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Guia de aula 
 
Agente Facilitador de Carnavais e 
Festas Populares 
 
 
O carnaval no Brasil 
Semana 7 
Escolas de samba 
 
Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 
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Apresentação 
 
Essa semana exploraremos as transformações históricas e culturais das 
escolas de samba do Rio de Janeiro, desde o seu surgimento até os dias atuais, 
destacando sua influência na configuração do que hoje conhecemos como 
Carnaval. 
A primeira parte mergulhará nas raízes das escolas de samba, desde a 
sua criação espontânea até a consolidação de uma tradição que reflete a 
essência do povo brasileiro. Veremos como, inicialmente, os desfiles eram 
expressões puras da alegria e da resistência cultural das classes populares. 
Em seguida, examinaremos como as escolas de samba enfrentaram e se 
adaptaram a uma série de transformações urbanas e sociais, moldando-se às 
novas realidades do Rio de Janeiro. Analisaremos como o Carnaval e as escolas 
de samba se estabeleceram como ícones globais com a construção do 
Sambódromo. Como os desfiles das escolas de samba ganharam uma nova 
dimensão, transformando-se em espetáculos grandiosos que atraem milhões de 
espectadores do mundo inteiro. 
Em seguida, embarcaremos numa jornada por algumas capitais do Brasil, 
onde o carnaval das escolas de samba se revela em prismas variados. Por fim, 
mergulharemos nas nuances que tornam cada cidade um universo à parte no 
que diz respeito ao samba e às escolas de samba. Veremos como os distintos 
cenários urbanos e as dinâmicas socioculturais moldam e redefinem o 
significado e a vivência das escolas de samba. 
 
Objetivo(s) 
Ao final dos estudos dessa semana, esperamos que você seja capaz de: 
• Conhecer as origens das manifestações carnavalescas. 
• Entender o que era o entrudo. 
• Conhecer as grandes sociedades e os ranchos carnavalescos. 
 
Plano de estudos 
Nesta semana, você deverá: 
 
1) Ler o guia de estudos e explorar a trilha de aprendizagem. 
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Do surgimento ao esplendor. 
A história do samba e das escolas de samba no Brasil é marcada por 
debates e controvérsias. As origens do samba são disputadas, variando desde 
referências de 1893 até a gravação de "Pelo Telefone" por Donga, considerada 
um marco importante. Além disso, o samba baiano é frequentemente citado 
como ancestral do samba carioca. As escolas de samba, por outro lado, têm uma 
história mais clara, emergindo de um processo de urbanização no Rio de Janeiro 
na década de 1920. Elas evoluíram de blocos, ranchos e outros grupos 
carnavalescos, principalmente nos subúrbios da cidade, e se tornaram uma parte 
central do Carnaval carioca. 
A institucionalização das escolas de samba é muitas vezes atribuída ao 
líder religioso do Candomblé José Spinelli, conhecido como Zé Espinguela, e à 
fusão de vários estilos de música e dança. A nomenclatura "escola de samba" 
tem origens contestadas, com algumas teorias apontando para sua concepção 
em 1928 no Largo do Estácio, enquanto outras indicam o Morro da Mangueira 
como seu berço. Várias escolas de samba notáveis, como a Portela e a Unidos 
da Tijuca, foram fundadas nesse período, expandindo-se por diferentes bairros 
do Rio. O desenvolvimento dessas escolas foi amplamente promovido por 
competições organizadas por periódicos, contribuindo para sua popularização e 
disseminação pela cidade. 
As escolas de samba, ao longo de sua evolução, estabeleceram uma 
estrutura organizacional mais formal, dando origem à União das Escolas de 
Samba. Esta entidade foi a precursora de várias fusões e divisões entre os 
órgãos responsáveis pela organização das escolas de samba. Na década de 
1940, observou-se um aumento significativo do interesse público pelas escolas 
de samba. Durante este período, a Prefeitura, que já apoiava parcialmente os 
desfiles através de subvenções, começou a cobrar ingressos para os eventos 
realizados na Praça Onze, marcando uma nova fase na gestão e popularidade 
das escolas de samba. 
Na década de 1950, as escolas de samba do Rio de Janeiro não apenas 
ganharam maior reconhecimento e popularidade, mas também testemunharam 
o surgimento das primeiras estrelas do carnaval, especialmente os casais de 
mestre-sala e porta-bandeira. Esses casais, com suas apresentações elegantes 
e coreografias intrincadas, tornaram-se elementos centrais e icônicos dos 
desfiles. Esta era marcou uma fase de inovação e profissionalização nas escolas 
de samba, onde a habilidade e o carisma dos mestres-salas e das porta-
bandeiras começaram a ser amplamente celebrados. 
 
