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PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE Autoria: Ana Carla Fernandes Gasques Indaial - 2022 UNIASSELVI-PÓS 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Copyright © UNIASSELVI 2022 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade ............................................... 7 CAPÍTULO 2 Licenciamento e Avaliação De Impacto Ambiental ................... 47 CAPÍTULO 3 Gestão Ambiental ......................................................................... 85 APRESENTAÇÃO Prezado acadêmico, bem-vindo! Sabemos que nossos hábitos diários in- fluenciam o ambiente em que vivemos, não é mesmo? A degradação do meio ambiente pelo homem vem ocorrendo há anos e em função de diferentes causas, tais como ocupação desordenada, lançamento de efluentes nos corpos hídricos, lançamento de gases na atmosfera, dentre outras ações. Entretanto, esta situação vem se agravando em função do crescimento po- pulacional e da forma com a qual vivemos, a qual intensifica as alterações nos ambientes, provocando mudanças nos ecossistemas e dificultando a manutenção do equilíbrio natural. Em função disso, torna-se necessário estudar este contexto e as formas de minimizar os impactos das ações humanas a fim de promover a sustentabilidade. Neste contexto, estamos iniciando nossos estudos sobre Proteção do Meio ambiente, fundamental para garantia da sustentabilidade do planeta. Para que seja possível compreender a gravidade e a complexidade envolvendo a proteção do meio ambiente é importante ter uma visão sistêmica sobre essa temática e, em função disso, esse livro está dividido em três capítulos, sendo eles: Meio Ambien- te e Sustentabilidade; Licenciamento e Avaliação de Impacto Ambiental e; por fim, Gestão ambiental. Ao longo de sua evolução, o homem enxergou os recursos naturais de dife- rentes formas, entretanto, a partir da Revolução Industrial, o ritmo do desenvol- vimento interferiu gravemente na qualidade ambiental, porém, apenas em 1960, a preocupação com o meio ambiente começou a ser ponto de debate. Assim, no primeiro capítulo, denominado Meio Ambiente e Sustentabilidade, abordaremos a evolução histórica do contexto da preocupação ambiental, conceitos básicos e aspectos legais e institucionais a fim de relacionar o homem, o meio ambiente e a sustentabilidade, bem como conhecer as legislações ambientais e os órgãos relacionados. O capítulo seguinte, intitulado Licenciamento e Avaliação de Impacto Am- biental, busca abranger o processo de licenciamento ambiental de atividades po- luidoras e definir as principais metodologias de avaliação de impacto, bem como apresentar medidas de prevenção, mitigação, potencialização e compensação de impactos. A Avaliação de Impacto ambiental (AIA) é o conjunto de etapas desenvolvi- das para analisar os impactos, negativos e positivos, que atividades ou empreen- dimentos provocarão no meio ambiente. No Brasil, a AIA está vinculada ao Licen- ciamento ambiental, que por sua vez é o conjunto de licenças necessárias para que uma atividade ou empreendimento possa operar de forma ambientalmente adequada. Ademais, é importante que os impactos ambientais sejam identificados a par- tir de metodologias já estabelecidas ou da combinação destas, e, ainda, sejam analisados e classificados segundo atributos. A partir desta análise é possível pro- por medidas de prevenção, atenuação, potencialização e/ou mitigação para os impactos. Por fim, o terceiro capítulo, Gestão ambiental, busca apresentar os diferentes tipos de poluição e seus respectivos tratamentos, os Programas de Avaliação e os aspectos envolvendo Auditoria ambiental. A partir destes temas, você terá com- preensão acerca dos principais processos e mecanismos de alteração no meio decorrentes das atividades antrópicas e conhecerá um pouco sobre sistemas de gestão ambiental. A poluição ambiental consiste na alteração da qualidade de determinado componente ambiental (água, ar, solo) pela liberação de substâncias em quanti- dade superior ao estabelecido. Para evitar que isso aconteça, diferentes mecanis- mos podem ser adotados, denominados de sistemas de tratamento, que buscam reduzir a quantidade e/ou concentração dos poluentes antes do seu lançamento no componente ambiental afetado. Apesar da preocupação com o meio ambiente nas organizações ter começa- do tardiamente, hoje, muitas empresas possuem um caráter reativo com relação a esta temática e buscam, no decorrer de seus processos, identificar formas para prevenir os impactos ambientais. Um dos motivadores para este processo foi o sistema de gestão ambiental, instituído pela norma ISO 14000, que abordaremos neste capítulo. Chegando ao final da disciplina é possível constatar que, evidenciamos aqui, a importância de orientar o desenvolvimento considerando os aspectos ambien- tais na tomada de decisão. A ideia, então, foi fazer com que você consiga com- preender a importância da proteção do meio ambiente e os principais aspectos relacionados a esta temática, tornando-o um profissional com visão sistêmica, in- tegrada e sustentável. Bons estudos! Professora Me. Ana Carla Fernandes Gasques CAPÍTULO 1 Meio Ambiente e Sustentabilidade A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � identificar a relação entre meio ambiente e sustentabilidade e enunciar as legis- lações ambientais e órgãos relacionados; � interpretar a importância da proteção do meio ambiente e diferenciar meio am- biente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. 8 Proteção do Meio Ambiente 9 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A qualidade de vida no planeta pode ser entendida como um equilíbrio en- tre população, recursos naturais e poluição. Contudo, o crescimento populacio- nal, aliado aos hábitos de vida, do desenvolvimento industrial e tecnológico e do consumo desenfreado resultam em insuficiência de recursos, levando a graves impactos ambientais em função das demandas desenfreadas, da exploração de recursos naturais e do consumo de combustíveis fósseis. O homem, ao longo de sua evolução, tem se relacionado de diferentes formas com o ambiente onde vive, entretanto, a partir da Revolução Industrial vem intensificando a degradação, a poluição, o consumo de recursos naturais de forma indisciplinada, lançando efluentes, resíduos e outros componentes sem tratamento prévio, sem considerar a conservação dos recursos. Neste cenário, a preocupação com o meio ambiente teve início em 1960 de forma lenta, e apenas em 1987, o termo desenvolvimento sustentável passou a ser alvo de estudos, debates e conferências. Além disso, a criação de agências regulamentadoras buscou auxiliar na definição de critérios, estabelecimento de legislações e padrões de controle para que seja possível fiscalizar e atuar para reduzir os impactos das atividades humanas no ambiente visando ao desenvolvi- mento sustentável. Assim, caro acadêmico, neste capítulo, vamos desenvolver nossos conheci- mentos acerca da proteção do meio ambiente, iniciando com o contexto do início da preocupação ambiental, seguido pelos conceitos básicos envolvidos e, por fim, teremos noção acerca das legislações pertinentes. Esseembasamento inicial é essencial para que seja possível compreendermos a razão da necessidade de proteção ambiental, bem como determinar o porquê da criação de determinados instrumentos e/ou princípios visando a esta proteção. Conhecer o contexto histórico e conceitos nos permite ter condições de de- bater acerca da importância da avaliação de impacto para que o meio ambiente seja conservado, bem como entender os diferentes contextos envolvidos, regu- lamentações e a evolução da relação homem e recursos naturais. Esse conjunto de saberes permite que o conhecimento adquirido seja aplicado de forma correta para manutenção da qualidade do meio ambiente, promoção do desenvolvimento sustentável, necessários para a existência da vida no planeta. 10 Proteção do Meio Ambiente 2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONTEXTO AMBIENTAL Vivemos em um contexto de degradação ambiental agravada, na qual os re- cursos naturais são limitados. Esta crise impulsiona problemas ambientais, de saú- de e de planejamento urbano, onde cada vez mais tornam-se necessárias medidas e ações que reduzam os impactos das atividades humanas no meio ambiente. Diferentes visões abordam a relação homem x ambiente: a abordagem do limite ao crescimento sugere que os dois estão em conflito, forçando uma busca pelo equilíbrio entre o crescimento econômico e a mitigação das mudanças climá- ticas. A abordagem neoclássica vê a relação ambiente-crescimento como uma re- lação de complementaridade fraca: preservar o capital natural é necessário para evitar declínios futuros no crescimento econômico. Uma terceira visão sugere que a política climática pode impulsionar o crescimento econômico, propondo uma re- lação de forte complementaridade (MECKLING; ALLAN, 2020). A preocupação com a proteção ambiental teve início na década de 1960 e vem sendo cada vez mais integrada à agenda política internacional, em função, principalmente, da disponibilidade de recursos, ou a falta destes. Você deve estar pensando: Mas por que sofremos com a falta de recursos hoje? Para entender- mos este questionamento é necessário conhecer um pouco a história da humani- dade e sua evolução. Ao abordar a natureza, da forma com a qual a concebemos