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Aula 10 teoria da comunicação

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Teorias da Comunicação
Aula 10: Estudos de Recepção
Apresentação
Em nossa última aula, analisaremos como a perspectiva dos Estudos Culturais se expandiu pelo mundo, in�uenciando
fortemente a América Latina, a partir do �m dos anos 1970.
Veremos que vários autores se destacaram nos debates sobre comunicação na América Latina, entretanto, três obras são
responsáveis em grande medida pela circulação do debate: De los médios a las mediaciones (MARTÍN-BARBERO, 1987);
Culturas Híbridas (CANCLINI, 1997) e Más(+) Cultura (s): ensayos sobre realidades plurales (GONZÁLES, 1994).
As pesquisas desse período pautam-se na problemática da cultura e da recepção esclarecidas pela noção de mediação. A
lógica do poder absoluto dos meios de comunicação é rompida a partir da discussão sobre cultura como base do
desenvolvimento.
Objetivos
Descrever os Estudos de Recepção e como surgiram;
Reconhecer Jésus Martín-Barbero e sua teoria das mediações;
Identi�car a herança dos Estudos de Recepção na América Latina.
Os dois momentos dos Estudos Culturais
Quando falamos de Estudos Culturais, é recorrente na literatura de comunicação a sua divisão em dois momentos:
O primeiro momento trata da questão
inglesa dos Estudos Culturais com
enfoque no cultural local e regional, que
já foi alvo de aula anterior.

No segundo momento, temos os
Estudos Culturais desenvolvidos a partir
da cultura latino-americana. Os
principais autores dos Estudos Culturais
na América Latina são Jesús Martín-
Barbero, Néstor García Canclini e
Guillermo Orozco.
Pode-se dizer que as contribuições dos Estudos Culturais, tanto inglesas quanto na América Latina, estão voltadas para o
conteúdo que o receptor entende. Isso porque é na recepção que efetivamente a comunicação acontece.
Tal fato é importante de se perceber, já que a leitura que o produtor de comunicação tem não necessariamente condiz com a
leitura promovida pelo receptor.
 Estudos Culturais na América Latina
 Clique no botão acima.
Na América Latina, os Estudos Culturais encontram na comunicação um solo fértil para se desenvolver, levando em
conta preocupações como:
A ampliação do sentido de cultura.
A importância e constituição das culturas populares.
A atividade das audiências.
As condições de possibilidades históricas que a política vivencia na década de 1980, com a instauração dos processos
de redemocratização em vários países latino-americanos, também favoreceu o desenvolvimento dos Estudos Culturais
em vários países do continente.
Mas foi um processo para que nosso país e alguns de nossos vizinhos deixassem apenas de importar teorias vindas
dos EUA e Europa para iniciar um arcabouço intelectual propriamente latino-americano.
Para entender melhor essa jornada, vale uma rápida retrospectiva histórica dos debates comunicacionais ao Sul do
Equador.
Pegadas históricas da pesquisa comunicacional na América Latina
A in�uência norte-americana ingressa na América Latina, trazendo junto temas e métodos. Surge, então, em 1959, o Centro
Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para a América Latina (Ciespal), em Quito, Equador.
O Centro é fundado no contexto da Aliança para o Progresso, uma resposta do governo Kennedy ao novo cenário latino-
americano. Era uma resposta à revolução cubana, que obrigou os Estados Unidos a revisarem sua política exterior, numa
tentativa de impedir a expansão do movimento cubano.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Durante o governo de John F. Kennedy, foi idealizado um
plano de ajuda à América Latina em matéria de saúde,
educação e de melhoria para as zonas rurais.
- BERGER, 2010, p. 242
O Ciespal ofereceu cursos para o aperfeiçoamento de pro�ssionais que atuavam em comunicação de massa da região.
Wilbur Schramm, Raymond Nixon, John McNelly, Jacques Kayser e Joffre Dumazedier são alguns dos pesquisadores que
atuaram no Centro, através de seminários e pesquisas, posicionando temas como: comunicação e modernização, rádio e tele-
educação e liderança de opinião.
 Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo para a América Latina (Ciespal)
 Clique no botão acima.
A partir de 1973, durante o primeiro encontro organizado por pesquisadores latino-americanos, o Centro recebeu
muitas críticas e passou a buscar raízes na América Latina, introduzindo em seus cursos a preocupação com a
comunicação popular e pesquisa participante, substituindo professores estrangeiros por argentinos (Daniel Prietto),
chilenos (Eduardo Contredas Budge), brasileiros (Luiz Gonzaga Mota), e, assim, propiciando uma compreensão mais
próxima da realidade da região.
A indústria petroleira e o desabrochar da democracia na Venezuela, a partir da década de 1960, fez o país se sobressair
na América Latina, passando a ser um dos primeiros a ter televisão com investimentos comerciais signi�cativos.
E é justamente com a televisão que o capital norte-americano se fazia presente na indústria cultural, primeiro na
Venezuela e depois, com o mesmo modelo, em toda a América Latina.
Também, em 1959, na Venezuela, surge o Instituto Venezuelano de Investigaciones de Prensa de La Universidad
Central, cuja primeira pesquisa buscou saber:
Vale ressaltar que este Centro foi a origem do Instituto de Investigaciones de la Comunicación (ININCO), fundado em
1973, cujo objetivo eram as pesquisas da comunicação social ou de massas, que compreenderam tanto o estudo
teórico e metodológico dos problemas da comunicação como a análise permanente dos diferentes meios e de sua
incidência no âmbito nacional. Antonio Pasquali foi o nome mais importante do Instituto.
Venezuela e Equador, portanto, são as primeiras sedes da pesquisa em comunicação na América Latina.
Em 1970, surge o Centro de Estudos da Realidade Nacional (CEREN), vinculado à Universidade Católica do Chile. O
Centro foi coordenado por Armand Mattelart e integrado por Héctor Schmucler, Hugo Assmann, Michele Mattelart,
Mabel Piccini e Ariel Dorfman.
Esse Centro se destacou na pesquisa sobre o domínio das multinacionais na comunicação latino-americana, desde
uma perspectiva marxista, introduzindo conceitos como ideologia, relações de poder, con�itos de classe.
O grupo se desfez com o golpe militar chileno. Alguns de seus membros voltaram a se encontrar no México, por meio
do Instituto Latinoamericano de Estudios Transnacionales (ILET).
O núcleo do ILET era formado por pesquisadores chilenos, argentinos e peruanos. A orientação do Instituto era de
informação internacional e estrutura transnacional, com livre �uxo de informação e democratização da comunicação.
(...) o que a imprensa venezuelana publicou durante a
ditadura? Veri�cou-se a procedência o�cial do noticiário.
- BERGER, 2010, p. 244
Esta perspectiva, inaugurada no Chile da Unidade Popular, já
vinha sendo ensaiada pelo grupo de 1965, com as
pesquisas antropológicas/demográ�cas/comunicacionais, e
contava, também com a participação de Paulo Freire,
estendendo-se, posteriormente, por toda a América Latina e
marcando a �sionomia dos Estudos Latino-americanos da
comunicação.
- BERGER, 2010, p. 245
A re�exão latino-americana sobre a comunicação se instaurou entre os anos 1960 e 1970. As condições
estruturais do chamado “subdesenvolvimento” passaram a incorporar a análise dos meios. O panorama político da
região é o que caracterizou a re�exão do momento, que, na América Latina, era de oposição ao American Way of
Life.
Portanto, são nessas condições históricas, com possibilidades de luta pelo socialismo, de intervenção militar e
convivência com o capital norte-americano, que a comunicação de massa é introduzida e sedimentada na América
Latina.
Essa comunicação é identi�cada com a televisão e com o �nanciamento norte-americano, formando o pano de fundo
e a motivação para a produção de uma pesquisa crítica sobre a comunicação massiva eminente.
