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Guia de aula_Conceito de Cultura

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Guia de aula 
 
Agente Facilitador de Carnavais e 
Festas Populares 
 
 
Festas Rituais e sociedade 
Semana 1 
O conceito de cultura 
 
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Apresentação 
 
 
Vamos embarcar em uma jornada empolgante pelo incrível universo da 
cultura e sua importância em nossas vidas do dia a dia. A cultura é como uma 
espécie de "jeitinho" de viver e se expressar que todas as pessoas têm. Ela 
influencia quem somos, o que acreditamos e até as escolhas que fazemos na 
vida. Quando compreendemos melhor o que é cultura, nos tornamos mais 
preparados para encarar os desafios que surgem no trabalho e na nossa rotina. 
Aqui também vamos explorar um tema superimportante: o carnaval, as 
festas e todos os detalhes criativos que fazem esses eventos serem tão 
especiais. Vamos fazer isso em mente aberta, deixando de lado qualquer 
preconceito ou ideias pré-concebidas. Ao fazer isso, podemos aprender a 
valorizar ainda mais as tradições populares e, de quebra, enxergar nelas 
oportunidades de crescimento na nossa vida profissional. 
Então, prepare-se para mergulhar no mundo incrível da cultura e descobrir 
como ela molda nossa identidade e nossas festas, abrindo portas para um futuro 
profissional brilhante! 
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Objetivo(s) 
Ao final dos estudos dessa semana, esperamos que você seja capaz de: 
● Compreender o conceito de cultura e debates em torno do tema. 
● Reconhecer a diversidade cultural bem como festas e carnavais como 
produtos da diversidade cultural. 
● Compreender o tema da apropriação cultural e suas implicações na 
produção das festas e carnavais. 
 
Plano de estudos 
Nesta semana, você deverá: 
 
● Ler o guia de estudos semanal. 
● Percorrer a trilha de aprendizagem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O que é cultura? 
Cultura é a expressão da identidade de um povo, é o modo singular que 
eles têm de viver e de se expressar. Pense na cultura como um tesouro que uma 
comunidade guarda e transmite de geração em geração. Esse tesouro contém 
elementos preciosos, como valores, tradições, crenças e atitudes, que são 
compartilhados por todos os membros dessa comunidade. 
É como se a cultura fosse um grande mosaico, onde cada peça representa 
algo significativo para aquelas pessoas. Pode ser a maneira como elas festejam 
suas datas especiais, as lendas que narram, as comidas que cozinham ou até 
mesmo como se comunicam entre si. 
Uma coisa que você precisa saber sobre a cultura é que ela não é estática. 
Ela não é um conjunto de regras e costumes que nunca mudam. Pelo contrário, 
ela é dinâmica, viva e criativa. Ela se transforma através de conflitos e diálogos. 
Pense em como diferentes grupos culturais têm visões diferentes sobre o que é 
certo e errado. Eles discutem, compartilham experiências e, às vezes, chegam 
a um consenso. É como se a cultura fosse uma interação constante entre 
pessoas de diferentes histórias. 
Uma forma de diferenciar o conceito antropológico de cultura do senso 
comum onde a cultura é um adjetivo é entender que, para a antropologia, cultura 
é um conjunto de significados que dão sentido a uma sociedade, e não uma 
qualidade ou um nível de desenvolvimento de um povo. Segundo Roque Laraia, 
em seu livro Cultura: Um Conceito Antropológico, a cultura é o todo complexo 
que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra 
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma 
sociedade. Essa definição foi formulada por Edward Tylor em 1871 e é 
considerada a primeira definição antropológica de cultura. 
A cultura, portanto, não é algo inato ou determinado pela biologia ou pela 
geografia, mas sim algo aprendido e transmitido de geração em geração. A 
cultura também não é algo estático ou homogêneo, mas sim dinâmico e diverso. 
A cultura influencia e é influenciada pelo comportamento, pela visão de mundo, 
pelo plano biológico e pela identidade dos indivíduos e dos grupos sociais. A 
cultura também não é algo superior ou inferior, mas sim diferente. Por isso, a 
antropologia busca compreender as culturas sem julgá-las ou compará-las, 
evitando o etnocentrismo e buscando o relativismo cultural (veremos mais sobre 
isso na próxima aula). 
 