ou a forma com a qual cada sociedade entende o ambiente natural, é possível constituir uma apro- ximação com a natureza, seja entendendo-nos como parte característica e intrín- seca a ela, ou, ainda, almejando dominá-la para nossos objetivos, a partir de uma abordagem de exterioridade (CALIJURI; CUNHA, 2013). Com o passar dos anos, o desenvolvimento do trabalho passou a exigir mais do homem, aumentou-se a atividade extrativista e as atividades de caça e pesca foram reduzidas. O homem, até então, nômade, passa a ser sedentário, fixando- -se em um local e alterando aquele ecossistema a fim de aumentar a produção e, neste período, foram formadas as primeiras sociedades organizadas. O desen- volvimento das práticas de trabalho influenciou o homem de forma geral ao longo dos períodos e a sua relação com a natureza. A história da humanidade pode ser associada às variadas formas de pro- dução de riqueza e sua distribuição ao longo dos anos, tendo em vista que o homem, para desenvolver seus modos de produção, passou a alterar o ambiente natural. Inicialmente, a relação entre homem e meio ambiente era considerada 11 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 harmoniosa, pois o homem extraía os recursos necessários única e exclusiva- mente visando a sua sobrevivência. O crescimento populacional, aliado ao desenvolvimento econômico baseado na acumulação de riquezas fez com que os recursos naturais fossem consumidos não apenas para necessidade básica, e sim como fonte de riqueza e ostentação. Ou seja, os recursos naturais tornaram-se objetos de domínio do homem e isso ainda se agra- va após a Revolução Industrial, marco histórico da degradação ambiental. Pott e Estrela (2017, p. 271-272) destacam que “a transição da manufatura para a indústria mecânica gerou o aumento da produção e a ascensão de novas tecnologias, alterou o modo de vida no planeta”. No período correspondente à Revolução Industrial, a relação homem x meio ambiente sofreu drásticas mudanças e os recursos naturais passaram a ser ex- plorados visando à produção de bens de consumo de forma desenfreada. Do mesmo modo, as melhorias da tecnologia, medicina e na produção de alimentos permitiram uma ampliação do consumo, estava instaurada a era do capitalismo industrial. Fábricas começaram a ser construídas nas cidades para viabilizar e concen- trar recursos efetivando a urbanização dos espaços, ocorreu um intenso êxodo rural, concentração de mão de obra do campo nas cidades, consequentemente, a geração de resíduos foi intensificada e cuidar do meio ambiente não era uma preocupação. Esse cenário continuou por um longo período, e pode-se dizer que o período entre as duas guerras mundiais ainda foi agravado, pois a capacidade industrial continuou a ser aumentada, com novas máquinas, processos produtivos cada vez mais automatizados e com tecnologias que buscavam o aumento da produção. Todo esse cenário exacerbou os conflitos sociais e agravou a pressão sobre os recursos naturais, a exploração desenfreada extrapolou a capacidade de re- cuperação da natureza, colocando em risco a continuidade do desenvolvimento econômico e social, além da própria vida na Terra na forma como a conhecemos (MARTINE; ALVES, 2015). O período pós-guerra caracteriza-se pela procura im- paciente do lucro na economia capitalista, pelo petróleo barato e pelo desenvol- vimento tecnológico. Apesar dos impactos ao meio ambiente, essa extensão da produção de bens e serviços colaborou para um progresso expressivo na qualida- de de vida de bilhões de pessoas (MARTINE; ALVES, 2015). Até este período, poucos episódios indicavam a relação entre crescimento populacional desordenado e seus impactos na população, saúde e meio ambien- te. A degradação ambiental era vista como um “mal necessário”. 12 Proteção do Meio Ambiente A preocupação com a questão ambiental só teve início após al- gumas tragédias, tal como as bombas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, e a doença de Minamata, em 1954. Além dessas tragédias, outras foram sendo noticiadas ao longo dos anos. Para saber mais, leia a notícia Principais desastres ambientais no Brasil e no mundo, publicada em 2017 no Jornal da Unicamp, disponível no link: https:// www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desas- tres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo. A questão ambiental só começou a ser alçada apenas no fim da década de 1960 e início da década de 1970. Alguns eventos marcam esta preocupação ao longo das décadas seguintes até atualmente, conforme exemplificado na Figura 1. FIGURA 1 – PRINCIPAIS EVENTOS ENVOLVENDO PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL DESDE 1960 FONTE: Adaptado de Brasil (2004) e Souza e Saccol (2016) A Figura 1 apresenta alguns eventos de destaque no que tange à preo- cupação com o meio ambiente ao longo das décadas. A década de 1960 tem como principais marcos: i) a publicação do livro Primavera silenciosa, de Ra- https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo 13 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 chel Carson em 1962, o qual dá um alerta sobre o uso intensivo de produtos químicos e seus danos à saúde. Além do livro, esta década destaca-se pela criação do Clube de Roma, onde um grupo de pessoas de diferentes classes, profissões e países se reuniu para debater assuntos sobre o consumo exces- sivo de recursos naturais. Além destes, a Lei Federal nº 4.771 de 1965 alterouo Código Florestal brasi- leiro existente desde 1934, tornando-a uma das primeiras legislações sobre meio ambiente no mundo, visando preservar os diferentes biomas (POTT; ESTRELA, 2017). Nos Estados Unidos, em 1969, foi formalizada a Lei da Política Ambiental (do inglês, National Environmental Policy Act – NEPA) que trouxe inovação para esta temática com o estabelecimento da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), a qual incorporou a análise ambiental na tomada de decisões envolvendo planos, programas e projetos de intervenção (POTT; ESTRELA, 2017). A partir disso, tanto os Estados Unidos quanto outros países passaram a in- corporar a avaliação de impactos como ferramenta na preservação destes bem, visando, de certo modo, garantir a proteção do meio ambiente. No Brasil, a AIA teve início a partir de requisições de órgãos financiadores internacionais. A primei- ra AIA, então, foi em 1972 para financiamento da Usina Hidrelétrica de Sobradi- nho como exigência do Banco Mundial (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Uma parte importante da prática de conservação é a avaliação dos impactos decorrentes das ações humanas. Os programas de conservação bem-sucedidos ou fracassados são de fundamental importância para a formulação de iniciativas com boa relação custo-benefício e para melhorar a subsistência dos usuários dos recursos naturais. A década de 1970 é caracterizada pela invenção de distintas organizações internacionais com a finalidade de tratar problemas ambientais em esfera mundial, bem como foram organizados os primeiros movimentos ambientalistas, tal como o Greenpeace (BEZERRA et al., 2009). A partir do Clube de Roma, em 1972, um grupo de cientistas assessores, utilizando-se de modelagem matemática, consta- tou que o planeta não aguentaria caso tivesse continuidade o crescimento eco- nômico baseado na exploração de recursos não renováveis. Em função dessa constatação, emitiram um alerta sobre o esgotamento de recursos denominado “Os Limites do Crescimento” (MEADOWS et al., 1973). No mesmo ano ocorreu a I Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em Estocol- mo, que incorporou de forma definitiva os debates sobre degradação ambiental. No Brasil, uma das repercussões desta Conferência foi a criação da Secre- taria Especial do Meio Ambiente (SEMA), em 30 de outubro de 1973. Em países desenvolvidos, nesta década, algumas legislações foram instituídas a fim de ga- 14 Proteção do Meio Ambiente rantir que o meio ambiente fosse considerado na tomada de decisão de novos empreendimentos, conforme apresentado no Quadro 1. QUADRO 1 – LEGISLAÇÕES SOBRE MEIO AMBIENTE NA DÉCADA DE 1970 EM PAÍSES DESENVOLVIDOS Ano País Instrumento legal relacionado 1973 Canadá Estabelecimento de avaliação e exame ambientalNova Zelândia Procedimento de proteção e melhoria ambiental 1974 Austrália Lei de proteção ambiental sobre o impacto de propostas 1976 França Lei de proteção da natureza FONTE: Adaptado de Sanchez (2013) Em 1975, a Conferência de Belgrado, na Iugoslávia, originou, ao final do en- contro, a “Carta de Belgrado”, indicando a melhoria dos métodos educacionais para a preparação da nova ética do desenvolvimento e da ordem econômica mundial (POTT; ESTRELA, 2017). Em consonância, em 1977, a Unesco, em co- operação com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), promoveu em Tbilisi, cidade na antiga União Soviética, a Conferência Intergover- namental sobre Educação Ambiental, “responsável pela elaboração de princípios, estratégias e ações orientadoras para educação ambiental no mundo, afirmando que a Educação Ambiental deve ter um enfoque interdisciplinar e estar presente como um processo contínuo em todas as fases do ensino formal e não formal” (POTT; ESTRELA, 2017, p. 217). No Brasil, em 1978, foi criado um comitê focado em gestão de bacias hidro- gráficas, denominado Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidro- gráficas (CEEIBH), cujo objetivo