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246ouvrer u Economia e Mercados Amanda Aires Vieira Curso Técnico em Administração Educação a Distância 2017 EXPEDIENTE Professor Autor Amanda Aires Vieira Design Instrucional Deyvid Souza Nascimento Maria de Fátima Duarte Angeiras Renata Marques de Otero Terezinha Mônica Sinício Beltrão Revisão de Língua Portuguesa Letícia Garcia Diagramação Izabela Cavalcanti Coordenação Antonio Silva Coordenação Executiva George Bento Catunda Coordenação Geral Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra Conteúdo produzido para os Cursos Técnicos da Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco, em convênio com o Ministério da Educação (Rede e-Tec Brasil). Julho, 2017 V657e Vieira, Amanda Aires. Economia e Mercados: Curso Técnico em Administração: Educação a distância / Amanda Aires Vieira. – Recife: Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco, 2016. 96 p.: il. Inclui referências bibliográficas. 1. Educação a distância. 2. Economia. 3. Demanda. 4. Oferta. 5. Equilíbrio. 6. Produção. 7. Custos. 8. Macroeconomia. I. Vieira, Amanda Aires. II. Título. III. Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco. IV. Ministério da Educação. V. Rede e-Tec Brasil. CDD – 330 CDU – 330 Sumário Introdução .............................................................................................................................................. 5 1.Competência 01 | Conhecer a definição e a importância da economia para as organizações .......... 6 1.1Definições e leis da economia ......................................................................................................................6 1.1.1 O que é economia? ..................................................................................................................................6 1.1.2 As áreas da Economia ..............................................................................................................................8 1.1.3 Alguns conceitos básicos importantes .....................................................................................................9 1.1.4 Leis econômicas .................................................................................................................................... 13 1.1.5 A escassez de recursos x necessidades e desejos ilimitados ................................................................ 15 1.1.6 A tríade dos problemas centrais e seu inter-relacionamento .............................................................. 16 1.2 Entendendo o funcionamento de uma economia ................................................................................... 21 1.2.1. O fluxo circular da riqueza ................................................................................................................... 21 2.Competência 02 | Classificar os mercados, conhecendo os conceitos de demanda e oferta ......... 30 2.1 Teoria dos preços ..................................................................................................................................... 30 2.1.1 Lei da demanda ..................................................................................................................................... 31 2.1.2 Deslocamento da curva de demanda ................................................................................................... 39 2.1.3. Lei da oferta ......................................................................................................................................... 51 2.1.4 Deslocamento da curva de oferta no mercado .................................................................................... 54 2.1.5 Ponto de equilíbrio ................................................................................................................................ 56 2.1.6 Dinâmica de mercado ........................................................................................................................... 59 3.Competência 03 | Compreender os fundamentos da macroeconomia ........................................... 63 3.1 As funções e as formas de atuação do governo ...................................................................................... 63 3.1.1 A função distributiva ............................................................................................................................. 64 3.1.2. A função alocativa ................................................................................................................................ 73 3.1.3 A função estabilizadora ......................................................................................................................... 75 3.1.4 A função reguladora .............................................................................................................................. 76 4.Competência 04 | Entender a teoria e a prática em operações cambiais ........................................ 80 Conclusão ............................................................................................................................................. 83 Referências ........................................................................................................................................... 84 Minicurrículo do Professor ................................................................................................................... 93 5 Introdução Queridos alunos, Começamos hoje o curso de ECONOMIA! Esse tema tem como objetivo desenvolver a sua análise crítica da realidade empresarial. Além disso, a disciplina pretende expor os fundamentos da economia, enfatizando o papel da empresa e a importância desses conhecimentos para o empresário. Ao final da disciplina, você vai poder compreender o funcionamento da economia e como a empresa que você administra poderá responder às variações do ambiente econômico. Logo, estudaremos temas como: o que é a economia; sistemas econômicos; a economia de mercado; demanda/oferta e equilíbrio, estruturas de mercado; PIB; câmbio; juros e outros tópicos de macroeconomia. Vamos ao que interessa? Compreender o que é e como a economia funciona? No tópico 01 da nossa disciplina abordaremos a definição de economia e quais as principais definições desta disciplina. 6 1.Competência 01 | Conhecer a definição e a importância da economia para as organizações 1.1Definições e leis da economia Para estudar as decisões econômicas de famílias, empresas e governos, é necessário, inicialmente, entender do que trata a economia. Apesar de ser uma palavra largamente utilizada como sinônimo de previdência, o significado de economia não é, muitas vezes, plenamente compreendido. Esta seção busca esclarecer esse aspecto, respondendo à seguinte questão: o que é economia? 1.1.1 O que é economia? Um ponto inicial para compreender o conceito de economia diz respeito à análise etimológica dessa palavra. O termo economia se origina do grego, oikonomia: oikos (casa), nomos (costume, lei, ou também, administrar, gerir) e ια (sufixo relativo a assuntos como ciência, doutrina e profissão). Assim, oikonomia poderia ser traduzida como a “ciência da administração da casa”. Na administração de um domicílio, um chefe de família precisa decidir sobre diversos assuntos, tais como: o quanto adquirir de alimentos e energia elétrica; se deve comprar uma nova geladeira a prazo ou esperar até ser possívelcomprar à vista; se deve investir em uma reforma ou trocar de residência; se deve contratar alguém ou realizar os trabalhos domésticos por conta própria; se deve aceitar a promoção em seu emprego (e trabalhar mais horas) ou recusá-la (e ter mais tempo disponível para o lazer). A tarefa de administrar envolve escolhas, não somente nas casas, como também nas empresas e órgãos públicos. As decisões estão relacionadas a objetivos que podem ser alcançados de maneiras diferentes, cada uma delas dependente de diferentes métodos e condições para a utilização dos Competência 01 O que é Economia? 7 recursos disponíveis. Assim, a economia é uma ciência social que estuda como os agentes econômicos decidem empregar recursos na produção de bens e serviços, de modo a distribui-los entre as pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas. Essa noção mais fundamental de economia acabou sendo alterada ao longo dos anos. Mais recentemente, a maior parte dos livros tem trazido a noção do conceito de economia de uma forma diferente. Dentre as formas possíveis, eu gosto de uma particularmente utilizada no livro de Introdução à Economia do A. Gremaud et all que diz o seguinte: Assim, em cima desse conceito, eu gosto de reforçar a ideia da escolha! Na verdade, toda vez que se falar em economia, vai se falar no processo de escolher algo. E por que eu preciso escolher? Por uma razão simples: embora eu queira, eu não posso ter tudo! Se você pensar dessa forma, nunca mais vai esquecer-se do conceito de economia! Toda vez que se falar em economia, você vai sempre lembrar-se de ESCOLHA! Essa informação nos será útil mais adiante! Figura 1 Fonte: GettyImages Descrição: mulher rodeada por calçados, em processo de escolha. “Economia é a ciência da escolha quando os recursos são escassos, ou seja, insuficientes para satisfazer necessidades e desejos ilimitados dos indivíduos” Competência 01 8 Um vídeo de que gosto demais é apresentado no youtube para que você possa dar uma olhadinha em como o conceito de escolha fica bastante nítido! Disponível em: www.youtube.com/watch?v=HGizAyRFqYA Por que esse vídeo fala sobre economia? Por uma razão simples: as crianças precisam ESCOLHER se desejam consumir agora ou no futuro. A ideia de previdência não é nem a parte principal do vídeo. O que eu quero que você compreenda é a necessidade de escolher, tópico fundamental quando se fala em economia. Logicamente, saber o que é economia não é o suficiente. Assim, na seção seguinte conversaremos um pouco sobre alguns dos principais conceitos básicos de economia. 