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Prevalência de cárie dentária em pré-escolares

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A RTIGO A RT I C L E6 0 4
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):604-609, mar- a b r, 2004
P revalência de cárie dentária em pré-escolare s
da rede pública de Recife, Pernambuco, Brasil,
aos quatro anos de idade
Caries prevalence in 4-year-old pre s c h o o l e r s
attending public schools in Recife, 
P e rnambuco, Brazil
1 Faculdade de Od o n t o l o g i a
de Pe r n a m b u c o,
Un i versidade de
Pe r n a m b u c o, Re c i f e , Bra s i l .
C o r re s p o n d ê n c i a
S a n d ra Fe i t o s a
Rua Pastor José Am a ro 
da Si l va 112/701, Re c i f e , PE
5 1 0 2 1 - 2 3 0 , Bra s i l .
s h f e i t o s a @ z i p m a i l . c o m . b r
S a n d ra Feitosa 1
Viviane Colares 1
A b s t r a c t
The aim of this study was to determine caries
p re valence in 4-year-old preschoolers of both
s exes in municipal schools in Re c i f e , Pe r n a m b u-
c o, Bra z i l , in 2002, emphasizing their needs as-
s e s s m e n t . Data were collected by examining 861
p reschoolers from 45 municipal schools. Ex a m i-
nation was conducted by one examiner (Kappa =
1) in the school and after parental consent f o r m s
w e re obtained. Dental caries was re c o rded using
the dmf-t (decayed, m i s s i n g , and filled teeth) in-
d ex . Data analysis showed caries pre valence of
47.00% and dmf-t of 2.06. Only 6.40% of the
c h i l d ren had their teeth tre a t e d . The ex a m i n e d
c h i l d ren showed high dental caries pre va l e n c e
( 4 7 . 0 0 % ) , despite a low pre valence of seve re
caries (8.94%).
Dental Ca r i e s ; Pre va l e n c e ; Oral He a l t h ;C h i l d
I n t ro d u ç ã o
O controle e pre venção da cárie dentária é um
desafio constante para pesquisadores em todo o
m u n d o. A adoção de medidas pre ve n t i vas de-
mocráticas de controle da cárie dentária como a
fluoretação da água de abastecimento e dos cre-
mes dentais, perm i t i ram uma melhora substan-
cial na saúde bucal de diferentes grupos sociais
1 , 2. Porém, uma significativa parcela da popula-
ção ainda sofre de problemas odontológicos 2.
A pre valência da cárie dentária no Brasil em
c rianças jovens vem sendo estudada ao longo
dos anos. Bönecker et al. 3 ve ri f i c a ram que
c rianças residentes em Diadema, São Pa u l o,
com idade va riando entre 30 e 36 meses, que
p a rt i c i p a ram da Campanha Nacional de Mu l t i-
va c i n a ç ã o, apre s e n t a ram um ceo-d médio de
2,89. Esses autores afirm a ram que o grau de se-
ve ridade da cárie dentária em crianças na faixa
e t á ria de 0 a 36 meses aumenta pro p o rc i o n a l-
mente ao aumento da idade. No No rte do Bra-
sil, Arias et al. 4, com o objetivo de cara c t e ri z a r
a saúde oral de crianças de 0 a 36 meses, en-
c o n t ra ram uma pre valência de 6,28% de den-
tes cavitados em crianças pertencentes a cre-
ches públicas do Município de Belém, Pa r á .
Leite & Ribeiro 5, avaliando a pre valência de
c á rie em crianças com 2 a 6 anos de idade, de
b a i xo nível sócio-econômico, assistidos em c re-
ches públicas da cidade de Juiz de Fo ra, Mi n a s
Ge ra i s, encontra ram um ceo-d médio de 2,03 e
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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):604-609, mar- a b r, 2004
ve ri f i c a ram que 50,60% das crianças estudadas
e n c o n t ra vam-se livres de cári e.
A polarização da cárie dentária, fenômeno
onde a pre valência da patologia acomete, com
maior freqüência, grupos sociais menos favo-
recidos sócio-economicamente, fortaleceu m a i s
intensamente as preocupações no controle e
p re venção da cárie em comunidades care n t e s,
bem como as re p e rcussões da cárie dentária na
vida do paciente infantil. 
Este trabalho teve como objetivo determ i-
nar a pre valência da cárie dentária em cri a n ç a s
com quatro anos de idade, de ambos os sexo s,
p e rtencentes a escolas municipais da cidade
do Re c i f e, Pe rn a m b u c o, no ano de 2002, enfati-
zando a necessidade de tratamento nesse gru-
po etári o. Este trabalho faz parte de uma pes-
quisa maior de dissertação de Me s t rado na á re a
de concentração em Od o n t o p e d i a t ria da Fa c u l-
dade de Odontologia da Un i versidade de Pe r-
n a m b u c o.