consistia na promoção de estudos integrados e acompanhamento do uso dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas. Assim, a fase entre as décadas de 1970 e 1980 é marcada pela regulamentação e controle de aspectos relacionados ao meio ambiente, tendo em vista que poluir passou a ser crime em diversos países. O Quadro 2 apresenta um resumo das principais legislações nos países desenvolvidos na década de 1980. QUADRO 2 – LEGISLAÇÕES SOBRE MEIO AMBIENTE NA DÉCADA DE 1980 EM PAÍSES DESENVOLVIDOS Ano País Instrumento legal relacionado 1985 União Europeia Avaliação dos efeitos ambientais de certos projetos públicos e privadoRússia (Ex-União Soviética) Realização de perícias ecológicas em novos projetos 1986 Espanha Lei de avaliação de impacto ambiental de projetos 1987 Holanda Estabelecimento da Avaliação de Impacto AmbientalPortugal Lei de bases do ambiente FONTE: Adaptado de Sanchez (2013) 15 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Assim, a década de 1980 foi marcada pelo surgimento de leis regulamentan- do a atividade industrial em grande parte dos países no que se refere à poluição, e só então, na década de 1990, ocorre um grande impulso com relação à consci- ência ambiental na maioria dos países (BEZERRA et al., 2009). Neste momento da história foi criada uma Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvi- mento, em 1983 e, a partir desta, foi escrito o Relatório Brundtland, publicado com o título “Nosso Futuro Comum”, tendo por enfoque proteção ambiental e desen- volvimento sustentável (SOUZA; SACCOL, 2015). O conceito de desenvolvimento sustentável insurgiu como “um ideal de de- senvolvimento econômico ecologicamente viável e socialmente justo, submetido a valores e metas de qualidade de vida, para as gerações presentes e futuras” (ABNT, 2004, p. 8). No Brasil, como reflexo desse cenário, esta década é mar- cada por uma das mais importantes legislações relacionadas ao meio ambiente: a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), promulgada em 31 de agosto de 1981. No mesmo ano, o governo promulgou a Lei Federal nº 6.902, de 27 de abril, dispondo sobre a criação de Áreas de Proteção Ambiental e Estações Ecológicas. A PNMA tem por objetivo regulamentar a “preservação, melhoria e recupe- ração da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condi- ções ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana” (BRASIL, 1981, p. 1). Corroborando com o citado anteriormente, outro marco desta década é a car- ta da Terra, em 1987, a qual abrange todas as interfaces da relação do homem com a natureza e servindo como um código ético em nível mundial, tal como a declaração Universal dos Direitos Humanos. Esse documento visa à promoção de um diálogo acerca dos valores comuns em prol de uma aliança global em respeito à Terra e à vida. Além disso, no Brasil, em 1988 foi alterada a Constituição Federal, que esta- belece em seu Art. 170 a proteção do meio ambiente como um dos princípios de ordem econômica. Já no Art. 225 define que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qua- lidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê- -lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988, p. 8). A década de 1990, após a mudança da Constituição, é caracterizada por uma consciência comum sobre a urgência da preservação ambiental e o equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade. Em 1992, foi realizada a maior reunião ambiental da história: a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, e popularmente conhecida como Rio-92. 16 Proteção do Meio Ambiente Nesta Conferência foram feitos pactos visando à qualidade de vida e o futuro do planeta e, em decorrência dela, foram aprovados diversos documentos sobre meio ambiente, desenvolvimento e mudanças climáticas, tal comoa declaração de princípios sobre florestas e a Agenda 21 (BEZERRA et al., 2009). A Agenda 21 é uma agenda de trabalho para o século XXI, em que foram identificados os principais problemas ambientais, os recursos e meios mandatórios para solucio- ná-los, bem como as metas a serem alcançadas nas décadas seguintes. Outra conferência de destaque ocorreu na década de 1990, porém no ano de 1997: a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em que foi instituído o Protocolo de Quioto (ou Kyoto), cuja principal medida é a definição de metas para redução da emissão de gases do efeito estufa. Como vimos, da mes- ma forma como ocorreu nas décadas de 1970 e 1980, a década de 1990 também foi marcada pelo estabelecimento de legislações envolvendo a avaliação de ativi- dades poluidoras, tal como apresentado no Quadro 3. QUADRO 3 – LEGISLAÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO DE IMPACTO EM ATIVIDADES POLUIDORAS DA DÉCADA DE 1990 EM PAÍSES DESENVOLVIDOS Ano País Instrumento legal relacionado 1990 Alemanha Lei de avaliação de impacto ambiental1992 República Tcheca 1993 Hungria Regulação de avaliação de impacto para atividades previamente definidas 1997 Hong Kong Lei de avaliação de impacto ambiental1999 Japão FONTE: Adaptado de Sanchez (2013) Esta década é marcada também por avanços no Brasil: a Resolução CONA- MA 237, publicada em 1997, instituiu o licenciamento ambiental como ferramenta obrigatória para regularizar diversas atividades, e em 1998, foi instituída a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605). Em 1996 foi editada a norma internacional ISO 14001:96, que estabeleceu requisitos para a implantação de um sistema de gestão ambiental (SGA). A série ISO 14.000, segundo Derisio (2012, p. 204), “surgiu por ocasião da Conferên- cia das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED), realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992. A primeira norma sobre gestão ambiental foi emitida pela BS-7750, que se constitui na base da série ISO 14.000”. A preocupação com o meio ambiente muda de perspectiva e passa a relacio- nar, também, a melhoria dos processos produtivos a fim de minimizar os impactos ambientais. Entretanto, apesar disso, o século XXI teve início com uma queda no 17 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 ritmo no que se refere ao enfrentamento de assuntos ambientais (POTT; ESTRE- LA, 2017). Os principais marcos do século iniciam-se em 2002, com a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johannesburgo, na África do Sul, também conhecida por Rio +10. O objetivo foi continuar a discussão iniciada 10 anos antes, na Eco-92, e dissertar sobre ações direcionadas à erradicação da pobreza, à globalização e questões energéticas, bem como retomar a problemáti- ca envolvendo mudanças climáticas. No Brasil, destaca-se, em 2010: a Lei 12.305 a qual instituiu a Política Nacio- nal de Resíduos Sólidos (PNRS), após 20 anos de debates envolvendo esta te- mática. A PNRS busca estabelecer os critérios necessários para a gestão integra- da e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. Segundo Pott e Estrela (2017), a PNRS é um dos maiores avanços na legislação ambiental brasileira desde a Resolução Conama nº 237 de 1997 e a Lei dos Crimes Ambien- tais de 1998. Outro evento importante é a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2012 no Rio de Janeiro com a partici- pação de 193 países. Os temas principais desta conferência foram: economia ver- de, erradicação da pobreza e estruturação institucional voltada ao desenvolvimen- to sustentável. Um ponto de grande destaque foi a participação das empresas em compromissos voluntários reconhecendo o capital natural e se comprometendo a consumir recursos de forma consciente. O Acordo de Paris é um documento resultante da COP 21 em 2015, realiza- da, como o nome do acordo sugere, em Paris na França. A partir deste acordo, os países assinantes reiteraram compromissos para “manter o aquecimento global abaixo de 2 oC e limitando o aumento da temperatura a 1,5 oC acima dos níveis pré-industriais” (SOUZA; SACCOL, 2016, p. 7). É possível constatar, a partir dos marcos apresentados, que a preocupação com o meio ambiente foi ganhando destaque com o passar dos anos em decor- rência dos impactos resultantes das atividades humanas, ou seja, mudou-se o foco da visão do meio ambiente, que até então era visto como algo à parte do desenvolvimento humano e passou a ser visto como algo mais global. Apesar da evolução na preocupação com as questões ambientais, o crescimento econômico ainda tem se fundamentado no: [...] uso não sustentável de recursos não renováveis, na redu- ção da biodiversidade, na concentração de dióxido de carbono na atmosfera e na acidificação dos oceanos, além de ter gera- do fossos cada vez maiores entre ricos e pobres. Com o apro- 18 Proteção do Meio Ambiente fundamento do processo de globalização, avistam-se graves crises ambientais e sociais, enquanto a trajetória da própria economia também apresenta sinais de exaustão do modelo hegemônico (MARTINE; ALVES, 2015, p. 21). Neste contexto, Braga et al. (2005) alegam que a qualidade de vida no plane- ta depende do equilíbrio entre população, recursos naturais e poluição. No que diz respeito à população, quanto maior a população, maior é a demanda por recur- sos naturais e, consequentemente, a degradação ambiental. A população mundial apresentou um crescimento de 1,13% ao ano no período de 1950 a 2002, confor- me curva de crescimento exponencial apresentada na Figura 2. FIGURA 2 – CURVA DE CRESCIMENTO EXPONENCIAL DA POPULAÇÃO DE 1950 A 2002 FONTE: Adaptada de Braga et al. (2005) A taxa de crescimento populacional nos faz refletir: até quando os recursos naturais serão suficientes para sustentar o padrão de consumo humano? Bom, esta pergunta já vem sendo respondida nos últimos anos, não somente em fun- ção dos desastres naturais observados, mas principalmente devido à escassez de recursos em algumas regiões do mundo. 