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1 PROCESSOS AVALIATIVOS E GESTÃO 2 Caro(a) aluno(a), A Faculdade Anísio Teixeira (FAT), tem o interesse contínuo em proporcionar um ensino de qualidade, com estratégias de acesso aos saberes que conduzem ao conhecimento. Todos os projetos são fortemente comprometidos com o progresso educacional para o desempenho do aluno-profissional permissivo à busca do crescimento intelectual. Através do conhecimento, homens e mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam opiniões, constroem visão de mundo, produzem cultura, é desejo desta Instituição, garantir a todos os alunos, o direito às informações necessárias para o exercício de suas variadas funções. Expressamos nossa satisfação em apresentar o seu novo material de estudo, totalmente reformulado e empenhado na facilitação de um construtor melhor para os respaldos teóricos e práticos exigidos ao longo do curso. Dispensem tempo específico para a leitura deste material, produzido com muita dedicação pelos Doutores, Mestres e Especialistas que compõem a equipe docente da Faculdade Anísio Teixeira (FAT). Leia com atenção os conteúdos aqui abordados, pois eles nortearão o princípio de suas ideias, que se iniciam com um intenso processo de reflexão, análise e síntese dos saberes. Desejamos sucesso nesta caminhada e esperamos, mais uma vez, alcançar o equilíbrio e contribuição profícua no processo de conhecimento de todos! Atenciosamente, Setor Pedagógico 3 SUMÁRIO CAPÍTULO I - DIMENSÕES DA AVALIAÇÃO: CONCEPÇÕES E FINALIDADES DA AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO ............................................................................................ 4 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 10 CAPÍTULO II - AVALIAÇÃO DE SISTEMAS EDUCACIONAIS NO BRASIL .......... 11 REFERENCIA .................................................................................................................... 23 CAPÍTULO III - AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: NECESSIDADE E CONDIÇÕES PARA A SUA REALIZAÇÃO .............................................................................................. 26 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 43 CAPÍTULO IV - AVALIAÇÃO E GESTÃO: POSSIBILIDADES DE EMANCIPAÇÃO E A PERSPECTIVA DA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL ................................................. 46 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 53 CAPÍTULO V - AVALIAÇÃO E GESTÃO DEMOCRÁTICA NA REGULAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA: UMA RELAÇÃO A AVALIAR ......................... 55 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 75 4 CAPÍTULO I - DIMENSÕES DA AVALIAÇÃO: CONCEPÇÕES E FINALIDADES DA AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO Claudia Fernandes1 Esse texto pretende apresentar questões básicas da avaliação educacional, quais sejam: suas finalidades e concepções e a necessária relação entre ambas. As duas questões nos parecem essenciais, pelo menos por duas razões: a primeira diz respeito ao fato de a avaliação estar profundamente implicada com a função social da educação, ou seja, com o projeto de sociedade que se quer; a segunda relaciona-se, especificamente, ao próprio contexto no qual as práticas avaliativas se desenvolvem, pois compreende tanto os sujeitos, professores(as) e alunos(as), quanto as ações educativas entendidas aqui como os planejamentos, atividades, mediações, tempos e espaços de aprendizagem. Consideremos que a avaliação é um elemento de nossos fazeres e ações, pois sem ela não tomamos decisões acerca das questões que compõem nosso cotidiano. Quando a avaliação é realizada de maneira despretensiosa, por exemplo, corremos o risco de fazermos julgamentos acerca daquilo que está em análise e tomarmos decisões nem sempre adequadas. Ou até mesmo o contrário, podemos ser tão exigentes e fazer um julgamento tão rigoroso que nossas decisões, balizadas por tal rigor, podem comprometer nossas futuras ações acerca daquilo que foi o foco de avaliação. Enfim, o que quero demarcar, inicialmente, é que julgamento e decisão são aspectos constitutivos do ato de avaliar, mesmo que esse ato seja despretensioso. No âmbito educacional e mais especificamente o escolar, a simples constatação de que a avaliação envolve esses dois aspectos faz com que a reflexão acerca do seu papel educativo, social e pedagógico seja mais do que desejada, também necessária. Pois, se avaliar implica uma ação que envolve julgamento com vistas a uma tomada de decisão, essa ação deve estar balizada por princípios, sobretudo éticos, uma vez que as decisões decorrentes da avaliação da aprendizagem implicam encaminhamentos na vida escolar dos estudantes, tais como reorientações de percurso ao longo do ano (recuperações, aulas de apoio, etc.), reagrupamentos de classes (turmas de apoio, de 1 Mestre em Educação e Doutora em Educação pela PUC-Rio. Professora adjunta da UNIRIO 5 progressão, classes especiais, etc.) e, até mesmo, e não pouco comum, a decisão acerca da reprovação escolar e suas implicações. O início da reflexão acerca das questões acima destacadas pode se dar com essas perguntas: “Por que se avalia? O que se entende por avaliação?” As respostas a essas perguntas, se refletidas a partir das argumentações iniciais no texto, deveriam ser balizadas por alguns princípios relacionados com: (1) o compromisso e a responsabilidade social de ser professor, principalmente em um país com tantos desafios a serem superados do ponto de vista social e econômico como o Brasil; (2) o bom senso e capacidade de contextualização que todo avaliador deve ter; (3) a diversidade social e cultural inerente aos grupos humanos; (4) as diferenças entendidas como potencialidades; (5) a heterogeneidade dos processos, dos tempos, espaços; (6) a complexidade dos cotidianos. A avaliação educacional como um campo de estudos é objeto de análise de inúmeros pesquisadores. Hadji (1994, p.22) entende que avaliar é proceder a uma análise da situação e uma apreciação das consequências prováveis do seu ato numa tal situação. Outro autor que fortalece nossas argumentações é Fernandes (2010, p.16), pois para ele, (…) a avaliação tem que se orientar por princípios que lhe confiram rigor, utilidade, significado e relevância social. Formular juízos acerca do valor e do mérito de um dado ente tem que resultar de um complexo, difícil, rigoroso e diversificado processo de recolha de informação e não de meras opiniões impressionistas, convicções ou percepções, que poderão ser necessárias e até bem vindas, mas que, em si mesmas, serão sempre insuficientes. Feitas as considerações iniciais acerca da seriedade com que devemos tratar a avaliação educacional, posto que não deve ser um fim em si mesma, pois envolve sujeitos e, por essa razão, traz em seu bojo implicações no campo da ética, passemos a tratar das abordagens ou perspectivas que conformam o campo da avaliação. Vou me referir no texto a abordagens ou perspectivas e não propriamente a teorias sobre avaliação, uma vez que algumas delas ficam no campo do como fazer, com prescrições acerca do como avaliar, o que não se constitui, a meu ver, num corpus teórico. As diferentes abordagens em avaliação fundamentam-se em princípios filosóficos, epistemológicos e políticos muito distintos. 6 Tais abordagens podem identificar-se, mais ou menos, com posturas teóricas de uma determinada época, como, por exemplo, os anos das ditaduras militares, as épocas de revoluções comportamentais, como os anos 60 do século XX, ou das revoluções tecnológicas,como a era da informática nos anos finais do século XX, mas suas perspectivas perpassam tais linearidades temporais, posto que o tempo histórico também não se constitui de forma linear. Portanto, fizemos a opção por não apresentá-las de forma cronológica nesse texto, uma vez que assumimos a complexidade das ações educativas e humanas e, por isso, acreditamos que várias das abordagens sobre avaliação convivem lado a lado não só nos discursos sobre, como também nas práticas avaliativas presentes nas escolas, nas salas de aula, entre docentes e alunos, cotidianamente. Antes de passar a apresentar as concepções de avaliação vale a ressalva de que tal temática é por demais complexa e qualquer tentativa de discuti-la, em um texto de poucas páginas, deve considerar que alguns reducionismos ou aligeiramentos podem ocorrer. Entretanto, isso não pode se constituir em um impeditivo para não proceder ao intento. Por fim, a opção por apresentar as concepções a partir de duas grandes e clássicas vertentes epistemológicas fez-se pelas razões já expostas e por uma opção didática, mas a leitura das mesmas não deve ser feita de maneira dicotômica. Demarcados os limites do texto, passemos às considerações sobre as concepções. Podemos tomar a avaliação educacional desde uma perspectiva de fundamentos positivistas, empírico-racionalistas. Tais fundamentos, que são fortemente marcados pelo pensamento de Descartes, trazem a verdade como algo inquestionável, uma vez que a realidade é única e explicada de forma científica. Essa cientificidade se expressa a partir de alguns elementos, dentre eles a matemática, que se constitui como elemento privilegiado de análise e lógica de investigação. Essa perspectiva epistemológica vai influenciar nossa forma de pensamento, de ver o mundo, bem como nossas