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No final da década de 1940 até início dos anos 1960, os desfiles das 
escolas de samba do Rio de Janeiro passaram por uma fase de "peregrinação", 
mudando-se para diferentes locais devido a transformações urbanas e 
organizacionais. Após o desaparecimento da Praça Onze na década de 1940, 
os desfiles buscaram novos espaços para acontecer. Além disso, uma mudança 
significativa ocorreu com a reforma urbana que abriu a Avenida Presidente 
Vargas, um dos grandes eixos viários do Rio de Janeiro. Esta reforma teve um 
impacto direto nos desfiles de carnaval, deslocando-os eventualmente para a 
Avenida Rio Branco, um dos espaços mais emblemáticos e centrais da cidade. 
Essa mudança não apenas alterou a logística dos desfiles, mas também 
contribuiu para uma maior visibilidade e acessibilidade para o público em geral, 
consolidando ainda mais o carnaval carioca como um evento de grande 
importância cultural e turística. Estas mudanças de local refletem a evolução 
constante das escolas de samba e sua adaptação a um ambiente urbano em 
transformação, mantendo a tradição viva em meio a novos desafios e 
oportunidades. 
Os anos 1960 representam um marco importante na história do carnaval 
do Rio de Janeiro, especialmente com a chegada dos alunos e professores da 
Escola de Belas Artes às escolas de samba. Essa integração trouxe uma 
revolução estética e técnica aos desfiles. Os estudantes e professores de arte 
aplicaram seus conhecimentos e habilidades em design, escultura, pintura e 
outras formas de expressão artística nos carros alegóricos, fantasias e 
cenografias. 
 
 
 
Documentário Matrizes do Samba do RJ
O Documentário Matrizes 
do Samba no Rio de 
Janeiro é parte da 
pesquisa realizada pelo 
Centro Cultural Cartola, 
hoje Museu do Samba, 
entregue ao IPHAN para o 
reconhecimento das 
Matrizes do Samba no Rio 
de Janeiro: Partido-Alto, 
Samba de Terreiro e 
Samba de Enredo como 
Patrimônio Imaterial do 
Brasil.
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Antes do Sambódromo. 
Entre 1970 e 1984, as escolas de samba do Rio de Janeiro 
experimentaram uma fase de significativa evolução, marcada por inovações que 
transformaram profundamente a organização e a apresentação dos desfiles 
carnavalescos. Esta época é destacada pela intensificação do processo de 
mercantilização e modernização do Carnaval, refletindo uma dinâmica global de 
transformações culturais e sociais que afetavam diretamente essas 
agremiações. 
As escolas de samba, que surgiram como manifestações culturais das 
camadas populares, foram se estruturando cada vez mais sob modelos 
organizacionais que incorporavam práticas empresariais, como planejamento 
estratégico, terceirização de serviços e contratação de profissionais 
especializados. Essa transformação não apenas ampliou a escala e o espetáculo 
dos desfiles, mas também trouxe debates sobre a autenticidade e a tradição 
dessas instituições dentro do contexto do Carnaval brasileiro. 
 
Figura 1-Rua Marquês de Sapucaí preparada para o desfile das escolas de samba em 1983 
 
