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205 Jornal B rasileiro de P atologia e M edicina Laboratorial Contribuição para discussão segmentada sobre mercado de trabalho e perspectivas profissionais em patologia clínica/ medicina laboratorial A contribution to the segmental discussion on job opportunities and career building in the clinical pathology/ laboratory medicine area Mario Seki1 Marisa Okabe Seki2 Plínio Gomes Pereira Júnior3 1. Médico patologista clínico do Labmed – Laboratório Médico de Londrina, Londrina-PR, e do Laboratório Dr. Joelson, Assis-SP. 2. Estudante de medicina – Unifenas, Minas Gerais-MG. 3. Médico residente do Laboratório Central do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, São Paulo-SP. As evoluções científicas e tecnológicas das últimas décadas, associadas às transformações econômicas, estão promovendo mudanças substanciais no exercí- cio da patologia clínica e da medicina laboratorial (1, 2, 4). O desenvolvimento dos testes point-of-care, com ênfase na automação robótica modular, e dos biochips, que, uma vez implantados nos pacientes, podem for- necer milhares de informações necessárias sobre suas condições de saúde, vai continuar influenciando os rumos da profissão (2). Paradoxalmente, nessa fase de grande progresso da medicina, os especialistas enfren- tam questionamentos sobre a necessidade de sua par- ticipação nos laboratórios, pois poderiam ser substi- tuídos pelos modernos aparelhos auto-analisadores que liberam resultados corretos dos exames (3). Estas projeções, mantidas as devidas proporções, re- produzem observações de outros centros. Burke, para conter o diapasão do pessimismo, recorre às históricas contribuições do passado para assegurar que a investiga- ção laboratorial irá predominar neste século (2). O ad- vento de novas metodologias diagnósticas na patologia clínica – especialidade médica em evolução – vai exigir dos especialistas, entretanto, novos aprendizados para manter seus serviços competitivos (1, 2, 4, 6). Ocorrências que desestabilizam o mercado de traba- lho, apesar de relevantes, não foram adequadamente discutidas em nosso meio. Os episódios, ainda recentes, das capitalizações, aquisições e/ou fusões de laboratórios de porte, originando as primeiras corporações na área diagnóstica, intensificam apreensões sobre o futuro da profissão. O ganho em escala, favorecido pela concen- tração de grande número de exames numa única central de alta tecnologia, reduz os custos operacionais (2) e di- minui a disponibilidade de vagas na área. Especula-se in- clusive sobre o agravamento do quadro trabalhista com a disseminação dos postos de coleta destas corporações. Merece reflexão a participação cada vez mais os- tensiva de grandes laboratórios que, percorrendo lon- gas distâncias, oferecem serviços de apoio, proporcio- nando exames a custos acessíveis. Apesar de reconhecer esta substancial contribuição, não se sabe até que pon- to estes prestadores de serviço continuarão realmente parceiros, restritos neste segmento, ou se irão se trans- formar em concorrentes, instalando filiais ou postos de coleta nas regiões mais promissoras. No epicentro dessas turbulências, os interessados na especialidade encontram expectativas divergentes sobre a profissão. Discussões genéricas sobre o assunto, num país de dimensões continentais, são impraticáveis devi- do às condições socioeconômicas tão díspares quanto as oportunidades de trabalho existentes. Alternativas dispo- níveis em instituições públicas, mistas ou privadas, for- mas de remuneração, assalariada e/ou autônoma, áreas de atuação em análises clínicas e/ou em ensino e pesqui- sa impõem a necessidade de fóruns específicos para cada uma das possíveis combinações. Esta abordagem procu- ra oferecer subsídios em análises clínicas de instituições privadas de porte médio. Neste segmento, o perfil da clientela, até há pou- co tempo dependente dos segurados da previdência social, sofreu grande transformação com a migração destes para a rede pública, tendo sido a demanda substituída por usuários das operadoras de saúde que atuam na assistência médica suplementar. Esta mudan- ça, que exerceu impacto significativo nos profissionais, conduziu-os a um mercado de trabalho mais restrito e altamente disputado. Os planos e seguros de saúde, por outro lado, que são os maiores compradores de serviços, vêm procurando conter os elevados custos, reduzindo honorários e implantando serviços próprios de diagnóstico. As cooperativas médicas, que repre- sentavam esperança de defesa econômica da classe e EXERCÍCIO DA MEDICINA LABORATORIAL LABORATORY MEDICINE PRACTICE Recebido em 08/10/01 Aceito para publicação em 18/12/01 R io de Janeiro, v. 38, n. 3, p. 205-206, 2002 206 R io d e Ja ne iro , v . 3 8, n . 