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W BA 07 63 _V 2. 0 GESTÃO ÁGIL DE PROJETOS 2 Larissa Maria Palacio dos Santos Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2023 GESTÃO ÁGIL DE PROJETOS 1ª edição 3 2023 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Nirse Ruscheinsky Breternitz Revisor Quinhones de Santana Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Santos, Larissa Maria Palacio dos Gestão ágil de projetos/ Larissa Maria Palacio dos Santos, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A 2023. 33 p. ISBN 978-65-5903-301-0 1. Métricas de agilidade 2. Sprint 3. Scrum I. Título CDD 371.36 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 S237g © 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. https://www.cogna.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Da gestão de projetos tradicional à agilidade ________________ 07 SCRUM _______________________________________________________ 19 Kanban ______________________________________________________ 31 Métricas de agilidade ________________________________________ 42 GESTÃO ÁGIL DE PROJETOS 5 Apresentação da disciplina Olá, aluno! Nesta disciplina, você aprenderá sobre o universo de gerenciamento ágil de projetos de uma maneira bastante abrangente. O início de sua jornada se dará entendendo quais as raízes da agilidade – o lean manufacturing - e que a influenciam até os dias atuais. Aprender sobre as origens da agilidade será um diferencial para que você não só aprenda sobre alguns dos métodos e frameworks adotados, mas que também consiga desenvolver um raciocínio lógico que o leve a tomar decisões ágeis no dia a dia e impulsionar os resultados do seu trabalho, independentemente do contexto no qual você atua. O estudo sobre os frameworks e métodos inicia com a apresentação do manifesto ágil e um estudo mais aprofundado sobre scrum. O scrum é hoje o framework ágil mais famoso no mercado, e nesta disciplina você aprenderá tudo o que está no scrum guide, com um viés de aplicação prática e detalhada, perpassando o conhecimento de conceitos, papéis, composição de times, gerenciamento de backlog, planejamento, acompanhamento e finalização de sprints. Você também terá a oportunidade de aprender sobre o método kanban, entendendo sobre seu conceito, suas cadências, filosofia e como implementá-lo para conseguir promover um processo de melhoria contínua em times e organizações. Por fim, você aprenderá sobre as métricas de agilidade, que são essenciais para auxiliá-lo a implementar e propor os kaizens – melhorias – embasados em dados, métricas e indicadores. Dentre as principais 6 métricas trabalhadas abordaremos leadtime, throughput, Wip, gráficos de burndown e burnup. Esses indicadores serão um guia para orientar seu trabalho, independentemente do papel que você ocupa na organização, o que o ajudará a ser um agente de mudanças que provoca evoluções! 7 Da gestão de projetos tradicional à agilidade Autoria: Larissa Maria Palacio dos Santos Leitura crítica: Quinhones de Santana Objetivos • Apresentar aos alunos as influências do lean no novo modelo de gestão. • Mostrar como o processo de gerenciamento tradicional de projetos foi sendo transformado ao longo dos últimos anos. • Explicar o manifesto ágil e seus principais conceitos. 8 1. Novo mundo, nova gestão Não é novidade que o mundo das indústrias e da gestão vêm passando por inúmeras mudanças no decorrer das últimas décadas. Com tantas inovações surgindo para facilitar a vida das pessoas, das empresas e dos trabalhadores, tornar-se obsoleto o movimento que ocorre caso você não aja de forma inovadora, disruptiva e esteja à frente do mercado. Hoje, a era industrial, na qual as empresas criavam mercado, ficou para trás e deu espaço a um novo cenário onde a criação do produto visa solucionar as dores dos consumidores ou criar um benefício para estes. Caso essas afirmações ainda não estejam fazendo sentido, basta pensar em inúmeras soluções que surgiram nos últimos anos e modificaram nosso modo de viver e interagir em sociedade: temos os bancos digitais, por exemplo, que nos levaram a um novo patamar de atendimento, em que quase todas as operações bancárias podem ser feitas na palma da mão, ou o pix, para facilitar o pagamento sem moeda ou cartão, que ganhou tanta força recentemente. Outros exemplos poderiam ser citados por aqui, por horas a fio, como serviços de transporte, solicitação de alimentos, ou leitura por aplicativos. Hoje o cenário do mercado é ditado cada vez mais pelo cliente e este deve estar no centro de todas as operações das empresas. Do lado positivo, ganhar escala e reconhecimento tornou-se muito mais fácil e rápido devido à possibilidade de replicação em rede que a internet e as redes sociais permitem. O ambiente no qual vivemos atualmente tem sido chamado, desde a década de 1990, de mundo VUCA. Essa expressão surgiu na Universidade do Exército Norte-Americano – United States Army War College - e o acrônimo significa volátil, incerto, complexo e ambíguo (volatile, uncertain, complex, ambiguous). 9 A velocidade diz respeito às mudanças que surgem diariamente no ambiente e que implicam desafios cada vez maiores às empresas, à medida que implementam mudanças no mercado. Tudo isso coloca as empresas em uma condição de obrigatoriedade de reagir, ser ágil, ser flexível e adaptar-se para sobreviver. Tudo o que sabemos é que sempre haverá mudanças, ou seja, daí vem a palavra incerteza, dentro do acrônimo VUCA. A competição entre empresas está cada dia mais acirrada, obrigando as empresas a se planejarem, sabendo que precisarão rever seus planos com uma periodicidade curta, para que se adaptem às mudanças externas. É por esse motivo que aprofundaremos um pouco mais à frente que os ciclos de planejamento foram encurtados. Em outros tempos a administração previa planejamentos para cinco ou dez anos à frente, pois considerava o cenário externo como algo estável. Hoje sabe-se que a realidade mudou, e que é impossível prever de forma precisa o que faremos em 10 anos. O termo “complexo”, por sua vez, remete novamente à aceleração no ritmo imposto pelo mercado atual e reforça a questão das incertezas sobre o futuro. Conviver com a incerteza exige flexibilidade e adaptação. A complexidade exige pensar além das relações de causa e efeito, e considerar influências de diferentes naturezas afetando o negócio e sendo por ele afetado. É por isso que temos uma nova premissa: a do aprendizado rápido e do teste. Por fim, o “A”, de VUCA, significa ambíguo, isto é, a precisão caiu por terra, dando margem sempre à possibilidade de inúmeros caminhos, rotas e estratégias a serem seguidos. Ao analisar oportunidades e ou desafios é preciso refletir sob diferentes aspectos, trazendo diferentes olhares, considerando que aquilo que eu sabia ontem pode não ser o melhor paraessa situação. Sendo assim, é preciso aprender a reaprender. 10 2. Do modelo tradicional ao novo modelo Se temos como premissa básica para o atual contexto a falta de previsibilidade acerca do futuro, aliada a tantas mudanças ocorrendo no cenário atual, é mais do que certo que o modelo de gestão precisa ser transformado também. O gerenciamento de projetos deve permitir que a empresa se adapte com rapidez às flutuações do mercado. Na antiga gestão, a palavra da moda à época era eficiência, ou seja, a capacidade de ser efetivo, a produtividade, o errar menos. Hoje, temos, pelo contrário, um cenário de abertura ao erro, onde este nos permite ter um aprendizado. Ninguém aqui está defendendo errar constante e irrestritamente, mas sim defendendo que as empresas e pessoas em posição de gestão devem arriscar-se ao erro quando se permitem testar coisas novas, implementar soluções, trazer ideias de negócios. A ideia é que ao errar, deve-se rapidamente perceber o erro e utilizá-lo como um gatilho de aprendizagem, promovendo a seguir um novo ciclo de melhorias. A palavra da vez é eficácia, ou seja, considerar a coisa certa a ser feita para os momentos e pessoas adequadas. Respeita-se aqui a individualidade das pessoas, especialmente os clientes, e percebe-se o quanto é possível aprender a cada interação. Sutherland e Sutherland (2018, p. 28) afirmam que “planejar é útil, seguir cegamente os planos é burrice”. A origem da agilidade nos remete ao sistema Toyota de produção (TPS) ou Lean Manufacturing (Manufatura Enxuta), criada logo após a Segunda Guerra Mundial. Muitos de seus princípios foram reescritos e repensados, mas influenciaram fortemente o manifesto ágil. Dentre os princípios norteadores temos a eliminação de desperdícios como destaque. O lean iniciou baseado na gestão de estoques, propondo uma nova perspectiva de produção sob demanda para 11 eliminar desperdícios de