1.1.2 As áreas da Economia A teoria econômica é dividida em três grandes ramos: microeconomia, macroeconomia e desenvolvimento econômico. A etimologia das duas primeiras palavras já ajuda a perceber a diferença básica entre as áreas de atuação: enquanto a microeconomia estuda as partes, a macroeconomia estuda o TODO. Ao estudar e procurar relacionar os grandes agregados, a macroeconomia não analisa em profundidade o comportamento das unidades econômicas individuais, tais como famílias e firmas, a fixação de preços nos mercados específicos, os efeitos de oligopólios em mercados individuais, etc. Essas são preocupações da microeconomia. A macroeconomia é aplicada no estudo das relações entre os grandes agregados econômicos. Ela se ocupa da economia como um todo, buscando respostas para a determinação de cada uma dessas variáveis globais. Por exemplo, no mercado de bens e serviços, o conceito de Produto Nacional é um agregado de mercados agrícolas, industriais e de serviços; no mercado de trabalho, a macroeconomia preocupa-se com oferta e demanda de mão de obra e com a determinação dos salários e do nível de emprego, mas não considera diferenças de qualificação, gênero, idade, origem da força de trabalho, etc. Quando considera apenas o nível da taxa de juros, não são destacadas devidamente as diferenças entre os vários tipos de aplicações financeiras. Competência 01 9 O custo dessa abstração é que os pormenores omitidos são muitas vezes importantes. A abstração, porém, tem a vantagem de permitir estabelecer relações entre grandes agregados e proporcionar melhor compreensão de algumas das interações mais relevantes da economia, que se estabelecem entre os mercados de bens e serviços, de trabalho e de ativos financeiros e não financeiros, assim como as intervenções do governo. Dessa forma, não existe conflito entre a teoria macro e a teoria microeconômica. A diferença fundamental seria uma questão de foco. Ao analisar os preços em determinado mercado, a microeconomia considera que os preços dos demais mercados não são alterados, seguindo a hipótese do coeteris paribus. Na macroeconomia, analisa-se o nível geral de preços, ignorando-se as mudanças de preços relativos de bens dos diferentes mercados (como veremos quando formos estudar inflação e desemprego!). Assim, a teoria macroeconômica preocupa-se tanto com questões conjunturais – ou de curto prazo – quanto com questões estruturais – ou de longo prazo. Entre as questões conjunturais, destacam- se a análise do desemprego e da inflação (vistas na aula 02). As questões estruturais estão associadas a problemas como o desenvolvimento econômico, distribuição de renda, crescimento econômico, globalização ou progresso tecnológico. 1.1.3 Alguns conceitos básicos importantes Para definir economia, foram empregados alguns termos que podem não ser de conhecimento comum, ou que possuem sentidos diferentes em outros ramos do conhecimento como, por exemplo: necessidades, agentes econômicos e firmas. A fim de esclarecer o emprego desses termos na ciência econômica, definiremos, também, alguns conceitos adicionais, que serão amplamente utilizados no decorrer do nosso estudo. • Necessidade: sensação de desejar algo. O conceito de necessidade pode ser dividido em duas partes: a necessidade primária e a secundária. Vamos dar uma olhada nesses conceitos? Competência 01 10 a) Necessidade primária: a satisfação é imperiosa (obrigatória), como se alimentar. b) Necessidade secundária: a satisfação não é fundamental, como adquirir um carro novo. Figura 2 – Cadeia das Necessidades Fonte: a autora Descrição: a imagem mostra uma pirâmide da Cadeia de Necessidades dividida em duas partes. A base da pirâmide representa a Necessidade Primária, considerada obrigatória, a exemplo da alimentação. No topo está a Necessidade Secundária, cuja satisfação não é fundamental, exemplo de carro novo. • Bens e serviços: os meios através dos quais as necessidades são satisfeitas. a) Bens livres: abundantes, postos à disposição pela natureza (não produzidos pelo homem). Exemplo: ar, água. b) Bens econômicos: bens escassos, geralmente produzidos pelo homem. São classificados como bens de consumo ou de produção. � Bens de consumo: voltados para o consumo final (podem ser duráveis ou não). Exemplo: peças do vestuário, televisão, carros. � Bens de produção: destinados à produção de outros bens. Podem ser bens de capital ou bens intermediários. o Bens de capital: bens de produção que podem ser utilizados várias vezes. Exemplo: máquinas, computadores de alta tecnologia, fornos industriais. o Bens intermediários: bens de produção que são utilizados uma única vez (são transformados durante o processo produtivo). Exemplo: alguns artigos agrícolas, como o trigo e a soja. Competência 01 11 Figura 3 – Tipos de bens Fonte: a autora • Fatores de produção (ou insumos produtivos): recursos básicos na produção de bens e serviços. Comumente são divididos em: terra, trabalho, capital e tecnologia. a) Terra: fator de produção relacionado aos recursos naturais.b) Trabalho: insumo produtivo relacionado à mão de obra. c) Capital: fator de produção relacionado aos equipamentos utilizados na produção. d) Tecnologia: insumo relacionado ao conhecimento quanto à forma de produzir algo (o “modus operanis”). Figura 4 – Fatores de produção Fonte: a autora Descrição: A figura representa os quatro fatores de produção, dispostos dois a dois. Em cima está escrito terra com a foto de uma costa marinha; ao lado escrito trabalho e quatro homens vestidos de laranja com capacete trabalhando; abaixo está escrito capital e a foto de cédulas e moedas; por fim, escrito tecnologia com a figura de um quebra-cabeça com computadores e um boneco em cima. Bens e Serviço s Bens livres Bens Econômicos Bens de consumo Bens de produção Bens de capital Bens de capital Competência 01 12 Aqui vale uma ressalva: veja que no grupo fatores de produção não se incluem as matérias-primas (bens intermediários)! A diferença entre o que é um fator de produção e o que é uma matéria- prima é vista no quadro abaixo. A diferença entre fator produtivo e matéria-prima está ligada à reutilização durante o processo de produção. Os fatores produtivos podem ser reutilizados após a produção de um bem, enquanto a matéria-prima não, ou seja, eu posso reutilizar um trabalhador para fazer 600 carros, mas a chapa de aço que vai em um carro não pode ser utilizada para fabricar o segundo carro! • Agentes econômicos: entidades que atuam contribuindo e influenciando o funcionamento do sistema econômico. São as famílias, as firmas, o governo e o resto do mundo. a) Famílias: indivíduos e unidades familiares da economia. Desempenham o papel de consumidores e de proprietários de alguns dos fatores de produção (a essa altura, você já sabe de cor os fatores de produção, não é?). b) Firmas: unidades encarregadas de produzir e/ou comercializar os bens e serviços. Também são compradoras dos fatores produtivos que são de posse das famílias. c) Governo: todas as organizações que, direta ou indiretamente, estão sob o controle do Estado, em todas as suas esferas (federal, estadual, municipal). É possível que o Estado também atue na produção de algum bem, através de empresas estatais, mas nós, por simplificação do entendimento, não vamos entrar nesse mérito, ok? d) Resto do mundo: indivíduos, firmas ou governos que não estão localizados dentro de determinada área geográfica, mas que influenciam a economia local. • Racionalidade: em economia, entende-se como a busca do melhor para si por parte de um agente: o consumidor racional escolhe os produtos que o deixam mais satisfeito possível, e as firmas racionais buscam o maior lucro possível. Figura 5 Fonte: GettyImages Descrição: Símbolo da reciclagem (três setas verdes que se ligam em um formato parecido com um triângulo). Competência 01 13 Novamente, aqui, vale uma ressalva: existem indivíduos que não agem de forma racional, a exemplo dos dependentes químicos ou dos compradores compulsivos. Embora esses agentes façam parte da sociedade, eles não são ponto de estudo para a economia, dado que nem sempre eles buscarão o que é melhor para si. Dessa forma, só consideraremos como fonte de análise em economia, os agentes racionais. • Mercado: local físico ou não onde é estabelecida a interação entre compradores (demanda) e produtores (oferta) de um determinado bem ou serviço. • Economia: eventualmente, esse termo pode ser utilizado como um substituto para sistema econômico de uma determinada região. Então, quando se fala em economia brasileira, na verdade está se falando no sistema econômico brasileiro. É a mesma coisa, ok? • Otimização: em matemática, melhorar uma função significa determinar qual o seu valor máximo (maximização) e/ou seu valor mínimo (minimização) dadas as restrições existentes. Para que eu preciso do conceito de otimização, professora? Porque, dado que os agentes são racionais e buscam o que é melhor para si, eles irão buscar, continuamente, maximizar satisfação (para os consumidores) e lucros (para as empresas) ou minimizar despesas (para os consumidores) e custos (para as empresas). Assim, no fundo, no fundo, os agentes econômicos estão otimizando suas funções subjetivas!1 Agora que nós compreendemos o que é economia e alguns dos conceitos básicos, precisamos compreender como a economia funciona. Para isso, vamos ter que compreender, antes, algumas leis econômicas, nosso próximo tópico. 