Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Guia de aula Agente Facilitador de Carnavais e Festas Populares O carnaval no Brasil Semana 7 Escolas de samba Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 1 Apresentação Essa semana exploraremos as transformações históricas e culturais das escolas de samba do Rio de Janeiro, desde o seu surgimento até os dias atuais, destacando sua influência na configuração do que hoje conhecemos como Carnaval. A primeira parte mergulhará nas raízes das escolas de samba, desde a sua criação espontânea até a consolidação de uma tradição que reflete a essência do povo brasileiro. Veremos como, inicialmente, os desfiles eram expressões puras da alegria e da resistência cultural das classes populares. Em seguida, examinaremos como as escolas de samba enfrentaram e se adaptaram a uma série de transformações urbanas e sociais, moldando-se às novas realidades do Rio de Janeiro. Analisaremos como o Carnaval e as escolas de samba se estabeleceram como ícones globais com a construção do Sambódromo. Como os desfiles das escolas de samba ganharam uma nova dimensão, transformando-se em espetáculos grandiosos que atraem milhões de espectadores do mundo inteiro. Em seguida, embarcaremos numa jornada por algumas capitais do Brasil, onde o carnaval das escolas de samba se revela em prismas variados. Por fim, mergulharemos nas nuances que tornam cada cidade um universo à parte no que diz respeito ao samba e às escolas de samba. Veremos como os distintos cenários urbanos e as dinâmicas socioculturais moldam e redefinem o significado e a vivência das escolas de samba. Objetivo(s) Ao final dos estudos dessa semana, esperamos que você seja capaz de: • Conhecer as origens das manifestações carnavalescas. • Entender o que era o entrudo. • Conhecer as grandes sociedades e os ranchos carnavalescos. Plano de estudos Nesta semana, você deverá: 1) Ler o guia de estudos e explorar a trilha de aprendizagem. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 2 Do surgimento ao esplendor. A história do samba e das escolas de samba no Brasil é marcada por debates e controvérsias. As origens do samba são disputadas, variando desde referências de 1893 até a gravação de "Pelo Telefone" por Donga, considerada um marco importante. Além disso, o samba baiano é frequentemente citado como ancestral do samba carioca. As escolas de samba, por outro lado, têm uma história mais clara, emergindo de um processo de urbanização no Rio de Janeiro na década de 1920. Elas evoluíram de blocos, ranchos e outros grupos carnavalescos, principalmente nos subúrbios da cidade, e se tornaram uma parte central do Carnaval carioca. A institucionalização das escolas de samba é muitas vezes atribuída ao líder religioso do Candomblé José Spinelli, conhecido como Zé Espinguela, e à fusão de vários estilos de música e dança. A nomenclatura "escola de samba" tem origens contestadas, com algumas teorias apontando para sua concepção em 1928 no Largo do Estácio, enquanto outras indicam o Morro da Mangueira como seu berço. Várias escolas de samba notáveis, como a Portela e a Unidos da Tijuca, foram fundadas nesse período, expandindo-se por diferentes bairros do Rio. O desenvolvimento dessas escolas foi amplamente promovido por competições organizadas por periódicos, contribuindo para sua popularização e disseminação pela cidade. As escolas de samba, ao longo de sua evolução, estabeleceram uma estrutura organizacional mais formal, dando origem à União das Escolas de Samba. Esta entidade foi a precursora de várias fusões e divisões entre os órgãos responsáveis pela organização das escolas de samba. Na década de 1940, observou-se um aumento significativo do interesse público pelas escolas de samba. Durante este período, a Prefeitura, que já apoiava parcialmente os desfiles através de subvenções, começou a cobrar ingressos para os eventos realizados na Praça Onze, marcando uma nova fase na gestão e popularidade das escolas de samba. Na década de 1950, as escolas de samba do Rio de Janeiro não apenas ganharam maior reconhecimento e popularidade, mas também testemunharam o surgimento das primeiras estrelas do carnaval, especialmente os casais de mestre-sala e porta-bandeira. Esses casais, com suas apresentações elegantes e coreografias intrincadas, tornaram-se elementos centrais e icônicos dos desfiles. Esta era marcou uma fase de inovação e profissionalização nas escolas de samba, onde a habilidade e o carisma dos mestres-salas e das porta- bandeiras começaram a ser amplamente celebrados. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 3 No final da década de 1940 até início dos anos 1960, os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro passaram por uma fase de "peregrinação", mudando-se para diferentes locais devido a transformações urbanas e organizacionais. Após o desaparecimento da Praça Onze na década de 1940, os desfiles buscaram novos espaços para acontecer. Além disso, uma mudança significativa ocorreu com a reforma urbana que abriu a Avenida Presidente Vargas, um dos grandes eixos viários do Rio de Janeiro. Esta reforma teve um impacto direto nos desfiles de carnaval, deslocando-os eventualmente para a Avenida Rio Branco, um dos espaços mais emblemáticos e centrais da cidade. Essa mudança não apenas alterou a logística dos desfiles, mas também contribuiu para uma maior visibilidade e acessibilidade para o público em geral, consolidando ainda mais o carnaval carioca como um evento de grande importância cultural e turística. Estas mudanças de local refletem a evolução constante das escolas de samba e sua adaptação a um ambiente urbano em transformação, mantendo a tradição viva em meio a novos desafios e oportunidades. Os anos 1960 representam um marco importante na história do carnaval do Rio de Janeiro, especialmente com a chegada dos alunos e professores da Escola de Belas Artes às escolas de samba. Essa integração trouxe uma revolução estética e técnica aos desfiles. Os estudantes e professores de arte aplicaram seus conhecimentos e habilidades em design, escultura, pintura e outras formas de expressão artística nos carros alegóricos, fantasias e cenografias. Documentário Matrizes do Samba do RJ O Documentário Matrizes do Samba no Rio de Janeiro é parte da pesquisa realizada pelo Centro Cultural Cartola, hoje Museu do Samba, entregue ao IPHAN para o reconhecimento das Matrizes do Samba no Rio de Janeiro: Partido-Alto, Samba de Terreiro e Samba de Enredo como Patrimônio Imaterial do Brasil. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 4 Antes do Sambódromo. Entre 1970 e 1984, as escolas de samba do Rio de Janeiro experimentaram uma fase de significativa evolução, marcada por inovações que transformaram profundamente a organização e a apresentação dos desfiles carnavalescos. Esta época é destacada pela intensificação do processo de mercantilização e modernização do Carnaval, refletindo uma dinâmica global de transformações culturais e sociais que afetavam diretamente essas agremiações. As escolas de samba, que surgiram como manifestações culturais das camadas populares, foram se estruturando cada vez mais sob modelos organizacionais que incorporavam práticas empresariais, como planejamento estratégico, terceirização de serviços e contratação de profissionais especializados. Essa transformação não apenas ampliou a escala e o espetáculo dos desfiles, mas também trouxe debates sobre a autenticidade e a tradição dessas instituições dentro do contexto do Carnaval brasileiro. Figura 1-Rua Marquês de Sapucaí preparada para o desfile das escolas de samba em 1983 A mercantilização do Carnaval, um fenômeno observado desde o início do século XX, intensificou-se nesse período, desafiando a concepção de cultura popular como algo puramente autêntico e não comercial. Contrariamente à percepção de que a comercialização poderia diluir a essênciadas escolas de samba, essa fase de evolução demonstrou que tradição e modernidade não são conceitos mutuamente exclusivos. A integração das escolas de samba no Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 5 mercado, de fato, possibilitou uma maior projeção e reconhecimento dessas agremiações, tanto no Brasil quanto internacionalmente. O período entre 1970 e 1984 também foi marcado pelo surgimento e consolidação de novas escolas de samba, que se juntaram às já estabelecidas como