materiais. Essa filosofia, no entanto, não se restringe à técnica de estoque zero e produção sob demanda, mas perpassou toda a organização propondo que todo processo, tarefa ou atividade que possa ser eliminada assim o seja. Em outras palavras, a ideia é que as empresas devem focar sua energia apenas naquilo que lhe é essencial. Desta forma, ao aderir à filosofia lean devemos sempre estar atentos sobre a real necessidade das coisas. Outro princípio importante é o de fazer simples as coisas. Existe uma tendência em tentarmos mostrar sofisticação, cuidado e zelo que, muitas vezes, torna a companhia mais complexa. Soluções simples são o que precisamos. É preciso ainda, fazer o certo, no momento certo e aceitar as mudanças. Isso reforça o conceito do mundo VUCA mencionado anteriormente. Por fim, mas não menos importante, temos o fluxo contínuo de entregas. Entre as décadas de 80 e 90 os desenvolvedores e gerentes de projetos de software costumavam fazer longos planejamentos e esforços para o controle de atividades, por isso, também usavam documentações bastante detalhadas. A ideia era especificar todos os requisitos, no entanto, fazer isso é quase impossível, pois no momento do planejamento ainda não é possível pensar em detalhes micro. Para projetos pequenos, por sua vez, isso é desnecessário. Na gestão de projetos tradicional existe uma prática comum de buscar ter uma documentação e especificações detalhadas já na fase de planejamento, sobre esse tema, Foggetti (2015, p. 15) afirma: Mesmo para grandes projetos, conseguir especificar todos os requisitos antes de começar a construir é quase uma tarefa de vidência! É como se, ao fazer a planta de uma casa, já conseguíssemos enxergar com clareza onde penduraremos os quadros. Contudo, para projetos menores, todo esse tempo gasto com planejamento e acompanhamento é desnecessário, 12 e uma equipe muito grande pode mais atrapalhar do que ajudar o desenvolvimento. É por isso que, muitas vezes, o modelo tradicional, ou modelo clássico, é conhecido como metodologia orientada à documentação. Esse modelo caracteriza-se pelo desenvolvimento em cascata – ou “waterfall” – que em outras palavras significa que existe uma sequência de etapas a serem seguidas, sendo que uma só se inicia após a conclusão da anterior. Na gestão de projetos tradicional, utilizada não só para o desenvolvimento de software, mas para inúmeras aplicações no mercado, temos como etapas: 1. Definição de requisitos: estabelecimento de objetivos pelos clientes e descrição de diversas propriedades. 2. Projeto: normalmente caracterizado pela documentação definida de forma técnica para que o executor – programador – consiga interpretar. 3. Implementação e teste unitário: manter a capacidade de testar todas as entradas e saídas de um sistema. 4. Integração/testes: combinação dos módulos do software para testagem em módulos. Nesta etapa testa-se a solução completa, com os módulos integrados, e em ambiente de produção. 5. Operação: o sistema é instalado e implementado, neste momento, podem ocorrer erros ou falhas não mapeadas anteriormente, e neste caso, elas devem ser corrigidas. Muitas vezes, nesta etapa surgem novos requisitos a serem criados. A partir da década de 1990 começaram a surgir novos modelos de desenvolvimento de softwares, que desta vez se caracterizavam por serem menores. Desta forma, diminuiu-se também o tempo investido 13 em planejamento. Esse novo modelo de gerenciamento de projetos de software sofreu grande influência do modelo japonês de produção. Mas antes de nos aprofundarmos sobre os novos modelos vamos compreender os aspectos relacionados ao sucesso em um projeto. Muito se fala em entregar os projetos dentro do prazo e orçamento como se estes fatores fossem os determinantes para o sucesso de um projeto. No entanto, há um outro fator determinante que tem relação com o retorno do investimento ao negócio. Há uma pressão no mercado para a conclusão dentro do prazo e orçamento, e cada vez mais vemos uma mudança de paradigma que leva em consideração o retorno financeiro. Sob o ponto de vista de projetos, é preciso pensar em três pontos: definição da solução para um problema, oportunidade ou necessidade; definição de critérios de seleção e priorização das ideias; e, por fim, definição da implementação. O gerente de projetos deve também ter algumas habilidades como as técnicas, liderança comportamental e gestão estratégica e de negócios. É preciso que o gerente ou responsável pelo projeto sempre se certifique de calcular o payback (tempo necessário para o projeto se pagar). Outro fator importante no novo modelo de gestão de projetos é criar soluções e projetos a partir do ponto de vista do cliente, levando em consideração suas dores e reais necessidades. 3. O manifesto ágil Os planos elaborados pelas empresas, normalmente, são estabelecidos com base no que chamamos de triângulo de ferro (Figura 1), que é composto pelas dimensões de escopo x tempo x custos. A empresa planeja entregar algo (escopo) em um prazo x, e para tanto deve utilizar um orçamento previamente estabelecido. 14 Figura 1 – Triângulo de ferro Fonte: adaptado de Camargo e Ribas (2019). Então, o que vemos no mercado são organizações dizendo ser ágeis e exigindo flexibilidade de seus colaboradores, para que estes sejam capazes de reagir bem às mudanças, gerando valor ao cliente, mas, pedindo ainda que o time continue seguindo o plano traçado. Esse pedido de seguir o plano, por vezes, vem infelizmente junto com penalizações. Para solucionar este problema, temos as abordagens ágeis de gestão de projetos, as quais estão muito mais adaptadas ao contexto de mundo VUCA. E a agilidade é justamente a capacidade que uma organização tem de adaptar-se ao contexto de mundo, ao ambiente, de forma rápida para sobreviver em um ambiente de incertezas e volatilidade advindos das constantes mudanças. Em agilidade, muitas vezes, usamos o termo mindset ágil, fazendo referência à forma de organização de pensamentos edo trabalho, e à forma como as pessoas se relacionam entre si e com os projetos, de modo a gerar valor aos clientes. Isso quer dizer que, embora existam metodologias, frameworks e ferramentas ágeis, devemos considerar que não existe uma receita de bolo pronta para implementar em qualquer empresa qualquer projeto em qualquer contexto. 15 Para criar um manifesto que se propagasse com tanta força e que mudasse os rumos da gestão de projetos no mundo, era necessário mais do que apenas um cérebro pensante. A construção foi coletiva e colaborativa, contando com um grupo de especialistas. O surgimento do manifesto ágil ocorreu conforme o trecho descrito a seguir: No ano de 2001, um grupo formado por 17 grandes especialistas em desenvolvimento de software se reuniu em Utah, nos Estados Unidos, em uma estação de ski, para discutir uma nova forma de gerar melhores resultados em seus projetos. Eles buscavam uma alternativa ao modelo sequencial de desenvolvimento de software (também chamado de cascata ou waterfall) vigente até então, o qual somente dava resultados em ambientes extremamente estáveis e sem incerteza. Desse encontro, nascia o Manifesto Ágil. (CAMARGO; RIBAS, 2019, p. 101) Este manifesto é guiado por 4 valores e 12 princípios, os quais veremos a seguir, e cujo objetivo é encontrar uma melhor maneira de desenvolver trabalhos complexos. O trecho a seguir extraído do próprio manifesto ágil, diz que: Estamos descobrindo melhores maneiras de desenvolver software fazendo isso e ajudando outros a fazê-lo. Através deste trabalho passamos a valorizar: Indivíduos e interações sobre processos e ferramentas, Software funcional sobre documentação abrangente, Colaboração do cliente em vez de negociação de contratos. Responder à mudança ao invés de seguir um plano. Ou seja, enquanto há valor nos itens da direita, valorizamos mais os itens da esquerda. (MANIFESTO et al., 2001) A Figura 2 ilustra os valores do manifesto que passam a ser mais valorizados em detrimento dos outros. 16 Figura 2 – Valores do manifesto ágil Fonte: adaptado de Camargo e Ribas (2019). Vamos entender agora o que o manifesto busca dizer com cada um desses valores. 3.1 Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas Na abordagem tradicional de projetos a comunicação com o cliente era escassa, sendo que o escopo era captado em uma conversa primária, e o projeto era entregue quando finalizado e só então recebia-se um feedback. No modelo ágil, as pessoas produzem em ambiente criativo e que busca solucionar problemas por meio da comunicação constante. Este novo ambiente de trabalho é também mais aberto e inclusivo, as pessoas se sentem mais à vontade para trazer ideias, expor opiniões e, desta forma, surge a inovação. Os gerentes passam a assumir um papel diferente daquele adotado anteriormente e também comumente chamado de comando e controle, a ideia agora é que estes possam assumir o papel de facilitadores para que sejam capazes de remover as barreiras e impedimentos dos times, ajudando-os a serem cada vez mais autônomos e auto-organizados. 