A produção do conhecimento em comunicação na América
Latina foi impulsionada pelas demandas políticas e sociais,
como as marcasda dependência estrutural de uma cultura
do silêncio e da submissão, que, ao mesmo tempo,
estabeleceu níveis de resistência e de luta. A principal
intenção era compreender o que acontecia com a
comunicação e, assim, demarcar as fronteiras do emergente
campo de estudo.
- BERGER, 2010
Autores centrais
Os principais autores dos Estudos Culturais na América Latina são:
Jesús Martín- Barbero.
Néstor Garcia Canclini
Guilhermo Orozco
No Brasil, os Estudos Culturais ganharam força com os Estudos de Recepção, destacando-se nessa abordagem, o colombiano
Jesús Martín-Barbero, que questionou o olhar supervalorizado para as mídias em detrimento das práticas, situações,
contextos, usos e modos de apropriação, destacando, assim, os sujeitos no processo comunicativo.
Barbero, Canclini e Orozco são, inclusive, autores consagrados pelas teses e dissertações que adotaram, no Brasil, a
perspectiva sociocultural da recepção, embora já tenhamos um cabedal de conhecimento produzido por pesquisadores
brasileiros.
A “pesquisa-denúncia” dos anos 1970 foi substituída pela “pesquisa ação”, nos anos 1080, o que Berger (2010) ressalta como
uma observação não só comprometida como também militante para o trabalho acadêmico.
Con�ra como a Teoria das Mediações é vista, de acordo com os teóricos:
Clique nos botões para ver as informações.
A Teoria das Mediações é vista como resultado de um deslocamento teórico e geográ�co. Um dos principais expoentes
desse olhar sobre o Hemisfério Sul é Jésus Martin-Barbero, com a obra, de 1987, Dos meios às Mediações.
Sá Miranda 
O foco de sua investigação centra-se na existência de uma necessidade de se identi�car, a partir da cultura, quais
produtos materiais e simbólicos podem ajudar a melhorar as condições da população da América Latina.
Para ele, os países mais desenvolvidos poderiam auxiliar os menos favorecidos em prol da inclusão social e da qualidade
de vida. Só há e�cácia na comunicação quando há um entendimento das relações de colaboração e transação entre
emissores e receptores, uma vez que não existe um sentido �xo e sim uma colaboração e interação entre ambos nesse
processo.
Néstor Garcia Canclini 
Seus estudos têm como objetivo promover uma leitura estruturada e consciente do discurso televisivo. Lança o conceito
de “televidência”, onde se busca “telever” o que está por trás, ou seja, colocar em evidência aquilo que não está sendo dito
na televisão.
Para ele, o processo comunicativo não se limita à questão da emissão, mas também da recepção, na audiência, quando é
realizada a experiência com aquilo que foi vivenciado no momento da comunicação.
Orozco 
Segundo Escosteguy (2014, p.255), hoje, no contexto acadêmico brasileiro, as contribuições dos Estudos Culturais estão para
além dos Estudos de Recepção, voltando-se a estudos de culturas juvenis, de gêneros e formatos midiáticos, de questões
estéticas, entre outras pesquisas com in�uência teórico-metodológica às mais distintas áreas disciplinares, assim como para
diferentes objetos de estudo.
Jésus Martin-Barbero
A �gura de Jésus Martin-Barbero é um ponto de referência para a área. Pode-se dizer que a construção do trabalho intelectual
de Martín-Barbero está identi�cada em dois momentos particulares que demarcam pontos de partida:
1. Um primeiro período marcado por matrizes vinculadas à �loso�a e semiologia.
2. Um segundo, pelo contato com o pensamento crítico da cultura.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Pelo pensamento crítico da cultura há uma atenção às teorias do discurso e da linguagem, com aprofundamento em questões
que emergem dos con�itos, movimentos sociais e da problemática da cultura popular e da comunicação de massa.
Exemplo
Estudos sobre a televisão, com especial foco nas telenovelas, são os exemplos dos objetos mais signi�cativos enquanto
expressões do popular massivo.
 Dos meios às mediações
 Clique no botão acima.
