização acontece no próprio aparelho reprodutor feminino, como a inseminação artificial (IA). Outras técnicas que têm maior complexidade são aquelas em que a fertilização acontece no laboratório e depois o embrião é transferido para o útero materno. Dentre as técnicas de maior complexidade estão a Fertilização in vitro (FIV); Injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI); Transferência intratubária de gametas (GIFT); e Transferência intratubária de zigotos (ZIFT). 2.1. INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL (IA) A inseminação intrauterina ou inseminação artificial (IA) é a deposição intrauterina de espermatozoides processados em laboratório. Primeiro, realiza-se a estimulação farmacológica do desenvolvimento folicular. O sêmen é obtido e processado. Em seguida, os espermatozoides são depositados na cavidade uterina por meio de um cateter (Fig. 2). Esta técnica é aplicada a mulheres que possuem fatores cervicais como causa de infertilidade; quando a causa é desconhecida; quando há um leve fator masculino; em caso de incapacidade de manter relações sexuais; ou ainda na utilização de sêmen de doador no caso de casais homossexuais. A taxa de sucesso da IA é de 12 a 15% por tentativa. Figura 2 - Inseminação artificial. Os espermatozoides são depositados por cateter na cavidade uterina. Adaptado http://attainfertility.com/article/artificial-insemination-procedure 89www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A Adaptado : SHOENWOLF, G.C. et al. (2009). 2.2. FERTILIZAÇÃO IN VITRO (FIV) E TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES A FIV consiste na união do ovócito e do espermatozoide fora do corpo, in vitro. Esta técnica foi realizada pela primeira vez em 1978 pelo fisiologista inglês Robert Geoffrey Edwards. Desde então, cerca de 1 milhão de crianças já nasceram por meio deste procedimentos. No Brasil, a FIV foi realizada pela primeira vez em 1984 pelo médico Milton Nakamura. O primeiro passo para a realização da FIV é a estimulação folicular hormonal. Deste modo, múltiplos folículos são obtidos e é realizada a coleta de ovócitos por aspiração transvaginal guiada por ultrassom. Os ovócitos são amadurecidos em laboratório até a 2ª metáfase meiótica. Então, realiza-se a fertilização in vitro dos ovócitos com espermatozoides previamente coletados e capacitados. Os zigotos se desenvolvem por cerca de 48 horas em cultura até o estágio de 4 a 8 células. Por fim, realiza-se a transferência de embriões para a cavidade uterina por cateter. A FIV é utilizada em casos de endometriose;tuba uterina obstruída; infertilidade de causa desconhecida; fator masculino; fator imunológico; quando acontecem falhas nos tratamentos de menor complexidade; ou ainda em casos de terapia oncológica, quando os embriões são congelados para uma futura gravidez. A taxa de sucesso é de 1 bebê vivo por 30 a 35% de tentativas. Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). 2.3. INJEÇÃO INTRACITOPLASMÁTICA DE ESPERMATOZOIDE (ICSI) Essa técnica é utilizada para o tratamento de casais caso a FIV tenha falhado. Também quando o número de espermatozoides viáveis para FIV é pequeno, no caso de infertilidade masculina grave ou ainda na azoospermia obstrutiva por vasectomia ou ausência congênita de canais deferentes. Por meio desta técnica, um único espermatozoide pode ser obtido de qualquer ponto do trato reprodutor masculino. O ovócito é mantido preso por sucção e, então, uma micropipeta contendo um único espermatozoide é usada para penetrar o ovócito e injetar o espermatozoide diretamente no citoplasma do ovócito. Depois disso, os zigotos se desenvolvem até o estágio de 4 a 8 células e realiza-se a transferência de embriões para a cavidade uterina por cateter. Figura 4 - Fotomicrografias mostrando a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). 2.4. TRANSFERÊNCIA INTRATUBÁRIA DE GAMETAS (GIFT) E TRANSFERÊNCIA INTRATUBÁRIA DE ZIGOTOS (ZIFT) A GIFT e a ZIFT são utilizadas em casos em que a infertilidade é decorrente de uma deficiência inata na motilidade dos espermatozoides. Na Figura 3 - Etapas da Fertilização in vitro (FIV). 90 EM BR IO LO GI A ANOTAÇÕES GIFT, os espermatozoides e ovócitos são coletados e introduzidos diretamente por cateter para a tuba uterina. Na ZIFT, os zigotos sao introduzidos diretamente na tuba. Figura 5 - Etapas da ZIFT e GIFT. Adaptado http://www.motherhoodconsultancy.com/gift/ 3. CRIOPRESERVAÇÃO DE EMBRIÕES A criopreservação de embriões consiste no congelamento de embriões excedentes das técnicas de reprodução assistida ou ainda daqueles que são produzidos antes do tratamento quimioterápico ou radioterápico em jovens que queiram preservar a fertilidade. Segundo o Artigo 5° da Lei de Biossegurança Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005, os embriões inviáveis ou congelados há 3 anos ou mais podem ser utilizados para fins de pesquisa e terapia. 