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A cultura é frequentemente descrita como o conjunto de práticas, crenças 
e costumes que caracterizam um grupo ou sociedade. Tradicionalmente, a 
antropologia a vê como um sistema estático e bem definido. No entanto, Roy 
Wagner, um antropólogo renomado, desafiou essa visão com uma abordagem 
inovadora. Em seu trabalho seminal, "A Invenção da Cultura", Wagner propôs 
que a cultura é um processo contínuo de invenção. Para ele, cultura não é um 
conjunto de elementos fixos, mas algo que é constantemente criado e recriado 
pelas pessoas em suas interações diárias. Wagner argumentou que esse 
processo de invenção é um ato criativo, uma maneira dinâmica de entender e 
dar sentido ao mundo. Wagner abordou a tradição como parte integrante da 
invenção cultural. Ele sustentou que as tradições não são apenas heranças 
passivas, mas são ativamente formadas e reimaginadas. Essa visão sublinha 
que mesmo as práticas e crenças mais enraizadas estão sujeitas a mudanças e 
reinterpretações. 
Assim, podemos perceber que o conceito antropológico de cultura é muito 
mais amplo e complexo do que o senso comum onde a cultura é um adjetivo. O 
senso comum tende a associar a cultura a um grau de civilização, de erudição 
ou de refinamento de um povo, ignorando a diversidade e a riqueza das 
manifestações culturais humanas. O senso comum também tende a hierarquizar 
as culturas, atribuindo valores positivos ou negativos a elas, sem levar em conta 
os contextos históricos e sociais em que elas se desenvolvem. O senso comum 
ainda tende a naturalizar ou essencializar as culturas, tratando-as como algo fixo 
ou imutável, sem reconhecer as transformações e as interações que elas sofrem 
ao longo do tempo. 
Entender o que é cultura é como desvendar os mistérios de um lugar ou 
grupo de pessoas, e isso nos ajuda a nos conectarmos com elas e a 
compreendermos melhor o mundo em que vivemos. 
Assista ao vídeo
Assista ao vídeo "O 
que é cultura?" do 
canal 
LeituraObrigaHistória 
em sua trilha de 
aprendizagem.
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A diversidade cultural no brasil 
A cultura brasileira é uma das mais ricas e diversas do mundo, pois é fruto 
da interação de vários povos que aqui chegaram. Vamos conhecer um pouco 
mais sobre essa história e como ela se reflete na nossa sociedade. 
O Brasil foi colonizado por portugueses, mas também recebeu imigrantes 
de outros países europeus, como Itália, Espanha, Alemanha e outros. Além 
disso, os africanos de diferentes sociedades ou nações como Bantos, Jejês e 
Malês; foram trazidos como pessoas escravizadas e os indígenas em uma 
multiplicidade de etnias já habitavam o território antes da chegada dos europeus. 
Esses grupos étnicos contribuíram com seus costumes, crenças, línguas e artes 
para a formação da identidade cultural brasileira. Todos esses grupos étnicos 
deixaram sua marca na nossa cultura, na nossa arte, na nossa religião, na nossa 
comida, na nossa música e na nossa forma de ser. A cultura brasileira é fruto 
dessa diversidade, mas também dos conflitos e das desigualdades que 
marcaram a nossa história. Por isso, precisamos conhecer e valorizar as nossas 
raízes, mas também reconhecer e combater as injustiças que ainda persistem. 
 
 
 
 
 
 
 
Trecho do livro "O Povo Brasileiro: Formação e o sentido do 
Brasil" de Darcy Ribeiro. 
 
 
 
 
 
Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão 
possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a 
crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de 
nós a gente sentida e sofrida que somose a gente 
insensível e brutal, que também somos." 
Trechos de “Você tem cultura?” de Roberto DaMatta (Disponível na 
íntegra na trilha de aprendizagem) 
Outro dia ouvi uma pessoa dizer que “Maria não tinha cultura”, era “ignorante dos fatos básicos da política, 
economia e literatura”. Uma semana depois, no Museu onde trabalho, conversava com alunos sobre “a 
cultura dos índios Apinayé de Goiás”, que havia estudado de 1962 até 1976, quando publiquei um livro 
sobre eles (Um mundo dividido). Refletindo sobre os dois usos de uma mesma palavra, decidi que esta 
seria a melhor forma de discutir a ideia ou o conceito de cultura tal como nós, estudantes da sociedade a 
concebemos. Ou, melhor ainda, apresentar algumas noções sobre a cultura e o que ela quer dizer, não 
como uma simples palavra, mas como uma categoria intelectual um conceito que pode nos ajudar a 
compreender melhor o que acontece no mundo em nossa volta. 
Retomemos os exemplos mencionados porque eles encerram os dois sentidos mais comuns da palavra. 
No primeiro, usa-se cultura como sinônimo de sofisticação, de sabedoria, de educação no sentido restrito 
do termo. Quer dizer, quando falamos que “Maria não tem cultura”, e que “João é culto”, estamos nos 
referindo a um certo estado educacional destas pessoas, querendo indicar com isto sua capacidade de 
compreender ou organizar certos dados e situações. Cultura aqui é equivalente a volume de leituras, a 
controle de informações, a títulos universitários e chega até mesmo a ser confundido com inteligência, 
como se a habilidade para realizar certas operações mentais e lógicas (que definem de fato a inteligência), 
fosse algo a ser medido ou arbitrado pelo número de livros que uma pessoa leu, as línguas que pode 
falar, ou aos quadros e pintores que pode, de memória, enumerar. (...) 
Assim, o carnavalesco e o religioso não podem ser classificados em termos de superior ou inferior ou 
como articulados a uma. "cultura autêntica" e superior, mas devem ser vistos nas suas relações que são 
complementares. O que significa dizer que tanto há cultura no carnaval quanto na procissão e nas festas 
cívicas, pois que cada uma delas é um código capaz de permitir um julgamento e uma atuação sobre o 
mundo social no Brasil. Como disse uma vez, essas festas nos revelam leituras da sociedade brasileira 
por nós mesmos e é nesta direção que devemos discutir o conteúdo e a. forma de cada cultura ou 
subcultura em uma sociedade (veja-se o meu livro, Carnavais; Malandros e Heróis). 
No sentido antropológico, portanto, a cultura é um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e 
deve ser classificado. Ela, como os textos teatrais, não pode prever completamente como iremos nos 
sentires em cada papel que devemos ou temos necessariamente que desempenhar, mas indica maneiras 
gerais e exemplos de como pessoas que viveram antes de nós os desempenharam. Mas isso não impede, 
conforme sabemos, emoções. Do mesmo modo que um jogo de futebol com suas regras fixas não impede 
renovadas emoções em cada jogo. 
 
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A diversidade cultural no Brasil 
A cultura brasileira é uma das mais ricas e diversas do mundo, pois é fruto 
da interação de vários povos que aqui chegaram. Vamos conhecer um pouco 
mais sobre essa história e como ela se reflete na nossa sociedade. 
O Brasil foi colonizado por portugueses, mas também recebeu imigrantes 
de outros países europeus, como Itália, Espanha, Alemanha e outros. Além 
disso, os africanos de diferentes sociedades ou nações como Bantos, Jejês e 
Malês; foram trazidos como pessoas escravizadas e os indígenas em uma 
multiplicidade de etnias já habitavam o território antes da chegada dos europeus. 
Esses grupos étnicos contribuíram com seus costumes, crenças, línguas e artes 
para a formação da identidade cultural brasileira. Todos esses grupos étnicos 
deixaram sua marca na nossa cultura, na nossa arte, na nossa religião, na nossa 
comida, na nossa música e na nossa forma de ser. A cultura brasileira é fruto 
dessa diversidade, mas também dos conflitos e das desigualdades que 
marcaram a nossa história. Por isso, precisamos conhecer e valorizar as nossas 
raízes, mas também reconhecer e combater as injustiças que ainda persistem. 
Diante de tanta variedade, 
surge a ideia de diversidade 
cultural. Ela significa que cada 
cultura tem sua própria forma de 
ver o mundo e de se expressar. E 
o que devemos fazer diante disso? 
Devemos respeitar e valorizar as 
diferenças, pois elas enriquecem a 
nossa convivência. Isso é o que 
chamamos de relativismo cultural. 
Ele nos mostra que não há uma 
cultura superior ou inferior à outra, 
mas sim diferentes formas de ser 
humano. 
 