A partir da obra Dos meios às mediações, Barbero (1987) propõe um deslocamento dos estudos de comunicação, ou
seja, no lugar de se preocupar com os meios e suas condições especí�cas de produção ou mensagem, era preciso
pensar nas mediações, nos processos culturais, sociais e econômicos que enquadravam tanto a produção quanto a
recepção das mensagens da mídia.
Tratava-se de entender as relações da cultura de massa,
criada nos Estados Unidos ou a partir de modelos norte-
americanos com as culturas locais e tradicionais da América
Latina. Sobretudo havia uma preocupação com o receptor:
“na leitura” ─ como no consumo ─ não existe apenas
reprodução, mas também produção, uma produção que
questiona a centralidade atribuída ao texto-rei, explica
Martin Barbero em seu livro.
- SÁ MARTINO, 2014, p.183
Conceito de mediação
O pesquisador pretende recuperar o “popular” no debate comunicacional e trabalhar a comunicação, a partir da cultura,
lançando um conceito fundamental para os Estudos de Recepção: o conceito de mediação.
Entende-se, portanto, que se trata de um deslocamento da análise do meio de comunicação propriamente dito, para onde o
sentido é produzido, para o âmbito dos usos sociais, as mediações culturais da comunicação.
Barbero aponta três lugares fundamentais na mediação:
Clique nos botões para ver as informações.
A família é uma situação primordial de conhecimento e o bairro pode ser visto como “lugar” de reconhecimento. Trata-se
dos processos de reconhecimento com “lugares” de constituição de identidades, o que permitiu o melhor entendimento
das mediações que recon�guram os processos de recepção ao longo dos tempos.
A cotidianidade familiar 
A temporalidade social tem relação com o tempo do capital, a partir do qual o programa foi criado, e o tempo da
cotidianidade, no qual o conteúdo é consumido.
A temporalidade social 
Já a competência cultural representa a bagagem que o indivíduo carrega, fruto de sua existência, e que aciona na
decodi�cação.
A competência cultural  
O lugar privilegiado para a análise do processo de recepção é o cotidiano, dentro da lógica de Barbero, pois está na relação com
o próprio corpo até o uso do tempo, o habitar e a consciência do que é possível ser alcançado por cada um.
Estudar os con�itos, o hegemônico e o subalterno, o moderno e o tradicional, as mutações e as fragmentações dos públicos,
sem que se deixe cair em dualismo é a implicação do fenômeno coletivo, ao qual chamamos recepção.
"Boa parte da recepção está, de alguma forma, não
programada, mas condicionada, organizada, tocada,
orientada pela produção, tanto em termos econômicos como
em termos estéticos, narrativos, semióticos."
- BARBERO, 1997, p. 56.
Barbero propõe que há um processo de negociação de sentido nos modos de interação do receptor com o meio: a recepção é
um espaço de interação. Desse modo, não há uma comunicação se cada um, por exemplo, ler no jornal o que lhe der na
cabeça, livremente.
Isso signi�ca que esse espaço de interação se dá não somente com as mensagens, mas com a sociedade e com os outros
sujeitos. É pela circulação do discurso que se constrói o sentido dos produtos midiáticos.
Atividade
1. (TRT- 2015)
Do ângulo da rua, vê-se uma gigantesca mobilização de quatro milhões de pessoas ─ na qual há jovens, velhos, crianças,
pobres, ricos, classe média ─ que se encontraram nas ruas de São Paulo, unidos por uma solidariedade na esperança que nada
tem a ver com uma montagem: para mobilizar essa multidão, foi preciso algo mais, algo muito diferente da vontade
manipulatória de alguns meios massivos. Foi preciso justamente aquilo que os gritos da multidão testemunham nesses dias:
“Tancredo não Morreu, Tancredo está no povo", “Tancredo, um dia haverá pão para todos, como você queria".
Não foi um “país medieval" o que saiu às ruas, não foi um país de fanáticos e curandeiros, mas aquele mesmo povo que poucos
meses antes enchia as mesmas ruas exigindo as “Diretas Já", um povo em redescoberta de sua cidadania, reinventando a sua
identidade, num espetáculoque fundia festa e política, fazendo política a partir da festa. E ganhava voz na presença corporal e
no movimento de uma multidão. Mas isso foi totalmente ignorado por uma imprensa que, erigindo-se em crítica da massa, não
pode ver que continha e formava, que dava forma à massa.