91www.biologiatotal.com.br EX ER CÍ CI OS EXERCÍCIOS 1 2 3 4 5 6 7 8 Essa é uma técnica pouco invasiva utilizada no tratamento inicial da infertilidade masculina ou em casos de infertilidade de causa desconhecida. Pode ser realizado com ou sem estimulação ovariana. Refere-se aos procedimentos que envolvem a inserção de sêmen do parceiro no canal vaginal, no cérvice uterino ou no útero da parceira. Nessa técnica, um espermatozoide é injetado diretamente no citoplasma de um ovócito maduro. Então, os zigotos em clivagem são transferidos para o interior do útero. Nessa técnica, os ovócitos são colocados em placa de Petri, contendo um meio de cultura especial e espermatozoides capacitados. A fertilização dos ovócitos e a clivagem são monitoradas microscopicamente e os zigotos em clivagem são transferidos para o interior do útero. Essa técnica é utilizada nos casos em que a infertilidade é decorrente da deficiência inata na motilidade dos espermatozoides. Os gametas são coletados e introduzidos por cateter diretamente na tuba uterina. A manipulação de embriões humanos é permitida em qualquer circunstância no Brasil. ( ) Certo ( ) Errado Qual é a lei brasileira que regulamenta a utilização de embriões para fins de pesquisa e terapia? A seleção de um embrião levando em consideração as características fenotípicas desejadas pelos pais é uma prática já utilizada no Brasil. ( ) Certo ( ) Errado São etapas da FIV, exceto: a) Estimulação folicular hormonal. b) Capacitação in vitro dos espermatozoides. c) Transferência de embriões para a cavidade uterina. d) Transferência intratubária de embriões. e) Clivagem dos zigotos em meio de cultura até o estágio de 4 a 8 células. Sobre a oligospermia é correto afirmar que: a) É uma causa de infertilidade masculina, em que há a redução do número de espermatozoides. b) É a ausência de espermatozoides no ejaculato, cuja consequência é a infertilidade masculina. c) É uma causa de infertilidade masculina, em que há uma deficiência inata na motilidade dos espermatozoide. d) É um parâmetro de normalidade do número de espermatozoides. e) É a alteração na forma dos espermatozoides. A resolução n° 2.121/2015 do Conselho Federal de Medicina (CFM) recomenda a transferência de 2 a 4 embriões na FIV. ( ) Certo ( ) Errado 9 ANOTAÇÕES 10 92 EM BR IO LO GI A GABARITO DJOW MEMBRANAS EXTRA-EMBRIONÁRIAS 1- Inseminação artificial (IA). 2- Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide (ICSI). 3- Fertilização in vitro (FIV). 4- Transferência intratubária de gametas (GIFT) 5- Errado. 6- Artigo 5° da Lei de Biossegurança (Lei n° 11.105, de 24 de março de 2005). 7- Errado. 8- Alternativa d. 9- Alternativa a. 10- Certo. ANOTAÇÕES REFERÊNCIAS MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Embriologia Clínica. 9ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. SADLER, T.W. (2001). Langman Embriologia Médica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, S.A. SCHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Larsen, embriologia humana. 4ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. WOLPERT, L. et al.(2000). Princípios de Biologia do Desenvolvimento. Porto Alegre. Artes Médicas Sul. www.biologiatotal.com.br CÉLULAS-TRONCO RESUMO DA AULA • Dentre as causas femininas para a infertilidade estão a oclusão das tubas uterinas por doença inflamatória pélvica ou cirurgia; alterações no muco cervical; imunidade aos espermatozoides; ausência de ovulação (anovulação); causas uterinas; causas cervicais, como alterações de formato, tamanho ou posição do colo uterino, miomas, pólipos, cervicites, lesões, etc; estresse; e idade materna avançada. • Dentre as causas masculinas são anomalias nas vias excretoras ou nas glândulas acessórias; estresse; número insuficiente de espermatozoides; mobilidade reduzida dos espermatozoides. O número normal de espermatozoides é de cerca de 100 milhões/mL de ejaculato. Homens inférteis possuem cerca de 20 milhões/ mL ou menos, uma condição chamada oligospermia. Alguns homens não possuem espermatozoides no ejaculato, uma condição conhecida como azoospermia. TECNOLOGIAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA Inseminação artificial (IA) • É a deposição intrauterina de espermatozoides processados em laboratório. • Esta técnica é aplicada a mulheres que possuem fatores cervicais como causa de infertilidade; quando a causa é desconhecida; quando há um leve fator masculino; em caso de incapacidade de manter relações sexuais; ou ainda na utilização de sêmen de doador no caso de casais homossexuais. • A taxa de sucesso da IA é de 12 a 15% por tentativa. Fertilização in vitro (FIV) e transferência de embriões • Consiste na união do ovócito e do espermatozoide fora do corpo, in vitro. • Os zigotos se desenvolvem por cerca de 48 horas em cultura até o estágio de 4 a 8 células. Por fim, realiza-se a transferência de embriões para a cavidade uterina por cateter. • A FIV é utilizada em casos de endometriose; tuba uterina obstruída; infertilidade de causa desconhecida; fator masculino; fator imunológico; quando acontecem falhas nos tratamentos de menor complexidade; ou ainda em casos de terapia oncológica, quando os embriões são congelados para uma futura gravidez. • A taxa de sucesso é de 1 bebê vivo por 30 a 35% de tentativas. Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide (ICSI) • É utilizada para o tratamento de casais caso a FIV tenha falhado. • Por meio desta técnica, um único espermatozoide pode ser obtido de qualquer ponto do trato reprodutor masculino. • O ovócito é mantido preso por sucção e, então, uma micropipeta contendo um único espermatozoide é usada para penetrar o ovócito e injetaro espermatozoide diretamente no citoplasma do ovócito. www.biologiatotal.com.br • A transferência de embriões para a cavidade uterina é feita por cateter. Transferência intratubária de gametas (GIFT) e Transferência intratubária de zigotos (ZIFT) • A GIFT e a ZIFT são utilizadas em casos em que a infertilidade é decorrente de uma deficiência inata na motilidade dos espermatozoides. • Na GIFT, os espermatozoides e ovócitos são coletados e introduzidos diretamente por cateter para a tuba uterina. • Na ZIFT, os zigotos sao introduzidos diretamente na tuba. Criopreservação de embriões Consiste no congelamento de embriões excedentes das técnicas de reprodução assistida ou ainda daqueles que são produzidos antes do tratamento quimioterápico ou radioterápico em jovens que queiram preservar a fertilidade. 93www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A CÉLULAS-TRONCO Figura 1 – Características das células-tronco. Figura 2 – Fotomicrografia do blastocisto. (1) Massa celular interna; (2) Zona pelúcida; (3) Trofoblasto; (4) Cavidade blastocística. Adaptado www.eurostemcell.org Adaptado http://www.embryology.ch 1.INTRODUÇÃO Nos nossos estudos de embriologia, vimos que uma única célula ovo fertilizada irá se desenvolver e formar um ser humano com centenas de diferentes tipos de células especializadas. Cada uma dessas células são formadas no seu local adequado e de forma coordenada por diferenciação celular. 2.CÉLULAS-TRONCO As células-tronco são aquelas que possuem a habilidade de autorrenovação, ou seja, dividem- se dando origem a outras células como ela; que são indiferenciadas; e que podem dar origem a tipos celulares especializados por um processo chamado de diferenciação celular (Fig. 1). A diferenciação celular é o processo pelo qual as células indiferenciadas originam células especializadas (Fig. 1). Este processo é induzido por sinais internos, que são aqueles controlados por genes, e por sinais externos, que incluem moléculas de sinalização celular secretadas por outras células, contato físico com as células vizinhas e moléculas do microambiente celular. Há duas amplas categorias de células-tronco: as embrionárias, derivadas de estágios iniciais do desenvolvimento humano, e as adultas, encontradas nos tecidos adultos. 2.1. CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS As células-tronco embrionárias são derivadas de embriões em estágios iniciais do desenvolvimento. Após a fertilização, uma série de divisões celular dá origem a vários blastômeros pelo processo de clivagem. Cada uma destas células são indiferenciadas e podem originar qualquer tipo celular do organismo, bem como ao córion. O primeiro evento de diferenciação acontece quando o blastocisto é formado (Fig. 2). A camada de células externas (trofoblasto) vai se tornar parte da placenta, enquanto a massa celular interna (embrioblasto), tem o potencial para originar todos os tipos de células do corpo. Portanto, as células da massa celular interna são pluripotentes. Os embriões dos quais as células-tronco humanas são obtidas possuem cerca de 4 a 5 dias e estão no estágio de blastocisto. As células- tronco embrionárias são retiradas da massa celular interna e cultivadas no laboratório para a amplificação do número de células (Fig. 3). Estas células são estimuladas a se diferenciar com o acréscimo de diferentes substâncias (fatores de crescimento ou hormônios) ao meio de cultura. Sob diferentes condições seguem rotas diversas de diferenciação celular e podem originar fibroblastos, neurônios, células sanguíneas, entre outros tipos de células especializadas do corpo (Fig. 4). 94 EM BR IO LO GI A Adaptado www.eurostemcell.org Adaptado www.eurostemcell.org Adaptado www.eurostemcell.org Figura 3 – As células-tronco embrionárias são obtidas a partir da massa celular interna do blastocisto e amplificadas em meio de cultura. Figura 4 – As células-tronco embrionárias podem originar diferentes células especializadas sob diferentes condições. Figura 5 – Linhagens celulares derivadas das células-tronco hematopoiéticas. Figura 6 – Células-tronco mesenquimais. 