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Admissibilidade recursal O CPC de 2015 trouxe uma mudança, até 2016 se você entrava com apelação e o juiz negasse sua apelação de plano, contra essa decisão do juiz de primeiro grau que negou seguimento da apelação, cabia um novo recurso, sendo ele agravo de instrumento, levando essa discussão para o tribunal. A grande mudança que o CPC promoveu foi: em regra o CPC de 2015 ele acabou com o duplo juízo de admissibilidade. Olhando para apelação quem passou a ter competência para analisar esse recurso é o tribunal o juiz de primeiro grau não faz nada, ele só analisa a apelação e manda para o tribunal. Pela sistemática do código continua protocolando o recurso em primeiro grau, mas encaminhando as razões para o tribunal, o juiz de primeiro grau apenas abre prazo para contrarrazões e encaminha os autos para o tribunal (órgão ad quem). E se, de maneira equivocada o juiz de primeiro grau que proferiu a sentença, quando vem a apelação ele não aceita a apelação e não encaminha para o tribunal, o que pode ser feito nesse caso? Essa decisão que ele profere, ele está usurpando competência que não é dele, pois é competência do tribunal admitir ou não admitir o recurso, e como estamos diante de uma decisão que usurpa competência do tribunal, o mecanismo processual para ser aplicado é a reclamação constitucional, é uma ação e não um recurso. Para o STJ e no STF continua tendo o juízo da duplo juízo admissibilidade para recurso extraordinário e recurso especial, quem analisa esses recursos e tanto o órgão a quo quanto o ad quem. Mas, para apelação admissibilidade e o mérito estão concentrados somente no órgão a quo, o órgão que irá julgar. Eu interponho recurso especial contra acordão do TJ de São Paulo, no tribunal de SP eles negam meu recurso, cabe reclamação constitucional contra isso? Não, pois não está havendo usurpação de competência, o Tribunal de SP tem admissibilidade para fazer a admissibilidade do Recurso Especial, mas o STJ pode fazer admissibilidade também e constatar que não era caso de admitir o recurso se assim ele entender. Requisitos de Admissibilidade Recursal: Classificação idealizada por Barbosa Moreira, que divide os requisitos em dois grupos: Intrínsecos: estão ligados a própria existência, se faltar um desses requisitos, o recorrente se quer tem o direito de recorrer. São requisitos cumulativos: 1- Cabimento: adequação entre o tipo de pronunciamento e o recurso interposto, é por esse requisito que se você interpuser um agravo de instrumento mas era apelação ele não será conhecido, pois falta cabimento. É aqui que aparece a fungibilidade recursal. 2- Legitimidade: existência de vínculo entre a pessoa, e a ação, então quem tem legitimidade para recorrer são conforme o artigo 996 é: as partes, o MP e o terceiro interessado. Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica. Parágrafo único. Cumpre ao terceiro demonstrar a possibilidade de a decisão sobre a relação jurídica submetida à apreciação judicial atingir direito de que se afirme titular ou que possa discutir em juízo como substituto processual. Obs. ação de alimentos, MP intimado só para dar parecer, e sai a sentença condenando o pai ao pagamento de 10 mil reais, o MP pode recorrer pedindo para diminuir o valor da pensão estipulada? Embora não seja comum, a doutrina entende que pode, pois a legitimidade do MP é autônoma e disjuntiva, significa que o MP como funciona como fiscal da lei, ele pode realizar esse recurso. Ex. Isa bateu no meu carro e entro com uma ação contra ela. Isa traz a seguradora para o processo, e se for condenada ao pagamento a seguradora já irá pagar. Caso a Isa for condenada a me pagar, e o juiz julgou procedente também o chamamento da seguradora para lide mandando ela restituir os valores para a Isa. A seguradora pode apelar dessa sentença? Sim, ela pode, porque ela é parte do processo. O recurso de terceiro, precisa mostrar nexo de interesse. É daquele que até então não estava no processo, entra no processo recorrendo, exemplo: Recurso interposto por litisconsorte necessário que não foi citado. Ação de usucapião que eu tenho que citar todos os vizinhos, mas o juiz citou apenas dois, faltando uma pessoa. Essa terceira pessoa que não foi citada fica sabendo desse processo, ela pode entrar no processo recorrendo, pois ela deveria estar no processo, o recurso que ela interpõe fora do processo, é um exemplo de recurso de terceiro. O terceiro interessado ele também pode recorrer, ele tem legitimidade para isso, independente do conteúdo desse recurso. A legitimidade recursal é uma noção em abstrato, e não em concreto. As partes sempre terão direito de recorrer, é algo em abstrato, já o interesse é uma noção em concreto dependendo das circunstâncias, pois você pode ter ou não interesse para recorrer. 3- Interesse Recursal: Extrínsecos: são aqueles ligados ao exercício regular do direito de regular, não é a própria existência de recorrer e sim ao exercício regular, se faltar um desses requisitos, você exerceu o seu direito que maneira inadequada. Faltando qualquer um dos requisitos intrínsecos ou extrínsecos o efeito é o mesmo, leva a mesma consequência ou seja, recurso não será admitido. 5- Inexistência de Fato Extintivo ou Impeditivo do Direito de Recorrer: para que o recurso caminhe para frente e tenha seu mérito julgado não pode ter havido renúncia ou desistência. Renúncia é um ato anterior ao recurso, renuncia ao direito de recorrer, já a desistência é um ato posterior ao recurso. Tanto a renúncia quanto a desistência recursal independem de aceitação da parte contrária, são atos unilaterais. Há alguns anos aconteceu um problema, um julgamento do STJ que gerou impacto a posto do CPC de 2015 trazer um dispositivo (998, p.u) que de algum modo mitiga essa ideia de que a desistência é um ato unilateral e não precisa de mais nada. Era um caso envolvendo discussão bancária, onde o tribunal condenou o banco a pagar, e o banco entrou com recurso especial para o STJ para levar a discussão para o STJ. O recurso especial já havia sido interposto e depois o banco percebeu que o relator tinha sido um Ministro pró consumidor, contra banco e que provavelmente iria perder para o STJ também. Desta forma, para evitar um julgamento do STJ com força de precedente que pioraria a situação do banco, o banco desiste do recurso para o STJ não julgar, o banco atravessou uma petição dizendo que desiste do recurso e cai com uma ministra que deu uma decisão falando “neste caso eu não concordo e não admito a desistência do banco, o recurso será julgado de qualquer maneira, pois passou a ser uma questão de interesse público e não só particular”. O que estava por traz era essa ideia de que, “agora que vou fixar um precedente, você vai impedir que eu faça isso?”. Art. 998. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos. A ideia deste artigo é de que, toda vez que tiver um recurso que já foi indicado para formar um precedente vinculante, seja pelo STF reconhecer a repercussão ou pelo STJ reconhecer repetitivo, a sua desistência não impede o julgamento deste recurso. O CPC mitigou o direito de se desistir desse recurso. 5- Tempestividade: esse é o mais fácil de se visualizar, é a ideia de que para que seu recurso seja admitido ele tem que ter sido interposto dentro do prazo correto. Embora a ideia seja simples algumas questões precisam ser abordadas. A regra geral de prazo éque o recurso tem que ser interposto dentro do prazo de 15 dias úteis, a lógica é, não contando sábado, domingo e feriado. Como fica a questão de feriado local, conta ou não conta? Ex: tenho 15 dias para apelar da sentença proferida pelo juiz da 2ª vara civil de Presidente Prudente, e cai bem entre o dia 14/09 aniversário da cidade, conta o dia 14 como um dia útil ou não? Art. 1.003, § 6º. O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso. A existência de feriado local deve-se levar em conta o local onde o ato deva ser praticado, ou seja, como o local onde é praticado o ato de interposição de apelação é Presidente Prudente, no caso do exemplo, o dia 14/09 será considerado um dia não útil, devendo então juntar o comprovante de feriado local. Já no caso de agravo de instrumento que é praticado em São Paulo, o dia 14/09 será considerado um dia útil. Ex: está advogando em Presidente Prudente, chega dia 14/09, o advogado nem vai para o escritório, mas tem um processo que está correndo em Brasília no STJ, que saiu uma decisão onde abriu um prazo para propor embargos de declaração contra aquela decisão do ministro do STJ. Esse ato tem que ser praticado em Brasília e o 15º dia caiu dia 14/09, desta forma, o dia do feriado será o último dia e não o primeiro dia útil seguinte do dia 14/09. Mesmo que comprove que era feriado em Prudente neste dia, será totalmente irrelevante. A jurisprudência do STJ é no sentido de que o momento para comprovar a existência de feriado local é apenas no ato da interposição do recurso, se você deixar para juntar só depois não valerá. O recurso interposto antes do início oficial da fluência do prazo é sim tempestivo, ou seja, o recurso prematuro deve ser considerado tempestivo, dentro do prazo. Por incrível que pareça até pouco tempo entendia-se no STJ se você interpõe recurso antes do prazo, ele estaria fora e não seria reconhecido. 