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A retroatividade e a lei penal em branco

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A retroatividade e a lei penal em branco 
 
Discute-se, também, o direito intertemporal no que diz respeito à lei penal em 
branco (item 1.6.3). Revogada a norma complementar (decreto, portaria, 
regulamento etc.), não desaparecerá o crime. Não é porque um artigo de consumo 
deixou de ser tabelado ou o preço fixado superou o pago pelo comprador, por 
exemplo, que se deixará de punir aquele que transgrediu a tabela então em vigor, se 
prevista a conduta como crime contra a economia popular. Nesse sentido, é 
pacífica a jurisprudência. (16) O que foi revogado ou alterado é a norma 
complementar e não a lei. Para os que entendem que a norma complementar 
integra a lei penal, sendo ela excepcional ou temporária possui também o caráter 
de ultratividade diante do art. 3º do CP. 16 Não terá ultratividade a lei penal em 
branco, porém, se a norma complementar não estiver ligada a uma circunstância 
temporal ou excepcional, verificando-se que a revogação da norma complementar 
ou mesmo da lei temporária ou excepcional flagrantemente se revela em 
aperfeiçoamento da legislação. É o que ocorreria, por exemplo, a respeito da 
exclusão de uma moléstia no regulamento que complementa o art. 269 do CP (que 
trata da omissão de notificação de doença), ao se verificar que a moléstia não é 
infectocontagiosa, como se supunha. Não se poderia falar, no caso, em crime, pois 
nem por presunção se poderia dizer que houve lesão ou perigo de lesão a bem 
jurídico, ofensa indispensável à caracterização dos ilícitos penais. Assim, pode-se 
concluir que há de se fazer uma distinção: (a) se a norma penal em branco tem 
caráter excepcional ou temporário, aplica-se o art. 3º do CP, sendo a norma 
complementar ultrativa; (b) se, ao contrário, não tem ela caráter temporário ou 
excepcional, aplica-se o art. 2º, parágrafo único, ocorrendo a abolitio criminis. De 
acordo com Soler, só tem importância a variação da norma complementar na 
aplicação retroativa da lei penal em branco quando esta provoca uma real 
modificação da figura abstrata do direito penal, e não quando importe a mera 
modificação de circunstância que, na realidade, deixa subsistente a norma penal.

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