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Contribuição para discussão segmentada sobre mercado de trabalho e perspectivas

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Jornal B
rasileiro de P
atologia e M
edicina Laboratorial
Contribuição para discussão segmentada sobre mercado
de trabalho e perspectivas profissionais em patologia clínica/
medicina laboratorial
A contribution to the segmental discussion on job opportunities and career building in the clinical pathology/
laboratory medicine area
Mario Seki1
Marisa Okabe Seki2
Plínio Gomes Pereira Júnior3
1. Médico patologista clínico do
Labmed – Laboratório Médico de
Londrina, Londrina-PR, e do
Laboratório Dr. Joelson, Assis-SP.
2. Estudante de medicina –
Unifenas, Minas Gerais-MG.
3. Médico residente do
Laboratório Central do Hospital
das Clínicas da Universidade de
São Paulo, São Paulo-SP.
As evoluções científicas e tecnológicas das últimas
décadas, associadas às transformações econômicas,
estão promovendo mudanças substanciais no exercí-
cio da patologia clínica e da medicina laboratorial (1,
2, 4). O desenvolvimento dos testes point-of-care, com
ênfase na automação robótica modular, e dos biochips,
que, uma vez implantados nos pacientes, podem for-
necer milhares de informações necessárias sobre suas
condições de saúde, vai continuar influenciando os
rumos da profissão (2). Paradoxalmente, nessa fase de
grande progresso da medicina, os especialistas enfren-
tam questionamentos sobre a necessidade de sua par-
ticipação nos laboratórios, pois poderiam ser substi-
tuídos pelos modernos aparelhos auto-analisadores que
liberam resultados corretos dos exames (3).
Estas projeções, mantidas as devidas proporções, re-
produzem observações de outros centros. Burke, para
conter o diapasão do pessimismo, recorre às históricas
contribuições do passado para assegurar que a investiga-
ção laboratorial irá predominar neste século (2). O ad-
vento de novas metodologias diagnósticas na patologia
clínica – especialidade médica em evolução – vai exigir
dos especialistas, entretanto, novos aprendizados para
manter seus serviços competitivos (1, 2, 4, 6).
Ocorrências que desestabilizam o mercado de traba-
lho, apesar de relevantes, não foram adequadamente
discutidas em nosso meio. Os episódios, ainda recentes,
das capitalizações, aquisições e/ou fusões de laboratórios
de porte, originando as primeiras corporações na área
diagnóstica, intensificam apreensões sobre o futuro da
profissão. O ganho em escala, favorecido pela concen-
tração de grande número de exames numa única central
de alta tecnologia, reduz os custos operacionais (2) e di-
minui a disponibilidade de vagas na área. Especula-se in-
clusive sobre o agravamento do quadro trabalhista com
a disseminação dos postos de coleta destas corporações.
Merece reflexão a participação cada vez mais os-
tensiva de grandes laboratórios que, percorrendo lon-
gas distâncias, oferecem serviços de apoio, proporcio-
nando exames a custos acessíveis. Apesar de reconhecer
esta substancial contribuição, não se sabe até que pon-
to estes prestadores de serviço continuarão realmente
parceiros, restritos neste segmento, ou se irão se trans-
formar em concorrentes, instalando filiais ou postos
de coleta nas regiões mais promissoras.
No epicentro dessas turbulências, os interessados na
especialidade encontram expectativas divergentes sobre
a profissão. Discussões genéricas sobre o assunto, num
país de dimensões continentais, são impraticáveis devi-
do às condições socioeconômicas tão díspares quanto as
oportunidades de trabalho existentes. Alternativas dispo-
níveis em instituições públicas, mistas ou privadas, for-
mas de remuneração, assalariada e/ou autônoma, áreas
de atuação em análises clínicas e/ou em ensino e pesqui-
sa impõem a necessidade de fóruns específicos para cada
uma das possíveis combinações. Esta abordagem procu-
ra oferecer subsídios em análises clínicas de instituições
privadas de porte médio.
Neste segmento, o perfil da clientela, até há pou-
co tempo dependente dos segurados da previdência
social, sofreu grande transformação com a migração
destes para a rede pública, tendo sido a demanda
substituída por usuários das operadoras de saúde que
atuam na assistência médica suplementar. Esta mudan-
ça, que exerceu impacto significativo nos profissionais,
conduziu-os a um mercado de trabalho mais restrito e
altamente disputado. Os planos e seguros de saúde,
por outro lado, que são os maiores compradores de
serviços, vêm procurando conter os elevados custos,
reduzindo honorários e implantando serviços próprios
de diagnóstico. As cooperativas médicas, que repre-
sentavam esperança de defesa econômica da classe e
EXERCÍCIO DA MEDICINA
LABORATORIAL
LABORATORY MEDICINE
PRACTICE
Recebido em 08/10/01
Aceito para publicação em 18/12/01
R
io de Janeiro, v. 38, n. 3, p. 205-206, 2002
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Referências
1. Andriolo, A. Novas competências do patologista clínico. J. Bras.
Patol., 36(2): 103-5, 2.000.
