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ANTI-INFLAMATÓRIOS Introdução A inflamação é um processo biológico que visa, antes de tudo, manter a homeostase tissular. Em condições basais, um tecido tem que ter seu fluxo sanguíneo garantido, adaptável às variações de demanda, com funcionamento estável e regular de seus elementos celulares. A quebra deste estado homeostático basal pode decorrer de diversas circunstâncias (trauma, alergia, infecções etc.), cujas consequências po- dem ter graus variados. Um leve estresse celular gera apenas discretas alterações, como desnatura- ção de proteínas citoplasmáticas e aparecimento de proteínas protetoras e estabilizadoras. Se o estresse celular perdura e não é com- pensado, a célula aciona um programa de apop- tose, e ocorrem morte e desorganização de estru- turas celulares, mediadas por enzimas endógenas. Tudo isso exige um esforço biológico maior (a in- flamação) para defender o tecido e reparar o dano. Como elementos de defesa, células sanguí- neas e proteínas plasmáticas se concentram no lo- cal de lesão, combatem eventuais patógenos, fa- gocitam fragmentos e restos celulares e promo- vem reparação por tecido original ou material ci- catricial fibrótico. DESSA FORMA, FICA CLARO QUE... 1- Inflamação é, antes de tudo, um processo útil e benéfico para o organismo, compensando quebra de homeostasia e repondo a normalidade tissular. 2- A inflamação visa essencialmente acumular no sítio lesado células sanguíneas e proteínas plas- máticas comprometidas com a defesa e a repara- ção, sendo, assim, fenômeno essencialmente vas- cular que implica vasodilatação, aumento de per- meabilidade capilar e diapedese (migração de cé- lulas do espaço intravascular para o intercelular). 3- Endotélio e leucócitos são elementos cen- trais no processo cabendo-lhes captar estímulos e mediadores de lesão tissular e reagir/interagir para resposta migratória. 4- Tumor, calor, rubor e dor (expressões clíni- cas da inflamação) explicam-se a partir da configu- ração funcional (vasodilatação, exsudação) do pro- cesso. 5- Se o sistema de defesa falhar, instala-se in- flamação crônica, eventualmente deletéria, caso persistam fenômenos iniciadores, patógenos ou resposta autoimune. Fármacos Anti-inflamatórios São utilizados para controlar uma resposta inflamatória, seja esta aguda ou crônica, para con- trolar quadros de dor exagerados e, também, para diminuir quadros febris. São divididos em dois grandes grupos: anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e anti- inflamatórios esteroidais. Os anti-inflamatórios não esteroidais es- tão divididos em duas categorias: com maior sele- tividade para uma enzima chamada ciclooxige- nase (COX) e não seletivos. Apesar de serem amplamente utilizados sem prescrição médica, eles não são isentos de ori- entação médica e, além disso os anti-inflamatórios não devem ser utilizados por mais que 7 dias. Geralmente, os anti-inflamatórios são os medicamentos mais utilizados em todo o mundo. Isso ocorreu a partir do surgimento do ácido ace- tilsalicílico, resultado da acetilação do ácido salicí- lico, o principal anti-inflamatório utilizado, mais conhecido como AAS ou, também, Aspirina. OBS.: Dipirona e Paracetamol não atuam em meio inflamatório, por isso não são considerados anti- inflamatórios, são apenas analgésicos e antipiréti- cos. Figura 1 -Top 10 Medicamentos mais vendidos no Brasil. Figura 2 Resposta Inflamatória De modo geral, a resposta inflamatória (e a inflamação) é benéfica. O maior problema é que, quando um patógeno ou lesão que, por sua inten- sidade e, muitas vezes, persistência, as células de defesa, isto é, o sistema imunológico não se en- contra apto a promover o processo de fagocitose, por exemplo. Nesse sentido, a célula de defesa realiza o processo contrário, ou