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Medicina - 6º Semestre - Ana Paula Cuchera, Eduarda Costa e Rosa Iria Profº Sérgio 10 de out. de 2023 Introdução - Trata-se de um estado de grave insuficiência cardiocirculatória com múltiplas causas: ● Hemorrágico (hipovolemia) ● Falência intrínseca do coração ou choque cardiogênico ● Choque obstrutivo ○ Coração não consegue bombear, mesmo estando sadio ● Choque séptico (por vasodilatação) ○ Mais grave de todos ● Choque neurogênico ● Choque traumático - A mortalidade permanece elevada apesar de uma terapêutica mais eficiente e agressiva provavelmente pela maior sobrevida de pacientes mais graves e mais idosos. - Cerca de 40,0% dos casos de choque séptico e 70,0 a 80,0% dos diagnosticados com choque cardiogênico vem a óbito dentro de 30 dias ● Moralidade extremamente alta. - Sempre uma internação precoce e uma intervenção agressiva melhoram a sobrevida. - Aspectos históricos: - O principal se deu durante a Guerra do Vietnã (1959- 1975) onde ficou bem caracterizado que a rápida infusão de solução salina balanceada e o rápido transporte aos hospitais eram decisivos na sobrevida. - Em seguida verificou-se que muitos sobreviventes desenvolviam uma insuficiência respiratória pós-traumática onde predominava o edema pulmonar Intersticial, desde então conhecida como Síndrome do desconforto respiratório do adulto ● Pulmão úmido passou a se chamar síndrome do desconforto respiratório do adulto. - Foi depois verificado que esse edema que nas formas avançadas de choque associados a lesões maciças de partes moles era devido a um aumento difuso das permeabilidade vascular e não apenas no pulmão como se imaginava, causado pela reanimação com volumes exagerados de solução salina. - Até hoje permanecem algumas dúvidas sobre as causas verdadeiras da Síndrome do desconforto Respiratório. - Fatores originados de tecidos lesados desencadeariam uma resposta inflamatória por coagulação intravascular disseminada e ativação do sistema complemento com aumento generalizado na permeabilidade vascular com edema generalizado e insuficiência de múltiplos órgãos (inclusive pulmão). Definição - Trata-se de um estado de grave insuficiência cardiocirculatória com múltiplas causas resultando em inadequada perfusão tecidual. Fisiopatologia - Diminuição da perfusão com início de metabolismo anaeróbio, aumento do CO2 e ácido láctico. ● Piora da microcirculação (mais perto das células) ● Há declínio da função celular com danos irreversíveis e morte da célula - Durante o choque nas áreas de hipoperfusão as células do endotélio sob hipóxia ativam os leucócitos que se ligam ao endotélio liberando: 1 ● Substâncias nocivas (enzimas proteolíticas) ● Mediadores inflamatórios como citocinas, leucotrienos,fator de necrose tumoral (TNF) ● Liberação de óxido nítrico um potente vasodilatador ○ Dilata mais e lentifica a microcirculação, piorando a perfusão da célula e a acidose. - Há ainda aderência dos leucócitos e plaquetas ao endotélio ativando o sistema de coagulação resultando em deposição de fibrina (fibrinogênio → fibrina e forma a rede do coágulo) - Outros mediadores aumentam a permeabilidade microvascular com escape de fluido e proteínas para o interstício. OBS! Aumento da produção de ácido lático está relacionado com a mortalidade, pois as enzimas não funcionam em situação de acidose e assim não há conversão de substâncias → morre todas. Resposta Neuroendócrina - Estímulos que levam a resposta neuroendócrina: ● Hipovolemia ● Dor ● Hipoxemia ● Hipercarbia ○ Aumento do gás carbônico ● Acidose ● Infecção ● Alterações da temperatura - Respostas: ● Liberação de catecolaminas (aminas liberadas pela supra renal → adrenalina