A mercantilização do Carnaval, um fenômeno observado desde o início 
do século XX, intensificou-se nesse período, desafiando a concepção de cultura 
popular como algo puramente autêntico e não comercial. Contrariamente à 
percepção de que a comercialização poderia diluir a essênciadas escolas de 
samba, essa fase de evolução demonstrou que tradição e modernidade não são 
conceitos mutuamente exclusivos. A integração das escolas de samba no 
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mercado, de fato, possibilitou uma maior projeção e reconhecimento dessas 
agremiações, tanto no Brasil quanto internacionalmente. 
O período entre 1970 e 1984 também foi marcado pelo surgimento e 
consolidação de novas escolas de samba, que se juntaram às já estabelecidas 
como protagonistas do Carnaval carioca. A inovação nos enredos, nas músicas 
e nas coreografias, acompanhada da expansão da infraestrutura e das 
capacidades organizacionais, refletiu o dinamismo e a capacidade de adaptação 
dessas agremiações ao longo do tempo. 
É nesse período que a relação entre as escolas de samba do Rio de 
Janeiro e o jogo do bicho aprofundou-se significativamente, refletindo uma 
complexa rede de financiamento e influência que marcou essa era do carnaval 
carioca. A figura dos bicheiros como patronos das escolas de samba, embora 
não seja uma novidade, ganhou destaque particular nesse período, 
estabelecendo um padrão de mecenato que transformou tanto a escala dos 
desfiles quanto a própria gestão dessas agremiações. 
A história do jogo do bicho remonta ao final do século XIX, mas foi na 
década de 1940 que a interação entre os bicheiros e as escolas de samba 
começou a se intensificar, com figuras como Natal da Portela estabelecendo um 
precedente para o envolvimento de contraventores como financiadores e líderes 
influentes dentro dessas instituições culturais. Na década de 1970, essa relação 
se consolidou ainda mais, com a chamada "cúpula do jogo do bicho" repartindo 
o território do Estado do Rio de Janeiro em áreas de influência e estendendo seu 
poder não apenas para os territórios locais, mas também para as escolas de 
samba. Figuras como Castor de Andrade e Anísio Abraão David tornaram-se 
emblemáticas dessa época, financiando desfiles cada vez mais luxuosos e 
custosos, elevando o patamar do carnaval carioca a novos níveis de espetáculo 
e complexidade 
Essas transformações, embora tenham introduzido desafios em termos 
de preservação da identidade cultural das escolas de samba, também abriram 
caminhos para novas formas de expressão artística e para a consolidação do 
Carnaval do Rio de Janeiro como um dos maiores espetáculos do mundo. A 
complexidade dessas organizações, que combinam elementos de cultura 
popular com práticas organizacionais modernas, continua sendo um campo fértil 
para estudos e análises, oferecendo insights valiosos sobre a dinâmica entre 
tradição e modernidade nas manifestações culturais contemporâneas. A 
expressão de uma alegria e de um desejo de liberdade que transcende as 
barreiras sociais, econômicas e culturais. 
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A era sambódromo. 
Com a inauguração do 
Sambódromo em 1984, o 
Carnaval do Rio de Janeiro 
viu não apenas uma 
transformação em sua 
infraestrutura, mas também 
uma evolução significativa no 
que diz respeito à sua 
organização, comercialização 
e alcance global. A criação do 
Sambódromo foi um marco, 
fornecendo um espaço 
dedicado que não apenas 
melhorou a experiência dos 
espectadores, mas também 
elevou o status do evento 
como um espetáculo global. 
Em 1984, a criação da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio 
de Janeiro (LIESA) marcou um ponto de inflexão na organização dos desfiles, 
proporcionando uma nova estrutura de governança que, embora visasse 
melhorar a qualidade do espetáculo, também refletia a influência contínua e a 
visibilidade do jogo do bicho no carnaval. A LIESA foi fundada por representantes 
de dez escolas dissidentes da Associação das Escolas de Samba da Cidade do 
Rio de Janeiro, indicando um movimento em direção a uma maior autonomia e 
profissionalização, ainda que sob a sombra do financiamento do jogo do bicho. 
Podcast Estação Periferia
O professor Luiz 
Anselmo fala sobre 
como a família Abraão 
David se entrecorta a 
da escola de samba 
beija-Flor de Nilópolis. 
Uma boa maneira de 
entender as relações 
do mecenato do jogo 
do bicho nas escolas 
de samba.
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A Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) emergiu como uma 
força institucional crucial, administrando a complexidade dos interesses 
envolvidos no Carnaval, desde a comercialização de direitos de transmissão até 
a gestão de merchandising e ingressos. Este período marcou uma 
profissionalização sem precedentes do Carnaval, com escolas de samba 
expandindo suas atividades para além das comunidades locais, atraindo um 
público mais amplo e diversificado, incluindo turistas de todo o mundo. 
A decisão de dividir os desfiles em dois dias foi estratégica, permitindo 
uma melhor organização e exposição das escolas de samba, além de maximizar 
a cobertura televisiva e a venda de ingressos. Isso, juntamente com contratos de 
transmissão com grandes emissoras de televisão, ajudou a catapultar o Carnaval 
do Rio para o cenário mundial, tornando-o uma das maiores e mais assistidas 
celebrações. 
As escolas de samba, cada uma com milhares de participantes, passaram 
a investir em carros alegóricos ainda mais elaborados e fantasias 
deslumbrantes, elevando o nível dos desfiles a alturas sem precedentes. Este 
período também viu o surgimento de novas escolas no cenário, desafiando o 
domínio das agremiações tradicionais e trazendo novas energias e inovações 
