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Guia de aula Agente Facilitador de Carnavais e Festas Populares Festas Rituais e sociedade Semana 1 O conceito de cultura Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 1 Apresentação Vamos embarcar em uma jornada empolgante pelo incrível universo da cultura e sua importância em nossas vidas do dia a dia. A cultura é como uma espécie de "jeitinho" de viver e se expressar que todas as pessoas têm. Ela influencia quem somos, o que acreditamos e até as escolhas que fazemos na vida. Quando compreendemos melhor o que é cultura, nos tornamos mais preparados para encarar os desafios que surgem no trabalho e na nossa rotina. Aqui também vamos explorar um tema superimportante: o carnaval, as festas e todos os detalhes criativos que fazem esses eventos serem tão especiais. Vamos fazer isso em mente aberta, deixando de lado qualquer preconceito ou ideias pré-concebidas. Ao fazer isso, podemos aprender a valorizar ainda mais as tradições populares e, de quebra, enxergar nelas oportunidades de crescimento na nossa vida profissional. Então, prepare-se para mergulhar no mundo incrível da cultura e descobrir como ela molda nossa identidade e nossas festas, abrindo portas para um futuro profissional brilhante! Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 2 Objetivo(s) Ao final dos estudos dessa semana, esperamos que você seja capaz de: ● Compreender o conceito de cultura e debates em torno do tema. ● Reconhecer a diversidade cultural bem como festas e carnavais como produtos da diversidade cultural. ● Compreender o tema da apropriação cultural e suas implicações na produção das festas e carnavais. Plano de estudos Nesta semana, você deverá: ● Ler o guia de estudos semanal. ● Percorrer a trilha de aprendizagem. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 3 O que é cultura? Cultura é a expressão da identidade de um povo, é o modo singular que eles têm de viver e de se expressar. Pense na cultura como um tesouro que uma comunidade guarda e transmite de geração em geração. Esse tesouro contém elementos preciosos, como valores, tradições, crenças e atitudes, que são compartilhados por todos os membros dessa comunidade. É como se a cultura fosse um grande mosaico, onde cada peça representa algo significativo para aquelas pessoas. Pode ser a maneira como elas festejam suas datas especiais, as lendas que narram, as comidas que cozinham ou até mesmo como se comunicam entre si. Uma coisa que você precisa saber sobre a cultura é que ela não é estática. Ela não é um conjunto de regras e costumes que nunca mudam. Pelo contrário, ela é dinâmica, viva e criativa. Ela se transforma através de conflitos e diálogos. Pense em como diferentes grupos culturais têm visões diferentes sobre o que é certo e errado. Eles discutem, compartilham experiências e, às vezes, chegam a um consenso. É como se a cultura fosse uma interação constante entre pessoas de diferentes histórias. Uma forma de diferenciar o conceito antropológico de cultura do senso comum onde a cultura é um adjetivo é entender que, para a antropologia, cultura é um conjunto de significados que dão sentido a uma sociedade, e não uma qualidade ou um nível de desenvolvimento de um povo. Segundo Roque Laraia, em seu livro Cultura: Um Conceito Antropológico, a cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade. Essa definição foi formulada por Edward Tylor em 1871 e é considerada a primeira definição antropológica de cultura. A cultura, portanto, não é algo inato ou determinado pela biologia ou pela geografia, mas sim algo aprendido e transmitido de geração em geração. A cultura também não é algo estático ou homogêneo, mas sim dinâmico e diverso. A cultura influencia e é influenciada pelo comportamento, pela visão de mundo, pelo plano biológico e pela identidade dos indivíduos e dos grupos sociais. A cultura também não é algo superior ou inferior, mas sim diferente. Por isso, a antropologia busca compreender as culturas sem julgá-las ou compará-las, evitando o etnocentrismo e buscando o relativismo cultural (veremos mais sobre isso na próxima aula). Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 4 A cultura é frequentemente descrita como o conjunto de práticas, crenças e costumes que caracterizam um grupo ou sociedade. Tradicionalmente, a antropologia a vê como um sistema estático e bem definido. No entanto, Roy Wagner, um antropólogo renomado, desafiou essa visão com uma abordagem inovadora. Em seu trabalho seminal, "A Invenção da Cultura", Wagner propôs que a cultura é um processo contínuo de invenção. Para ele, cultura não é um conjunto de elementos fixos, mas algo que é constantemente criado e recriado pelas pessoas em suas interações diárias. Wagner argumentou que esse processo de invenção é um ato criativo, uma maneira dinâmica de entender e dar sentido ao mundo. Wagner abordou a tradição como parte integrante da invenção cultural. Ele sustentou que as tradições não são apenas heranças passivas, mas são ativamente formadas e reimaginadas. Essa visão sublinha que mesmo as práticas e crenças mais enraizadas estão sujeitas a mudanças e reinterpretações. Assim, podemos perceber que o conceito antropológico de cultura é muito mais amplo e complexo do que o senso comum onde a cultura é um adjetivo. O senso comum tende a associar a cultura a um grau de civilização, de erudição ou de refinamento de um povo, ignorando a diversidade e a riqueza das manifestações culturais humanas. O senso comum também tende a hierarquizar as culturas, atribuindo valores positivos ou negativos a elas, sem levar em conta os contextos históricos e sociais em que elas se desenvolvem. O senso comum ainda tende a naturalizar ou essencializar as culturas, tratando-as como algo fixo ou imutável, sem reconhecer as transformações e as interações que elas sofrem ao longo do tempo. Entender o que é cultura é como desvendar os mistérios de um lugar ou grupo de pessoas, e isso nos ajuda a nos conectarmos com elas e a compreendermos melhor o mundo em que vivemos. Assista ao vídeo Assista ao vídeo "O que é cultura?" do canal LeituraObrigaHistória em sua trilha de aprendizagem. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 5 A diversidade cultural no brasil A cultura brasileira é uma das mais ricas e diversas do mundo, pois é fruto da interação de vários povos que aqui chegaram. Vamos conhecer um pouco mais sobre essa história e como ela se reflete na nossa sociedade. O Brasil foi colonizado por portugueses, mas também recebeu imigrantes de outros países europeus, como Itália, Espanha, Alemanha e outros. Além disso, os africanos de diferentes sociedades ou nações como Bantos, Jejês e Malês; foram trazidos como pessoas escravizadas e os indígenas em uma multiplicidade de etnias já habitavam o território antes da chegada dos europeus. Esses grupos étnicos contribuíram com seus costumes, crenças, línguas e artes para a formação da identidade cultural brasileira. Todos esses grupos étnicos deixaram sua marca na nossa cultura, na nossa arte, na nossa religião, na nossa comida, na nossa música e na nossa forma de ser. A cultura brasileira é fruto dessa diversidade, mas também dos conflitos e das desigualdades que marcaram a nossa história. Por isso, precisamos conhecer e valorizar as nossas raízes, mas também reconhecer e combater as injustiças que ainda persistem. Trecho do livro "O Povo Brasileiro: Formação e o sentido do Brasil" de Darcy Ribeiro. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somose a gente insensível e brutal, que também somos." Trechos de “Você tem cultura?” de Roberto DaMatta (Disponível na íntegra na trilha de aprendizagem) Outro dia ouvi uma pessoa dizer que “Maria não tinha cultura”, era “ignorante dos fatos básicos da política, economia e literatura”. Uma semana depois, no Museu onde trabalho, conversava com alunos sobre “a cultura dos índios Apinayé de Goiás”, que havia estudado de 1962 até 1976, quando publiquei um livro sobre eles (Um mundo dividido). Refletindo sobre os dois usos de uma mesma palavra, decidi que esta seria a melhor forma de discutir a ideia ou o conceito de cultura tal como nós, estudantes da sociedade a concebemos. Ou, melhor ainda, apresentar algumas noções sobre a cultura e o que ela quer dizer, não como uma simples palavra, mas como uma categoria intelectual um conceito que pode nos ajudar a compreender melhor o que acontece no mundo em nossa volta. Retomemos os exemplos mencionados porque eles encerram os dois sentidos mais comuns da palavra. No primeiro, usa-se cultura como sinônimo de sofisticação, de sabedoria, de educação no sentido restrito do termo. Quer dizer, quando falamos que “Maria não tem cultura”, e que “João é culto”, estamos nos referindo a um certo estado educacional destas pessoas, querendo indicar com isto sua capacidade de compreender ou organizar certos dados e situações. Cultura aqui é equivalente a volume de leituras, a controle de informações, a títulos universitários e chega até mesmo a ser confundido com inteligência, como se a habilidade para realizar certas operações mentais e lógicas (que definem de fato a inteligência), fosse algo a ser medido ou arbitrado pelo número de livros que uma pessoa leu, as línguas que pode falar, ou aos quadros e pintores que pode, de memória, enumerar. (...) Assim, o carnavalesco e o religioso não podem ser classificados em termos de superior ou inferior ou como articulados a uma. "cultura autêntica" e superior, mas devem ser vistos nas suas relações que são complementares. O que significa dizer que tanto há cultura no carnaval quanto na procissão e nas festas cívicas, pois que cada uma delas é um código capaz de permitir um julgamento e uma atuação sobre o mundo social no Brasil. Como disse uma vez, essas festas nos revelam leituras da sociedade brasileira por nós mesmos e é nesta direção que devemos discutir o conteúdo e a. forma de cada cultura ou subcultura em uma sociedade (veja-se o meu livro, Carnavais; Malandros e Heróis). No sentido antropológico, portanto, a cultura é um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e deve ser classificado. Ela, como os textos teatrais, não pode prever completamente como iremos nos sentires em cada papel que devemos ou temos necessariamente que desempenhar, mas indica maneiras gerais e exemplos de como pessoas que viveram antes de nós os desempenharam. Mas isso não impede, conforme sabemos, emoções. Do mesmo modo que um jogo de futebol com suas regras fixas não impede renovadas emoções em cada jogo. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 6 A diversidade cultural no Brasil A cultura brasileira é uma das mais ricas e diversas do mundo, pois é fruto da interação de vários povos que aqui chegaram. Vamos conhecer um pouco mais sobre essa história e como ela se reflete na nossa sociedade. O Brasil foi colonizado por portugueses, mas também recebeu imigrantes de outros países europeus, como Itália, Espanha, Alemanha e outros. Além disso, os africanos de diferentes sociedades ou nações como Bantos, Jejês e Malês; foram trazidos como pessoas escravizadas e os indígenas em uma multiplicidade de etnias já habitavam o território antes da chegada dos europeus. Esses grupos étnicos contribuíram com seus costumes, crenças, línguas e artes para a formação da identidade cultural brasileira. Todos esses grupos étnicos deixaram sua marca na nossa cultura, na nossa arte, na nossa religião, na nossa comida, na nossa música e na nossa forma de ser. A cultura brasileira é fruto dessa diversidade, mas também dos conflitos e das desigualdades que marcaram a nossa história. Por isso, precisamos conhecer e valorizar as nossas raízes, mas também reconhecer e combater as injustiças que ainda persistem. Diante de tanta variedade, surge a ideia de diversidade cultural. Ela significa que cada cultura tem sua própria forma de ver o mundo e de se expressar. E o que devemos fazer diante disso? Devemos respeitar e valorizar as diferenças, pois elas enriquecem a nossa convivência. Isso é o que chamamos de relativismo cultural. Ele nos mostra que não há uma cultura superior ou inferior à outra, mas sim diferentes formas de ser humano. O Brasil é um país que sabe celebrar a sua cultura. Temos festas populares que mostram a nossa alegria e criatividade, como o Carnaval, as festas juninas, o folclore e muitas outras. Temos uma culinária deliciosa que mistura ingredientes de várias origens, como a feijoada, a pizza, o acarajé e o churrasco. Temos uma música contagiante que vai do samba ao rock, passando pelo forró, pelo funk e pelo rap. Temos uma arte que expressa a nossa beleza e diversidade, como a literatura, o cinema, o teatro e as artes plásticas. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 7 Cultura e identidade A cultura é um elemento fundamental na construção da nossa identidade, pois nos ajuda a compreender quem somos, de onde viemos e para onde vamos. A cultura, como vimos, é formada por um conjunto de valores, crenças, costumes, tradições, símbolos, linguagens e manifestações artísticas que caracterizam um grupo social. A cultura nos influencia desde o nascimento, moldando nossa forma de pensar, sentir e agir. No entanto, também vimos e voltaremos sempre a frisar que a cultura não é algo estático e imutável. Ela está em constante transformação, em diálogo com outras culturas e com as mudanças históricas, políticas, econômicas e ambientais. A cultura também é diversa e plural, pois existem diferentes formas de expressão cultural dentro de uma mesma sociedade. Por isso, é importante reconhecer e valorizar a diversidade cultural como uma riqueza humana. A identidade está intrinsecamente relacionada com a cultura, pois é moldada pelas crenças, valores, tradições e normas que uma determinada cultura abriga. A forma como uma pessoa se identifica, seja em termos de gênero, sexualidade, etnia, religião ou outros aspectos, muitas vezes é influenciada pela cultura em que ela foi criada. Por exemplo, em culturas que valorizam a individualidade e a autenticidade, as pessoas podem sentir-se mais Dica de filme/série: Assista à série documental "Guerras do Brasil" Sinopse A história do Brasil passa, e muito, pela história da escravidão. Cerca de 12 milhões de negros foram arrastados de suas terras e trazidos, como escravos, para trabalhar no Brasil e formar essa nação. Os grandes conflitos brasileiros ao longo de 5 séculos deixam claro que a história do país não é nada pacífica. Nesta série, grandes historiadores, antropólogos, jornalistas refletem sobre 5 grandes conflitos de nossa história: As Guerras da Conquista, As Guerras de Palmares, A Guerra do Paraguai, A Revolução de 30 e A Guerra do Tráfico. Direção: Luiz Bolognesi Ano da produção: 2019 Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 8 à vontade para expressar sua identidade de forma aberta. Em contraste, em culturas mais conservadoras ou tradicionais, as normas culturais podem limitar a expressão da identidade. O Brasil é um país rico em diversidade cultural, fruto de sua história de colonização, imigração e miscigenação. Os brasileiros constroem sua identidade a partir da interação com diferentes aspectos culturais, como a língua, a música, a culinária, a religião, o esporte, o folclore e as festas populares. Cada região do Brasil tem suas próprias características e tradições, que refletem as diferentesinfluências culturais que moldaram a identidade nacional. Apropriação cultural O fenômeno da apropriação cultural tem ganhado cada vez mais destaque nos debates contemporâneos sobre cultura, identidade e poder. Em essência, trata-se de tomar ou utilizar elementos de uma cultura que não é a sua própria, especialmente sem compreender, respeitar ou dar crédito aos seus contextos originais. Esse tipo de acontecimento pode ocorrer em diversas áreas da vida, como arte, música, linguagem, vestuário e rituais religiosos. Embora seja natural haver trocas culturais na experiência humana, a apropriação cultural se torna problemática quando acontece em um contexto de desigualdade de poder. Nesses casos específicos, membros de uma cultura dominante frequentemente “apropriam-se” de elementos culturais de uma cultura marginalizada sem demonstrar o mesmo nível de respeito ou compreensão adequada. Isso pode resultar na banalização ou até mesmo na demonização desses elementos culturais. Um dos autores mais interessantes para pensarmos sobre o assunto e que nos desloca de possíveis certezas para uma outra visão é Rodney William. Em seu livro “Apropriação cultural” (2019), o autor coloca ênfase na visão de que as estruturas de opressão que caracterizam uma visão colonialista, utilizam a apropriação cultural como estratégia de reforço da dominação cultural. A obra de William (2019) representa um importante diálogo interdisciplinar com diversos estudiosos do campo, com o objetivo de direcionar o olhar do leitor para as dinâmicas que sustentam dispositivos de invisibilidade, silenciamento e, em última instância, morte simbólica. Ele introduz em sua discussão o conceito de apropriação cultural conforme formulado por Abdias Nascimento. Nascimento Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 9 argumenta que genocídio vai além da eliminação física e abarca a morte cultural, decorrente do uso descontextualizado da cultura de um povo. Para Nascimento e William, a apropriação cultural é mais do que um mero fenômeno de troca