17 3.2 Produto em funcionamento mais que documentação abrangente A ideia é que cada vez mais as empresas passem a desenvolver ideias e versões enxutas de seus produtos, lançando no mercado (os também chamados MVP). A ideia é de que com essas versões enxutas disponibilizadas rapidamente ao mercado seja possível obter os feedbacks e retroalimentar o processo, gerando mais valor aos clientes. A documentação deixa de ser abrangente para ser apenas suficiente para que os envolvidos nas tarefas de desenvolvimento entendam o que precisa ser feito. Note que aqui há uma influência do pensamento lean em não desperdiçar, ou seja, não documentar aquilo que não é necessário. 3.3 Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos Embora o estabelecimento de contratos ainda continue sendo necessário, a ideia é que a empresa seja adaptável e colaborativa com relação às especificações do contrato, considerando que o escopo pode evoluir. Estar aberto a tais adaptações facilita o relacionamento entre empresa e cliente e entre áreas e departamentos organizacionais. 3.4 Responder a mudanças mais que seguir um plano Reforçando o que já afirmava o valor anterior, gerar valor ao cliente significa, muitas vezes, ser flexível. O planejamento então muda de característica e passa apenas a considerar curtos prazos, dias ou semanas, desta forma, é possível aceitar mudanças dentro do processo e do projeto. Ante a todo o exposto, temos que considerar que as mudanças ocorridas na forma de gerenciamento de projetos, fortemente influenciadas pelo 18 sistema Toyota ou Lean de produção e que, culminaram no manifesto ágil, decorrem das mudanças impostas pelo mundo, pela aceleração dos mercados e pelos consumidores cada vez mais exigentes. O surgimento do manifesto ágil e de tais tendências se desdobrou em uma série de metodologias e frameworks que facilitaram o dia a dia das empresas. Referências CAMARGO, R.; RIBAS, T. Gestão ágil de projetos. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. FOGGETTI, C. (org.). Gestão ágil de projetos. São Paulo: Pearson, 2015. MANIFESTO, Agile et al. (org.). Manifesto ágil. 2001. Disponível em: https:// agilemanifesto.org/. Acesso em: 12 mar. 2023. SHUTERLAND, J.; SHUTERLAND, J. J. Scrum: A arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo. 3. ed. Rio de Janeiro: Leya, 2018. https://agilemanifesto.org/ https://agilemanifesto.org/ 19 SCRUM Autoria: Larissa Maria Palacio dos Santos Leitura crítica: Quinhones de Santana Objetivos • Aprender sobre o framework scrum e seus principais conceitos. • Conhecer os papéis do scrum, a formação e composição de times. • Entender quais são as principais cerimônias do scrum. 20 1. A essência do framework scrum O termo scrum é originário do jogo de rúgbi, fazendo referência a uma jogada que consiste em uma organização do time que, unidos, se movem para avançar com a bola em campo. Nessa jogada “(...) tudo se alinha: posicionamento cuidadoso, unidade de propósito e clareza de objetivo. Trata-se de uma metáfora perfeita” (SHUTERLAND; SHUTERLAND, 2018, p. 16) para o que se espera que os times façam. O framework scrum surgiu em contraposição à gestão tradicional de projetos que se preocupa demasiadamente com controle e planejamento. Observou-se durante muitos anos que os planejamentos das empresas levavam horas, semanas, meses para serem realizados, contando uma série de documentações para buscar controle e previsibilidade e que após todo esse esforço, em geral, os cronogramas não eram cumpridos e essa previsão não era assertiva. A ideia do scrum é acolher o caos em ambientes de imprevisibilidade, especialmente no trabalho do conhecimento. Desta forma, o scrum admite que a incerteza faça parte do projeto e usa a experiência dos times de promover aprendizados contínuos. Aproveita-se aquilo que o time já realiza e oferece insumos para que o trabalho seja auto-organizado e retroalimente seus processos, aumentando a rapidez e a qualidade das entregas. Para que tudo isso seja possível, é preciso considerar um processo de inspeção, no qual em intervalos regulares o trabalho é verificado, ou seja, o time realiza pausas para repensar e verificar se está no caminho correto e se há algo que possa ser melhorado (aqui nota-se um forte viés da melhoria contínua, influência do Lean). “O nome disso é inspeção e adaptação” (SHUTERLAND; SHUTERLAND, 2018, p. 17). 21 Embora esse framework tenha se originado no universo do desenvolvimento de softwares é possível aplicá-lo em diferentes contextos tendo também resultados significativos em melhora de produtividade. Há diversas formas de se definir o que é scrum, mas algumas delas são mais difundidas do que outras. Uma definição clássica do modelo scrum seria um framework no qual um grupo de pessoas pode tratar e resolver problemas complexos de forma adaptativa e evolutiva, criandoprodutos com o mais alto valor agregado possível para o cliente (COUTINHO, 2021, p. 52). Framework, por sua vez, é uma estrutura composta por práticas, conceitos e ferramentas de resolução de problemas ou orientadoras. Ou seja, se assemelha a um modelo replicável continuamente. A estrutura do framework scrum é composta por papéis, eventos e os artefatos (atividades que serão gerenciadas). Dizemos framework e não metodologia, pois é algo adaptável ao contexto da empresa, não existem sequências ou passos a serem seguidos. Cada time terá a oportunidade de aprender por intermédio de um processo empírico de experimentação, a partir do qual estará apto a tomar decisões. A aprendizagem no scrum ocorre ao encerramento de cada ciclo – as sprints, que serão estudadas mais à frente. A base de sustentação do scrum possui três pilares que são; a transparência, a adaptação e a inspeção, conforme ilustrado na Figura 1. A transparência se dá também pela gestão à vista, ou seja, quadros visuais para organização do trabalho são artefatos que auxiliam a implementação e adaptação ao Scrum, com isso, é possível realizar inspeção e adaptação diante dos eventos que ocorrem. 22 Figura 1 – Pilares do Scrum Fonte: adaptado de Coutinho (2021, p. 55). Por ser um framework que se caracteriza como iterativo e incremental é possibilitado aos gestores visualizar pequenas partes das entregas, com isso, o trabalho de controle de riscos é facilitado e, consequentemente, é mais fácil se obter previsibilidade. Não é à toa que um dos pilares seja a transparência, e que algumas ferramentas auxiliem nesse pilar como a lista de requisitos do produto, o quadro, as reuniões diárias – daily -, as retrospectivas, ter uma definição de concluído, dentre outras que possibilitam a transparência em um trabalho de equipe multifuncional. O termo inspeção, que é o segundo pilar ilustrado na imagem, diz respeito a uma checagem rápida e frequente do trabalho que está sendo realizado. Se checamos rápido temos a oportunidade de identificar problemas ou riscos com a mesma velocidade e o resultado disso é minimizar as chances de o produto apresentar um problema para o cliente final. São estabelecidas metas e, com frequência, verifica-se como está o caminho com relação ao seu atingimento. Como dito anteriormente, as origens do Scrum remontam às técnicas da indústria japonesa. Um dos grandes nomes da Administração, 23 que influenciou fortemente o modelo japonês de produção, foi um americano chamado W. Edwards Deming. O legado de Deming é conhecido como ‘controle estatístico de processo’, que em resumo significa mensurar o que está sendo feito, a qualidade com que é feito, e buscar sempre o processo de melhorias contínuas. Talvez você já tenha ouvido falar sobre esse método criado por ele, que popularmente ficou conhecido como PDCA - Plan, Do, Check, Act – que em português significa um ciclo realizado por planejar, fazer, checar e agir. E é notável a semelhança do PDCA com o ciclo de desenvolvimento do SCRUM, que busca a inspeção, como uma forma de checar, e a adaptação como a forma de agir quando se identifica qualquer oportunidade de melhoria. Aqui é importante frisar que mesmo bons profissionais e bons processos sempre poderão evoluir em algo, a busca pela perfeição e aprimoramento é e deve ser contínua. Na prática do scrum a inspeção se dá no quadro de gestão à vista, em ciclos de feedback com o cliente e stakeholders, na criação de listas de requisitos do produto, e no processo de demonstração e validação dos entregáveis. Essas práticas fazem parte dos rituais, os quais veremos mais à frente. Por fim, o último pilar diz respeito à adaptação, que se caracteriza por esse processo de melhoria contínua supramencionado e que significa dentro do scrum mudar aquilo que o cliente acredita que não funciona ou que pode ser aprimorado. 