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Prévia do material em texto

1 
 
TRANSLATION PRACTICE OF LEGAL AND TECHNICAL 
SCIENTIFIC TEXTS 
 
 
 
2 
 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
Sumário 
 
TRANSLATION PRACTICE OF LEGAL AND TECHNICAL SCIENTIFIC 
TEXTS ................................................................................................................ 1 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 
1. TRADUÇÃO JURÍDICA .................................................................. 4 
1.1 A LINGUAGEM JURÍDICA EM INGLÊS: DESAFIOS DA 
TRADUÇÃO JURÍDICA .................................................................................. 5 
1.2 A TRADUÇÃO JURÍDICA E SUAS TEORIAS ............................. 10 
1.3 OS DILEMAS DO TRADUTOR JURÍDICO DIANTE DO TEXTO 
QUE SE DETONA ........................................................................................ 12 
1.4 O TRADUTOR JURÍDICO ........................................................... 21 
O PERFIL DO TRADUTOR JURÍDICO .......................................... 21 
COMPETÊNCIAS DO TRADUTOR JURÍDICO .............................. 23 
1.5 MAPEAMENTO DA LINGUAGEM JURÍDICA: QUESTÕES 
TERMINOLÓGICAS ..................................................................................... 25 
1.6 O TEXTO JURÍDICO ................................................................... 35 
1.7 A TRADUÇÃO JURÍDICA ............................................................ 47 
2. A TRADUÇÃO TÉCNICA ................................................................. 51 
2.1 A FUNÇÃO DO TEXTO TÉCNICO .............................................. 52 
2.2 O PAPEL DO TRADUTOR TÉCNICO ......................................... 61 
2.3 A TRADUÇÃO DE TEXTOS TÉCNICOS NA PRÁTICA .............. 64 
2.4 QUALIDADE DAS TRADUÇÕES TÉCNICAS ............................. 69 
3. TRADUÇÃO DE TEXTOS CIENTÍFICOS ..................................... 85 
3.1 LINGUAGEM DE ESPECIALIDADE ............................................ 85 
3.2 PROBLEMAS DE TRADUÇÃO DE UM TEXTO TÉCNICO-
CIENTÍFICO ................................................................................................. 87 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 96 
 
 
 
 
4 
1. TRADUÇÃO JURÍDICA 
 
A tradução jurídica envolve a tradução de contratos (de 
importação/exportação, compra e venda, locação, garantia, etc.), acordos, 
procurações, recursos, citações, termos e condições, estatutos, depoimentos e 
outros documentos legais e do tipo contratual. Dominar a terminologia jurídica e 
estar familiarizado com estatutos, códigos e direitos constitucionais é de extrema 
importância para os tradutores que trabalham com textos jurídicos. 
 
 
Desafios da Tradução Jurídica 
 
Entre os vários fatores que tornam a tradução jurídica uma das áreas mais 
complexas da tradução, citaremos os dois principais: 
1. O fato de ser uma linguagem de especialidade, fazendo com que o 
tradutor tenha que, necessariamente, conhecer não apenas as duas 
línguas, mas as duas linguagens de especialidade (ex: inglês jurídico e 
português jurídico) para que possa fazer uma tradução jurídica de uma 
‘linguagem jurídica em inglês’ por ‘linguagem jurídica em português’. 
2. O fato de a tradução entre o português e o inglês envolver dois sistemas 
jurídicos de diferentes famílias do direito. O sistema brasileiro pertence 
à família Romano-germânica, enquanto o anglo-americano pertence à 
família da Common Law (família de direito que compreende os países de 
língua inglesa que adotaram a tradição jurídica da Inglaterra). 
Consequentemente, a tradução jurídica implica a passagem do texto de 
partida não só para uma língua de chegada, mas também para um 
sistema jurídico distinto. 
 
 
 
5 
 Tradução Juramentada x Tradução Jurídica 
 
É importante não confundir “tradução jurídica” com “tradução 
juramentada”, em que consiste em uma tradução sobre absolutamente qualquer 
assunto, com a característica de que é feito por um tradutor que prestou 
concurso organizado por um órgão governamental e que recebeu uma 
certificação vitalícia, podendo esse profissional também realizar traduções 
jurídicas. O tradutor técnico jurídico deverá conhecer não apenas o sistema 
jurídico brasileiro, mas também aquele onde o documento original foi escrito. 
Portanto, nessa área a precisão e o rigor são as palavras-chave. 
 
1.1 A LINGUAGEM JURÍDICA EM INGLÊS: DESAFIOS DA 
TRADUÇÃO JURÍDICA 
 
Ter conhecimento da formação histórica da linguagem jurídica em inglês 
e do sistema da Common Law é essencial na tradução de textos jurídicos para 
que o tradutor seja capaz de tomar escolhas estilísticas, convencionais e 
idiomáticas embasadas. Neste artigo faremos uma breve exposição de alguns 
desafios da tradução jurídica, da formação histórica do sistema da Common Law, 
da evolução da linguagem jurídica em inglês e das implicações dessa evolução 
na tradução entre o português e o inglês, abordando, como exemplo, o caso dos 
binômios. 
 
A tradução jurídica 
São dois os principais desafios da tradução jurídica envolvendo o inglês 
e o português. 
 
O primeiro é o fato de a linguagem jurídica ser uma linguagem de 
especialidade, fazendo com que o tradutor tenha que, necessariamente, 
conhecer não apenas as duas línguas (i.e. o inglês e o português), mas as duas 
linguagens de especialidade (i.e. o inglês jurídico e o português jurídico) para 
que possa, assim, traduzir 'linguagem jurídica em inglês' por 'linguagem jurídica 
em português'. 
 
 
 
6 
O segundo desafio é o fato de a tradução entre o português e o inglês 
envolver dois sistemas jurídicos de diferentes famílias do direito. O sistema 
brasileiro pertence à família Romano-germânica, enquanto o anglo-americano 
pertence à família da Common Law. Consequentemente, a tradução jurídica 
implica a passagem do texto de partida não só para uma língua de chegada, mas 
também para um sistema jurídico distinto. 
 
 
A Common Law 
 
Recebe o nome de Common Law a família de direito que compreende os 
países de língua inglesa que adotaram a tradição jurídica da Inglaterra. A 
Common Law foi introduzida no século XI por Guilherme, o Conquistador. Até a 
conquista normanda, o território que conhecemos hoje por Grã-Bretanha era 
dividido em tribos que falavam línguas germânicas (e.x.: anglo, saxão, nórdicas) 
e outras (e.x.: celta). Eram várias as línguas usadas no Direito que era próprio 
de cada tribo e, predominantemente, oral. 
Para consolidar e centralizar o poder em uma área tão pulverizada, 
Guilherme, o Conquistador, implementou um sistema jurídico que recebeu o 
nome de common law of the land (uma tradução literal seria o direito comum do 
território). Entretanto, ao contrário do que o nome parece sugerir,o sistema nada 
tinha de comum a todos, pois se tratava de um sistema para tratar unicamente 
dos interesses do poder central, i.e., da coroa. O rei nomeou juízes para julgar 
as ações envolvendo questões de interesse da coroa, porém não preestabeleceu 
normas a serem adotadas. Assim, os juízes, ao resolver as ações que lhes eram 
apresentadas, passaram a sedimentar a jurisprudência (precedents) que serviria 
de base para os futuros casos semelhantes e inauguraria o fim da tradição oral 
do período anterior, formando um sistema jurídico essencialmente 
jurisprudencial. 
 
 
 
7 
 
 
Além das diferenças jurídicas e históricas entre o sistema da common law 
e o romano-germânico, há ainda importantes consequências sentidas até hoje e 
decorrentes da variedade de influências linguísticas sofridas pela common law. 
A partir da chegada de Guilherme, o Conquistador em 1066, enquanto o 
francês era a língua da corte, era o latim que predominava no Direito, pois era a 
língua do clero, dos instruídos, ou seja, dos juízes da coroa e dos redatores de 
documentos oficiais, leis, cartas e ordens. Mellinkoff (1963:69) afirma que é 
possível deduzir, mas talvez nunca realmente provar, que durante a época 
posterior à conquista normanda três línguas eram usadas: o latim, o francês e o 
inglês. Até o século XIV, apesar de a língua do povo ser o inglês, o latim era a 
língua do direito que foi gradativamente substituída pelo francês, e não pelo 
inglês, mais tarde. Até o século XVIII na Inglaterra, o direito ainda adotava o 
francês (Law French) e o latim (Law Latin) em menor escala. 
 
A linguagem jurídica em inglês 
 
Com tantas influências linguísticas, desde as línguas germânicas, 
passando pelo latim e pelo francês, a linguagem jurídica cresceu 
desordenadamente e até hoje sentimos as consequências desse fenômeno, 
principalmente ao traduzir documentos em inglês para o português. 
Uma das consequências que temos que enfrentar até hoje é a existência 
de termos jurídicos com acepções similares, mas com origem em línguas 
diferentes, pois devido às múltiplas influências linguísticas, o inglês assumiu a 
tendência de associar palavras sinônimas. É o que ocorre com freedom e liberty, 
em que uma tem origem no inglês, a outra no francês. 
 
 
 
8 
 
Outros exemplos são bargain and sale e breaking and entering, que 
combinam um termo oriundo do francês com outro do inglês antigo. O resultado 
desse fenômeno é interessante. No caso de freedom e liberty, por exemplo, as 
palavras são muitas vezes empregadas juntas, formando um binômio: 
freedom and liberty, com uma única acepção. Em outros casos, como em bid e 
offer, os termos são empregados em contextos diferentes: bid para o caso de 
leilão e licitação e a palavra offer, em matéria contratual. O primeiro caso (i.e. 
a formação de binômios) é um dos mais interessantes para a tradução jurídica. 
 
Os binômios 
 
Os binômios que examinaremos são os compostos por palavras 
sinônimas. 
 