ações. Sendo a avaliação educacional uma ação, ela é perpassada por esse pensamento hegemônico que prima por uma racionalidade técnica, pela linearidade nas maneiras de se conceber o conhecimento, pela perseguição incessante de uma pretensa homogeneidade e pela busca de um padrão. Em avaliação, podemos dizer que há um primado da técnica, no qual as fórmulas com os resultados numéricos das aprendizagens dos alunos (as) tornam-se centrais no cenário avaliativo. Para Santos (2003, p.27), 7 (…) deste lugar central da matemática na ciência moderna derivam duas conseqüências principais. Em primeiro lugar, conhecer significa quantificar. O rigor científico afere-se pelo rigor das medições. (...) O que não é quantificável é cientificamente irrelevante. Em segundo lugar, o método científico assenta na redução da complexidade. Dessa perspectiva, entende-se a avaliação como não afeita às subjetividades dos sujeitos, cuja análise das aprendizagens deve ser objetiva e, portanto, única, posto que a verdade é também única. Por essa via, a avaliação é compreendida como produto, revelada ao final de uma verificação, tomada como medida de precisão e objetividade. As práticas dessa perspectiva se traduzem nas escolas pela primazia que os instrumentos de avaliação ganham, tal como as provas, os testes, cujos pontos em seu somatório conferem uma pretensa legitimidade/ cientificidade, quase inquestionável, àquela análise realizada. O produto das verificações é expresso em forma de notas que serão comunicadas nos boletins e históricos dos estudantes. Consideramos que o pensamento racionalista cartesiano faz parte do nosso complexo cotidiano contemporâneo, e as bases para sua abordagem epistemológica se assentam em um pensamento crítico, interpretativo, e se distinguem do positivismo, mas com ele coexistem, constituindo aquilo que ouso denominar de pensamento pedagógico da virada do século XX. Em vista disso, a escola do século XXI, ao abrigar duas lógicas antagônicas, torna-se inquieta, em constante movimento, espaço de conflitos e tensões e também lugar de novas possibilidades (Fernandes, 2009). O pensamento crítico e interpretativo traz em seu bojo os princípios de que as verdades são construções provisórias, assim como a ideia do conhecimento como um caleidoscópio, e de que os fatos não ocorrem numa progressão linear, mas que há uma circularidade inevitável, num constante vai e vem, cujo princípio, meio e fim se interpenetram. Dessa forma, a heterogeneidade e os inúmeros padrões possíveis, ou até mesmo a inexistência deles, tomam lugar. A partir desses pressupostos, a avaliação educacional, então, passa a ser entendida como processo, constituindo-se como mais um elemento dos processos de ensinar e aprender e não mais como um elemento à parte. É possível compreender, partindo dessa perspectiva, que a subjetividade do ato de avaliar deve ser assumida e não rejeitada, pois em nada compromete a legitimidade das práticas avaliativas. Santos (2003, p. 43) citando Heisenberg e Bohr, afirma que não é possível observar ou medir um objeto sem interferir nele, sem o alterar, a tal ponto 8 que o objeto que sai de um processo de medição não é o mesmo que lá entrou. E complementa com uma afirmação que parece central na argumentação que venho traçando nesse texto: a idéia de que não conhecemos do real senão o que nele introduzimos, ou seja, que não conhecemos do real senão a nossa intervenção nele, bem expressa no princípio da incerteza de Heisenberg (Santos, 2003, p. 44). A perspectiva crítica ajuda-nos a projetar um cenário na escola, cuja avaliação da aprendizagem concorre para que as aprendizagens se tornem centrais no processo e não as verificações ou medições. No cotidiano da sala de aula, podemos traduzir essa perspectiva como as práticas de autoavaliação, estreitamente relacionadas à construção da autonomia, aos processos de acompanhamento dos estudantes em suas múltiplas possibilidades, ao respeito aos diferentes ritmos e tempos de aprendizagem dos sujeitos. Às distintas concepções de avaliação podemos relacionar as diferentes dimensões e finalidades da avaliação. A dimensão diagnóstica tem por finalidade, como o próprio nome já diz, realizar um diagnóstico de dada realidade que pode ser aqui traduzida como sendo as aprendizagens dos estudantes. Avaliam- se as aprendizagens dos estudantes e não os estudantes. O diagnóstico constitui-se em uma etapa do processo de avaliação. A dimensão somativa preocupa-se com os momentos formais de avaliação concretizados a partir dos seus clássicos instrumentos como as provas e os testes, cujos resultados pontuais irão compor o quadro de avaliação dos estudantes. Essa dimensão, de um modo geral, favorece a classificação das aprendizagens, o que pode levar a uma seleção dos estudantes, concorrendo para a sua hierarquização a partir de determinados parâmetros estabelecidos a priori. A dimensão formativa da avaliação tem como finalidade a promoção e o acompanhamento das aprendizagens. Pretende informar e formar os processos cotidianos de ensinar e aprender, reorientando os percursos de aprendizagem. Para Fernandes (2006,p.22-23) A avaliação formativa, tal como era entendida nos anos 60 e 70 do século XX (Scriven, 1967; Bloom, Hastings & Madaus, 1971), pouco tem a ver com a avaliação formativa dos dias de hoje (Earl, 2003; Harlen & James, 1997; Sadler, 1998; Torrance & Prior, 2001). No primeiro caso, estamos perante uma visão mais restritiva, muito centrada em objetivos comportamentais e nos resultados obtidos pelos alunos, pouco interativa e, por isso, normalmente realizada após um dado período de ensino e de aprendizagem. 9 No segundo caso, estamos perante uma avaliação bem mais complexa e, num certo sentido, mais sofisticada, ou mais rica, do ponto de vista teórico. Trata-se de uma avaliação interativa centrada nos processos cognitivos dos alunos e associada aos processos de feedback, de regulação, de autoavaliação e de autorregulação das aprendizagens. Ainda no contexto da dimensão formativa,encontramos algumas outras teorizações que também entendem a avaliação como processo contínuo. Independentemente das especificidades de cada uma, todas elas se alinham a uma avaliação que tem por finalidade promover as aprendizagens e não classificá-las. De um modo geral, se constituem em alternativas à hegemonia da avaliação, cujas finalidades residem na classificação, seleção e certificação, nos produtos e resultados. Esteban (1999, 2001) compreende a avaliação como investigação, na medida em que o(a) professor(a) pesquisador(a) percebe, nos erros cometidos pelos estudantes, pistas importantes para a compreensão dos conhecimentos que seus alunos(as) já sabem e ainda não sabem. Hoffman (1998; 2006) apresenta a ideia da avaliação mediadora, cuja finalidade está na mediação entre aquilo que se ensina e aquilo que se aprende, com ênfase na interação dos sujeitos do processo de avaliação. Hadji (2001) entende a avaliação das aprendizagens como uma leitura orientada da realidade. Uma leitura em que sentido? O professor/ avaliador/leitor levanta indícios para construir sentido para a realidade observada. Tal leitura é orientada por um sistema de expectativas julgadas legítimas, que deve constituir o referente da avaliação. As concepções, dimensões e finalidades da avaliação se relacionam e são interdependentes. Deveriam ser coerentes com a perspectiva teórica assumida pelos(as) professores(as) em suas práticas pedagógicas, pelas escolas em seus projetos político pedagógicos. Entretanto, sabemos que, na prática, a complexidade dos processos cotidianos engendra infinitas possibilidades de combinações. Tão importante quanto a coerência teórico- epistemológica em avaliação é a coerência assumida a partir da visão de mundo que pauta nosso pensamento e ações, aquilo que nos compromete enquanto sujeitos e, portanto, enquanto professores(as). 10 REFERÊNCIAS ESTEBAN, Maria Teresa (org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. ___________. O que sabe quem erra? Reflexões sobre avaliação e fracasso escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. FERNANDES, Claudia de O. Escolaridade em ciclos: desafios para a escola do século XXI. Rio de Janeiro: WAK, 2009. FERNANDES, Domingos. Acerca da articulação de perspectivas e da construção teórica em avaliação. In: ESTEBAN, Teresa e AFONSO, Almerindo (org.). Olhares e interfaces – reflexões críticas sobre a avaliação. São Paulo: Cortez, 2010. p. 15-44. ___________. Por uma teoria da avaliação formativa. Revista Portuguesa de Educação, 2006, 19(2), p. 21-50 CIEd - Universidade do Minho. HADJI, Charles. Avaliação Desmistificada. Porto Alegre: ArtMed, 2001. __________. A avaliação, regras do jogo – Das intenções aos instrumentos. Porto: Porto, 1994. HOFFMAN, Jussara. Avaliação: mito e desafio, uma perspectiva construtivista. 23ª ed. Porto Alegre: Mediação, 1998. ___________. O Jogo do Contrário em Avaliação. 2ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2006. SANTOS, Boaventura de Sousa. Um Discurso sobre as Ciências. São Paulo: Cortez, 2003. BIBLIOGRAFIA FERNANDES, Claudia. Dimensões da avaliação: Concepções e finalidades da avaliação em educação. In: SALTO PARA O FUTURO. SEED-MEC. Ano XX Boletim 18 - Novembro 2010. Disponível em: < http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/15495318-Avaliacao.pdf> Acesso em 01 de agost. 