2.2 CÉLULAS-TRONCO ADULTAS As células-tronco adultas ou teciduais são aquelas encontradas nos tecidos adultos entre as células diferenciadas que constituem tecidos ou órgãos. Estas células têm a função de manutenção e reparo dos tecidos. Essa capacidade é limitada ao tecido no qual se encontram, por exemplo, uma célula- tronco da pele só poderá se tornar uma célula especializada da pele. As células-tronco multipotentes podem originar muitos tipos celulares, mas não todos os tipos de células do corpo. Por este potencial limitado, as células-tronco adultas são chamadas de multipotentes. As células-tronco adultas são encontradas em diferentes órgãos e tecidos, incluindo a medula óssea, sangue, córnea, retina, intestino, músculos, cérebro, pele, entre outros. Elas também são encontradas no feto, no cordão umbilical e na placenta. As células-tronco hematopoiéticas são multipotentes (Fig. 5). Essas células-tronco são encontradas na medula óssea e podem originar somente as células especializadas do sangue, como os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Adaptado NIH stem cell Além da população de células-tronco hematopoiéticas, na medula óssea são encontradas as células-tronco mesenquimais (Fig. 6). Estas células podem formar ossos, cartilagem, gordura, entre outros. Nos anos 60, cientistas encontraram células- tronco no cérebro adulto e ao contrário do que se acreditava na época, sugeriram que estas células pudessem formar novas células nervosas. Na década de 90 outros cientistas afirmaram que o cérebro adulto apresenta células-tronco que podem formar tipos celulares do cérebro, como os astrócitos, oligodendrócitos e também novos neurônios. 2.3. CÉLULAS-TRONCO PLURIPOTENTES INDUZIDAS (IPSCS) As células-tronco adultas são encontradas nos tecidos adultos e possuem um potencial limitado de diferenciação celular. Já as células- tronco embrionárias são derivadas de embriões e podem originar todos os tipos de células especializadas do corpo. Entretanto, além da questão ética da utilização das células-tronco 95www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A embrionárias, também há o risco de rejeição no caso de uma futura terapia, já que estas células não são obtidas a partir do mesmo indivíduo. Shinya Yamanaka criou uma metodologia onde uma célula obtida a partir de um tecido adulto pode formar uma célula-tronco pluripotente por reprogramação genética, as células- tronco pluripotentes induzidas (iPSCs). As iPSCs comportam-se como as células-tronco embrionárias, ou seja, têm potencial para formar os mais diferentes tipos de células especializadas do corpo (Fig. 7). Embora novas pesquisas sejam necessárias, as iPSCs já são uma importante ferramenta para o desenvolvimento de novas drogas e como modelo de doenças. Os cientistas esperam utilizar estas células futuramente para transplante em humanos. Adaptado www.eurostemcell.org Figura 7 – As células-tronco pluripotentes induzidas são obtidas a partir de uma célula do corpo e após reprogramação genética comportam-se como células-tronco embrionárias. Por diferenciação, essas células podem originar todos os tipos de células especializadas do corpo. 3. APLICAÇÃO: AS PROMESSAS DA PESQUISA COM CÉLULAS-TRONCO Há diferentes formas pelas quais as células- tronco podem ser utilizadas na pesquisa e na clínica. Estudos com células-tronco embrionárias são importantes na compreensão de eventos complexos que acontecem durante a embriogênese, como por exemplo, como as células indiferenciadas tornam-se células diferenciadas que formam diferentes tecidos e órgãos do corpo. As células-tronco humanas também têm sido utilizadas para testes de novas drogas. A aplicação em potencial mais importante das células-tronco é o seu uso para gerar célulase tecidos para terapias celulares no tratamento de diferentes doenças, como da doença de Alzeheimer, doenças cardíacas, diabetes, artrite reumatoide, para tratar danos na medula espinhal, entre outras aplicações na medicina regenerativa. ANOTAÇÕES 96 EX ER CÍ CI OS EXERCÍCIOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Células-tronco embrionárias pluripotentes são obtidas a partir: a) Mórula b) Embrioblasto (Blastocisto) c) Zigoto d) Epiblasto e) De qualquer estágio do embrião A legislação brasileira proíbe qualquer tipo de pesquisa com células-tronco embrionárias. ( ) Certo ( ) Errado São características das células-tronco embrionárias, exceto: a) Autorrenovação. b) São células indiferenciadas. c) Podem originar células especializadas por diferenciação. d) Quando derivadas do blastocisto são pluripotentes. e) Podem originar somente um tipo celular. A legislação brasileira autoriza a pesquisa com células-tronco embrionárias obtidas a partir de embriões humanos para fins de pesquisa e terapia quando atendidas quais das seguintes condições? a) Caso sejam embriões inviáveis ou congelados há três anos ou mais. b) Imediatamente após o casal decidir não utilizar os embriões derivados dos procedimentos de fertilização in vitro. c) Caso o embrião seja considerado inviável pelos médicos. d) Caso sejam embriões inviáveis ou congelados há mais de dois anos. e) Em nenhuma das condições citadas acima. As células-tronco adultas ou teciduais são encontradas nos tecidos adultos entre as células diferenciadas. Essas células podem formar qualquer tipo celular do nosso corpo e, por