 
A ocorrência desse tipo de binômio no inglês é um fenômeno que deve 
ser reconhecido pelo tradutor de textos jurídicos, pois o constante recurso à 
sinonímia é um elemento decorativo característico da linguagem jurídica em 
inglês, resultante do choque entre as diversas línguas que influenciaram o inglês 
jurídico. 
Nesse sentido, Garner (2001: 43) recomenda de forma explícita evitar o 
uso de binômios, afirmando que a linguagem jurídica é historicamente 
redundante e que essas expressões não são exigência da área. 
 
 
 
9 
O autor recomenda, no caso de as palavras serem sinônimas (e.g. 
convey and transport), usar a que se encaixar melhor no contexto. 
De acordo com essa orientação, os binômios na tabela abaixo (Mellinkoff, 
1963:25) deveriam ser, no próprio texto original, lidos e simplificados pelo termo 
na coluna da direita. 
 
 
As consequências para a tradução 
 
Apesar de a bibliografia sobre linguagem jurídica em inglês ser unânime 
em recomendar a simplificação e indicar a leitura dos binômios como unidade, - 
além de definir os binômios formados por palavras sinônimas como duplicação 
inútil -, temos notado que os tradutores brasileiros não conferem esse tratamento 
aos binômios durante a tradução. Acabam por traduzir os componentes do 
binômio isoladamente em uma busca infrutífera de palavras sinônimas a serem 
empregadas no texto de chegada. A consequência é a produção de um texto-
alvo pouco idiomático que não representa uma tradução de 'linguagem jurídica 
por linguagem jurídica'. 
O que propomos é que, na tradução de binômios e com a preocupação 
de traduzir 'linguagem jurídica por linguagem jurídica', o tradutor brasileiro deva, 
antes, verificar se cada um dos elementos dos binômios com que se depara tem 
utilidade. Assim, diante de um binômio formado por sinônimos, o tradutor deverá 
adotar a recomendação de Garner acima (i.e. escolher a palavra ou que melhor 
se aplicar ao contexto) e, em seguida, traduzi-la para a língua-alvo levando em 
conta a terminologia adotada no sistema jurídico de chegada. Ao proceder dessa 
forma, o tradutor garantirá um texto-alvo mais natural e evitará possíveis 
problemas de interpretação que um termo supérfluo pode causar. 
 
 
 
10 
 
 
Por fim, cabe ressaltar a importância de o profissional da tradução 
conhecer não só os sistemas jurídicos envolvidos na tradução, mas também a 
origem e formação históricas de suas línguas de trabalho para poder tomar 
decisões embasadas que lhe permitam traduzir 'linguagem jurídica por 
linguagem jurídica' respeitando as convenções e estilo da área de especialidade. 
 
1.2 A TRADUÇÃO JURÍDICA E SUAS TEORIAS 
 
A tradução jurídica não possui uma teoria própria pacificamente 
estabelecida. 
Šarcevic nos ensina na obra Legal Translation and Translation Theory: a 
Receiveroriented Approach que, no passado, tanto linguistas quanto advogados 
tentavam aplicar teorias de tradução geral a textos jurídicos, dentre as quais a 
Teoria de Equivalência de Situação de Catford, a Teoria de Correspondência 
Formal de Nida, e mais recentemente, a Teoria do Escopo de Vermeer. 
Šarcevic ressalta ainda que alguns doutrinadores discutem a utilidade de 
uma teoria de tradução voltada especificamente para a tradução jurídica, já que 
métodos e técnicas especiais são exigidos neste tipo de tradução. A autora 
complementa afirmando que este fato foi confirmado por Bocquet, que 
reconheceu a importância de se estabelecer uma teoria ou pelo menos um 
quadro teórico que seja orientado pela prática. 
Indo mais além na crítica das teorias utilizadas para a tradução jurídica, 
Šarcevic afirma que “a tradução dos textos jurídicos é (ou deve ser) orientada 
pelo receptor”. 
 
 
 
11 
As teorias sobre a tradução evoluíram. No início dos anos 70, Katherina 
Reiss introduziu conceitos funcionalistas da tradução, entendendo-a como 
determinada não pelo assunto, mas pela função exercida por um texto em 
particular. Posteriormente vieram estudiosos alemães que passaram a ver a 
tradução não mais como uma transferência apenas interlinguística, mas sim uma 
transferência intercultural, através da comunicação. 
Segundo a teoria do Escopo de Vermeer (citado por Šarcevic), a 
abordagem funcional requer que o tradutor produza um texto novo que satisfaça 
as expectativas culturais dos receptores alvo de textos com os mesmos escopos 
do original. Assim, desde que sendo fiel ao escopo do texto, o tradutor tem 
liberdade para produzir um texto novo e autêntico. 
A partir desta concepção, o tradutor deixa de ser apenas um reprodutor 
de texto e passa a ser também autor do novo texto que será aplicado e terá os 
efeitos gerados no local onde será lido. 
Trazendo a supracitada teoria para o âmbito da tradução jurídica, pode-
se dizer que temos uma possível teoria da tradução jurídica, a qual prega a 
possibilidade de transformações formais, gramaticais e lexicais, desde que se 
mantenha ese transmita de maneira eficaz o escopo e as consequências 
jurídicas pretendidas pelo original. 
Por atuar como mediador entre o produtor do texto fonte, gerador de 
direitos e deveres para seus receptores diretos ou indiretos, e o receptor do texto 
alvo que também será detentor de deveres ou direitos, o tradutor jurídico deve 
atuar como elo e transmitir o sentido e os efeitos dos institutos jurídicos em 
questão, e não a forma ou as supostas “equivalências” destes. 
Conforme anteriormente mencionado, a questão da divergência entre 
institutos jurídicos, a inexistência, em alguns casos, de equivalentes idênticos 
em sistemas diferentes e a interferência por elas gerada na compreensão de 
textos autênticos em várias línguas são motivo de pesquisas e discussões 
relativas à tradução de textos jurídicos. 
Assim, com o intuito de estabelecer normas referentes a documentos 
internacionais de relevada importância jurídica, foi assinada, em maio de 1969, 
a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. 
O artigo 33 da Convenção trata especificamente da interpretação de 
tratados autenticados em duas ou mais línguas e dispõe que o mesmo sentido 
 
 
 
12 
dos termos utilizados deve ser presumido em cada um dos referidos textos 
autenticados. 
Entretanto, muitas vezes não se pode esperar que os tradutores consigam 
transmitir o significado exato dos institutos a serem traduzidos; todavia, espera-
se que eles produzam textos que tenham efeitos iguais. Daí a extrema 
necessidade do tradutor pesquisar cuidadosamente os efeitos jurídicos 
produzidos por cada um dos termos analisados e traduzidos. 
Šarcevic nos ensina ainda que, enquanto a presunção de igual significado 
está subordinada àquela de igual efeito, ambas estão subordinadas à presunção 
de igual intenção. Desta forma, o tradutor deve lutar para produzir um texto que 
expresse o significado pretendido e alcance, na prática, os efeitos legais 
intencionados pelo legislador. 
Assim, o princípio de fidelidade ao texto está perdendo espaço para o 
princípio de fidelidade ao instrumento que está sendo traduzido, assim como a 
teoria funcionalista da tradução está ganhando campo como teoria aplicável na 
prática à tradução jurídica. 
 
1.3 OS DILEMAS DO TRADUTOR JURÍDICO DIANTE 
DO TEXTO QUE SE DETONA 
 
A tradução jurídica é particularmente melindrosa no ambiente de um curso 
de formação em Estudos de Tradução. O discurso jurídico é, ao mesmo tempo, 
técnico e antitécnico, eivado de jargões com uma fraseologia rebuscada ou 
antiquada – quando não anacrônica. Ele busca uma sofisticação por vezes 
contraproducente do ponto de vista da clareza e da precisão. Requer, portanto, 
domínio discursivo que mescle precisão técnica com arroubos estilísticos quase 
literários. 
Por outro lado, em forte contraste com a universalidade da tradução 
técnica, a tradução jurídica milita na comunicação entre contextos e sistemas 
particulares, nacionais, locais, com nítido vínculo cultural com a realidade 
sociocultural da qual brotam: não se traduz entre línguas, mas, sim, entre 
sistemas jurídicos. Claro está que o tradutor necessita de conhecimentos 
jurídicos que extrapolem o meramente linguístico. As diferenças ou a 
 
 
 
13 
incompatibilidade entre os sistemas e seus institutos exigem do tradutor muita 
cautela, ainda mais em ambientes em que a tradução é sensível, por exemplo, 
na atuação do tradutor em processos judiciais na condição de perito. O 
desencontro entre os sistemas dificulta sumamente a tomada de decisões de 
natureza estratégica, como as relativas à domesticação ou à estrangeirização. 
Além disso, o que serve como procedimento na tradução de textos 
acadêmicos ou jornalísticos sobre assuntos jurídicos mostra-se inapropriado na 
tradução de um documento jurídico (leis, contratos, acórdãos, certidões, cartas 
rogatórias etc.). No caso dos primeiros, há amplo espaço para a intermediação 
do tradutor e aceitação ou até demanda de notas explicativas. No dos últimos, 
esse espaço é exíguo, quando não inexistente. Igualmente, o status do tradutor 
(oficial ou não) e o propósito (ou skopos) da tradução alteram significativamente 
a equação da tarefa. 
A tradução jurídica, portanto, expõe com muita clareza as múltiplas 
pressões que incidem sobre o tradutor e o texto a traduzir. Por isso mesmo, 
oferece uma experiência muito rica ao tradutor em formação. 
Concomitantemente, contudo, apresenta dificuldades específicas de 
contextualização para o ensino e a aprendizagem em ambiente essencialmente 
laboratorial. Exercícios de tradução jurídica enfrentam o desafio posto pela 
multiplicidade de sistemas no interior de uma mesma língua. Basta dizer que na 
Grã-Bretanha convivem três sistemas jurídicos distintos bastante diversos entre 
si. Por questão de espaço, irei me ater aqui a três aspectos relevantes ou dilemas 
na tradução de um acórdão relativo ao julgamento de uma apelação criminal no 
Tribunal de Justiça do Distrito Federal, publicado no Diário da Justiça em maio 
de 1984. 
O primeiro dilema diz respeito ao instituto em si. Um acórdão – 
substantivação (esdrúxula?) de [eles] acordam, colhida da frase de abertura de 
todo acórdão (“acordam os juízes...”) ou conservação de uma forma arcaica de 
acordo – é, segundo o Dicionário Jurídico da Academia Brasileira de Letras 
Jurídicas (SIDOU, 1997, p. 25-26): “Peça escrita que contém o julgamento 
proferido por tribunal, nos feitos de sua competência originária ou recursal”. No 
entanto, somente se vê empregado para tratar de uma sentença ou decisão de 
um órgão colegiado, “Sentença, decisão de uma instância superior”, comumente 
 