2012. http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/15495318-Avaliacao.pdf 11 CAPÍTULO II AVALIAÇÃO DE SISTEMAS EDUCACIONAIS NO BRASIL Bernardete A. Gatti Resumo Este artigo apresenta em sequência temporal algumas iniciativas e modelos de avaliação de sistemas educacionais no Brasil. Lembra a estrutura federativa do Estado brasileiro e o desdobramento das avaliações nos sistemas federal, estaduais e municipais de ensino. Aborda a questão da formação de pessoal em avaliação educacional, as características assumidas pelas avaliações implementadas, tanto na educação básica, como no ensino superior. Apontam-se as mudanças de modelo e as controvérsias advindas com o desenvolvimento dessas avaliações. Comentam-se alguns de seus efeitos. Palavras-chave: Avaliação educacional, Sistemas de ensino, Rendimento escolar, Avaliação institucional A Avaliação Educacional, hoje, é um campo de estudos com teorias, processos e métodos específicos, mas também, um campo abrangente que comporta subáreas, com características diferentes, por exemplo, avaliação de sistemas educacionais, avaliação de desempenho escolar em nível de sala de aula, avaliação institucional, avaliação de programas, autoavaliação. Comporta, também, diferentes abordagens teóricas como a sistêmica, a iluminativa ou compreensiva, a avaliação participativa, etc. No Brasil este campo de conhecimento só veio a merecer maior atenção, estudos e análises críticas mais fundamentadas, há relativamente pouco tempo. As questões ligadas à avaliação educacional tendo adentrado muito tardiamente nas discussões no campo da educação, também sofreu aqui, em sua va- lorização e desenvolvimento como campo teórico, dos efeitos relativos à quase ausência de formação nos cursos de educação de profissionais especializados. Esta formação vem se dando por outros caminhos. Campo sujeito ainda a fortes críticas ideológicas, conta com massa crítica intelectual relativamente pequena, a qual está em crescimento em função de programas avaliativos postos em prática em vários níveis do sistema educacional brasileiro, com abrangência nacional ou regional. Isto implicou em preparação especial de funcionários nos diferentes níveis de administração do sistema escolar brasileiro, e na formação de pessoal universitário no exterior. Alguns grupos de especialistas foram se constituindo em universidades e centros de pesquisa, e, com os estímulos de formação no exterior pelas políticas nacionais de capacitação de pessoal, vem aumentando o número de pesquisadores na área. Com 12 isso, tem se tornado possível melhor qualificar os processos avaliativos de amplo espectro, relativos ao desempenho de alunos da educação básica (ensino fundamental e médio), ou do nível superior, e, de instituições de ensino. Neste artigo pretendemos tratar desses processos avaliativos, os de maior porte, no Brasil, recuperando sua trajetória no tempo. Sendo o Brasil uma federação, lembramos que o sistema educacional comporta a rede pública de ensino — com gestão federal, estadual ou municipal — e, a rede de escolas privadas, autorizadas e super- visionadas por um dos três níveis federativos. Cada nível federativo tem seu grau de responsabilidade definido pela Constituição de 1988, e, no referente às redes de ensino, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada no ano de 1996 AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO Dada a constituição tríplice das redes de ensino no Brasil estaremos nos referindo ora a avaliações nacionais, ora a estaduais, ora a municipais. Para traçar a trajetória das avaliações de desempenho de redes de ensino tomamos como ponto de partida os anos mil novecentos e sessenta, porque foi nessa década que surgiu fortemente a preocupação específica com processos avaliativos escolares baseados em critérios mais claramente enunciados e instrumentos que poderiam garantir, até certo ponto, que a avaliação do nível de realização obtido estivesse mais objetivamente garantida. Nessa década e na subsequente, profissionais receberam formação mais aprofundada na área de avaliação de rendimento escolar, alguns no exterior. Na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro criou-se em 1966 o CETPP, Centro de Estudos de Testes e Pesquisas Psicológicas, onde testes educacionais passam a ser desenvolvidos e estudados (Fundação Getúlio Vargas, 1970). A equipe do CETPP elaborou um conjunto de provas objetivas para as últimas séries doensino médio, nas áreas de Linguagem, Matemática, Ciências Físicas e Naturais e Estudos Sociais. Realizou-se, então, pesquisa com conjuntos de alunos do ensino médio, a qual incluía um questionário sobre características socioeconômicas dos alunos e suas aspirações. Esta pode ser considerada a primeira iniciativa relativamente ampla, no Brasil, para verificação da aquisição de conhecimentos e sua relação com diferentes variáveis, como sexo, nível socioeconômico, e outras. Nesse Centro desenvolveram-se, ainda, cursos sobre elaboração de provas objetivas, com especialistas estrangeiros, e fizeram-se várias publicações sobre temas ligados à avaliação educacional. Simultaneamente, na Fundação Carlos Chagas especialistas em testes e medidas 13 também estavam sendo formados. No entanto, a expertise conseguida não teve nesse momento aplicação em avaliações de redes de ensino, tendo sido utilizada em processos seletivos para universidades, cursos superiores e cargos públicos Em meados dos anos 1970 desenvolveu-se, pela iniciativa do ECIEL (Programa de Estudos Conjuntos de Integração Econômica Latinoamericana), um estudo avaliativo de porte, no Brasil e outros países da América Latina, sobre os determinantes dos níveis de escolaridade e do rendimento escolar obtidos por alunos com diferentes características pessoais e socioeconômicas. Aos alunos foi aplicado questionário para levantamento de dados sobre situação socioeconômica, atitudes com relação ao processo escolar e aspirações, e, um exame de compreensão de leitura e de ciências. Foram coletados dados de diretores, professores e escolas (Castro & Sanguinetti, 1977). Realizou-se estudo, nesse mesmo período, com a finalidade de chegar a um instrumento de medida que permitisse verificar a situação do desempenho dos alunos nas 1aS séries do ensino fundamental. Amostras foram utilizadas para testar o instrumento, em duas formas paralelas, com crianças de todas as regiões geográficas do país, abrangendo Leitura, Escrita e Matemática. Este projeto derivou da experiência com outros estudos durante a década de setenta no então estado da Guanabara (hoje cidade do Rio de Janeiro), e, outros pequenos estudos, feitos em convênio com o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais/INEP/Ministério da Educação, desde a década de 1960. Não houve, no entanto, nos anos imediatamente subsequentes outras iniciativas com a intenção de avaliações mais abrangentes, embora alguns ensaios localizados tenham sido desenvolvidos. Não se observa, nesse período, preocupação de administrações públicas com uma avaliação sistemática do rendimento escolar dos alunos das redes de ensino. Em nível nacional essa preocupação vai aparecer a partir de 1988, com alguns estudos exploratórios, ocorrendo a implementação de um sistema nacional de avaliação da educação básica apenas em 1990. Houve apenas uma municipalidade — a da cidade de São Paulo — que se constituiu em exceção e preocupou-se no início dos anos 1980 com essa questão, tendo realizado o primeiro estudo avaliativo de uma rede de ensino. A avaliação foi conduzida pelo Departamento de Planejamento da Secretaria Municipal de Educação da Cidade de São Paulo, com o objetivo de verificação do nível de escolaridade dos alunos da Rede Municipal de Ensino, abrangendo, além das séries iniciais do ensino fundamental, também o terceiro estágio da educação infantil. Foram avaliadas todas as crianças do terceiro estágio de educação infantil, as de 1a, 3a, 5a, 7a séries do ensino fundamental e, os alunos do primeiro ano do ensino médio. As provas abrangeram Língua Portuguesa, Matemática e Ciências. Foi construída uma bateria de testes 14 específicos, baseada no currículo escolar definido pela Secretaria Municipal de Educação para suas escolas, à época. A ideia era poder utilizar esses dados para planejamento das atividades escolares e extraescolares. Porém, tendo havido mudança de administração em 1982, o estudo ficou com seus resultados sem utilização, uma vez que os novos dirigentes não se interessaram em utilizar os resultados obtidos e levar adiante o processo iniciado dois anos antes. Numa outra vertente, a da avaliação de políticas educacionais e avaliação de programas, entre 1978 e 1982, encontramos alguns estudos que se propõem avaliar a política nacional de educação, enfocando a seletividade da educação, utilizando-se desde dados demográficos até estudos de caso (Fundação Carlos Chagas, 1981, 4v.). Estes estudos abrem um outro leque de possibilidades em avaliação numa direção diferente da avaliação de desempenho por testes. Como se observa, lenta e esparsamente, algumas competências vinham se formando na área de avaliação, sobretudo envolvendo a questão da medida de rendimento escolar. Algumas administrações públicas da educação mostraram interesse nesses estudos mas, sem continuidade, nem em relação a equipes que se formavam, nem em relação aos estudos. A descontinuidade em políticas tem sido uma marca nas gestões públicas no Brasil, aliás, não só em relação aos