Revista da literatura
• P revalência de cárie dentária
A modalidade de estudo epidemiológico que
melhor permite conhecer o perfil de uma sit u a-
ção dentro de uma comunidade, de maneira
rápida e com baixo custo, é o estudo de pre va-
lência ou também denominado tra n s versal ou
seccional. O estudo de pre valência tem o obje-
t i vo de fornecer a medição de problemas em
um determinado objeto de pesquisa, perm i t i n-
do analisar va ri á veis como a distribuição de
doenças por idade, sexo, etnia. Esse tipo de es-
tudo é muito útil como base de planejamento e
de determinação de necessidades coletivas de
t ratamento 6 , 7.
Di versos trabalhos têm investigado os índi-
ces de cárie dentária, nas mais diversas locali-
d a d e s, em crianças jovens no Brasil. A Tabela 1
a p resenta alguns estudos desenvolvidos nos
últimos anos em diferentes regiões do país. 
De ve-se salientar que, de acordo com Nad a-
n ovsky 2, mesmo com o crescente declínio da
c á rie dentária em diversos locais e em determ i-
nados grupos etári o s, uma significativa parc e l a
da população ainda sofre de problemas odon-
t o l ó g i c o s, onde 70,00% dos dentes cariados es-
tão em 30,00% das cri a n ç a s.
Os fatores sócio-econômicos têm re c e b i d o
c o n s i d e r á vel atenção na litera t u ra científica,
como forte fator de risco à saúde. De acord o
com Pe re i ra 6, a associação entre a renda, por
e x e m p l o, é muito nítida, tanto em nível indivi-
dual quanto no coletivo. Nas famílias de menor
renda, especialmente nos países do Te rc e i ro
Mu n d o, encontra-se uma alta freqüência de
d e s n u t ri ç ã o, doenças sexualmente tra n s m i s s í-
veis e condições ambientais deficientes. 
Na litera t u ra odontológica, a associação e n-
t re nível sócio-econômico e cárie dentária está
amplamente estabelecida 9 , 1 0 , 1 1 , 1 2 , 1 3 , 1 4 , 1 5.
Em 2001, Gri l l c rist et al. 1 4 re a l i z a ram uma
pesquisa com o objetivo de investigar a re l a ç ã o
e n t re o s t at u s sócio-econômico da comunida-
de e a saúde oral da criança. O estudo foi de-
s e n volvido em 62 comunidades do Te n n e s s e e,
Estados Un i d o s, onde foram examinadas 1 7 . 2 5 6
c ri a n ç a s, com idade va riando entre 5 e 11 anos.
Os autores concluíram que as crianças pert e n-
Tabela 1
P revalência de cárie dentária na população infantil brasileira.
Autor (es) A n o L o c a l Idade P revalência ceo-d 
da criança de cárie (% de m é d i o
( m e s e s ) crianças afetadas)
Mattos-Graner et al. 1 9 1 9 9 6 Piracicaba, São Paulo 6 - 3 6 2 3 , 6 0 –
Bönecker et al. 3 1 9 9 7 Diadema, São Paulo 3 0 - 3 6 – 2 , 8 9
Arias et al. 4 1 9 9 7 Belém, Pará 3 0 - 3 6 4 3 , 9 4 –
Leite & Ribeiro 5 2 0 0 0 Juiz de Fora, Minas Gerais 2 4 - 7 2 – 2 , 0 3
Dini et al. 2 1 2 0 0 0 Araraquara, São Paulo 3 6 - 4 8 4 6 , 0 0 –
Leme 2 0 2 0 0 1 Brasília, Distrito Federal 3 6 - 7 1 3 6 , 0 4 –
Rosenblatt & Zarzar 2 2 2 0 0 2 Recife, Pern a m b u c o 1 2 - 3 6 2 8 , 4 6 3 , 6 2
Fonte: Feitosa 8.
Feitosa S, Colares V6 0 6
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centes ao grupo sócio-econômico menos favo-
recido apre s e n t a ram pior saúde oral quando
c o m p a radas ao grupo mais favo re c i d o. Essas
c rianças com saúde oral prejudicada tinham
uma maior experiência de cári e, maior neces-
sidade de tra t a m e n t o, uma maior pre va l ê n c i a
de trauma nos incisivos e menor pre va l ê n c i a
de selantes oclusais. 