para o Carnaval. 
Nos anos seguintes à inauguração do Sambódromo, o Carnaval do Rio 
solidificou sua posição como um fenômeno cultural de importância global. Com 
transmissões internacionais atingindo bilhões de espectadores, o evento 
transcendeu suas raízes locais para se tornar um ícone global de festividade, 
criatividade e expressão cultural. Este período de transformação e inovação 
deixou um legado duradouro, redefinindo o Carnaval como uma plataforma para 
a arte, a cultura e a inclusão social, além de ser uma força motriz significativa 
para o turismo e a economia local.es camadas sociais se expressassem e 
celebrassem juntas, estabelecendo as bases para o que viria a ser o carnaval 
moderno. 
Durante as magníficas noites de exibição das principais escolas de 
samba, aproximadamente 100 mil participantes encantam a passarela. Estes 
desfiles não apenas capturam a atenção local, mas também são transmitidos 
internacionalmente, com um público estimado em mais de 2 bilhões de 
espectadores ao redor do globo. As escolas de samba, cada uma com um 
contingente de 3 a 5 mil integrantes, exibem carros alegóricos cada vez mais 
grandiosos e repletos de efeitos visuais deslumbrantes. Neste período de 
transformação e inovação, novas escolas emergiram no cenário como potências, 
enquanto algumas tradicionais enfrentaram um declínio em sua influência e 
prestígio. 
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Escolas de samba pelo Brasil 
Vamos adentrar o universo das escolas de samba do Brasil, começando 
por São Paulo, onde o carnaval se destaca pela sua organização e magnitude. 
Exploraremos a evolução desses desfiles, suas principais escolas e o impacto 
que exercem na capital paulista. 
Depois, partiremos para outras capitais brasileiras, cada uma oferecendo 
sua própria interpretação do carnaval. Nesta semana veremos como cada capital 
nos apresenta uma marca cultural bem original e perspectivas bem diversas 
sobre fazer samba e escolas de samba. O ponto de partida, portanto, se dá 
através da reflexão em como contextos urbanos e socioculturais particulares 
alteram o significado e a experiência das escolas de samba, entendidas como 
uma forma peculiar de organização carnavalesca. 
Escolas de samba em São Paulo 
Originário das celebrações de rua, em especial os cordões, o carnaval 
paulistano começou a tomar forma no início do século XX. As primeiras escolas 
de samba surgiram nas décadas de 1930 e 1940, inspiradas pelo sucessodas 
escolas cariocas. Há os que apontam para a incipiente influência do batuque 
interiorano como das festas religiosas da cidade de Pirapora. 
Siga os canais do Pensamento Social do Samba
Assista ao debate Samba, carnaval e 
memória - Observando o samba 
enquanto uma construção cultural 
dos negros em diáspora e que 
expressa modos de vida, valores e 
laços de sociabilidade, os 
professores Vinicius Natal e Mauro 
Cordeiro debatem sobre os seus 
saberes, histórias e personagens, 
problematizando a maneira com que 
acervos, documentos e memórias 
orais são valorizados e/ou 
esquecidos no mundo social das 
escolas de samba.
Aproveite para se inscrever no canal 
Pensamento Social do Samba no 
Youtube e em outras redes sociais 
onde os professores trazem 
reflexões bem interessantes sobre as 
escolas de samba do Rio de Janeiro.
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O crescimento do carnaval paulistano foi lento inicialmente. Muitas das 
primeiras escolas surgiram em bairros de comunidades afro-brasileiras, como a 
Vai-Vai, fundada em 1930. Também muito celebradas como as pioneiras do 
carnaval de escolas de samba são o Paulistano da Glória, a Lavapés e o Camisa 
Verde e Branca - este último que remonta aos tempos dos cordões como a Vai-
Vai. 
O evento começou a ganhar estrutura mais organizada nos anos 1960, 
quando a prefeitura da cidade começou a apoiar o carnaval, estabelecendo um 
desfile oficial e incentivando a competição entre as escolas. Nos anos 70 e 80, 
o carnaval de São Paulo começou a se profissionalizar, com o aumento do apoio 
financeiro. Isso permitiu que as escolas investissem mais em carros alegóricos, 
fantasias e ensaios, elevando o nível técnico e artístico dos desfiles. Neste 
período, outras escolas como a Rosas de Ouro e a Mocidade Alegre emergiram 
como forças significativas. 
Na década de 1990, o carnaval de São Paulo começou a atrair mais 
atenção nacional. A mídia passou a dar mais cobertura ao evento, atraindo 
patrocinadores e aumentando o interesse do público. Boa parte desse interesse 
foi acirrado pela inauguração do Anhembi, em 1991, mesmo que sem as 
arquibancadas fixas para o público. 
No século 21, o carnaval de São Paulo consolidou-se como um dos 
maiores e mais importantes do Brasil. Com escolas de samba fortes e bem-
organizadas, o evento atrai milhares de espectadores para os desfiles e é 
transmitido para todo o país. As escolas continuam a inovar, trazendo novos 
Documentário "Lavapés: Ancestralidade e permanência"
Assista ao documentário sobe a 
Escola de Samba Lavapés, a 
escola mais antiga em atividade 
em São Paulo fundada em 1937 
por Madrinha Eunice, mulher, 
negra e periférica. Hoje, a escola 
é dirigida por sua neta, 
Rosemeire Marcondes. A escola 
nasceu no Bairro da Liberdade, 
na Rua Lavapés, bairro 
originalmente negro e que hoje 
também abriga a comunidade 
japonesa, que após intensa 
especulação imobiliária desloca 
ainda mais para a periferia as 
comunidades negras do samba. 
Até hoje no bairro, a Lavapés 
exercita sua permanência e 
ancestralidade frente aos 
poderes econômicos e de 
gentrificação. 
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temas, músicas e coreografias a cada ano, mantendo viva a tradição do carnaval 
paulistano. 
 