seja, ela começa a liberar uma grande quantidade de mediadores inflamató- rios. Quanto mais forem liberados estes mediado- res, pior será o prognóstico clínico. Maior inflamação -> maior dificuldade de conten- ção do patógeno -> inflamação aguda ou crônica. Tratar uma resposta inflamatória aguda Tratar uma resposta inflamatória aguda, na maioria das vezes é mais fácil do que tratar uma resposta inflamatória crônica. RESPOSTA INFLAMATÓRIA AGUDA • Curta duração; • Presença de exsudato e edema; • Primeira célula que chega no processo in- flamatório agudo é o neutrófilo. RESPOSTA INFLAMATÓRIA crônica • Longa duração; • Presença de linfócitos e macrófagos; • Seu maior problema é a angiogênese (cria- ção de novos vasos sanguíneos), a fibrose e necrose tecidual, que causam perda de função. A resposta inflamatória apresenta alguns sinais e sintomas clássicos: dor, calor, rubor, edema e in- chaço. De todos esses, o mais preocupante é a dor. É importante conhecer a origem da resposta inflamatória, como um patógeno, uma lesão etc. Existem dois tipos de origem: 1- Origem autoimune: o corpo ataca o próprio tecido. Ex.: asma, artrite reuma- toide. 2- Origem não imune: ataque de uma bac- téria, vírus ou fungo. Origem biológica. Ex.: calor excessivo, frio excessivo etc. Exemplos de Resposta Inflamatória Figura 3 – Amigdalite Figura 4 – Periodontite Figura 5 - Psoríase ARTRITE REUMATOIDE Figura 6 O acúmulo de células leva ao acúmulo de sinoviócitos, que começam a aderir na cartilagem e a degradá-la, gerando um quadro de hiperplasia sinovial. Além dos sinoviócitos, há outros tipos ce- lulares, como macrófagos, fibroblastos etc. Todos estão migrando para a resposta inflamatória, esti- mulando a liberação de mediadores inflamatórios, ao invés de fazerem fagocitose. Quanto maior in- flamação, pior o prognóstico. Dessa forma, há o acúmulo do osteoclasto, que degrada a matriz ós- sea, gerando o contato direto entre um osso e outro. Figura 7 Figura 8 Figura 9 - Resposta Inflamatória de origem biológica, causada por uma bactéria. No exemplo, Escherichia coli. Lipopolissacarídeo (LPS) de bactéria Gram- negativa - bactéria Escherichia coli (E. coli). Principal sintoma: FEBRE. A bactéria libera seu LPS, que é reconhe- cido pelo receptor do macrófago, que vai fosforilar o NF - KB, um fator de transcrição (TLR4), que transmigra para o núcleo. O LPS, que está em ex- cesso, ativa essa transcrição de genes para enzimas e citocinas/quimiocinas (citocinas quimio-atraen- tes, direcionam as células de defesa até o foco in- flamatório, são citocinas de baixo peso molecular). A liberação desses mediadores aumenta a chance de inflamação. Dentre esses mediadores inflamatórios, há um conjunto que é muito importante para o con- trole do processo inflamatório, principalmente crônico, como as citocinas, IL-1, IL-6, IL4, etc. Figura 10 No mais... Processo Inflamatório: célula de defesa produz mediadores inflamatórios, que são proteí- nas de baixo peso molecular e que conseguem atravessar barreiras hematoencefálicas, como o hi- potálamo (controla a temperatura do corpo). Isso causa o aumento da liberação da enzima COX, gerando uma resposta inflamatória conhecida como febre. Figura 11 Figura 12 Eicosanoides São formados a partir de ácidos graxos poli-insaturados (principalmente ácido araquidô- nico) e incluem: - Prostaglandinas; - Tromboxano A2; - Leucotrienos (em excesso causam broncoconstri- ção). Ao utilizar um anti-inflamatório, este vai inibir a COX 1 e 2, seletivamente a 2. Consequen- temente, ocorre a diminuição da resposta inflama- tória, diminuindo prostaglandinas e, a dor e a fe- bre, a inflamação. No entanto, ao mesmo tempo, um dos principais efeitos é a irritação do trato gastrointes- tinal seguido de sangramento (se o medicamento for ingerido de estômago vazio e de corpo