 
 
14 
em nível de recurso, o que o distingue da decisão tomada por um juiz singular 
em primeira instância. 
No mundo jurídico anglo-saxão não existe um termo próprio para a 
decisão de uma turma de juízes, distinto da sentença de um juiz singular; os dois 
são referidos como ruling. Para indicar essa distinção, seria possível traduzir 
acórdão por collegiate ruling, mas trata-se de uma criação e não da utilização de 
um termo existente na terminologia jurídica. A solução sugerida pelo dicionário 
de Marcílio de Castro (CASTRO, 2010, p. 21) – “appellate decision; decision of 
the appellate court” – ignora o fato de que a decisão pode ser originária e não 
proveniente de nível de apelação. As opções dadas pelos dicionários de Maria 
Chaves de Mello e de Durval de Noronha Goyos Jr. tampouco são de muito 
proveito: “judgment; judgment in error; decision” (MELLO, 2008, p. 14) e 
“decision held [sic] by any higher court; sentence; judgement” (GOYOS Jr., 1992, 
p. 264), pois não indicam tratar-se de decisão colegiada. Acrescenta-se que, 
conforme o Dictionary of Law, de Collin, uma decision é “a judgment in a civil 
court”, (COLLIN, 2005, p. 85), o que vedaria seu uso para um acórdão criminal. 
O glossário jurídico de Luanda Victorino (2009), por sua vez, simplesmente 
desconhece o termo. 
O segundo dilema aparece logo na ementa, o resumo do acórdão: 
“Estupro. Violência ficta. Provada a autoria e verificada a menoridade da vítima, 
uma criança de 11 anos, configurado está o crime de estupro pela violência ficta.” 
Trata-se, pois, de um caso de estupro pela violência ficta (ou presumida em 
razão da incapacidade de consentimento da vítima ao ato sexual praticado, 
tendo ou não penetração). Os conceitos em si não oferecem dificuldade: rape; 
presumed violence. O problema se configura pela inexistência de um crime 
denominado rape by presumed violence. A tradução mais comum, nesse caso, 
é statutory rape (uma espécie particular de estupro conforme definida pela lei, 
em oposição ao estupro que o cidadão comum conhece sem necessidade de 
auxílio da definição legal). Esse é o equivalente dado por Marcílio de Castro 
(2010, p. 216) e por Maria Chaves de Mello (2008, p. 81), que fornece como 
opção forcible rape. Estupro pela violência ficta não constados dicionários de 
Noronha ou Victorino. 
Mas o que vem a ser statutory rape? Segundo o Black’s Law Dictionary, 
uma espécie de Bíblia jurídica da língua inglesa, statutory rape é: 
 
 
 
15 
The unlawful intercourse with a female under the age of consent[,] which may 
be 16, 17 or 18, depending upon the state. The [authorities are] not required to 
prove that intercourse was without the consent of the female because she is 
conclusively presumed to be incapable of consent by reason of her tender age. 
(BLACK, 1979, p. 1.266) 
 
Isso parece corresponder ao caso do acórdão em tela e é corroborado 
pelo West’s Encyclopedia of American Law (2008), que diz: 
 
Statutory rape is different from other types of rape in that force and lack of 
consent are not necessary for conviction. A defendant may be convicted of 
statutory rape even if the complainant explicitly consented to the sexual contact 
and no force was used by the actor. By contrast, other rape generally occurs 
when a person overcomes another person by force and without the person’s 
consent. 
 
A adequação da tradução, no entanto, é apenas aparente, pois, como 
esclarecem Gerald e Kathleen Hill (1981), statutory rape é: 
 
[…] sexual intercourse with a female below the legal age of consent, but above 
the age of a child, even if the female gave her consent, did not resist and/or 
mutually participated. In all but three states the age of consent is 18, and the 
age above which the female is no longer a child varies although 14 is common. 
[…] Intercourse with a female child (below 14 or whatever the state law 
provides) is rape, which is a felony. (HILL; HILL, 1981, grifo nosso) 
 
Ou seja, por se tratar de estupro de uma criança de 11 anos, não pode 
ser classificado como statutory rape, sendo mais bem definido como child abuse 
na forma de carnal abuse. O Black’s define child abuse como uma “form of sexual 
attack which may or may not amount to rape” (BLACK, 1979, p. 217), o que é 
bastante abrangente. Já carnal abuse é descrito como: 
 
An act of debauchery of the female sexual organs by those of the male which 
does not amount to penetration; the offense commonly called statutory rape 
consists of carnal abuse. An injury to the genital organs in an attempt at carnal 
knowledge, falling short of actual penetration. Carnal knowledge of a female 
child of tender age includes abuse. (BLACK, 1979, p. 193, grifo nosso) 
 
 
 
16 
A solução mais adequada, portanto, parece se traduzir estupro pela 
violência ficta por carnal abuse, o que não resolve o problema da ementa, que 
nomeia outros elementos: estupro e violência ficta. Uma possibilidade para 
todos, menos os tradutores públicos, seria traduzir da seguinte forma: Rape. 
Presumed violence. [Carnal abuse]. Todavia, dá para perceber que o caldo pode 
facilmente entornar. No corpo do texto do acórdão, quando não se é obrigado a 
traduzir os componentes estupro e violência ficta, daria para traduzir estupro pela 
violência ficta (como no caso de A espécie é de violência ficta definida no art. 
224, letra a, do Código Penal) por statutory rape by carnal abuse: “This is a case 
of statutory rape by carnal abuse as defined in the Criminal Code, Art. 224, letter 
‘a’.” 
O terceiro dilema, e, a meu ver, o mais interessante, relaciona-se a um 
descontrole discursivo que se instala no texto em função de uma argumentação 
absurda do advogado de defesa, mas que é engatilhado por um erro crasso de 
concordância salientado pelo relator do acórdão. Para que a análise seja 
compreensível, reproduzo a seguir a íntegra do texto do acórdão: 
 
Apelação Criminal nº 6.241 
 
Apelante – L.R.R. 
Apelados – L.G.M. e Justiça Pública 
Relator – Desembargador Juscelino Ribeiro 
Turma Criminal 
 
Estupro. Violência ficta. 
Provada a autoria e verificada a menoridade da vítima, uma criança de 11 
anos, configurado está o crime de estupro pela violência ficta. 
 
Acórdão 
Acordam os Desembargadores da Turma Criminal do Tribunal de Justiça 
do Distrito Federal (Juscelino Ribeiro, Elmano de Farias e Joffily) em negar 
provimento. Decisão unânime, de acordo com a ata do julgamento. 
Brasília (DF), 31 de maio de 1984. 
 
 
 
 
17 
Relatório 
Des. Juscelino Ribeiro (Presidente e Relator) – Contra L.R.R. foi ajuizada 
queixa-crime, acusando-o da prática de tentativa de estupro contra a menor 
C.A.M. 
A inicial foi oferecida pelo representante legal da ofendida, através de 
procurador regularmente habilitado, e foi recebido com o despacho de fl. 39 
verso. 
O acusado confessou detalhadamente a prática do delito na fase do 
inquérito policial, mas retratou em Juízo, quando de seu interrogatório (fl. 48 e 
48v). 
O órgão do Ministério Público, à fl. 43 verso, manifestou-se pelo 
prosseguimento da ação. 
Na instrução foram ouvidas quatro testemunhas (fls. 56/58), vindo em 
seguida as alegações finais das partes, bem como a sentença de fls. 69/72, 
condenando o réu à pena de 2 (dois) anos e 4 (quarto) meses de reclusão pela 
infração dos arts. 213, c/c 12, II, e 224, todos do Código Penal. 
Inconformado, apelou o réu com as razões de fls. 78/79, contrariadas pelo 
autor (fls. 81/86). 
O representante do Ministério Público manifestou-se pela manutenção da 
sentença e no mesmo sentido foi o parecer da douta Subprocuradoria Geral (fl. 
91). 
É o relatório. 
 
Votos 
Des. Juscelino Ribeiro (Presidente e Relator) – Pretende o apelante a sua 
absolvição ao fundamento de que “para caracterização desse delito (estupro) 
são indispensáveis (sic) a presença de dois elementos – a conjunção carnal e a 
violência”. E disserta: “Para que houvesse o estupro, não só seria preciso que o 
agente fosse homem e a vítima mulher, mas e principalmente a ocorrência de 
uma união sexual normal” e diz mais que “a violência física, como integrante 
característica de estupro, há de ficar indubitavelmente provada, sem o que não 
haverá crime” – veja-se fls. 78/79. 
Ora, parece que o apelante, ao redigir suas razões de apelo, estava 
manuseando outros autos que não estes, ao alegar que a hipótese não é de 
 
 
 
18 
crime consumado mas tentado, quando não há sequer considerar ruptura do 
hímen como se pretendeu. 
Também ausente a figura da violência física para identificar o crime, eis 
que a vítima é uma criança de 11 anos de idade. A espécie é de violência ficta 
definida no art. 224, letra a, do Código Penal. 
E, para configurar o crime de estupro, a lei se contenta com a grave 
ameaça, dispensando mesmo a violência (art. 213 do CP). 
A prova colhida na instrução foi mais do que suficiente para indicar o 
apelante como autor do crime. 
A pena foi aplicada razoavelmente. 
Nego provimento ao apelo. 
Des. Elmano de Farias (Revisor) – De acordo. 
Des. Joffily – Acompanho o Relator, para confirmar a exemplar sentença 
do Juiz Romão Cícero. 
 