6- Preparo: uma taxa recursal, uma espécie do gênero tributo. As normas que regulamentam o preparo são normas estaduais, normas locais. Qual valor de custas/preparo de uma apelação? Vai depender do estado em que você está, por exemplo no estado de SP uma apelação a taxa é de 4% sobre o valor da condenação (se houver) se não sobre o valor da causa. Cada recurso possui seu critério de taxa, de custas. Fazenda Pública, MP, Defensoria, Beneficiário da Justiça Gratuita, essas pessoas não precisam recolher o preparo. CPC regulamenta que se não haver o recolhimento de preparo o tribunal deve intimar o recorrente dando um prazo para recolhimento em dobro. Não pode o tribunal inadmitir o recurso sem preparo de plano, existe o direito da parte recorrente de complementar o preparo, ou ainda que pague em dobro. Uma vez que não haja o pagamento do preparo e intimido para pagamento em dobro, sendo requisito de admissibilidade o tribunal não irá admitir o recurso por falta de preparo, sendo um requisito de admissibilidade (recurso deserto/deserção recursal). 7-Regularidade formal: temos um requisito mais genérico/amplo, que serve para englobar várias outras formalidades de cada recurso em espécie. Ex. o recurso deveria ter sido interposto de forma oral e não foi. Formalidades exigidas para cada recurso especificamente. Toda vez que você for recorrer agravar, apelar, dentre outros, é crucial para que seu recurso seja admitido, que você cumpra o princípio da dialeticidade recursal (você que estava confeccionando o recurso, você precisa enfrentar os fundamentos da decisão atacada). O princípio da dialeticidade, previsto no art. 514, inciso II, do CPC, aplicado subsidiariamente ao processo do trabalho por força do art. 769 da CLT, estabelece a necessidade de a parte impugnar expressamente as razões de decidir expostas na decisão objeto da insurgência. Não estamos falando dos recursos em espécie, o recurso adesivo na verdade é denominado pela doutrina como forma de interposição adesiva dos recursos. Recurso adesivo não é um tipo de recurso e sim uma forma de interposição de alguns recursos. Ex: A ajuíza uma ação contra B cobrando 1 milhão de reais e ao final do procedimento o juiz julga parcialmente procedente e condena o réu ao pagamento de oitocentos mil reais. Nesse caso tanto o autor quanto o réu tem interesse em apelar da sentença. O prazo dos dois para apelar, em regra, será concomitante. Se o autor não quer apelar para transitar em julgado e receber o que é dele de direito, pode, mas ainda tem a possibilidade da parte ré recorrer e se assim for, não irá transitar em julgado e o autor pensando que se for para demorar lá no tribunal, também irá apelar, por medo. A lei permite que o autor não apele por medo da outra parte apelar. Se a parte autora não apelou e a parte ré sim, o autor será intimado para apresentar as contrarrazões e nesse período, além de apresentar resposta as contrarrazões, a lei permite que ele apele de maneira adesiva, o recurso irá ficar junto, de forma adesiva com o recurso da parte ré. O recurso adesivo serve para evitar que uma parte recorra apenas por receio da outra parte recorrer. Só cabe recurso adesivo cumpridas três condições: 1- Só cabe RA se houver sucumbência reciproca. Os dois perderam, os dois tem interesse em recorrer, porque os dois de certa forma foram prejudicados pela sentença; 2- Existência de recurso da parte de contrária; 3- Somente cabe interposição adesiva na apelação, no recurso especial e no recurso extraordinário. Agravo de instrumento não admite recurso adesivo, mesmo tendo sucumbência reciproca, pois só cabe adesivo nas modalidades de recursos citadas acima. Há na doutrina quem sustente a possibilidade de agravo de instrumento adesivo quando se tratar de decisão interlocutória de mérito. Qual é o momento para interposição do recurso adesivo? o momento para se interpor é o prazo das contrarrazões. O recurso adesivo fica processualmente subordinado ao recurso principal, a lógica é, se você recorreu de maneira adesiva, depois do prazo das contrarrazões, por exemplo, pediu 100 mil ganhou 90 mil, a outra parte recorreu agravando, ai você recorreu de forma adesiva para ganhar 100 mil. O recurso do réu foi inadmito por falta de requisito de admissibilidade, nesse caso o meu recurso adesivo também é inadmitido, pois ele é processualmente subordinado ao recurso principal. O sistema presumo que seu eu recorri de maneira adesiva eu deva me contentar com a decisão dada. O fato de dizer que o recurso adesivo está subordinado ao principal, não significa que o adesivo dispense os preenchimento dos requisitos de admissibilidade. Mesmo que interponha de maneira adesiva minha apelação, eu tenho que preencher os requisitos de admissibilidade do recurso adesivo. Pode ser que o tribunal inadmita o meu recurso adesivo e o principal segue normal. Mas no caso do principal ser inadmitido, o meu adesivo será também, mesmo que ele esteja perfeito. Então, é melhor utilizar outra espécie de recurso. Essa subordinação é meramente processual (conhecimento do recurso), e não material, não há subordinação de conteúdo, o recurso principal do réu falou sobre o tema x, a minha adesivo pode falar sobre y e z, isso não irá interferir. Somente ocorre que, uma vez inadmitido o principal o meu adesivo é inadmitido também, mais não por questões materiais. RECURSOS EM ESPÉCIES Apelação (art. 1009 e seguintes, CPC) Até 2016, durante a vigência do CPC, tínhamos uma regra que estipulava que, diante de uma sentença caberia apelação. Diante de uma decisão interlocutória, caberia agravo, podendo este ser de duas formas: de instrumento ou retido. Se houvesse necessidade de impugnar e levar a questão diretamente ao tribunal,de forma urgente, cabia o agravo de instrumento. Exemplo: Pedido de tutela antecipada de medicamento, juiz nega por entender que não há fumus boni iuris. Necessário que seja reexaminado pelo tribunal, de forma urgente. Nesse sentido, cabia agravo de instrumento dessa decisão interlocutória. “Instrumento” porque tirava cópia do processo e enviava ao tribunal enquanto os autos ficavam em primeiro grau. Se não houvesse necessidade de impugnar no momento, caberia o agravo retido, um recurso protocolado em primeiro grau e, como o próprio nome sugere, ficava preso/retido nos autos, com o objetivo de evitar preclusão. Exemplo: Juiz recusa testemunha, para não precluir, era recorrido no prazo do agravo (10 dias na época), protocolado e o processo seguia. Se após um ano com a sentença, ao apelar desta, era possível pedir ao tribunal para analisar o agravo retido nos autos. “Tem um agravo retido que precisa ser analisado”. Tribunal analisava o recurso retido e poderia entender de plano e mandar ouvir a testemunha. Nesse sentido, o CPC/15, ao tentar aprimorar os recursos, ele extinguiu o agravo retido (não existe mais!) e traz um rol supostamente taxativo no art. 1015 do CPC de quais decisões interlocutórias são passíveis de agravo de instrumento. Contra decisão interlocutória pode caber agravo de instrumento se estiver presente no art. 1015 do CPC. Exemplo: Decisão sobre tutela provisória (indefere tutela antecipada). Com essa mudança legislativa, hoje temos decisões interlocutórias que podem não ter presentes no art. 1015 e, nesse sentido, existem decisões interlocutórias não agraváveis. Exemplo: Decisões que cabiam agravo retido. Decisão que indefere perícia, decisão interlocutória. Qual o recurso cabível nessa hipótese? A apelação é o recurso cabível contra sentença e contra as decisões interlocutórias não passíveis de agravo de instrumento (que não estão no art. 1015). Art. 1.009. Da sentença cabe apelação. Regra geral. §1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento (exemplo decisão que indefere uma prova), não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões. Um dos dispositivos mais relevantes do CPC. Sentença, 15 dias para apelação, na própria apelação pode ser impugnado a sentença e aberto tópicos para impugnar decisões interlocutórias proferidas durante o processo que prejudicaram e que não cabiam agravo. O que o legislador quis dizer da expressão “não são cobertas pela preclusão”? Há duas interpretações possíveis: 1. A expressão não significa que as questões não irão precluir. Preclui sim, mas deve ser impugnada nas apelações e contrarrazões. “Não são cobertas imediatamente pela preclusão”, ou seja, o juiz negou a perícia, pode relaxar, porque não preclui. 