(BARBERO, Jesús-Martín. Dos meios às mediações – Comunicação, Cultura e Hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
2013. p. 322)
Na perspectiva das mediações culturais, eventos como a morte de Tancredo Neves são recebidos pela imprensa com uma
pretensa racionalidade cientí�ca, mas são ressigni�cados pelo popular e sua forma particular de construção de conhecimento,
sendo, então, reapropriados na comunicação massiva. No caso descrito, como um exemplo latino-americano, o resultado é
uma narrativa:
a) racional.
b) moralista.
c) melodramática.
d) ilustrada.
e) factual.
 Assimetrias e negociações
 Clique no botão acima.
Ao reconhecer o poder como uma das chaves dos Estudos de Recepção, Barbero a�rma que se deve estudar as
assimetrias e negociações entre o autor e leitor e entre o leitor e autor.                 
Nesse sentido, a história pessoal, a cultura de um grupo, as relações sociais e as capacidades cognitivas são
mediações, mas também interferem no processo dos sujeitos e na maneira pela qual assistem à televisão, na sua
relação com os meios e com as mensagens veiculadas.
No Brasil, as obras de Barbero se difundiram a partir do programa de pós-graduação em Ciências da Comunicação da
USP, no �nal da década de 1980.
Pela Teoria das Mediações é possível compreender ou perceber como as condições de possibilidades históricas
latino-americanas interferem no processo de recepção. Pela teoria, o receptor não existe como massa ou público,
mas como indivíduos que vivem em sociedade.
A questão está em pensar mecanismos de uma cultura híbrida, como propõe Garcia-Canclini, outro importante nome
das pesquisas latino-americanas.
Néstor García Canclini
Em Canclini, há uma preocupação, a partir da Teoria das Mediações, em perceber o diálogo entre a cultura popular, de massa e
erudita.
O pesquisador argentino examina os modos de negociação do popular no processo cultural e político hegemônico para
avançar a discussão sobre as hibridizações culturais, no sentido de a�rmar uma autonomia relativa das culturas populares.
Para Canclini, a cultura popular não se deduz da cultura dominante. Com
forte in�uência de Antonio Gramsci e Pierre Bourdieu, Canclini acredita que
a constituição do habitus não se reduz à socialização na escola, na família e
as classes populares possuem modos próprios de ressemantizar a cultura
hegemônica.
Pode-se dizer que as mediações são complexas negociações de sentido entre a hegemonia de uma indústria cultural protegida,
que representa interesses econômicos, e um público mais ou menos preparado para enfrentá-la. A negociação se con�gura em
um confronto entre hegemonia e resistência na de�nição do sentido de uma mensagem.
 Ato consumista e “des-colecionamento”
 Clique no botão acima.
Néstor Garcia-Canclini, explica, em Consumidores e Cidadão (1999), como o consumo é o código de uma das
principais mediações. O consumo, de natureza simbólica ou material ganha importância por ser a referência ao
principal elemento: a mercadoria.
Para Canclini, a transformação do ato consumista no centro do modelo capitalista, fez com que todas as outras
práticas sociais se estruturassem pelo consumo de bens materiais e simbólicos. Uma das principais mediações é o
efeito da posse de uma mercadoria nas outras pessoas.
A centralidade de Canclini na área da comunicação reside na introdução do debate sobre a importância da articulação
entre comunicação e cultura, tanto em termos conceituais quanto empíricos.
O impacto de suas teorizações está nas análises e estudos sobre as relações entre comunicação e identidade
cultural e de ambas vinculadas ao consumo cultural.
Duas décadas de pesquisas culminaram com uma de suas obras mais importantes: Culturas Híbridas: estratégias para
entrar y salir de la modernidade (1990), que fora traduzida para vários idiomas.
Na sua proposta de discussão para a modernidade em âmbito latino-americano, repensa as mestiçagens e as
intersecções entre as culturas, a partir da noção de hibridização.