Decisão 
Negou-se provimento. Decisão unânime. 
 
O que nos interessa diretamente aqui é, em primeiro lugar, o problema do 
erro catalisador do caos: “Pretende o apelante a sua absolvição ao fundamento 
de que ‘para caracterização desse delito (estupro) são indispensáveis (sic) a 
presença de dois elementos – a conjunção carnal e a violência’”. Em função de 
diferenças de ordenamento sintático entre português e inglês, o erro que tanto 
irrita o juiz some na tradução: “The appellant seeks acquittal on the grounds that 
‘two conditions (carnal knowledge and violence) must be satisfied for this to 
qualify as rape.’” Não há como manipular o texto para que o erro se reproduza 
em inglês, pois não seria plausível – como o é em português, dado o foco 
semântico no plural dois elementos – a ocorrência de um erro de concordância 
nesse contexto sintático. Com o sumiço do erro, impiedosamente frisado pelo 
sic, desaparece o quesito textual desencadeador do destempero discursivo que 
passa a comandar o voto do irado relator. Pior, a ironiaque ele descarrega sobre 
o advogado de defesa (“e disserta”, “e diz mais” “parece que o apelante [...] 
estava manuseando outros autos que não estes”) fica difícil de enxergar na 
ausência do gatilho da desembargadora fúria. 
 
 
 
19 
Em situações normais de tradução, seria essa uma hora adequada para 
lançar mão de uma nota explicativa que indicasse que, na petição citada, na 
língua original do texto, havia um erro de concordância verbo-nominal não 
passível de reprodução na tradução, e que esse erro fora destacado pelo relator 
por intermédio de um sic. Em se tratando de um documento, no entanto, não 
cabe recurso a notas explicativas, ainda mais porque isso levaria à cobrança por 
texto não constante do documento original com o qual a tradução há de ser 
cotejada. Reside aí o dilema. As mãos do tradutor estão relativamente atadas. 
Não retratar o ocorrido, porém, equivale a desconsiderar aspecto fulcral para o 
pleno entendimento do texto e como ele se desenvolve ou, melhor dizendo, 
desintegra-se na sequência. 
A ausência do catalisador obriga o tradutor a carregar mais na tinta 
quando o relator destila sua ironia, pois, sem o erro, ela é menos perceptível. 
Pode-se obter esse efeito com o uso de palavras mais formais e rebuscadas, 
como furthermore ou indeed, que ajudarão a contrastar com o pobre texto do 
coitado do advogado exposto. Trata-se, pois, de uma estratégia de 
compensação que, novamente, pode se ver frustrada pela exigência de 
semelhança imposta na tradução de documentos. Ainda por cima, o texto nos 
dá pouca oportunidade para exercitar a compensação e, portanto, persiste o 
perigo de que o leitor deixe de captar o subtexto do desembargador, plenamente 
perceptível para quem lê em português. 
Cabe, pois, notar que, a partir desse ponto, o texto do relator é redigido 
em parágrafos cada vez menores e lacunares enquanto a redação beira o 
incompreensível. O terceiro, quarto e quinto parágrafos do voto do relator 
deveriam formar um só, pois o assunto é rigorosamente o mesmo. Ademais, o 
quinto se inicia com a conjunção e, contrariando as mais elementares normas 
de redação formal em português. 
No segundo parágrafo do voto, já se instaura a confusão conceitual, pois 
o estilo elíptico do relator torna o entendimento confuso: “[...] alegar que a 
hipótese não é de crime consumado mas tentado, quando não há sequer 
considerar ruptura do hímen como se pretendeu.”. Se tivesse incluído a palavra 
razão, a compreensão seria facilitada: “alegar que a hipótese não é de crime 
consumado mas tentado, quando não há [razão] sequer [para] considerar ruptura 
do hímen como se pretendeu.”. Mesmo assim, é possível ser mais claro ainda 
 
 
 
20 
na redação da tradução: “…it would appear the appellant was referring to some 
other docket for he argues this is a case of an attempted, not a consummated 
crime, although rupture of the hymen is irrelevant here, contrary to his claim.” 
De forma semelhante, o estilo elíptico do próximo parágrafo exige 
bastante do leitor: “Também ausente a figura da violência física para identificar 
o crime, eis que a vítima é uma criança de 11 anos de idade.”. Nesse caso, até 
o verbo principal do período foi suprimido: “Também [está] ausente a figura da 
violência física para identificar o crime, eis que a vítima é uma criança de 11 anos 
de idade.” O que isso significa é que “Tampouco precisa haver violência física 
para configurar o crime, pois a vítima é uma criança de 11 anos de idade”, ou 
seja, a violência é ficta, presumida, subentendida na assimetria de uma relação 
sexual entre um adulto e uma criança, que não reúne condições de resistência 
aos avanços do primeiro. 
Embora não chegue a repetir o erro do advogado, o fausto 
desembargador claramente perde o controle emocional e redacional por causa 
da indignação que um recurso absurdo e escamoteador lhe provoca. O 
advogado de porta de cadeia merece o pito. O leitor, e por tabela o tradutor, é 
que não devia pagar o pato. 
Resumo da ópera: os dilemas parecem mais potentes que as soluções. 
Para tradutores em formação, isso pode ser fator de desalento. Acredito, todavia, 
que aprender a traduzir é aprender a ter jogo de cintura diante do imprevisto e 
do inesperado. Essa é uma lição facilmente aprendida pelo intérprete, porque 
aceita-se que a comunicação oral seja imperfeita, que o desempenho nem 
sempre corresponda à competência. 
Na seara da expressão escrita, contudo, parece prevalecer uma 
presunção de perfeição. Infelizmente, ela subjaz às análises na literatura dos 
Estudos de Tradução, honrosa exceção feita a Peter Newmark, que insiste na 
importância de o tradutor empregar seus conhecimentos linguísticos e da 
realidade extratextual para observar possíveis defeitos textuais, possivelmente 
corrigi-los e se comunicar a contento com os usuários das traduções. Nesse 
sentido, é salutar a abordagem de estudiosas como Susan Sarcevic e Giuliana 
Garzone, que empregam uma ótica funcionalista na análise da tradução jurídica. 
Não há razão para presumir que a escrita prime pela excelência – e qualquer 
tradutor com um mínimo de experiência sabe que a realidade da expressão 
 
 
 
21 
escrita está longe disso – nem para desanimar diante do texto que desanda. 
Contanto, claro, que ainda seja possível captar o que se pretendia dizer. 
A beleza da tradução, sua sutil sedução, está precisamente no desafio 
que lança da travessia do rio caudaloso que se interpõe entre o texto e sua 
tradução, entre o texto travado no contexto que o nutre e o receptor imprevisto 
que ela pode nutrir. A tradução jurídica torna essa realidade mais visível, mais 
palpável, mais perigosa. Podemos afirmar como Riobaldo que “o real não está 
na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. 
O tradutor em formação há de aprender que nem sempre a resposta é o que 
conta, malgrado o conforto mental que propicie. Quem se aventura pelas 
veredas da tradução jurídica logo se toca que “Vivendo se aprende; mas o que 
se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas”. Espera-se que os 
dilemas abordados na tradução desse acórdão que se detona sirvam para 
registrar isso em cartório. 
 
1.4 O TRADUTOR JURÍDICO 
 
O PERFIL DO TRADUTOR JURÍDICO 
 
Dada a natureza específica dos textos 
jurídicos, muitos profissionais da área do Direito e 
da tradução tentaram estabelecer o perfil ideal do 
tradutor de textos jurídicos, chegando ao difícil dilema: é preciso ser tradutor ou 
jurista para traduzir os textos da área de Direito? A questão de quem é mais apto 
para traduzir os textos jurídicos ainda continua em aberto. O tema do perfil e da 
formação do tradutor jurídico será tratado brevemente em seguida, embora este 
tema mereça uma dissertação por si só. 
David G. Reed lamenta que “les traducteurs de textes juridiques ne soient 
que trop rarement des juristes” (apud Lavoie 2003:394), o que dá a entender que 
as pessoas formadas em Direito são as mais indicadas para traduzir textos desta 
natureza. Esta opinião universalmente difundida talvez venha da noção de que 
o Direito é basicamente uma questão de terminologia e de interpretação. 
Relativamente à terminologia jurídica, Darbelnet justifica esta ideia da seguinte 
maneira: 
 
 
 
22 
Le discours juridique dispose naturellement d‟un très grand nombre de termes 
techniques que seul le juriste peut manier avec sûreté, puisque c‟est une caractéristique 
de tout terme technique de n‟être compris que si on connaît de première main la réalité 
qu‟il recouvre, ce qui exige naturellement une formation spécialisée” (1979:31). 
 