O Brasil é um país que sabe 
celebrar a sua cultura. Temos festas populares que mostram a nossa alegria e 
criatividade, como o Carnaval, as festas juninas, o folclore e muitas outras. 
Temos uma culinária deliciosa que mistura ingredientes de várias origens, como 
a feijoada, a pizza, o acarajé e o churrasco. Temos uma música contagiante que 
vai do samba ao rock, passando pelo forró, pelo funk e pelo rap. Temos uma arte 
que expressa a nossa beleza e diversidade, como a literatura, o cinema, o teatro 
e as artes plásticas. 
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Cultura e identidade 
A cultura é um elemento fundamental na construção da nossa 
identidade, pois nos ajuda a compreender quem somos, de onde viemos e para 
onde vamos. A cultura, como vimos, é formada por um conjunto de valores, 
crenças, costumes, tradições, símbolos, linguagens e manifestações artísticas 
que caracterizam um grupo social. A cultura nos influencia desde o nascimento, 
moldando nossa forma de pensar, sentir e agir. 
No entanto, também vimos e voltaremos sempre a frisar que a cultura 
não é algo estático e imutável. Ela está em constante transformação, em 
diálogo com outras culturas e com as mudanças históricas, políticas, 
econômicas e ambientais. A cultura também é diversa e plural, pois existem 
diferentes formas de expressão cultural dentro de uma mesma sociedade. Por 
isso, é importante reconhecer e valorizar a diversidade cultural como uma 
riqueza humana. 
A identidade está intrinsecamente relacionada com a cultura, pois é 
moldada pelas crenças, valores, tradições e normas que uma determinada 
cultura abriga. A forma como uma pessoa se identifica, seja em termos de 
gênero, sexualidade, etnia, religião ou outros aspectos, muitas vezes é 
influenciada pela cultura em que ela foi criada. Por exemplo, em culturas que 
valorizam a individualidade e a autenticidade, as pessoas podem sentir-se mais 
Dica de filme/série: Assista à série documental "Guerras do Brasil"
Sinopse
A história do Brasil passa, e muito, 
pela história da escravidão. Cerca de 
12 milhões de negros foram 
arrastados de suas terras e trazidos, 
como escravos, para trabalhar no 
Brasil e formar essa nação. Os 
grandes conflitos brasileiros ao 
longo de 5 séculos deixam claro que 
a história do país não é nada 
pacífica. Nesta série, grandes 
historiadores, antropólogos, 
jornalistas refletem sobre 5 grandes 
conflitos de nossa história: As 
Guerras da Conquista, As Guerras de 
Palmares, A Guerra do Paraguai, A 
Revolução de 30 e A Guerra do 
Tráfico.
Direção: Luiz Bolognesi
Ano da produção: 2019
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à vontade para expressar sua identidade de forma aberta. Em contraste, em 
culturas mais conservadoras ou tradicionais, as normas culturais podem limitar 
a expressão da identidade. 
O Brasil é um país rico em diversidade cultural, fruto de sua história de 
colonização, imigração e miscigenação. Os brasileiros constroem sua 
identidade a partir da interação com diferentes aspectos culturais, como a 
língua, a música, a culinária, a religião, o esporte, o folclore e as festas 
populares. Cada região do Brasil tem suas próprias características e tradições, 
que refletem as diferentesinfluências culturais que moldaram a identidade 
nacional. 
Apropriação cultural 
O fenômeno da apropriação cultural tem ganhado cada vez mais destaque 
nos debates contemporâneos sobre cultura, identidade e poder. Em essência, 
trata-se de tomar ou utilizar elementos de uma cultura que não é a sua própria, 
especialmente sem compreender, respeitar ou dar crédito aos seus contextos 
originais. Esse tipo de acontecimento pode ocorrer em diversas áreas da vida, 
como arte, música, linguagem, vestuário e rituais religiosos. 
Embora seja natural haver trocas culturais na experiência humana, a 
apropriação cultural se torna problemática quando acontece em um contexto de 
desigualdade de poder. Nesses casos específicos, membros de uma cultura 
dominante frequentemente “apropriam-se” de elementos culturais de uma cultura 
marginalizada sem demonstrar o mesmo nível de respeito ou compreensão 
adequada. Isso pode resultar na banalização ou até mesmo na demonização 
desses elementos culturais. 
Um dos autores mais interessantes para pensarmos sobre o assunto e 
que nos desloca de possíveis certezas para uma outra visão é Rodney William. 
Em seu livro “Apropriação cultural” (2019), o autor coloca ênfase na visão de que 
as estruturas de opressão que caracterizam uma visão colonialista, utilizam a 
apropriação cultural como estratégia de reforço da dominação cultural. 
A obra de William (2019) representa um importante diálogo interdisciplinar 
com diversos estudiosos do campo, com o objetivo de direcionar o olhar do leitor 
para as dinâmicas que sustentam dispositivos de invisibilidade, silenciamento e, 
em última instância, morte simbólica. Ele introduz em sua discussão o conceito 
de apropriação cultural conforme formulado por Abdias Nascimento. Nascimento 
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argumenta que genocídio vai além da eliminação física e abarca a morte cultural, 
decorrente do uso descontextualizado da cultura de um povo. 
Para Nascimento e William, a apropriação cultural é mais do que um mero 
fenômeno de troca cultural; ela atua como um mecanismo insidioso de opressão. 
Nesse esquema, o grupo dominante — geralmente de orientação capitalista — 
usurpa erroneamente elementos da cultura de grupos marginalizados, 
esvaziando seus significados, tradições e práticas essenciais. Essa distorção 
coloca em risco a continuidade e a integridade dos grupos étnicos subjugados. 
No contexto brasileiro, o mito da democracia racial tem obscurecido as 
verdadeiras dimensões da opressão e da exploração cultural, particularmente 
contra populações indígenas e afro-brasileiras. O país, afirma William, é um 
palco onde a cultura torna-se um campo de batalha simbólico. O poder 
hegemônico apodera-se da cultura dos grupos subalternos, perpetuando noções 
de superioridade branca e inferioridade étnica, despojando esses grupos de sua 
identidade cultural. 
Como vemos, segundo William, em uma sociedade capitalista, a 
apropriação cultural é também uma estratégia do colonialismo e do racismo 
estrutural. Ela atua desmantelando a coesão dentro dos grupos sociais 
marginalizados e exacerbando as discriminações e desigualdades já existentes. 
Tais práticas de apropriação acabam por minar as resistências desses grupos, 
que constantemente têm de reinventar formas de manter suas tradições, 
símbolos e identidades vivas. 
Note-se que as questões relacionadas à cultura e à diversidade cultural 
desafiam muitas de nossas preconcepções. Elas incitam uma série de 
indagações que desnudam como certos eventos culturais, tão carinhosamente 
celebrados em nossas vidas — como festas e carnavais — carregam traços da 
nossa história conturbada pela violência colonial. Através dessas manifestações 
culturais, as comunidades encontram formas de resistência e, 
consequentemente, a narrativa de suas experiências torna-se parte integrante 
da nossa história coletiva. 
É imprudente ignorar que, mesmo em tais celebrações, surgem debates 
significativos. Questões acerca da apropriação de elementos culturais por outros 
grupos com os quais esses eventos interagem podem ser complexas e 
controversas. É um desafio estabelecer critérios definitivos sobre o que é "certo" 
ou "errado" em relação à apropriação cultural sem um exame profundo e 
contextualizado do tema. 
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O que propomos aqui é introduzir esse tópico complexo e multifacetado. 
Nossa intenção é catalisar uma reflexão consciente, encorajando cada indivíduo 
a se engajar de forma crítica nessa discussão. Ao fazer isso, esperamos criar 
um espaço para diálogos mais informados e nuances sobre os dilemas culturais, 
éticos e históricos que envolvem a apropriação cultural. 
 