desi- dratado), pela redução da citoproteção gástrica e da agregação plaquetária (mais susceptível a um sangramento). Por isso, um paciente com dengue não pode tomar anti-inflamatório, pelo aumento de uma chance de hemorragia. Em relaçãoaos leucotrienos, um paciente asmático que utiliza anti-inflamatório precisa ter um maior cuidado ao administrá-los, pois a COX é inibida e o ácido araquidônico é direcionado para a via das lipoxigenases, causando maior broncons- trição e broncoespasmo, devido a produção maior de leucotrienos. Figura 13 Figura 14 Figura 15 Tipos de AINEs • Salicilatos: ácido acetilsalicílico, diflunisal • Propiônicos: ibuprofeno, cetoprofeno, na- proxeno (inibição similar da COX 1 e da COX 2). • Antranílicos: ácido mefenâmico, meclofe- nâmico • Indólicos: indometacina, sulindaco • Fenil ácido acético: diclofenaco (potássico, sódico e dietilamônio) • Enólicos: piroxicam, meloxicam, tenoxicam • Heteroaril ácido acético: tolmetina e ceto- rolaco (Toragesic). De todos estes fármacos, o único diferente deles é o ácido acetilsalicílico, por ser um anti- agregante plaquetário, além de ser um anti-infla- matório. Orientações ao Paciente: 1- Todos os AINEs têm eficácia similar; 2- Podem originar respostas individuais dife- renciadas; 3- A escolha deve basear-se em: experiência de emprego (se o medicamento já foi tomado al- guma vez antes), toxicidade relativa (no trato gas- trointestinal e no rim), efeitos adversos toleráveis, custo favorável e maior intervalo entre doses. Utilizando um AINE não seletivo, há a inibi- ção da COX 2, mas, também, da COX 1 que está presente nas plaquetas, isso leva a redução de tromboxano A2, causando sangramento. DIFERENÇA ESTRUTURAL entre a COX 1 e a COX 2 Figura 16 ACIDO ACETILSALICÍLICO (maior seletividade pela COX 1) -> Inibição irreversível das COX's. Ele consegue fazer uma acetilação (ligação covalente) da "serina 530" e impede a ligação do ácido araquidônico ao local ativo da enzima. Portanto, o ácido araquidônico não é convertido em trombo- xano. Figura 17 Apesar de serem eficazes e seguros, exis- tem efeitos adversos dos AINEs Não Seletivos: • TGI (trato gastrointestinal): com a inibição da COX, ocorre a diminuição da produção de pros- taglandina E2, reduzindo níveis de muco protetor, bicarbonato de sódio e aumento da liberação de HCl, o que, consequentemente, causa irritação, se- guida de sangramento e hemorragia; • Plaquetas: redução de níveis de tromboxa- nos A2, causando o bloqueio da agregação pla- quetária (hemorragia); • Útero (cólica, contração uterina): a inibição da COX causa a diminuição de prostaglandinas.; • Rim: as prostaglandinas são responsáveis pela manutenção do fluxo sanguíneo renal. A re- dução dos níveis destas, através a inibição das COX, causa a vasodilatação, diminui a filtração glo- merular, aumenta a retenção de Na+/H2O e a PA normal; • Pulmão; • Coração. A utilização de uma dosagem maior do que 100-200mg de AAS pode inibir COX 1 e TXA2, cau- sando a inibição da COX 2 no endotélio e diminuir o nível de prostaglandina E2, diminuindo a eficácia anti-agregante plaquetária deste. Figura 18 Interações importantes: a) Varfarina, heparina (anticoagulantes): utilizados para distúrbios tromboembólicos. Ao associar ao anti-inflamatório, aumenta-se a chance de um sangramento.; b) Probenicida, sulfinpirazona: substâncias utilizadas para gota, acúmulo de ácido úrico nas articulações. Esses medicamentos aumentam a ex- creção de ácido úrico nas articulações. O AAS di- minui a excreção desse ácido úrico, prejudicando a eficácia dos medicamentos; c) Tiopental, fenobarbital; d) Álcool (efeitos ulcerogênicos): o álcool pode ser um indutor enzimático; e) Anti-hipertensivos; f) Nefrotoxicidade (aminoglicosídeos asso- ciados ao anti-inflamatório);
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