A maioria das pessoas, sobretudo aqueles que fornecem trabalho de 
tradução nesta área, pensa que para traduzir os textos jurídicos basta ser 
licenciado em Direito e conhecer uma língua estrangeira. Uma vez que o 
principal instrumento de trabalho dos profissionais de Direito é a linguagem 
específicadesta área, deduz-se que serão as pessoas mais indicadas para 
traduzir textos de caráter jurídico. Este argumento não convence Roda Roberts, 
coordenadora de um programa de mestrado em tradução jurídica na 
Universidade de Ottawa, segundo a qual: “over half of the law graduates who 
apply for admission fail the entrance exam because of inadequate language 
skills.” (Lavoie 2003:395). 
Deste ponto de vista, ter uma formação em Direito não significa que uma 
pessoa tenha adquirido automaticamente as aptidões necessárias para traduzir 
um texto jurídico. No caso dos advogados canadianos que traduziram as 
legislações nacionais, estes foram criticados pelo seu excessivo apego à 
estrutura e à terminologia do TP. É por isso que Gémar, no seu artigo “La 
traduction juridique: art ou technique d‟interprétation?”, afirma que “un juriste qui 
ne serait pas formé à la traduction, à ses méthodes, à ses contraintes, n‟est pas 
plus qualifié pour traduire qu‟une secrétaire d‟entreprise, un comptable, un 
architecte, un médecin ou un plombier.” (1988:306). 
Por outro lado, se um licenciado em Direito que carece de competências 
tradutórias não é apto para efetuar traduções jurídicas, será que um tradutor será 
capaz de fazê-lo sem ter conhecimentos de Direito? A essa questão Gémar 
responde negativamente, aconselhando os tradutores que pretendem 
especializar-se em tradução jurídica a estudar Direito “afin de mieux maîtriser 
leur art en l‟édifiant sur des bases juridiques” (Gémar 1988:307). 
Devido às particularidades do discurso jurídico, a maioria dos 
investigadores (como Gémar 1988, Šarčević 1997, Lavoie 2003, entre outros) 
concorda que os tradutores devem ser competentes tanto em tradução, como 
em Direito, propondo uma dupla formação em Direito e Tradução para quem 
quiser seguir a área de tradução jurídica. 
 
 
 
23 
COMPETÊNCIAS DO TRADUTOR JURÍDICO 
 
Quanto às competências necessárias, Deborah Cao distingue três pré-
requisitos que o tradutor deverá possuir para realizar uma tradução bem 
sucedida: o tradutor deve (1) adquirir conhecimentos básicos dos diferentes 
sistemas jurídicos; (2) estar familiarizado com a terminologia relevante da área 
do Direito em que se especializa; e (3) conhecer as particularidades da 
linguagem jurídica da LP e LC (2007:34). 
Contudo, Šarčević acrescenta a estes pré-requisitos outras 
competências, afirmando que um tradutor jurídico deverá possuir: 
a thorough understanding of legal reasoning and the ability to solve legal problems, 
to analy[s]e legal texts, and to foresee how a text will be interpreted and applied 
by the courts. In addition to these basic legal skills, the legal translator should also 
possess extensive knowledge of the legal system and preferably the source legal 
system as well. Moreover, drafting skills and a basic knowledge of comparative 
law and comparative methods are also required (1997:113). 
 
No entanto, Šarčević chega à conclusão de que este tipo de tradutores é 
demasiado ideal, raramente havendo quem reúna todas estas competências. 
Embora não haja consenso quanto ao necessário grau de conhecimentos 
de Direito ou das aptidões exatas de um tradutor jurídico, deduz-se destas 
afirmações que a tradução jurídica pressupõe um profundo conhecimento da LP 
e da LC, um sólido conhecimento dos principais sistemas e das particularidades 
das linguagens jurídicas envolvidas, bem como das regras de redacção das 
diferentes tipologias de textos jurídicos. Consequentemente, não basta que o 
tradutor jurídico tenha conseguido encontrar as equivalências terminológicas em 
cada uma das línguas confrontadas, ou até em cada um dos sistemas jurídicos 
que elas representam, é preciso também que o efeito jurídico previsto no texto 
de partida corresponda ao mesmo efeito jurídico no texto de chegada. 
Além disso, uma vez que a tradução jurídica pressupõe a tradução de 
textos de diferentes áreas do Direito, o tradutor jurídico deverá ser competente 
no uso de vários recursos e instrumentos de documentação. 
Um dos recursos indispensáveis no processo de tradução de textos 
jurídicos são os dicionários monolíngues e bilíngues, constituindo estes uma 
 
 
 
24 
fonte primária de resolução de dúvidas relacionadas com a terminologia. No 
entanto, devido ao facto que o significado dos conceitos da área do Direito 
depende do contexto e do domínio jurídico em que se inserem, os dicionários 
monolíngues e bilíngues deverão ser usados com cautela, pois podem levar à 
erros de interpretação ou tradução. Segundo Cairns e McKeon, 
 
Legal translation is an area in which dictionaries are of limited value - in fact, 
sometimes they can be downright misleading. The reason for this is that 
dictionaries look for the convenient „one-to-one equivalent‟ translation, and very 
seldom if ever provide an explained translation. (apud Houbert 2003:1) 
 
Outro recurso importante na tradução jurídica são os textos que 
pertencem à mesma tipologia na LP e LC. Estes textos poderão esclarecer o 
significado de certas palavras, oferecendo os contextos ou fornecendo 
informação acerca da terminologia e registo usados em determinados textos de 
Direito. Além disso, como afirma Vienne, “des textes rédigés par des natifs dans 
la langue/culture cible, est […] la seule véritable réponse au risque d‟interférence 
[…], pierre d‟achoppement redoutée par tout traducteur tant professionnel 
qu‟apprenti” (1998:3). 
Na era digital, o tradutor jurídico dispõe também de recursos na Internet 
que lhe fornecem um vasto leque de soluções para os problemas de terminologia 
que enfrenta. No entanto, o tradutor deverá saber utilizar estes recursos com 
sabedoria, distinguindo entre fontes fiáveis e menos fiáveis. Entre a multidão de 
recursos electrónicos, destacam-se em particular as bases de dados IATE e 
TERMIUM, o thesaurus multilíngue da União Europeia Euro-Voc e os textos 
paralelos do EUR-Lex. 
Além disso, um dos recursos revolucionários oferecidos pela Internet são 
os grupos de discussão, onde os tradutores podem trocar informações e colocar 
questões. Estes grupos, como, por exemplo, o proz.com, oferecem aos 
tradutores a possibilidade de partilhar os seus conhecimentos e as suas 
experiências acumuladas em tradução, mas também de resolver dúvidas. O 
tradutor deixa, desta forma, de estar isolado, podendo beneficiar da colaboração 
de outras pessoas no esclarecimento de dúvidas e no fornecimento de propostas 
de tradução. 
 
 
 
25 
Além disso, um dos requisitos eventualmente pedidos pelos fornecedores 
de trabalho em tradução é a competência do tradutor em trabalhar com as 
ferramentas de tradução assistida, como o SDL Trados ou o Wordfast, entre 
outras. Estes programas aumentam a produtividade do tradutor jurídico graças 
à possibilidade de recuperar a informação obtida através de traduções prévias, 
o que será de grande ajuda na tradução de textos de natureza jurídica, pois estes 
tendem a repetir a mesma terminologia e as mesmas estruturas. 
 
1.5 MAPEAMENTO DA LINGUAGEM JURÍDICA: 
QUESTÕES TERMINOLÓGICAS 
 
O aprendiz de Tradução que pretenda se especializar na tradução de 
textos jurídicos deve conhecer a linguagem empregada nesse âmbito, para 
compreender tanto o texto de partida quanto os textos paralelos que serão 
consultados, de forma que possa elaborar um texto coerente, compreensível e 
aceitável na cultura da língua de chegada. 
A linguagem jurídica tem particularidades que a distinguem das outras 
linguagens de especialidade, com características lexicais, sintáticas, estilísticas 
e gramaticais próprias. Paradoxalmente, essa linguagem utiliza o mesmo 
repertório da língua comum, possuindo poucos termos de cunho estritamente 
jurídico. A grande maioria do léxico jurídico é formada por termos que são 
utilizados no universo jurídico e fora dele. 
Neste capítulo discutiremos os conceitos de língua comum/geral e 
linguagem de especialidade,com foco na linguagem jurídica e suas principais 
características. Abordaremos ainda, o texto jurídico, seus diferentes emissores 
e receptores, formas e padrões, e suas distintas funções no campo jurídico. As 
principais escolas e teorias da Terminologia serão apresentadas de forma 
concisa, para demonstrar os pontos de divergência e convergência. Para 
finalizar, desenvolveremos algumas considerações sobre terminologia jurídica, 
que gera grande preocupação nos aprendizes de Tradução. 
Antes, esclarecemos que, aqui a palavra Terminologia será grafada, com 
“T” maiúsculo, quando nos referirmos ao estudo científico dos termos e com “t” 
minúsculo, o conjunto de termos de um campo de conhecimento específico, em 
consonância com o já consolidado nessa área do conhecimento. 
 
 
 
26 
A LINGUAGEM COMUM/GERAL E A LINGUAGEM 
ESPECIALIZADA 
 
O permanente e constante avanço científico e tecnológico vivenciado pela 
humanidade desencadeia a necessidade de se criarem denominações 
específicas para conceitos e objetos, antes desconhecidos ou inexistentes. Cada 
novo invento ou descoberta é preciso ser nomeado, para permitir sua divulgação 
e conhecimento tanto pelo público especializado da área quanto pelo o público 
leigo (CABRÉ, 1993). Deste modo são desenvolvidas as linguagens de 
especialidade. 
O uso da denominação “linguagem de especialidade” implica aceitar que 
os recursos comunicativos, utilizados em determinadas circunstâncias, 
apresentam alguma idiossincrasia. 
No entanto, se o conceito de linguagem for analisado em profundidade e 
se as características reais de todas as linguagens de especialidade forem 
observadas, a maioria das suas diferenças e peculiaridades não permite 
diferenciar os recursos linguísticos utilizados na linguagem comum/geral e na 
linguagem de especialidade. Isso porque essas linguagens valem-se do mesmo 
repertório morfológico, fonológico, lexical, discursivo e sintático da linguagem 
comum/geral, mas que, em contextos específicos, assumem outros significados, 
de acordo com a situação comunicativa, os interlocutores envolvidos e os 
diferentes graus de especialização. Consequentemente, não faz sentido afirmar 
que existe uma linguagem de especialidade desvinculada da linguagem 
comum/geral. 
Sager (1980) afirma que a linguagem de especialidade é dependente da 
linguagem geral, pois nela se baseia e dela deriva. Para o autor, as linguagens 
de especialidade: 
• objetivam a construção de termos monossêmicos, através da relação 
um significante para um significado e vice-versa; 
• indicam as possibilidades para o emprego de suas unidades 
constituintes (termos) e significados que carregam (conceitos); 
• visam à educação especializada e à comunicação entre os especialistas 
da mesma área de conhecimento; 
• não são linguagens artificiais; 
 
 
 
27 
• originam-se de consensos conceituais elaborados dentro das áreas 
técnico-científicas e passíveis de alteração, se esses conceitos são alterados; 
• não se traduzem em apenas um conjunto de termos, mas possuem 
dimensão pragmática, semântica e sintática. 
 