M e t o d o l o g i a
Este estudo tra n s versal foi desenvolvido na ci-
dade do Re c i f e, capital do Estado de Pe rn a m-
b u c o. A cidade está dividida em seis regiões po-
l í t i c o - a d m i n i s t ra t i vas possuindo 144 escolas
com educação infantil em todo o município,
onde estavam matriculados 5.093 alunos, com
q u a t ro anos de idade, de ambos os sexo s, no
ano de 2002.
Pa ra a determinaçãodo tamanho amostra l
foi realizado um estudo piloto a fim de estabe-
lecer a pre valência da doença na população. A
p re valência de cárie dentária encontrada foi de
48,30% e de cárie seve ra, 8,00%, numa amostra
de 101 crianças distribuídas em quatro escolas
de diferentes regiões da cidade.
Fo ram considerados erro de 2,00%, para
mais ou para menos, na obtenção da pre va l ê n-
cia de cárie seve ra, e confiabilidade de 95,00%
de que o erro não seja ultra p a s s a d o. A fórm u l a
utilizada para determinação do tamanho a m o s-
t ral considerou um tamanho populacional in-
finito (população grande) 1 6.
Com o objetivo de minimizar possíveis per-
das durante a operação de levantamento dos
d a d o s, o que poderia comprometer a re p re s e n-
tatividade da amostra, decidiu-se aumentar o
tamanho amostral em 20,00% 6, resultando em
850 cri a n ç a s. 
A amostra foi estratificada pro p o rc i o n a l-
mente ao número de alunos em cada região p o-
l í t i c o - a d m i n i s t ra t i t va. Foi estabelecido, então,
o número de escolas em cada região político-
a d m i n i s t ra t i t va que seriam incluídas na pes-
quisa, e posterior sorteio dessas escolas 1 7. Da s
144 pertencentes à cidade de Re c i f e, foi sele-
cionada uma amostra de 45 escolas.
Participaram da pesquisa crianças com q u a-
t ro anos de idade, mental e fisicamente nor-
m a i s, cujos re s p o n s á veis assinaram o consen-
timento livre e esclare c i d o. Essas crianças per-
tenciam a famílias de baixo nível sócio-econô-
mico, onde seus responsáveis recebiam, em m é-
dia, um salário mínimo de renda mensal. 
Foi realizado exame clínico da cavidade bu-
cal por uma pesquisadora calibrada, na própri a
escola, sob os cri t é rios do Mi n i s t é rio da Saúde 1 8.
O procedimento clínico foi realizado na sala de
aula, sob a luz artificial, na cadeira escolar, utili-
zando toda a vestimenta necessária e materi a l
d e s c a rt á vel, incluindo abaixadores de língua. 
Pa ra calibração da pesquisadora durante o
exame clínico foi adotado o seguinte pro c e d i-
mento: a cada dez cri a n ç a s, uma foi re e x a m i-
nada após 24 horas da realização do exame. A
seleção dessa criança deu-se de forma aleató-
ria entre os menores examinados. Ao térm i n o
da coleta, 86 crianças foram re e x a m i n a d a s, ob-
tendo-se um Kappa = 1. Essa calibração consi-
d e rada perfeita, deveu-se ao cri t é rio objetivo
adotado para a cárie dentária, relatado abaixo.
Pa ra determinar a pre valência de cárie den-
t á ria foi utilizado o índice ceo-d. O índice ceo-
d é o correspondente ao CPO-D em relação à
dentição decídua, incluindo os dentes cari a d o s
(c), com extração indicada (e) e obturados (o),
e xcluindo os extraídos devido às dificuldades
em separar os que o foram por causa de cári e,
dos perdidos pelo processo natural de esfolia-
ção dentária 7. Os elementos dentários indica-
dos para exodontia apre s e n t a vam-se com des-
t ruição coro n á ria extensa, com a presença de
restos ra d i c u l a re s. 
Os dados desta pesquisa foram pro c e s s a-
dos em banco de dados com as va ri á veis de-
v idamente categori z a d a s, no pro g rama SPSS
( Statistical Package for Social Science) ve r s ã o
11.0, com digitação única, propiciando à pes-
quisa uma maior fidedignidade e confiabilida-
d e. Além da quantidade de dentes cari a d o s,
p e rdidos e obturados (todos por cárie – ceo-d),
f o ram obtidas as medidas de tendência centra l :
média, mediana e desvio padrão.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética e Pesquisa da Un i versidade de Pe rn a m-
b u c o, sob o protocolo no E024/02, em 20 de fe-
ve re i ro de 2002.
