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AULA 1: FUNDAMENTOS DO DIABETES TIPO 2 ATUALIZAÇÃO NO MANEJO CLÍNICO DO PACIENTE COM DIABETES MELLITUS TIPO 2 - DM2 FASCÍCULO 1 DO E-BOOK Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. Sociedade Brasileira de Diabetes. AstraZeneca Atualização no manejo clínico do paciente com diabetes mellitus tipo 2 [livro eletrônico] : DM2 / Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. Sociedade Brasileira de Diabetes. AstraZeneca ; [elaboração de texto Adriana Bosco...et al.]. -- 1. ed. -- Brasília, DF : CONASEMS, 2023. PDF Outros elaboradores: João Eduardo Nunes Salles, Rodrigo Nunes Lamounier, Ronaldo, José Pineda Wieselberg. Vários colaboradores. Bibliografia. ISBN 978-85-63923-48-6 1. Diabetes - Cuidados e tratamento 2. Diabetes - Diagnóstico 3. Diabetes - Prevenção 4. Diabetes mellitus 5. Medicamentos 6. Saúde pública 7. Sistema Único de Saúde (Brasil) I. Bosco, Adriana. II. Salles, João Eduardo Nunes. III. Lamounier, Rodrigo Nunes. IV. Ronaldo. V. Wiselberg, José Pineda. CDD-616.462 NLM-WK-810 Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. 2023. Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde. Sociedade Brasileira de Diabetes. AstraZeneca. A coleção institucional do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Câmara Brasileira do Livro (CBL) - https://www.cblservicos.org.br Elaboração, distribuição e informações: CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE – Conasems Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Anexo B, Sala 144 Zona Cívico-Administrativo, Brasília/DF CEP: 70058-900 Tel.:(61) 3022-8900 Núcleo Pedagógico Conasems Rua Professor Antônio Aleixo, 756 Belo Horizonte/MG CEP 30180-150 Tel: (31) 2534-2640 SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES Diretoria Nacional da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) Rua Afonso Braz, 579 Salas 72/74 Vila Nova Conceição São Paulo - SP CEP: 04511-0 11 Tel: (11) 3842 4931 AstraZeneca Rodovia Raposo Tavares, KM 26.9 S/N Moinho Velho Cotia - SP CEP: 06709-000 Tel: (11) 3737-1200 Diretoria Conasems Presidente Hisham Mohamad Hamida Vice Presidente Nilo César Do Vale Baracho Sayonara Moura De Oliveira Cidade Diretor Administrativo Marcel Jandson Menezes Diretor Financeiro Cristiane Martins Pantaleão Secretário Executivo Mauro Guimarães Junqueira Organização: Núcleo Pedagógico do Conasems Supervisão-geral: Rubensmidt Ramos Riani Coordenação Pedagógica: Cristina Fátima dos Santos Crespo Valdívia França Marçal Coordenação Educacional: Kelly Cristina Santana Curadoria Elton da Silva Chaves - Conasems João Eduardo Nunes Salles – Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) Juliana S. De Paula – AstraZeneca Luísa Wenceslau - Conasems Coordenação-técnica: Adriana Bosco Elaboração de texto: Adriana Bosco - Capítulo 1: Fundamentos do Diabetes Tipo 2 e; Capítulo 2: Tratamento do indivíduo com Pré-diabetes e Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) João Eduardo Nunes Salles Rodrigo Nunes Lamounier Ronaldo José Pineda Wieselberg - Capítulo 3: Tratamento do indivíduo com Pré-diabetes e Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) e; Apêndice Revisão institucional: Luisa Wenceslau Designer instrucional: Alexandra da Silva Gusmão Laís Soares Pereira German Coordenação de desenvolvimento gráfico: Cristina Perrone Diagramação e projeto gráfico: Aidan Bruno Alexandre Itabayana Bárbara Macedo Caroline Boaventura Elen Eres Alves Lucas Mendonça Ygor Baeta Lourenço Fotografias e ilustrações: Fototeca Conasems Imagens: Envato Elements https://elements.envato.com Freepik https://br.freepik.com Revisão Linguística: Gehilde Reis Paula de Moura Keylla Manfili Fioravante Assessoria executiva: Conexões Consultoria em Saúde LTDA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Diabetes Mellitus : Medicina 616.462 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 Tiragem: 1ª edição – 2023 – versão eletrônica 23-181400 https://www.cblservicos.org.br COMO NAVEGAR NESTE FASCÍCULO! Antes de iniciar a leitura do material, veja, aqui, algumas dicas para aproveitar ao máximo os recursos disponíveis neste material: Esta aula visa à atualização do profissional de saúde, que atende nas Unidades Básicas de Saúde, no que se refere ao cuidado integral ao indivíduo com Diabetes Mellitus Tipo 2, englobando revisão dos conceitos epidemiológicos, fisiopatológicos, de diagnóstico e prevenção, e o desenvolvimento do raciocínio clínico para a devida intervenção farmacológica e o estabelecimento de metas terapêuticas. Em adição, contribui para a sistematização e a otimização do atendimento. MENU: uma forma rápida de acessar facilmente os capítulos. Quer retornar à lista de capítulos? Basta clicar no ícone, no canto superior da página. Este é o Fascículo 1 do e-book referente à aula Fundamentos do Diabetes Mellitus Tipo 2. Esta primeira aula envolve uma breve linha do tempo na história do Diabetes e, em especial, a contextualização atual do Diabetes Mellitus Tipo 2, nosso tema de interesse, como um enorme problema de Saúde Pública de nefasto ônus social e econômico. Também serão analisados os aspectos fisiopatológicos, os grupos de risco e os critérios diagnósticos do Pré-diabetes e Diabetes, de forma a permitir um melhor planejamento dos cuidados e intervenções oportunas, o que, consequentemente, favorecerá a qualidade de vida dos indivíduos com DM2. Não se esqueça: estude este material com atenção e consulte-o sempre que necessário! Assista a Teleaula, acompanhe a Aula Web e realize as atividades propostas para assimilar as informações apresentadas. Bons estudos! SEJA BEM-VINDO(A)! LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS CA Circunferência Abdominal CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência DCNT Doenças Crônicas Não transmissíveis DCVA Doença Cardiovascular Aterosclerótica DM2 Diabetes Mellitus Tipo 2 ECV Estratégia de Saúde Cardiovascular HA Hipertensão Arterial IMC Índice de Massa Corporal MAPA Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial MRPA Monitorização Residencial da Pressão Arterial OMS Organização Mundial da Saúde PA Pressão Arterial PAD Pressão Arterial Diastólica PAS Pressão Arterial Sistólica RCQ Relação Cintura-Quadril SBD Sociedade Brasileira de Diabetes SM Síndrome Metabólica TOTG Teste Oral de Tolerância à Glicose LISTA DE ABREVIATURAS LISTA DE FIGURAS Figura 1 - O papiro de Ebers - 8 Figura 2 – Foto clássica de Leonard Thompson antes e após o extrato purificado de insulina - 12 Figura 3 - Insulinas comercializadas de 1922 até 1980- 13 Figura 4 - Monitor Contínuo de Glicose - 16 Figura 5 - Seringas reutilizáveis -16 Figura 6 - Epidemiologia do Diabetes Mellitus - 23 Figura 7 - Obesidade e prejuízos à saúde - 24 Figura 8 - Obesidade no Brasil - 24 Figura 9 - Crianças com sobrepeso ou obesidade no Brasil - 25 Figura 10 - Pilares contribuintes da Hiperglicemia – Octeto de DE FRONZO - 32 Figura 11 - Critérios para o rastreamento de Diabetes Mellitus Tipo 2 – DM2 em indivíduos assintomáticos -36 Figura 12 - População brasileira acima do peso - 37 Figura 13 - População sedentária no Brasil - 37 Figura 14 - Classificação ponderal - 38 Figura 15 - Classificação da pressão arterial de acordo com a medição no consultório, a partir de 18 anos de idade - 39 Figura 16 - Critérios para diagnóstico de SM em adultos- 45 Figura 17 - Critérios da IDF - 46 Figura 18 - Valores diagnósticos para Pré-diabete e Diabetes - 47 7 34 42 48 50 26 19 Fisiopatologia DM2 Fatores de Risco e Rastreamento do indivíduo com DM2 Histórico do Diabetes - Linha do tempo Epidemiologia do DM2: um problema de Saúde Pública Critérios Diagnósticos de Síndrome Metabólica,Pré-diabetes e Diabetes Recordando o que foi visto Bibliografia SUMÁRIO # # # Histórico do Diabetes – Linha do tempo 1 Neste tópico será apresentada uma breve linha do tempo sobre o Diabetes e os avanços tecnológicos para acurácia diagnóstica, controle e tratamento insulínico, que permitiram redução de mortalidade e qualidade de vida aos pacientes, principalmente, dos indivíduos com Diabetes Tipo 1. O que você verá aqui? 1500 AC O primeiro relato de sintoma, que remete ao encontrado em pacientes com Diabetes descompensado, data de 1.500 antes de Cristo (AC), no Egito: a descrição no papiro de Ebers, feita por Hesy-Ra, sobre um paciente que urinava excessivamente. Somente 1000 anos depois, na Índia, médicos observaram que a urina de alguns pacientes atraía formigas e moscas, o que foi corroborado, mais tarde, por médicos na China e no Japão. Fonte: Associação de Diabetes Juvenil- Diabetes Brasil. Disponível em: https://adj.org.br/viver-be m/entenda-o-diabetes/a-s aga-do-diabetes/. Acesso em: 24 jan. 2023. Diabetes - recordando uma história: 8 FIGURA 1 - O papiro de Ebers. https://adj.org.br/viver-bem/entenda-o-diabetes/a-saga-do-diabetes/ https://adj.org.br/viver-bem/entenda-o-diabetes/a-saga-do-diabetes/ https://adj.org.br/viver-bem/entenda-o-diabetes/a-saga-do-diabetes/ O QUE VOCÊ VERÁ AQUI? 1675 Entretanto, ainda muita urina e formigas se passaram até que o termo Diabetes fosse cunhado, na Grécia, por Aretaeus da Capadócia, discípulo de Hipócrates, no primeiro século depois de Cristo (DC). A palavra Diabetes significa “sifão” em grego, que, ludicamente, remete à passagem abundante de água, no caso, referindo-se à perda excessiva de urina pelos indivíduos afetados pela doença. Aretaeus também registrou sua observação de polifagia, polidipsia e astenia nesses pacientes. Contudo, o Diabetes só recebeu seu sobrenome (sufixo) Mellitus, em 1675, quando o médico londrino Thomas Willis detectou um “dulçor” na urina dos doentes com Diabetes. A tradução literal da palavra Mellitus é: “doce como o mel”. 1815 Mais de um século se passou, até que a percepção se traduziu em ciência. Em 1815, o médico Mathew Dobson, de Liverpool, confirmou que o “dulçor” se tratava realmente da presença de glicose na urina e, também, no sangue. Se o conhecimento sobre a doença era escasso e lento, com o tratamento não foi diferente. Passou-se por prescrições, como dietas à base de carne de urso, frutas, grãos e mel - feitas por médicos egípcios -; e óleos de rosas, amêndoas, flores frescas e exercício físico (especificamente, exercícios a cavalo para alívio das micções) - prescritos pelos médicos gregos. Sangrias eram, frequentemente, utilizadas, bem como o ópio para alívio dos sintomas da doença e das gangrenas comuns à época. Outra tentativa de tratamento foi a restrição calórica. O médico alemão Bernard Mann, inspirado pelo Italiano Cantoni, trancava seus pacientes nos quartos, por vários meses, até que a urina saísse livre de açúcar. 9 O QUE VOCÊ VERÁ AQUI? 1869 Em oposição, condenaram os carboidratos, adotaram sua restrição e priorizaram dietas proteicas e ricas em gorduras, e as dietas de esquimó. Porém, essas dietas eram pouco palatáveis e não foram bem aceitas. Novamente, um alemão, Dr Noorden, anunciou a “cura pela aveia”, reintroduzindo, assim, o carboidrato. Essa dieta, rapidamente, se tornou popular e desafiadora para as nutricionistas da época, que não compreendiam o que tornava a aveia diferente dos outros carboidratos. O foco sobre o pâncreas só ocorreu em 1869, quando o estudante de medicina alemão Paul Langerhans, em sua tese sobre estruturas pancreáticas, identificou células secretoras, que, hoje, conhecemos como Ilhotas de Langerhans. No entanto, a dimensão do papel desse órgão só foi compreendida em 1889, quando Joseph Von Mering e Oskar Minkowski, pesquisando cães pancreatectomizados, observaram o desenvolvimento dos mesmos sintomas que ocorriam na doença Diabetes Mellitus. 1910 - 1920 De acordo com Elliot P. Joslin, um dos mais importantes diabetologistas da época nos Estados Unidos, o reconhecimento e a definição do Diabetes como uma doença crônica, não-contagiosa, que evoluía sem dor, e passível de ser tratada cronicamente, só foi possível entre 1910 e 1920. Contrariando esse raciocínio, feliz ou infelizmente, ainda, no início do século XX, o conceito de tratamento passou a ser a compensação da perda de nutrientes pela urina e a perda de peso, por meio da orientação da ingesta de grandes quantidades de alimentos e de açúcar, até que perceberam o desastre. 10 12 Não perca na Aula Web Leonard Thompson foi internado com Diabetes, em estado clínico crítico, no Toronto General Hospital. Acompanhe, agora, as principais conclusões deste caso clínico: 1921 Foi nessa época, 1921, que veio uma luz em meio ao breu das tragédias acumuladas pelas complicações do Diabetes: a identificação da substância produzida nas Ilhotas de Langerhans, a Insulina. A descoberta foi feita pelos canadenses Banting, Mcleod e Best, o que lhes rendeu o prêmio Nobel, em 1923. Banting, equilibrando a balança para as virtudes humanas, recusou-se a patentear sua descoberta e a compartilhou com o mundo, possibilitando a todos desfrutar da nova terapia: a Insulina! Como reconhecimento, o dia de seu aniversário, 14 de novembro, foi declarado como Dia Mundial do Diabetes e é, desde então, comemorado globalmente. O Centro de pesquisa, assistência e educação, que leva o seu nome, localizado em Boston, filiado à Universidade de Harvard, tem o foco, exclusivamente, no Diabetes e, até hoje, tem contribuído para revolucionar o tratamento e a prevenção da doença. 