2. Os times Scrum Intuitivamente empresas e gestores buscam avaliar os trabalhadores de forma individual, inclusive bonificando-os por isso. Mas devido às 24 multifuncionalidades e especialidades de trabalhos, a maior parte das entregas das empresas é feita por times e não por pessoas isoladas. Algumas pessoas trabalham melhor em equipe do que outras, e essa é uma característica fundamental para se destacar no mercado de trabalho hoje em dia, tendo resultados incríveis, enquanto grupo, time, equipe. O que determina o sucesso de um time? Pode-se dizer que, após analisar equipes no mundo todo, estudiosos identificaram as características das equipes de sucesso. Elas são transcendentes, autônomas e multifuncionais. Transcendente significa que elas possuem uma noção de propósito que lhes permite ir além das expectativas. Como time, eles estão unidos no propósito de entregar com qualidade, de forma a compreender seu potencial. Autônomas significa que esses times são autogerenciáveis, e auto-organizados, ou seja, eles são capazes de tomar decisões sobre quem e como o trabalho será executado. Por fim, multifuncionais quer dizer que as equipes têm funcionários de todas as especialidades que são necessárias para completar o projeto. O Scrum advém dessas teorias que começaram a ser propagadas por Takeuchi e Nonaka e, por isso, um time scrum deve estar organizado em um determinado tamanho que seja suficiente para executar a meta do produto, mas não tão grande que seja necessário dividir-se em setores criando burocratização desnecessária. Mas qual o número ideal? 10 ou menos pessoas, seguindo a composição de ter um Product Owner, um Scrum Master e os desenvolvedores (para times de Software). Esse número é o indicado no Scrum Guide de 2020, já havendo no passado recomendações diferentes, como a que segue: Scrum envolve grupos de pessoas que, coletivamente, possuem todas as habilidades e conhecimentos necessários para fazer o trabalho 25 e compartilhar ou adquirir essas habilidades conforme necessário. (SCHWABER; SUTHERLAND, 2020, p. 4) Cinco valores regem um time Scrum, são eles: compromisso, foco, abertura, respeito e coragem. Compromisso é a forma como um membro do time lida com o outro, e como todos estão comprometidos a alcançar coletivamente os objetivos traçados. O foco remete ao quanto eles estão comprometidos com o trabalho e as metas, sem se dispersar para poder alcançar os objetivos. A coragem é necessária para lidar com problemas complexos e com desafios que surgem a cada nova sprint. Os membros do time scrum se comprometem com um propósito coletivo, e garantem um ambiente de respeito mútuo e, por fim, a abertura, que está muito relacionada ao ambiente aberto que dá oportunidade para aprender com os erros. Esses valores são mais fortes ao Scrum do que qualquer uma de suas práticas, a ideia é que ao adotar o scrum esses valores sejam reforçados pelo framework, e não minados. Dentro de um time Scrum não existem subtimes e nem hierarquias. Suas habilidades e formações são diversas, o que lhes garante a capacidade de se adaptar, desenvolver a multifuncionalidade, e entregar valor a cada iteração (ciclo). Os times pequenos têm menos problemas de comunicação e menos burocratização, por isso, tem maior produtividade e desempenho. Caso um time Scrum cresça ultrapassando a recomendação deve- se considerar dividi-lo em unidades menores ainda que todos sigam focados em uma mesma entrega, foco ou produto. Neste caso, eles trabalharão com uma mesma meta, por eles definida, e entregarão tudo relacionado ao produto, considerando o processo produtivo de ponta a ponta dentro da estrutura Scrum. Eles terão ainda que compartilhar um backlog de produtos, que é o escopo de trabalhos a serem realizados – tema que veremos a seguir. 26 O trabalho dos times é organizado em sprints, ciclos de iterações, os quais lhes oportuniza cadenciar o trabalho em um ritmo sustentável, mantendo seu foco e constância. Ao final de cada iteração – sprint – os times devem entregar um incremento valioso do pontode vista do cliente. Mas quem são os elementos deste time? Vamos conhecer um pouco mais de cada um deles: Os desenvolvedores: pessoas dos times que desenvolvem os entregáveis ou, como dito na linguagem do scrum, um incremento, a cada sprint. Esse incremento deve ser valioso e utilizável. Em um time de desenvolvimento de software eles podem ser os desenvolveres especializados em diferentes linguagens de programação, em backend, front-end, desktop, web, mobile. Mas vale lembrar que o Scrum é aplicável a qualquer contexto, de qualquer produto, sendo assim, podemos ter times formados por professores, em uma escola, times de advogados em um grande escritório, time de RH, entre outros. Os desenvolvedores são os responsáveis por criar o planejamento da sprint, detalhando quais itens do backlog (escopo) serão produzidos no próximo ciclo de iteração (uma semana, dez dias, 15 dias, dependendo da definição que a empresa atribuir à Sprint). São eles também que entregam a qualidade, conferindo se o item está atendendo aos requisitos preestabelecidos, o qual aqui neste contexto chamamos de Definição de Pronto, ou também na linguagem das empresas ouvimos a sigla em inglês, de mesmo significado DoD – Definition of Done. Caso haja necessidade de adaptação no plano, para que sejam cumpridos os objetivos, esse replanejamento deve também ser realizado pelos desenvolvedores, pois eles são e devem ser os responsáveis pelas entregas. Product Owner – Dono do produto - o segundo papel do Scrum é o responsável por maximizar o valor do produto entregue pelo time Scrum. Lembram-se do backlog (o escopo do trabalho)? Gerenciá-lo é uma 27 responsabilidade do Product Owner. Gerenciar o Backlog é: criar uma meta de produto e saber comunicá-la ao time de forma clara. Saber dar ao time a noção de meta, e de priorização, mantendo os itens do backlog organizados. E, lembrando do pilar da transparência, garantir que os itens do Product Backlog estejam visíveis e compreensíveis a todos. Quando se trata da figura do product owner emergem algumas dúvidas, como: ele tem que realizar todos os trabalhos acima descritos? A resposta é não em pessoa, ou seja, ele pode delegar que outra pessoa o faça, mas ainda será responsável. Além disso, é importante salientar que o product owner não é um grupo de pessoas ou comitê e sim, sempre, uma única pessoa. Essa pessoa é responsável por representar muitas outras como o cliente e os stakeholders e, por isso, ele deve ter sua responsabilidade respeitada pelos demais membros da empresa. Não quer dizer que os itens do backlog não possam ser alterados ou negociados, mas que sempre isso deve ser feito considerando o aval do product owner, ou seja, qualquer mudança deverá partir do seu prévio convencimento. Por fim, e não menos importante, temos a figura do Scrum Master, cujo papel é apoiar o estabelecimento do scrum nos times, ajudando que todos compreendam tanto a teoria quando a prática do framework. Ele é o responsável pela eficácia do time e, para tanto, deve auxiliar o time na melhoria contínua de suas práticas. O Scrum Master exerce um papel de liderança, mas um tipo de liderança que dizemos como líder servil, porque ele serve ao Scrum Team e à organização como um todo. Dentre suas responsabilidades está o treinamento dos membros do time para que estes consigam ser autogerenciáveis e multifuncionais, manter o foco para que sejam criados incrementos de alto valor – e que atendam à DoD. Eles também auxiliam o time removendo os impedimentos do dia a dia e facilitando as cerimônias dos eventos scrum. 28 Quanto ao papel do Scrum e sua relação com o Product Owner, temos que o primeiro é responsável por auxiliar o segundo a encontrar técnicas de escritas de histórias do usuário – metas de produto – e de gerenciar o backlog de produtos, ajudar o time a entender os itens do backlog, ajudar a estabelecer um planejamento empírico do produto, considerando a complexidade do ambiente, facilitando a colaboração com os interessados. 