e noradrenalina) por estimulação direta da medula adrenal; ● Ativação de barorreceptores do átrio direito por uma diminuição na pressão atrial; ● Liberação do sistema renina angiotensina com aumento da aldosterona e do hormônio antidiurético. Resposta Cardiovascular - A diminuição do retorno venoso ao coração e do débito cardíaco levam a aumento da FC, vasoconstrição sistêmica por liberação de substâncias simpaticomiméticas. ● Isso leva a um aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio, portanto deve-se aumentar esse fornecimento. ● O consumo de oxigênio do miocárdio aumenta porque esse tem que bater mais depressa por falta de volume e esse trabalha contra uma resistência maior - Há um desvio circulatório privilegiando o cérebro e coração em detrimento do intestino, rins e pele. - Os efeitos da liberação de catecolaminas pela medula adrenal levam a estimulação da glicogenólise (glicogênio vira glicose) e da gliconeogênese, há ainda aumento do glucagon (tem efeito contrário da insulina → aumenta a entrada de calorias → hormônio hiperglicemiante) aumentando assim a disponibilidade de glicose. Resposta hormonal - O Stress desencadeado vai atuar no SNC, ativando o eixo hipotalâmico-Hipófise adrenal com grande aumento do ACTH, o que leva a: ● Elevação do cortisol e aldosterona → o Cortisol age aumentando a gliconeogênese, havendo também retenção de água e sódio pela aldosterona (Pacientes que fazem o uso ficam inchados). - O stress continua a favorecer a liberação de ACTH, independente do feedback negativo do cortisol - A hipófise também libera diretamente o HAD - vasopressina (seu lobo posterior) 2 - Diminuição do fluxo no túbulo distal leva a aumento da produção de renina na mácula densa, que irá favorecer a produção de angiotensina I a partir do angiotensinogênio hepático. - A angiotensina 1 é convertida em angiotensina II pela enzima de conversão da angiotensina (ECA) produzida pelo pulmão. OBS! Amaior parte dos diuréticos são da classe ECA. - Homeostase circulatória: - Aumento da pré carga, da contração ventricular e da pós-carga, desde que mantida a volemia. - Efeitos celulares: ● Omais importante é o aumento da apoptose celular , detectada já 3 horas após as lesões, o que a nível intestinal pode comprometer sua integridade favorecendo a translocação de bactérias e endotoxinas para a veia porta durante o choque. ● A apoptose de linfócitos contribui para um grau de supressão imunológica observada em pacientes traumatizados. Choque - Fisiopatologia (contin.) ● Há diminuição do fluxo de sangue na microcirculação, além de obstrução difusa do território microcirculatório com importante limitação ao fornecimento de oxigênio e todos substratos necessários à vida celular. ● Um dado muito importante é verificado no trato gastrintestinal. ● Com isso, o aumento da permeabilidade microcirculatória vai permitir a translocação de bactérias entéricas do lúmen para a corrente sanguínea e instalação de sepse. Choque Hipovolêmico - Etiologia: ● Sangramento, vômitos e/ou diarreia persistente, sequestração de líquido para dentro da luz do tubo digestivo (obstruções intestinais), perda plasmática por tecidos lesados por ferimentos ou queimaduras. - Fisiopatologia: A perda de volume diminui o retorno venoso para o coração, levando à diminuição do volume diastólico final, sistólico e do débito cardíaco também OBS! A volemia corresponde a 8% do peso. - Cristalóide é sempre o ringer lactato (solução balanceada) 3 - Necessário guardar a porcentagem da volemia Quadro clínico e Conduta no choque hipovolêmico: - Vai depender da intensidade da perda - Quadro clínico variável na dependência da intensidade da perda (vide tabs.) - Na criança o primeiro sinal será sempre o aumento da FC (compensar) - Tratamento: - Iniciar por providenciar 2 vias de acesso periféricas, com colheita de sangue para exames - Passos fundamentais: ● Controle definitivo da via aérea ● Ventilação pulmonar ● Controle imediato da perda sanguínea. 