11 Em razão das conquistas terapêuticas, em 1923, Banting e Macleod receberam do Nobel Committee of the Caroline Institute, o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia. A primeira Insulina a ser desenvolvida foi a regular, com ação rápida e que necessitava de várias injeções. Posteriormente, o dinamarquês, Dr Hagedorn, acrescentou a Protamina à Insulina, tornando-a com efeito de ação intermediária, batizada de Insulina NPH (Neutral Protamine Hagedorn). Fonte: Diabetology 2022, 3, 117-158. Disponível em: https://doi.org/10.3390/diabetology3010010. Acesso em: 24 jan. 2023. O QUE ACONTECEU APÓS O CASO CLÍNICO DE LEONARD THOMPSON? FIGURA 2 - Foto clássica de Leonard Thompson, antes e após o extrato purificado de Insulina: 12 https://doi.org/10.3390/diabetology3010010 De 1922 até 1980 De 1922 até 1980 as Insulinas comercializadas eram produzidas, a partir do pâncreas de bovinos e suínos (80 quilogramas de pâncreas suínos, fornecidos por frigoríficos, rendiam 1 miligrama de Insulina). Fonte: Diabetes al día. Disponível em: https://www.diabetesal dia.info/hitos-en-la-hist oria-del-tratamiento-ins ulinico/. Acesso em: 24 jan. 23. Com o advento da biologia molecular, a produção passou a ser de origem humana. A primeira Insulina humana biossintética, derivada de DNA recombinante, foi aprovada, em 1982, nos Estados Unidos. No Brasil, sua produção começou em 1978, e prosseguiu até 2001, na Biobrás. Foi criada em 1971, pelo médico Marcos Luís dos Mares Guia (1935-2002), professor de bioquímica, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (Revista da Fapesp, 2021, p.3). Em 2000, a Bioquímica do Brasil (BIOBRAS) recebeu a primeira patente internacional de Insulina, por ter desenvolvido um novo método, para produzi-la, com tecnologia de DNA recombinante, utilizada em bactéria Escherichia Coli ( SOUTO, 2001). FIGURA 3 – Insulinas comercializadas de 1922 até 1980. 13 https://www.diabetesaldia.info/hitos-en-la-historia-del-tratamiento-insulinico/ https://www.diabetesaldia.info/hitos-en-la-historia-del-tratamiento-insulinico/ https://www.diabetesaldia.info/hitos-en-la-historia-del-tratamiento-insulinico/ https://www.diabetesaldia.info/hitos-en-la-historia-del-tratamiento-insulinico/ Atualmente,a partir das Insulinas humanas, são sintetizadas as chamadas Insulinas análogas, ou análogos de Insulina, que, por meio de substituições na sequência de aminoácidos, possibilitam uma ação ultrarrápida ou com até 40h de duração. Até o momento, a maior revolução é a tecnologia de microesferas, que permite a absorção da Insulina pelas vias aéreas, por inalação. A Insulina inalável é de ação rápida e já foi aprovada para comercialização pela Anvisa. Outras tentativas de administração da Insulina, como bucal, retal e até ocular ainda não obtiveram êxito. AGORA, IMAGINE: O mesmo caso clínico ocorreu, recentemente, no Brasil. Quais Insulinas você poderia utilizar para o tratamento de Leonard Thompson? 14 Em paralelo à evolução terapêutica, a trajetória dos métodos diagnósticos, de auto controle glicêmico e de infusão de Insulina tem sido fascinante. Veja alguns exemplos: Detecção de açúcares redutores na urina, por meio de uma fita, que muda de cor, desenvolvida pelo cientista Stanley Benedict (1884-1936). FITA Minúsculo monitor de glicose no sangue. GLICOSÍMETROS Como a evolução tecnológica dos insumos pode melhorar a vida de pacientes com diabetes? 15 Fornece a glicose em tempo real, sem as incômodas picadas no dedo. MONITOR CONTÍNUO DE GLICOSE Fonte: FreeStyle Libre, Disponível em: https://www.freestylelibre.pt/. Acesso em: 24 jan. 2023. 111 mg/dl A Hemoglobina Glicada, nascida em 1976, segue intacta, por enquanto, como uma importante integrante tanto do diagnóstico do Diabetes quanto do controle glicêmico. A infusão da Insulina, no século passado, contava com seringas reutilizáveis, que tinham de ser fervidas, e, também, com um dispositivo de infusão contínua nada prático, principalmente, para as crianças. Fonte: American Diabetes Association - 25 de setembro 2018. Disponível em: https:/AmericanDiabetesAssociation/photo insulin-pump-the-size. Acesso em: 24 jan. 2023. IMPORTANTE FIGURA 4 – Monitor contínuo de Glicose FIGURA 5 - Seringas reutilizáveis. 16 https://www.freestylelibre.pt/ https://m.facebook.com/AmericanDiabetesAssociation/photos/dyk-in-1963-the-first-wearable-insulin-pump-the-size-of-a-large-backpack-was-cre/10155827265164033/ SERINGAS DESCARTÁVEIS Atualmente, seringas descartáveis pequenas (com agulhas de 6 mm), e canetas descartáveis de insulina (com agulhas de 4 mm), estão disponíveis no SUS. Da mesma forma, há o fornecimento de bomba de infusão contínua, em casos especiais, com protocolos bem definidos. O tratamento com insulina quando indicado, assim como o auto monitoramento, a despeito das picadas diárias únicas ou múltiplas, tornaram-se processos mais práticos e bem menos dolorosos graças à evolução tecnológica. Essa longa trajetória fez do Diabetes, hoje, uma doença melhor compreendida, mas longe de estar totalmente desvendada. O conhecimento adquirido tem permitido o seu enfrentamento e o de suas complicações. O auxílio das tecnologias desenvolvidas, das novas opções terapêuticas incorporadas, tanto Insulinas como Hipoglicemiantes orais, simplificou seu manejo e tem permitido tratamentos mais personalizados, centrado no paciente. 17 Contudo, o desafio ainda é grande! É necessário que os melhores tratamentos se tornem mais acessíveis, e a população seja mais educada acerca da doença, para que possamos mudar as estatística, quais sejam: o Diabetes foi responsável por 6,7 milhões de mortes em 2021 (1 a cada 5 segundos); um estudo brasileiro, publicado em 2010, apontou que 86% dos pacientes com Diabetes Tipo 1 e 73% dos com Tipo 2 estavam mal controlados. Fica a pergunta: do que depende o controle adequado dos nossos pacientes com diabetes? 18 Epidemiologia do DM2: um problema de Saúde Pública 2 O Diabetes é uma das doenças mais prevalentes no mundo e de mais rápida expansão, atingindo, atualmente, mais de 5% da população mundial. ENTENDA O DIABETES EM NÚMEROS: Uma estimativa global, feita em 2021, computou 537 milhões de pessoas com Diabetes, um aumento de 88%, desde 2.000. A projeção é afetar 783 milhões de pessoas, em 2045, um aumento previsto de 46%, sendo que só no período de 2019 a 2021 o aumento foi de 16%. O Diabetes foi responsável pela morte de 6,7 milhões de pessoas no mundo, e custos diretos chegaram próximos a 1 trilhão de dólares. Do total de casos de Diabetes, 90% correspondem ao DM2, doença potencialmente prevenível e cujo aumento segue paralelo ao da obesidade. Ao contrário do Diabetes Tipo 1, causado por lesāo autoimune irreversível `as células beta-pancreáticas. Esse tópico contextualiza a situação do Diabetes no Brasil e no mundo, particularmente, do DM2, uma doença prevenível, para que tenhamos a real dimensão do problema e do papel da Atenção Básica na mudança desse cenário. 