2. “E devem ser suscitadas”, não somente mencionada. No antigo CPC faria sentido mencionar, porque foi feito um agravo retido. Mas agora deve ser fundamentado/argumentado o motivo/prejuízo. O legislador usa a palavra “suscitada” no sentido de que deve ser recorrido. O CPC cogita, também, a possibilidade que recorra nas contrarrazões. Para aquele que ganhou o processo não cabe apelação, mas caso a outra parte apele, é nas contrarrazões o momento para impugnar as decisões interlocutórias desfavoráveis. Por ser um recurso, pode não preencher os requisitos de admissibilidade. Decisão do STJ sobre a mitigação do art. 1015 do CPC, no sentido de que este pode ser mitigado desde que demonstrado que a matéria, se não for julgada naquele momento, não fará sentido ser julgada em outro. Desse modo, deve levar ao tribunal (devolver efetivamente) a matéria, demonstrando uma série de razões que justifique a decisão ter sido errada. Não um erro de juízo, mas de procedimento. Aula dia 16/08 – Ligeiro Efeitos da Apelação a- Devolutivo: qual é a consequência da interposição do recurso de apelação? Temos vários efeitos, sendo o primeiro o devolutivo. Consequência de se devolver/levar ao conhecimento do tribunal a matéria ou as matérias que foram decididas em primeira instancia e que precisam ser revistas pelo tribunal, essa é a primeira consequência/ efeito do recurso de apelação. “Tantum Devolutum Quantum Appelatum” Essa expressão significa tanto se devolve quanto se apela, está em latim pois remonta o direito romano em processo civil. O efeito devolutivo também está relacionado a devolver ao tribunal aquilo que se apela na sua extensão, ou seja, o que será devolvido para o tribunal conhecer, toda matéria de debate, e se a demanda tiver vários pedidos, quantos pedidos vamos devolver? Na verdade o efeito devolutivo está intimamente relacionado ao um princípio chamado dispositivo, significa dizer que vamos levar ao tribunal apenas aquilo que a parte entender que deva ser levado (quem dispõe de alguma coisa tem a liberdade de levar/pedir isso ou não). Ex. imagine uma ação indenizatória que tenha dois pedidos, um pedido de danos morais e materiais, a ação foi julgada procedente, concedido os danos matérias mas os danos morais ficaram bem abaixo daquilo que a parte pediu. O autor tem interesse recursal nesse caso? Sim, mesmo que os pedidos foram acolhidos, mas um deles ficou abaixo do que foi pedido, então ele terá interesse. O autor vai ao tribunal e devolverá apenas um pedido, o pedido relacionado aos danos morais e ainda a quantificação dos danos morais. Só estou devolvendo ao tribunal aquilo que é objeto da quantificação. Está sendo devolvido apenas a reanálise da quantificação desses danos. Qual será a profundidade dessa análise? O que o tribunal terá que analisar para conceder esse pedido? Reanalisará tudo o que toca o dano moral, todas as provas pertinentes a esta dano. Então o tribunal terá uma profundidade enorme, podendo reanalisar o que quiser no tocante ao dano moral. Esta relacionando quanto a extensão quanto a profundidade das matérias. Ex. ação de cobrança e o réu na contestação alega prescrição e pagamento (duas matérias). O juiz julga e acolhe, afastando as duas teses do réu e acolhendo o pedido do autor. O réu apela e pedindo a improcedência, mesmo que o juiz não tenha analisado uma daquela duas matérias (prescrição ou pagamento) o que será devolvido ao tribunal? Na sua extensão será aquilo que levaremos e na sua profundidade todas as matérias. Ex. se tivermos em falta uma apelação de sentença terminativa que em primeira instancia o processo foi extinto sem resolução do mérito, por ilegitimidade de parte. O autor apelar dizendo que é parte legitima. O tribunal vai receber qual matéria? A matéria da legitimidade, não houve análise em primeira instancia sobre o direito propriamente dito. Nesses casos, como ficam o efeito devolutivo? O Tribunal pode julgar de duas maneiras: primeiro reconhecer a legitimidade e devolver para que seja proferida nova decisão, ou ele pode, se existirem elementos suficientes provas já produzidas e a causa estiver madura, ele já pode decidir o mérito. A devolutividade na sua extensão em tese é pequena, porque só diz respeito a legitimidade, mas o tribunal reanalisando e vendo a causa madura, pronta para julgamento é porque existe elementos de cognição, que forma produzidas em primeira instancia, e o tribunal pode conhecer porque está sendo devolvido tudo para ele. Em relação ao efeito devolutivo: Extensão: a frase em latim está relacionado a extensão, ou seja, se devolve ao tribunal aquilo que se apela. Profundidade: na profundidade o juiz/tribunal pode conhecer todas as matérias dentro daquilo que foi devolvido na extensão. Demonstrar urgência e relevância damatéria conseguimos que aquela decisão seja revista pelo tribunal, em que pese essa decisão (reabertura da fase instrutória) não possa ser agravada pelo art. 1.015. b- Suspensivo: outro efeito da apelação é o efeito suspensivo. Uma sentença já passa a surtir efeito quando ela é disponibilizada, ou seja, quando ela é juntada nos autos. Agora a partir de quando começa a conter prazo para recurso é outra coisa. O recurso de apelação quando interposto tem força suficiente para suspender essa decisão? Regra: o recurso de apelação tem efeito suspensivo. Exceções: art. 1.012, §1 A decisão adotada vem pelo processo e ela é inerte. Agora, quando não haverá efeito suspensivo? Existe exceções: Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo. § 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: I - homologa divisão ou demarcação de terras; II - condena a pagar alimentos; III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV - julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V - confirma, concede ou revoga tutela provisória; VI - decreta a interdição. A partir da publicação esses efeitos já serão produzidos, a partir do momento que a decisão vem para o processo. Então a regra, é o efeito suspensivo, interpôs apelação haverá o efeito suspensivo. Será que existe a possibilidade de nas situação de que não tem efeito suspensivo, pedir tal efeito? A sentença que condena a pagar alimento não tem efeito suspensivo, ou seja, já tem que pagar alimentos desde quando foi publicada a decisão. § 3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1º poderá ser formulado por requerimento dirigido ao: I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; II - relator, se já distribuída a apelação. Ou seja, é possível fazer um pedido de efeito suspensivo. § 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. Esses § nós mostram quais são os requisitos para pedir o efeito suspensivo, nas hipóteses em que não há efeito suspensivo. Saiu a decisão para pagar alimentos c/c conhecimento de paternidade? Na prática temos que apelar a nas próprias razões recursais, se traz toda a matéria e realiza o pedido de efeito suspensivo, podendo ser dirigido para o tribunal, podendo fazer uma petição a parte a mandar para o tribunal, mesmo que a apelação não tenha subido para o Tribunal ainda. Ou fazer para o relator. Imagine que nesta ação de paternidade com alimentos já tenha sido julgado o recurso anterior (uma das partes interpôs agravo por não ter sido concedida tutela antecipada), mas houve uma câmara preventa que já prevê essa tutela, e se vier essa sentença, o pai já pode pedir o efeito suspensivo por essa câmara preventa, que está com o agravo. Existe alguma forma de buscar decisão que não tenha efeito suspensivo? Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo. § 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: V - confirma, concede ou revoga tutela provisória; Ex. ação de danos materiais e morais e tudo está levando pra uma procedência, o autor precisa de um tratamento fisioterápico. Assim que encerra a instrução, o advogado do autor faz o pedido de tutela de evidência. O juiz pode conceder na sentença essa tutela de evidência? Pode, e essa parte da sentença no qual ele decide sobre a tutela de evidência não terá efeito suspensivo. O Juiz pode na sentença conceder essa tutela de evidencia? Essa parte da sentença que tenha a concessão da tutela de evidencia não terá efeito suspensivo, quando ela for publicada o réu terá que cumpri-lá. O recurso de apelação é interposto em primeira instância, contrarrazoado em primeira instância mas só o tribunal que fara o juízo admissibilidade. c- Regressivo: uma vez interposta a apelação ela produz efeito regressivo, ou seja o juiz pode voltar a atrás da sua decisão? É a possibilidade do juiz rever sua decisão. O agravo de instrumento tem esse efeito muito bem caracterizado, sempre é possível. Na apelação o juiz não pode se retratar, mas existe exceções. Art. 332 (procedência liminar do pedido) §3. § 3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias. Neste caso, haverá efeito regressivo, podendo ele se retratar, bem como nas hipóteses de sentença terminativa. Apesar de não ter como regra o efeito regressivo, em algumas situação haverá essa possibilidade. O artigo 331 prevê o efeito regressivo da apelação e o 332, §3º também, como exceções. Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se. d- Translativo: mudar de lugar, o efeito translativo está relacionado as matérias de ordem pública (ou seja, o tribunal poderá conhecer todas as matérias de ordem pública), mesmo que a parte não cite/fale de ordem pública todas elas estarão sendo transferidas para o tribunal. Todas as matérias de ordem pública podem ser conhecidas a qualquer grau e a qualquer tempo. Ex. o tribunal pode reconhecer uma ausência de legitimidade não alegado pela parte, pois é matéria de ordem pública. Procedimento da Apelação Esse procedimento é bifásico, temos duas fases, o que corre em primeiro grau, e a maior parte da apelação que corre em segundo grau no tribunal. Proferida uma sentença abra-se o prazo de 15 dias para interposição de apelação que se dá em primeiro grau, dirigindo ao juiz que proferiu a sentença. O juiz de primeiro grau irá intimar a parte contrária (apelada) para apresentar contrarrazões (argumentar que a sentença deve ser mantida) também no prazo de 15 dias úteis. Feito isto, apresentada as contrarrazões o juiz de primeiro grau deverá encaminhar os autos para o tribunal independentemente de admissibilidade. Juiz de primeiro grau simplesmente processa a apelação naquela primeira parte, e depois encaminha para o Tribunal, o juiz de primeiro grau não analisa nada. Obs. as vezes esse procedimento de 1 grau, pode ganhar algo a mais, um detalhe a mais, É possível que no prazo das contrarrazões da apelação, a parte apelada (recorrida) nesse momento ela interponha recurso, podendo ser dois tipos de recursos: recurso adesivo (quando houver sentença parcial, ou reciproca), mas também pode ter a interposição nas contrarrazões recurso contra decisão interlocutória (ex. o juiz indeferiu meu pedido de perícia). Se nas contrarrazões o apelado interpôs um recuso junto o juiz tem que abrir prazo, intimar novamente, para agora apresentar contrarrazões. Cada tribunal tem seu regimento, mas geralmente é dividido em duas seções, a de direito público e de direito privado e cada seção é composta por diversas câmaras (se usa para tribunal estadual) ou turmas (se usa para tribunal federal). Cada câmara é composta por desembargadores, no STJ e no STF é ministros. Em regra seu recurso será julgado por três desembargadores. Por regras do regimento interno quando sai o relator você consegue saber quais são os outros dois desembargadores que participaram do julgamento. Apelação chegou no tribunal foi distribuída, meu caso está na mão do desembargador X que é o relator da 3ª câmara de direito privado, quais são os poderes que esse relator tem, o que ele pode fazer monocraticamente? Art. 932 do CPC – dispositivo muito relevante, porque ele não é especificopara apelação, qualquer recurso que chega no tribunal, caído na mão do relator, desembargador as medidas que ele pode tomar estão neste artigo. Primeira coisa que esse desembargador, relator terá que fazer o juízo de admissibilidade. Contra decisão do relator que nega conhecimento do recurso de apelação cabe o que? Cabe agravo interno, conhecido como agravo regimental. O agravo interno você já antecipa a ida disso para o colegiado. E se por acaso quem inadmitiu a apelação foi o juiz de primeiro grau? Não cabe agravo de instrumento, e aqui se o juiz de primeiro grau equivocadamente inadmite o recurso de apelação, o mecanismo para isso é propor uma ação paralela no Tribunal de Justiça, chamada de reclamação constitucional, cuja a discussão não é você falar que o juiz errou e que está dentro do prazo e sim dizer que o juiz está usurpando a competência do Tribunal, pois não é competência dele, pedirá o julgamento procedente sobre a usurpação de competência para que suba para o Tribunal. Art. 932. Incumbe ao relator: I - dirigir e ordenar o processo no tribunal, inclusive em relação à produção de prova, bem como, quando for o caso, homologar autocomposição das partes; II - apreciar o pedido de tutela provisória nos recursos e nos processos de competência originária do tribunal; III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida; IV - negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; VI - decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for instaurado originariamente perante o tribunal; VII - determinar a intimação do Ministério Público, quando for o caso; VIII - exercer outras atribuições estabelecidas no regimento interno do tribunal. Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível. Além de analisar o juízo de admissibilidade, o desembargador sozinho que ele pode tomar é analisar o pedido de efeito suspensivo/ativo ao recurso. Cabe recurso contra decisão do relator que nega efeito suspensivo? Cabe agravo interno também para relator que indefere efeito suspensivo. Questão O relator desembargador pode julgar o mérito do recurso? R: É possível que até mesmo o julgamento de mérito (provimento ou improvimento) do recurso se dê de maneira monocrática. Se a sentença estiver em contrário com o precedente, o desembargador pode dar ou negar provimento a apelação por envolver precedente vinculante. Julgamento de precedente vinculante, são determinados tipos de julgamento que pela lei possuem força maior, de vincular os demais juízes. Se não for caso de julgamento monocrático nem de precedente vinculante, o relator prepara o voto e deixar pronto para ir pra julgamento, solicita a presidência a inclusão daquele recurso na pauta de julgamento, as partes são intimadas (aquela intimação que diz que o processo número tal foi incluído na pauta tal etc.) sendo possível solicitar sustentação oral. Logo após a sustentação oral acontece então o julgamento. O que geralmente acontece é que eles proferem o acordão (julgamento colegiado). Feito o julgamento, o normal é o relator lê seu voto e os outros dois dizerem “sigo o relator”, ou seja, 3x0, vai esperar sair a intimação, e desse acordão pode haver recurso especial. Mas pode acontecer no julgamento da apelação, ao invés de ser 3x0, ser 2x1. Até 2016 acabava o julgamento do mesmo jeito, e se ninguém recorresse transitava em julgado, o CPC de 2015 trouxe no art, 942 que se o julgamento da apelação for por maioria o julgamento não termina, ele irá continuar ampliando-se o colegiado, chama-se mais dois desembargadores, sendo agora o total de cinco desembargadores. Aula dia 23/08 Somente caberia embargos infringentes se fosse um julgamento não unânime, ou seja, por maioria, 2x1 que reformasse a sentença. Ex. juiz de primeiro grau condenou o réu ao pagamento de danos, o réu apela, o Tribunal por 2 a 1 dão provimento a apelação entendendo que não há dano moral. Você tinha um juiz de primeiro grau que entendi que era casa e três desembargadores, mas dois entendiam que não era caso de dano moral, e um dos desembargadores entendia que era caso de dano mora. Então, ficaria 2x2, cabendo embargos infrigentes. Se fosse 2x1 para configurar que existe dano moral, teríamos improvimento da apelação por maioria, dois desembargadores mais o juiz de primeiro grau entenderam uma coisa, então ficaria 3x1, não cabendo embargos infringentes. Hoje essa técnica de ampliação do colegiado, do art. 942, se aplica a toda e qualquer situação, qualquer julgamento não unânime, não importa o resultado, continua o julgamento, não importa essa regra de 2x2 ou 3x1. Falar de agravo, portanto falar de recurso contra decisões interlocutórias é falar de algo mais amplo, que é sistema de recorribilidade das interlocutórias. Quando se vai pensar num determinado processo civil de um país, o legislador precisa enfrentar um grande dilema, e aí cada sistema, Pais, tem o seu sistema. Precisamos ao montar o processo civil, no ponto de vista legislativo, enfrentar a seguinte questão, será que é bom ou ruim estabelecer recursos para a decisão do juiz? Será que temos que adota um sistema de ampla recorribilidade das interlocutórias ou ampla irrecorribilidade das interlocutórias? No Brasil temos ideias de irrecorribilidade, em casos que a lei diz que não cabe recurso, como no caso do Juizados Especial, essa lei não prevê o agravo contra decisões, a justiça do trabalho também tem essa lógica. Mas temos outro extremo que adota a recorribilidade ampla das interlocutórias, todas as decisões que o juiz dá no meio do processo são recorríveis, é uma opção legislativa válida. Tudo o que acontece antes da sentença, cabe agravo de tudo. Na origem do CPC de 73 (revogado) quando ele entrou em vigor, ele adotava um sistema de recorribilidade ampla das interlocutórias, TODAS as decisões interlocutórias antes da sentença poderiam ser objeto de agravo. Percebeu-se ao longo do tempo que isso era uma loucura, pois você tinha um TJSP que só julgava agravo e apelação que é o grande recurso que discute o mérito ficava parada, esperando 5,6,8 anos para ser julgado, pois em um único processo poderia ter uns 30 agravos, então o processo não andava. Após inúmeras reformas que o CPC antigo passou sobre o agravo, tentando otimizar essa ideia, nós chegamos hoje no artigo 1.015 do atual CPC. O artigo 1.015 mitiga/restringe a recorribilidade das decisões interlocutórias, do ponto de vista doutrinário, hoje no processo civil brasileiro adota um sistema de recorribilidade mitigada/restrita das interlocutórias, não é amplo e não é irrecorrível. Traz um rol supostamente taxativo, de quais são as decisões interlocutórias que o legislador diz que cabeagravo, fora desse rol a princípio não cabe agravo, você terá que esperar sair a sentença e apelar após a sentença. Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; – Decisão que concede, decisão que nega, decisão que reforma/revoga tutela, decisão que posterga a análise da liminar, cabe agravo; II - mérito do processo; - Geralmente quando tem dois pedidos o juiz julga um deles antes, ex. pedi dano moral e dano material, o juiz já julga improcedente o dano moral, como não coloca fim ao processo não é sentença e sim decisão interlocutória de mérito. Já se cometeu o erro do advogado deixar passar e esperar sair a sentença, querendo apelar o dano moral e o dano material, só que já precluiu o direito do autor sobre o dano moral pois deveria ter colocado agravo, se não interpôs no momento, já era, perdeu, o processo seguirá somente para o dano material. O ou juiz fala que tal parte do processo está prescrito, que o processo seguirá somente com o restante, é uma interlocutória, cabe agravo. Você deve interpor em 15 dias agravo para o tribunal analisar que não está prescrito. III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; - entro com uma ação contra a Isa discutindo um contrato, a Isa vem na contestação e uma das tesas dela que é ré, diz: juiz você não pode julgar esse caso, porque nosso contrato tem uma cláusula de arbitragem. Deu conflito no contrato e eu entro contra a Isa, e ela alega que não pode, porque no contrato diz que se der conflito tem que ser por meio de arbitragem. Aí vem o juiz, recebe a contestação da ré (Isa), e dá a seguinte decisão: rejeito/afasto a alegação da ré que o processo deve tramitar na arbitragem, ou ele entende que a cláusula de arbitragem é nula. Posto isto, contra decisão que rejeita a alegação de arbitragem cabe agravo. Porque se o juiz acolhe essa tese de arbitragem, estaríamos diante de uma sentença, cabendo então apelação, Ex. acolho a alegação do réu, reconheço a existência de clausula arbitral e extingo o processo. IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; - se tiver um processo andando que o autor quer trazer um sócio, receber algo de uma empresa, mas há elementos de fraude, aí o autor da ação que tem crédito contra essa empresa e não consegue receber, ele chama o sócio dessa empresa para tentar receber do patrimônio pessoal desse sócio. Contra essa decisão que acolhe ou rejeita a desconsideração da personalidade jurídica, cabe agravo. V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; - Decisão que indefere a gratuidade, o cliente não tem condições de arcar com as custas do processo e o juiz vai lá e nega, eu entro com agravo. Pode discutir na contestação a gratuidade da outra parte. Mas, cabe agravo contra decisão do juiz que concede a gratuidade para a outra parte? A decisão que concede a gratuidade, deve se discutir na apelação, pois só cabe agravo na decisão que INDEFERE. VI - exibição ou posse de documento ou coisa; - Juiz determina a exibição de documento, as vezes não era para ser anexado documento, então cabe agravo. VII - exclusão de litisconsorte; - Objeto de recente discussão do STJ. Eu entro com uma ação contra a Isa e a Bia, o processo está andando, o juiz vem e diz que a Isa é parte ilegítima, e o processo deve seguir entre eu e a Bia. Contra essa decisão, cabe a agravo. Porque não pode ser discutida na apelação? Se chegar lá na frente e o tribunal reformar e dizer que a Isa deveria estar no processo, pois processo será nulo, e a decisão não afetará a Isa. O que chegou no STJ foi uma decisão que não acolheu a tese de que a parte é ilegítima, afastando essa alegação, mandando a pessoa ficar no processo. O STJ diz que não cabe agravo de instrumento neste caso, só cabe agravo a decisão que exclui, a decisão que mantém não cabe. O fundamento do STJ foi que nesse caso não irá causar nenhum prejuízo para o processo andar. VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; - o réu pode dizer que tem muitos autores contra mim, pedindo a limitação desse processo, ex. Dividir esse processo que tem 400 pessoas, em vários processos com uns 10 litisconsórcio por processo, porque o dificulta a defesa do réu. Se o juiz julga essa limitação, cabe agravo. IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; - Juiz inadmitiu a entrada de um assistente, ele pode agravar. Obs. vide regra especial do artigo 138 do CPC, quando vai falar de uma das modalidades interventivas (amicus cure), essa decisão que admite ele, especificamente é irrecorrível, então cabe agravo contra admite ou inadmite intervenção de terceiros, exceto a regra do 138 que admite o amicus cure, que é irrecorrível. X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; - essa decisão já se encaixaria no inciso I, pois essa decisão de efeito suspensivo é uma tutela provisória, o efeito suspensivo dos embargos. XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º ; - decisão que o juiz inverte o ônus da prova, a grande questão é será que cabe agravo apenas quando o juiz redistribui o ônus da prova, quando ele fala que vai inverter o ônus. E no contrário, e se você está advogando para o réu e você pede para o juiz que essa prova é difícil de produzir então eu quero que seja invertido para a outra parte que tem m ais facilidade de produzir, o juiz vem e nega, existe uma decisão na doutrina e na jurisprudência pra ver se cabe agravo ou não nesses caso. Há quem entenda que se o juiz nega o pedido de retribuição deveria esperar a apelação. Quando o juiz mantem o ônus, essa discussão não está pacificada, se cabe agravo ou não. Se ele inverte o ônus, cabe agravo de instrumento, agora se ele mantem e a parte pediu para inverter, mas mesmo assim o juiz nega, ele mantém como é, não está pacificado. XII - (VETADO); XIII - outros casos expressamente referidos em lei. Cabe agravo quando outras legislações disserem que caiba agravo de instrumento. Contra decisão interlocutória caberá agravo de instrumento se tiver a hipótese prevista no art. 1.015 do CPC ou se tiver previsto em alguma lei especial/extravagante. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. Esse parágrafo único estende o cabimento de agravo de instrumento, amplia para outras situações, diz que se você estiver no âmbito de liquidação de sentença, de uma execução (seja judicial ou extrajudicial) ou se estiver no âmbito do processo de inventário, poderá ser proposto agravo nestes procedimentos, absolutamente todas as decisões interlocutória proferidas nestes casos mencionados são agraváveis, ou seja, nestes procedimentos não há uma limitação do rol. Ex. o juiz diz que tal bem é impenhorável, não está no rol do 1.015, mas o parágrafo único diz que em execuções tal procedimento é permitido, pois trata-se de âmbito de execução. O legislador quis colocar também o processo de inventário, o que tem de diferente nesses casos do parágrafo único que o legislador especificou que serão agravadas? Porque na execução, no processo de inventário todas as decisões interlocutórias devem ser agravadas? Qual a razão? Porque na execução, não vai ter outro momento para você recorrer depois, porque você não verá uma sentença lá n frente que caberia apelação mais a frente. Ex. transitou em julgado uma sentença que condenou o réu em 100 mil de dano material. No processo de execução eu tenho que agravar agora, porque naexecução do cumprimento de sentença não terá outro momento, porque agora eu estou executando e não dizer quem tem razão ou não, pois a execução ela termina com a quitação do pagamento. No inventário até tem sentença que pode ser apelável, mas não vale a pena deixar para recorrer tudo lá na frente, não é eficiente fazer isso pois existem muitas questões a serem decididas, por isso todas as decisões interlocutória são agraváveis. Portanto, nestes casos citados a cima cabem agravo de instrumento mesmo estando fora do rol do 1.015. Mas se você está diante de uma ação de conhecimento, se o juiz der uma decisão interlocutória precisa ir no art. 1.015 e ver se está no rol, se não estiver você recorre dessa decisão na apelação. Agora se estivermos em uma execução ou inventário, não tem rol limitando, todas as decisões interlocutórias são agravantes. Cabe agravo contra decisão do juiz que indefere uma prova? Dependendo do procedimento cabe, mas se estamos diante de um processo de conhecimento, uma ação de rito comum, teremos que olhar os incisos do 1.015, neste caso de indeferimento de prova não está previsto no rol, portanto eis um exemplo de decisão interlocutória apelável ao final do processo, não podendo ser agravada. Se estiver em um processo de inventário cabe (parágrafo único do 1.015) ou indeferimento na liquidação, ou processo de execução, nestes casos sim. Mas e se essa prova do processo de conhecimento for urgente, ex. oitiva de vítima que está prestes a morrer? Eu poderia interpor agravo com base no art. 1.015, inciso I, isto é o que muitos aplicam. EX. Entrei com ação contra a Isa, cobrando uma determinada indenização (ação de conhecimento) o réu Isa na contestação alega dentre outras coisas, incompetência (matéria de contestação), pois no contrato existe uma cláusula de foro que a ação deve tramitar em Dracena e não em Prudente. O processo vai para o juiz para ele dar andamento. O advogado do réu se depara com a decisão desse processo onde o juiz diz que: rejeito/indefiro a alegação do réu de competência, o processo continuará em Prudente e não em Dracena. Qual a natureza desse pronunciamento? Trata-se de uma decisão interlocutória. Cabe agravo de instrumento? Não, pois não está previsto no rol do artigo 1.015, devendo esperar a sentença para poder apelar. Contudo, não faz sentido pois se o Tribunal entende que Dracena era o foro competente, haverá nulidade absoluta do processo. Esse caso, gerou um grande debate na doutrina e na jurisprudência sobre esse problema. 