2 acessos venoso periféricos ● Reposição salina com solução balanceada aquecida (Ringer lactato) seguida de transfusão de sangue ou solução colóide se necessário ○ 39º graus (livro), 37 a 38º (professor) ● São necessários de 1000 a 2.000 ml de Ringer rapidamente e 20 ml/kg para crianças ● Sangue se Hb < 8,0 G/dln ● No trauma crânio encefálico seria vantajosa a administraçãode solução salina hipertônica. OBS! Omelhor e mais adequado parâmetro clínico para a avaliação da eficácia do tratamento é a avaliação contínua do débito urinário: 50 ml/h para adultos e 1 ml/kg por hora para crianças ou 2,0 ml/kg para menores de 2 anos de idade (a dose é maior porque a atividade metabólica é maior) Choque Séptico - Estado inflamatório decorrente da resposta sistêmica à infecção bacteriana. - É o tipo de choque com a maior redução crítica à perfusão tecidual (a perfusão fica mais prejudicada, porque o objetivo é manter a perfusão, mas nesse cenário não fica normal, e sim menos do que deveria). - Causas mais comuns: ● Organismos gram-negativos ● Meningococo (N.Meningitidis) ● Estafilococos ● Pancreatite aguda ○ Desencadeia uma reação inflamatória por conta da liberação de citocina com isso leva a necrose e hemorragia por todo o território do pâncreas (retroperitoneal) ● Queimaduras e comumente infecção urinária podem se manifestar com sinais de sepse OBS! Pedra grande muito tempo na vesícula é fator de risco para câncer de vesícula, pode disseminar para o fígado Sintomatologia habitual: ● Início com calafrios, febre, tremores, hipotensão, oligúria e confusão mental ● Pode ocorrer insuficiência de múltiplos órgãos, incluindo rins, pulmão e fígado. Quadro clínico: ● Temperatura > 38° C ou < 36°C ● FC> 90 b/m ● FR > 20 RPM OU PaCO2 < 30 mmHg (porque entra em alcalose respiratória para compensar a acidose metabólica da sepse) ● Importante Leucocitose com desvio à esquerda pelo hiperconsumo, e se for choque de gram negativo vai ter leucopenia ● Falência de ao menos 1 sistema: Insuficiência renal por oligúria, Insuficiência cardiovascular por hipotensão, insuficiência respiratória por hipóxia ● Extremidades frias e pálidas com cianose 4 ● Ocorre mais frequentemente em recém nascidos, grávidas e no idoso ● Sítios mais comuns da infecção são os pulmões (pneumonia), infecção urinária, vias biliares ou portadores de cateteres urinários ou vasculares ● Casos graves são normalmente acompanhados por coagulação intravascular disseminada, fibrinólise e evidências do resultante grande consumo de fatores de coagulação OBS! Reanima com volume e antibiótico de amplo espectro Tratamento: ● Reanimação com SF a 0,9% ou Ringer lactato ● Oxigênio ● Antibiótico de amplo espectro a ser alterado s/n pela cultura e antibiograma ● Procedimentos cirúrgicos necessários com ablação do fator causal da sepse, drenagem de abscessos, remoção de cateteres,cirurgia em casos de abdome agudo (colecistite aguda, apendicite aguda complicadas) ● Corticosteróide ○ Fundamental, ajuda muito nesse cenário do paciente ● Terapias emergentes: ○ Resfriamento para a hipertermia, hemofiltração venovenosa contínua para tratamento precoce da insuficiência renal Choque neurogênico - Deve-se a um estado de baixa perfusão tecidual devida à perda do tônus vascular vasomotor periférico das artérias - Dor lancinante e vasodilatação brutal → entra em choque - Correção de choque de grande fratura com desvio: redução de