1.1.4 Leis econômicas Um dos objetivos da ciência econômica é encontrar as leis que possam reger o comportamento dos agentes e o efeito de suas decisões no restante do sistema econômico. Para tanto, os economistas 1 Nós não entraremos no detalhe da análise, dado que o nosso curso é de noções fundamentais, mas só para que você compreenda, consumidores e empresas buscam sempre aperfeiçoar funções matemáticas sujeitas a restrições de mesma ordem. Competência 01 14 observam como os diversos agentes atuam com relação a situações aparentemente semelhantes, de forma a identificar a existência de algum tipo de padrão. Contudo, uma dificuldade no trabalho dos economistas está associada ao fato de que essas situações são apenas semelhantes. Para entender o porquê, pode-se tomar como exemplo o trabalho de um físico, como Galileu, por exemplo. Para que discorresse sobre a gravidade, Galileu teve de repetir experimentos em ambientes exatamente iguais para, apenas assim, ser possível a ele afirmar a existência de uma força que sempre atrai todos os corpos para a terra. No caso dos economistas, estudar situações exatamente iguais é difícil, principalmente porque repetir as condições não depende dos pesquisadores. Imagine que um economista é contratado para analisar a procura dos consumidores por um determinado bem. A decisão de cada indivíduo a respeito de comprar ou não o bem pode ser influenciada por diversos fatores, e o comportamento de um mesmo indivíduo também pode ser diferente a depender das circunstâncias que ele enfrente no momento. Por exemplo, basta pensar no valor que você dá a uma sombrinha em um dia de sol e em um dia de chuva! No entanto, apesar das dificuldades, o estudo econômico evoluiu bastante e os economistas conseguiram identificar um padrão no comportamento dos agentes em diversas situações. Assim, pode-se considerar a existência de leis econômicas de dois tipos: • Leis gerais: válidas para qualquer estágio de evolução da sociedade; • Leis específicas: próprias de cada modo de produção ou de cada formação socioeconômica. As leis econômicas servem para fins práticos e transformam-se em regras quando utilizadas na busca por objetivos. Um exemplo das leis econômicas aparece no estudo dos mercados de bens e serviços. As leis da oferta e da demanda (ou procura), analisadas com maior rigor no decorrer das aulas, explicam o funcionamento do mercado e como ele reage a mudanças nos comportamentos tanto de consumidores quanto de produtores. A análise de um determinado fato que altera a procura (ou a Competência 01 15 oferta) sob a luz dessas duas leis permite que sejam estabelecidos os seus possíveis efeitos sobre a economia. Outro exemplo é a lei da mão invisível, primeiramente formulada por Adam Smith (considerado por muitos o pai da ciência econômica). Segundo essa lei, quando firmas e indivíduos atuam racionalmente, ou seja, cada um buscando o melhor para si mesmo, o sistema econômico opera de modo mais eficiente. Problemas Econômicos Como analisado anteriormente, observamos que os agentes econômicos precisam escolher como usar os recursos ou fatores produtivos2 que dispõem de modo a atender suas necessidades. A partir dessa ideia, ratificamos que a economia é o campodas ciências sociais que estuda as escolhas. As decisões dos indivíduos, das firmas e dos governos são quase sempre difíceis de serem tomadas devido à complexidade das questões envolvidas. A partir de agora, passamos a analisar as singularidades que norteiam as decisões econômicas. 1.1.5 A escassez de recursos x necessidades e desejos ilimitados Como visto, a economia é definida como a ciência da escolha quando os recursos são escassos, ou seja, insuficientes para satisfazer necessidades e desejos ilimitados dos indivíduos. O conceituado economista Paul W. Samuelson divide esse conceito em duas questões importantes: 1. Os recursos são escassos; 2. As necessidades são ilimitadas e se renovam. Considerando essas duas importantes questões, o economista N. Gregory Mankiw define ainda a 2 Os fatores de produção são necessários no processo de fabricar bens e serviços. Em economia, esses fatores são distribuídos em três grupos: Terra – recursos naturais; Capital – máquinas e equipamentos; Trabalho – Mão de obra qualificada e não qualificada. Competência 01 16 economia como o estudo de como uma sociedade administra seus recursos escassos. Assim, nem sempre é possível atender TODAS as necessidades e desejos de modo simultâneo, caracterizando um problema econômico muito relevante e de difícil solução. As pessoas escolhem entre modos de produção e alternativas de distribuição dos resultados das atividades produtivas entre os vários grupos da sociedade. A teoria econômica procura fornecer uma alternativa eficiente3 para a alocação dos recursos de modo a maximizar a satisfação das necessidades e dos desejos. Essa dita alternativa eficiente, por sua vez, deve responder aos três principais problemas em economia. Quais são esses problemas é o que veremos agora. 1.1.6 A tríade dos problemas centrais e seu inter-relacionamento A sociedade precisa escolher entre formas alternativas de utilização dos recursos disponíveis de maneira a operar eficientemente. Para isso, a economia procura responder a três questões: 1) O que produzir e em que quantidade? Quais os produtos e serviços deverão ser produzidos para satisfazer da melhor forma possível as necessidades da sociedade? 2) Como os bens devem ser produzidos? Que tecnologias e métodos de produção utilizar? Que matérias-primas deverão ser utilizadas para produzir determinado produto? Como maximizar a produção tendo em conta os recursos disponíveis? 3.Para quem os bens são produzidos? 3 A eficiência é uma propriedade que a sociedade tem de obter o máximo possível a partir de seus recursos escassos. Competência 01 17 Como repartir os rendimentos disponíveis entre os diferentes agentes econômicos? Quem deverá ganhar mais e quem deverá ganhar menos? A depender da forma como as sociedades respondem as essas três questões, temos diferentes sistemas de organização econômica como resultado. Os dois extremos dessas formas seriam: economias centralizadas e economias de mercado. Nas economias centralizadas, as principais decisões relacionadas à produção dos bens são tomadas pelo governo. Já nas economias de mercado, é o próprio mercado (interação entre oferta e demanda, que veremos na aula que vem) que responde às três questões. Figura 6 – Tipos de Economia Fonte: a autora Contudo, na prática, não existem atualmente sociedades que se encaixem em nenhum dos dois casos extremos expostos. De fato, todas as sociedades atuais estão organizadas em economias mistas na medida em que contêm características das economias de mercado e das economias de direção central. Na economia brasileira, por exemplo, o mercado determina o quê, como e para quem produzir, mas o governo desempenha papéis importantes como a supervisão e regulamentação das atividades econômicas, a oferta de serviços públicos ou a repartição dos recursos pelos agentes econômicos, fatos que certamente analisaremos ao longo do curso. Antes de continuar, contudo, vale aqui um ponto adicional: quem se preocupa com o funcionamento do sistema de preços é a economia centralizada ou planificada, que são bem Economia Centralizada • Sistemas Planificados, socialistas • Leis de mercado são suprimidas ou mitigadas ao máximo • Tomada de decisões econômicas pelo Poder Público Economia Descentralizada • Livre concorrência e iniciativa • Atendimento às leis de mercado Competência 01 18 retratadas pelos sistemas socialistas ou comunistas. Nesse caso, existe, sim, uma forte preocupação com o funcionamento da economia em termos de preços e tudo fica controlado pelo Planejador Social, retratado pelo agente econômico Governo. É ele quem controla todos os salários e os demais preços da economia. Dessa forma, se a questão falasse sobre a economia centralizada, o item estaria correto. Figura 7 – Tipos de Economia Fonte: a autora Mas vamos continuar com nossa aula e falar sobre Alocações eficientes no sentido de Pareto. Alocação eficiente de Pareto! Eis aí um conceito extremamente importante em economia! Pareto apresentou alguns conceitos importantes no sentido de bem-estar. Assim, algumas noções, antes de responder são necessárias: 1. Uma alocação ou situação é eficiente no sentido de Pareto se não há uma forma de melhorar a situação de uma pessoa sem piorar a situação de outra. Sobre isso, vamos ver um exemplo: Digamos que existam apenas duas pessoas na economia, o Sr. e a Sra. Silva. Economia Centralizada ou Planificada • Funcionamento do sistema de preços • Sistemas socialistas ou comunistas • Planejador social retratado pelo agente econômico Governo Economia Descentralizada • Satisfação dos inte- resses dos agentes econômicos • Desconsidera a pre- sença do governo Competência 01 19 Figura 8 – Distribuição de Riqueza Fonte: a autora Descrição: lado a lado