1 posição: na verdade contra essa decisão do juiz que rejeita a competência cabe sim agravo de instrumento, está no rol do 1.015 sim, essa decisão deve ser agravada com base no 1.015 inciso III (existe uma semelhança pois o réu alega que não deveria ser um juiz e sim arbitragem, mas nessa ação ao invés de alegar arbitragem, alega que é um outro juiz e não esse, portanto existe semelhança entre essas decisões). Então Freddie passou a entender que poderia sim, aplicar o inciso III realizando uma interpretação extensiva desse inciso (onde se lê convenção de arbitragem lê-se também competência). Qual o problema dessa interpretação? Se chegasse no tribunal e o desembargador entendesse de forma igual essa doutrina de Fredie Didier, quando o réu apelasse no final do processo o desembargador falaria: conforme a doutrina de Fredie Didier, caberia agravo de instrumento com base no 1.015 inciso III, portanto está precluso seu direito pois poderia ser proposto agravo no prazo de 15 dias. Surgiu um grande problema na doutrina em 2017 que o legislador esqueceu de algumas matérias importantes que deveriam ser agravadas, por isso veio essa posição do Fredie Didier alegando que pode realizar uma interpretação extensiva dos incisos, mesmo sendo o rol taxativo. Essa discussão chegou no STJ em 2018, afinal cabe ou não cabe agravo sobre matéria de competência? STJ fixou precedente vinculante sobre isso: O rol do 1.015 é de taxatividade mitigada, admitindo-se o cabimento de agravo quando houver uma urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão na apelação (tema 988 dos repetitivos do STJ). Isso também é problemático, pois entende-se que admite-se a interposição de agravo mesmo não estando no rol, toda vez que quando for discutir aquilo na apelação tal discussão se mostre inútil ao final do processo. Não dá pra dizer que o STJ adotou a tese do Fredie, o ponto é que se está diante de uma decisão, ex. rejeitou incompetência, se eu deixar para discutir isso na apelação é inútil, logo caberia agravo mesmo não estando no rol. Essa tese acaba permitindo o cabimento do agravo de instrumento nesta hipóteses de rejeição de competência, pois é justamente a ideia de que não faz sentido discutir isso lá na frente, pois pode acabar ocorrendo uma nulidade absoluta. Portanto, podemos propor agravo de instrumento neste caso de matéria de incompetência, com base no procedente vinculante do STJ. Saiu uma decisão X no meu processo, eu olho pra essa decisão e falo seria bom eu interpor agravo agora e discutir agora, mas eu acho que não é muito urgente falando que posso deixar para apelação, ai lá na apelação eu recorro dessa decisão, corre o risco do tribunal olhar e falar: na minha visão isso é uma certa urgência que deveria ter sido interposto agravo com base na taxatividade mitigada, portanto precluiu seu direito. Contudo, a Ministra Nancy em seu voto diz que a parte pode interpor agravo mesmo quando fora do rol, mas a parte não pode ser prejudica pela preclusão caso não agrave de decisão que não esteja no rol do 1.015. Portanto, está no rol do 1.015 cabe agravo em 15 dias se não precluiu seu direito, mas se não estiver no rol em processo de conhecimento a parte tem o direito de propor com base na taxatividade mitigada em se tratando de urgência, mas se ela não interpuser o agravo naquele momento, bem ou mal ela pode discutir isso na apelação, não podendo ser prejudicada. Aula do dia 30 faltei, prova da Ana Laura. Aula dia 04/09 Procedimento do Agravo de Instrumento no Âmbito do Tribunal O procedimento do agravo no Tribunal seguirá a mesma dinâmica do procedimento da apelação no tribunal, com três peculiaridades. Primeira Particularidade: É possível o relator/desembargador, julgar monocraticamente um agravo de instrumento? Até é possível o julgamento monocrático no âmbito do agravo (no caso de negado o provimento), mas cuidado! Se for Para o desembargador/relator dar provimento monocrático ele precisa antes, intimar a parte agravada para apresentar contrarrazões (resposta ao agravo). No agravo não teve momento para a outra parte ser intimada e apresentar resposta. É no caso de dar provimento, porque pode ser que o desembargador/relator negue o provimento ao agravo de plano. O problema é dar provimento, sendo caso de reformar a decisão. Mesmo que o relator esteja tendencioso a dar provimento ao agravo, achando que o juiz de primeiro grau aplicou mal o precedente, as contrarrazões do agravado podem fazer a função de distinção. Segunda Particularidade: Como advogado do agravante, pode fazer sustentação oral no julgamento desse agravo? Ou seja, cabe sustentação oral no julgamento desse agravo? A lei diz que no âmbito do agravo de instrumento só cabe sustentação oral em uma hipótese que é agravo de instrumento contra decisão interlocutória que verse sobre tutela provisória. Art. 938, VIII. Existe uma crítica na doutrina sobre o artigo citado acima, por não caber sustentação oral na hipótese de agravo de instrumento contra decisão interlocutória de mérito (inciso II do art. 1.015 – julgamento parcial do processo). Ex. entrei com indenização contra bia pedindo2 milhões de dano material e 500 mil no dano moral, é possível que o juiz julgue esses dois pedidos de maneira conjunta ao final do processo, e se acontecer do juiz de primeiro grau julgar um dos pedidos antes, ele já está convencido...pegar Muitos sustentam que deveria caber sim a sustentação oral nessa hipótese. Mas no CPC só cabe a sustentação na hipóteses de agravo de instrumento contra decisão interlocutória que verse sobre tutela provisória. Terceira Particularidade: é possível se afirmar que se o julgamento do agravo for por maioria (não unanime 2x1), haverá extensão/ampliação do julgamento/colegiado? No julgamento do agravo de instrumento por maioria, ou seja não unanime, somente caberá a ampliação do colegiado no caso de reforma (e não manutenção) de decisão interlocutória de mérito. Efeitos do Agravo de Instrumento Regressivo: junta ela em primeiro grau, é a possibilidade do juiz que deu a decisão se retratar. Devolutivo: o agravo de instrumento tem efeito devolutivo normal, quando você recorre do agravo você está devolvendo-o para eles analisarem. b) Translativo e Regressivo: permite que o juiz que proferiu a decisão volte atrás. Suspensivo: regra geral o agravo não tem efeito suspensivo, no mais das vezes quando interpomos um agravo de uma decisão de primeiro grau, a regra é que esse agravo de instrumento não tem condão de suspender a decisão de primeiro grau que estamos atacando, ela continua valendo. Quando você está advogando pro réu e você vai agravar um pedido de liminar, se contra essa decisão concedendo a liminar eu coloco agravo, essa decisão que concedeu a liminar já está valendo, não gera a suspensão da sentença de primeiro grau. Mas mesmo que por lei automaticamente o agravo não tenha efeito suspensivo, é possível o agravante requerer o efeito suspensivo, já protocolamos direto no tribunal e já pedimos o efeito suspensivo mostrando o fumus boni iuris e o periculum in mora, para que o relator já conceda o efeito suspensivo (tira a eficácia da decisão de primeiro grau se o relator acolhe o pedido do efeito suspensivo). O agravo não tem efeito suspensivo open legis, mas pode ter decorrente de ordem judicial. Existe um caso peculiar sobre o agravo de instrumento interposto contra a decisão interlocutória de mérito: Ex. caso de cumulação de pedidos do autor qe pediu dano moral e dano material, o juiz pode julgar os dois pedidos juntos na sentença final? Sim, se eu entro com a ação contra bia pedindo 1 milhão de dano moral e dano material o juiz julga procedente, a Bia apela para o Tribunal, eu já posso executar essa sentença? Não posso executar ainda, porque apelação tem efeito suspensivo, e essa sentença está suspensa. Mas se por acaso seja os mesmos motivos citados acima, mas o juiz resolve julgar um dos pedidos antes do outro pedido, exemplo julga somente dano moral, sendo uma decisão interlocutória de mérito, condenando a Bia já pagar 1 milhão de dano moral, mas o processo vai continuar porque tem uma prova pericial que precisa ser feita então o processo irá seguir para depois julgar o dano material. O juiz julga o dano moral e condena a Bia a pagar o dano moral, qual recurso a Bia pode propor? Cabe agravo de instrumento, neste caso eu Ana já posso antes do processo acabar, já posso começar a executar, porque o agravo de instrumento que ela interpôs não tem efeito suspensivo. Ou só pude executar o dano moral porque por algum motivo o juiz acabou julgando por meio de decisão interlocutória de mérito e por isso cabe agravo, não tendo efeito suspensivo, e por isso eu já posso começar a