537 milhões de pessoas com Diabetes no mundo. 6,7 milhões de mortes no mundo. 90% correspondem ao Diabetes Mellitus Tipo 2 – DM2. O que você verá aqui? 20 No Brasil, 1 em 4 adultos está obeso, e 2 em cada 10 são afetados pelo Diabetes. Somos o 4º país em incidência no mundo. Atualmente, estima-se 16,8 milhões de pessoas com a doença, cerca de 7% da população geral. Segundo dados da Vigitel Brasil 2021, a frequência de Diabetes, entre a população de 27 cidades pesquisadas, foi de cerca de 9.1% Merece atenção o fato de os gastos serem maiores com internações do que com os atendimentos ambulatoriais - o que levanta uma reflexão sobre os cuidados na Atenção Primária. Os custos específicos com as complicações, decorrentes do mal controle glicêmico, como cegueira, hemodiálise e amputação carecem de atualização. Em números, foram 214 mil mortes, correspondendo a 2,8 % do total de mortes no país. Os custos diretos com Diabetes (hospitalização, atendimento ambulatorial, medicação popular), e indiretos (absenteísmo, perda de produtividade no trabalho, incapacidade ou morte prematura), no Brasil, já somam cerca de R$ 10 bilhões, com previsão de chegar a R$ 27 bilhões em 2030. 4º Lugar que o Brasil ocupa no ranking de incidência da doença no mundo. 214 mil pessoas morreram em consequência do Diabetes, no Brasil, em 2021. 10 bilhões de reais são comprometidos para a doença, em termos de custos diretos. $ Os gastos com internações são maiores que gastos com atendimentos ambulatoriais. 21 O Diabetes Gestacional também preocupa, pois acomete 1 em cada 6 gestantes. Em se tratando de doença prevenível temos que aumentar nossa capacidade diagnóstica e a intervenção oportuna. Por tratar-se de uma doença silenciosa, 50 % das pessoas desconhecem a própria condição hiperglicêmica, o que retarda os cuidados e contribui para a trágica estatística de 1 morte em decorrência do Diabetes, a cada 5 segundos, no mundo, principalmente, por doenças cardiovasculares. Contudo, uma pesquisa feita em bancos de dados, por uma das maiores redes de saúde integrada do país, DASA, identificou que entre os 1,2 milhão de pacientes diagnosticados com Pré-diabetes, 57% não realizaram nenhum controle no período de 1 ano; entre os indivíduos sabidamente com diabetes o número foi de 64%. Da mesma forma, o surgimento e o aumento do Diabetes Mellitus Tipo 2 em crianças e adolescentes também chama a atenção – consequência de dieta hipercalórica e do sedentarismo. Hoje, 1 em cada 3 crianças, menores de 9 anos, apresentam excesso de peso. 1/6 é a média de Diabetes Gestacional. 50% das pessoas desconhecem a própria condição hiperglicêmica. 1/3 das crianças, menores de 9 anos, apresentam excesso de peso. 22 Diante do cenário sombrio, representado pelo Diabetes Mellitus Tipo 2, e a ciência de que 62% da população possuem, pelo menos, um fator de risco para a doença, dentre eles a obesidade, faz-se imperativo revermos a efetividade de cada etapa das linhas de prevenção e manejo na Atenção Primária e fortalecermos o papel dos profissionais de saúdeenvolvidos nessa cadeia de cuidados. 62% da população possuem, pelo menos, um fator de risco. Fonte : International Diabetes Federation_ IDF_Atlas_10th_Edition_2021, p. 4. FIGURA 6 – Epidemiologia do Diabetes Mellitus. 23 31% das causas de morte, são por Doenças Crônicas não transmissíveis, entre elas a Obesidade. 72% 56,9% SOBREPESO (>18 ANOS) 20,8% OBESIDADE (>18 ANOS) das causas de morte, são provocadas por Doenças Cardiovasculares. Obesidade e prejuízos à saúde: Fonte: Adaptação de dados do IBGE, 2015. Disponíveis em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/noticias/ Acesso em: 06 fev. 2022. FIGURA 7 – Obesidade e prejuízos à saúde. Fonte: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (DH/PR)/Maio-2015. Disponível em: https://digitaispuccampinas/criancas-do-brasil-estao-obesas-alerta-pesquisa. Acesso em: 19 jan. 2023. FIGURA 8 – Obesidade no Brasil. 24 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29204-um-em-cada-quatro-adultos-do-pais-estava-obeso-em-2019?fbclid=IwAR1UHwreCsmxdh0_bZ3xMovNeaZpQmRBbSmG1J-xzjow-stCRJ4DDr3Cngg https://digitaispuccampinas.wordpress.com/2015/05/21/335-das-criancas-do-brasil-estao-obesas-alerta-pesquisa-da-secretaria-dos-direitos-humanos/ Fonte: Adaptação de dados IBGE, 2008/2009. Disponíveis em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/um-em-cada-quatro-adultos-do-pais-estava-ob eso-em-2019. Acesso em: 06 fev. 2023. Uma das considerações importantes a se fazer em relação ao Diabetes Mellitus Tipo 2 e sua fisiopatologia, é sobre seu caráter multifatorial e progressivo. Iremos reforçar, no próximo tópico, os itens mais significativos. 33.5% No Brasil, 33.5% das crianças sofrem de sobrepeso ou Obesidade 24 FIGURA 9 – Crianças com sobrepeso ou obesidade no Brasil. 25 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29204-um-em-cada-quatro-adultos-do-pais-estava-obeso-em-2019?fbclid=IwAR1UHwreCsmxdh0_bZ3xMovNeaZpQmRBbSmG1J-xzjow-stCRJ4DDr3Cngg https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29204-um-em-cada-quatro-adultos-do-pais-estava-obeso-em-2019?fbclid=IwAR1UHwreCsmxdh0_bZ3xMovNeaZpQmRBbSmG1J-xzjow-stCRJ4DDr3Cngg Fisiopatologia DM2 3 Serão abordados, aqui, os principais pilares fisiopatológicos do desenvolvimento do Diabetes Mellitus Tipo 2 a serem reconhecidos e sobre os quais temos que atuar. Ter familiaridade com as diversas fases da doença, e definir o “momento metabólico” em que se encontra nosso paciente é fundamental para uma abordagem terapêutica adequada. Para uma correta atuação, é preciso o reconhecimento do continuum da condição glicêmica, da obesidade à instalação do Diabetes: 1 *O DM2, como condição multifatorial, tem, além do ambiente favorável, sedentarismo e dieta hipercalórica, um componente genético e de hereditariedade. 2 Inicia-se com paciente assintomático. Nessa fase, há predomínio da resistência à Insulina, bem como ocorre Hiperinsulinemia com glicemias normais ou sutilmente alteradas. 