isso, são chamadas de multipotentes. ( ) Certo ( ) Errado São exemplos de células-tronco multipotentes: a) Células-tronco hematopoiéticas e mesenquimais. b) Células-tronco mesenquimais e oligodendrócitos. c) Células-tronco hematopoiéticas e linfócitos T. d) Células-tronco da massa celular interna do blastocisto e mesenquimais. e) Células-tronco derivadas do trofoblasto e hematopoiéticas. O cérebro apresenta células-tronco que podem formar os seguintes tipos celulares: astrócitos, oligodendrócitos e neurônios. ( ) Certo ( ) Errado As ____________________________________ ___ são obtidas a partir da reprogramação genética de uma célula de um tecido adulto. Assim como as células-tronco embrionárias, estas células também têm o potencial para formar os diferentes tipos de células especializadas do corpo. O que são células-tronco multipotentes? A diferenciação celular é o processo pelo qual as células indiferenciadas originam células especializadas. Este processo é controlado por vários fatores, exceto: a) Sinais internos controlados por genes. b) Moléculas de sinalização celular secretadas por outras células. c) Contato físico com as células vizinhas. d) Quantidade de genes nucleares. e) Moléculas do microambiente celular. 97www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A GABARITO DJOW CÉLULAS TRONCOS 1- Alternativa b. 2- Errado. 3- Alternativa e. 4- Alternativa a. 5- Errado. 6- Alternativa a. 7- Certo. 8- Células-tronco pluripotentes induzidas. 9- São aquelas encontradas nos tecidos adultos que têm a função de manutenção e reparo dos tecidos em que se encontram. Sua capacidade é limitada ao tecido no qual se encontram, por exemplo, uma célula-tronco da pele só poderá se tornar células da pele. 10- Alternativa d. ANOTAÇÕES REFERÊNCIAS MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Embriologia Clínica. 9ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. SADLER, T.W. (2001). Langman Embriologia Médica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, S.A. SCHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Larsen, embriologia humana. 4ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. WOLPERT, L. et al.(2000). Princípios de Biologia do Desenvolvimento. Porto Alegre. Artes Médicas Sul. www.biologiatotal.com.br CÉLULAS-TRONCO RESUMO DA AULA • As células-tronco são aquelas que possuem a habilidade de autorrenovação: são indiferenciadas e podem dar origem a tipos celulares especializados por um processo chamado de diferenciação celular. • A diferenciação celular é o processo pelo qual as células indiferenciadas originam células especializadas. Células-tronco embrionárias • As células-tronco embrionárias são derivadas de embriões em estágios iniciais do desenvolvimento. • Cada uma destas células é indiferenciada e pode originar qualquer tipo celular do organismo, bem como ao córion. • Os embriões dos quais as células-tronco humanas são obtidas possuem cerca de 4 a 5 dias e estão no estágio de blastocisto. • As células-tronco embrionárias são retiradas da massa celular interna e cultivadas no laboratório para a amplificação do número de células. Células-tronco adultas • As células-tronco adultas ou teciduais são aquelas encontradas nos tecidos adultos entre as células diferenciadas que constituem tecidos ou órgãos. • Estas células têm a função de manutenção e reparo dos tecidos. • As células-tronco multipotentes podem originar muitos tipos celulares, mas não todos os tipos de células do corpo. • As células-tronco adultas são chamadas de multipotentes. • São encontradas em diferentes órgãos e tecidos, incluindo a medula óssea, sangue, córnea, retina, intestino, músculos, cérebro, pele, no feto, no cordão umbilical e na placenta. • As células-tronco hematopoiéticas são multipotentes e podem originar somente as células www.biologiatotal.com.br especializadas do sangue, como os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. • As células-tronco mesenquimais podem formar ossos, cartilagem, gordura, entre outros. Células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs) • As células-tronco adultas são encontradas nos tecidos adultos e possuem um potencial limitado de diferenciação celular. • As iPSCs já são uma importante ferramenta para o desenvolvimento de novas drogas e como modelo de doenças. Aplicação: as promessas da pesquisa com células-tronco • Estudos com células-tronco embrionárias são importantes na compreensão de eventos complexos que acontecem durante a embriogênese. • As células-tronco humanas também têm sido utilizadas para testes de novas drogas. • A aplicação em potencial mais importante das células-tronco é o seu uso para gerar células e tecidos para terapias celulares no tratamento de diferentes doenças. 