Para Canclini, é no processo de “des-colecionamento” (quando não mais se apartam rigidamente as coleções de artes
tidas como cultas e os objetos populares, em diversos locais, como museus, repertórios públicos etc.) que se trava um
diálogo intenso entre a cultura erudita, a popular, a de massa, possibilitando focalizar suas intersecções.
Nesse sentido, reorganizam-se vínculos entre grupos e sistemas simbólicos, e os “des-colecionamentos” e
hibridizações não permitem mais uma associação rígida entre classes sociais e estratos culturais.
Atividade
2.Leia a notícia “Atraídos pelo embalo do funk, jovens  de classe alta frequentam bailes em morros e vilas de Porto Alegre”,
publicada em 2013. Articule a matéria ao conceito de culturas híbridas, de Canclini.
Saiba mais
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Essa negociação entre o legítimo e o ordinário, proposto no âmbito das convenções sociais e principalmente, no que tange, a
reconsideração das identidades e dos produtos culturais, abriu para os estudos de Canclini uma nova proposta de análise das
realidades e dos processos culturais que se distancia da noção de pureza, antes imposta, para um olhar com interferência e
relação com os meios de comunicação.
O livro culmina em uma fragmentação e na multiplicidade de combinações que originam as tais culturas híbridas que defende.
Tanto no Brasil como em outros países da América Latina, as proposições de Canclini seguem dando norte a gerações de
pesquisadores. Suas teorizações constroem as bases para um pensamento de pesquisa latino-americano e, também, por se
voltarem, mais recentemente, para a problemática da cultura virtual.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Guillermo Orozco
Outro autor importante dentro da teoria das mediações é Guillermo Orozco Gómes. Mexicano de Guadalajara e especialista em
televisão, �rmou-se no campo da comunicação como um dos maiores pesquisadores dos processos de recepção.
A obra desse pesquisador sintetiza um esforço de aproximação entre comunicação e a educação.
Comentário
Televisión y producción de signi�cados (três ensayos) (1994) é considerada um ponto de in�exão na trajetória acadêmica de
Orozco, colocando-o na vanguarda dos estudos qualitativos de recepção, uma vez que conjuga o pensamento comunicacional
latino-americano com a visão anglo-americana sobre os processos pedagógicos e os estudos sobre as audiências.
Para ele, os Estudos de Recepção sobre a televisão devem abarcar uma compreensão mais integral da interação entre a
audiência, televisão e educação. Na genealogia de sua obra, tem-se, como uma das bases, a noção de mediação proposta por
Jésus Martín-Barbero.
A obra de Orozco apresenta a multiplicidade de representações e recon�gurações sociais, políticas e culturais que emergem de
um ecossistema comunicativo, cada vez mais amplo.
Ele parte do pressuposto de que a interação entre televisão e audiência se
constrói de modo complexo, multidirecional e multidimensional, a partir de
múltiplas mediações, de�nindo, assim, mediação como o processo de
estruturação vindo de ação concreta ou intervenção no processo de
recepção midiática, sendo que estas mediações se manifestam por meio do
discurso e das ações.
Sá Martino (2014, p. 184) lembra que, para Orozco, a mediação entre TV e Público, por exemplo, acontece nas práticas sociais,
ou seja, o cotidiano e a história são mediações fundamentais.
"As mediações são os conhecimentos e as práticas sociais
das pessoas. São estruturas simbólicas dinâmicas a partir
das quais é atribuído o sentido de uma mensagem em um
determinado momento no espaço e no tempo. As condições
materiais e simbólicas, nas quais o receptor está inserido e
que in�uenciama recepção de uma mensagem, são os
elementos responsáveis pelas reapropriações e
reconstruções levadas a efeito pelo receptor. Ver televisão ou
ir ao cinema é uma prática social. Mesmo sozinho diante da
tela, o telespectador mira a televisão com um olhar
carregado de referências."
- SÁ MARTINO, 2014, p. 184
 Polissemia da programação
 Clique no botão acima.