3 4 Com a progressão da resistência e da disfunção pancreática relativa instala-se a Hiperglicemia franca, glicemia de jejum e pós- prandiais em níveis diagnóstico. Considerada uma doença progressiva, o DM2, ao longo dos anos, pode atingir a chamada falência pancreática secundária - período em que o uso da Insulina torna-se imprescindível. Com o avanço do quadro, e a propensão individual para a disfunção da célula Beta*, iniciam-se os picos glicêmicos pós-prandiais. Essa fase também é assintomática e silenciosa, porém, considerada fator de risco independente para Doenças Cardiovasculares. O que você verá aqui? 27 Inicialmente, o pâncreas, na tentativa de compensar a dificuldade de ação da Insulina, imposta pelo tecido adiposo inflamatório, aumenta sua produção. Tendo em conta que a Insulina é um hormônio anabolizante, nessa fase, encontramos os pacientes comumente hiperfágicos, ávidos por doces e com dificuldade de saciação. Não raro, quando questionados, revelam sintomas leves de Hipoglicemia Interprandias, principalmente, quando em jejum prolongado. Ao exame físico, a presença de Acantose Nígricans Cervical e/ou Axilar é frequente. É justamente nessa fase que a glicemia pode permanecer normal, e , aos olhares pouco atentos, escapar a oportunidade de intervenção. Entretanto, a capacidade das ilhotas de hipersecretar Insulina depende de fatores genéticos, e desenvolverão DM2 aqueles indivíduos cuja produção seja insuficiente para compensar a resistência, que é proporcional à quantidade de tecido adiposo, ou ao grau de Obesidade. Com o aumento da adiposidade, principalmente, a central (em que há o predomínio da gordura visceral), ocorre o aumento da produção de citocinas inflamatórias e trombogênicas, que dificultam a ação da Insulina, aumentando a lipólise e a produção de ácidos graxos livres, que se depositam no fígado, músculos e pâncreas, piorando e perpetuando o ciclo de resistência à ação da Insulina. VAMOS EXPLICAR MELHOR: 28 Quando o diabetes se estabelece, as Citocinas Inflamatórias, produzidas pelo tecido adiposo, atuaram por, pelo menos, 5 anos, causando resistência e danos endoteliais - período em que uma intervenção poderia mudar o rumo da história. Até aqui, revisamos os 2 principais pilares relativos à Insulina: Resistência e Déficit. No entanto, os estudos de De Fronzo propuseram uma nova visão dessa patogênese e o foco que, até então, se aplicava à “gordura e ao pâncreas” expandiu-se, em 2009, para 8 diferentes órgãos contribuintes da Hiperglicemia, constituindo-se em importantes alvos terapêuticos. Foi enfatizado o papel dos músculos e do fígado na resistência à Insulina; o papel das células alfas pancreáticas produtoras de Glucagon, e das Incretinas e o reconhecimento da importância dos rins na homeostase glicêmica. Os neurotransmissores cerebrais reguladores da fome e da saciedade, alterados no obeso e no diabético, também são alvos de atenção. Quando o Diabetes Mellitus Tipo 2 se instala, praticamente, 50 % da massa de célula beta já se encontra deficiente. O QUE ACONTECE QUANDO O DIABETES SE INSTALA? 29 As Incretinas sāo representadas pelo GLP-1 (Glucagon Like Peptide 1) e GIP (Glucose-dependent Insulinotropic Polypeptide), secretadas no intestino (nas células L do íleo e nas células K do duodeno, respectivamente), regulam a homeostase da glicose. O GLP-1, predominante, inibe a secreção do Glucagon, que é um hormônio hiperglicemiante, e otimiza a secreção de Insulina pelo pâncreas quando necessário, ou seja, diante da Hiperglicemia. Além do efeito parácrino, as Incretinas agem, também, reduzindo o esvaziamento gástrico, e modulando os neurotransmissores hipotalâmicos de fome e da saciedade. No indivíduo com diabetes já se demonstrou que a secreção de GLP-1 encontra-se deficiente. O uso dos análogos do GLP-1, denominada Terapia Incretínica, já está bem sedimentada, reduz glicemia, peso e mortalidade cardiovascular. É de altíssimo custo e não está disponível no RENAME. Os rins também são fundamentais na homeostase glicêmica, tanto pela produçāo via gliconeogênese, quando pela reabsorção da glicose resultante da filtração glomerular. Seu desempenho diz respeito à adaptação à Hiperglicemia, ou seja, existe um limiar renal para reabsorver e excretar a glicose. Normalmente, 180g de glicose são filtrados diariamente e mais de 99% desse volume é reabsorvido pelo túbulo proximal, por meio dos co-transportadores de sódio e glicose (SGLT1 e SGLT2, o principal) e retornam à circulação. A partir desse valor, a capacidade de reabsorção é reduzida, e o excedente é excretado por glicosúria. SAIBA MAIS 30 No entanto, com o agravamento da Hiperglicemia, e da Diurese Osmótica, ocorre uma adaptação renal que amplia o lastro glicêmico, e níveisde até 300 mg/dl podem ser reabsorvidos, o que contribui, ainda mais, para o estado hiperglicêmico. Um dos maiores avanços do século XXI foi o desenvolvimento de um glicosúrico eficaz no controle glicêmico, na perda de peso, na Insuficiência Cardíaca e na Doença Renal Crônica. São os inibidores do cotransportador de sódio e glicose (i SGLT-2), da classe Gliflozinas, substância derivada da florizina, encontrada na casca da macieira, descoberta há mais de 100 anos, e cujo efeito antidiabético foi observado em ratos pancreatectomizados, na década de 80. Atualmente, temos esse gliosúrico disponível na Atenção Primária. FISIOPATOLOGIA E PILARES DE TRATAMENTO: RESISTÊNCIA INSULÍNICA DEFICIÊNCIA INSULÍNICA DIABETES TIPO 2 GLUCAGON Em resumo, passamos de “Triunvirato”: 31 Fonte: DE FRONZO, 2009, p. 773-775. Adaptado pelo Núcleo Pedagógico Mais Conasems. REVISORA Verificar! A imagem relativa ao “Triunvirato” não me parece ter a mesma fonte da imagem do “Octeto” de DE FRONZO”. Ainda, sobre essa imagem, verificar a possibilidade de colocar a palavra “diabetes” com letra maiúscula: Diabetes. – para uniformizar com o restante do material. REVISORA Verificar! Verificar a possibilidade de colocar na imagem relativa ao “Octeto” a palavra “incretina” com letra maiúscula, pois se trata do Efeito Incretina - nome combinatório. Ainda, colocar preposições (de) nas seguintes microimagens, para uniformizar com as demais constantes na imagem: Reabsorção de glicose - Produção hepática de glicose. para um “Octeto”: HIPERGLICEMIA DIMINUIÇÃO DA SECREÇÃO DE INSULINA AUMENTO DA SECREÇÃO DE GLUCAGON AUMENTO DA PRODUÇÃO HEPÁTICA DE GLICOSE DISFUNÇÃO DE NEUROTRANSMISSORES DIMINUIÇÃO EFEITO INCRETINA AUMENTO DA LIPÓLISE DIMINUIÇÃO DA REABSORÇÃO GLICOSE AUMENTO DA REABSORÇÃO GLICOSE FIGURA 10 – Pilares contribuintes da Hiperglicemia – Octeto de DE FRONZO. 