estudos avaliativos, como a todos os aspectos de iniciativas de administrações anteriores. Também, nesse mesmo período — inícios dos oitenta — o pensamento educacional volta-se à crítica dos empirismos, dos tecnicismos, das operacionalizações burocráticas e a área de avaliação, que mal começara a formar quadros, sofre uma retração grande no seio das universidades. Durante a década de 1980, uma experiência que pode ser colocada como um marco na história de desenvolvimento de estudos de avaliação de políticas e programas envolvendo não só estudos de rendimento escolar mas de variados fatores, foi a da avaliação do Projeto EDURURAL — um projeto de educação desenvolvido em todos os estados do Nordeste brasileiro. A avaliação acompanhou a implementação e desenvolvimento do projeto, sob vários aspectos, de 1982 a 1986. Avaliaram-se as formas de gerenciamento geral do projeto e, por amostra, o gerenciamento local, analisando-se o sistema de monitoria, os professores, as Organizações Municipais de Ensino, os alunos, as famílias. Desenvolveram-se testes para avaliar crianças em nível de segundas e quartas séries do ensino fundamental, considerando sua pertinência à zona rural em classes, em geral, multisseriadas. Estas provas foram desenvolvidas a partir de amostras de exercícios e trabalhos colhidos nas escolas dos três estados onde a avaliação se desenvolvia, Piauí, Ceará e Pernambuco. Coletou-se materiais de alunos, 15 trabalhou-se com o pessoal da região, e, depois é que se deu a forma final das provas. O que se tentava era construir um conjunto de provas tanto quanto possível adequado àquela realidade, buscando maior validade para os dados de rendimento escolar. As crianças foram avaliadas em 1982, 1984 e 1986. Nesses mesmos anos, os demais dados sobre o programa, seu gerenciamento, as características das escolas, o pessoal docente, as famílias, etc., também eram coletados e análises integradas e multivariadas foram feitas procurando encontrar traços característicos relevantes para verificar-se a contribuição sócio-educacional do programa, como também os impasses. Análises qualitativas dos dados levantados foram desenvolvidas, tendo sido agregados estudos de caso ao modelo avaliativo, para análise e compreensão em maior profundidade de situações mais específicas (Universidade Federal do Ceará, 1988, 7v.). Seminários foram realizados sobre seus resultados, durante o processo e depois. Esses resultados tiveram várias consequências sobre as políticas vigentes. Além disso, muitas outras análises derivaram destes dados, desde análises com enfoque em políticas públicas, até análises do que acontece com a escola que se situava na própria casa da professora; ou, qual o problema das escolas que estavam junto a assentamentos de pessoal sem-terra; etc. Com metodologia clara e bem definida, comos cuidados de coleta e análise, representou um exemplo do que se poderia fazer com estudos dessa natureza na direção de se propugnar por uma escola mais condizente com as necessidades das populações menos favorecidas socialmente. O cuidado com as interpretações, com a clareza dos limites de significação dos dados, tendo presente os pressupostos sobre os quais se assentava o modelo avaliativo, ofereceu uma oportunidade para se formar pessoas e pensar a área criticamente a partir de uma ação direta. Estudos que deram subsídios à implantação do sistema nacional de avaliação da educação básica Ao final dos anos 1980 discussões sobre vários problemas que ocorriam nos sistemas educacionais, apontados pelos pesquisadores da área de educação, chega ao auge com o debate público sobre os indicadores que mostravam o alto índice de fracasso escolar (repetência e evasão escolar) na escola básica, no país. Uma das questões que se colocava é que não se possuíam dados sobre o rendimento escolar dos alunos em nível de sistema e os fatores a ele associados. Nesse momento, promoveu-se no MEC [Ministério da Educação] uma oficina de trabalho com um grupo de educadores para discutir a questão. Colocava-se então que, com a mudança da nossa Constituição, poderia haver uma nova estrutura política e que isto sinalizava a necessidade de uma mudança na atuação do Ministério da Educação em relação ao ensino 16 fundamental e médio, levando-o a ter um papel orientador e um papel avaliador como referência para políticas e avanços na área da educação básica. Ao final de 1987, foi proposto que se fizesse uma avaliação de rendimento escolar em 10 capitais de estados do país, para se aquilatar se um processo de avaliação mais amplo por parte do Ministério seria viável e traria resultados relevantes. A avaliação foi feita nas 1as, 3as, 5as e 7as séries de escolas públicas em 10 capitais de Estados, com provas em Língua Portuguesa (com redação), matemática e ciências. Foi um estudo piloto para verificar a viabilidade do processo, como as administrações e as escolas receberiam esse tipo de avaliação, se as provas seriam adequadas, etc. Utilizou-se a teoria clássica em avaliação e o grande desafio foi mesmo a construção de provas que tivessem validade para as realidades dos diferentes estados envolvidos (não se dispunha de um currículo nacional). Isto tornou-se possível a partir de parcerias locais. Com esta etapa tendo sido rela- tivamente bem sucedida, com as discussões sobre os resultados das provas e fatores a eles associados havidas em alguns estados, e discussões em seminários nacionais ou locais, expandiu-se o estudo avaliativo para mais 20 capitais e, depois mais 39 cidades distribuídas em 14 estados e, à época, um território (Vianna, 1988, 1989a, 1989b). Paralelamente, com apoio da Secretaria de Ensino de Segundo Grau do Ministério da Educação, realizou-se uma avaliação de rendimento escolar de alunos do 3º ano do ensino médio, abrangendo todas as modalidades existentes (geral, normal, técnico industrial, comercial, etc.). Também no ano de 1988, como extensão à iniciativa do MEC, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná realizou uma avaliação dos alunos de 2ª e 4ª séries nas escolas desse estado. Provas específicas de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências e Estudos Sociais foram elaboradas, a partir de itens produzidos por professores locais, com base nos guias curriculares vigentes no Paraná (Vianna & Gatti, 1988). Em 1991 completando o ciclo de avaliações exploradoras proposto pelo MEC realizou-se o mesmo tipo de avaliação feito nas escolas públicas, em escolas privadas, em 11 Estados e no Distrito Federal. As avaliações de rendimento escolar realizadas entre 1988-91 trouxeram o impacto dos baixos resultados médios, muito aquém do esperado, que repercutiram tanto no Ministério, como nas Secretarias de Educação e na mídia, criando nas administrações públicas interesse pelos processos avaliativos. Com os resultados obtidos e dados das escolas, dos professores e dos alunos, dispunha-se de muitas informações, sobre as quais se poderia debruçar, refletir e tirar inferências tanto para políticas dirigidas às redes de ensino como um todo, como para questões da aprendizagem de alunos nas salas de aula. Estes primeiros estudos mais abrangentes 17 de alunos e escolas serviram de base para a implantação do SAEB — Sistema de Avaliação da Educação Brasileira. Para isso contribuiu, também, a participação do Brasil, logo no início dos anos 1990, no segundo Programa Internacional de Avaliação de Proficiência Educacional. Esse programa internacional, que à época envolvia 27 países, pretendia ser comparativo. Portanto, a metodologia de aplicação e os testes foram elaborados por uma equipe internacional de es- pecialistas: chineses, árabes, americanos, suecos, holandeses, etc., num processo de validação recíproca. Mas, no Brasil o estudo ficou restrito a apenas duas capitais (Fortaleza e S. Paulo) tornando a comparabilidade pretendida comprometida. Foram avaliadas crianças de 13 anos de idade, não importando a série em que o aluno se encontrava (a correspondência idade-série não era garantida). A ideia desse estudo internacional era procurar saber qual domínio de co- nhecimentos teriam as crianças dessa idade em cada um dos países participantes. No estudo aqui realizado não foram incluídas crianças que estavam fora da escola e crianças com excessiva defasagem idade-série, problema que na maior parte dos países participantes não se colocava. A avaliação, embora realizada apenas em duas capitais, mostrava o precário desempenho dos alunos de 13 anos no Brasil, na comparação com outros países: penúltima colocação. A contundência dos dados obtidos até aqui leva o Ministério da Educação e alguns dos Estados da federação a desenvolver uma política de avaliação de redes de ensino de forma a trazer a público os resultados, na intenção de se buscar formas de superação da precária situação das aprendizagens escolares. Os resultados médios eram muito preocupantes. Estímulos vindos de órgãos internacionais tiveram papel relevante na consolidação e ampliação dessas avaliações. O SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA — SAEB A partir de 1993, o Ministério da Educação, em articulação com as Secretarias Estaduais de Educação, implantou o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). Realizado por amostra nacional de alunos, inicialmente com provas objetivas no modelo clássico, essa avaliação passou a ser realizada anualmente, abrangendo séries do ensino fundamental