O olhar do pesquisador mexicano entende a polissemia da programação. A recepção estabelece a comunicação,
segundo Orozco. Para ele, a audiência comporta um desa�o pedagógico que nada mais é do que dar sentido a essa
multiplicidade de elementos, de mediações que contribuem, simultaneamente, tanto para entender os sujeitos-
audiências como para sua emancipação.
Orozco acredita que é possível alargar as fronteiras do conhecimento fomentando uma alfabetização televisiva que
permita aos sujeitos-audiência esgarçar seus horizontes referenciais, mas esse processo só ocorrerá se articulado a
um segundo âmbito, que ele de�ne como a “mediacidade” televisiva.
Ou seja, as audiências só constroem vínculos ou interatuam com a linguagem televisiva a partir dos �uxos próprios
desse meio. Portanto, por meio dos formatos, gêneros, grades e ofertas de programas, a audiência de�nirá o tempo
empregado e as condições deste para o consumo da televisão.
Vale ressaltar que a base para a construção das audiências ou processo de “televidência”, segundo Orozco, é formado
por um quadrilátero, constituído da:
1. Linguagem televisiva.
2. Mediacidade da televisão.
3. Tecnicidade.
4. Institucionalização.
Tem-se então, a partir disso, uma proposta teórico-metodológica que se propõe a explicar com clareza a complexidade
das audiências e a oferecer ampla gama de possibilidades instrumentais para a pesquisa em comunicação, sem
esquecer dos aspectos críticos essenciais.
É importante entender que não é o simples ato de receber a mensagem, mas reconstituí-la a partir das mediações. Os valores,
as ideias, os gostos acompanham o receptor.
"Essas diferenças de mediações estão no meio do espaço
entre o indivíduo e a tela. As mediações atuam
decisivamente na recepção da mensagem."
- SÁ MARTINO, 2014, p. 184
"Tal âmbito não pode ser visto separadamente da
problematização da tecnicidade televisiva e da sua dimensão
institucional, que completam o mencionado quadrilátero que
dá forma ao processo de “televidência”. A primeira alude à
tecnologia que constitui a televisão e, no entender de Orozco,
vai muito além da sua materialidade. Representa um espaço
de oportunidade, posto que o avanço tecnológico do meio ─
como a digitalização, por exemplo ─ permite explorar novas
capacidades perceptivas e de aprendizado da audiência. Por
sua vez, a ideia de institucionalidade põe manifestamente a
dimensão política da televisão."
- PERES-NETO, 2010, p.361
A partir da interconexão desses quatros pontos, o pesquisador mexicano a�rma que os sujeitos-audiências estão constituídos
por um processo de inter-relações baseadas no quadrilátero, a partir de um consumo muito além da materialidade do ver, do
ato de assistir à televisão.
Atividade
3. Assista a um trecho do �lme O show de Truman e analise as sentenças abaixo:
I – O trecho nos permite pensar sobre a linguagem ─ um dos elementos do quadrilátero de Orozco ─ sendo similar a um reality
show exibido 24h por dia, em uma cidade inteiramente construída para esse �m.
II – A personagem Silvia poderia ser encarada como um sujeito-audiência que constrói um vínculo/interação com a linguagem
televisiva em questão, indo na contramão da maior parte dos receptores.
III – Não é possível relacionar o fato de Truman não ter ciência de que ele era um personagem em um show à dimensão da
institucionalização, proposta no quadrilátero de Orozco, pois isso não envolveria uma questão política.
Marque a opção com as sentenças corretas:
a) Apenas a I está correta.
b) Apenas a II está correta.
c) I e II estão corretas.
d) I e III estão corretas
e) Todas estão corretas.
O pensamento de Orozco reverbera no trabalho de inúmeros pesquisadores brasileiros como Maria Immacolata Vassalo, Maria
Aparecida Baccega, Adilson Citelli, Ismar Oliveira e Nilda Jacks.
O pesquisador mexicano apresenta a televisão como um meio aliado dos educadores e, em suma, reivindica a importância da
construção de uma educação para o consumo da televisão, razão pela qual defende a necessidade de situar os receptores na
transitoriedade dos sujeitos-audiências, cujo processo de atribuição de sentido ao televisivo vai além do mero ato de assistir à
televisão.