Gémar (2005b, p. 43), autor que se dedica ao estudo da tradução e 
linguagem jurídica, esclarece que a definição de linguagem de especialidade não 
é unanime entre os linguistas, mas não despreza sua utilização, cada vez mais 
recorrente, destacando: 
 
Em teoria, o princípio da língua de especialidade é um dos mais simples: cada 
área possui sua língua, sua maneira de pensar as coisas, e as palavras como 
expressá-las. Um cardiologista, um físico, um geólogo ou um biólogo possuem e 
utilizam, sem dúvida, uma língua própria e até exclusiva da sua área. Utilizam um 
vocabulário especializado, jargão técnico ou profissional, mais ou menos 
desenvolvido de acordo com a disciplina, mas também palavras da língua comum 
com uma acepção singular, geralmente opaca à compreensão do leigo. 
 
Nosso entendimento, portanto, é de que as linguagens de especialidade 
não constituem um sistema total ou completamente diferenciado da linguagem 
comum/geral, mas sim variedades funcionais dessa linguagem, com 
características que as tornam distintas da linguagem comum/geral. Esses traços 
próprios são ativados de acordo com circunstâncias comunicativas, tais como: o 
tema, o nível de especialização dos interlocutores, a formalidade ou 
informalidade da situação, as informações que devem ser transmitidas, etc. 
Sendo a linguagem jurídica um tipo de linguagem especializada, 
entendemos necessário abordar suas principais características. Entretanto, uma 
vez que esta pesquisa possui um vínculo estreito com a Terminologia, 
apresentaremos na sequência, de forma breve e sucinta, as duas principais 
escolas e teorias dessa ciência: a Teoria Geral da Terminologia e a Teoria 
Comunicativa da Terminologia. 
 
A LINGUAGEM JURÍDICA COMO LINGUAGEM DE 
ESPECIALIDADE 
 
Retomando ideias já apontadas na Introdução deste trabalho, esta seção 
se inicia lembrando que o Direito se manifesta através da língua. Sua existência 
se confirma e é constantemente validada por meio de palavras e enunciados, 
 
 
 
28 
seja na forma oral, seja na forma escrita. Para a maioria das pessoas, a 
linguagem jurídica é intimidante e o próprio Direito, um campo vasto e complexo 
em que somente iniciados podem se aventurar. 
Por funcionar como sistema regulador da sociedade, o Direito vale-se de 
uma linguagem prescritiva, ditando regras, regulando condutas, determinado o 
que é aceitável ou reprovável nas comunidades onde ele está inserido. Ademais, 
por ser uma Ciência Social, o Direito carrega consigo uma grande bagagem 
cultural, codificada no texto jurídico, e que pode ser constatada em seu discurso 
e na terminologia empregada, como afirma Fonseca (2014, p. XV): 
A linguagem jurídica e a linguagem do Direito constituem um dos meios 
pelos quais uma sociedade se organiza e ordena. Cada palavra contida numa lei 
tem ou pode ter um profundo impacto na vida das pessoas. A noção de “família”, 
de “aborto”, de “subsídio governamental”, de “crime de quadrilha”, de 
“democracia”, dentre tantas outras, são objeto de interpretações diversas em 
razão dos interesses e concepções de mundo em disputa. Assim, a realidade do 
Direito não é só o mundo que ele pretende regular, mas também os textos que 
veicula na forma de normas jurídicas. É por isso que a compreensão do 
fenômeno jurídico não prescinde do poder de interpretá-lo em consonância com 
o tempo em que se vive. 
Bittar (2003) explica que a linguagem jurídica é uma linguagem técnica, 
fundada no histórico do cotidiano de uma sociedade, construída na 
intraculturalidade, com caráter performativo e que se apresenta por meio de 
pressupostos lógico-deônticos. Acrescenta que a linguagem jurídica retira da 
linguagem comum os termos e expressões necessários para seu discurso, 
elaborando uma metamorfose nesses signos linguísticos quando os converte em 
linguagem técnica. A prática do Direito busca, ainda, determinar usos 
categóricos para a linguagem comum, o que “redundou no condicionamento e 
na especialização de sua linguagem.” Bittar sinaliza que a especificidade dos 
termos presentes no discurso jurídico é diferenciada: 
Para a terminologia tecnicizada que compõe o dicionário jurídico, mister 
se faz sejam determinados precisamente os correspondentes aos "institutos 
jurídicos" nacionais no estrangeiro, quando da ocorrência da "tradução jurídica". 
Essa abordagem se privilegia em face das discussões que se podem produzir 
 
 
 
29 
quando da aplicação do Direito estrangeiro pelo juiz nacional, ou vice-versa. 
(BITTAR, 2003, p.179) 
A linguagem jurídica é diariamente utilizada por diversos interlocutores, 
de especialistas a leigos, ainda que com finalidades distintas. Boa ´parte do 
vocabulário especializado da área jurídica faz parte do léxico comum da língua 
e, é por isso, parte integrante do vocabulário de seus falantes.A diferença reside 
no significado que essas unidades lexicais têm para o especialista e para o leigo, 
ainda que nuances desse significado no universo jurídico permaneçam. Vários 
termos podem ilustrar nosso argumento: lei, justiça, consumidor, trabalho e 
casamento são exemplos de palavras que são termos quando empregadas no 
contexto jurídico, mas frequentemente utilizadas fora do âmbito de 
especialidade, o que valida nossas considerações anteriores sobre a utilização 
de terminologias por usuários não especialistas na área de conhecimento. 
A linguagem jurídica, assim como as demais linguagens de especialidade, 
e devido a seu caráter social e cultural, não é homogênea e unívoca, podendo 
ser expressa de diferentes formas e através de distintos canais, mas que se 
condensam em três grandes formas: doutrina, jurisprudência e legislação. 
A doutrina, considerada uma das fontes do Civil Law ou Direito Romano- 
Germânico, reúne um conjunto de princípios, ideias e ensinamentos de juristas 
que fundamentam as decisões judiciais e a interpretação das leis, fixando 
orientações gerais para a aplicação das normas jurídicas. A jurisprudência, por 
sua vez, é a decisão reiterada dos Tribunais Superiores. Trata-se do próprio 
Direito sendo expresso pelos juízes, desembargadores e ministros ao decidir 
sobre os mais diferentes assuntos, de ordem penal, civil, administrativa ou 
comercial. Já a legislação conforma um conjunto de leis que organiza a vida de 
determinado grupo social, estabelecendo as condutas e ações aceitáveis ou 
reprováveis para o grupo, e determinando sanções no caso de descumprimento 
das normas. 
A linguagem jurídica possui determinada peculiaridades, sendo o ponto 
central dessa especialização o contexto de uso. Seus termos são vistos com 
unidades singulares e, às vezes, similares a outras unidades comunicativas, 
admitindo a variedade conceitual e denominativa. Considerando sua dimensão 
textual e discursiva, a linguagem jurídica está intrinsicamente associada à 
 
 
 
30 
competência do falante, que ativa essa especialização nas situações que 
entende pertinente. 
Como linguagem de especialidade, encerra algumas características 
próprias (léxico, sintaxe, semântica e estilo) que a diferenciam de outras áreas 
do conhecimento. Trata-se de uma linguagem que apresenta um alto grau de 
formalidade, natureza abstrata, impessoalidade e autoridade. O texto jurídico 
também possui particularidades. A forma em que se expressa uma lei, uma 
sentença, um contrato ou uma ordem judicial não é a mesma. Ademais, há 
estreitos vínculos entre a linguagem jurídica e o sistema/ ordenamento jurídico 
em que ela se materializa, podendo, portanto, ser diferente de acordo com o 
idioma e o país. 
Apresentamos, na sequência, as principais características da linguagem 
jurídica identificadas no português, mas que também são encontradas no 
espanhol e não se restringem a essas línguas, pois podem estar presentes em 
outros idiomas. Tomamos por referência os seguintes autores: Beltrán e 
Larramendi (1997); Varó e Hughes (2009); Bittar (2003); Sabbag (2016). Nos 
exemplos inseridos abaixo, grafamos em itálico as palavras em espanhol e entre 
aspas as palavras em português. 
 