estão duas figuras, uma azul e outra rosa. A imagem em azul é um boneco e abaixo está escrito Sr. Silva, sob este se tem a palavra riqueza e a cifra de 999 reais. Ao lado está a figura de uma boneca, abaixo escrito Sra. Silva e sob a mesma escrito riqueza com a cifra de um real. Digamos ainda que o total de riquezas dessa economia soma R$ 1.000,00 que são distribuídos da seguinte forma: R$ 999,00 para o Sr. Silva e R$ 1,00 para a Sra. Silva. Nesse caso, nós observamos que a nossa economia está longe de ser justa, certo? Mas, será que ela é eficiente no sentido de Pareto? Veja, existe alguma forma de melhorar a situação da Sra. Silva sem piorar a situação do Sr. Silva? Por exemplo, se a Sra. Silva recebesse R$ 1,00, ela ficaria em uma situação melhor? Sim, certamente, mas veja que, para que isso acontecesse o Sr. Silva teria que ficar em uma situação “menos boa”, pois, para que a Sra. Silva recebesse R$ 1,00, ele teria que perder esse valor! Nesse caso, não há como melhorar a situação de um agente econômico sem piorar a situação do outro. Essa situação é o que Pareto chamou de eficiência. Mas, existem situações ou alocações ineficientes no sentido de Pareto? Competência 01 20 Figura 9 – Distribuição de Riqueza Fonte: a autora Descrição: lado a lado estão duas figuras, uma azul e outra rosa. A imagem em azul é um boneco e abaixo está escrito Sr. Silva, sob este se tem a palavra riqueza e a cifra de 999 reais. Ao lado está a figura de uma boneca, abaixo escrito Sra. Silva e sob a mesma escrito riqueza com a cifra de um real. Sim, para ver isso, vamos fazer outro exemplo: Imagine agora que o Sr. Silva possua R$ 900,00 e a Sra. Silva continue com o seu rico R$ 1,00. Continuamos dizendo que existemR$ 1.000,00 nessa economia, certo? Nessa situação agora, é possível melhorar o estado da Sra. Silva sem piorar a do Sr. Silva? Nesse caso, sim! Veja que, por exemplo, o governo pode dar a Sra. Silva R$ 50,00, sem que isso implique em uma retirada do Sr. Silva. Como essa situação permite a melhora de um agente sem a piora do outro, ela é chamada como uma alocação ineficiente no sentido de Pareto. Quando uma alocação é ineficiente no sentido de Pareto nós dizemos que existe a possibilidade de uma melhora de Pareto, ou seja, há uma forma de deixar um agente melhor sem deixar outro necessariamente pior! Uma pergunta que se faz é: como responder, de forma eficiente a essas três perguntas? Se os recursos são escassos, como o agente econômico deve realizar suas escolhas? Em um mundo onde há escassez, qualquer escolha que se faça implica, necessariamente, na renúncia de diversas alternativas disponíveis. Esta renúncia representa um custo, que é um dos conceitos mais importantes da economia: o custo de oportunidade. Competência 01 21 Figura 10 – Custo de oportunidade Fonte: a autora Descrição: do lado esquerdo há a foto dos pés de uma mulher calçada com um sapato de salto e em cima escrito a palavra escolhas; entre as figuras um grande X ; do lado direito fotos de bolsa, brincos e vestidos e acima escrito “Renúncia de Alternativas Disponíveis”. 1.2 Entendendo o funcionamento de uma economia 1.2.1. O fluxo circular da riqueza É necessário compreender as interações entre os agentes econômicos a fim de melhor compreender as intervenções governamentais. Embora não seja pedida diretamente a compreensão gráfica do que ocorre em uma economia, uma vez entendida a direção e o que ocorre em cada mercado, você não terá problemas para verificar o que acontece em toda a economia e poderá analisar, com tranquilidade, se determinada assertiva da questão está correta. Por isso, essa parte da nossa aula será destinada à compreensão mais geral do que estudaremos ao longo das nossas cinco aulas. Uma vez compreendido esse mapa da mina, farei menção diversas vezes ao longo de todas as nossas aulas para que fique bem reforçado e para que você possa ter uma visão ampliada. Para compreender a macroeconomia, precisamos, inicialmente, saber o que é um modelo: um modelo é como um mapa; ele ilustra a relação entre as coisas. Assim como um mapa não mostra todos os detalhes da paisagem, omitindo árvores, e pontos menos relevantes, o modelo simples Competência 01 22 não poderá mostrar tudo que acontece na complexidade de um sistema econômico4. Contudo, assim como o mapa nos leva ao local onde desejamos chegar, o modelo simples desenvolvido nessa parte permitirá ter uma compreensão melhor das relações econômicas. Para saber o que acontece em um sistema econômico, é preciso, antes de qualquer coisa, compreender quais são os agentes econômicos que atuam nesse sistema. Um agente econômico, como já vimos, é uma pessoa ou entidade que toma decisões econômicas. Em uma economia simplificada dizemos que existem quatro agentes econômicos: as famílias (que buscam maximizar o nível de satisfação através de um processo de otimização), as firmas ou empresas (que buscam maximizar os lucros também através de um processo de otimização), o governo (que busca maximizar o bem-estar social) e o resto do mundo (uma representação dos três agentes citados que não estão dentro do território em análise). Esses quatro agentes interagem em espaços chamados mercados. Assim, apenas reforçando, um mercado é um local, físico ou não, no qual agentes econômicos procedem à troca de bens por uma unidade monetária ou por outros bens. Em uma economia, existirão três mercados-chave: bens e serviços (onde são comercializados os bens destinados ao consumo final), fatores Produtivos (onde são comercializados fatores necessários à produção, como trabalho, terra e capital) e ativos financeiros. Em uma economia, os quatro agentes (famílias, empresas, governos e resto do mundo) interagem em três mercados: bens e serviços, fatores produtivos e ativos financeiros. 4 Sistemas Econômicos são arranjos historicamente constituídos, a partir dos quais os agentes econômicos são levados a empregar recursos e a interagir via produção, distribuição e uso dos produtos gerados, dentro de mecanismos institucionais de controle e de disciplina, que envolvem desde o emprego dos fatores produtivos até as formas de atuação, as funções e os limites de cada um dos agentes. Figura 11 Fonte GettyImages Descrição: grupos de bonecos de cores diferentes com linhas que os conectam formando um hexágono. Competência 01 23 Antes de estudar a economia acima descrita, iniciaremos analisando uma economia mais simplificada. Uma situação em que só existem dois agentes: famílias e empresas (economia fechada – não há comunicação com o resto do mundo – e sem governo); e apenas dois mercados: bens e serviços e fatores produtivos, conforme mostrado na figura abaixo, denominada de fluxo circular da riqueza. Figura 12 –Fluxo econômico para o caso de uma economia fechada e sem governo. Fonte: a autora Descrição: a figura representa o sistema circular de quatro elementos: “Famílias”, “Mercados de Bens e Serviços”, “Empresas” e “Mercado de Fatores de Produção”, em que setas azuis mostram o fluxo de “Pagamento”, “Renda” , “Despesas” e “Receitas”; já as setas vermelhas, no sentido inverso, mostram “Oferta de Bens e Serviços”, “Demanda de Bens e Serviços”, “Oferta de Fatores de Produção” e “Pagamento dos Fatores de Produção”. De forma simplificada, nesse fluxo circular da riqueza, as famílias são proprietárias de fatores de produção (terra, capital e trabalho) e os fornecem às firmas, através do mercado dos fatores de produção. As firmas combinam os fatores de produção e produzem bens e serviços, que são fornecidos às famílias por meio do mercado de bens e serviços. Essas são as transações, que formam os fluxos reais, descritos na figura em cor de rosa. Competência 01 24 Assim, as firmas produzem bens e serviços e os ofertam no mercado de bens e serviços. Esses produtos serão adquiridos pelas famílias que, para poder pagar por esses bens, precisam ofertar seus fatores às empresas. Assim, a terra, o capital e o trabalho, que são de propriedade das famílias, serão utilizados pelas empresas para produzir bens e serviços que serão consumidos pelas famílias, seguindo um fluxo indefinido que se retroalimenta. Para cada elo do fluxo real, descrito acima, existe um fluxo monetário. Os fluxos reais possuem uma contrapartida monetária, ou seja, são efetuados pagamentos na moeda corrente: as firmas remuneram as famílias quando adquirem os fatores de produção e as famílias pagam as firmas pelo consumo dos bens e serviços produzidos. Essas operações compõem o fluxo monetário. Percebe-se que toda renda dos agentes se deve a alguma contribuição sua no processo produtivo. Por isso, o fluxo econômico também é denominado de fluxo circular da renda. Esse fluxo monetário é representado em azul na figura. Logicamente, você percebe que esse modelo não condiz com a nossa complexa realidade (discutiremos mais nos exercícios)! Não é comum encontrarmos economias fechadas, sem o contato com o resto do mundo, e é ainda mais improvável encontrar uma economia sem governo. Por isso, embora bastante simplificado, o fluxo acima descrito não se reporta a uma realidade factível. Observando isso, começaremos a tornar o nosso modelinho mais completo. Começando, adicionaremos o agente GOVERNO na análise. Nessa economia, conforme você observa na figura 2, o Governo não se comunica diretamente com as empresas. O único contato que o agente Governoestabelece é com o outro agente, família. Esse fato deve ser levado em consideração, pois, o Governo deseja maximizar, entre