executar. Pode a Bia ré que foi condenada por essa interlocutória, pode agravar e pedir efeito suspensivo? Sim ela pode, não é um efeito suspensivo automático ela precisa demonstrar os requisitos. Boa parte da doutrina vai dizer o seguinte: Sustenta que o agravo de instrumento contra decisão interlocutória de mérito, por fazer as vezes de uma apelação, deve ter efeito suspensivo automático também, há na doutrina um posicionamento forte sobre isso. Que quando for uma decisão interlocutória que está decidindo de fato, dando uma sentença, deve haver o efeito suspensivo automático assim como a apelação. Isso não é pacifico na doutrina. Se estamos advogando para o réu que foi condenado a 1 milhão de reais por uma sentença parcial (decisão interlocutória de mérito), fazer esse agravo e quando vai pedir o efeito suspensivo, começar fazer o seguinte pedido que independente de requisito deve-se seguir o mesmo rito da apelação. Se por acaso o autor ao invés de cumular pedido na ação, ele fez duas ações, uma teve a condenação a pagar dano moral, e a outra o dano material, ambas vão ser apeladas. Parte da doutrina vai dizer que o agravo de instrumento contra decisão interlocutória de mérito tem que ter o regime jurídico da apelação, uma das consequências é, esse agravo tem que ter efeito suspensivo automático. Ninguém defende que o agravo de instrumento contra uma liminar tenha efeito suspensivo, você precisa pedir e preencher os requisitos, mas no caso de interlocutória de mérito deveria sim ter o efeito suspensivo. Mas em uma questão objetiva a assertiva e que o agravo de instrumento não tem efeito suspensivo automático, ele deve ser pedido. ....................................................................... Noções iniciais: muito já se discutiu na doutrina a natureza dos embargos, a ponto de que por muito tempo dizer que os embargos se quer poderiam ser chamados de recurso. Porque? Existem duas peculiaridades nos embargos que sempre contribuíram para que a doutrina questionasse da natureza dos embargos: Primeira finalidade: os embargos são julgados pelo mesmo juízo que proferiu a decisão, trata-se de um recurso julgado pelo mesmo juiz que deu a decisão e isso é estranho, porque pensamos em um órgão superior quando se fala em recurso. A doutrina questionou, por não ser um órgão superior que reexamina. Segunda finalidade: em regra os embargos não tem como objetivo reformar a decisão, mas apenas aprimorá-la/melhorar na decisão. No ponto de vista histórico essa duas peculiaridades sempre fez a doutrina questionar a natureza dos embargos. Mas bem ou mal, certo ou errado o que importa para nós é que o legislador fez uma opção e a opção do legislador foi conferir natureza recursal aos embargos de declaração, tratando ele como um recurso, está no rol, portanto é um recurso. Para o direito brasileiro embargos de declaração é um recurso. Conceito: pode ser definido como meio de impugnação a decisão judicial, manejada no mesmo processo em que a decisão foi proferida, que tem como objetivo precipuamente/acima de tudo o aprimoramento da decisão. De maneira mais simples, os bem embargos são aquele recurso em que diante de uma decisão judicial você deseja que essa decisão seja aprimorada, porque ela tem alguma obscuridade, alguma contradição, algum erro material. Cabimento dos Embargos São cabíveis contra todo e qualquer pronunciamento judicial, contra decisão interlocutória, contra tutela, como sentença, como decisão monocrática, contra acordão no tribunal, inclusive contra despacho (para muitos). Inclusive despacho possível existe um dispositivo que o despacho é irrecorrível, e se despacho é irrecorrível e embargos é um recurso não caberia embargos. Mas a doutrina entende que tem que caber embargos até em despacho porque? Ex. um juiz culto vai lá e dá um despacho em alemão, latim, a parte olha aquilo e não entende o que fazer. Então ele embarga para deixar mais claro, porque esse despacho está obscuro. Não faz sentido o juiz negar porque contra despacho não cabe recurso, não faz sentido. Embora não seja algo comum,mas do ponto de vista doutrinário, entende-se que cabe sim embargos contra despacho. Vícios que ensejam os embargos: 4 vícios possíveis que admitem embargos, artigo 1.022 do CPC. Primeiro: quando a sentença, acordão, dentre outros possuir obscuridade. Obscuridade é falta de clareza, é um pronunciamento incompreensível, que você não consegue entender, ele não é claro. O exemplo padrão é justamente sentença que utiliza muito latim, alemão, usa muita expressão estrangeira e a parte não consegue entender o que o juiz quis dizer. Não é para mudar a decisão e sim aprimorar ela para entender. Segundo: é a contradição interna, há um pronunciamento contraditório. Exemplo: ação contra a Isa discutindo uma dívida, a Isa contesta, faz produção de provas e depois de um tempo o juiz da uma sentença condenado a Isa a pagar o que me devia. A Isa vai lá e protocola um embargos dizendo que a sentença esta contraditória, porque o juiz julgou procedente a causa, mas a testemunha x falou que eu não devia, havendo uma contradição no processo. Isso está errado, isso não é uma contradição para os embargos, isso é matéria de apelação, você não concorda, precisa de uma reanálise das provas e isso não é embargos. A contradição que enseja embargos é apenas a contradição interna dentro do pronunciamento, segundo a doutrina. A sentença em si tem noções inconciliáveis, a fundamentação fala A (o juiz da entender na fundamentação que vai julgar procedente), mas no dispositivo fala X (ele julga improcedente). Isso é um exemplo clássico de contradição interna. É comum mesmo assim a gente ver embargos levantando teses de contradição para coisas que não são? Sim, é comum e o que ocorre? Estudaremos depois. Terceiro: Omissão, Tradicionalmente sempre se definiu omissão como sendo um pronunciamento que deixa de enfrentar alguma questão relevante para o desfecho da causa. Ex: réu alegou prescrição e o juiz na sentença não enfrentou o tema da prescrição. Essa sentença é um exemplo de sentença omissa, cabendo embargos de declaração. Ex: entro como uma ação pedindo dano moral e dano material e a sentença não enfrenta sobre o dano material, cabendo embargos de declaração. Ex: Quando o juiz não aplica honorários sucumbenciais também se trata de omissão. O CPC atual amplia a ideia de omissão, se lermos o §único do artigo 1.022 traz uma ideia mais ampla de omissão. Onde a ideia principal deste artigo é dizer que o legislador também considera omissa a decisão judicial que deixa de enfrentar um precedente vinculante aplicável ao caso. Art. 1.022. Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º. A ideia desse dispositivo é forçar os magistrados em geral a dialogarem com os precedentes. Ex: sai uma sentença e ela não fala sobre um precedente vinculante do STJ que tratava do dano moral, independente de como o juiz julgou. Se ele não enfrentou os precedentes, qualquer das partes podem interpor embargos de declaração. 4. Erro material Toda vez que a decisão tiver um erro material (perceptível de plano) cabe embargos de declaração. Ex: erro no nome, do valor da condenação. Essas 4 hipóteses ensejam os embargos de declaração. Não se trata de uma impugnação tradicional, trata-se de algo que precisa ser sanado para então levar para o tribunal. Procedimento dos Embargos de Declaração De maneira ampla, dá pra dizer que o procedimento dos embargos é simplificado, sem grandes fases. Ex: advogando para uma parte, saiu a sentença e ela esta omissa, o juiz deixou de analisar algo que você levantou, desta forma, terá que seguir o procedimento: Precisa verificar o cabimento dos embargos; 1 – Prazo: é de 5 dias úteis. Não precisa recolher custas; 2 – Independe de preparo: O embargo vai então para o juiz analisar. Mas, existe também o contraditório nos embargos de declaração, mas pela regra geral, como a função dos embargos é o aprimoramento da decisão, não há contraditório. Entretanto, caso o juiz vislumbre que eventual acolhimento dos embargos pode, de fato, modificar a decisão, ele deve intimar o embargado para apresentar contrarrazões em 5 dias. Art. 1.023. § 2º O juiz intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação da decisão embargada. Ex: o juiz condenou o réu a pagar x valor. O réu oposto embargos dizendo que a sentença esta omissa e não enfrentou sobre a tese de prescrição. Desta forma, pode ser que ao julgar os embargos o juiz vê que prescreveu e vai então falar sobre o que não falou e reconhecer a prescrição. Teremos então uma mudança na sentença, pois ela era de procedência e virou de improcedência. Agora se viu que não prescreveu, segue tudo normal como estava. É possível que a partir dos embargos de declaração, termos uma mudança muito grande na decisão. A doutrina chama isso de “embargos de declaração com efeitos infringentes ou efeitos modificativos”. Não confundir com embargos infringentes e inclusive, nem existe mais no CPC. O infringente aqui é com o sentido de modificativo. Quem Julga? Quem julga os embargos de declaração é o mesmo juízo que proferiu a decisão. Mas nem sempre é o mesmo juiz. --Interposição, eventual