I. Características lexicais 
O léxico jurídico é composto pelo grupamento de termos que adquirem 
significado ou sentido dado pelo Direito em um determinado ordenamento 
jurídico. O léxico jurídico complexo é uma característica marcante da linguagem 
jurídica. 
✓ Elevado grau de formalidade: A linguagem jurídica guarda um 
elevado grau de formalidade, com recurso a palavras pouco frequentes na 
linguagem comum, como: “lavrar”, “indeferir”, “ratificar” e “abroquelar” / apremiar, 
pedimento, sancionar. A utilização desses termos confere ao texto uma maior 
formalidade e distância aos não iniciados na área, ao mesmo tempo que 
consolida a crença de que quanto mais formal um texto, maior sua força jurídica. 
✓ Uso de palavras arcaicas: Apesar da evolução das sociedades e 
consequentemente do Direito, ainda encontramos em textos jurídicos o emprego 
de palavras arcaicas, como “vênia”, “causídico”, “celibatário”, “mendaz” (falsa) / 
 
 
 
31 
otrosí, otorgar, debitorio. Esses termos acabam fazendo parte de um estilo 
próprio dos textos jurídicos. 
✓ Emprego de latinismos: A linguagem jurídica redigida em português 
do Brasil e em espanhol emprega grande número de expressões e termos em 
latim, já que o Direito Romano serviu de base para o desenvolvimento dos 
sistemas jurídicos dos países em que essas línguas são idioma oficial. São 
exemplos de expressões latinas: in dubio pro reo, que representa o princípio da 
inocência, pois, em caso de dúvida quanto à autoria do crime, o réu não poderá 
ser considerado culpado; a contrario sensu, utilizado em sentido de oposição ao 
que foi dito anteriormente; ab initio, que significa “desde o início”; a priori e a 
posteriori, a quo, causa mortis, habeas corpus, habeas data e contra legem. 
✓ Uso de estrangeirismos: Utilizam-se estrangeirismos quando a 
língua nacional não possui palavras que expressem o significado completo de 
um termo em uma língua estrangeira, como leasing, bullying, factoring e 
dumping. É importante ressaltar que faz parte da linguagem jurídica o uso de 
expressões estrangeiras, mesmo que existam equivalentes na língua de 
chegada, provavelmente um mecanismo retórico usado como forma de elevar o 
status dessa linguagem e, consequentemente, de seus usuários. 
✓ Eufemismos: De acordo com o dicionário Aurélio, eufemismo “é o ato 
de suavizar a expressão de uma ideia substituindo a palavra ou expressão 
própria por outra mais agradável, mais polida”. A utilização desse recurso não 
se restringe aos textos jurídicos e tem por objetivo evitar que determinadas 
palavras ou expressões possam ofender seus respectivos leitores. 
Colecionamos a seguir alguns exemplos: 
- “sancionar” no lugar de “punir”; 
- “persecução” para “perseguição”; 
- “faltar com a verdade” para referir-se à “mentira”; 
- “secretária” ou “ajudante” no lugar de “empregada doméstica” 
 
✓ Emprego de fórmulas de cortesia: É comum na linguagem jurídica 
o emprego de fórmulas de cortesia não habituais à linguagem cotidiana, como: 
“vossa excelência”; “ilustríssimo” e “magnífico”. 
 
 
 
32 
✓ Preferência pela utilização de fórmulas fixas, que conferem ao 
texto jurídico um caráter formal e solene. Exemplos: “aplicação dos dispositivos”, 
“para cumprimento dos dispositivos”, “salvo que”, “sem prejuízo”/ por la presente 
queremos informarles de; regular las relaciones jurídicas. 
 
• Características sintáticas, estilísticas e gramaticais 
As características apresentadas a seguir podem ser mais facilmente 
identificadas em textos jurídicos no formato de leis, petições, e sentenças e 
acórdãos judiciais. 
 
✓ Frases longas e complexas: Uma das características mais 
marcantes dos textos jurídicos é a complexidade e tamanho das frases, com o 
emprego de muitas orações subordinadas e coordenadas, apresentando, assim, 
um estilo complicado e muitas vezes, de difícil compreensão para o interlocutor, 
até mesmo o especializado. 
✓ Uso de maiúsculas: Tem por objetivo demonstrar que uma palavra 
ou termo possui um significado especial no texto, mas muitas vezes são 
empregados de forma diversa do prescrito pela gramática normativa, em que 
pese a edição de vários manuais de estilo e redação encontrados na forma 
impressa ou on line. 
"OS ESTADOS PARTES NESTA CONVENÇÃO, 
RECONHECENDO que o respeito irrestrito aos direitos humanos […]; 
AFIRMANDO que a violência contra a mulher […]; 
PREOCUPADOS por que a violência contra a mulher constitui ofensa […]; 
RECORDANDO a Declaração para a Erradicação da Violência contra a 
Mulher […]; 
CONVENCIDOS de que a eliminação da violência contra a mulher […]; e 
CONVENCIDOS de que a adoção de uma convenção […] 
CONVIERAM no seguinte:[…]” 
✓ Predominância da voz passiva: Esse recurso é amplamente 
utilizado nos textos jurídicos com o efeito de despersonalizá-los e ocultar seu 
emissor, estabelecendo, desta forma, uma distância entre a autoridade 
 
 
 
33 
legislativa e os destinatários, e conferindo um tom formal, neutro e objetivo ao 
texto jurídico. 
✓ Uso de pronomes indefinidos: Os pronomes indefinidos são 
utilizados para marcar o caráter geral do Direito, impossibilitando a exclusão de 
qualquer indivíduo. É um recurso muito utilizado em textos legislativos e, em 
especial, no Direito penal, para caracterizar o autor de um crime. Exemplos: 
“quem provocar a morte”, “aquele que mata”, “quem privar a vida”. 
✓ Emprego da terceira pessoa: A maioria dos textos jurídicos é escrita 
na terceira pessoa do singular ou plural, para demonstrar o distanciamento e a 
objetividade desse tipo de texto. Deste modo, o efeito é que não há um sujeito 
definido, um único destinatário, mas sim, uma aplicação universal, para qualquer 
sujeito do grupo social. 
✓ Emprego de verbos performativos: O dicionário Caldas Aulete 
define assim performativo: 
1. Diz-se de sentença cuja enunciação realiza a ação denominada pelo verbo; 
2. Diz-se de verbo que tem força diz-se de verbo que tem força ilocutória, […], 
verbos que exprimem ordem, intenção, pedido; 
3. Que realiza a ação que descreve (poder/discurso performativo) 
 
A linguagem jurídica caracteriza-se pelo amplo emprego de verbos 
performativos, ou seja, verbos que, pela sua própria enunciação, realizam o 
ato, conferindo às normas jurídicas e sentenças um efeito de imperatividade. 
Maciel (2008, p. 2) explica que: 
no universo jurídico, ações são realizadas por meio da língua de tal modo que 
a enunciação de um verbo faz nascer e desaparecer entidades, confere poderes, cria 
compromissos, absolve e condena, celebra a paz e declara a guerra, ordena, permite e 
proíbe. Nesse universo, o verbo realiza ações ao invés de descrevê-las, e tais ações se 
constituem em atos jurídicos. Nesse entendimento, dizer é fazer, e o verbo enunciado 
assume o caráter performativo. 
 
São exemplos de verbos performativos presentes na linguagem jurídica: 
“declarar”; “condenar”, “ordenar”, “sentenciar”, “autorizar”, “proibir”, “promulgar”, 
“definir”, “exonerar”, entre outros. 
 
 
 
34 
✓ Tempos verbais: Nos textos jurídicos verifica-se uma constante 
utilização de tempos verbais que não são utilizados na linguagem coloquial, 
conferindo a esse tipo de texto arcaísmo, intenção de mando e condicionando o 
efeito jurídico à realização de determinado ato. Há, ainda, o uso frequente das 
formas impessoais do verbo (infinitivo, gerúndio e particípio): “contribuir”, 
“atendendo”, “previsto”. 
 
✓ Fraseologia: A fraseologia empregada no discurso jurídico forma 
verdadeiras unidades terminológicas e somente são utilizadas em contextos 
específicos, tais como: “revogam-se as disposições em contrário” ou “iguais 
perante a lei”/ con vigencia y eficacia/ lo firmamos por duplicado. 
Além das propriedades já apresentadas, os textos jurídicos se 
caracterizam pelo emprego de: 
- Perífrases verbais de obrigação ou de possibilidade: “pode-se 
invocar”, “deve-se entender”. 
- Construção de advérbios com o sufixo –mente: “diariamente”, 
“precisamente”, “igualmente”; 
- Frequente anteposição do adjetivo: “excessiva burocratização”, 
“complexa e cruéis modalidades”, “importantes pronunciamentos”. 
- Nominalização de verbos: “regulação”, “legislação”, “penalização”. 
 
Essas características, em maior ou menor proporção, isoladas ou 
combinadas, estão presentes nos diferentes tipos de textos jurídicos, que é o 
tema do nosso próximo tópico. 
 
 
 
 
 
35 
1.6 O TEXTO JURÍDICO 
 
O texto jurídico representa o espaço de concretização da linguagem 
jurídica manifestada em múltiplas formas de acordo com a finalidade e as 
condições do evento comunicativo. De tal multiplicidade, decorrem diferentes 
tipos de textos orais e escritos, produzidos por diferentes autores e dirigidos a 
distintos destinatários para atender a diferentes objetivos. 
A primazia do texto escrito é uma constante, mesmo nas sociedades que 
adotam o Common Law como sistema jurídico. Esse tipo de registro respalda o 
Direito e possibilita a consulta das leis, decisões e atos legais sempre que se 
entender necessário, servindo também como registro histórico. Mesmo atos 
jurídicos realizados de forma oral como o depoimento, por exemplo são 
reduzidos para um texto escrito, assegurando sua existência. 
A principal diferença entre o texto jurídico e os demais textos 
especializados reside nas realidades extralinguísticas a que eles se referem. 
Quanto à carga cultural dos textos jurídicos, Gémar (2005) argumenta que 
eles terão cargas diversas de acordo com os emissores e tipologia, sendo que a 
produção do legislador (constituição, lei) apresenta a carga cultural mais pesada. 
Já a do jurista (atos jurídicos em geral ou elaboração de contratos, por exemplo) 
possui a menor carga, passando ainda pela produção do juiz (sentença), que 
tem uma carga intermediária. 
O autor informa que nem sempre o destinatário tem condições de 
compreender, além de seu alcance jurídico, a carga cultural que um termo ou 
expressão jurídica carrega e, assim, divide os destinatários em quatro 
categorias, da menor para a de maior instrução: 
 
i. o leitor leigo com maior ou menor especialidade; 
ii. leitor especialista; 
iii. o jurista profissional; 
iv. erudito. 
 
Acrescenta que, conforme a categoria em que o leitor se insere, o 
conteúdo jurídico do texto será mais ou menos compreendido, mas a carga 
 
 
 
36 
cultural, salvo exceções, não será percebida pelo leitor leigo, e será percebida 
em parte pelo leitor especialista e, talvez, até pelo jurista profissional (GÉMAR, 
2005). 
 
O texto jurídico assume diversos gêneros textuais. 
 