19 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Os recursos naturais, por sua vez, são os elementos necessários para ma- nutenção da existência de diferentes espécies. Segundo Venturi (2006, p. 15), é definido como “qualquer elemento ou aspecto da natureza que esteja em de- manda, seja passível de uso ou esteja sendo usado direta ou indiretamente pelo Homem como forma de satisfação de suas necessidades físicas e culturais, em determinado tempo e espaço”. A fim de exemplificar o consumo de recursos na- turais, pode-se citar as necessidades energéticas da sociedade ao longo de sua evolução (Figura 3). FIGURA 3 – EVOLUÇÃO DO CONSUMO HUMANO DE ENERGIA AO LONGO DA HISTÓRIA FONTE: Goldemberg e Lucon (2008) A partir da Figura 3 entende-se que, inicialmente, o homem primitivo tinha um consumo energético de 2000 kcal por dia e restrito às necessidades alimentares. Esse valor passou para 230000 kcal por dia a partir do desenvolvimento técnico, aumento do sedentarismo e dos avanços tecnológicos. Por fim, no que tange à poluição, esta pode ser entendida como o resultado da utilização dos recursos naturais pela população. Veremos sua definição no pró- ximo tópico deste capítulo. Os efeitos da poluição podem ter caráter localizado, 20 Proteção do Meio Ambiente regional ou global, sendo que os mais perceptíveis são aqueles observados local- mente, resultantes, normalmente, de grande densidade populacional e/ou indus- trial (BRAGA et al., 2005). 1) A relação homem e meio ambiente sofreu variações ao longo da evolução, o homem deixou de utilizar os recursos naturais apenas para sua sobrevivência e passou a consumi-los de forma desenfre- ada, extraindo e poluindo por enxergá-los como elemento de pos- se, mecanismo de acúmulo de riquezas. A partir desta contextuali- zação, como pode ser vista a qualidade de vidano planeta? Neste contexto, com o surgimento de novos desafios, cada vez mais com- plexos, abrangendo uma ampla gama de questões globais, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou a “Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentá- vel” em 2015, que consiste em uma declaração formal aceita pelos membros da ONU para enfrentar os desafios sustentáveis. A Agenda possui 169 metas e indi- cadores e é orientada por 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) que abrangem as dimensões econômica, ambiental e social. Na Figura 4 são apresen- tados os ODS. FIGURA 4 – OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ONU FONTE: AECIC (2017, s.p.) 21 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 A partir da Figura 4 é possível constatar que são 17 ODS, além disso, tem-se 169 metas e 244 indicadores relacionados a estes, as quais abordam os desafios globais de mudança climática, desigualdade social e degradação ambiental. Os ODS representam uma evolução sobre como a sustentabilidade pode ser aborda- da globalmente entre 2015-2030. Busca evidenciar a necessidade de ponderar as pessoas, o planeta, a prosperidade, a paz e a parceria como alicerce para que o desenvolvimento sustentável global seja alcançado. Frente ao apresentado, apesar do processo evolutivo do homem e da sua relação com o meio ambiente ser abusiva, ao abordar a qualidade de vida no planeta, é imprescindível a urgência de mudança de paradigmas sobre a visão de meio ambiente pela sociedade como um todo, principalmente, tendo por enfo- que que a sustentabilidade dos recursos naturais não é possível se as demandas continuarem impulsionadas. Assim, chegamos ao fim do primeiro subtópico deste capítulo inicial e, no subtópico seguinte, estudaremos alguns conceitos vistos aqui e outros conceitos-base para a compreensão dos aspectos relacionados à prote- ção do meio ambiente. 3 CONCEITOS BÁSICOS No subtópico anterior, vimos que o aumento da população humana interage com os ambientes locais e globais e tende a esgotar a biodiversidade e os recur- sos dos quais os humanos dependem, desafiando os valores sociais centrados no crescimento e na confiança e na tecnologia para mitigar o estresse ambiental. O homem se relaciona diretamente com o meio ambiente desde os primórdios dos tempos e, além disso, esta relação varia tanto ao longo do período histórico quan- to de acordo com diferentes sociedades e culturas. Vimos no subtópico anterior, a evolução da preocupação com o meio am- biente, mas você deve estar se perguntando: O que é meio ambiente? Qual a diferença entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável? Antes de saber- mos a definição destes e de outros termos fundamentais para nossa compreen- são é importante ressaltar que não existe consonância acerca da definição desse termo e, por isso, aqui veremos algumas definições por diferentes autores e/ou legislações. Sob a perspectiva jurídica, segundo a PNMA (BRASIL, 1981, p. 1), meio am- biente é o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Além desta legislação, apenas a ISO 14.001 (ABNT, 2004) abordou o termo meio ambiente com a circunvizinhança da gestão ambiental e define meio ambiente 22 Proteção do Meio Ambiente como a circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações. Com relação a autores, Linhares e Gewandsznajder (1998, p. 435) definem meio ambiente como “meio físico, formado pelo ar, pela luz, pela temperatura, pela umidade, pelo tipo de solo, pela água e pelos sais minerais, chamados de fa- tores abióticos ou biótipo; sendo que a interação da comunidade com o ambiente físico forma um sistema ecológico ou ecossistema”. Para Migliari Junior (2001, p. 40), o meio ambiente é a: [...] integração e a interação do conjunto de elementos natu- rais, artificiais, culturais e do trabalho que propiciem o desen- volvimento equilibrado de todas as formas, sem exceções. Logo, não haverá um ambiente sadio quando não se elevar, ao mais alto grau de excelência, a qualidade da integração e da interação desse conjunto. Há quem confunda meio ambiente com ecologia, sendo assim, vamos con- ceituar ecologia também, mesmo não tendo abordado este tema ainda, ele vol- tará a ser comentando nos próximos capítulos do nosso livro didático. Ecologia é a ciência que estuda as interações entre organismos e seu ambiente (CAIN; BOWMAN; HACKER, 2018) e, a partir deste conhecimento, pode-se entender como o planeta está estruturado, visando, assim, compreender como a ação hu- mana interfere e prejudica os demais seres vivos. Como curiosidade, a fim de diferenciar natureza de ambiente e meio ambiente, Dulley (2004) elaborou uma figura, apresentada a seguir: A partir dela, o autor reforça que a natureza 100% natural é tida como um ideal, tendo em vista que o homem sempre a modifica para sua sobrevivência. É possível, ainda, afirmar que ambiente signifi- caria, logo, a natureza versada sob a perspectiva do social humano (formado pelo meio ambiente humano e o meio ambiente das demais espécies conhecidas). 23 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Frente ao apresentado, é possível perceber que o conceito de meio ambiente passou por variações ao longo dos anos, mudando entre condições físicas, quími- cas e biológicas ao contexto envolvendo as organizações e suas relações com o meio. Tais modificações estão, além de relacionadas com avanços no uso de ma- teriais e energia, intimamente atreladas aos avanços do conhecimento científico sobre o ambiente e os recursos ambientais. Tendo isso colocado, outra questão muito debatida sobre meio ambiente é seu caráter enquanto fornecedora de recursos: a discussão permeia o pensamen- to, predominante até meados do século XX, de que o meio ambiente era algo à parte da sociedade humana, ou seja, a sociedade não fazia parte deste e este era um fornecedor dos recursos necessários para seu desenvolvimento. Em con- trapartida, em 1972 nasce o pensamento de ambiente integral ou global, no qual todos os elementos interagem entre si e estão dependentes uns dos outros, inclu- sive o homem, sendo, diante disso, uma conexão entre meios naturais e urbanos, qualificado como o meio de vida, e, então, tudo que o afetar, atingirá igualmente seus componentes, incluindo os seres humanos. Nesse contexto, a noção de “recursos naturais” se torna mais ampla passan- do a ser chamada de recursos ambientais, que inclui a conotação de suporte à vida (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Segundo a PNMA (BRASIL, 1981), recursos ambientais são: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. Desde a criação da máquina a vapor no período da Revolução Industrial, fundamentos envolvendo as ciências básicas vêm sendo aplicados para transfor- mar o meio ambiente a partir de tecnologias que beneficiem a sociedade. Para tal, “são adotados princípios científicos e leis básicas de funcionamento do universo e tendo, como ponto comum, o uso dos recursos naturais e os processos de trans- formação da matéria e de conversão de energia” (CALIJURI; CUNHA, 2013, p. 8). Os sistemas naturais são moldados pelas interações dos organismos entre si e o ambiente físico, desta forma, é essencial