e médio, tendo aperfeiçoado sua metodologia e, finalmente, em 1995, adotado os procedimentos pre- conizados pela Teoria da Resposta ao Item. Pesquisadores da Fundação Carlos Chagas capitanearam a introdução dessa metodologia no SAEB (Andrade & Valle, 1998; Fletcher, 1991, 1995). No entender dos especialistas poderia oferecer informações mais seguras sobre o 18 repertório escolar das crianças e jovens, bem como oferecer condições de comparabilidade em escala, o que não era possível no modelo anterior. Pelos documentos disponíveis verifica-se que a intenção associada a essa avaliação era a de prover informações para tomadas de decisão quanto a diversos aspectos das políticas educacionais, bem como para pesquisas e discussões, a partir da geração e organização de informações sobre o desempenho acadêmico dos alunos no sistema e fatores a ele associados. Hoje estão disponíveis várias bases de dados sobre as sucessivas avaliações feitas em nível nacional, e relatórios que disponibilizam as análises realizadas. O SAEB compõe-se de dois grandes eixos: o primeiro voltado ao acesso ao ensino básico no qual se verifica o atendimento à demanda (taxas de acesso e taxas de escolarização) e a eficiência (taxas de produtividade, taxas de transição e taxas de eficiência interna); o segundo eixoé relativo à qualidade, implicando no estudo de quatro dimensões relativas: 1. ao produto — desempenho do aluno quanto a aprendizagem de conteúdos e desenvolvimento de habilidades e competências; 2. ao contexto — nível socioeconômico dos alunos, hábitos de estudo, perfil e condições de trabalho dos docentes e diretores, tipo de escola, grau de autonomia da escola, matriz organizacional da escola; 3. ao processo — planejamento do ensino e da escola, projeto pedagógico, utilização do tempo escolar; estratégias de ensino; 4. aos insumos — infraestrutura, espaço físico e instalações, equipamentos, recursos e materiais didáticos. Os instrumentos de coleta são as provas aos alunos, questionários aplicados a alunos, professores e diretores, questionário sobre as condições da escola. Nos dois últimos anos agregou-se ao modelo geral de avaliação, estudos de caso de situações específicas consideradas relevantes para análise mais aprofundada de fatores contextuais intervenientes nos resultados (Brasil/Ministério da Educação, 2002; Fontanive & Klein, 2000; Pestana, 1999). O SAEB veio sendo objeto de vários estudos e discussões, inclusive de comissões em nível de Ministério na busca de seu aperfeiçoamento. Problemas técnicos têm sido superados, por exemplo, quanto à modelagem das provas e o teor dos itens e sua validade, quanto ao processo de amostragem, que vem sendo aperfeiçoado, etc., levantando-se, também, problemas quanto à divulgação, disseminação e apropriação dos resultados nos diferentes níveis de gestão do sistema e aos professores. Franco (2001) nos oferece observações interessantes quanto às potencialidades e aos problemas relativos a essa avaliação, pontuando sugestões sobre as for- mas de tornar o SAEB mais relevante para gestores e professores, por exemplo, ilustrando com exemplos claros dificuldades dos alunos, propondo alternativas pedagógicas, em linguagem adequada, construir melhor explicitação dos fatores que contam em educação (efeito escola, 19 efeito sala de aula), apresentação das escalas de proficiência em linguagem e esquemas gráficos facilmente inteligíveis para não especialistas, estabelecimento de relacionamentos com secretarias estaduais e municipais mais efetivos para apropriação dos resultados, etc. Mais recentemente o Ministério de Educação expandiu a avaliação de desempenho do sistema educacional, com a Prova Brasil, aplicada a todos os alunos dos primeiros anos do ensino fundamental, integrando essa prova ao SAEB. Com isso avançou-se na construção de um indicador — o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), a partir de 2007, que integra o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações nacionais. Essas médias referem-se ao desempenho no SAEB para os Estados e na Prova Brasil para os Municípios. É possível dispor de um valor do Indicador para o país como um todo, cada Estado, Município e Escola. Iniciativas regionais Foi durante os anos mil novecentos e noventa que diversas avaliações de sistemas escolares vão tomar corpo também em várias regiões do país, além do âmbito nacional já exposto. Abaixo relatamos três iniciativas em Estados da Federação, as mais consolidadas. Estado de S. Paulo Assim, em 1992 foi realizada no Estado de S. Paulo avaliação dos alunos das Escolas Padrão, projeto de inovação curricular desenvolvido pela Secretaria Estadual de Educação, inicialmente com 306 escolas no Estado, depois ampliando-se para mais de mil, com vistas a abranger aos poucos todas as escolas do sistema, o que não chegou a acontecer. O objetivo da avaliação era verificar se com os insumos educacionais diferenciados que recebiam as escolas e professores se obtinham melhorias no nível de aprendizagem escolar por parte dos alunos. A avaliação então realizada abrangeu Língua Portuguesa, Redação, Matemática, Ciências, História e Geografia, tendo sido aplicado um questionário para sondagem de características dos alunos. Foram submetidos a ela todos os alunos de 8ª série. Essa avaliação seria o marco zero, com a qual sucessivamente se procuraria comparar o futuro desenvolvimento educacional das crianças. Esperava-se, no início dos trabalhos, poder realizar avaliações sucessivas, durante vários anos, com dados da progressão dessas crianças que estavam vinculadas ao Projeto da 20 Escola Padrão. Os primeiros resultados foram interpretados psico-pedagogicamente e recomendações curriculares foram feitas e consolidadas em documentos distribuídos às escolas. A partir dos dados obtidos vários estudos com foco específico foram realizados para subsidiar ações específicas junto às escolas (Gatti, 1996). Essa avaliação, que pretendia ser longitudinal, foi descontinuada por mudança na administração da Secretaria de Educação do Estado. A nova gestão desenvolveu outros estudos visando comparar Escolas Padrão e Não Padrão, considerando a região da escola, os períodos, diurno e noturno dos cursos. Os dados foram divulgados para a rede. Enfatizava-se que se deveria enfrentar com critério e determinação os pontos críticos revelados em relação ao processo de ensino. As provas foram analisadas e implicações pedagógicas foram apontadas, com recomendações quanto aos pontos críticos em cada disciplina avaliada (Mondel & Maluf, 1994). Ao mesmo tempo, entre 1992 e 1994, outro projeto de avaliação vinha sendo desenvolvido, amostralmente, nas escolas estaduais do Estado de São Paulo, com caráter de uma verdadeira pesquisa avaliativa: O Projeto de Avaliação de Impacto do Ciclo Básico e da Jornada Única na Área Metropolitana de São Paulo. A equipe de pesquisa fez um estudo longitudinal de acompanhamento de um mesmo segmento de crianças, durante 3 anos, com o objetivo complexo de analisar mudanças de aprendizagem e de características cognitivas ao longo do tempo. Esse foi um tipo de pesquisa em avaliação nunca antes desenvolvido no país, inclusive com um estudo paralelo de caráter antropológico. Este permitiu que se tivesse uma compreensão profunda do que se passava no cotidiano das escolas e no desenvolvimento cognitivo das crianças (Neubauer et al., 1996). A partir de 1995 institui-se no Estado de São Paulo, como parte de um programa para a educação pública do estado, o SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar no Estado de S. Paulo), que vem se realizando até hoje, abrangendo séries sucessivas, com questionários informativos, e fazendo-se as equalizações necessárias ano a ano para se obter comparabilidade. Neste modelo todos os alunos matriculados nas séries envolvidas são avaliados (Espósito, 2000; SEESP, 1996, 1998). O sistema SARESP tem mantido as avaliações periódicas e em 2008 fundamentou a criação de um indicador de desenvolvimento educacional específico para o Estado de S. Paulo — IDESP —, com características de construção um pouco mais nuanceadas do que o índice do Ministério da Educação. 