Escolas de samba em Manaus (AM), Vitória (ES) e outras cidades 
brasileiras. 
Para entendermos o contexto 
particular do fenômeno das 
escolas de samba no Rio de 
Janeiro, vamos partir de um 
ponto no extremo norte do 
Brasil, a cidade de Manaus no 
estado do Amazonas. Na 
cidade de Manaus, as escolas 
de samba encontraram um 
terreno fértil de expansão e 
lugar de predileção entre as 
festas populares. O primeiro 
desfile oficial aconteceu em 1947. Naquele ano apresentando-se na principal 
avenida da cidade, a Eduardo Ribeiro, no centro duas escolas duelaram: A 
Escola Mixta da Praça 14 e A Voz da Liberdade. Desde então, o crescimento e 
a expansão das escolas na cidade são verificados não apenas pelo crescente 
número de escolas e componentes, como também por sua influência na vida de 
diversos bairros e no rico cenário das festas urbanas. 
Entre as décadas de 1960 e 1970, os desfiles das escolas de samba 
passaram por uma pausa antes de retomarem sua intensidade. Após esse 
Ouça o podcast e leia o artigo sobre o carnaval no estado de São Paulo
Baseado no artigo "Para além do 
Anhembi: as escolas de samba 
de São Paulo e outras práticas de 
sociabilidade" de Clara de 
Assunção Azevedo e Felipe 
Gabriel Oliveira, também 
disponibilizado no AVA. O 
podcast parte da experiência de 
um sambista carioca no carnaval 
paulistano para reflexões sobre 
a sociabilidade das escolas de 
samba no estado de são Paulo, 
inclusive no interiror. Com a 
participação de Diego "Dida" 
Ferreira do Site Apoteose.
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período, surgiram escolas marcantes no carnaval local. A Vitória Régia, 
incorporando membros da escola Mixta e situada na Praça 14, é uma das 
principais. As suas concorrentes incluem a Mocidade de Aparecida, com 22 
títulos sendo a mais premiada, a Reino Unido da Liberdade e A Grande Família. 
A rivalidade entre as escolas se destaca, com as arquibancadas da passarela do 
samba sendo informalmente divididas entre as torcidas dessas escolas. A 
passarela do samba, inaugurada em 1992, com capacidade para mais de cem 
mil pessoas, é notável por ser possivelmente o maior local de samba em termos 
de público no Brasil. 
O Carnaval das 
escolas de samba em 
Vitória, capital do 
Espírito Santo remonta 
ao início do século XX, 
mas ganhou destaque e 
forma organizada a partir 
da segunda metade do 
século, influenciado pelo 
modelo de desfile das 
escolas de samba do Rio de Janeiro. 
As primeiras escolas de samba de Vitória surgiram em bairros como Santo 
Antônio, Forte São João e Piedade, locais com forte presença da cultura afro 
diaspóricas. A formação destas escolas foi uma resposta à crescente 
popularidade do samba e à necessidade de uma expressão cultural que 
representasse as raízes e a identidade do povo capixaba. 
Com o passar dos anos, o Carnaval de Vitória foi crescendo e se 
profissionalizando. As escolas de samba passaram a receber mais incentivos do 
poder público. Na década de 1980 acontece o ápice da sua expansão tendo em 
1987 a inauguração do Sambão do Povo, um local especialmente projetado para 
os desfiles. Este evento anual tornou-se um ponto alto na agenda cultural da 
cidade, atraindo milhares de espectadores e participantes, incluindo turistas de 
outras regiões do Brasil e do mundo. 
Além do entretenimento, o Carnaval de Vitória também desempenha um 
papel importante na economia local, gerando empregos e movimentando 
diversos setores, desde a confecção de fantasias até a hotelaria. A cada ano, o 
Carnaval de Vitória continua a se reinventar, mantendo suas tradições ao mesmo 
tempo em que incorpora novidades, refletindo as mudanças sociais e culturais 
da sociedade capixaba. Atualmente realizado com uma semana de antecedência 
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aos desfiles do Rio de Janeiro, as escolas de samba de Vitória conquistaram 
grande visibilidade nacional com transmissão televisiva e participação de 
grandes sambistas e artistas do Rio, São Paulo e Amazonas. 
O carnaval das escolas de samba em várias cidades do Brasil apresenta 
uma dinâmica complexa em relação a outras festividades e expressões culturais. 
Essa relação envolve aspectos positivos e negativos. Há, por um lado, conflitos 
entre diferentes tipos de carnaval em termos de apoio do governo, cobertura da 
mídia e financiamento. Por outro lado, existe um diálogo facilitado pelas 
conexões estabelecidas entre os participantes. No contexto de Pernambuco e 
sua capital, Recife, surge uma questão interessante: como as escolas de samba 
mantêm sua presença em uma cidade onde o frevo é a forma de celebração do 
carnaval mais reconhecida internacionalmente? 
 