que a ecologia (ciência que busca estudar as interações entre organismos e seu ambiente, conforme vimos anterior- mente) seja estudada. De forma complementar, Braga et al. (2003, p. 4) definem recurso natural como “qualquer insumo de que os organismos, as populações e os ecossistemas necessitam para sua manutenção”. Esses recursos são comumente classificados em dois grandes grupos: em renováveis e não renováveis, sendo que os renováveissão aqueles cuja disponi- bilidade é retornável mesmo após seu uso devido a seus ciclos naturais tal como ar, água, solo. Os recursos não renováveis, como o nome propõe, são aqueles 24 Proteção do Meio Ambiente que, uma vez consumidos, não podem ser reaproveitáveis, como, por exemplo, combustíveis fósseis, petróleo, gás natural e carvão. Para Calijuri e Cunha (2013), a área de engenharia é uma das principais responsáveis por melhorar as práticas, processos e transformações para que os recursos naturais não renováveis sejam substituídos pelos renováveis. Apesar da motivação dar-se principalmente por fatores econômicos, estas melhorias são fundamentais para proteção ambiental. Dulley (2004), em seu artigo intitulado Noção de natureza, am- biente, meio ambiente, recursos ambientais e recursos naturais, si- tua, a partir de outros autores, as principais diferenças entre os con- ceitos de natureza, ambiente, meio ambiente, recursos naturais e recursos ambientais. Esta leitura é recomendada, pois pode auxiliá- -lo(a), aluno(a), a compreender melhor cada termo e suas diferentes aplicações de forma adequada. Acesse o artigo no link http://www. iea.sp.gov.br/out/publicacoes/pdf/asp-2-04-2.pdf. Outro termo bastante comentado no subtópico anterior e que será foco de estudo em um subtópico específico é o termo poluição, cuja definição é uma alte- ração não desejada nas características físicas, químicas ou biológicas do ambien- te, que causa ou possa vir a causar danos à saúde, sobrevivência ou atividades de diferentes espécies (BRAGA et al., 2003). Segundo a Política Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 1981, p. 2): Poluição consiste na degradação da qualidade ambiental resul- tante de atividades que direta ou indiretamente: prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem con- dições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e, lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Para a Lei Federal no 6.938/81 em seu Art. 3o, inciso III, poluição é: A degradação da qualidade ambiental resultante de ativida- des que direta ou indiretamente: a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) Afetem des- http://www.iea.sp.gov.br/out/publicacoes/pdf/asp-2-04-2.pdf http://www.iea.sp.gov.br/out/publicacoes/pdf/asp-2-04-2.pdf 25 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 favoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Diante disso, entende-se que poluição possui apenas conotação negativa e é aceitável limitá-la a valores específicos, pois pode sofrer medição e monitoramen- to. Quando limitamos índices para avaliar determinado parâmetro, chamamo-los de padrões de qualidade ambiental. Além de poluição, é possível identificar outras palavras que se relacionam à problemática deste livro, tal como o termo degradação ambiental. Diferentemente de meio ambiente, ambiente e poluição, este termo tem seu entendimento facili- tado, pois independentemente do contexto, ele representa de forma clara e não técnica algum dano ao meio ambiente, ou seja, tem caráter negativo e relaciona- -se às atividades humanas (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Dessa forma, podemos caracterizar a degradação ambiental como a perda da qualidade ambiental resul- tante das consequências das ações humanas. Qualidade ambiental também é outro conceito com divergência de defini- ções. Johnson et al. (1997 apud BRAGA et al.,2005) consideram que qualidade ambiental é uma avaliação do estado do ambiente referente aos pré-requisitos de uma ou mais espécies e/ou de qualquer demanda e/ou finalidade humana. Esse conceito pode ser melhor analisado do ponto de vista de indicadores para que seja possível analisá-la do ponto de vista de diferentes contextos. A degradação ambiental está fortemente associada à vulnerabilidade do am- biente, sendo que ambientes vulneráveis tendem a sofrer degradações maiores. Acerca disso, Rincão e Trigueiro (2018, p. 21) apontam que um exemplo desse tipo de ambiente são: [...] as regiões cársticas (regiões que apresentam alta disso- lução química de rochas carbonáticas pela água); tais áreas apresentam grandes riscos para engenharia, pois o terreno é mais frágil e cede com frequência. Além disso, nessas regiões, há alta incidência de cavernas que são protegidas por lei (pa- trimônio espeleológico); portanto, são facilmente degradadas pelas ações humanas. A PNMA, em seu art. 3º, define a degradação ambiental como “alteração ad- versa das características do meio ambiente” (BRASIL, 1981, p. 2). Ainda neste contexto de degradação ambiental, é importante diferenciarmos impacto e aspecto ambiental. Impacto ambiental é caracterizado pela Resolução 001/86 do CONAMA em seu art. 1o como (BRASIL, 1986, p. 922): 26 Proteção do Meio Ambiente [...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, di- reta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - A qualidade dos recursos ambientais. Entretanto, essa definição pode causar confusão, pois impacto ambiental abrange também conotação positiva, ou seja, ao analisar impactos decorrentes de determinada atividade é importante considerar consequências negativas e po- sitivas (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). A fim de exemplificar, quando uma constru- tora vai implantar um novo empreendimento em um bairro, tem-se como impacto negativo a poluição sonora decorrente das obras, e como impacto positivo pode- -se citar a geração de empregos. No que tange ao aspecto ambiental, este é uma característica fundamental na hora de avaliar as ações humanas, pois é a ação que causa o impacto. Ou seja, aspectos ambientais são os elementos das atividades, produtos ou serviços de uma organização que podem ter interação com o meio ambiente. O quadro a seguir auxilia na exemplificação de situações e seus respectivos aspectos e im- pactos ambientais. QUADRO 4 – EXEMPLOS DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS Atividade antrópica Aspecto ambiental Impacto ambiental Indústria de papel Consumo de madeira Redução da disponibilidade do recurso natural Restaurante Geração de resíduos sólidos Alteração na qualidade do solo Mineração Erosão e movimentação de terra Destruição da vegetação nativa Fabricação de peça em usinagem Descarte de graxa contaminada Contaminação do solo e da água Indústria de tingimento de tecido Lançamento de componentes químicos Contaminação do corpo hídrico receptor Hospital Geração de resíduos perigosos Alteração da qualidade do solo Armazenamento de combustível em posto de gasolina Potencial para derramamento ou vazamento Contaminação de águas subterrâneas Construção de um shopping center Demanda de mão de obra Geração de empregos (Impacto positivo) Lavagem de ruas Consumo de água Utilização de recursos naturais Circulação de veículos Emissão de gases Poluição do ar FONTE: A autora 27 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 1) Alguns conceitos são fundamentais ao pensarmos sobre prote- ção do meio ambiente e que as ações do homem possuem con- sequências no ambiente. Sendo assim, com base no visto até aqui, diferencie impacto de aspecto ambiental e cite um exemplo. Os temas supracitados vêm sendo bastante debatidos desde a Conferência de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano em 1972. Esta Conferência, ainda, se tornou um grande despertar e união de diferentes paísessobre as questões ambientais mais importantes. O desenvolvimento sustentável surgiu como um modelo de desenvolvimento a ser alcançado para manutenção da relação equi- librada das necessidades socioeconômicas com a capacidade regenerativa do planeta Terra quando o sistema de suporte à vida de nosso planeta está em risco. A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED), no relatório “Nosso Futuro Comum”, definiu o desenvolvimento sustentável como a busca por “atender às necessidades da geração atual sem comprometer a capaci- dade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades”. Complementando, Derisio (2012, p. 206) descreve desenvolvimento susten- tável como: “processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as mu- danças institucionais se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas”. Interligando com o que vimos no subtópico anterior sobre os ODS, o desen- volvimento sustentável é considerado uma abordagem multissetorial para que es- tes objetivos sejam alcançados, envolvendo preocupações locais, regionais, na- cionais e globais, bem como integrando eficiência econômica, equidade social e resiliência ambiental. Os objetivos abordam desafios globais cruciais para a sobrevivência da hu- manidade; definem limites ambientais e limites críticos para o uso de recursos naturais; e reconhecer que a erradicação da pobreza deve ser acompanhada de estratégias que promovam o desenvolvimento econômico. Em decorrência disso, o conceito de desenvolvimento sustentável é frequentemente associado ao con- ceito de sustentabilidade e, portanto, ambos os termos são usados como sinôni- mos, mesmo no meio acadêmico e científico, conforme observado na literatura. Entretanto, estão imersos em debates sobre seu significado e suas possibilidades de aplicação em sistemas reais. 