 
Cultura, carnavais e festas populares 
O carnaval e as festas populares são manifestações culturais que 
expressam a diversidade e a criatividade do povo brasileiro. Esses eventos 
envolvem música, dança, arte, folclore, religião e identidade nacional, e são 
realizados em diferentes regiões do país, com características próprias e 
variadas. 
A cultura desempenha um papel essencial na organização e realização 
dessas festas, pois é através dela que se definem os temas, os ritmos, as 
fantasias, os símbolos e as tradições que compõem cada celebração. A cultura 
também é responsável por transmitir os valores, as crenças, as histórias e as 
memórias que estão por trás de cada manifestação popular. 
Devemos reconhecer, por exemplo, a importância das escolas de samba 
no simbolismo que marca o pertencimento à um lugar ou bairro. Não é à toa que 
ao pronunciar o nome do "Morro de Mangueira" imediatamente sua mente 
associa às cores verde e rosa. Ou ao falarmos do bairro de Oswaldo Cruz 
lembremos da Portela, de Madureira logo vem à mente junto do Mercadão, o 
Império Serrano. E indo além essas agremiações criam identificações para além 
Dica audiovisual
Assista ao programa 
sobre apropriação 
cultural exibido pelo 
"Caminhos da 
Reprotagem"na TV 
Brasil.
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do espaço em que estão sediadas: são torcedores e até mesmo desfilantes que 
moram em São Paulo, Minas Gerais, Amazonas e até mesmo em outros países 
como o Japão. 
As agremiações festivas são parte integrante do patrimônio imaterial 
brasileiro, que inclui também comidas típicas, festas religiosas e manifestações 
culturais diversas. Essas agremiações se expressam não apenas nos desfiles 
de carnaval, mas também em outras confraternizações, como feijoadas, festas 
de santos e enredos que homenageiam figuras sagradas. Além disso, em 
algumas cidades, as escolas de samba se envolvem em outras atividades 
lúdicas e esportivas ao longo do ano, como quadrilhas juninas, cirandas, futebol 
de várzea e até mesmo profissional. 
As escolas de samba são exemplares de como se posicionam de formas 
diversas durante seus cortejos e ensaios sobre temas diversos da sociedade 
brasileira, mas não apenas elas, outras festas podem ser representativas disto. 
Os Bois de Parintins, são casos exemplares de como temas de debates políticos 
e sociais são debatidos durante apresentações festivas. 
 O carnaval e as festas populares são, portanto, formas de expressão 
cultural que revelam a riqueza e a complexidade da sociedade brasileira, e que 
contribuem para a preservação e a valorização da sua diversidade. Esses 
eventos também são importantes para a economia, o turismo, a educação e a 
integração social do país, pois geram renda, emprego, lazer, conhecimento e 
convivência entre diferentes grupos e comunidades. 
 