32 A importância de termos em mente todos os mecanismos implicados no equilíbrio glicêmico, e o reconhecimento do momento metabólico em que nosso paciente se encontra no trajeto da obesidade ao tempo de Diabetes, é crucial para um tratamento de qualidade e para a integralidade do cuidado prestado. Embora tenhamos limitações na oferta de medicamentos pela Rede Pública, que abranja toda essa patogênese, não podemos limitar nossos conhecimentos. Os medicamentos disponíveis são efetivos em baixar a glicose e devem estar acessíveis para prescrição em todas as UBSs. Recentemente, em 2019, uma nova incorporação foi feita pelo Ministério da Saúde, a Dapagliflozina, devido à comprovação do seu impacto na redução da mortalidade. A prescrição deve ser feita via LME (Laudo de Medicamento Especializado de Farmácia de Alto Custo), e seguir critérios para dispensação: indivíduos ≥ 65 anos, com doença cardiovascular. A constante evolução dos estudos de evidências e o melhor entendimento da complexidade do DM2 têm possibilitado o desenvolvimento e o uso de drogas cujos benefícios vão muito além do controle glicêmico. É uma questão de tempo para que determinados tratamentos se provem melhores em custo benefício e se tornem mais acessíveis. Nosso próximo assunto será os Fatores de Risco e Rastreamento do indivíduo com DM2. 33 Fatores de Risco e Rastreamento do indivíduo com DM2 4 VOCÊ SE RECORDA QUANDO ABORDAMOS OS DADOS ESTATÍSTICOS SOBRE O DIABETES? Os números alarmantes da frequência de pessoas com Diabetes Mellitus Tipo 2, e do seu exponencial crescimento, põem em xeque as Políticas Públicas e seu alcance. Uma farmacoeconomia inteligente - com investimentos na informação, na educação e no acesso do indivíduo a um atendimento norteador e de qualidade -, é decisiva para mudança nesse cenário, uma vez que melhora a saúde da população e reduz a carga em Saúde Pública. Por se tratar de uma doença crônica, não transmissível, silenciosa, progressiva, porém previsível e evitável em certos grupos, o DM2, praticamente, nos dá uma oportunidade, mesmo que pequena, de preveni-lo. A detecção dos indivíduos com maior risco de desenvolver DM2, entre a comunidade usuária da Atenção Primária, amplia nossa chance de ação e prevenção não só do DM2, mas de comorbidades, como: Hipertensão, Doenças Cardiovasculares, Infecções, Doença Renal, Complicações Gestacionais, Cegueira e Amputações. Sendo o Diabetes Mellitus Tipo 2 uma doença prevenível, as Políticas Públicas (envolvendo, principalmente, educação e a Atenção Primária à Saúde), são agentes protagonistas no processo. O reconhecimento dos fatores de risco e rastreamento dos indivíduos que acessam o serviço, independente da demanda, mudará, sem dúvida, o cenário estatístico no qual estamos inseridos. O que você verá aqui? 35 1. O rastreamento deve ser realizado em todos os indivíduos com sobrepeso (IMC ≥ 25 kg/m²), e com fatores de risco adicionais: • Sedentarismo. • Familiar em primeiro grau com DM. • Mulheres com gestação prévia, com feto com ≥ 4 kg, ou com diagnóstico de DM Gestacional. • Hipertensão Arterial Sistêmica (≥ 140/90 mmHg ou uso de anti-hipertensivo). • Colesterol HDL ≤ 35 mg/dL e/ou triglicerídeos ≥ 250 mg/dL. • Mulheres com Síndrome dos Ovários Policísticos. • Outras condições clínicas associadas à resistência insulínica (ex.: Obesidade III, Acantose Nigricante). • História de Doença Cardiovascular. Fonte : Diretrizes Brasileiras da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2022. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Diabete Mellitus Tipo 2 ( Ministério da Saúde). Disponível em: https://diretriz.diabetes.org.br/diagnostico-e-rastreamento-do-diabetes-tipo-2/ . Acesso em: 06 fev. 2023. FIGURA 11 - Critérios para o rastreamento de Diabetes Mellitus Tipo 2 – DM2 em indivíduos assintomáticos. 36 Quando o diagnóstico de DM se instala, precedeu-se anos de alterações metabólicas que poderiam ter sido mitigadas e esse diagnóstico postergado ou evitado. Alguns critérios, facilmente detectáveis na história clínica e exames, distinguem os indivíduos de maior risco e que devem ser rastreados. Seguem, abaixo, os critérios para o rastreamento de Diabetes Mellitus Tipo 2 em indivíduos assintomáticos: 2. Na ausência dos critérios acima, o rastreamento do DM2 deve ser iniciado a partir dos 45 anos. https://diretriz.diabetes.org.br/diagnostico-e-rastreamento-do-diabetes-tipo-2/ Atualmente, mais da metade da população brasileira está acima do peso (figura 12), e 49% estão sedentárias (figura 13), segundo dados do Ministério da Saúde (2021 e 2013, respectivamente). Números que tendem ao crescimento e seguem em paralelo com o Diabetes e a Hipertensão. A recomendação da OMS para adultos é de, pelo menos, 150 a 300 min de atividade aeróbica, de moderada intensidade, por semana. Fonte: Manual de Atenção às pessoas com sobrepeso e obesidade no âmbito da Atenção Primária (APS) do Sistema Único de Saúde. Pesquisa Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, 2021. p. 8. (Adaptado). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_atencao_pessoas_sobrepeso_o besidade.pdf . Acesso em: 25 jan. 2023. 1 EM CADA 4 brasileiros > 18 anos têm obesidade 41,2 milhões 60,3% brasileiros > 18 anos têm excesso de peso 96,0 milhões FIGURA 12 - População brasileira acima do peso. 37 Hipertensão Dislipidemia 9 4 Os fatores de maior risco para o desenvolvimento do Diabetes Mellitus Tipo 2 e, principalmente, para as doenças cardiovasculares (DCV) são: Obesidade Sedentarismo Adiante, faremos a definição e o diagnóstico de cada um: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_atencao_pessoas_sobrepeso_obesidade.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_atencao_pessoas_sobrepeso_obesidade.pdf Consulte também a Classificação Ponderal: IMC (KG/M²) CLASSIFICAÇÃO OBESIDADE GRAU/CLASSE RISCO DE DOENÇA < 18,5 Magro ou baixo peso 0 Normal ou elevado 18,5-24,9 Normal ou eutrófico 0 Normal 25-29,9 Sobrepeso ou pré-obeso0 Pouco elevado 30-34,9 Obesidade I Elevado 30-39,9 Obesidade II Muito elevado ≥ 40,0 Obesidade grave III Muitíssimo elevado Fonte: ABESO. Diretrizes Brasileiras de Obesidade, 2016, p. 16. Disponível em: https://abeso.org.br/Diretrizes-Diretrizes-Brasileiras-de-Obesidade-2016 . Acesso em: 01 set. 2023. FIGURA 14 - Classificação internacional da obesidade segundo o índice de massa corporal (IMC) e risco de doença ( Organização Mundial da Saúde) que divide a adiposidade em graus ou classes. 