28 Proteção do Meio Ambiente O conceito de sustentabilidade assenta-se em três pilares: pessoas, planeta e lucro. Algumas das definições mais citadas abrangem que sustentabilidade pode ser uma situação em que a atividade humana é conduzida de uma forma que con- serva as funções dos ecossistemas da Terra. É possível visualizar o conceito de sustentabilidade a partir de um tripé, no qual constam os aspectos econômicos, ambientais e sociais, que devem interagir, de forma holística, para satisfazer ao conceito. Sem estes três pilares, a sustentabilidade não se efetiva. Ainda são dis- cutidos novos pilares, como a questão cultural e tecnológica, para complementar a sustentação da questão como um todo (LASSU USP, 2021). Precisamos, ainda, diferenciar preservação de conservação, você não acha? Vamos lá. Preservar é garantir que a natureza não seja tocada, mantendo suas características. Já conservar envolve o uso sustentável, ou seja, um sistema flexí- vel em que se alia desenvolvimento e proteção ambiental. FIGURA 5 – DIFERENÇA ENTRE PRESERVAR E CONSERVAR FONTE: Souza e Saccol (2016, p. 12) A partir da Figura 5 é possível concordar que o olhar sob a perspectiva do preservacionismo trata a proteção da natureza sem considerar seu valor econô- mico e sua utilidade, delimitando o homem como responsável pelo desequilíbrio 29 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 enquanto o conservacionismo abrange o uso racional e o manejo criterioso da na- tureza pelo homem, considerando-o parte do processo (SOUZA; SACCOL, 2016). Quer compreender mais as dimensões do desenvolvimento sus- tentável? Recomendamos que assista ao vídeo https://www.youtube. com/watch?v=pZ2RsinirlA&ab_channel=ONUBrasil. Conhecer a definição dos principais termos e conceitos é fundamental para que sejamos capazes de compreender a proteção do meio ambiente de uma for- ma mais integrada, determinando de forma clara as variações ao longo dos as- suntos abordados e entendendo a relação entre poluição e degradação ambien- tal (RINCÃO; TRIGUEIRO, 2018). Ultrapassando as definições aqui propostas e considerando que a população humana enfrenta dificuldades em interações com ambientes locais e globais, as falhas na disponibilidade de recursos básicos le- vantam questões sobre os valores sociais essenciais resultantes das consequên- cias das ações humanas. Compreender esses valores e como estes se relacionam a partir de suas res- pectivas conceituações é imprescindível para que sejamos capazes de entender a proteção do meio ambiente, a fim de mitigar o estresse ambiental, o esgotamento dos recursos naturais e a perda de biodiversidade. Diante disso, esse subtópico foi bastante intenso, não é mesmo? Mas fique calmo (a), ao longo dos demais capítulos alguns desses conceitos serão retomados para auxiliar no processo de aprendizagem. 4 ASPECTOS LEGAIS E INSTITUCIONAIS A relação do homem com o meio ambiente acontece desde os primórdios dos tempos, conforme vimos até aqui. A legislação referente às questões ambientais foi criada com o objetivo de disciplinar essas relações, os chamados “produtos da natureza”: a água, o solo, as florestas, o ar e os animais. A constatação foi per- cebida quando a produção em larga escala passou a interferir na disponibilidade destes recursos (em quantidade e qualidade). https://www.youtube.com/watch?v=pZ2RsinirlA&ab_channel=ONUBrasil https://www.youtube.com/watch?v=pZ2RsinirlA&ab_channel=ONUBrasil 30 Proteção do Meio Ambiente O controle das atividades humanas é fundamental para a conservação da natureza, das espécies às escalas dos ecossistemas. Para tal, inúmeros regula- mentos são definidos para a conservação da natureza; no entanto, o descumpri- mento costuma ser a regra, e não a exceção. Considerando como base o contexto apresentado no Subtópico 1 deste capí- tulo, aqui focaremos na evolução da legislação ambiental no Brasil, seus aspectos legais e institucionais. A partir do momento em que o conceito de ambiente foi paulatinamente assimilado à ideia de meio de vida (e, portanto, de qualidade de vida), e não mais somente como recurso natural, os problemas então denomina- dos ambientais foram assimilados à noção de poluição (SANCHEZ, 2013). A magnitude de conceito e a importância do assunto, contudo, propuseram um conjunto muito amplo de normas conexas ao meio ambiente (BRASIL, 2010). A legislação ambiental compreende leis, decretos, resoluções, portarias e normas que são aplicadas às organizações de qualquer natureza e ao cidadão comum. A evolução da legislação brasileira ocorreu lentamente e, inicialmente, vinculava-se ao estabelecido por Portugal, que tinha o Brasil como fonte de riquezas e explora- ção, conforme apresentado na Figura 6. FIGURA 6 – HISTÓRICO DAS PRIMEIRAS LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS FONTE: Adaptado de Finkler et al. (2018) Conforme observa-se na Figura 6, à medida que a exploração dos recursos naturais era aumentada, aumentava a escassez de espécies e em função disso foi necessário limitar ações de corte, exploração e outras ações prejudiciais (tal como incêndio). A partir de 1890 até 1981, a legislação ambiental brasileira sofreu mudanças significativas, porém, neste período, o Brasil não evidenciava grande inquietação com os recursos. A legislação, então, era liberal e garantia de autono- mia aos proprietários rurais e poder ilimitado sobre a propriedade. https://www.sciencedirect.com/topics/engineering/noncompliance https://www.sciencedirect.com/topics/engineering/noncompliance 31 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Esse contexto só sofreu mudanças com o avanço do desmatamento resul- tante da agricultura e, então, em 1934 foi criado o primeiro Código Florestal que regulamentava o uso das florestas e que, em 1965 foi substituído pelo 2º Código Florestal, que se tornou um instrumento disciplinador fundamental. Ainda nesta década, em 1937 foi criadoo Código das Águas e o Parque de Itatiaia, primeiro parque do Brasil. De 1938 a 1965 foram criados 14 Parques Nacionais e uma Reserva Florestal na Região Amazônica (BORGES; REZENDE; PEREIRA, 2009). Nesta etapa, a política ambiental já estava sendo direcionada para um as- pecto que tendia à conservação envolvendo a delimitação de áreas de preserva- ção e a criação de unidades de conservação (FERREIRA; SALLES, 2016). É importante ressaltar que boa parte dos estudos desenvolvidos sobre polí- tica ambiental no Brasil define como ponto inicial a década de 1970, pela criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente. Em janeiro de 1967 foi instituída a Lei no 5.197 que dispunha sobre proteção à fauna e em seu Art. 1º define animais silvestres como “animais de quaisquer es- pécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro”. Tanto a fauna silvestre quanto ninhos, abrigos e criadouros naturais “são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, des- truição, caça ou apanha” (BRASIL, 1967, p. 1). No início dos anos 1970, alguns recursos naturais, antes abundantes, torna- ram-se escassos em várias regiões do mundo, inclusive no Brasil. Um exemplo é a bacia do alto Tamanduateí, na região do ABC paulista, onde se concentram ainda hoje inúmeras indústrias. Nessa região, a água estava tão poluída que era imprópria para abastecimento industrial. Já se notavam também problemas de poluição do ar em grandes cidades. Por outro lado, havia nessa época todo um contexto internacional que trouxe pela primeira vez a questão ambiental para o rol das principais preocupações da sociedade (SANCHEZ, 2013) e, apesar de ser considerada uma década de destaque na política ambiental brasileira, esta foi específica para determinados setores industriais, não compreendeu as regiões menos povoadas e, ainda, não levou em consideração os impactos ambientais em longo prazo (FERREIRA; SALLES, 2016), tal como veremos a seguir: • 1971 – I Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), duração de 1972 a 1974 – tinha por desígnio alocar o Brasil entre os países mais desen- volvidos no intervalo de tempo de uma geração, entretanto, no que diz respeito à parte ambiental, é considerado um desastre, pois incentivou o desmatamento da Amazônia. • 1973 – Criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) em de- corrência da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente em Estocolmo. 