21 Estado de Minas Gerais Também o Estado de Minas Gerais começa a partir de 1992 a desenvolver um programa de avaliação das suas escolas públicas. Como as demais iniciativas, o propósito da avaliação era dar base para a melhoria da qualidade do ensino e fazia parte de uma proposta mais ampla do governo do estado para a educação. As avaliações foram planejadas e realizadas em ciclos, a cada dois anos, eram avaliações censitárias, incorporando outras informações através de questionários. Em 1998, com a implantação da progressão continuada nas escolas, passou-se a fazer a avaliação todos os anos. Desenvolveu-se com este programa de avaliação uma proposta formativa de quadros na própria Secretaria, através de cursos específicos oferecidos aos técnicos, aqui e no exterior (Antunes et al., 1992; Souza, 1999). Hoje, o Estado de Minas Gerais possui um complexo modelo de avaliação de sua rede de ensino — o SIMAVE: Sistema de Avaliação da Qualidade do Ensino e das Escolas. Esse Sistemaé composto por três programas de avaliação: PROALFA — voltado à avaliação dos níveis de alfabetização; PROEB — verifica a eficiência e a qualidade do ensino com base no desempenho nas séries finais dos blocos de ensino; PAAE — realiza diagnósticos progressivos da aprendizagem para subsidiar intervenções pedagógicas. Estado do Paraná O Estado do Paraná realizou em 1995 sua primeira avaliação em larga escala como expansão do SAEB, oferecendo aos seus municípios e às escolas resultados particularizados. Deu-se continuidade ao processo nos anos subsequentes e, em 2000, introduziu no processo avaliativo do ensino fundamental a metodologia da teoria da resposta ao item, tomando como referência os conteúdos do Currículo Básico para as Escolas Públicas do Paraná. Desenvolveram-se estudos analíticos detalhados sobre o desempenho dos alunos de 4ª e 8ª séries. As matrizes de referência das provas trazem inovações em sua concepção em relação a outras abordagens, por exemplo, em Língua Portuguesa, contempla cinco áreas: procedimentos de leitura, recursos expressivos e efeitos de sentido, variação linguística, coerência e coesão, e, conhecimento linguístico operacional. Análises diversificadas encontram-se consolidadas em relatórios publicados e distribuído à rede. A disseminação desses resultados foi realizada por três tipos diferentes de relatórios: para diretores de escola e secretários municipais de educação, com uma visão mais global e comparativa; para professores e equipes pedagógicas contendo análises detalhadas dos itens, dos tipos de erros, com recomendações e sugestões pedagógicas; 22 e, para presidentes de associações de pais e mestres e pais de alunos foi feito no Boletim da Escola uma síntese específica da situação da escola e uma descrição dos níveis de desempenho alcançados (SEEPR, 2001). Mais recentemente implementou-se nesse Estado um processo de avaliação institucional envolvendo escolas, regionais de ensino e Secretaria. Estado do Ceará O Estado do Ceará desenvolveu um sistema avaliativo de suas escolas a partir de 1996, com avaliação, por amostras, de desempenhos de alunos do ensino fundamental. Realizou, também, um processo de avaliação institucional de escolas, com envolvimento da comunidade, o qual se mostra como um modelo diferenciado em relação ao que se fez em outros estados. Neste Estado foi institucionalizado o SPAECE — Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica. Conforme documentado pela Secretaria Estadual de Educação (Ceará, 2009), compreende três vertentes: Avaliação de Desempenho Acadêmico, Avaliação Institucional e Estudos e Pesquisas Educacionais. Na primeira, de natureza externa, o Sistema avalia as competências e habilidades dos alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Identifica-se o nível de proficiência e a evolução do desempenho dos alunos. Abrange todos os alunos das escolas estaduais e municipais. São aplicados questionários investigando dados socioeconômicos e hábitos de estudo dos alunos, perfil e prática dos professores e diretores. Na vertente da Avaliação Institucional, possibilita à escola, através da Auto-Avaliação e da Avaliação de Desempenho do Núcleo Gestor, conhecer e aperfeiçoar as inter-relações, os serviços prestados, o desempenho do corpo docente e discente, dos funcionários e gestores. Objetiva a implementação de mudanças no cotidiano escolar. A terceira vertente compreende Estudos e Pesquisas Educacionais, bem como Avaliações de Programas, buscando aprofundar o conhecimento das situações-problema e das tendências detectadas nas avaliações. CONTRIBUIÇÕES E DESAFIOS Essas experiências de mais amplo espectro contribuíram para a formação e o aperfeiçoamento de pesquisadores e técnicos em avaliação de desempenho escolar e institucional em sistemas de ensino, tanto em nível do Ministério da Educação, nas Secretarias e em diversas instituições que passaram a se dedicar ao campo. Depreende-se pelos documentos consultados que se buscou ao longo do tempo criar um ambiente propício à receptividade de avaliações, incrementar competências no campo, e estimular o emprego das avaliações para mudanças, intervenções, melhorias nas escolas e no ensino. Também, despertar estudos críticos. 23 Ou seja, pensava-se em provocar mudanças na representação dos processos avaliativos que tinham conotação punitiva e de depreciação dando-lhes novo significado. Todos sabemos das dificuldades de mudanças dessa natureza — mudanças socioculturais — mas, tentava-se no nível das gestões estimular o início desse processo. Fatores internos e externos interpuseram-se e as contradições implicadas nesses procedimentos tomaram corpo. De um lado, uma ênfase muito forte que acaba sendo dada aos melhores e aos piores desempenhos, a mídia valorizando apenas a média das notas obtidas e não outros resultados até mais importantes. De outro, observou-se a pequena utilização dos dados por parte das redes, seja por processos inadequados de disseminação e de dar acesso e visibilidade aos dados, seja por dificuldades nas redes de lidar, analisar, interpretar esses dados pedagogicamente. Os problemas de utilização dos dados por diretores de escola, coordenadores pedagógicos e professores vem ocorrendo tanto na utilização das avaliações estaduais como das avaliações nacionais. A disseminação dos dados em formas mais adequadas, diferenciadas conforme a audiência — público em geral, pais, professores, gestores — é ponto nevrálgico a ser resolvido no desenvolvimento desses processos. O IDEB e o IDESP têm sido melhor compreendidos, porém, é necessário que aspectos pedagógicos ligados aos desempenhos sejam mais amplamente expostos e discutidos. O grande desafio é, ainda, a apropriação por parte das escolas dos resultados obtidos por seus alunos e a utilização desses resultados para orientar as atividades de ensino Aspectos mais técnicos, ligados à construção de provas de avaliação de desempenho, tanto relativos à fidedignidade como à validade, também foram objeto de discussão. As matrizes de referência têm sido sistematicamente criticadas, em que pese a busca de seu aperfeiçoamento contínuo. Outro aspecto polêmico é a utilização da Teoria da Resposta ao Item nos principais processos avaliativos nas grandes redes de ensino, onde se questiona a pertinência do modelo e a adequação das análises e sua consistência FINALIZANDO Pode-se afirmar que vem mudando a representação dos processos avaliativos de sistemas educacionais no Brasil, em relação aos quais houve inicialmente uma reação contrária muito forte, e que uma cultura de avaliação educacional está se consolidando, na ideia de accountability. Salutares são os debates e as contraposições aos diversos processos avaliativos implementados em vários dos níveis educacionais, e nos vários sistemas de administração educacional do país (União, Estados e Municípios). A preocupação com os resultados dos processos de ensino está presente atualmente nas administrações públicas da educação e nas escolas, dando margem a iniciativas como aperfeiçoamento dos currículos escolares, formação continuada de professores, revisão da formação básica de docentes, produção de materiais didáticos novos em vários tipos de suporte (impressos, virtuais, DVDs, etc.). O impacto dessas avaliações começa a ser sentido na educação básica esperando-se que as avaliações sejam vistas como estímulos à mudança em processos educacionais, e, não como punição. 24 REFERÊNCIA ANDRADE, Dalton F. & Valle, Raquel C. (1998). Introdução à Teoria da Resposta ao Item. São Paulo, Estudos em Avaliação Educacional, 18, pp. 13-32 ANTUNES, Ana Lúcia; Xavier, Edir P. C. & Freitas, Maria A. de. (1992). Avaliação do rendimento do aluno da escola estadual de Minas Gerais: o CBA. São Paulo, Estudos em Avaliação Educacional,6, pp. 29-42. ANPED — Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (1999). A Ava- liação da pós-graduação em debate. São Paulo: ANPED. ANPED — Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (2005). 40 Anos da Pós-Graduação em Educação. Revista Brasileira de Educação. São Paulo: ANPED/Autores Associados. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto (1995). Resultados do SAEB 1995: a escola que os alunos freqüentam. Brasília: MEC. BRASIL. Ministério da Educação (1996). Programa de Avaliação Institucional das Universi- dades Brasileiras — PAIUB. Avaliação: Revista da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior,1, 1, pp. 43-68. BRASIL. Ministério da Educação (2002). Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica: SAEB. In BRASIL. 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Disponível em: < http://sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/Revista%209%20PT%20d1.pdf> Acesso em 20 de agost. 