3. Os eventos do Scrum O Scrum conta com algumas cadências que têm por objetivo tornar seus valores e estrutura realidade na prática. As cadências do Scrum são: Sprint, daily, Sprint review, e Sprint retrospective. Entenderemos um pouco sobre cada uma delas, mas iniciaremos com as sprints. Enquanto abordávamos outros temas, usamos diversas vezes a menção ao termo Sprint. Chegou a hora de entender o que exatamente é uma Sprint. Sprints são os ciclos de desenvolvimentos estabelecidos pelo time, que têm duração fixa de um mês ou menos, e uma nova sprint sempre se inicia ao término da anterior. Todas as outras cerimônias do Scrum ocorrem dentro de uma sprint. Ao planejar uma sprint é definida sua meta e, durante o decorrer da sprint, não deve ocorrer nenhuma mudança que coloque em risco esta meta. Além disso, é preciso um cuidado com a qualidade, que não deve ser reduzida para que a sprint seja cumprida. É durante o decorrer da sprint que os itens do backlog são desenvolvidos, mas também durante eles são refinados. Refinar um item do backlog significa procurar entendê-lo e buscar soluções técnicas mais adequadas para realizar determinada entrega. 29 Se o time entender que o proposto para a sprint é trabalho em demasia e, considerando que a qualidade não pode cair, o que ele deve fazer é negociar com o product owner. Aliás, os desenvolvedores e o product owner devem estar em constante negociação, enquanto aprendem com o trabalho que está sendo realizado a cada iteração. Trabalhar com sprints traz a vantagem de ter uma previsibilidade e, como é estabelecida uma meta temos ainda que durante as demais cerimônias é possível inspecionar o progresso em relação a ela, e adaptar-se quando necessário. A cerimônia chamada de planning inicia a sprint e trata-se do planejamento do trabalho que será realizado dentro da sprint. Dessa cerimônia participa todo o time Scrum, e podem ser convidadas outras pessoas para fornecer conselhos. O objetivo da planning é discutir porque uma sprint é valiosa, por meio da definição da meta da sprint. Também define o que será realizado dentro da sprint e pode ocorrer uma etapa de refinamento para que o time compreenda detalhes do trabalho a ser realizado. Por fim, ainda a cerimônia deve definir como o trabalho será realizado, criando-se o plano de execução. A daily scrum é uma reunião rápida de no máximo 15 minutos, que serve para inspecionar o progresso do time em relação à meta proposta e da qual participam scrum master e time de desenvolvedores. Outra cerimônia é a sprint review cujo propósito é inspecionar o resultado da sprint e decidir quais as adaptações que serão feitas para o futuro. O time Scrum apresenta o trabalho realizado durante a sprint aos stakeholders e a partir disso repensam o product backlog. A sprint retrospective ou retrospectiva é uma reunião em que os integrantes do scrum team realizam uma inspeção mapeando como foi o seu trabalho com relação aos indivíduos, interações, processos e 30 ferramentas. A partir dessa reunião encontram-se oportunidades de melhorias a serem consideradas no próximo planejamento. Para finalizar, deve-se ressaltar que o Scrum Guide faz uma ressalva sobre a necessidade de se implementar o Scrum tal qual o guia explica. O guia adverte que caso uma parte do scrum seja suprimida, então o que se está implementando deixa de ser scrum e pode não apresentar os mesmos resultados. Referências COUTINHO, C. Resiliência ágil. [S.l Editora Alta Books, 2021. E-book. ISBN 9786555206081. SCHWABER, K.; SUTHERLAND, J. Scrum guide. 2020. Disponível em: https:// scrumguides.org/scrum-guide.html. Acesso em: 25 fev. 2023. SHUTERLAND, J.; SHUTERLAND, J.J. Scrum: A arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo. 3. ed. Rio de Janeiro: Leya, 2018. https://scrumguides.org/scrum-guide.html https://scrumguides.org/scrum-guide.html 31 Kanban Autoria: Larissa Maria Palacio dos Santos Leitura crítica:Quinhones de Santana Objetivos • Trazer à luz a essência do Método Kanban. • Apresentar as formas de aplicação do kanban e as vantagens em adotá-las. • Apresentar as cadências Kanban. 32 1. Kanban Em comunidades de agilidade e no universo do gerenciamento de projetos, recentemente levantou-se o debate sobre o método Kanban ser ou não um método ágil. Polêmicas à parte, o que se observa nas empresas é a utilização do Kanban combinado com outros frameworks e métodos de gerenciamento ágil como uma forma de potencializar resultados. A discussão é ampla, mas na prática, áreas de agilidade se utilizam do método e há ainda quem combine Scrum com Kanban de forma bastante satisfatória. Mas o que é o método Kanban afinal? O método Kanban visa identificar e resolver problemas, entregando resultado para as empresas. Usualmente as pessoas associam o termo Kanban com um quadro visual (Figura 1) e, por isso, muitos equivocadamente, ao fazer gestão visual em ferramentas como Jira, Trello, Azure, acreditam estar aplicando Kanban. Figura 1 – Quadro Kanban Fonte: Shutterstock.com. 33 O método Kanban vai muito além da gestão visual e pode ser aplicado em empresas de diferentes portes e seguimentos. Com ele você poderá identificar as fragilidades e os chamados ‘gargalos’ do seu sistema produtivo. Ao tornar visíveis os problemas por meio das suas ferramentas de gestão visual, a jornada da implementação kanban tem início, mas não se encerra por aí. Na realidade, o Kanban prevê a melhoria contínua, por isso, é fundamental se aprofundar nos problemas explicitados e encontrar sua causa raiz, daí em diante é preciso refletir e encontrar as mudanças que são necessárias para solucionar os problemas identificados. É comum que em ambientes empresariais quando falamos em mudança causamos a sensação de medo e de resistência. Primeiro porque somos humanos, e assim como nossos colegas de trabalho temos medo de perder nossos papéis, nossos empregos e de sair da nossa zona de conforto. Como o método Kanban propõe mudanças, a solução que ele dá a esse medo e resistência que se criam é embasada pela seguinte máxima: “comece pelo que você faz hoje”. Isso quer dizer que o método Kanban respeita os papéis, as responsabilidades e que ele não julga o que já existe na empresa ou departamento. Por isso, para iniciar a jornada Kanban pouco importa se a empresa adota uma gestão de projetos tradicional, uma gestão ágil, uma gestão orientada a produtos, Scrum ou outro framework ágil. Ainda há que se ressaltar que não interessa também se a empresa é de tecnologia, pois o princípio do Kanban é respeitar o que é feito e potencializar os resultados. Para engajar pessoas e envolvê-las no processo de mudança, contudo, é fundamental proporcionar clareza e mostrar os benefícios que podem ser obtidos com as mudanças propostas. 34 1.2 Kanban: a origem do método O termo kanban tem origem japonesa e significa cartão de sinal (conforme Figura 2) em português. Ele tem sido amplamente adotado há muitos anos nas fábricas em ambiente de produção. Um cartão sinaliza à etapa anterior do processo que esta já está apta a receber mais trabalho, ou seja, que ela pode produzir mais. Cada trabalhador entendendo essa linguagem de cartões sabe quando ele poderá produzir mais. Figura 2 – Exemplo de cartão kanban Fonte: Shutterstock.com. O grande ganho do uso do Kanban adotado nas fábricas, por exemplo, é proporcionar um ritmo sustentável de produção. Além disso, o método é capaz de conduzir um processo de melhoria contínua. Por isso, adotá-lo é essencial para os processos de lean manufacturing, conhecidos como “Sistema Toyota” de produção. Adotá-lo faz com que o sistema Toyota funcione e continue evoluindo. Por tudo isso é que se pode afirmar que o Kanban é um sistema de produção do tipo puxado, ou seja, só se inicia o trabalho quando há um pedido ou solicitação por parte do cliente. É produzido o que é necessário, 35 no momento necessário e na quantidade requerida. Assim, esse tipo de sistema de produção não gera estoque, o que em outras palavras podemos dizer também que se trata de um sistema que evita o desperdício. O método Kanban não prevê um passo a passo para realizar a mudança, pois cada organização é única, por isso, não existe uma receita de bolo aplicável a qualquer contexto. Para evitar a resistência uma dica fundamental é manter o foco no ambiente e respeitar as pessoas, assim cada uma terá tempo de assimilar as mudanças de acordo com a sua própria percepção e aceitação. O grande trunfo do método é que ele primeiro torna os problemas visíveis, explicita cada um deles, a partir disso, é possível envolver as pessoas que sofrem com os problemas para que elas se tornem também agentes de mudança. Vamos entender um pouco mais sobre o conceito e o surgimento do método: como dito, o método Kanban tem origem no sistema Toyota de produção, mais especificamente em 1953, por Taiichi Ohno. Nesse momento ele despontava como fundamental para a implementação do conceito just-in-time (produção puxada). Ao visitar os Estados Unidos para conhecer a Ford e realizar um estudo sobre a produção, Taiichi Ohno teve e a percepção de que o sistema fordista tinha por característica ser empurrado. Em outras palavras, produção empurrada