cultural; ela atua como um mecanismo insidioso de opressão. Nesse esquema, o grupo dominante — geralmente de orientação capitalista — usurpa erroneamente elementos da cultura de grupos marginalizados, esvaziando seus significados, tradições e práticas essenciais. Essa distorção coloca em risco a continuidade e a integridade dos grupos étnicos subjugados. No contexto brasileiro, o mito da democracia racial tem obscurecido as verdadeiras dimensões da opressão e da exploração cultural, particularmente contra populações indígenas e afro-brasileiras. O país, afirma William, é um palco onde a cultura torna-se um campo de batalha simbólico. O poder hegemônico apodera-se da cultura dos grupos subalternos, perpetuando noções de superioridade branca e inferioridade étnica, despojando esses grupos de sua identidade cultural. Como vemos, segundo William, em uma sociedade capitalista, a apropriação cultural é também uma estratégia do colonialismo e do racismo estrutural. Ela atua desmantelando a coesão dentro dos grupos sociais marginalizados e exacerbando as discriminações e desigualdades já existentes. Tais práticas de apropriação acabam por minar as resistências desses grupos, que constantemente têm de reinventar formas de manter suas tradições, símbolos e identidades vivas. Note-se que as questões relacionadas à cultura e à diversidade cultural desafiam muitas de nossas preconcepções. Elas incitam uma série de indagações que desnudam como certos eventos culturais, tão carinhosamente celebrados em nossas vidas — como festas e carnavais — carregam traços da nossa história conturbada pela violência colonial. Através dessas manifestações culturais, as comunidades encontram formas de resistência e, consequentemente, a narrativa de suas experiências torna-se parte integrante da nossa história coletiva. É imprudente ignorar que, mesmo em tais celebrações, surgem debates significativos. Questões acerca da apropriação de elementos culturais por outros grupos com os quais esses eventos interagem podem ser complexas e controversas. É um desafio estabelecer critérios definitivos sobre o que é "certo" ou "errado" em relação à apropriação cultural sem um exame profundo e contextualizado do tema. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 10 O que propomos aqui é introduzir esse tópico complexo e multifacetado. Nossa intenção é catalisar uma reflexão consciente, encorajando cada indivíduo a se engajar de forma crítica nessa discussão. Ao fazer isso, esperamos criar um espaço para diálogos mais informados e nuances sobre os dilemas culturais, éticos e históricos que envolvem a apropriação cultural. Cultura, carnavais e festas populares O carnaval e as festas populares são manifestações culturais que expressam a diversidade e a criatividade do povo brasileiro. Esses eventos envolvem música, dança, arte, folclore, religião e identidade nacional, e são realizados em diferentes regiões do país, com características próprias e variadas. A cultura desempenha um papel essencial na organização e realização dessas festas, pois é através dela que se definem os temas, os ritmos, as fantasias, os símbolos e as tradições que compõem cada celebração. A cultura também é responsável por transmitir os valores, as crenças, as histórias e as memórias que estão por trás de cada manifestação popular. Devemos reconhecer, por exemplo, a importância das escolas de samba no simbolismo que marca o pertencimento à um lugar ou bairro. Não é à toa que ao pronunciar o nome do "Morro de Mangueira" imediatamente sua mente associa às cores verde e rosa. Ou ao falarmos do bairro de Oswaldo Cruz lembremos da Portela, de Madureira logo vem à mente junto do Mercadão, o Império Serrano. E indo além essas agremiações criam identificações para além Dica audiovisual Assista ao programa sobre apropriação cultural exibido pelo "Caminhos da Reprotagem"na TV Brasil. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 11 do espaço em que estão sediadas: são torcedores e até mesmo desfilantes que moram em São Paulo, Minas Gerais, Amazonas e até mesmo em outros países como o Japão. As agremiações festivas são parte integrante do patrimônio imaterial brasileiro, que inclui também comidas típicas, festas religiosas e manifestações culturais diversas. Essas agremiações se expressam não apenas nos desfiles de carnaval, mas também em outras confraternizações, como feijoadas, festas de santos e enredos que homenageiam figuras sagradas. Além disso, em algumas cidades, as escolas de samba se envolvem em outras atividades lúdicas e esportivas ao longo do ano, como quadrilhas juninas, cirandas, futebol de várzea e até mesmo profissional. As escolas de samba são exemplares de como se posicionam de formas diversas durante seus cortejos e ensaios sobre temas diversos da sociedade brasileira, mas não apenas elas, outras festas podem ser representativas disto. Os Bois de Parintins, são casos exemplares de como temas de debates políticos e sociais são debatidos durante apresentações festivas. O carnaval e as festas populares são, portanto, formas de expressão cultural que revelam a riqueza e a complexidade da sociedade brasileira, e que contribuem para a preservação e a valorização da sua diversidade. Esses eventos também são importantes para a economia, o turismo, a educação e a integração social do país, pois geram renda, emprego, lazer, conhecimento e convivência entre diferentes grupos e comunidades. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 12 Cultura, carnavais e festas populares Iniciando nossa trajetória na compreensão da cultura popular brasileira, observamos que os enredos e temas dessas festividades são elementos fundamentais. Eles não apenas servem como um encadeamento para contar histórias, mas também oferecem perspectivas únicas e diversificadas. Nas escolasde samba, os enredos são de extrema importância. Eles são definidos e julgados com base em critérios específicos e contribuem significativamente para a construção de visões culturais. Cada escola de samba escolhe um tema que é desenvolvido em seu desfile, incluindo música, coreografia, fantasias e carros alegóricos. Esses temas frequentemente abordam aspectos históricos, culturais ou sociais do Brasil, oferecendo uma rica tapeçaria de expressões artísticas e narrativas. No Festival de Parintins, no Amazonas, os temas funcionam como eixos norteadores que são subdivididos conforme as noites de apresentação. Este festival é uma das maiores expressões culturais do Norte do Brasil e caracteriza- se pela competição entre os bois Garantido e Caprichoso. Cada noite do festival é uma oportunidade para explorar diferentes aspectos da cultura amazônica e brasileira em geral, utilizando-se de músicas, danças, alegorias e performances teatrais para contar suas histórias. Dica audiovisual Assista a entrevista de Carolina Grimião com o enredista da Unidos do Porto da Pedra Diego Araújo explicando passo a passo como acontece o início de um grande desfile. Agente Facilitador em Carnavais e Festas Populares 13 As quadrilhas juninas, por sua vez, selecionam temas que orientam a dramatização de suas apresentações. Estas festas, que ocorrem em junho, celebram santos católicos como São João, São Pedro e Santo Antônio e são caracterizadas por danças típicas, músicas regionais, e trajes que remetem ao passado rural do Brasil. O tema escolhido pela quadrilha frequentemente influencia as músicas, os diálogos e até mesmo a coreografia, contribuindo para a narrativa geral da apresentação. Além disso, grupos de clóvis ou bate-bolas, comuns no carnaval, também definem temas específicos para cada saída. Esses grupos, muitas vezes, trazem elementos de crítica social e humor em suas apresentações, utilizando fantasias elaboradas e performances nas ruas para engajar o público e refletir sobre diferentes aspectos da sociedade. Esses exemplos ilustram como os temas nas festas populares brasileiras não são apenas um meio de entretenimento, mas também uma forma de expressão cultural e artística que reflete e celebra a diversidade e a riqueza da cultura do Brasil. Bibliografia DaMatta, Roberto. "Você tem cultura?". In: O que faz o brasil, Brasil?. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2023. p. 11-20 LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 12. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2023. RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: a Formação e o Sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. WAGNER, Roy. A Invenção da Cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2010. WILLIAN, Rodney. Apropriação Cultural – Coleção Feminismos Plurais. São Paulo: Pólen, 2019.
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