2. Burke, M.D. Laboratory medicine in the 21st centruy. Am. J. Clin.
Pathol., 114: 841-6, 2.000.
3. Lommel, H. A prioridade da ética. J. Bras. Patol., 37(1): 49-52, 2001.
4. Oliveira, U.M. A residência médica em patologia clínica: suges-
tões para uma mudança necessária. J. Bras. Patol., 36(3):
176-7, 2000.
5. Oliveira, U.M. Gestão do laboratório sob a lógica de processos de
produção e seus controles. J. Bras. Patol., 36(3): 174-5,
2000.
6. Oliveira, U.M. Aprender a aprender é importante: por que e
como. J. Bras. Patol., 36(4): 255-6, 2000.
7. Seki, M. et al. Repercussão da implantação do ISO 9002 em
laboratório clínico na participação do mercado e nos
custos com pessoal. J. Bras. Patol., 37(3): 177-180, 2001.
Endereço para correspondência
Mario Seki
Av. Bandeirantes 310
CEP 86010-010 – Londrina-PR
e-mail: labimage@sercomtel.com.br
Contribuição para discussão segmentada sobre mercado de trabalho e perspectivas profissionais em patologia clínica Seki et al.
mantinham hegemonia em muitos centros, podem,
gradativamente, acompanhar essas tendências.
Para satisfazer uma clientela cada vez mais preocupada
com a prevenção de erros (2), priorizando a ética (3), é pre-
ciso compatibilizar aplicação de sistemas que garantam
melhorias contínuas da qualidade com pressões para redu-
ção de custos operacionais (1). Os sistemas da qualidade, que
asseguram o controle de processos (5), propiciam indicadores
de eficiência e eficácia aos laboratórios, aumentando produti-
vidade e diminuindo custos por exame realizado (7).
Em tempos de escassos recursos, os investimentos que
têm como foco atender a qualidade percebida pelo cliente
externo (5) precisam priorizar reformas e/ou ampliações da
estrutura física. Uma associação com outros colegas ou servi-
ços, principalmente os de imagem, pode contribuir para a
formação de centros diagnósticos, otimizando recursos e
assegurando vantagens competitivas no compartilhamento
de custos fixos. Instalações adequadas oferecem conforto e
segurança aos clientes (internos e externos), promovem aten-
dimento centralizado num único local e permitem acomo-
dar os aparelhos, cada vez mais sofisticados, para suprir ne-
cessidades operacionais dos diferentes serviços.
Além da função de consultor, interpretando exames
cada vez mais complexos para linguagem compreensível
na prática médica, o profissional necessita ocupar-se de
áreas como gestão, informática, biologia molecular e
epidemiologia clínica (1, 2, 4-6). Oferecer o maior benefí-
cio com o menor custo, agregando valor aos serviços (2),
é possível através da interação com a comunidade médi-
ca de sua região, independente do porte da sua estrutura.
Os interessados podem fornecer estudos contendo indi-
cadores epidemiológicos sobre morbidades mais comuns,
extraídos do seu banco de dados e de literaturas na
internet, a qual facilita informações e conhecimentos
atualizados através de bibliotecas especializadas.
Atualmente, não é suficiente o profissional dominar os pro-
cessos de produção e interpretação dos exames, pois, como
líder natural, precisa estendersua área de atuação. Nesta con-
dição, deve constituir e coordenar uma equipe competente,
que é o seu ativo de maior valor, capacitando-a para transfor-
mar a tecnologia em detalhe, e não na essência da especiali-
dade. Como provedor de soluções, necessita estimular a revi-
são do planejamento estratégico em intervalos menores para
distinguir ameaças reais das imaginárias e identificar oportuni-
dades mesmo nas adversidades, presentes e futuras.
Serviços ou laboratórios gerenciados sob forma de empre-
sas familiares em processos de crescimento ou sucessão na
diretoria médica fornecem excelentes oportunidades de tra-
balho para colegas emergentes. Estas circunstâncias exigem
longa fase de transição para acomodar e adaptar diferentes
perfis de liderança. A renovação da equipe, num ambiente de
sinergia, permite consolidar e impulsionar o desenvolvimento
técnico e científico dos laboratórios médicos existentes. Para
os que estão iniciando a carreira, esta alternativa viabiliza o
acesso imediato ao mercado de trabalho, pois os elevados
custos para implantação e manutenção de serviços pratica-
mente impossibilitam qualquer iniciativa individual.
Fica evidente, com o exposto, que os especialistas não
podem simplesmente ser substituídos por equipamentos
que fornecem resultados de exames. As perspectivas futu-
ras asseguram que a patologia clínica, conciliando ciência
(aprendizados e conhecimentos) com a arte (habilidade,
criatividade e percepções), continuará imprescindível ao
desenvolvimento da medicina nas próximas décadas.
Agradecimentos
Agradecemos ao dr. Nairo Sumita e à dra. Maria Elisa-
bete Mendes as sugestões, e a Sandra Regina Albertini a
colaboração.

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