R e s u l t a d o s
Após a análise dos dados coletados, ve ri f i c o u - s e
que das 861 crianças examinadas, 449 (52,10%)
eram do sexo masculino e 412 (47,90%) do femi-
nino. 
A Fi g u ra 1 re p resenta as crianças com e sem
e x p e riência de cári e. 
Do total de crianças examinadas, 27 (3,10%)
a p re s e n t a vam um ou mais dentes indicados para
e x t ra ç ã o. Do total de 405 crianças que apre s e n t a-
vam cári e, apenas 55 (13,60%) haviam re c e b i d o
algum tipo de tratamento re s t a u ra d o r. O ceo-d
médio encontrado nessa população foi de 2,06. 
Um percentual de 8,94% das crianças por-
t a d o ras de cárie dentária apre s e n t a vam a d o e n-
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ça num grau seve ro, com cárie nos quatro qua-
d ra n t e s, comprometimento de, no mínimo, 1/3
da coroa de qualquer incisivo e quatro molare s
com lesão de cárie clinicamente visível. 
A Tabela 2 apresenta os dados do ceo-d em
f o rma esquemática.
D i s c u s s ã o
Os estudos tra n s versais vêm sendo utilizados
cada vez mais pelos pesquisadores 5 , 1 9 , 2 0, pois
t rata-se de um tipo de estudo de baixo custo e
que permite traçar um perfil da comunidade
estudada em um curto espaço de tempo 6 , 7.
As pre valências de cárie encontradas nos
d i f e rentes estudos va riam entre localidades e
e n t re grupos etários 2. Dini et al. 2 1 e n c o n t ra-
ram um pre valência de cárie de 46,00% e ceo-d
médio de 2,03 em crianças de três a quatro
anos residentes em Ara ra q u a ra, São Pa u l o. Da-
dos semelhantes foram observados por Leite &
R i b e i ro 5 ao examinarem crianças de dois a seis
anos em Juiz de Fo ra, Minas Ge rais (ceo-d mé-
dio de 2,03). Esses resultados coincidem com
aqueles ve rificados neste estudo, no entanto,
Leme 2 0 o b s e rvou uma menor pre valência de
c á rie (36,04%) ao investigar crianças de três a
q u a t ro anos em Brasília, Di s t rito Fe d e ra l .
Rosenblatt & Za rzar 2 2, em pesquisa re a l i-
zada em Re c i f e, entre crianças com idade va-
riando de um a três anos, encontra ram uma
p re valência de cárie precoce na infância de
28,46%. Co n s i d e rando a maior pre valência en-
c o n t rada neste estudo de 47,00% em cri a n ç a s
com quatro anos, corro b o ram-se os estudos de
O ’ Su l l i van & Tinanoff 2 3 e Rosenblatt & Za rz a r
2 2, tendo a pre valência de cárie aumentado
com a idade.
As diferenças percentuais encontradas nas
pesquisas de pre valências justificam-se pela
falta de padronização nos cri t é rios de diagnós-
tico acerca da cárie dentária. No presente estu-
d o, foi considerado cárie a presença de cavita-
ção no elemento dentári o, de acordo com Fe-
j e r s k ov 2 4. Op t o u - s e, ainda, pela utilização de
espátulas de madeira para realização do exame
clínico nas escolas 1 8.
Apesar do alto percentual de cárie dentári a
(47,00%) na população estudada, o ceo-d mé-
dio foi de 2,06; porém com desvio-padrão de
3,00, o que indica que segmentos dentro do
g rupo possuem altos va l o res de ceo-d. Obser-
va - s e, dessa forma, uma concentração da d o e n-
ça dentro do grupo sócio-econômico menos
f a vo re c i d o. 
Co n s i d e rando a não fluoretação das águas
de abastecimento da cidade de Re c i f e, existem
alguns pontos a serem discutidos, como a pre-
sença de defeitos na estru t u ra do esmalte den-
tal, tornando o elemento dentário mais sus-
c e p t í vel ao desenvolvimento da patologia. 