38 Fonte: Adaptação Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/xpe8gh?fbclid=IwAR3wmsCmfMOZ7_xL4QNkbD_FaPH_ c-Za1UCgSnVnkyl_nzKXYsOyvg9rrXk. Acesso em 06 fev. 2023. O SEDENTARISMO NO BRASIL. DADOS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE APONTAM QUE EM 2013: ● 33, 8% da população adulta das capitais praticavam exercícios. ● 49% da população estão inativas, realizando menos de 150 minutos de atividade física, de intensidade moderada, por semana. ● A inatividade física, acima de 18 anos, é um indicador utilizado para monitorar fatores de risco de Doenças Crônicas não transmissíveis, como: Câncer, Hipertensão e Diabetes. FIGURA 13 - População sedentária no Brasil. https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2019/12/Diretrizes-Download-Diretrizes-Brasileiras-de-Obesidade-2016.pdf http://www.blog.saude.gov.br/xpe8gh?fbclid=IwAR3wmsCmfMOZ7_xL4QNkbD_FaPH_c-Za1UCgSnVnkyl_nzKXYsOyvg9rrXk http://www.blog.saude.gov.br/xpe8gh?fbclid=IwAR3wmsCmfMOZ7_xL4QNkbD_FaPH_c-Za1UCgSnVnkyl_nzKXYsOyvg9rrXk http://www.blog.saude.gov.br/xpe8gh?fbclid=IwAR17miSsT3x9lINJB2wMhBy36Jqnd1_ZAr0mcarM4F-wc6bq57Cv1uozV3g Classificação* PAS (mHg) PAD (mmHg) PA ótima < 120 e < 80 PA normal 120-129 e | ou 80-84 Pré-Hipertensão 130-139 e | ou 85-89 HA Estágio 1 140-159 e | ou 90-99 HA Estágio 2 160-179 e | ou 100-109 HA Estágio 3 ≥ 180 e | ou ≥ 110 Fonte: SBC. ABC. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2020, p.545 Disponível em: https://abccardiol.org/wp-content/uploads/articles . Acesso em 01 set. 2023. HA: hipertensão arterial; PA: Pressão Arterial; PAS: Pressão Arterial Sistólica; PAD: Pressão Arterial Diastólica. *A classificação é definida de acordo com a PA no consultório e pelo nível mais elevado de PA, sistólica ou diastólica. **A HA sistólica isolada, caracterizada pela PAS≥ 140 mmHg e PAD < 90 mmHg, é classificada em 1, 2 ou 3, de acordo com os valores da PAS nos intervalos indicados. ***A HA diastólica isolada, caracterizada pela PAS < 140 mmHg e PAD ≥ 90 mmHg, é classificada em 1, 2 ou 3, de acordo com os valores da PAD nos intervalos indicados. FIGURA 15 - Classificação da pressão arterial de acordo com a medição no consultório, a partir de 18 anos de idade. A classificação de acordo com a PA do consultório é definida da seguinte forma: 39 O diagnóstico de Hipertensão Arterial pode ser feito no consultório, após validação por repetidas medições ou por MAPA ou MRPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial de 24h ou Monitorização Residencial da Pressão Arterial respectivamente). https://abccardiol.org/wp-content/uploads/articles_xml/0066-782X-abc-116-03-0516/0066-782X-abc-116-03-0516.x27815.pdf O perfil lipídico deve ser sempre avaliado, para estabelecermos o Escore de Risco de um paciente desenvolver Infarto Agudo do Miocárdio fatal, e não fatal, ou Acidente Vascular Cerebral fatal, ou não fatal, em 10 anos. Em 2019, o Ministério da Saúde, em resposta ao desafio imposto pelas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), instituiu na Atenção Primária à Saúde (APS), por meio de uma Portaria, a Estratégia de Saúde Cardiovascular (ECV), objetivando a promoção de ações de prevenção e qualificação da atenção às pessoas com Doença Cardiovascular e seus fatores de risco. POR QUE O PERFIL LIPÍDICO DEVE SEMPRE SER AVALIADO? 40 A estratificação de risco pode ser feita por meio do Escore de Risco Framinghan, ou pela calculadora de risco, desenvolvida pelo Colégio Americano de Cardiologia (ACC, American Heart Association), em 2021, adotada pela OPAS e, atualmente, pelo MS. A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) recomenda a estratificação pela idade e pela presença de fatores de risco, uma vez que em pessoas com DM2 o uso de calculadoras se mostram imprecisas, embora possam ser utilizadas em indivíduos com DM1. São definidas quatro categorias de risco, baseadas na taxa anualizada de ocorrência de eventos cardiovasculares em dez anos: risco baixo, risco intermediário, risco alto e risco muito alto (Figura 14). Maior detalhamento, veremos na aula 2. COMO FAZER A ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR? Para auxiliar o cálculo, acesse a Calculadora. Clique, aqui, ou aponte a câmera de seu celular e escaneie o código QR. Uma vez analisados todos os critérios, os indivíduos considerados de maior risco para o desenvolvimento do Diabetes, deverão ser submetidos aos exames básicos de rastreamento: Glicemia jejum e Hemoglobina Glicada (HbA1c), e caso não sejam conclusivos solicitar TOTG de 2 h (Teste Oral de Tolerância à Glicose). Agora, vamos examinar os critérios diagnósticos de Síndrome Metabólica, Pré-diabetes e Diabetes. 41 http://departamentos.cardiol.br/sbc-da/2015/CALCULADORAER2017/index.html https://www.paho.org/pt/hearts-nas-americas/calculadora-risco-cardiovascular https://www.paho.org/pt/hearts-nas-americas/calculadora-risco-cardiovascular Critérios Diagnósticos da Síndrome Metabólica, Pré-diabetes e Diabetes 5 A implementação dos cuidados e mudanças comportamentais são fundamentais para a mudança de status em saúde da população em risco para a doença. Contudo, se não há oportunidade de atuarmos na prevenção, devemos ser precisos no diagnóstico de Pré-diabetes e Diabetes e oportunos no tratamento, para, assim, evitarmos as complicações inerentes à Hiperglicemia. Segundo o Atlas do IDF 2022, são 541 milhões de adultos com intolerância à glicose, ou Pré-diabetes - condições de alto risco para o desenvolvimento do Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2) e de Doenças Cardiovasculares. Vale lembrar, que a distribuição da adiposidade é mais importante que o próprio Índice de Massa Corpórea (IMC), no diagnóstico da Síndrome Metabólica (SM). A adiposidade central, pelo acúmulo de gordura visceral, tem maior potencial inflamatório e trombogênico, conferindo maior risco para Doenças Cardiovasculares e Diabetes. A medida da Circunferência Abdominal (CA) é uma ferramenta simples, que reflete, indiretamente, a adiposidade visceral e é importante para diagnóstico da SM. O Risco Relativo de um indivíduo com SM apresentar um Evento Cardiovascular Fatal, ou Acidente Vascular Cerebral, é 2,4 e 2,27 vezes maior, respectivamente. O risco aumenta de acordo com o número de componentes da SM. Neste tópico será feita a revisão dos exames e dos valores para os diagnósticos de Pré-diabetes, Síndrome Metabólica e Diabetes Mellitus Tipo 2 à luz das melhores diretrizes. O que você verá aqui? 43 Embora ainda existam algumas dificuldades na adoção definitiva e uniforme dos critérios para diagnósticos de SM, os componentes propostos pelas 3 principais entidades, abaixo, são semelhantes, variando pouco entre si. A seguir, são listados os componentes diagnósticos preconizados pela National Cholesterol Education Program - Adult Treatment Panel III (NCEP-ATPIII), em 2001; pela International Diabetes Federation (IDF), 2006, e pela Organizaçāo Mundial de Saúde (OMS), em 1999: VALE RESSALTAR! Uma atualização, publicada pela Sociedade Americana de Endocrinologia, em 2019, foca em medidas para identificar e reduzir o risco de Doença Cardiovascular Aterosclerótica (DCVA) e DM2 ao invés de definir a SM como entidade clínica. A diretriz se refere aos adultos, entre 40 e 75 anos de idade, e inclui a Hemoglobina Glicada como definição de risco metabólico. 