O gênero textual tem um papel social e atua diretamente na interação 
humana. É através do gênero textual, independente de qual for, que a 
comunicação entre as pessoas se realiza, de acordo com a situação específica, 
como, por exemplo, a elaboração de uma lei, que objetiva determinar uma 
conduta de comportamento. Ademais da função, os gêneros textuais possuem 
um estilo e conteúdo próprios, elementos que permitem sua classificação e a sua 
distinção. 
Quanto aos gêneros jurídicos, Pimenta (2007), observa: 
Podemos dizer que os variados gêneros textuais, característicos da área 
do Direito, são instrumentos sem os quais não pode haver a operacionalização 
do trabalho forense. Isto pode se tornar um problema grave, uma vez que o mau 
desenvolvimento desses gêneros (que formam as peças processuais) pode 
exercer influência direta no processo jurídico, inclusive na sentença jurídica 
proferida. É por meio da redação desses gêneros textuais que os fatos serão 
narrados e descritos e, ao serem narrados e descritos (serão reconstituídos; 
verdades serão reconstruídas) e os fatos interpretados pelas partes envolvidas 
nos processos (PIMENTA, 2007, p. 2029-2030). 
Desse modo, sendo o gênero textual indispensável para a comunicação 
e organização das relações sociais, este se faz presente em todos os âmbitos 
das relações humanas, não sendo diferente quanto às questões relativas ao 
campo jurídico. São exemplos de gêneros jurídicos: contratos, leis, 
regulamentos, sentença, editais, entre outros. 
Cada gênero jurídico possui uma estrutura de redação própria, com 
detalhes intrínsecos, organização do conteúdo, a forma como esse conteúdo é 
disposto na página, sinais tipográficos, numeração específica; enfim, 
características que possibilitam que uma lei não seja confundida com uma 
procuração, conforme ilustramos abaixo: 
 
 
 
37 
 
 
O texto legislativo materializa o próprio Direito por ser um conjunto 
codificado escrito das normas institucionais. Constitui as regras de organizaçãoe conduta de um grupo social, estabelecendo sanções àqueles que 
desobedecerem a seus preceitos. No contexto comunicacional, possui um 
emissor, que é o legislador/Poder Legislativo, e uma multiplicidade de 
destinatários/cidadãos. 
No Brasil, a Lei Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, dispõe 
sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis, conforme dispõe 
o parágrafo único do artigo 59 da Constituição Federal. Por isso, o texto 
legislativo tem rígidos cânones legais quanto à sua redação. É constituído de 
 
 
 
38 
artigos, parágrafos e incisos, além de referenciar outras leis ou disposições do 
próprio texto. Sua disposição gráfica também conta com uma estrutura fixa, 
podendo ser dividido em três partes (preâmbulo, corpo do texto e conclusão), 
sendo que essas também se subdividem. 
No preâmbulo, encontram-se a epígrafe, a ementa e a promulgação. Na 
epígrafe é determinada a categoria do documento (lei, decreto, portaria, 
resolução, etc.) e uma numeração única, seguida do ano em que o texto 
legislativo foi promulgado, para facilitar sua identificação e acesso, registrada em 
letra maiúscula. A ementa é um pequeno resumo do conteúdo do texto 
legislativo, para que em uma rápida leitura esse conteúdo possa ser identificado. 
Por fim, a promulgação destaca a autoridade do emissor e estabelece a 
obrigatoriedade de se cumprir o que foi disposto na lei. E aqui retomamos 
algumas características da linguagem jurídica, como o destaque em negrito e 
maiúscula da autoridade emissora “O PRESIDENTE DA REPÚBLICA”, a 
utilização de verbos performativos “decreta”, o emprego de fórmulas fixas e 
ritualizadas “faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono…”, 
além de uma forma pouco usual do emprego do verbo, colocando o sujeito do 
verbo na terceira pessoa e o verbo na primeira pessoa “O PRESIDENTE DA 
REPÚBLICA Faço saber…”. No preâmbulo é impresso o brasão da República e 
o órgão responsável tanto pela redação da lei (Casa Civil – Subchefia para 
Assuntos Jurídicos) quanto pela sua promulgação (Presidência da República). 
 
 
 
Na sequência, vem o corpo do texto, ou seja, o dispositivo legal. O corpo 
do texto é dividido em artigos, parágrafos, incisos, alíneas e itens, de acordo com 
a necessidade de complemento ou exceções que o comando normativo 
exige/prevê. 
De Plácido e Silva (1993, p. 208) afirma que o artigo 
 
 
 
39 
designa divisão elementar e fundamental das leis, na qual se encontra 
condensada uma disposição legal ou um princípio, que se constitui em regra ou 
em norma a ser seguida em determinado caso, a qual, para facilidade de citação, 
vem seguida de um número, que é somente dele, em cada lei. As leis, 
regulamentos, regimentos, em que se formulem princípios e regras para serem 
atendidos e cumpridos, são divididos em artigos, que vão numerados em ordem 
crescente, a partir de um ou primeiro. 
 
Caso seja necessária alguma complementação, o artigo é acrescido de 
parágrafos e seu segmento inicial recebe o nome de caput. Os parágrafos, por 
sua vez, podem ser desmembrados em incisos, os incisos em alíneas e a alíneas 
em itens, se for preciso. Aqui cabe ressaltar que essa forma de constituição do 
texto legislativo é a adotada no Brasil e que não corresponde necessariamente 
à forma adotada em outros países, o qual pode representar um problema para a 
tradução. 
O Padrão da Imprensa Nacional brasileira determina que os artigos 
devem ser registrados pela abreviatura “Art.” acompanhados de números 
ordinais do 1º ao 9º; a partir daí, emprega-se números cardinais. Os parágrafos 
são reproduzidos com o sinal gráfico “§”, obedecendo a mesma regra de 
numeração dos artigos. Caso exista apenas um parágrafo, deve-se escrever por 
extenso “parágrafo único”. Os incisos são anotados em algarismos romanos, as 
alíneas por letras e os itens também em algarismos romanos. Quando uma nova 
lei fizer alterações em artigos de outra lei já promulgada e vigente, os artigos que 
não sofrerem alterações não são compilados novamente, sendo representados 
por pontos “...................................................................................”. Na lei 
colecionada acima, podemos identificar esse padrão definido pela Imprensa 
Nacional. 
Por fim, na conclusão se estabelece a determinação para que a lei seja 
executada, a revogação de dispositivos em contrário, se for o caso. Local, data 
e assinatura do responsável pela promulgação do diploma legal, finalizam o 
texto. 
 
 
 
40 
Aqui também identificamos características da linguagem jurídica, como o 
registro de fraseologia própria da área “Esta Lei entra em vigor na data da sua 
publicação/ Este texto não substitui o publicado no DOU …”. Uma peculiaridade 
dos textos legislativos brasileiros é o registro comparativo entre o ano de 
publicação da lei e o tempo transcorrido da Independência e da Proclamação da 
República (194º da Independência e 127ª da República) e a referência ao(s) 
ministro(s) integrante(s) do governo, quando da publicação da lei, que tiveram 
um papel de destaque na sua elaboração, aprovação e promulgação. 
 
 Procuração 
 
 
A procuração é um dos textos jurídicos mais utilizados por diversos 
interlocutores, sendo na maioria pessoas leigas, sem conhecimento específico 
da linguagem jurídica. Trata-se de um documento pelo qual uma pessoa 
concede a outra poderes para atuar em seu nome, praticando atos, assinando 
documentos e administrando interesses e negócios. Pode ser pública (quando 
formalizada em cartório) ou particular (quando entabulada entre particulares), e 
possui diversos formatos e finalidades. 
 
 
 
41 
Quanto à sua estrutura, esse tipo de texto, se confeccionado em cartório, 
traz os dados onde a procuração foi registrada (Livro, folhas, ordem), caso seja 
necessário consultá-la novamente, apresentando ainda os dados do cartório 
responsável pelo registro. Na sequência é inserido o título, em negrito e letras 
maiúsculas (PROCURAÇÃO PÚBLICA), seguido da expressão “Saibam 
quantos este instrumento de procuração bastante virem”, inserindo a data em 
que a procuração é registrada. Esse tipo de texto jurídico geralmente é elaborado 
em um único parágrafo, sem espaços, para que nenhuma informação adicional 
seja acrescentada posteriormente. Contém a qualificação detalhada do 
outorgante (quem está dando os poderes) e do outorgado (quem está recebendo 
os poderes), nome, estado civil, nacionalidade, profissão, RG e CPF e endereço, 
além de descrever minuciosamente os poderes que estão sendo concedidos e a 
finalidade, de forma que o outorgado não execute legalmente atos que não lhe 
foram delegados. O prazo de validade da procuração também é anotado. Após 
o texto, coloca-se a localidade, a data, e as assinaturas do outorgante e do 
tabelião responsável por elaborar a procuração. 
Quanto à terminologia empregada, verifica-se o registro de termos 
arcaicos e em desuso, redação confusa que dificulta a leitura e compreensão do 
texto, e o uso de letras maiúsculas e negrito. 
Esses dois exemplos ilustram a amplitude dos textos jurídicos e, 
recuperando as ideias de Cornu e Maciel, são textos que criam ou realizam o 
Direito, sendo elaborados por autores distintos e direcionados a diferentes 
destinatários, de acordo com a função que eles desempenham. 
No seguinte tópico, teceremos algumas considerações sobre a 
terminologia jurídica e a especificidade dos termos identificados nos textos 
jurídicos. 
 
A TERMINOLOGIA JURÍDICA 
Já comentamos anteriormente que não existe uma linguagem de 
especialidade apartada do léxico comum, mas, sim, palavras que adquirem 
estatuto terminológico em situações especializadas. No campo científico e 
técnico, os símbolos e nomes científicos geralmente têm uma representação 
universal, o que facilita a identificação da terminologia específica da área e sua 
 
 
 
42 
comunicação, embora essa linguagem

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