protagonistas do Carnaval carioca. A inovação nos enredos, nas músicas e nas coreografias, acompanhada da expansão da infraestrutura e das capacidades organizacionais, refletiu o dinamismo e a capacidade de adaptação dessas agremiações ao longo do tempo. É nesse período que a relação entre as escolas de samba do Rio de Janeiro e o jogo do bicho aprofundou-se significativamente, refletindo uma complexa rede de financiamento e influência que marcou essa era do carnaval carioca. A figura dos bicheiros como patronos das escolas de samba, embora não seja uma novidade, ganhou destaque particular nesse período, estabelecendo um padrão de mecenato que transformou tanto a escala dos desfiles quanto a própria gestão dessas agremiações. A história do jogo do bicho remonta ao final do século XIX, mas foi na década de 1940 que a interação entre os bicheiros e as escolas de samba começou a se intensificar, com figuras como Natal da Portela estabelecendo um precedente para o envolvimento de contraventores como financiadores e líderes influentes dentro dessas instituições culturais. Na década de 1970, essa relação se consolidou ainda mais, com a chamada "cúpula do jogo do bicho" repartindo o território do Estado do Rio de Janeiro em áreas de influência e estendendo seu poder não apenas para os territórios locais, mas também para as escolas de samba. Figuras como Castor de Andrade e Anísio Abraão David tornaram-se emblemáticas dessa época, financiando desfiles cada vez mais luxuosos e custosos, elevando o patamar do carnaval carioca a novos níveis de espetáculo e complexidade Essas transformações, embora tenham introduzido desafios em termos de preservação da identidade cultural das escolas de samba, também abriram caminhos para novas formas de expressão artística e para a consolidação do Carnaval do Rio de Janeiro como um dos maiores espetáculos do mundo. A complexidade dessas organizações, que combinam elementos de cultura popular com práticas organizacionais modernas, continua sendo um campo fértil para estudos e análises, oferecendo insights valiosos sobre a dinâmica entre tradição e modernidade nas manifestações culturais contemporâneas. A expressão de uma alegria e de um desejo de liberdade que transcende as barreiras sociais, econômicas e culturais. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 6 A era sambódromo. Com a inauguração do Sambódromo em 1984, o Carnaval do Rio de Janeiro viu não apenas uma transformação em sua infraestrutura, mas também uma evolução significativa no que diz respeito à sua organização, comercialização e alcance global. A criação do Sambódromo foi um marco, fornecendo um espaço dedicado que não apenas melhorou a experiência dos espectadores, mas também elevou o status do evento como um espetáculo global. Em 1984, a criação da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA) marcou um ponto de inflexão na organização dos desfiles, proporcionando uma nova estrutura de governança que, embora visasse melhorar a qualidade do espetáculo, também refletia a influência contínua e a visibilidade do jogo do bicho no carnaval. A LIESA foi fundada por representantes de dez escolas dissidentes da Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro, indicando um movimento em direção a uma maior autonomia e profissionalização, ainda que sob a sombra do financiamento do jogo do bicho. Podcast Estação Periferia O professor Luiz Anselmo fala sobre como a família Abraão David se entrecorta a da escola de samba beija-Flor de Nilópolis. Uma boa maneira de entender as relações do mecenato do jogo do bicho nas escolas de samba. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 7 A Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) emergiu como uma força institucional crucial, administrando a complexidade dos interesses envolvidos no Carnaval, desde a comercialização de direitos de transmissão até a gestão de merchandising e ingressos. Este período marcou uma profissionalização sem precedentes do Carnaval, com escolas de samba expandindo suas atividades para além das comunidades locais, atraindo um público mais amplo e diversificado, incluindo turistas de todo o mundo. A decisão de dividir os desfiles em dois dias foi estratégica, permitindo uma melhor organização e exposição das escolas de samba, além de maximizar a cobertura televisiva e a venda de ingressos. Isso, juntamente com contratos de transmissão com grandes emissoras de televisão, ajudou a catapultar o Carnaval do Rio para o cenário mundial, tornando-o uma das maiores e mais assistidas celebrações. As escolas de samba, cada uma com milhares de participantes, passaram a investir em carros alegóricos ainda mais elaborados e fantasias deslumbrantes, elevando o nível dos desfiles a alturas sem precedentes. Este período também viu o surgimento de novas escolas no cenário, desafiando o domínio das agremiações tradicionais e trazendo novas energias e inovações para o Carnaval. Nos anos seguintes à inauguração do Sambódromo, o Carnaval do Rio solidificou sua posição como um fenômeno cultural de importância global. Com transmissões internacionais atingindo bilhões de espectadores, o evento transcendeu suas raízes locais para se tornar um ícone global de festividade, criatividade e expressão cultural. Este período de transformação e inovação deixou um legado duradouro, redefinindo o Carnaval como uma plataforma para a arte, a cultura e a inclusão social, além de ser uma força motriz significativa para o turismo e a economia local.es camadas sociais se expressassem e celebrassem juntas, estabelecendo as bases para o que viria a ser o carnaval moderno. Durante as magníficas noites de exibição das principais escolas de samba, aproximadamente 100 mil participantes encantam a passarela. Estes desfiles não apenas capturam a atenção local, mas também são transmitidos internacionalmente, com um público estimado em mais de 2 bilhões de espectadores ao redor do globo. As escolas de samba, cada uma com um contingente de 3 a 5 mil integrantes, exibem carros alegóricos cada vez mais grandiosos e repletos de efeitos visuais deslumbrantes. Neste período de transformação e inovação, novas escolas emergiram no cenário como potências, enquanto algumas tradicionais enfrentaram um declínio em sua influência e prestígio. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 8 Escolas de samba pelo Brasil Vamos adentrar o universo das escolas de samba do Brasil, começando por São Paulo, onde o carnaval se destaca pela sua organização e magnitude. Exploraremos a evolução desses desfiles, suas principais escolas e o impacto que exercem na capital paulista. Depois, partiremos para outras capitais brasileiras, cada uma oferecendo sua própria interpretação do carnaval. Nesta semana veremos como cada capital nos apresenta uma marca cultural bem original e perspectivas bem diversas sobre fazer samba e escolas de samba. O ponto de partida, portanto, se dá através da reflexão em como contextos urbanos e socioculturais particulares alteram o significado e a experiência das escolas de samba, entendidas como uma forma peculiar de organização carnavalesca. Escolas de samba em São Paulo Originário das celebrações de rua, em especial os cordões, o carnaval paulistano começou a tomar forma no início do século XX. As primeiras escolas de samba surgiram nas décadas de 1930 e 1940, inspiradas pelo sucessodas escolas cariocas. Há os que apontam para a incipiente influência do batuque interiorano como das festas religiosas da cidade de Pirapora. Siga os canais do Pensamento Social do Samba Assista ao debate Samba, carnaval e memória - Observando o samba enquanto uma construção cultural dos negros em diáspora e que expressa modos de vida, valores e laços de sociabilidade, os professores Vinicius Natal e Mauro Cordeiro debatem sobre os seus saberes, histórias e personagens, problematizando a maneira com que acervos, documentos e memórias orais são valorizados e/ou esquecidos no mundo social das escolas de samba. Aproveite para se inscrever no canal Pensamento Social do Samba no Youtube e em outras redes sociais onde os professores trazem reflexões bem interessantes sobre as escolas de samba do Rio de Janeiro. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 9 O crescimento do carnaval paulistano foi lento inicialmente. Muitas das primeiras escolas surgiram em bairros de comunidades afro-brasileiras, como a Vai-Vai, fundada em 1930. Também muito celebradas como as pioneiras do carnaval de escolas de samba são o Paulistano da Glória, a Lavapés e o Camisa Verde e Branca - este último que remonta aos tempos dos cordões como a Vai- Vai. O evento começou a ganhar estrutura mais organizada nos anos 1960, quando a prefeitura da cidade começou a apoiar o carnaval, estabelecendo um desfile oficial e incentivando a competição entre as escolas. Nos anos 70 e 80, o carnaval de São Paulo começou a se profissionalizar, com o aumento do apoio financeiro. Isso permitiu que as escolas investissem mais em carros alegóricos, fantasias e ensaios, elevando o nível técnico e artístico dos desfiles. Neste período, outras escolas como a Rosas de Ouro e a Mocidade Alegre emergiram como forças significativas. Na década de 1990, o carnaval de São Paulo começou a atrair mais atenção nacional. A mídia passou a dar mais cobertura ao evento, atraindo patrocinadores e aumentando o interesse do público. Boa parte desse interesse foi acirrado pela inauguração do Anhembi, em 1991, mesmo que sem as arquibancadas fixas para o público. No século 21, o carnaval de São Paulo consolidou-se como um dos maiores e mais importantes do Brasil. Com escolas de samba fortes e bem- organizadas, o evento atrai milhares de espectadores para os desfiles e é transmitido para todo o país. As escolas continuam a inovar, trazendo novos Documentário "Lavapés: Ancestralidade e permanência" Assista ao documentário sobe a Escola de Samba Lavapés, a escola mais antiga em atividade em São Paulo fundada em 1937 por Madrinha Eunice, mulher, negra e periférica. Hoje, a escola é dirigida por sua neta, Rosemeire Marcondes. A escola nasceu no Bairro da Liberdade, na Rua Lavapés, bairro originalmente negro e que hoje também abriga a comunidade japonesa, que após intensa especulação imobiliária desloca ainda mais para a periferia as comunidades negras do samba. Até hoje no bairro, a Lavapés exercita sua permanência e ancestralidade frente aos poderes econômicos e de gentrificação. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 10 temas, músicas e coreografias a cada ano, mantendo viva a tradição do carnaval paulistano. Escolas de samba em Manaus (AM), Vitória (ES) e outras cidades brasileiras. Para entendermos o contexto particular do fenômeno das escolas de samba no Rio de Janeiro, vamos partir de um ponto no extremo norte do Brasil, a cidade de Manaus no estado do Amazonas. Na cidade de Manaus, as escolas de samba encontraram um terreno fértil de expansão e lugar de predileção entre as festas populares. O primeiro desfile oficial aconteceu em 1947. Naquele ano apresentando-se na principal avenida da cidade, a Eduardo Ribeiro, no centro duas escolas duelaram: A Escola Mixta da Praça 14 e A Voz da Liberdade. Desde então, o crescimento e a expansão das escolas na cidade são verificados não apenas pelo crescente número de escolas e componentes, como também por sua influência na vida de diversos bairros e no rico cenário das festas urbanas. Entre as décadas de 1960 e 1970, os desfiles das escolas de samba passaram por uma pausa antes de retomarem sua intensidade. Após esse Ouça o podcast e leia o artigo sobre o carnaval no estado de São Paulo Baseado no artigo "Para além do Anhembi: as escolas de samba de São Paulo e outras práticas de sociabilidade" de Clara de Assunção Azevedo e Felipe Gabriel Oliveira, também disponibilizado no AVA. O podcast parte da experiência de um sambista carioca no carnaval paulistano para reflexões sobre a sociabilidade das escolas de samba no estado de são Paulo, inclusive no interiror. Com a participação de Diego "Dida" Ferreira do Site Apoteose. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 11 período, surgiram escolas marcantes no carnaval local. A Vitória Régia, incorporando membros da escola Mixta e situada na Praça 14, é uma das principais. As suas concorrentes incluem a Mocidade de Aparecida, com 22 títulos sendo a mais premiada, a Reino Unido da Liberdade e A Grande Família. A rivalidade entre as escolas se destaca, com as arquibancadas da passarela do samba sendo informalmente divididas entre as torcidas dessas escolas. A passarela do samba, inaugurada em 1992, com capacidade para mais de cem mil pessoas, é notável por ser possivelmente o maior local de samba em termos de público no Brasil. O Carnaval das escolas de samba em Vitória, capital do Espírito Santo remonta ao início do século XX, mas ganhou destaque e forma organizada a partir da segunda metade do século, influenciado pelo modelo de desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. As primeiras escolas de samba de Vitória surgiram em bairros como Santo Antônio, Forte São João e Piedade, locais com forte presença da cultura afro diaspóricas. A formação destas escolas foi uma resposta à crescente popularidade do samba e à necessidade de uma expressão cultural que representasse as raízes e a identidade do povo capixaba. Com o passar dos anos, o Carnaval de Vitória foi crescendo e se profissionalizando. As escolas de samba passaram a receber mais incentivos do poder público. Na década de 1980 acontece o ápice da sua expansão tendo em 1987 a inauguração do Sambão do Povo, um local especialmente projetado para os desfiles. Este evento anual tornou-se um ponto alto na agenda cultural da cidade, atraindo milhares de espectadores e participantes, incluindo turistas de outras regiões do Brasil e do mundo. Além do entretenimento, o Carnaval de Vitória também desempenha um papel importante na economia local, gerando empregos e movimentando diversos setores, desde a confecção de fantasias até a hotelaria. A cada ano, o Carnaval de Vitória continua a se reinventar, mantendo suas tradições ao mesmo tempo em que incorpora novidades, refletindo as mudanças sociais e culturais da sociedade capixaba. Atualmente realizado com uma semana de antecedência Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 12 aos desfiles do Rio de Janeiro, as escolas de samba de Vitória conquistaram grande visibilidade nacional com transmissão televisiva e participação de grandes sambistas e artistas do Rio, São Paulo e Amazonas. O carnaval das escolas de samba em várias cidades do Brasil apresenta uma dinâmica complexa em relação a outras festividades e expressões culturais. Essa relação envolve aspectos positivos e negativos. Há, por um lado, conflitos entre diferentes tipos de carnaval em termos de apoio do governo, cobertura da mídia e financiamento. Por outro lado, existe um diálogo facilitado pelas conexões estabelecidas entre os participantes. No contexto de Pernambuco e sua capital, Recife, surge uma questão interessante: como as escolas de samba mantêm sua presença em uma cidade onde o frevo é a forma de celebração do carnaval mais reconhecida internacionalmente? Bibliografia AZEVEDO,Clara de Assunção; OLIVEIRA, Felipe Gabriel. "Para além do Anhembi: as escolas de samba de São Paulo e outras práticas de sociabilidade". Ponto Urbe, nº 23, 2018. BARBIERI, Ricardo José. Carnaval em Manaus (AM): a cidade e suas escolas de samba. Tese de Doutorado em Antropologia Cultural no Programa de Pós- Graduação em sociologia e Antropologia da UFRJ, Rio de Janeiro, 2016. BARBOZA da Silva, Marília T.; SANTOS, Lygia. Paulo da Portela. Funarte, 1980. CABRAL, Sérgio. As Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Lazuli, 2011. Ouça o podcast "As escolas de samba entre Recife e o Rio de Janeiro" Da série "carnaval sem fronteiras" no podcast Carnavalize Hugo Menezes, antropólogo e professor da UFPE, e Marize Félix, vice- presidente da GRES Gigantes do Samba, mostraram que a capital pernambucana também tem a força do samba em meio a tantas festas populares. O papo trouxe as proximidades e diferenças entre as agremiações cariocas e recifenses Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 13 CANDEIA Filho, Antônio; ARAÚJO, Isnard. Escola de Samba: Árvore que Esqueceu a Raiz. Selo Carnavalize, 2022. FERREIRA, Felipe. O livro de ouro do carnaval brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. JUPIARA, Aloy; OTAVIO, Chico. Os Porões da Contravenção: Jogo do Bicho e Ditadura Militar: a história da aliança que profissionalizou o crime organizado. 1ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. MONTEIRO, Lucas. Carnaval Capixaba: Histórias, Honras e Glórias. Editora do Autor, 2010.
Compartilhar