urgência da fratura - Muito raro morrer de choque neurogênico - Etiologias mais comuns: ● Grandes fraturas ● Lesões da medula espinal ● Lesões do corpo vertebral da região cervical ou torácica alta que alteram a regulação do tônus vascular simpático ● Manifestação por hipotensão acentuada, bradicardia , arritmias cardíacas. - Tratamento ● Garantia de via aérea pérvia, ventilação, oxigenação ● Administração rápida de volume ● Analgesia se necessário ○ Essa sozinha pode curar o choque neurogênico ● Vasoconstritores Choque cardiogênico - Etiologia: ● A causa fundamental da falha do coração como bomba é sempre o infarto agudo do miocárdio extenso ou um novo infarto (porque já teve uma parte do coração que não está funcionando direito e está fibrosado) ● Amortalidade do choque cardiogênico pode atingir entre 85,0 a 95,0% dos pacientes ● Causa mais comum: aterosclerose (onde um dos principais fatores de risco é o tabagismo) - O diagnóstico é o do infarto agudo do miocárdio caracterizando-se choque cardiogênico se constatada PA Sistólica <90mmHg por tempo superior a 30 minutos. - Tratamento: ● Via aérea pérvia, ventilação e oxigenação adequada ● Tratamento da dor com sulfato de morfina (única coisa que alivia) ● S/N (= Se necessário) Drogas antiarrítmicas, marcapasso ou cardioversão elétrica 5 ● Droga inotrópica como a Dopamina e/ou Dobutamina ● Inibidores da Enzima de conversão da angiotensina (inibidores da ECA) para reverter efeitos hipertensivos de outras drogas ○ Para diminuir o consumo de O2 pelo coração ● Anticoagulação (clopidogrel) e aspirina ● Nitratos para prover vasodilatação coronariana (cont.) ● Uso de betabloqueadores para controlar a frequência cardíaca e o consumo de oxigênio do miocárdio ● Correção das alterações do ph e eletrólitos. ● Possibilidade de uso de suporte circulatório mecânico (balão aórtico) e ECMO. OBS! Diretriz atual da American Heart Association é a angiotomografia coronariana percutânea para definição da anatomia coronariana e possível colocação de Stent para desobstrução coronariana ● ELEMENTO MAIS FUNDAMENTAL ● Pensar nisso quando tiver infarto Choque obstrutivo - O coração está normal mas não contrai, ou não consegue passar para frente o fluxo. - Caracterizado basicamente por 2 situações clínicas. ● Pneumotórax hipertensivo: ○ Desconforto respiratório, ausência de murmúrio do lado afetado, estase jugular importante e desvio da traquéia e mediastino para o lado oposto. ○ O acotovelamento na entrada das veias cavas produzido pelo grande desvio mediastinal limita o retorno de sangue para o Átrio direito. ○ Corrigido na emergência com a punção com jelco de grosso calibre e a seguir pela drenagem pleural. OBS! Punção com agulha de grosso calibre e o paciente já começa a melhorar o quadro - Dá estase jugular porque o sangue não consegue ir para a veia cava superior. ● Tamponamento cardíaco: ○ O diagnóstico de tamponamento cardíaco tem como base a tríade de Beck: ■ Distensão venosa jugular ■ Hipotensão ■ Hipofonese cardíaca (mas nem sempre presente) ○ Deve-se a um derrame sanguíneo por trauma no saco pericárdico o qual é inextensível limitando a contratilidade cardíaca ○ Lesão no coração → sangue extravasa no saco pericárdico (não precisa ser muito) e o coração não consegue bater mais 6 OBS! O tratamento imediato é a punção pericárdica ou sua drenagem cirúrgica. Tríade de Beck vai cair na prova Choque Traumático - Pacientes de acidente automobilístico, traumatismo múltiplo de órgãos torácicos, abdominais, ósseos e partes moles; - Envolve o conhecimento da fisiopatologia de todos os anteriores; - Tratamento das lesões respeitando o ABCDE do trauma. 7
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