44 Os parâmetros para diagnóstico de SM, de acordo as respectivas entidades: Parâmetros NCEP IDF 2006 * OMS 1999 Obrigatório CA ≥94 cm (homens) ou ≥ 80 cm (mulheres) 90 cm em homens asiáticos. Resistência à Insulina (por clamp), intolerância à glicose ou Diabetes Mellitus. Número de anormalidades ≥ 3 de ≥ 2 de ≥ 2 de Glicose ≥ 100 mg/dL ou tratamento farmacológico. ≥ 100 mg/dL ou diagnóstico de Diabetes. HDL colesterol <40 mg/dL (homens); <50 mg/dL) (mulheres)*. <40 mg/dL (homens); <50 mg/dL (mulheres)*. *<35 mg/dL (homens); <40 mg/dL (mulheres). Triglicérides ≥ (150 mg/dL) ou tratamento farmacológico. ≥ (150 mg/dL) ou tratamento farmacológico. Ou ≥ (150 mg/dL). Obesidade CA ≥ 102 cm (homens) ou ≥ 88 cm (mulheres). RCQ > 0,9 (homens) ou > 0,85 (mulheres) ou IMC ≥ 30 kg/m². Pressão arterial > 130/85 mmHg ou tratamento farmacológico. ≥ 130/85 mmHg ou tratamento farmacológico. ≥ 140/90 mmHg. NCEP: National Cholesterol Education Program; IDF: International Diabetes Federation; OMS: Organização Mundial da Saúde;, RCQ: Relação Cintura-quadril; IMC: Índice de Massa Corporal; CA: Circunferência Abdominal. Fonte: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes- 2019 – 2020. Disponível em: https://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Diretrizes-Sociedade-Bra sileira-de-Diabetes-2019-2020.pdf. Acesso em: 06 fev. 2023. FIGURA 16 - Critérios para diagnóstico de SM em adultos. 45 https://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Diretrizes-Sociedade-Brasileira-de-Diabetes-2019-2020.pdf https://www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Diretrizes-Sociedade-Brasileira-de-Diabetes-2019-2020.pdf Não há consenso sobre a melhor definição de SM - os critérios mais utilizados são do IDF, outros países aceitam os fundamentos estabelecidos pela NCEP e pela OMS. Porém, aqui, no Brasil, baseados na NCEP, dispomos do Consenso Brasileiro sobre Síndrome Metabólica, em que são considerados 3 dos 5 critérios, abaixo: CRITÉRIOS 3 DE 5 CRITÉRIOS Obesidade visceral (circunferência abdominal): Homens > 102 cm. Mulheres > 88 cm. Triglicérides: ≥ 150mg/dl ou tratamento. HD: Homens <40 mg/dl. Mulher < 50 mg/dl. Glicemia de jejum alterada : Glicemia de jejum ≥100 mg/dl ou diagnóstico prévio de Diabetes. Pressāo Arterial : PAS ≥ 1 30 ou PAD ≥ 85 mmHg ou tratamento. O diagnóstico de Pré-diabetes ou Diabetes pode ser feito pela Glicemia de Jejum, Hemoglobina Glicada ou TOTG (Teste Oral de Tolerância à Glicose). A coleta da glicemia deve ser feita após, pelo menos, 8 horas de jejum. Embora de baixo custo, tem baixa reprodutibilidade e pode sofrer interferências de condições agudas. A Hemoglobina Glicada (Hb A1c) tem a vantagem de refletir a média glicêmica dos últimos 3 a 4 meses, e não depender de jejum. PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; H: homens; M: mulheres. Fonte: SBEM, 2011. (Adaptado). Disponível em: https://www.endocrino.org.br/sindrome-metabolica/. Acesso em: 01 set. 2023. FIGURA 17 - Critérios da IDF: 46 https://www.endocrino.org.br/sindrome-metabolica/ A Hb A1c tem alta especificidade, mas sensibilidade de 86%. Possui um custo pouco maior que a glicemia e pode sofrer interferências em caso de Anemias, Hemoglobinopatias, Doença Renal Crônica Dialítica, Transfusões e Drogas Anti-retrovirais. O método padronizado mundialmente é a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC - na sigla em Inglês), e certificado pelo National Glycohemoglobin Standardization Program (NGSP). Caso a glicemia e a Hb A1c não sejam fidedignas ou não definam o diagnóstico, o TOTG (Teste Oral de Tolerância à Glicose) é a opção. Coleta-se a glicemia em jejum e após 2h da sobrecarga de glicose anidra dissolvida em água, ou dextrosol. É importante orientar uma dieta sem restrição de carboidratos, pelo menos por 3 dias, antes do teste. Embora seja um teste desagradável e oneroso, é considerado padrão ouro para o diagnóstico de Diabetes. Abaixo, seguem os valores diagnósticos para Pré-diabete e Diabetes: Critérios Normal Pré-DM DM2 Glicemia de jejum (mg/dl): < 100 100 a 125 > 125 Glicemia 2h após TOTG (mg/dl): < 140 140 a 199 > 199 HbA1c (%): < 5,7 5,7 a 6,4 > 6,4 Fonte: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2022. Disponível em: https://diretriz.diabetes.org.br/diagnostico-e-rastreamento-do-diabetes-tipo-2/ . Acesso em: 26 de jan. 2023. Uma glicemia aleatória, em qualquer horário, ≥ 200 mg/dl, também confirma o diagnóstico de DM . Diante de incongruência de resultados, repetir os testes para confirmação diagnóstica. FIGURA 18 - Valores diagnósticos para Pré-diabete e Diabetes. 47 https://diretriz.diabetes.org.br/diagnostico-e-rastreamento-do-diabetes-tipo-2/ RECORDANDO O QUE FOI VISTO 6 • Histórico do Diabetes Mellitus – linha do tempo. • Epidemiologia do DM2: um problema de Saúde Pública. • Fisiopatologia DM2. • Fatores de risco e rastreamento do indivíduo com DM2. • Critérios Diagnósticos da Síndrome Metabólica, do Pré-diabetes e do DM2. A análise desses conceitos contribui para o planejamento dos cuidados e intervenções precoces, o que, consequentemente, melhora a qualidade de vida do indivíduo com DM2. Esperamos que você tenha compreendido todo o conteúdo e refletido sobre o seu trabalho dentro desse contexto! Busque informações sobre essa temática para recordar, refletir e ampliar seus conhecimentos. Agora, participe das atividades propostas e exercite o seu protagonismo. Até a próxima aula! NESSA AULA VOCÊ VIU OS SEGUINTES TEMAS SOBRE O DIABETES, EM ESPECIAL, O DIABETES MELLITUS TIPO 2: 49 BIBLIOGRAFIA 7 ABESO. Diretrizes Brasileiras de Obesidade, 2016, p. 16. Disponível em: https://abeso.org.br/Diretrizes-Diretrizes-Brasileiras-de-Obesidade-2 016 . Acesso em: 01 set. 2023. ADJ. DIABETES BRASIL. Viver bem. Entenda o Diabetes: A Saga do Diabetes. Um Passeio pela História. Disponível em: https://adj.org.br/viver-bem/entenda-o-diabetes/a-saga-do-diabete s/um-passeio-pela-historia/. Acesso em: 06 jan. 2023. ARNETT, D. K.; BLUMENTHAL, R. S. et al. ACC/AHA Guideline on the Primary Prevention of Cardiovascular Disease. 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