2012. http://sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/Revista%209%20PT%20d1.pdf 26 CAPÍTULO III - AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: NECESSIDADE E CONDIÇÕES PARA A SUA REALIZAÇÃO Moacir Gadotti 2 “... sentido e significado nunca foram a mesma coisa, o significado fica- se logo por aí, é directo, literal, explícito, fechado em si mesmo, unívoco, por assim dizer, ao passo que o sentido não é capaz de permanecer quieto, fervilha de sentidos segundos, terceiros e quartos de direcções irradiantes que se vão dividindo e subdividindo em ramos e ramilhos, até se perderem de vista, o sentido de cada palavra parece-se com uma estrela quando se põe a projectar marés vivas pelo espaço fora, ventos cósmicos, perturbações magnéticas, aflições”. José Saramago – Todos os nomes, p. 135. Durante o período do Regime Militar (1964-1985), estudantes, professores, funcionários e muitas instituições de ensino superior e de educação básica empenharam-se na tarefa da redemocratização do País. O fim da ditadura estava na agenda comum da escola e da universidade. Hoje, a educação básica e a universidade já incorporaram o tema da democratização no seu cotidiano e uma nova agenda está sendo assumida, a da avaliação. A avaliação institucional tornou-se preocupação essencial para a melhoria dos serviços das escolas e universidades e para a conquista de maior autonomia. Mas não se pode afirmar que essa seja uma preocupação apenas recente. Ela já vem de longe. “Desde os anos 30 educadores e administradores educacionais vem se dedicando ao debate desta questão, especialmente quanto aos aspectos relacionados com a expansão do atendimento, a articulação entre a educação e o processo de desenvolvimento do país, a qualidade do ensino e mais recentemente, os impactos dos custos da educação sobre os orçamentos públicos” (LAPA/NEIVA, 1996:214). Até fins da década de 70 as estratégias avaliativas utilizadas para a melhoria do ensino centravam-se majoritariamente em informações sobre a localização da população não escolarizada e a distribuição da oferta de vagas. Quando se tratava de avaliar o professor ou a instituição ela era vista com desconfiança. 2 Moacir Gadotti, Professor titular da Universidade de São Paulo, Diretor do Instituto Paulo Freire e autor, entre outras obras, de: A educação contra a educação (Paz e Terra, 1979: Francês e Português), Convite à leitura de Paulo Freire (Scipione, 1988: Português, Espanhol, Inglês, Japonês e Italiano), História das idéias pedagógicas (Ática, 1993: Português e Espanhol), Pedagogia da práxis (Cortez, 1994: Português, Espanhol e Inglês) e Perspectivas atuais da educação (Artes Médicas, 1999). 27 Hoje ela não mais é vista como um instrumento de controle burocrático e centralização, em conflito com a autonomia. Ela está sendo institucionalizada como um processo necessário da administração, condição para a melhoria do ensino e da pesquisa e exigência da democratização. Mesmo assim, ela encontra resistências. Por isso, não se constitui numa prática constante. Ela deve ser mais instituída até tornar-se uma demanda explícita das escolas. Nesse sentido, os sistemas de ensino precisam dialogar mais sobre esse tema com elas. É sobre esse tema que desejo fazer uma breve análise, mais para situá-lo no debate das perspectivas atuais da educação do que para aprofundar um aspecto específico dessa controvertida questão. 1. Controvérsias, experiências e modelos Comecemos pelas controvérsias que a avaliação tem suscitado recentemente. As dificuldades e a complexidade da implantação de um processo avaliativo podem ser verificadas, por exemplo, na polêmica suscitada pela campanha lançada pelo governo federal, logo que assumiu, em janeiro de 1995, em torno do exame exigido de todo aluno que termina o curso superior, defendido ardorosamente pelo Ministro da Educação (SOUZA, 1995) e instituído através da Medida Provisória. Segundo os dirigentes do MEC esse exame destina-se a avaliar os cursos superiores e as universidades - principalmente os particulares - e não os alunos. Ospróprios reitores das universidades brasileiras se manifestaram várias vezes sobre essa medida e apresentaram uma série de argumentos a favor e contra a avaliação institucional através do exame final proposto pelo MEC. Em síntese, eis os principais argumentos apresentados pelos reitores, reunidos em março de 1995 (Folha de S. Paulo, 20.30.95): 1º Argumentos a favor: a) é uma tentativa de fiscalizar as universidades; b) serve como instrumento pedagógico para avaliar a qualidade do aluno; c) vai estimular a aplicação dos estudantes durante o curso; d) mostrará a ineficiência da instituição em caso de reprovação maciça; e) vai filtrar os profissionais que entram no mercado de trabalho; f) servirá como informação para a sociedade sobre cada profissional. 2º Argumentos contra: a) vai estigmatizar o aluno que for mal no exame; b) reduzirá o processo de avaliação a um único critério; c) os currículos não são unificados, o que impediria a elaboração da prova; d) resultará na criação de cursinhos preparatórios para o teste; e) será uma reedição do vestibular no final do curso; f) o resultado vai quantificar problemas no produto final e não no processo que o criou. 28 As formas de avaliação podem gerar polêmicas como a que acabamos de ver. Mas, avaliar é um ato que exercemos constantemente no nosso cotidiano. Toda vez que precisamos tomar alguma decisão avaliamos os seus prós e contras. Quando avaliamos processos, atos, coisas, pessoas, instituições ou o rendimento de um aluno, estamos atribuindo valores. Podemos fazê-lo através de um diálogo construtivo ou, ao contrário, transformar a avaliação num momento marcadamente autoritário e repressivo. Esta ou aquela opção dependerá da nossa concepção educacional e dos objetivos que desejamos atingir. As universidades se preocuparam nos últimos anos em fazer a avaliação das suas estruturas e do seu funcionamento, ou seja, a avaliação chamada de institucional. As Secretarias de Educação que se ocupam do ensino básico vêm se preocupando mais com a avaliação da aprendizagem. Creio, contudo que a avaliação da aprendizagem não pode ser separada de uma necessária avaliação institucional, mesmo que elas sejam de natureza diferente: enquanto esta diz respeito à instituição, aquela refere-se mais especificamente ao rendimento escolar do aluno. São distintas, mas inseparáveis. Como afirma Sandra Zákia Sousa, “impõe-se que seja vivenciada a avaliação da escola, de forma sistemática, para além da avaliação do aluno” (SOUSA, 1995a:62). O rendimento do aluno depende muito das condições institucionais e do projeto político-pedagógico da escola. Em ambos os casos a avaliação, numa perspectiva dialógica, destina-se à emancipação das pessoas e não à sua punição, à inclusão e não à exclusão ou, como diz Cipriano C. Luckesi (1998:180) “à melhoria do ciclo de vida”. Por isso, o ato de avaliar é, por si, “um ato amoroso” (Idem, ibidem). Nos últimos anos a avaliação institucional vem ganhando importância também no ensino básico. Em alguns casos ela foi erigida pelos Sistemas Educacionais como prioridade e tornou-se parte de uma política de Estado explícita, para a melhoria da supervisão e apoio técnico às escolas, para a melhor alocação de recursos, bem como para verificar o impacto de inovações introduzidas, como, por exemplo, a formação continuada do magistério e a implantação de ciclos. O caso de Minas Gerais pode ilustrar o que acabamos de afirmar. Neste Estado o “Programa de Avaliação da Escola Pública” foi implantado em 1992, como “exigência constitucional” (Constituição do Estado de Minas Gerais, Art. 196) e como “política de governo” para “fundamentar decisões que objetivassem a melhoria na administração do sistema educacional, em resultados avaliativos cientificamente apurados” (Ana Lúcia Antunes e Maria Alba de Souza in BITAR, 1998: 21-38). A avaliação do rendimento dos alunos em Minas Gerais 29 foi considerada prioridade, “indissociável das outras quatro que compunham o Programa Mineiro de Educação: autonomia da escola, fortalecimento da direção da escola, desenvolvimento dos profissionais da educação e interação com os municípios” (Idem, p. 24). A Secretaria de Educação de Minas Gerais decidiu não entregar a realização dessa tarefa a uma instituição especializada, mas à própria escola, através do seu colegiado, trabalhando com consultores externos apenas para a fundamentação teóricometodológica. Com isso procurou acentuar o caráter de “permanência” do processo avaliativo no sistema de ensino, evitando que ela se transformasse num “modismo” passageiro. Esse programa de avaliação sistêmica foi logo incorporado ao calendário escolar. O desafio maior encontrado foi o de implantar também as condições necessárias para que a escola pudesse assumir de fato o poder de decisão – inclusive no caso da avaliação institucional – que tradicionalmente está concentrado nos órgãos superiores da administração educacional. O envolvimento e a participação dos professores, pais, alunos e a comunidade é fundamental para dar credibilidade e legitimidade ao processo de avaliação do sistema educacional. No Estado de São Paulo a avaliação institucional está prevista, desde 1997, nas “Normas regimentais básicas para as escolas estaduais”: Art. 34 – A avaliação institucional será realizada, através de procedimentos internos e externos, objetivando a análise, orientação e correção, quando for o caso, dos procedimentos pedagógicos, administrativos e financeiros da escola. Art. 35 – Os objetivos e procedimentos da avaliação interna serão definidos pelo conselho da escola. Art. 36 – A avaliação externa será realizada pelos diferentes níveis da Administração, de forma contínua e sistemática e em momentos específicos. Art. 37 – A síntese dos resultados das diferentes avaliações institucionais será consubstanciada em relatórios, a serem apreciados pelo conselho de escola e anexados ao plano de gestão escolar, norteando os momentos de planejamento e replanejamento da escola. Como se vê, tanto no Estado de Minas Gerais como no Estado de São Paulo, o processo da avaliação institucional está centrado na escola, ou melhor, no conselho de escola. Para que ele seja eficaz, contudo, é necessário que sejam previstas também as condições de funcionamento desses conselhos. Estas condições são tanto de ordem