98 EM BR IO LO GI A ANOMALIAS CONGÊNITAS HUMANAS 1. INTRODUÇÃO No início da década de 40 foram feitos os primeiros relatos de que um agente infeccioso (vírus da rubéola) poderia causar malformações congênitas graves. Na década de 50, filhos de mães que utilizaram o sedativo e antiemético talidomida durante a gestação, nasceram com graves anomalias nos membros e outras alterações no desenvolvimento. Até então, acreditava-se que os embriões estavam protegidos de agentes infecciosos e químicos devido às membranas placentárias. Com estes relatos, iniciou-se os estudos do papel dos fármacos/drogas e de agentes biológicos na etiologia das anomalias congênitas humanas. As anomalias ou malformações congênitas são alterações no desenvolvimento presentes ao nascimento. Elas são importantes causas de morte na infância, de doenças crônicas e deficiência. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), dentre as 2,68 milhões de mortes durante o período neonatal em 2015 no mundo, 303 mil foram em consequência de anomalias congênitas. 2. ETIOLOGIA As causas das anomalias congênitas são divididas em: fatores genéticos, ambientais e herança multifatorial (Fig. 1). De 20-25% das anomalias congênitas têm herança multifatorial, entre 6-7% devem-se a anormalidades cromossômicas, de 7-8% são causadas por genes mutantes e entre 7-10% têm como causadores os agentes ambientais. Entretanto, cerca de 50- 60% têm etiologia desconhecida. Figura 1 – Causas de anomalias congênitas humanas. Adaptado MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). 2.1. FATORES GENÉTICOS Os fatores genéticos são as causas mais frequentes de anomalias congênitas, cerca de 15%, sendoeles anormalidades cromossômicas e genes mutantes. As anormalidades cromossômicas estão presentes em 6-7% dos zigotos. Muitos zigotos, blastocistos e embriões com anormalidades cromossômicas são abortados até a 3 ª semana de desenvolvimento. Muitos nem sofrem clivagem e não se tornam blastocistos. Veja maiores detalhes sobre as anormalidades cromossômicas numéricas e estruturais na disciplina de Genética Humana. 2.2. FATORES AMBIENTAIS Teratógeno é qualquer agente químico, físico ou biológico que pode causar um defeito congênito ou ainda aumentar a incidência de um determinado defeito na população. Os teratógenos têm diferentes mecanismos de ação. No geral, induzem uma resposta celular inicial que irá causar alterações celulares, como morte celular, falhas nos movimentos morfogenéticos, rompimento mecânico, entre outros. Como resultado final ocorre a morte intrauterina, defeitos no desenvolvimento, retardo do crescimento fetal ou perturbações funcionais. O período mais crítico do desenvolvimento para a exposição a teratógenos está entre a 3ª e a 8ª semana (Fig. 2). Como essa é a fase de diferenciação e morfogênese, grandes defeitos no desenvolvimento podem acontecer. A exposição a teratógenos durante o período fetal pode resultar principalmente em alterações funcionais (Ex: Retardo mental). 99www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A Adaptado SADLER, T. W. (2013). Figura 3 – Risco de indução de defeitos congênitos nos períodos embrionário e fetal. Tabela 1 - Teratógenos humanos e malformações congênitas associadas. Adaptado SADLER, T. W. (2013). Figura 2 – Sensibilidade a teratógenos nos diferentes períodos de desenvolvimento. Além do período de exposição ao agente ambiental (Fig. 3), outros fatores como a dose do fármaco e o genótipo do embrião influenciam a possibilidade de teratogenicidade. Para que um fármaco seja considerado teratogênico é necessário que se observe uma relação dose- resposta: quanto maior a dose do medicamento, maior o efeito fenotípico. 2.2.1. Fármacos/Drogas e Agentes químicos Cerca de 2% das anomalias congênitas são causadas por fármacos/drogas e outros agentes químicos. Algumas substâncias comprovadamente teratogênicas são mostradas na tabela 1. Teratógeno Malformações congênitas Agentes infecciosos Vírus da rubéola catarata, glaucoma, defeitos cardíacos, perda de audição, anomalias nos dentes Citomegalovírus Microcefalia, comprimento visual, retardo mental, morte fetal Herpes-vírus simples Microftalmia, microcefalia, displasia da retina Vírus varicela Cicatrizes na pele, hipoplasia dos membros, retardo mental, atrofia muscular Toxoplasmose Hidrocefalia, calcificações cerebrais, microftalmia Sífilis Retardo mental, perda auditiva Agentes físicos Raio X Microcefalia, espinha bífida, fenda palatina, defeitos nos membros Hipertermia Anecefalia, espinha bífida, retardo mental Agentes químicos Talidomida Defeitos nos membros, malformações cardíacas Aminopterina Anencefalia, hidrocefalia, fendas labial e palatina Difenil-hidantoína (fenitoina) Síndrome de hidantoína fetal: defeitos faciais, retardo mental Ácido valproico Defeitos do tube neural; anomalias cardíacas, craniofaciais e esqueléticas Lítio Malformações cardíacas ISRS Malformações cardíacas Anfetaminas Fenda labial e palatina, defeitos cardíacos Varfarina Anomalias esqueléticas (hipoplasia nasal, epífises pontilhadas) Inibidores da ECA Retardo do crescimento, morte fetal Micofenolato de mofetila Fendas labial e palatina, defeitos cardíacos, microtia, microcefalia Álcool Sindrome alcoólica fetal (SAF), fissuras palpebrais crustas, hipoplasia