32 Proteção do Meio Ambiente • 1974 – II PND, para o período de 1975 a 1979, trouxe medidas ambien- tais de caráter conservacionista e, ao abordar a expansão da produção agrícola, propunha que se evitasse uso indiscriminado do fogo e, ao mesmo tempo, buscava a promoção da rotação de culturas para manter a produtividade. • 1979 – III PND, duração de 1980 a 1985, significou um elo entre as fases de evolução e de consolidação do Direito Ambiental do Brasil. É importante enfatizar que até 1973, quando foi criada a SEMA, não havia um órgão voltado exclusivamente à questão ambiental no Brasil. Entretanto, “sob o ponto de vista institucional, a criação do órgão não representou de imediato uma mudança na estrutura da tomada de decisão sobre as questões ambientais mais relevantes, em especial, a localização industrial ou tecnologias utilizadas na produção” (FERREIRA; SALLES, 2016, p. 4). Em função do seu papel secundário no que tange ao controle das ações impactantes, medidas de controle foram mais delimitadas no II PND. Outras legislações, decretos e medidas provisórias foram criados na década de 1970 envolvendo aspectos do meio ambiente, conforme apresentado no Quadro 5: QUADRO 5 – LEGISLAÇÕES, DECRETOS E MEDIDAS PROVISÓRIAS DA DÉCADA DE 1970 Ano Decreto Objetivo 1975 Lei no 6.225 Dispõe sobre discriminação, pelo Ministério da Agricultura, de regiões para execução obrigatória de planos de proteção ao solo e de combate à erosão e dá outras providências Decreto-Lei no 1.413 Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais Decreto no 76.389 Dispõe sobre as medidas de prevenção e controle da poluição industrial 1976 Decreto no 77.775 Regulamenta a Lei nº 6.225, de 14 de julho de 1975, que dispõe sobre discriminação, pelo Ministério da Agricultura, de regiões para execução obrigatória de planos de proteção ao solo e de combate à erosão, e dá outras providências 1979 Decreto no 84.017 Aprova o Regulamento dos Parques Nacionais Brasileiros FONTE: Adaptado de Brasil (2010) Entre as décadas de 1970 e 1980, período militar, houve diversas restrições à democracia, entretanto, o movimento ambientalista foi aos poucos se estabele- cendo e validando sua fala. Os impactos sociais e ambientais de grandes projetos 33 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 estatais ou privados tornaram-se alvos do julgamento ao modelo de desenvolvi- mento seguido, visto como mecanismo de exclusão social e de destruição eco- lógica (SANCHEZ, 2013). Para alguns autores, segundo Moreira et al. (2021), o Brasil passa a se preocupar com o Meio Ambiente de forma preventiva, global e integrada a partir da década de 1980, tendo em vista que as leis possuem maior consistência e celeridade. Acerca disso, Borges, Rezende e Ferreira (2009) apontam que nos anos 1980 observam-se alguns dispositivos legais com abrangência nacional que utilizam, pelo menos formalmente, a estratégia do “planejamento territorial” inaugurada nos anos 1970. As ações do governo federal visando empregar o planejamento territo- rial como instrumento para prevenir a degradação do meio ambiente inclui a Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979, versada como Lei Lehman, que aborda o par- celamento do solo urbano e a Lei nº 6.803, de 2 de julho de1980, que institui diretri- zes para o zoneamento industrial em áreas críticas de poluição (SANCHEZ, 2013). Corroborando com o citado, passados os importantes debates que funda- mentaram a transformação de conscientização ambiental no mundo no decorrer da década de 1970, teve início uma nova fase da política ambiental no Brasil a partir de 1981 (FERREIRA; SALES, 2016). Tais constatações são feitas a partir da promulgação da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), disposta na Lei n° 6.938 em 1981 (BRASIL, 1989). A PNMA tem por instrumentos: I - Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II - Zoneamento ambiental; III - Avaliação de impactos ambientais; IV - Licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencial- mente poluidoras; V - Incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI - Criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áre- as de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII - Sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII - Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; IX - Penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cum- primento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. X - Instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Am- biente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; XI - Garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; XII - Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente po- luidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. XIII - Instrumentos econômicos, como concessão florestal, servi- dão ambiental, seguro ambiental e outros (BRASIL, 1981, p. 5). 34 Proteção do Meio Ambiente A PNMA trouxe diversas inovações para a legislação ambiental brasileira, como a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e do Sistema Nacional de Meio Ambiente(SISNAMA) (Figura 7). O SISNAMA é órgão respon- sável para a gestão ambiental brasileira e tem como atribuição coordenar e emitir normas gerais para a aplicação da legislação ambiental em todo o país, sendo formado pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios responsáveis pela proteção, melhoria e recuperação da qualidade ambiental no Brasil (MMA, 2017). FIGURA 7 – ORGANOGRAMA DO SISNAMA FONTE: Adaptado de Brasil (1981) A partir da Figura 7, entende-se que o SISNAMA envolve diferentes órgãos, como órgão Superior, Consultivo e Deliberativo, Central, Executores, Seccionais 35 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 e Locais. O CONAMA, por sua vez, é um dos órgãos que faz parte do SISNAMA, responsável pela sua esfera consultiva. Dentre os órgãos, tem-se o CONAMA. O CONAMA, por sua vez, tem por finalidade assessorar, estudar e propor ao Conse- lho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e pa- drões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida, competindo a este órgão: I - Estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e crité- rios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencial- mente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisio- nado pelo IBAMA; II - Determinar, quando julgar necessário, a realização de es- tudos das alternativas e das possíveis consequências ambien- tais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades priva- das, as informações indispensáveis para apreciação dos es- tudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional; V - Determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; VI - Estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes; VII - Estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao con- trole e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vis- tas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos (BRASIL, 1981, p. 7). Ficou curioso para saber mais sobre a Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA? Acesse-a na íntegra http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l6938.htm. Outro instrumento fundamental da PNMA é o Sistema Nacional de Infor- mação sobre Meio Ambiente (SINIMA). O SINIMA é uma plataforma conceitual fundamentada na conexão e compartilhamento de dados entre os múltiplos com- ponentes do SISNAMA. Dessa forma, o SINIMA é responsável por gerenciar a informação e compartilhá-la com as diferentes esferas (governo, sociedade e ór- gãos ambientais). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm 36 Proteção do Meio Ambiente Segundo Giacomelli e Eltz (2018), pode-se definir a partir da PNMA a terceira fase das legislações ambientais no Brasil, pois o meio ambiente passa a ser visto de forma ampla e sua proteção passa a ser organizada como um sistema ecológi- co integrado. Outra inovação é observada ao: [...] inaugurar uma nova etapa no modo de utilização e apro- priação dos recursos naturais para atividade produtiva, pre- vendo a utilização de instrumentos de gestão ambiental (Art. 9º da PNMA) de alcance nacional. Dentre eles, destacam-se: o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, o zo- neamento ambiental, a avaliação de impactos ambientais, e o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluido- ras (FERREIRA; SALLES, 2016, p. 8). 1) Uma das inovações trazidas pela PNMA envolvendo os aspectos ambientais foi a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). A partir disso, qual a diferença básica entre SISNAMA e CONAMA? Sanchez (2013) indica outra legislação que é importante neste período em função das melhorias para a proteção ambiental: a Lei no 7.347 de 1985, conheci- da como Lei dos Interesses Difusos. A partir desta, o conceito de dano ambiental (que vimos no Subtópico 2 deste capítulo) foi ampliado através da conceituação de interesses difusos, ou seja, interesses comuns a um grupo de pessoas (como moradores de uma região, por exemplo). Três anos depois, a Constituição Federal de 1988 foi um grande marco na evolução do direito brasileiro e da questão ambiental no país ao consagrar um capítulo exclusivo para a matéria do meio ambiente. Ademais, em seu Art. 225 es- tipula que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Po- der Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988, p. 5). Apesar de que, em um primeiro momento, não tenha sido observada mudan- ça expressiva na elaboração de políticas públicas, essa cautela constitucional tem como atributo a possibilidade de dirigir a adoção de instrumentos de gestão com maior competência para transigir o desenvolvimento econômico e a disponibilida- de dos recursos em longo prazo (GIACOMELLI; ELTZ, 2018). 