3 , 2 00 2 Jo rn al B ra si le ir o de P at ol og ia e M ed ic in a La bo ra to ri al Referências 1. Andriolo, A. Novas competências do patologista clínico. J. Bras. Patol., 36(2): 103-5, 2.000. 2. Burke, M.D. Laboratory medicine in the 21st centruy. Am. J. Clin. Pathol., 114: 841-6, 2.000. 3. Lommel, H. A prioridade da ética. J. Bras. Patol., 37(1): 49-52, 2001. 4. Oliveira, U.M. A residência médica em patologia clínica: suges- tões para uma mudança necessária. J. Bras. Patol., 36(3): 176-7, 2000. 5. Oliveira, U.M. Gestão do laboratório sob a lógica de processos de produção e seus controles. J. Bras. Patol., 36(3): 174-5, 2000. 6. Oliveira, U.M. Aprender a aprender é importante: por que e como. J. Bras. Patol., 36(4): 255-6, 2000. 7. Seki, M. et al. Repercussão da implantação do ISO 9002 em laboratório clínico na participação do mercado e nos custos com pessoal. J. Bras. Patol., 37(3): 177-180, 2001. Endereço para correspondência Mario Seki Av. Bandeirantes 310 CEP 86010-010 – Londrina-PR e-mail: labimage@sercomtel.com.br Contribuição para discussão segmentada sobre mercado de trabalho e perspectivas profissionais em patologia clínica Seki et al. mantinham hegemonia em muitos centros, podem, gradativamente, acompanhar essas tendências. Para satisfazer uma clientela cada vez mais preocupada com a prevenção de erros (2), priorizando a ética (3), é pre- ciso compatibilizar aplicação de sistemas que garantam melhorias contínuas da qualidade com pressões para redu- ção de custos operacionais (1). Os sistemas da qualidade, que asseguram o controle de processos (5), propiciam indicadores de eficiência e eficácia aos laboratórios, aumentando produti- vidade e diminuindo custos por exame realizado (7). Em tempos de escassos recursos, os investimentos que têm como foco atender a qualidade percebida pelo cliente externo (5) precisam priorizar reformas e/ou ampliações da estrutura física. Uma associação com outros colegas ou servi- ços, principalmente os de imagem, pode contribuir para a formação de centros diagnósticos, otimizando recursos e assegurando vantagens competitivas no compartilhamento de custos fixos. Instalações adequadas oferecem conforto e segurança aos clientes (internos e externos), promovem aten- dimento centralizado num único local e permitem acomo- dar os aparelhos, cada vez mais sofisticados, para suprir ne- cessidades operacionais dos diferentes serviços. Além da função de consultor, interpretando exames cada vez mais complexos para linguagem compreensível na prática médica, o profissional necessita ocupar-se de áreas como gestão, informática, biologia molecular e epidemiologia clínica (1, 2, 4-6). Oferecer o maior benefí- cio com o menor custo, agregando valor aos serviços (2), é possível através da interação com a comunidade médi- ca de sua região, independente do porte da sua estrutura. Os interessados podem fornecer estudos contendo indi- cadores epidemiológicos sobre morbidades mais comuns, extraídos do seu banco de dados e de literaturas na internet, a qual facilita informações e conhecimentos atualizados através de bibliotecas especializadas. Atualmente, não é suficiente o profissional dominar os pro- cessos de produção e interpretação dos exames, pois, como líder natural, precisa estendersua área de atuação. Nesta con- dição, deve constituir e coordenar uma equipe competente, que é o seu ativo de maior valor, capacitando-a para transfor- mar a tecnologia em detalhe, e não na essência da especiali- dade. Como provedor de soluções, necessita estimular a revi- são do planejamento estratégico em intervalos menores para distinguir ameaças reais das imaginárias e identificar oportuni- dades mesmo nas adversidades, presentes e futuras. Serviços ou laboratórios gerenciados sob forma de empre- sas familiares em processos de crescimento ou sucessão na diretoria médica fornecem excelentes oportunidades de tra- balho para colegas emergentes. Estas circunstâncias exigem longa fase de transição para acomodar e adaptar diferentes perfis de liderança. A renovação da equipe, num ambiente de sinergia, permite consolidar e impulsionar o desenvolvimento técnico e científico dos laboratórios médicos existentes. Para os que estão iniciando a carreira, esta alternativa viabiliza o acesso imediato ao mercado de trabalho, pois os elevados custos para implantação e manutenção de serviços pratica- mente impossibilitam qualquer iniciativa individual. Fica evidente, com o exposto, que os especialistas não podem simplesmente ser substituídos por equipamentos que fornecem resultados de exames. As perspectivas futu- ras asseguram que a patologia clínica, conciliando ciência (aprendizados e conhecimentos) com a arte (habilidade, criatividade e percepções), continuará imprescindível ao desenvolvimento da medicina nas próximas décadas. Agradecimentos Agradecemos ao dr. Nairo Sumita e à dra. Maria Elisa- bete Mendes as sugestões, e a Sandra Regina Albertini a colaboração.