maxilar, defeitos cardíacos, retardo mental Isotretinoína (vitamina A) Embriopatia da isotretinoína: olhos pequenos e com formato anormal, hipoplasia mandibular, fenda palatina, defeitos cardíacos Solventes industriais Baixo peso ao nascer, defeitos craniofaciais e do tubo neural Mercúrio orgânico Manifestações neurológicas semelhantes às da paralisia cerebral Hormônios Agentes androgênicos Masculinização da genitália feminina: lábios fundidos, hipertrofia do clitóris (etisterona, noretisterona) DES Malformação do útero, das tubas uterinas e da porção superior da vagina; câncer vaginal; testículos malformados Diabetes materna Malformações diversas; defeitos cardíacos e do tubo neural são os mais comuns obesidade materna defeitos do tubo neural, defeitos cardíacos, onfalocele ISRS= Inibidores Seletivos da Racaptação de Serotonina; ECA=Ensima Conversora de Angiotensina; DES= Dietilestilvestrol 100 EM BR IO LO GI A O tabagismo é um hábito que causa Retardo no crescimento intrauterino (RCIU) e baixo peso ao nascer (<2000 g). Isto acontece porque a nicotina contrai os vasos sanguíneos e reduz o fluxo de oxigênio e nutrientes no espaço interviloso da placenta. O parto prematuro é cerca de duas vezes mais comum entre as fumantes. Além disso, há um aumento modesto da incidência de crianças com anomalias cardíacas, deficiências dos membros e de volumes encefálicos menores em neonatos pré-termo. Filhos de mães alcoolistas podem ter alteração do crescimento e da morfogênese. A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é uma consequência da exposição a altos níveis de álcool durante a gestação (Fig. 4). Esta síndrome inclui microcefalia, defeitos nas articulações e doença cardíaca congênita. As crianças com SAF apresentam traços típicos como filtro labial indistinto, lábio superior fino, ponte nasal deprimida, nariz curto e face média chata. Figura 4 – Criança com Síndrome Alcoólica Fetal (SAF). Figura 5 – Criança com a Síndrome Fetal da Hidantoína. (A) Traços faciais; (B) Hipoplasia digital. Adaptado SADLER, T. W. (2013). Adaptado SADLER, T. W. (2013). O consumo moderado (28,4-56,8 mL de álcool por dia) também pode causar prejuízos cognitivos e comportamentais. O alcoolismo é a causa mais comum de retardo mental. Cerca de 5-10% das crianças filhas de mães tratadas com os antiepiléticos fenitoína e hidantoína desenvolvem a Síndrome Fetal da Hidantoína (Fig. 5). Essas crianças apresentam retardo no crescimento intrauterino (RCIU), microcefalia, deficiência mental e apresentam alguns traços externos típicos, como orelhas grandes, amplo espaço entre os olhos, pregas epicantais (prega de pele na pálpebra superior), mãos com hipoplasia digital grave (dedos curtos). A Isotretinoína (ácido-13-cis-retinoico) é utilizado como tratamento para acne em muitos jovens. A exposição a este composto eleva o risco de aborto espontâneo, pode causar dimorfismo craniofacial (microtia e micrognatia), fenda palatina, anomalias cardiovasculares, defeitos no tubo neural e prejuízo neuropsicológico. 2.2.2. Agentes infecciosos Alguns agentes infecciosos podem atravessar a membrana placentária, penetrar na circulação sanguínea do embrião/feto e causar anomalias congênitas ou aborto. Alguns dos agentes infecciosos teratogênicos mais conhecidos estão citados na tabela 1. A toxoplasmose é uma infecção materna que pode ser causada pelo consumo de carne crua ou mal cozida e pelo contato com fezes de animais domésticos contendo cistos de Toxoplasma gondii. As anomalias congênitas causadas por este agente infeccioso incluem alterações destrutivas no encéfalo (calcificações intracranianas) e nos olhos (coriorretinite). Como resultado destas alterações, a criança pode ter deficiência mental, microcefalia, microftalmia e hidrocefalia. Recentemente, nos anos de 2015 e 2016, o Zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, foi associado ao aumento de casos de microcefalia (perímetro cefálico abaixo da média) e outras anomalias congênitas. 101www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A ANOTAÇÕES 2.2.3. Agentes físicos A exposição a altas doses de radiação ionizante (exames radiológicos, testes diagnósticos que utilizam radioisótopos e bombas atômicas) pode causar lesão nas células embrionárias, resultando em morte celular,lesão de cromossomos, deficiência mental e crescimento reduzido. Dentre as mulheres que sobreviveram e estavam grávidas durante a explosão das bombas atômicas de Hiroshima e Nagazaki, cerca de 28% abortaram espontaneamente, 25% das crianças morreram no 1° ano de vida e 25% deram à luz bebês com defeitos graves no sistema nervoso central (SNC). 