significa que era produzido mesmo antes de ter a demanda, assim gerava-se estoque e depois buscava-se escoar a produção. Os sistemas de produção do tipo empurrado geram muito desperdício. Imagine que a matéria-prima é comprada antes de se ter um potencial cliente. E que no estoque de matéria-prima haja alguma perda. Depois disso, temos ainda que ao final da produção é bem possível que nem todos os itens sejam vendidos, resultando então em uma perda significativa de investimentos e capital imobilizado. Taiichi Ohno então percebeu que era possível produzir mais com menos recursos, ou seja, ser mais eficiente na produção. A ideia por trás do 36 sistema Toyota era produzir estritamente aquilo que era necessário, pois naquele momento, o Japão vivia um período de profunda recessão econômica originada pelo pós-guerra. Em sua viagem Taiichi Ohno visitou então um supermercado e conseguiu ter um insight que mudou a história da produção industrial no mundo. O que ele observou? Os mercados repunham os estoques em prateleira quando estes eram vendidos. Uma vez que um item era vendido, outro era reposto em seu lugar para que se mantivessem os níveis de estoque e a estética das prateleiras. Foi daí que surgiu a ideia do sistema Kanban e que posteriormente foi difundido em todo o Japão. Ao final da década de 1970, os produtos japoneses começaram a dominar o mercado americano. Como possuíam alto nível de qualidade e bons preços, então, começaram a fazer muito sucesso. Foi a partir daí que o Lean Manufacturing passou a fazer muito sucesso. Fora do universo de produção industrial, o método Kanban adotado no desenvolvimento de software, e com K maiúsculo, foi criado a partir do primeiro, por David Anderson e Don Reinersten. O método também levou em conta a teoria das restrições e o primeiro sistema Kanban implementado na indústria de software data de 2004, na Microsoft. Como abordagem para a mudança, o método começou a ser divulgado a partir de 2007, após a conferência Agile 2007 que ocorreu em Washington. Em seu livro David Anderson relata que o insight para a adoção do Kanban em um contexto fora do ambiente industrial surgiu em uma viagem à Tóquio, ao perceber que um parque no qual foi fazer um piquenique com sua família usava cartões como uma forma de identificação para saber quando havia novamente espaço ocioso no parque e liberar novos visitantes. Mas, em suma, dito tudo isso, o que é de fato um sistema Kanban? Os kanbans são os cartões que equivalem aos trabalhos. Em um sistema 37 Kanban um certo número de cartões corresponde à sua capacidade. Esse número de cartões corresponde à capacidade que pode ser colocadaem circulação. Cada cartão é um sinalizador, e um novo trabalho só pode ser iniciado quando o cartão está disponível. O limite de trabalho é ditado pelos cartões, em suma, quando não há mais cartões livres nenhum trabalho pode ser iniciado. Assim, o novo trabalho entra em uma fila de espera, e aguarda que um cartão seja liberado para poder iniciar o trabalho. 2. Método Kanban No desenvolvimento de software, os kanbans (cartões sinalizadores) representam itens de trabalho e não trabalho a ser puxado. Para puxar mais trabalho o método Kanban utiliza indicadores e métricas de capacidade. O quadro Kanban pode ser físico e muitos utilizam os post- its para representar os cartões. Os quadros físicos normalmente são montados nas paredes de empresas, utilizando-se diferentes materiais. Com a propagação do trabalho remoto, no entanto, os quadros passaram a ser cada vez mais visuais e usados online. Esses quadros são sistemas de gestão visual e não sistemas Kanbans propriamente ditos. Fazer gestão visual é observar os itens de trabalho em progresso e conseguir a partir dele realizar uma gestão e organização das atividades de trabalho. O que torna um sistema Kanban é a capacidade de equilibrar a demanda e o rendimento do trabalho entregue atingindo o que chamamos de ritmos sustentáveís. Ao fazer isso o sistema Kanban também resolve um problema grave que é a estafa dos desenvolvedores de software, que vivem sobrecarregados e beirando à chamada Síndrome de Burnout. 38 Os problemas que surgem no sistema de produção ficam visíveis e, com isso, os times se desafiam a resolvê-los para manter um fluxo constante de trabalho. É comum se usar o termo WIP em sistemas Kanban, onde WIP significa Work In progress, que traduzido para o português é “trabalho em progresso”. O Kanban trabalha limitando o WIP e com isso consegue melhorar a qualidade e melhorar o desempenho. Em consequência o lead time – tempo de produção – é reduzido. Outro efeito positivo da adoção do método Kanban é tornar o sistema mais previsível. Com ele é possível ter mais segurança ao estabelecer prazos de entrega. Os benefícios são inúmeros. Diante desses resultados cria-se um fluxo de valor de ponta a ponta. Todos os tipos de projetos podem utilizar e ter benefícios com a implementação do método Kanban. No universo do desenvolvimento de software não importa se o projeto é de evolução, sustentação ou suporte. As demandas podem surgir com prazo específico ou simplesmente não terem uma data limite estabelecida previamente. Também podemos considerar a implementação do Kanban em contextos fora da indústria e fora da área do desenvolvimento de software. O método é bastante flexível e é possível realizar adaptações em sua aplicação. Para a corporação, o Kanban propõe uma mudança cultural, estimula a colaboração e a confiança entre pessoas e times. E o que tudo isso tem a ver com a gestão ágil de projetos e a polêmica acerca de kanban ser ou não um método ágil? Bem, sendo ou não um método ágil, como dito anteriormente, os benefícios de sua adoção tornam a empresa mais ágil, os projetos se tornam mais ágeis e esse é o ponto principal. O lean manufacturing é a raiz do método Kanban e tem por objetivo provocar mudanças lean dentro das organizações. E para tanto, segundo Anderson (2022, p. 32), ele se vale de cinco propriedades: 39 [...]1 – Visualize o fluxo de trabalho. 2 – Limite o trabalho em progresso. 3 – Meça e gerencie o fluxo. 4 – Torne as Políticas do Processo Explícitas. 5 – Use Modelos para reconhecer Oportunidade de Melhoria. Para iniciar o Kanban é importante que exista algum modelo ou fluxo de gerenciamento prévio a ser redesenhado e alterado incrementalmente. O Kanban não cria um fluxo de processo do zero, ele remodela de forma evolutiva e incremental. David Anderson afirma que o modelo Kanban auxilia o mercado à medida que lhes dá permissão para recriar processos sob medida, tornando-os cada vez melhores. Ele não é uma abordagem prescritiva, ao contrário, ele empondera líderes e agentes de mudanças a encontrarem soluções próprias para seus contextos. Cada empresa, cada processo, cada time possui características próprias que devem ser respeitadas. Assim, a solução para cada uma delas pode ser bastante diferente. Não precisamos adotar abordagens ao pé da letra do que lemos em livros e podemos combinar Kanban com outras ferramentas e métodos. Além disso, o Kanban embasa as justificativas do porquê cada uma das decisões é diferente provando seu valor. Assim, vale reforçar que o método Kanban pode ser usado em qualquer situação em que há a necessidade de limitação dentro de um sistema. A limitação se dá pelo número de cartões sinalizadores, kanban com k minúsculo, dentro do sistema, que limitam o trabalho em progresso (WIP). Um novo trabalho se inicia assim que um cartão é liberado. 