Um dado preocupante foi o percentual en-
c o n t rado de crianças que possuíam dentes ob-
t u rados (13,60%), o que corresponde a 55 c ri a n-
Tabela 2
Distribuição das medidas de tendência central, desvio-padrão e porcentual de ceo-d, 
segundo seus elementos constituintes.
ceo-d e elementos M í n i m o M á x i m o M é d i a M e d i a n a Desvio padrão ceo-d (%)
c o n s t i t u i n t e s
C a r i a d o s 0 2 0 1 , 9 0 0 , 0 0 2 , 8 9 9 2 , 3 0
Indicados para extração 0 1 0 0 , 0 5 0 , 0 0 0 , 3 4 2 , 4 0
O b t u r a d o s 0 1 0 0 , 1 1 0 , 0 0 0 , 4 9 5 , 3 0
c e o - d 0 2 0 2 , 0 6 0 , 0 0 3 , 0 0 1 0 0 , 0 0
Figura 1
Distribuição das crianças estudadas de acordo com a prevalência de cárie.
livre de cárie
53%
cárie
47%
Feitosa S, Colares V6 0 8
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(2):604-609, mar- a b r, 2004
ças entre as 405 que apre s e n t a vam cári e. Co n-
s i d e randoque essas crianças pertenciam ao
g rupo com menor poder aquisitivo, esses acha-
dos nos remetem aos relatos de Gi l l c rist et al. 1 4,
quando afirm a ram que crianças dessa classe
social têm maior experiência de cárie e, conse-
q ü e n t e m e n t e, maior necessidade de tra t a m e n-
to dentári o.
A falta de tratamento desse grupo estudado
pode ser devido ao fato de se tratar de cri a n ç a s
em idade pré-escolar, possuindo exc l u s i vam e n-
te dentes decíduos, em geral menos va l o ri z a-
dos por pais e pro f i s s i o n a i s. Su g e re-se que ou-
t ros estudos sejam desenvolvidos visando a in-
vestigar a saúde bucal das crianças com denti-
ção decídua no Brasil, assim como melhor ava-
liar a percepção pelos re s p o n s á veis e dentistas.
A faixa etária estudada re p resenta, em gera l ,
um desafio para os profissionais com re l a ç ã o
ao controle do comport a m e n t o, o que também
pode interf e rir na oferta de atenção odontoló-
gica para esse grupo de cri a n ç a s.
Co n s i d e rando o baixo percentual de cri a n-
ças port a d o ras de cárie em um grau seve ro
(8,90%), sugere-se que, para esse grupo mino-
ri t á ri o, seja oferecido atendimento odontológi-
co sob sedação com menor número de consul-
t a s, de forma eficiente, nos centros públicos de
saúde que são referência em Od o n t o p e d i a t ri a .
C o n c l u s ã o
Após a análise dos dados coletados nesta pes-
quisa, é pertinente concluir que:
• as crianças das escolas públicas municipais
da cidade do Recife apresentam uma alta pre-
valência de cárie dentária (47,00%);
• apesar da pre valência de cárie ter sido alta,
o percentual de crianças port a d o ras de cári e
s e ve ra foi considerado baixo (8,94%);
• e n t re as crianças que apre s e n t a vam cári e,
um baixo percentual (13,60%) recebeu algum
tipo de tratamento cura t i vo.
C o l a b o r a d o re s
S. Feitosa re a l i zou a coleta dos dados do estudo. A
análise dos dados e a redação do texto foram re a l i z a-
das por ambas as autora s.
R e s u m o
Esta pesquisa teve como objetivo determinar a pre va-
lência de cárie dentária em crianças com quatro anos
de idade, de ambos os sexo s , das escolas públicas mu-
nicipais da cidade do Re c i f e , Pe r n a m b u c o, Bra s i l ,n o
ano de 2002, enfatizando a necessidade de tra t a m e n t o
dentário para essa faixa etária. Os dados foram cole-
tados por meio do exame clínico de 861 crianças per-
tencentes a 45 escolas públicas. O exame clínico foi re a-
lizado por uma ex a m i n a d o ra calibrada (Kappa = 1),
na própria escola, após assinatura do consentimento
l i v re e esclarecido pelo re s p o n s á ve l . Pa ra determina-
ção da pre valência de cárie dentária foi adotado o ín-
dice ceo-d. Após análise dos dados, verificou-se que a
p re valência de cárie dentária na população estuda-
da foi de 47,00% e o ceo-d médio foi de 2,06. Ap e n a s
13,60% das crianças que apre s e n t a vam cárie poss u í a m
re s t a u ra ç õ e s . É pertinente concluir que as crianças
examinadas apre s e n t a ram uma alta pre valência de
cárie dentária (47,00%), apesar do percentual de c r i a n-
ças port a d o ras de cárie em estágio seve ro ter sido con-
s i d e rado baixo (8,94%).
Cárie De n t á r i a ; Pre va l ê n c i a ; Saúde Bu c a l ;C r i a n ç a
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Recebido em 15/Ma i / 2 0 0 3
Versão final re a p resentada em 21/Ou t / 2 0 0 3
Ap rovado em 23/Ou t / 2 0 0 3

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