contraditório e julgamento-- Efeitos dos Embargos de Declaração a) Efeito Integrativo: para todos os efeitos, a decisão que julga os embargos de declaração passa a integrar a decisão embargada. Ou seja, o juiz deu uma sentença e eu embarguei dela, o juiz julga os embargos em 5 laudas. É como se eu juntasse as 5 laudas dos embargos + as 20 laudas da sentença. Qual o recurso que cabe contra decisão do juiz que julga os embargos de declaração? Só vamos conseguir responder bem essa pergunta através do efeito integrativo. b) Efeito Interruptivo: a interposição dos embargos de declaração interrompe todos os demais prazos recursais. A interrupção significa voltar ao zero e não voltar de onde estava, como na suspensão. Ex: saiu sentença e depois de 3 dias, alguma das partes interpõe embargos de declaração, onde estava também aberto o prazo de 15 dias para apelação, como a interposição dos embargos todos os demais prazos recursais estão interrompidos. Quando daqui um tempo, 1 mês, por exemplo, acontecer o julgamento dos embargos, reabre o prazo para a apelação, isto é, começa a contar os 15 dias novamente, não importando se já tinha passado 3 dias, por exemplo, pouco importando o resultado dos embargos. Fica mais fácil de entender se juntarmos os dois efeitos. Saiu a sentença, embargou? Interrompeu. Saiu o julgamento dos embargos, junta com a sentença. Quando alguém opõe embargos de declaração, esse efeito interruptivo se opera para todas as partes. Ex: sentença de parcial procedência, onde ambas as partes podem apelar. E uma delas interpõe embargos de declaração, a outra parte pode ficar tranquila, pois vai reabrir o prazo do zero para que ambas as partes possam apelar da sentença. Entretanto, tem um detalhe. Existe uma hipótese que a oposição de embargos de declaração não interrompe prazo, sendo ela, a hipótese de embargos interpostos fora do prazo. Ex: juiz ao julgar os embargos, fala que não conhece dos embargos, pois ele são intempestivos, ou seja, fora do prazo. Ou seja, vai ter transitado em julgado o processo, pois esses embargos não suspenderam nada. Então, é sempre bom a parte contraria analisar se os embargos interpostos estão dentro do prazo. Você advogando para o autor, você quer apelar e a outraparte embargou. Ao verificar se estava dentro do prazo, você vê que não, no prazo de 15 dias normal, você apela e deixa nos autos. Feito isso, supondo que teve mudanças na sentença, ou seja, um novo julgamento, e você já tinha apelado da sentença. O que vai acontecer? O CPC trata no artigo isso 1.024, §4º e 5º, mas o que deve ser julgado primeiro? Primeiros os embargos para complementar a sentença e depois isso vai para o tribunal para julgar a apelação. O grande ponto não é o que vai julgar primeiro, mas sim o que acontece no julgamento dos embargos se o juiz acaba dando provimento aos embargos dizendo que a sentença estava omissa, que faltou enfrentar algo e ao julgar ele acaba mexendo na sentença. O réu já tinha apelado dessa sentença e agora você tem uma sentença diferente, porque ao juiz julgar os embargos ele reforma a sentença, mais o réu já tinha proposto apelação. Se houve os embargos e a outra parte já tinha recorrido (apelação ou agravo), aquele que já recorreu tem o direito de complementar o seu recurso no prazo de 15 dias nos exatos limites da notificação. Art. 1.024. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias. § 4º Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão dos embargos de declaração. E se acontece o por parte do autor embargo, o réu apelou da sentença, mais ao julgar os embargos o juiz rejeita os embargos e não reforma, o que acontece? Por muitos anos se entendeu de maneira absurda (jurisprudência defensiva) que mesmo nesse caso em que os embargos são rejeitados, se quem já tinha interposto recurso (apelação) não ratificava o seu interesse a apelação seria inadmitida. O CPC de 2015 vendo esse cenário, fez questão no §5º do artigo 1.024, dizer que nesse caso se os embargos forem rejeitados o recurso (apelação, agravo) será admitido independentemente de ratificação/confirmação. § 5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente de ratificação. Efeito suspensivo: Os embargos de declaração possuem efeito suspensivo? O artigo 1.026 do CPC diz que não possuí efeito suspensivo, mas isso pode gerar uma noção equivocada de como funciona na prática. Porque dizer que os embargos não possui efeito suspensivo, significa que mesmo que você embargue não suspende nada da decisão, continua valendo. A resposta para essa questão é que os embargos de declaração doutrinariamente terão ou não efeito suspensivo a depender do recurso originariamente cabível na hipótese. Qual recurso originariamente seria cabível? Estou embargando de uma sentença que condenou meu cliente a pagar 1 milhão de reais por dano moral, o recurso cabível seria uma apelação, cabendo então efeito suspensivo neste embargos. Decisão interlocutória que condene uma liminar para pagar medicamentos, o réu impetra embargos, qual recurso seria possível originariamente? Originariamente contra decisão interlocutória cabe agravo, não possuindo efeito suspensivo, então os embargos também não terá. Saiu uma sentença em uma ação de alimentos condenando o réu pai a pagar alimentos, entendendo que a sentença esta contraditória o advogado do réu opõe embargos, a sentença está valendo? Sim porque eventual recurso originário contra essa sentença é uma apelação, logo os embargos respectivos não estarão suspensos também. Efeito translativo dos embargos: é aquele efeito que alguns recurso possuem, que quando interpostos eles transmitam a análise de matéria de ordem pública. Permite que quem irá julgar reconheça matéria de ordem pública. É possível dizer que os embargos tem efeito translativo? Saiu uma sentença condenando o réu a pagar, o réu impõe embargos falando que a sentença está obscura, ao julgar os embargos o juiz pode perceber que tinha prescrição, e reconhecer ela? Ou extinguir o processo por prescrição? Sim, o juiz pode, os embargos de declaração possui efeito translativo, transmitido para quem julga o poder de analisar as matérias de ordem pública. Observações Embargos de declaração protelatórios: não é difícil perceber que pelo fato dos embargos interromper prazo, pelo efeito interruptivo (ou seja, para tudo), costumam ser usados com finalidade protelatória. Trata-se de um instrumento usado para o mau, para protelar. Sabendo disso o legislador disciplina algumas regras sobre os embargos protelatórios, por conta de ser um instrumento para protelar o processo. Lá nos §2, 3 e 4 do artigo 1.026 o CPC disciplina os embargos protelatórios. Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a interposição de recurso. § 2º Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois por cento sobre o valor atualizado da causa. § 3º Na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até dez por cento sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final. § 4º Não serão admitidos novos embargos de declaração se os 2 (dois) anteriores houverem sido considerados protelatórios. Se o juiz considerar os embargos protelatório, demonstrar que realmente é, ao julgar os embargos ele irá fundamentar dizendo que é protelatório e aplicar uma multa de até 2% sobre o valor da causa. Mas não é dizer que a rejeição dos embargos não significa dizer que eles são protelatórios. Os embargos considerados protelatórios a sanção é multa, e mesmo os embargos protelatórios tem o condão de interromper o prazo, por uma questão de segurança jurídica. O legislador foi além e pensou no seguinte: Réu realmente quer protelar, atrasar a ação, ele interpõe embargos e o juiz reconhece que é protelatório e contra essa decisão que julgou os embargos e considerou protelatório e aplicado multa, o réu embarga novamente dessa decisão, interrompe? Sim interrompe, a solução do legislador é que havendo uma segundo embargos protelatórios o juiz pode elevar a multa até a 10% e condiciona a interposição de outros recurso para o pagamento dessa multa. O legislador considerou uma terceira hipótese de embargos protelatórios, esse terceiro embargos é como se não existisse juridicamente falando, é um nada jurídico, o juiz não tem nem obrigação de julgar, é desconsiderável completamente. Seria também uma hipótese de embargos que interrompe o prazo, mais por ele ser considerado como um nada jurídico, não suspende, não interrompe pois não possuí efeito. Embargos de declaração pré questionadores: Cabe embargos de declaração contra decisão que julga embargos de declaração? O que não da para descartar e a doutrina admite é: você fez o embargos o juiz julgou os embargos, e por exemplo ele deu a entender que houve uma omissão, pode ser que ao julgar os embargos e complementar a sentença e tirar a omissão, passou a existir uma contradição na sentença. Aí você poderia fazer um segundo embargos dizendo que a sentença está contraditória. Então a nova sentença (integrada pelos embargos), caso ao suprir a omissão, pode vir uma segundo embargos analisando uma contradição. Portanto,
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