 Resumo
 Clique no botão acima.
Vimos, nesta aula, o início institucional da pesquisa na América Latina, com os Centros de Pesquisa organizados, a
partir do �nal da década de 1950 até os anos 1980, e as diferentes orientações propostas por eles.
Destacam-se, portanto:
Ciespal em Quito.
Instituto Venezuelno de Investigaciones de Prensa (ININCO), na Venezuela.
CEREN, no Chile.
ILET, no México.
A partir da década de 1980, a proposta de repensar as peculiaridades do contexto-histórico cultural latino-americano
em que se inserem os processos comunicacionais, bem como a aproximação entre comunicação e cultura, resultou
em um interesse pelos receptores, públicos e audiências, mudando o olhar da investigação e dos estudos da
comunicação na América Latina.
De modo pouco mais especí�co, entendemos que três aspectos se destacam nas pesquisas em comunicação, a partir
dos Estudos Culturais:
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1) O desenvolvimento de um tipo de investigação sobre as audiências ou sobre o processo de recepção.
2) A crítica a uma compreensão da comunicação como um fenômeno centrado nas próprias tecnologias de
comunicação.
3) A ampliação da concepção de cultura e valorização da cultura popular.
Atividade
4. (DataPrev 2012 – Comunicação Social)
Pensadores e pesquisadores das disciplinas de Ciências Humanas, como Filoso�a, Sociologia, Psicologia e Linguística, têm
dado contribuições em hipóteses e análises para o que se denomina “Teoria da Comunicação”, um apanhado geral de ideias
que pensam a comunicação entre indivíduos ─ especialmente a comunicação mediada ─ como fenômeno social.
Entre as teorias, destacam-se o funcionalismo, primeira corrente teórica, a Escola de Frankfurt e a Escola de Palo Alto. O
trabalho teórico na América Latina ganhou impulso na década de 1970, quando se passou a retrabalhar e transformar as
teorias anteriores. Assim, surgiu a Teoria das Mediações, de Jesús Martin-Barbero, que apresenta uma percepção
diferenciada para a relação existente entre emissor e receptor de determinada mensagem.
Marque a opção que representa a perspectiva de Barbero:
a) O receptor (público) aceita toda a mensagem transmitida pelo emissor.
b) O receptor analisa profundamente transmissão/dominação ideológica na comunicação de massa.
c) O receptor critica a dominação ideológica na comunicação de massa.
d) O público passa a ser também parte “participativa” do processo de comunicação de determinada mensagem.
e) O receptor tem consciência da mensagem recebida e só aceita o que deseja.
5. COMPERVE 2018
No campo da pesquisa e dos estudos da comunicação, a perspectiva teórica conhecida como “Estudos Culturais” tem por
abordagem central a questão:
a) do controle e regulação dos meios de comunicação.
b) da explicitação das funções dos meios de comunicação.
c) da produção de sentidos relativos aos conteúdos da mídia.
d) do funcionamento da radiodifusão pública.
Referências
BERGER, Christa. A pesquisa em comunicação na América Latina. In: HOLFELDT, Antonio e outros (Orgs.). Teoria da
Comunicação: Conceitos, Escolas e Tendências. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
CITELLI, Adilson e outros (Org.). Dicionário de Comunicação – escolas, teorias e outros. São Paulo: Contexto, 2014
ECOSTESGUY, Ana Carolina. Os Estudos Culturais. In: HOLFELDT, Antonio e outros (Orgs.). Teoria da Comunicação: Conceitos,
Escolas e Tendências. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
p
GARCIA-CANCLINI, Nestor. Consumidorese cidadãos. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999.
MARTIN-BARBERO, Jésus. Dos Meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.
MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria da Comunicação – Ideias, conceitos e métodos. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
Próxima aula
As características do conhecimento cientí�co;
O objeto da comunicação;
O conceito de paradigma.
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Con�ra a entrevista que o programa Roda Viva fez com Jésus Matin-Barbero.
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