40 Como iniciar o Kanban? Existe uma abordagem indicada para o início de um sistema Kanban que é chamada de Statik – Systems Thinking Approach to Introduce Kanban – que consiste em mapear a situação atual da empresa, do trabalho, do projeto ou da equipe e que irá auxiliar o redesenho do sistema e auxiliar a implementação do Kanban. Outra dúvida recorrente no campo do gerenciamento ágil de projetos, e que advém das polêmicas mencionadas no início desse texto é a utilização de Kanban em times que já adotam o Scrum. É possível combinar Scrum com Kanban? A resposta a esta pergunta é sim! Existe até um termo chamado Scrumban, que é a combinação do método Kanban ao Scrum para potencializar os resultados e auxiliar o time a ser mais auto-organizado. Há times que após iniciar o uso de ferramentas Kanban junto do Scrum acabam sim migrando para utilização apenas de Kanban. Mas a utilização de ambos é também benéfica e provoca mudanças evolucionárias e constantes nos sistemas de produção. Dentre as vantagens desta combinação estão: aumento da qualidade, pensamento de melhoria contínua amparado, inspeções mais constantes, respeito ao ritmo de trabalho, criação de cadência não apenas embasada em sprints. Como o Kanban e o Scrum podem ser combinados no que tange ao planejamento? Os papéis do Scrum devem ser respeitados pelo Kanban, no entanto, no planejamento deve haver espaço para mudanças, as quais farão parte do escopo. É preciso ainda definir regras de um sistema de produção puxado. No planejamento considere realizar pequenos atos de planejamento durante os dias, você pode aproveitar o momento da daily para isso ou fazer em outro momento. Ao pensar em um sistema de produção 41 considere fazer inserções de etapas intermediárias no quadro Kanban e incluir raias de atividades, categorizando-as. Vale ainda a utilização de regras de priorização explícitas no card, por raia, por cores, ou outro critério que o time queira adotar. Quanto ao monitoramento utilize o tempo da daily, mas lembre-se também de analisar itens bloqueados no fluxo e analisar a questão de quantidade de trabalho em progresso. As métricas são grandes aliadas no Kanban com Scrum (Scrumban). Referências ANDERSON, D. J. Kanban: mudança evolucionária de sucesso para seu negócio de tecnologia. [Livro Eletrônico]: Blue Hole Press, 2022. ANDERSON, D. J; CARMICHAEL, A. Kanban essencial condensado. Seattle Washington: Lean Kanban University Press, 2016. Disponível em: https:// kanbanbooks.com/essential-kanban-condensed/. Acesso em: 7 ab. 2023. MUNIZ, A. et al (org.). Jornada Kanban na prática. Rio de Janeiro: Brasport, 2021. https://kanbanbooks.com/essential-kanban-condensed/ https://kanbanbooks.com/essential-kanban-condensed/ 42 Métricas de agilidade Autoria: Larissa M. Palacio dos Santos Leitura crítica: Quinhones de Santana Objetivos • Orientar os benefícios da adoção de métricas ágeis na gestão ágil de projetos. • Mostrar como são utilizadas as métricas de acompanhamento de Scrum, em especial burndown e burnup. • Apresentar métricas ágeis aplicadas ao sistema Kanban.43 1. Métricas ágeis Metrificar auxilia no entendimento dos processos e do comportamento de times e é a partir dessa metrificação que conseguimos obter insights para promover os chamados Kaizens (melhorias). O processo de melhoria contínua deve ser fomentado e embasado pelas métricas e indicadores, já que esses darão clareza sobre como está a saúde do processo. Em seu livro, Métricas Ágeis: Obtenha os melhores resultados para sua equipe, Raphael Albino (2017) faz um paralelo entre o processo de desenvolvimento de software e o método científico relembrando que ambos iniciam na observação do fenômeno (problema), e que a partir dessa observação são levantadas hipóteses, a partir das quais originam- se predições e suposições e que posteriormente são testadas. Fora do ambiente de software, em outros processos do trabalho do conhecimento em geral, e em outros contextos, é possível observar os mesmos tipos de processos na criação das soluções. Entender os processos e a criação de soluções a partir de dados é a melhor forma de criar um processo de melhoria contínua sem que se tenha que provocar mudanças radicais. Criar forma de visualizar os dados fará com que todos fiquem na mesma página compreendendo os porquês das mudanças que estão sendo propostas. Quando mencionamos metrificações e adoção de indicadores, muitos têm receio de criar uma política de comando e controle, mas aqui as métricas propostas trazem uma perspectiva diferente, voltada ao processo e não às pessoas. As métricas não devem ser instrumento de práticas de microgerenciamento, cobranças, comparação de performance e hipercontrole, mas sim utilizadas para compreender contextos, 44 gerenciar riscos, analisar tendências, tornar o processo mais previsível, entre outros fatores voltados à evolução do processo. Também é importante, antes de iniciar os estudos sobre métricas, reforçar que as métricas não devem ser utilizadas como instrumento de comparação entre times, pois cada time atua com produtos diferentes e em um contexto diferente. Use as métricas como uma forma de avaliar a saúde do processo, pois fica claro que equipes que utilizam métricas conseguem amadurecer seus processos e, portanto, podemos utilizá-las em momentos de retrospectivas. 2. Métricas em Scrum Uma das métricas mais usadas no Scrum é o acompanhamento de sprint pelo gráfico de burndown, que na realidade é uma ferramenta de gestão visual da produtividade da sprint. O gráfico de burndown apresenta o trabalho concluído por dia em relação ao que foi planejado. É uma forma de comunicar o andamento da sprint, pois traz transparência ao andamento do processo. Além disso, por mensurar a questão tempo, é extremamente útil ao gerenciamento de projetos ágeis, uma vez que no cotidiano vivenciamos inúmeras situações nas quais o fator tempo é uma das principais restrições. Neste gráfico existem dois eixos (x, y), conforme Figura 1. No eixo vertical representa o trabalho que precisa ser realizado e o horizontal representa o tempo para a conclusão da sprint. A unidade de medida de tempo pode ser em dias, horas, ou quantidade de trabalho. 45 Figura 1- Gráfico de burndown da sprint Fonte: elaborado pela autora. A imagem mostra um exemplo de um burndown criado dentro do azure devops, uma ferramenta muito utilizada na gestão de projetos ágeis. E mostra o quanto de trabalho ainda falta para concluir a sprint. É possível verificar antes da data de finalização da sprint um aumento de escopo ou que, se o time continuar no mesmo ritmo, as demais planejadas para a sprint não serão concluídas. É possível criar burndown da sprint, da versão da entrega, ou do produto e todas essas visões são igualmente úteis a depender do contexto. O gráfico pode trazer o esforço estimado em story points ou a quantidade de cards (kanbans) ainda em progresso. No caso da Figura 1, temos o andamento da sprint, acompanhando o quanto ainda falta de trabalho a ser realizado (trabalho remanescente) para que a sprint possa ser concluída. Pode ocorrer no andamento da sprint algo parecido com o que ilustra a imagem, veja que a linha amarela que representa o escopo aumentou, isso significa que por alguma razão foi solicitado ao time um esforço adicional. Pode ser que 46 no andamento de alguma atividade o time tenha descoberto um esforço adicional para entregar alguma demanda. Pode ser ainda que tenha surgido alguma demanda não planejada e que precisou compor a sprint. O ideal, todavia, é que esse tipo de comportamento não ocorra. Uma vez estabelecido o escopo planejado para a sprint ele deveria, em tese, ser mantido. Quando usamos a versão do burndown de produto, estamos acompanhando a evolução ao decorrer de várias sprints, portanto, essa proposta é a de um olhar mais macro. Similar ao gráfico burndown, temos o gráfico burnup, mostrado na Figura 2, no entanto, traz uma perspectiva um pouco diferente. Ele exibe o quanto a equipe já progrediu com relação ao que foi planejado, ao contrário do primeiro que mostra o quanto de trabalho ainda falta para ser realizado. Figura 2 - Gráfico de burnup Fonte: elaborado pela autora. A ideia deste gráfico é mostrar o progresso e o andamento com relação à finalização do projeto, da sprint, ou do produto. Nesse caso a linha irá 47 subindo. A ideia é que as linhas do planejado e do real se encontrem. Quando isso ocorrer significa que o projeto foi concluído. Nos gráficos de sprint burnup o trabalho pode ser representado em esforço-horas ou como storypoints. Ao analisar esses gráficos, conseguimos identificar rapidamente se é necessário ter um plano de ação para que a conclusão do projeto não seja comprometida. 