estrutural (condições materiais e salariais) quanto de um bom referencial teórico e de adequada formação dos avaliadores. Por falta de uma cultura avaliativa, professores e diretores de escola, em geral, “não dominam os conceitos e técnicas de avaliação de desempenho. Isto significa que o tempo 30 administrativo e os recursos devem ser destinados à capacitação dos avaliadores” (LÜCK, 1998:102). Melhor seria formá-los a) de um lado, como implementadores de uma política pois a avaliação deve fazer parte de uma política de estado e, b) de outro, como educadores, pois a avaliação deve ter um caráter formativo. A avaliação institucional precisa ser bem planejada. Como sustenta o especialista em avaliação Heraldo Merelim Vianna, para avaliar é preciso teoria, planejamento e método: “A avaliação de um sistema educacional resulta de um conjunto de ações que não pode ser improvisado. A avaliação tem como infraestrutura uma teoria, que serve de base para orientar a linha de desenvolvimento da investigação” (in BITAR, 1998:158). Na década de 90 a avaliação institucional entrou definitivamente na agenda educacional brasileira. Através dela buscam-se novos rumos, definindo melhor o perfil institucional e levando, tanto a escola estatal quanto a não-estatal e os sistemas de ensino, a repensarem o seu projeto político-pedagógico. Nesse sentido, o processo de avaliação institucional é profundamente formativo e vem atualmente desempenhando um destacado papel “proativo e construtivo” (SOBRINHO-BALZAN, 1995:11) na reestruturaçãode universidades, escolas e sistemas de ensino. Através dela é possível compreender melhor os processos que produzem a instituição para poder melhorar a qualidade de seus serviços e produtos. Contudo, apesar dela ser mais aceita hoje do que na década passada, a avaliação ainda provoca ansiedades em muitos avaliadores e, principalmente, nos avaliados. Como esse tema sempre foi associado à punição, ela ainda é vista, em muitos ambientes, como um processo ameaçador, como as “provas” de desempenho. A avaliação ainda não é considerada como um elemento fundamental de qualquer processo, como o planejamento, o referencial teórico e a metodologia, sobre os quais se pode falar sem meter medo em ninguém. Contudo, as reações negativas e as resistências à avaliação desaparecem quando se procura envolver a todos os interessados. Surpreendentemente a adesão a processos avaliativos pode ser muito grande. Pesquisa feita em 1996 sobre o Programa de Avaliação de Minas Gerais implantado em 1991 demonstrou alto grau de aceitação da avaliação institucional (sistêmica) por parte de professores, alunos, pais e comunidade: 92% consideraram o Programa “ótimo ou bom” e 78% concluíram que a comunidade escolar “aceitou bem” o Programa (Ana Lúcia Antunes e Maria Alba de Souza in BITAR, 1998: 32-33). Um campo fértil de discussão atualmente é o da concepção de avaliação e dos modelos avaliativos. Já ficou muito clara a tese de que “avaliar não é medir”. É um bom começo. Não 31 se pode mais confundir avaliação educacional com mensuração do rendimento escolar: “A medida pode ser um momento inicial de uma avaliação, mas não é condição essencial para que se tenha uma avaliação, que se concretiza quando ocorre um julgamento de valor” (VIANNA, 1997:9). Na avaliação interagem diferentes variáveis. Existem muitos fatores ligados ao contexto em que o processo educacional ocorre na escola e que não estão diretamente ligados à ela, mas que devem ser considerados na avaliação “pois é da interação dessas variáveis que resulta o quadro final da avaliação, com diferentes elementos alternativos para a tomada de decisões e o estabelecimento de ações” (Heraldo Merelim Vianna in BITAR, 1998: 148). Estabelecer uma filosofia que sirva de base para orientar o processo de avaliação é fundamental para o seu êxito. Se não se define essa orientação o processo avaliativo pode se transformar numa atividade rotineira e burocrática sem sentido. É essa teoria de base que definirá tanto os objetivos quanto o planejamento e os métodos a serem utilizados. Não basta definir inicialmente se a abordagem será qualitativa ou quantitativa, estabelecer um cronograma de atividades e seu correspondente orçamento. Necessitamos de uma discussão sobre a concepção e o modelo ou modelos avaliativos a serem seguidos. Por “modelo” de avaliação muitos entendem a própria concepção de avaliação. Outros chamam de modelo o tipo de abordagem (qualitativo, quantitativo etc). Empregamos aqui a palavra modelo para definir uma certa abordagem da avaliação que inclui estratégias e métodos, reservando a palavra concepção para os conceitos e categorias mais gerais da teoria ou paradigma da avaliação. Podemos falar, por exemplo, de uma concepção emancipadora (dialógica) ou concepção burocrática (punitiva e formal) da avaliação. Podemos falar de um paradigma dialógico (comunicativo, intersubjetivo) ou de um paradigma instrumental (de dominação) da avaliação. Uma concepção de avaliação é uma filosofia adotada, um referencial teórico mais amplo, pelo qual se estabelecem os princípios que orientarão o processo avaliativo. Desde que os objetivos estejam claros, as formas e modelos se seguirão naturalmente. Aliás, ao definir um certo objetivo, estamos já definindo simultaneamente uma certa postura, uma certa filosofia educacional. Em todos os casos, como afirma Heraldo Merelim Vianna, “partimos do pressuposto de que a equipe de avaliação tenha uma liderança forte, disponha de competência científica e tenha um assessoramento eficiente na discussão de questões de grande significado metodológico” (Idem, p. 155). 32 Entendendo modelo como abordagem, no caso da avaliação de sistemas educacionais, podemos falar (BITAR, 1998:114-115): a) de um modelo descritivo (objetivando apresentar a situação de um determinado sistema); b) de um modelo analítico (que busca a explicação da situação apresentada); c) de um modelo normativo (onde a avaliação é baseada em critérios de desempenho estabelecidos pelos avaliadores, independentemente do contexto) e d) de um modelo experimental (onde a avaliação é entendida como um processo de pesquisa experimental). Heraldo Merelim Vianna no fala de uma avaliação responsiva, orientada para a coleta e registro de dados, provocada pela necessidade de informações mais confiáveis para a gestão do sistema) e de uma avaliação iluminista, preocupada com a “totalidade das interrelações existentes nos fenômenos educacionais” (VIANNA, 1997:25). Sendo esta última uma “avaliação holística”, ela pretende integrar as diversas formas e modelos de avaliação, assumindo as vantagens de todos eles. Experiências de avaliação institucional foram feitas em diversos países e os resultados foram muito apreciados tanto pelos responsáveis diretos do sistema quanto pelas escolas. No livro organizado por Hélia de Freitas Bitar e outros (1998), da Fundação para o Desenvolvimento da Educação de São Paulo (FDE) são apresentadas diversas experiências: a norte-americana, a chilena, a argentina e a inglesa. Apresentando a experiência inglesa, Caroline Gipps (p. 134) concluiu que a partir da avaliação nacional, os professores passaram a ter objetivos e expectativas muito mais claros em relação aos alunos e isso provavelmente influiu, diz ela, na melhoria dos níveis do seu desempenho. Se não for para melhorar o desempenho dos trabalhadores em educação, das escolas e do sistema, a avaliação, por si mesma, não tem sentido. Repetindo o que disse Cipriano C. Luckesi, ela precisa melhorar o “ciclo de vida”, de pessoas e instituições envolvidas com o processo educativo. 2. Necessidade da avaliação institucional A avaliação institucional dos sistemas de ensino tem características próprias e nem todas as metodologias utilizadas nas recentes experiências de avaliação institucional das universidades podem ser utilizadas por eles. Contudo, podemos nos referenciar nessas experiências, pelo menos para discutir os princípios e as concepções de avaliação por elas utilizados. Dilvo I. Ristoff (in SOBRINHO-BALZAN, pp. 27-51), professor da Universidade Federal de Santa Catarina, analisando o “Programa de Avaliação Institucional das 33 Universidades Brasileiras” (PAIUB), destacou a presença de princípios articulados uns aos outros: 1º) Globalidade: não podemos absolutizar indicadores parciais; 2º) Comparabilidade: buscar uma uniformidade básica de metodologia e de indicadores; 3º) Respeito à identidade institucional: contemplar as características próprias de cada instituição; 4º) Não-premiação ou castigo: o processo de avaliação não deve estar vinculado a mecanismos de punição ou de premiação; 5º) Adesão voluntária: que garante a legitimidade política da avaliação, porque o que se busca é uma cultura da avaliação; 6º) Legitimidade técnica garantida por uma metodologia adequada e 7º) Continuidade do processo de avaliação. O objetivo da avaliação institucional é sempre, de um lado, externamente, a melhoria da qualidade dos serviços prestados pela instituição e, de outro, internamente, a melhoria das relações sociais, humanas e interpessoais e o aperfeiçoamento continuado de seus integrantes. Por isso deve-se partir de um diagnóstico, do autoretrato, do auto-conhecimento. Na experiência de avaliação institucional realizada entre 1985 e 1993 pela Universidade de Brasília (UnB) relatada pelos professores Isaura Belloni,
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