Bibliografia 
AZEVEDO,Clara de Assunção; OLIVEIRA, Felipe Gabriel. "Para além do 
Anhembi: as escolas de samba de São Paulo e outras práticas de sociabilidade". 
Ponto Urbe, nº 23, 2018. 
BARBIERI, Ricardo José. Carnaval em Manaus (AM): a cidade e suas escolas 
de samba. Tese de Doutorado em Antropologia Cultural no Programa de Pós-
Graduação em sociologia e Antropologia da UFRJ, Rio de Janeiro, 2016. 
BARBOZA da Silva, Marília T.; SANTOS, Lygia. Paulo da Portela. Funarte, 1980. 
CABRAL, Sérgio. As Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Lazuli, 2011. 
Ouça o podcast "As escolas de samba entre Recife e o Rio de Janeiro"
Da série "carnaval sem 
fronteiras" no podcast 
Carnavalize Hugo Menezes, 
antropólogo e professor da 
UFPE, e Marize Félix, vice-
presidente da GRES Gigantes do 
Samba, mostraram que a capital 
pernambucana também tem a 
força do samba em meio a 
tantas festas populares. O papo 
trouxe as proximidades e 
diferenças entre as agremiações 
cariocas e recifenses
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CANDEIA Filho, Antônio; ARAÚJO, Isnard. Escola de Samba: Árvore que 
Esqueceu a Raiz. Selo Carnavalize, 2022. 
FERREIRA, Felipe. O livro de ouro do carnaval brasileiro. Rio de Janeiro: 
Ediouro, 2004. 
JUPIARA, Aloy; OTAVIO, Chico. Os Porões da Contravenção: Jogo do Bicho e 
Ditadura Militar: a história da aliança que profissionalizou o crime organizado. 1ª 
ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. 
MONTEIRO, Lucas. Carnaval Capixaba: Histórias, Honras e Glórias. Editora do 
Autor, 2010.

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