outras coisas, o bem-estar social. Para atingir esse objetivo, o governo deve tirar recursos das famílias ricas (através dos impostos) e destinar às pobres (através das transferências governamentais), sendo desnecessário o contato direto com as empresas. Além de tributar e transferir recursos, o governo atua ainda na economia através das compras governamentais de bens e serviços realizadas no mercado de bens e serviços. Note que, nessa Competência 01 25 economia, o governo não atua no mercado de fatores (veremos como isso acontece na aula 01). Uma coisa que você poderá notar posteriormente é que a única forma que o governo tem de se “comunicar” com as empresas é através do mercado de bens e serviços. Como nessa economia hipotética o governo não atua no mercado de fatores, poderá fazer essa ligação com as firmas através da imposição de impostos sobre os bens (não sobre os rendimentos auferidos pelas empresas) ou ainda impondo preços máximos ou mínimos, além de tarifas e subsídios. Um último ponto que se pode considerar a respeito da existência do governo e de seu contato com as empresas diz respeito às compras governamentais, pois o governo também compra! Ele adquire os bens e serviços providos pelas empresas quando deseja realizar uma obra pública, por exemplo. Tudo isso pode ser visto na figura abaixo: Figura 13 - Fluxo circular da riqueza de uma economia fechada e com governo. Fonte: a autora Descrição: A figura representa a relação entre os elementos: “Famílias”, “Mercado de Bens e Serviços”, “Firmas” e “Marcado de Fatores”, como uma relação circular mediada pelo governo. Agora, a nossa economia começa a ficar um pouco mais alinhada com o que acontece nos sistemas econômicos mais complexos. Competência 01 26 Veja que, só com esses pontos iniciais, nós já começamos a compreender melhor o Estado e suas funções econômicas governamentais (redução da desigualdade de renda), assim como a atuação do governo na economia (através de impostos, transferências e compras governamentais). Logicamente, como foi dito anteriormente, essa é uma versão bastante introdutória, nada muito complexa. Na aula que vem, vamos entrar fundo nesses conceitos. Dando continuidade, precisamos verificar o surgimento do agente resto do mundo na nossa economia, até porque a maioria esmagadora dos países se comunica com outros países. E como o resto do mundo se comunica com a nossa economia? Através do mercado de bens e serviços, comprando produtos nacionais e vendendo produtos de outras nacionalidades. Assim, quando o resto do mundo adquire nossas mercadorias no mercado de bens e serviços, estamos exportando e quando o resto do mundo vende bens no nosso mercado de bens e serviços, estamos importando. A figura 3 mostra o surgimento do resto do mundo na economia. Figura 14 - Fluxo circular da riqueza de uma economia aberta Fonte: a autora Descrição: A figura representa a relação entre os elementos: “Famílias”, “Mercado de Bens e Serviços”, “Firmas” e “Mercado de Fatores”, como uma relação circular, mediada pelo governo, que por sua vez está relacionado com o resto do mundo. Competência 01 27 Até agora, observamos que os quatro agentes se encontram, simultaneamente, apenas no mercado de bens e serviços. Cabendo ao mercado de fatores a interação entre empresas e famílias, apenas. O modelo até aqui formulado é bastante complexo, mas não mostra a totalidade das relações existentes entre os agentes. Isso porque até agora desconsideramos a existência de um mercado vital no sistema econômico: o mercado financeiro ou de ativos financeiros5. Assim como no mercado de bens e serviços, o mercado financeiro também conta com a presença simultânea dos quatro agentes econômicos: as famílias atuam nesse mercado enviando a parte da renda não consumida (a poupança privada), as empresas operam no mercado através da tomada de empréstimos para investimentos e a posterior emissão de títulos da dívida e emissão de ações, enquanto o GOVERNO e o resto do mundo podem tanto tomar quanto conceder empréstimos ao sistema financeiro nacional. O fluxo circular da riqueza expandido é mostrado na figura 4. 5 O Mercado Financeiro é formado por quatro segmentos de mercado: • Mercado de Crédito: destinado, prioritariamente, a fornecer recursos financeiros para as famílias; • Mercado de Capitais: destinado, fundamentalmente, à emissão de crédito para capital de giro das empresas; • Mercado Monetário: utilizado pelo governo para emitir moeda e fazer política monetária; • Mercado Cambial: utilizado para a conversão entre a moeda nacional e as demais moedas estrangeiras. Competência 01 28 Figura 15 - Fluxo circular da riqueza de uma economia fechada e com governo Fonte: a autora Descrição: A figura representa a relação entre os elementos: “Famílias”, “Mercado de Bens e Serviços”, “Firmas” e “Mercado de Fatores” como uma relação circular, mediada pelo governo, que por sua vez está relacionada com o resto do mundo, e com os mercados financeiros. O fluxo circular da riqueza conecta os quatro setores da economia: famílias, firmas, governos e resto do mundo. Tudo isso através dos três tipos de mercados: os fundos fluem das firmas para as famílias na forma de salários (remuneração do fator produtivo trabalho), juros (remuneração do fator produtivo capital), e aluguéis (remuneração do fator produtivo terra), através do mercado de fatores. Depois de pagar os impostos ao governo e receber do governo as transferências, a família aloca a renda restante, ou seja, a renda disponível entre poupança privada e o gasto com consumo. Através dos mercados financeiros, a poupança privada e os fundos do resto do mundo são canalizados para gastos de investimentos das firmas, tomada de empréstimo pelo governo, tomada e concessão de crédito de estrangeiros e transações de estrangeiros com ações. Além disso, os fundos fluem do governo e das famílias para as firmas, para pagar pela compra de bens e serviços. Finalmente, exportações para o resto do mundo geram um fluxo de fundos que entra na economia e as importações levam a um fluxo de fundos que sai da economia. Competência 01 29 Assim, quando se soma os gastos de consumo com bens e serviços, os gastos de investimentos pelas firmas, as compras governamentais de bens e serviços e as exportações e, em seguida, subtrai-se o valor das importações, o fluxo total de riqueza representado por esse gasto é o gasto total com bens e serviços produzidos em um país, uma variável muito importante para uma economia, conforme veremos adiante. De modo equivalente, esse é o valor de todos os bens e serviços produzidos no país, isto é, o Produto Interno Bruto (PIB) da economia. É claro que isso aqui está, de fato, extremamente simplificado, mas, como eu já tinha dito, isso faz parte da noção de modelo enquanto simplificação. Mas, disso tudo o que é que, de fato, nos interessa em um primeiro estágio? É interessante que você saiba que no mercado de bens e serviços não existe apenas um tipo de mercado, mas ALGUMAS estruturas. São elas: Concorrência Perfeita, Concorrência Monopolística, Oligopólio e Monopólio. Existem ainda outras, como o oligopsônio e o monopsônio. Há, ainda, o mercado contestável, mas nós vamos falar sobre essa estrutura quando nos reportarmos ao mercado em concorrência perfeita. Além disso, é interessante que você compreenda como os consumidores e empresas atuam no mercado de bens e serviços e comoo governo pode influenciar esse mercado. Por fim, é importante que você note que esses mercados podem ter falhas e que, quando essas falhas acontecem, cabe ao governo fazer intervenções através de um processo regulatório! Viu como está tudo conectado desde o início? A pergunta que você pode estar se fazendo agora é: quanto, no máximo, uma economia pode produzir? Para analisar isso, precisamos ter o conhecimento de uma fronteira muito importante na economia: a curva de possibilidade de produção6. 6 A Curva ou Fronteira de Possibilidade de Produção é um gráfico que mostra as combinações de produto que a economia tem possibilidade de produzir dados os fatores de produção e de tecnologia de produção disponíveis. Competência 01 30 2.Competência 02 | Classificar os mercados, conhecendo os conceitos de demanda e oferta 2.1 Teoria dos preços Durante muito tempo, os economistas buscaram descobrir o que determina o valor das coisas. O que faz, por exemplo, o carro ter um valor tão alto e o sal um valor tão baixo. Dessa procura, surgiram duas teorias: a teoria objetiva, que afirma que o valor de um bem depende do esforço e do trabalho para sua obtenção e a teoria subjetiva, que associa que o valor do bem depende da sua utilidade e do seu nível de escassez. Posteriormente, essas suas teorias foram reunidas e o valor do bem, agora, é determinado como o resultado do seu custo de produção (associado ao esforço e ao trabalho) e da sua preferência (associada à necessidade ou ao desejo). De fato, os bens oferecidos no mercado têm preços. O preço é definido como o valor do bem expresso em moeda. Segundo a teoria econômica, os preços são resultado da interação entre dois agentes: os consumidores (que se preocupam com a utilidade dos bens) e as empresas (que representam o esforço ou os custos de produção). O PREÇO DE UM BEM é definido como valor desse bem expresso em moeda. Ele é resultado da interação entre os consumidores e as empresas. Hoje, buscamos analisar, com detalhes, como acontece a formação de preços em uma economia e alguns dos problemas econômicos mais