3. Métricas em Kanban É comum que em times de desenvolvimento de software haja uma sensação constante de trabalho em excesso. Aliás, mais comum ainda é que os desenvolvedores façam horas extras com alta frequência para que consigam cumprir com as demandas que lhes foram incumbidas. No entanto, quase sempre, por ser um trabalho de conhecimento, é difícil demonstrar essa sobrecarga de trabalho e os impactos negativos que elas trazem à qualidade de vida do colaborador, mas também à qualidade do software. Além disso, uma grande quantidade de trabalho em progresso simultaneamente configura uma situação de paralelismo de trabalho, o que por consequência aumenta o tempo de entrega. Neste contexto, a métrica de WIP – Work In Progress – se faz relevante e seu significado é “trabalho em progresso” no português. Para facilitar o entendimento vamos utilizar a sigla WIP. Wip é todo aquele trabalho que ainda não foi concluído, mas que já foi, de alguma forma, iniciado. Aquele trabalho em andamento, aquele estudo, os cards do board, todos eles representam WIP. Essa demanda em andamento ainda não foi entregue ao cliente, portanto, ainda não gera valor. Para que possamos entender a partir de qual momento um trabalho é considerado iniciado, ou seja, em 48 progresso, temos que ter uma definição de onde se inicia o processo produtivo ou de desenvolvimento. Existem etapas no fluxo de desenvolvimento que não necessariamente representam que esse já está em andamento. Por exemplo, em times scrum, os itens de um backlog de produto, que ainda não foram selecionados para o backlog da sprint, embora já tenham sido mapeados pelo product owner ou gerente de produtos, são itens que ainda não estão em progresso, embora estes possam existir já dentro dos quadros de gestão visual. Já nos times Kanban, normalmente esse ponto de comprometimento corresponde a uma etapa do processo explicitado como uma coluna no board. Assim como, nos times Scrum o ponto de saída corresponde ao momento da review, e nos times que adotam Kanban temos necessariamente uma coluna correspondente representando o fim do processo. Ou seja, qualquer coisa que seja iniciada entre a cerimônia de planejamento e a review pode ser considerada o WIP em scrum. E qualquer coisa dentro dos limitesde início do desenvolvimento e fim do desenvolvimento em Kanban também representam seu wip. Agora, você já sabe o que é WIP, mas para nós o importante é trabalhar com limitação de WIP. Por que gerenciar o WIP? Controlar WIP, como dito anteriormente, auxilia os times a terem uma cadência de entrega, isto é, manterem um ritmo constante. Além disso, estudos provam que quanto menor a quantidade de trabalho em progresso, menor o tempo de desenvolvimento. Ao estabelecer um limite de WIP, ou seja, um número máximo de trabalho em desenvolvimento, seja para o fluxo como um todo, seja para etapas do processo em específico, temos algumas vantagens: • Tornar o time mais previsível. • Incentivar o término de tarefas. 49 • Promover uma cultura de trabalhar focado, pois o paralelismo é um ofensor à velocidade de entrega. • Explicitar gargalos e bloqueios no processo. • Melhorar a qualidade. Limitar WIP tem um valor que, por vezes, é contraintuitivo para os times, pois, ao limitar trabalho em progresso é possível que seja criada certa ociosidade no sistema. Além disso, temos uma forte influência da gestão tradicional que perdurou por muito tempo pedindo produtividade e associando esta com a quantidade de trabalho que uma pessoa assumia. No entanto, resista à tentação de pensar desta forma e compreenda que ao limitar o trabalho em progresso os membros de um time ágil terão a oportunidade de se desenvolverem atuando conjuntamente em algumas atividades, sendo multifuncionais, atentando-se aos bloqueios do fluxo, e promovendo uma cultura de apoio. Se um determinado membro está com ociosidade, é a hora de ele se oferecer para ajudar outro colega que esteja mais sobrecarregado ou que talvez esteja precisando de uma ajuda para eliminar um problema, bloqueio ou dependência. Vale dizer, que ao estabelecer uma sprint, ou seja, um tempo fixo de desenvolvimento, o Scrum analisa a capacidade do que irá entrar no sistema e trabalha indiretamente uma limitação de WIP. Por outro lado, o Kanban estabelece uma política explícita exibindo visualmente nos quadros as limitações de quantidade de itens sendo desenvolvidos. Albino (2017, p. 87), conclui que: [...] o wip representa um esforço e energia que ainda não foram validados, pois estão envoltos em uma caixa chamada processo. Quanto mais tempo você passar carregando o WIP, menos feedback você estará recebendo, mais lento será o processo de validação de hipóteses por detrás das iniciativas que originaram o trabalho e maior será o risco de você estar perdendo uma oportunidade de mercado. 50 Vamos agora entender sobre o tempo que uma demanda leva para ser concluída. Saber mensurar o tempo de desenvolvimento é fundamental para que se crie um ambiente com previsibilidade de entregas, isto é, que aquele que esteja negociando com o cliente consiga passar uma perspectiva factível de entregas, sendo fundamental para que o cliente esteja satisfeito. Também evita ruídos entre áreas e desconfianças. Sabemos que diferentes tipos de trabalho levam mais ou menos tempo para serem desenvolvidos. A ideia é que cada vez menos tenhamos essa variabilidade para que o time possa ser cada vez mais previsível. A previsibilidade está atrelada ao conhecimento do lead time, uma métrica oriunda do ambiente industrial, e que representa o tempo que as demandas passaram pelo fluxo de desenvolvimento – de ponta a ponta. Essa métrica está bastante atrelada ao lean manufacturing, o qual estabelece políticas e práticas para diminuí-la e considera que, desta forma, estará diminuindo o desperdício. No contexto do desenvolvimento de software essa métrica passou a ganhar fama a partir da promulgação do método Kanban, quando seu criador, David Anderson, ressaltou a importância de sua utilização. Quais são as vantagens de medir o lead time? • Compreender quanto tempo a equipe tem levado para desenvolver o trabalho. • Entender se há muita discrepância de tempo de produção entre diferentes tipos de itens, ou entre itens do mesmo tipo para entender a saúde do processo. • Compreender gargalos no processo à medida que analisa um item que demorou mais para ser concluído e busca-se entender as causas. 51 • Identificar se há um padrão comportamental de tempo de entrega por tipos de itens. • Auxilia na contabilização de custos como elemento norteador. Outra métrica bastante utilizada nesses contextos é o chamado cycle time que, muitas vezes, por equívoco é confundido com o lead time. O cycle time é na verdade a razão entre o número de horas disponíveis para o trabalho e a quantidade de demandas solicitadas por dia. Um exemplo hipotético é que em um período de 10 dias, um time x entregou 5 incrementos completos. Dizemos que o lead time foi de dez dias, pois esse foi o tempo entre o início da execução da tarefa e sua finalização, no entanto, o cycle time foi de 5 demandas incrementos. Há discussões sobre o termo cycle time, pois alguns autores consideram que esse seria o tempo total do desenvolvimento do item. Por exemplo, considerando o tempo em que a demanda ficou parada em backlog sem fazer parte do conjunto de demandas já iniciadas. Por isso, a utilização desse termo é menos comum, já que carrega uma série de polêmicas e dúvidas sobre seu sentido. Há ainda, como dito anteriormente, aqueles que consideram ambos como sinônimos. A última métrica que estudaremos aqui, e não menos importante, é o chamado throughput, que significa vazão. Essa métrica permite analisar a quantidade de entregas em um período de tempo, o aumento ou diminuição no número de entregas, a existência de bloqueadores ou impedimentos no trabalho. De maneira bastante simplista, pode-se dizer que o throughput mede a quantidade de itens entregues em um determinado período de tempo. Essa métrica determina os limites de capacidade do time. Cada time poderá eleger uma unidade de tempo que lhe faça sentido para mensurá-la. Além de compreender o quanto o time entrega por período 52 de tempo, ao medir o throughput será possível identificar tendências. Existem inúmeras formas de visualização gráfica do throughput, podendo ser um gráfico de barras ou colunas. Além das métricas ágeis aqui apresentadas existem outras que podem ser utilizadas, destacamos aqui aqueles que terão mais efeitos positivos de bem utilizadas no seu processo, fluxo de trabalho. A ideia é que você busque utilizá-las de forma combinada, para analisar os processos e tirar insights que promovam a melhoria contínua. Lembre-se, mais uma vez, de não comparar contextos, não comparar desempenho de pessoas, e pensar sempre em comparativos de métricas de evolução, desta forma, você estará criando uma cultura positiva na sua organização. Referências ALBINO, R. D. Métricas Ágeis. [Livro Eletrônico]: Casa do Código, 2017. ANDERSON, D. J. Kanban: mudança evolucionária de sucesso para seu negócio de tecnologia. [Livro Eletrônico]: Blue Hole Press, 2022. CRUZ, Fabio. Scrum e Agile em projetos Guia completo: conquiste sua certificação e aprenda a usar métodos ágeis em seu dia a dia. 2. ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2018. SCHWABER, K.; SUTHERLAND, J. Scrum guide. 2020. Disponível em: https:// scrumguides.org/scrum-guide.html. Acesso em: 25 fev. 2023. https://scrumguides.org/scrum-guide.html https://scrumguides.org/scrum-guide.html 53 Sumário Apresentação da disciplina Da gestão de projetos tradicional à agilidade 1. Novo mundo, nova gestão 2. Do modelo tradicional ao novo modelo 3. O manifesto ágil Referências SCRUM Objetivos 1. A essência do framework scrum 2. Os times Scrum 3. Os eventos do Scrum Referências Kanban Objetivos 1. Kanban 2. Método Kanban Referências Métricas de agilidade Objetivos 1. Métricas ágeis 2. Métricas em Scrum 3. Métricas em Kanban Referências
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