 
 
 
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Cultura, carnavais e festas populares 
Iniciando nossa trajetória na compreensão da cultura popular brasileira, 
observamos que os enredos e temas dessas festividades são elementos 
fundamentais. Eles não apenas servem como um encadeamento para contar 
histórias, mas também oferecem perspectivas únicas e diversificadas. 
Nas escolasde samba, os enredos são de extrema importância. Eles 
são definidos e julgados com base em critérios específicos e contribuem 
significativamente para a construção de visões culturais. Cada escola de 
samba escolhe um tema que é desenvolvido em seu desfile, incluindo música, 
coreografia, fantasias e carros alegóricos. Esses temas frequentemente 
abordam aspectos históricos, culturais ou sociais do Brasil, oferecendo uma 
rica tapeçaria de expressões artísticas e narrativas. 
 
No Festival de Parintins, no Amazonas, os temas funcionam como eixos 
norteadores que são subdivididos conforme as noites de apresentação. Este 
festival é uma das maiores expressões culturais do Norte do Brasil e caracteriza-
se pela competição entre os bois Garantido e Caprichoso. Cada noite do festival 
é uma oportunidade para explorar diferentes aspectos da cultura amazônica e 
brasileira em geral, utilizando-se de músicas, danças, alegorias e performances 
teatrais para contar suas histórias. 
Dica audiovisual
Assista a entrevista de 
Carolina Grimião com 
o enredista da Unidos 
do Porto da Pedra 
Diego Araújo 
explicando passo a 
passo como acontece 
o início de um grande 
desfile.
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As quadrilhas juninas, por sua vez, selecionam temas que orientam a 
dramatização de suas apresentações. Estas festas, que ocorrem em junho, 
celebram santos católicos como São João, São Pedro e Santo Antônio e são 
caracterizadas por danças típicas, músicas regionais, e trajes que remetem ao 
passado rural do Brasil. O tema escolhido pela quadrilha frequentemente 
influencia as músicas, os diálogos e até mesmo a coreografia, contribuindo para 
a narrativa geral da apresentação. 
Além disso, grupos de clóvis ou bate-bolas, comuns no carnaval, também 
definem temas específicos para cada saída. Esses grupos, muitas vezes, trazem 
elementos de crítica social e humor em suas apresentações, utilizando fantasias 
elaboradas e performances nas ruas para engajar o público e refletir sobre 
diferentes aspectos da sociedade. 
Esses exemplos ilustram como os temas nas festas populares brasileiras 
não são apenas um meio de entretenimento, mas também uma forma de 
expressão cultural e artística que reflete e celebra a diversidade e a riqueza da 
cultura do Brasil. 
 
Bibliografia 
DaMatta, Roberto. "Você tem cultura?". In: O que faz o brasil, Brasil?. 6. ed. 
Rio de Janeiro: Rocco, 2023. p. 11-20 
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 12. ed. Rio de 
Janeiro: Zahar, 2023. 
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: a Formação e o Sentido do Brasil. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1995. 
WAGNER, Roy. A Invenção da Cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2010. 
WILLIAN, Rodney. Apropriação Cultural – Coleção Feminismos Plurais. São 
Paulo: Pólen, 2019.

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