importantes, além de estudar os fatores que influenciam na escolha da quantidade que será demandada e que será ofertada de um determinado bem, assim como definir o equilíbrio de mercado. Para começar, vamos compreender o conceito de microeconomia? Competência 02 31 Conceito de MICROECONOMIA Diferentemente da macroeconomia, que estuda o agregado (como visto no fluxo circular da riqueza analisado na aula passada), a microeconomia é o ramo da economia que estuda o comportamento dos agentes econômicos, ou seja, qualquer indivíduo ou entidade que desempenha um papel na economia. A microeconomia estuda como e por que consumidores, empresas, governo, trabalhadores, investidores, entre outros, tomam decisões econômicas, ou fazem escolhas. É de interesse de estudo da microeconomia, ainda, a forma pela qual os agentes econômicos interagem de modo a formar unidades maiores, os mercados. Sendo assim, a microeconomia explica, entre outras questões, a formação dos preços, a quantidade ofertada ou demandada e o quanto será investido. Assim, poderemos inferir porque os mercados dos bens são diferentes, e como são influenciados por políticas econômicas e mudanças no ambiente internacional. Para começar a compreender o mercado analisaremos, inicialmente, porque as famílias ou consumidores consomem. Toda a análise do consumo é vista, na microeconomia, através da demanda. Mas, antes disso, eu te pergunto: se o preço da gasolina aumentar (como temos visto nos últimos tempos), você consumirá mais gasolina ou menos gasolina? 2.1.1 Lei da demanda Antes de definir a lei da demanda, queria saber o que você respondeu na questão acima! Você comprará mais, menos ou a mesma quantidade? Possivelmente, você respondeu que comprará menos gasolina quando o preço aumentar, não foi isso? Essa relação inversa entre o preço de um bem e a quantidade que um consumidor planeja comprar (ou a quantidade demandada desse bem) é conhecida por Lei da Demanda. Ela estabelece uma relação negativa entre a quantidade consumida e o preço do bem em questão. Agora, eu te pergunto o seguinte: sob as condições dadas anteriormente, você comprará menos SEMPRE? Olhe, pense bem, eu estou perguntando se você comprará SEMPRE uma quantidade menor? Competência 02 Luiz Henrique Sublinhar Luiz Henrique Sublinhar 32 Do jeito que a questão foi posta, você não pode dizer que SEMPRE comprará menos. Por quê? Por uma simples razão: imagine que você ganhe o prêmio do Big Brother Brasil. Você vai comprar menos gasolina mesmo possuindo uma renda maior? Possivelmente não, né?! Ou, ainda, imagine que o preço do álcool combustível chegue a R$ 100,00/l. Ainda assim você comprará menos gasolina? Dessa forma, do jeito que está posta a lei, ela acaba sendo aplicada em pouquíssimos casos e termina sendo violada em muitos outros. Pensando nisso, os economistas adicionaram uma hipótese bastante importante e que tornará a lei válida para a maioria esmagadora dos casos. Essa hipótese é denominada de Hipótese de Ceteris Paribus. A expressão em latim ceteris paribus significa algo como “todos os demais fatores relevantes permanecem inalterados”, ou seja, agora com a adição dessa hipótese, a lei da demanda se torna válida e afirma que à medida que o preço de um bem aumenta, os consumidores estarão dispostos a consumi-lo em menor quantidade, considerando que todas as demais variáveis que podem influenciar o seu comportamento se mantêm constantes, ou seja, na hipótese de Ceteris Paribus. A relação negativa entre quantidade e preço para o consumidor ocorre porque, em alguns casos, a renda dos indivíduos se torna insuficiente para adquirir o produto e, em outros, os indivíduos optam por algum substituto próximo mais barato. A LEI DA DEMANDA afirma que, com tudo o mais mantido constante, a quantidade demandada de um bem diminui quando o preço dele aumenta. Como exemplo desse fato, imagine que os preços dos rodízios de sushi aumentem. Com essa elevação, você levará em conta a possibilidade de ir, por exemplo, a um rodízio de carnes ou massas. Nesse caso, você reduzirá a quantidade demandada de sushi porque estará trocando esse produto por carnes, um substituto que ficou, relativamente, mais barato (observe que o uso do “relativamente” é importante porque o preço do rodízio de carnes, de fato, não diminuiu). Competência 02 Luiz Henrique Sublinhar 33 Outra possibilidade é que com o aumento do preço do rodízio do sushi, você não poderá ir tantas vezes ao restaurante, pois, já que o seu salário não aumentou igualmente com o preço do rodízio, o seu poder de compra ficou reduzido. Em termos matemáticos, a Lei da demanda vira uma função, a função demanda, que informa a quantidade de um bem que será procurada para cada nível de preço. Analiticamente: • Função demanda: A função demanda pode ser representada, graficamente, através da curva de demanda, também conhecida unicamente como demanda. No gráfico cartesiano temos que o preço se encontra no eixo vertical e a quantidade demandada no eixo horizontal.7 Para compreender como o gráfico funciona, vamos analisar a sua construção. Ainda analisando a gasolina que ficou mais cara, vamos colocar no gráfico a situação inicial. Nesse caso, você consumia a quantidade Q1 ao preço P1. Figura 16 – Composição da demanda Fonte: a autora Descrição: A figura representa um gráfico cartesiano em que o eixo das abcissas é representado pela letra Q e o das ordenadas pela letra P e o ponto P1, Q1 é o único determinado. 7 Observe aqui que,diferentemente do que ocorre em um gráfico na matemática em que a variável dependente (no nosso caso, quantidade) fica no eixo vertical e a variável independente (no caso, preço) fica no eixo horizontal, na economia, ocorre o inverso. Isso é feito apenas para simplificar o raciocínio. Competência 02 34 Ainda seguindo a análise anterior, imagine agora que o preço aumente. O que acontecerá? Você reduzirá a quantidade demandada! Analiticamente: Figura 17 – Composição da demanda Fonte: a autora Descrição: a figura representa um gráfico cartesiano em que o eixo das abcissas é representado pela letra Q e o das ordenadas pela letra P. São determinados os pontos Q0 e P2 e ponto P1, Q1. Assim, depois dos ajustes, teremos a seguinte estrutura: Figura 18 – Composição da demanda Fonte: a autora Descrição: a figura representa um gráfico cartesiano em que o eixo das abcissas é representado pela letra Q e o das ordenadas pela letra P. São determinados os pontos Q0 e P2 e ponto P1, Q1. Finalmente, para desenhar a curva de demanda, basta ligar os pontos no plano cartesiano. E Voilà: Competência 02 35 Figura 19– Curva de demanda Fonte: a autora Descrição: a figura representa um gráfico cartesiano em que o eixo das abcissas é representado pela letra Q e o das ordenadas pela letra P. A linha do gráfico é determinada pelos pontos Q0 e P2 e o ponto P1, Q1. A curva de demanda representa a relação entre preço de um bem e a quantidade demandada desse bem. A curva de demanda representa o comportamento do agente econômico chamado consumidor. Para preços mais altos, as pessoas consumirão menos do bem, pois os bens substitutos ficarão relativamente mais baratos, levando o consumidor a adquirir mais desses bens. O aumento dos preços também reduz a renda real (poder de compra) do consumidor, o que gera uma retração no consumo do bem. Antes de continuar, gostaria de fazer três observações: i. O termo “relativamente” muitas vezes acaba sendo utilizado de forma incorreta. Nesse caso, o “relativamente” pode ser mais bem compreendido com um exemplo: imagine que você compra sempre a mesma marca de, digamos, margarina. Um belo dia você chega ao supermercado e observa que a margarina aumentou de preço! Não é que ela ficou, necessariamente, mais cara que a melhor margarina que existe no mercado, mas ela ficou, simplesmente, mais cara. Em uma situação como essa você pode pensar: “Ah, por esse preço, eu vou levar a margarina de marca Y. Ela é mais cara, mas para pagar mais pela margarina que eu vinha consumindo, não vale a pena”. Já Competência 02 Luiz Henrique Sublinhar Luiz Henrique Sublinhar 36 aconteceu isso com você? Se sim, quando esse fato ocorre, é justamente o funcionamento mental da nossa curva de demanda! Legal, né? ii. Embora a curva de demanda pareça muito mais uma reta, na verdade ela possuirá um formato que nós economistas chamamos de convexo. Como, para fins mais simples, a curva e a reta estabelecem a relação negativa entre quantidade de preço, vamos utilizar a reta por ser mais simples de desenhar, ok? iii. Por fim, quando falamos em variação do preço, os efeitos dessa variação incidirão sobre a quantidade demandada (por exemplo, Q1 e Q2), não sobre a demanda ou curva de demanda. Ou seja, quando o preço varia, nós teremos um movimento ao longo da curva de demanda (como mostrado pela setinha vermelha no gráfico acima) e não da curva de demanda. A compreensão disso é fundamental e nós vamos voltar a esse ponto mais algumas vezes! A curva de demanda pode representar as escolhas de apenas um dos consumidores de uma economia ou de todos de uma forma agregada. No primeiro caso temos a demanda individual, que graficamente é representada pela curva de demanda individual, e no segundo caso tem-se a curva de demanda de mercado, representada na figura abaixo. Pode-se, facilmente, obter a curva de demanda de mercado somando-se todas as quantidades demandadas por cada consumidor para cada preço. Na figura abaixo, a demanda agregada de um bem foi calculada para apenas