37 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Ainda visando ao fortalecimento das relações exteriores foi criado o “Progra- ma Nossa Natureza”, em 1988, cujo objetivo consistiu em garantir preservação ecológica, proporcionando mudanças expressivas no cenário ambiental. Vale des- tacar também o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, criado em 1989, e outras legislações que tornam danos ao meio ambiente, crimes, como: penalizou o uso do agrotóxico, tornou a poluição crime ambiental e tornou delito garimpagem sem autorização, todas em 1989. Neste mesmo ano, ainda, foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) com o objetivo de preservar, conservar, promover o uso racional, fiscalizar, controlar e fo- mentar os recursos naturais (FERREIRA; SALLES, 2016; MOREIRA et al., 2021). A partir desse momento, a gestão dos recursos ambientais passa a ser inte- grada, pois até então, as questões ambientais eram cuidadas por diferentes se- tores/ministérios e com visões contraditórias, muitas vezes. A criação do IBAMA atinge um fim muito mais amplo que o alcançado pela SEMA, uma vez que assu- miu as pertinências de diferentes órgãos que antes eram responsáveis pelo cum- primento da política ambiental de forma fragmentada (FERREIRA; SALLES, 2016; MOREIRA et al., 2021). Durante a década de 1980, o atraso na prática de alguns instrumentos ante- vistos na PNMA foi devido à crise econômica afrontada naquele momento, fazen- do com que as organizações não tivessem foco nas questões ambientais. Já no início da década de 1990, o principal vilão da economia brasileira foi a inflação, entretanto, a partir da Eco-92 (conforme já vimos no primeiro tópico deste capí- tulo), muitos avanços ocorreram no que tange ao Direito Ambiental no Brasil. Du- rante esta década foram instituídas legislações a fim de integralizar a base teórica para a elaboração das ações políticas atuais, tais como as citadas a seguir: • 1993 – Redução de emissão de poluentes por veículos automotores e dá outras providências. • 1997 – Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. • 1998 - Lei de Crimes ambientais. A Lei de Crimes ambientais é uma das leis mais avançadas do mundo, na qual comportamentos e atividades acatadas prejudiciais ao meio ambiente co- meçam a sofrerpunição civil (ressarcimento pecuniário, prestação de serviço e execução judicial), administrativa (multas) e penal (dolo ou de culpa do agente causador)). É sob esta ótica integradora que passa a combinar os aspectos eco- nômicos e sociais com os ambientais, em busca da preservação do meio ambien- te (MOREIRA et al., 2021). Passada a década de1990, as empresas do século XXI passaram a conside- rar em suas ações a melhoria da sociedade, busca-se a criação de parcerias sus- 38 Proteção do Meio Ambiente tentáveis e que tenham valoração ambiental. Com respeito aos aspectos legais e institucionais, pode-se citar: • 2000: criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). • 2004: instituiu-se a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). • 2006: Lei da Mata Atlântica. • 2007: criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi- dade (ICMBio) e da Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB). • 2010: institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS); estabele- cimento do Sistema Nacional de Informações em Saneamento (SINISA). • 2012: Novo Código Florestal. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), cria- do em 2000, é o instrumento responsável por assegurar que a diversidade biológi- ca seja protegida e que o desenvolvimento sustentável seja alcançado a partir dos recursos naturais, bem como garantir que comunidades tradicionais, seus conhe- cimentos e cultura sejam protegidos. É composto pelas unidades de conservação das três esferas (federal, estadual e municipal) e objetiva: I - Contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas ju- risdicionais; II - Proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; III - contribuir para a preservação e a restauração da diversida- de de ecossistemas naturais; IV - Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos re- cursos naturais; V - Promover a utilização dos princípios e práticas de conser- vação da natureza no processo de desenvolvimento; VI - Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; VII - proteger as características relevantes de natureza geoló- gica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontoló- gica e cultural; VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; IX - Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; X - Proporcionar meios e incentivos para atividades de pesqui- sa científica, estudos e monitoramento ambiental; XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; XII - favorecer condições e promover a educação e interpre- tação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu co- nhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economi- camente (BRASIL, 2000, p. 1). 39 Meio Ambiente e SustentabilidadeMeio Ambiente e Sustentabilidade Capítulo 1 Importante ressaltar que a legislação florestal brasileira teve, inicialmente, como foco, a conservação de recursos naturais, como madeiras nobres, nutrien- tes do solo e água. E, segundo Rajão et al. (2021, p. 8): [...] gradualmente, a legislação florestal brasileira ganhou con- tornos ambientalistas, passando a considerar a vegetação na- tiva como “bem de interesse comum”, cujos uso e proteção deveriam servir para garantir o bem-estar da população, indo além do fornecimento de recursos naturais. Por outro lado, os efeitos dessa legislação florestal foram limitados devido à sua concorrência com projetos de desenvolvimento regional. Em 2006, surge uma legislação específica sobre a Mata Atlântica com en- foque no uso e na proteção da vegetação nativa deste bioma. Este enfoque visa promover o desenvolvimento sustentável e a preservação da “biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social” (BRASIL, 2006, p. 3). Em 2007, como destaque tem-se o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que é uma autarquia federal com autonomia (admi- nistrativa e financeira) e foi criado a partir da Lei 11.516. Segundo esta legislação, tem por objetivos: I - Executar ações da política nacional de unidades de conser- vação da natureza, referentes às atribuições federais relativas à proposição, implantação, gestão, proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União; II - Executar as políticas relativas ao uso sustentável dos re- cursos naturais renováveis e ao apoio ao extrativismo e às populações tradicionais nas unidades de conservação de uso sustentável instituídas pela União; III - fomentar e executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade e de educação ambiental; IV - Exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das unidades de conservação instituídas pela União; e V - Promover e executar, em articulação com os demais órgãos e entidades envolvidos, programas recreacionais, de uso públi- co e de ecoturismo nas unidades de conservação, onde estas atividades sejam permitidas (BRASIL, 2007, p. 1). Entende-se, a partir dos objetivos, que o ICMBIO é um órgão essencial para a proteção do meio ambiente, pois estrutura e promove a implementação de polí- ticas públicas tanto para conservação das questões ambientais quanto visando ao desenvolvimento social, ambiental e econômico de forma integrada. A forma com a qual a gestão ambiental está organizada no Brasil de forma institucional transcorre de variadas políticas públicas, anunciadas convencional- 40 Proteção do Meio Ambiente mente pelas leis. Políticas e legislações definem instrumentos de influência para controle do Estado, que são os mecanismos, procedimentos e métodos adotados para que objetivos expressos sejam alcançados. O padrão atual de aptidões para ordenar sobre Meio Ambiente no Brasil é partilhado entre a União, Estados e Municípios sobre recursos naturais. Os Es- tados podem legislar conjuntamente sobre: florestas, caça, pesca, fauna, con- servação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do Meio ambiente, controle da poluição e responsabilidade por danos ao meio ambiente. Ainda conforme a constituição, “os estados e municípios devem zelar pela prote- ção ao meio ambiente e combater a poluição” (BRASIL, 1981, p. 1). A legislação estadual e municipal não deve entrar em confronto com interesse nacional (MO- REIRA et al., 2021). Embora a necessidade de enfrentar a crise ambiental, central para a ciência da conservação, tenha gerado versões mais verdes do paradigma do crescimen- to, ainda são necessárias mudanças fundamentais nos valores que garantam a transição de uma sociedade centrada no crescimento para uma que reconheça os limites biofísicos e centrada no bem-estar humano e conservação dos recursos. Dessa forma, entende-se que a legislação ambiental, mais do que a significação de um direito ambiental presente, é um Direito do futuro e da antecipação, com relevante aspecto social de uma relação equilibrada e harmoniosa entre o homem e a natureza (GAVA; SOUZA, 2011). 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O modelo de economia baseada no acúmulo de riquezas, no aumento da produtividade e no crescimento desenfreado resultou em impactos ao ambiente, suas condições ecológicas e sociais, interferindo na capacidade deste. O homem, com o passar dos anos, percebeu que para continuar se desenvolvendo precisa enxergar-se como parte do ambiente e não como um elemento externo e, dessa forma, passou a buscar formas de preservar o ambiente. Em 1972 é que o cenário ambiental mundial de fato tomou novos rumos a partir do documento intitulado “Os limites do crescimento”, o qual alertava sobre os riscos da continuidade do modelo de desenvolvimento baseado em acúmulo de riquezas e consumo desenfreado de recursos naturais.
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