102 EX ER CÍ CI OS EXERCÍCIOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 O que são anomalias ou malformações congênitas? Quais são as causas mais frequentes de anomalias congênitas humanas? a)Anormalidades cromossômicas e genes mutantes. b) Agentes químicos. c) Agentes físicos. d) Agentes infecciosos. e) Agentes ambientais. O que é um teratógeno? Os diferentes fatores citados abaixo determinam a teratogenicidade de um agente, exceto: a) Período de exposição. b) Idade materna. c) Dose do fármaco. d) Genótipo do embrião. Qual é o período mais crítico do desenvolvimento para a exposição a um teratógeno? a) 1ª e 2ª semanas. b) 3ª até a 8ª semana. c) 9ª até a 38ª semana. d) Período fetal. e) O risco de indução de teratogênese independe do período do desenvolvimento. São alterações causadas pelo tabagismo, exceto: a) Retardo no crescimento intrauterino (RCIU). b) Baixo peso ao nascer (<2000 g). c) Parto prematuro. d) Aumento na incidência de anomalias cardíacas. e) Aumento na incidência de masculinização da genitália externa. A ______________________________ é uma consequência da exposição crônica ao álcool durante a gestação. Essa síndrome inclui microcefalia, defeitos nas articulações e doença cardíaca congênita, além de alguns traços externos típicos como: filtro labial indistinto, lábio superior fino, ponte nasal deprimida, nariz curto e face média chata. O consumo moderado de álcool (28,4-56,8 mL/dia) é incapaz de causar prejuízos no desenvolvimento. ( ) Certo ( ) Errado A _________________________________ é um fármaco muito utilizado no tratamento da acne. A exposição a este agente causa uma série de anomalias congênitas e é preciso ter cuidado na exposição dos jovens em idade reprodutiva a este medicamento. São exemplos de agentes infecciosos capazes de atravessar a membrana placentária e causar malformações congênitas, exceto: a) Toxoplasma gondii b) Zika vírus c) Herpes vírus simples d) Citomegalovirus e) E. coli 103www.biologiatotal.com.br EM BR IO LO GI A GABARITO DJOW CÉLULAS TRONCOS 1- São alterações no desenvolvimento presentes ao nascimento. Elas são importantes causas de morte na infância, de doenças crônicas e deficiência. 2- Alternativa a. 3- Teratógeno é qualquer agente químico, físico ou biológico que pode causar um defeito congênito ou ainda aumentar a incidência de um determinado defeito na população. 4- Alternativa b. 5- Alternativa b. 6- Alternativa e. 7- Síndrome Alcoólica Fetal (SAF). 8- Errado. 9- Isotretinoína (ácido-13-cis-retinoico). 10- Alternativa e. ANOTAÇÕES REFERÊNCIAS MOORE, K.; PERSAUD, T.V.N. (2012). Embriologia Clínica. 9ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. SADLER, T.W. (2001). Langman Embriologia Médica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, S.A. SCHOENWOLF, G.C. et al. (2009). Larsen, embriologia humana. 4ª ed., Rio de Janeiro: Elsevier. WOLPERT, L. et al.(2000). Princípios de Biologia do Desenvolvimento. Porto Alegre. Artes Médicas Sul. www.biologiatotal.com.br ANOMALIAS CONGÊNITAS HUMANAS RESUMO DA AULA • As anomalias ou malformações congênitas são alterações no desenvolvimento presentes ao nascimento. ETIOLOGIA • As causas das anomalias congênitas são divididas em: fatores genéticos, ambientais e herança multifatorial. Fatores genéticos • Os fatores genéticos são as causas mais frequentes de anomalias congênitas. • As anormalidades cromossômicas estão presentes em 6-7% dos zigotos. Fatores ambientais • Teratógeno é qualquer agente químico, físico ou biológico que pode causar um defeito congênito ou ainda aumentar a incidência de um determinado defeito na população. • O período mais crítico do desenvolvimento para a exposição a teratógenos está entre a 3a e a 8a semana, porque essa é a fase de diferenciação e morfogênese. • A exposição a teratógenos durante o período fetal pode resultar principalmente em alterações funcionais. • A dose de um fármaco e o genótipo do embrião também influenciam a possibilidade de teratogenicidade. • O tabagismo é um hábito que causa retardo no crescimento intrauterino (RCIU) e baixo peso ao nascer (<2000 g). • Filhos de mães alcoolistas podem ter alteração do crescimento e da morfogênese. • Cerca de 5-10% das crianças filhas de mães tratadas com os antiepiléticos fenitoína e hidantoína desenvolvem a Síndrome Fetal da Hidantoína. • A Isotretinoína (ácido-13-cis-retinoico) é utilizado como tratamento para acne em muitos jovens. A exposição a este composto eleva o risco de aborto espontâneo, pode causar dimorfismo craniofacial (microtia e micrognatia), fenda palatina, anomalias cardiovasculares, defeitos no tubo neural e prejuízo neuropsicológico. Agentes infecciosos • Alguns agentes infecciosos podem atravessar a membrana placentária, penetrar na circulação sanguínea do embrião/feto e causar anomalias congênitas ou aborto. • A toxoplasmose pode causaralterações destrutivas no encéfalo (calcificações intracranianas) e nos olhos (coriorretinite). www.biologiatotal.com.br • Como resultado destas alterações, a criança pode ter deficiência mental, microcefalia, microftalmia e hidrocefalia. Agentes físicos A exposição a altas doses de radiação ionizante (exames radiológicos, testes diagnósticos que utilizam radioisótopos e bombas atômicas) pode causar lesão nas células embrionárias, resultando em morte celular, lesão de cromossomos, deficiência mental e crescimento reduzido.