três consumidores. Quando o preço de mercado for igual a $4, o consumidor A não adquire o bem (note que a quantidade é zero para a DA quando o preço é $ 4,00), e os consumidores B e C compram, digamos, 6 e 10 unidades, respectivamente. Competência 02 Luiz Henrique Sublinhar 37 Figura 20 - Curva de Demanda de Mercado Fonte: a autora Descrição: a figura representa um gráfico cartesiano em que o eixo das abcissas é representado pela quantidade e o das ordenadas pelo preço. Três retas, DA, DB, DC e Demanda de mercado são representadas no gráfico. A demanda de mercado é representada como a soma das demandas individuais dos consumidores. Assim, a curva de demanda de mercado representa o somatório das demandas individuais. Para o preço de $ 4,00, o consumidor A não demandará desse bem. Como os consumidores B e C demandarão, respectivamente, 6 e 10 unidades, teremos que, ao preço de $ 4,00, a demanda de mercado será de 16 unidades. A demanda de mercado é a curva que relaciona cada um dos preços possíveis à quantidade demandada por todos os consumidores. Para ver a importância de definição da lei da demanda e da curva de demanda de mercado vamos resolver a primeira questão da aula? Antes de prosseguirmos, contudo, vale aqui duas explicações importantes: 1. Toda vez, eu disse TODA, que houver uma variação no preço do bem em análise, haverá um deslocamento ao longo da curva de demanda! Sempre, sempre, sempre! Mais na frente, nós vamos Competência 02 38 ver que outros fatores irão deslocar a demanda, mas ainda não chegamos neles. 2. A segunda vai levar um pouco mais de tempo para explicar: Em economia, a maior parte dos bens obedece à lei da demanda, ou seja, para esses bens, quando o preço aumenta, a quantidade diminui e vice-versa. Há uma simples e notória relação entre quantidade e preços sob a hipótese de ceteris paribus. Contudo, essa relação, não é válida para todos os bens. Existe um tipo de bem, que analisaremos agora, que não obedece à lei da demanda. Esse bem se chama de Bem de Giffen. Antes de defini-lo, vou te contar uma historinha, ok? Aliás, essa historinha é bastante recorrente em todos os livros de economia. Os bens de Giffen foram encontrados inicialmente na Inglaterra da Revolução Industrial. Durante esse tempo, a batata inglesa era um dos bens que fazia parte do menu básico do proletariado. O economista Giffen, analisando o comportamento da classe trabalhadora, observou que os consumidores não se comportavam da forma esperada quando havia uma variação no preço desse bem. Assim, todas as vezes que os preços caíam, as pessoas passavam a demandar (ou procurar) menos o bem e, quando o preço aumentava, os consumidores passavam a demandar mais do bem. Nesse caso, diferentemente do que acontece com um bem ordinário, a curva de demanda de um bem de Giffen possui inclinação positiva! É isso mesmo, tudo o que vale para a maioria quase absoluta dos bens não vale para o bem de Giffen! Ainda bem, esses bens não são solicitados em termos gráficos, porque isso tornaria a nossa análise bastante complicada, sendo solicitado apenas em questões mais teóricas. Infelizmente, por outro lado, não existem muitos outros exemplos sobre tipos de bens de Giffen para que eu possa explicar a você. A maioria esmagadora dos livros traz apenas a noção da batata inglesa na Inglaterra na época da Revolução Industrial. Assim, hoje, por exemplo, as batatas não são mais consideradas bens de Giffen. Competência 02 Luiz Henrique Sublinhar Luiz Henrique Sublinhar 39 Entendido? Nós vamos voltar ainda algumas vezes a noçãode bem de Giffen hoje. À medida que a aula for progredindo, passaremos a analisar ainda mais esse bem, ok? Mas vamos continuar o nosso trabalho. Nós vimos como a curva de demanda é construída e vimos ainda como acontecem os movimentos ao longo da curva. A partir de agora, vamos compreender quais fatores levam a variações da curva de demanda. Vamos lá? 2.1.2 Deslocamento da curva de demanda A curva de demanda relaciona a procura por um determinado bem a seu preço. De forma mais específica, mostra que a demanda é menor para preços maiores. Assim, nós vimos que é possível mostrar que a quantidade demandada de um produto depende do preço que será cobrado por ele. Mas, o preço não é o único fator que determina a quantidade demandada de um bem. A única coisa que faz você comer sushi é o preço? Será que o preço da carne não afetaria, em nenhuma hipótese, o seu consumo? Pois é, fatores como a existência de substitutos próximos e o preço que é cobrado por eles também influenciam a demanda de um bem. Por exemplo, a manteiga é uma substituta próxima para a margarina, sendo assim, um aumento no preço da manteiga pode induzir a troca desse bem por margarina, o que aumenta o consumo desse último bem. Os fatores listados anteriormente modificam a quantidade consumida, sem que haja uma mudança nos preços. Em outras palavras, a quantidade demandada é maior ou menor para um mesmo preço anterior. Vamos analisar isso, intuitivamente? Imagine que a curva de demanda abaixo represente a sua demanda por cinema: Competência 02 Luiz Henrique Sublinhar Luiz Henrique Sublinhar 40 Figura 21 – Curva de demanda Fonte: a autora Descrição: a figura representa um gráfico cartesiano em que o eixo das abcissas é representado pela letra Q e o das ordenadas pela letra P. A linha do gráfico é determinada pelos pontos Q0 e P2 e o ponto P1, Q1. Inicialmente, você está no ponto (A). Digamos, por hipótese, que você vai ao cinema duas vezes por mês (Q1 = 2) e paga R$ 17,00 (P1 = 17). Imagine agora que você ganhou a última edição do Big Brother Brasil. Com essa nova renda, você irá mais vezes ou menos vezes ao cinema? Possivelmente, mais vezes, não é? Nesse caso, eu posso dizer que você irá mais vezes ao cinema pagando o mesmo preço pelo ticket (o que é mostrado pela setinha vermelha na figura abaixo) ou que, para a mesma quantidade de vezes que você vai ao cinema, você poderia pagar mais por saída (o que é mostrado pela setinha verde na figura abaixo). Figura 22 – Curva de demanda Fonte: a autora Descrição: a figura representa um gráfico cartesiano em que o eixo das abcissas é representado pela letra Q e o das ordenadas pela letra P. A linha do gráfico é determinada pelos pontos Q0 e P2 e o ponto P1, Q1. Competência 02 41 Nos dois casos, é possível notar que haverá um movimento para fora da curva de demanda original. Quando isso acontece, dizemos que há um deslocamento paralelo da curva. Esse deslocamento é mostrado na figura abaixo (onde D1 é a demanda original e D2 é a demanda final): Figura 23 – Curva de demanda Fonte: a autora Descrição: a figura representa um gráfico cartesiano em que o eixo das abcissas é representado pela letra Q e o das ordenadas pela letra P. São marcados dois pontos Q0 e P2 e o ponto P1, Q1. Duas linhas azuis são demonstradas no gráfico, uma em cada ponto. Ora, eu não falei em variação de preço, mas de outra variável que não preço. No caso acima, eu falei de uma variação na renda do consumidor! Logicamente, outras variáveis farão com que ocorra o mesmo movimento, são elas: • Gostos ou preferências; • Expectativas; • Preço de bens relacionados. Grosso modo, a renda e essas três variáveis são as mais frequentes como determinantes de alteração na curva de demanda. Lógico, podem existir outras, mas essas seriam os quatro maiores grupos. Para que fique simples a compreensão, como a demanda representa o consumidor, tudo que alterar a vida desse agente econômico, alterará a curva de demanda dele! Simples assim! Antes de seguirmos adiante, vamos esclarecer os três outros fatores e detalhar como a renda afeta Competência 02 Luiz Henrique Sublinhar 42 a vida do consumidor. Inicialmente, vamos analisar os gostos e as preferências. Comecemos com uma pergunta bastante reflexiva: nós nos vestimos hoje da mesma forma que nos vestíamos há 10 anos? Possivelmente, não. Não, porque não cabe, não porque a moda já passou, não porque você se mudou para um lugar mais frio como o Canadá! Então, o nosso padrão de consumo é alterado não apenas porque o preço mudou, mas também porque nossas necessidades e desejos também mudaram! Assim, alterações nos gostos e nas preferências modificam por demais o nosso padrão de consumo. Um segundo fator que altera a demanda de um determinado consumidor é a expectativa sobre o futuro. Por exemplo, imagine agora que você sabe que amanhã vai chover (no meu caso, nevar), será que você não mudará o seu consumo de guarda-chuvas hoje? Possivelmente, sim. Nesse caso, a sua demanda mudou (ela será deslocada) não porque está chovendo agora, mas porque a sua crença é de que chova no dia seguinte. A nossa crença sobre o futuro é o que os economistas chamam de expectativas. Vamos continuar analisando: Existe outra variável que afeta o padrão de consumo de uma pessoa. Esse fator se chama preço dos bens relacionados. Vamos compreender melhor. Vamos analisar a demanda de uma pessoa por açúcar quando os preços de dois bens relacionados a ele são alterados separadamente. Imagine, inicialmente, que o preço do café aumente. Imagine ainda que essa pessoa só compre açúcar para tomar café e só toma café adoçado. Nesse caso, como o preço do café aumentou, essa pessoa comprará menos café, certo? Assim, como ela só toma café com açúcar, comprará menos açúcar também, não é isso? Logo, o aumento do preço do café levará a uma redução na demanda pelo açúcar! Mais uma vez, veja que eu não falei em variação do preço do açúcar, hein? Vamos mais: imagine agora que não foi o preço do café, mas o preço do adoçante que aumentou. Agora, com o aumento do preço do adoçante, você passará a comprar mais açúcar, para poder compensar a falta do adoçante. Competência 02 43 Nesse ponto, vale uma consideração: veja que nós faremos movimentos de forma separada, ou seja, um fator variando de cada vez. Nada de variar tudo na mesma hora, porque vira uma coisa incompreensível! Em economia, nós trabalhamos com o que se denomina de estática comparativa. Nela, cada variável é alterada de forma isolada. No caso acima, você deve ter notado uma coisa bem interessante: quando o preço do café aumentou, a demanda por açúcar diminuiu enquanto que quando o preço do adoçante aumentou, a demanda por açúcar também aumentou! Alguma explicação para isso?? Sim, e ela é bem simples! O café e o açúcar, assim como o feijão com arroz ou o queijo e a goiabada são consumidos de forma conjunta, é o que se chama de bens complementares. Já para o caso do açúcar e do adoçante, nós vamos consumir aquele que for mais barato. Nesse caso, os bens são denominados de bens substitutos! Essa classificação é absolutamente importante que você compreenda. Então, se falou em variação do preço dos bens relacionados, eu só sei para onde vai a demanda se eu souber qual a relação que existe entre os bens em análise: se de substitutibilidade ou de complementaridade! Compreendido? Para finalizar a lista de itens que deslocam a demanda por alterar o comportamento do consumidor, vamos falar com mais detalhe sobre uma variação da renda, iniciado no começo dessa parte da aula. Pergunta simples: Se você tirasse na loteria, você consumiria mais de tudo? Possivelmente, você pensou que sim, mas eu te direi que não!E a explicação para isso é bem objetiva. Competência 02 Luiz Henrique Sublinhar Luiz Henrique Sublinhar 44 Se você tirasse na loteria, você certamente viajaria mais vezes pela Europa ou compraria um carro melhor ou ainda iria a restaurantes mais caros. Contudo, com o aumento da sua renda, você vai tomar menos ônibus ou comer menos carne de conserva! Logo, o aumento da renda induz ao aumento no consumo de alguns bens e redução no consumo de outros. Assim, quando consumo e renda variam no mesmo sentido, dizemos que o bem é chamado de bem normal. São os bens que quando a renda aumenta, o consumo aumenta e quando a renda diminui o consumo também diminui. Por outro lado, quando a renda e o consumo variam em sentidos contrários, o bem é chamado de bem inferior. Compreendido? Graficamente, mudanças que promovem um crescimento da demanda para um mesmo preço deslocam a curva de demanda para DIREITA. Dentre essas mudanças estão: aumento nos preços de bens substitutos, redução do preço de bens complementares, crescimento da renda, alterações das preferências que promovem o consumo. Por outro lado, fatores que reduzem a demanda para um mesmo preço deslocam a curva para ESQUERDA, por exemplo: uma redução dos preços de bens substitutos, redução da renda ou alterações nas preferências que reduzem o consumo. Logicamente é muita informação, eu sei, eu sei, mas eu não quero que você decore! Você já tem muitas outras disciplinas em que é preciso decorar conceitos. No meu caso, eu quero que você compreenda. A princípio parece complicado, mas à medida que nós formos fazendo os exercícios juntos, prometo que a coisa vai ficar mais clara. A figura abaixo mostra exemplos de deslocamento da curva de demanda. Considerando a curva do meio (D2) como inicial, um aumento da demanda leva a curva para uma posição como a ocupada pela linha mais clara (D3) e uma redução da demanda leva a curva a ocupar uma posição como a curva mais escura (D1). Para compreender esse raciocínio é bastante simples: para um preço de R$ 1,00, se a minha renda aumentar, eu consumirei mais, para qualquer nível de preços, ou seja, ao invés de consumir Q2, vou Competência 02 45 passar a consumir Q3, dado que o bem é normal. Raciocínio inverso vale para a linha mais escura e a quantidade de Q1. Figura 24 – Deslocamentos da Curva de Demanda Fonte: a autora Descrição: a figura representa um gráfico cartesiano em que o eixo das abcissas é representado pela letra Q e o das ordenadas pela letra P. São marcados pontos D1, D2 e D3. Três linhas azuis são demonstradas no gráfico, uma em cada ponto. Uma mudança na quantidade demandada, a qualquer preço dado, é representada graficamente pelo movimento da curva de demanda original para uma nova posição. Entendido até aqui? Antes de passarmos a analisar a questão da empresa e da curva de oferta, gostaria de explicar um ponto: os efeitos renda e substituição, oriundos da variação do preço, também denominado de efeito preço. Esse ponto é bem importante porque nos permite entender melhor o bem de Giffen, que nós começamos a compreender no início da aula. Vamos ver? Você lembra que quando o preço aumenta a quantidade demandada diminui, não é? Explicando de forma mais técnica, existe uma relação entre um aumento do preço do bem, a troca por um substituto que ficou relativamente mais barato e a perda do poder de compra pelo consumidor. Assim, podemos dizer que o comportamento do consumidor com relação ao preço decorre da atuação conjunta de dois efeitos: o efeito-renda e o efeito-substituição. Competência 02 Luiz Henrique Sublinhar 46 Vejamos como compreender esses efeitos: com o aumento do preço, uma parte da redução da minha demanda por determinado bem quando o seu preço aumenta pode ser explicada pelo fato de que haverá um estímulo para que eu busque alternativas para satisfazer minha necessidade pelo bem que teve o aumento de preço, por exemplo. Assim, passarei a olhar de outra maneira os bens substitutos. Basta lembrar-se do caso do Sushi, mostrado inicialmente na aula. Com o aumento do preço dos rodízios de sushi, você procurará ir mais vezes ao rodízio de carnes ou de massas, por exemplo. Nesse caso, para o consumidor, as carnes e massas são substitutos do sushi. Dizemos que rodízios de sushi, carnes e massas são substitutos no consumo. Uma forma bem simples de verificar o efeito-substituição é a seguinte: você está no supermercado e observa que aquele bem que você costumava comprar mais barato está, agora, mais caro. Você olha o produto e pensa: “Por esse preço aqui, esse bem está muito caro para o que ele me traz. Prefiro comprar esse produto B, que é mais caro, mas pelos menos é melhor e a diferença nem é tão grande assim, mesmo...”. Já aconteceu isso com você? Porque comigo, já. O outro efeito que explica a redução do consumo de um bem é o efeito-renda. Esse efeito decorre da perda de poder aquisitivo causado pelo aumento de preço de um bem que faz parte da cesta de compras do consumidor. Para compreender melhor o efeito-renda, vale aqui um exemplozinho matemático. Digamos que eu gaste, semanalmente, R$ 63,00 em rodízios de sushi (eu vou três vezes durante a semana e pago, em cada uma delas, R$ 21,00). Agora, considere que a minha renda semanal é de R$ 200,00. Digamos agora que o preço do rodízio de sushi dobre, passando a ser R$ 42,00. Ao novo preço do rodízio de sushi, se eu, como consumidor, quisesse adquirir a mesma quantidade de sushi que eu demandava antes do aumento, eu teria que gastar o dobro de antes, ou seja, R$ 126,00, restando agora R$ 74,00 para os outros bens e não R$ 137,00 como anteriormente, o que, consequentemente, me forçará a deixar de comprar vários itens. Dessa forma, o aumento do preço do sushi faz com que haja um efeito de “empobrecimento” do consumidor. Ficou claro? Um fato complicador ainda no que diz respeito ao efeito renda é que ele depende de cada tipo de Competência 02 Luiz Henrique Sublinhar 47 bem: normal, inferior ou de Giffen. O quadro abaixo apresenta uma explicação de como você precisará compreender o efeito renda, e assim, o efeito preço, para cada tipo de bem. Vamos analisar? Antes de começar, algumas explicações básicas: O efeito preço, como o próprio nome diz, fala sobre a variação de preços. No nosso caso, vamos considerar sempre um aumento de preços para poder ver a diferença entre os bens, certo? Fica como tarefa de casa ver as reduções! Depois, vou colocar os sinais de (+) ou (-) nos efeitos renda e substituição para que você compreenda se houve um aumento ou uma diminuição da quantidade demandada, certo? Vamos lá, sem decorar! 1. Imagine, primeiramente, que o preço das laranjas aumente. Nesse caso, você vai trocar laranja por um bem que ficou relativamente mais barato, digamos, a maçã (veja que o preço da maçã aqui pouco importa). Assim, o efeito substituição será negativo, já que você reduzirá a quantidade demanda de laranja. Isso é mostrado no quadro abaixo. Imagine agora o seguinte: com um aumento do preço da laranja, você ficou mais rico ou mais pobre? Veja, com um aumento de preço, seu poder de compra diminuiu já que você agora precisa de mais dinheiro para comprar a mesma quantidade de bens. Logo, para simplificar, diremos que você ficou mais pobre, ok? Continuando, agora que você ficou mais pobre você vai comprar mais ou menos laranja? Como a laranja é, para a maioria das pessoas, um bem normal, nesse caso, você comprará menos laranja, correto? Assim, colocaremos um (-) no efeito renda para a laranja, ok? Competência 02 48 EFEITO PREÇO EFEITO SUBSTITUIÇÃO EFEITO RENDA TIPO DE BEM Aumento no preço das laranjas (+) (-) (-) Normal Tabela 1 – Efeito preço Fonte: a autora O que podemos dizer sobre
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