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Editora Appris Ltda. 1.ª Edição - Copyright© 2020 dos autores Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda. Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010. Catalogação na Fonte Elaborado por: Josefina A. S. Guedes Bibliotecária CRB 9/870 Editora e Livraria Appris Ltda. Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês Curitiba/PR – CEP: 80810-002 Tel: (41) 3156-4731 | (41) 3030-4570 http://www.editoraappris.com.br/ FICHA TÉCNICA EDITORIAL Augusto V. de A. Coelho Marli Caetano Sara C. de Andrade Coelho COMITÊ EDITORIAL Andréa Barbosa Gouveia - UFPR Edmeire C. Pereira - UFPR Iraneide da Silva - UFC Jacques de Lima Ferreira - UP Marilda Aparecida Behrens - PUCPR EDITORAÇÃO Giuliano Ferraz ASSESSORIA EDITORIAL Natalia Lotz Mendes DIAGRAMAÇÃO Andrezza Libel CAPA Eneo Lage REVISÃO Luana Íria Tucunduva GERÊNCIA DE FINANÇAS Selma Maria Fernandes do Valle COMUNICAÇÃO Carlos Eduardo Pereira Débora Nazário Karla Pipolo Olegário LIVRARIAS E EVENTOS Estevão Misael CONVERSÃO PARA E-PUB Carlos Eduardo H. Pereira COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES DIREÇÃO CIENTIFICA Dra. Doutora Márcia Gonçalves - UNITAU CONSULTORES Lilian Dias Bernardo – IFRJ Taiuani Marquine Raymundo - UFPR Janaína Doria Líbano Soares - IFRJ Rubens Reimao – USP Edson Marques – Unioeste Maria Cristina Marcucci Ribeiro – UNIAN-SP Maria Helena Zamora – PUC-Rio Aidecivaldo Fernandes de Jesus – FEPI Zaida Aurora Geraldes – FAMERP Dr. Gustavo Eu gostaria de dedicar este livro à minha família, que me apoiou por todo o tempo, principalmente aos meus pais, que não mediram esforços para que de uma origem humilde pudesse levar conhecimento a outras pessoas; aos meus colegas, que contribuíram com o livro de maneira tão dedicada; meus alunos e ex-alunos; meu companheiro Eduardo, amigo e quem me estende a mão em todos os momentos, e para a minha amiga e coeditora, cujo conhecimento, orientação e inspiração têm sido fundamentais para o meu crescimento profissional. Como Santo Agostinho nos orienta: “ama e faz o que quiseres; se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”. Dr.ª Luciane Vou tentar passar para o papel sentimentos que são difíceis de expressar, mas que estão gravados em áreas cerebrais específicas e refletem minha imensa gratidão. Dedico esta obra, primeiro, ao Nome sobre todo Nome, nosso criador, sentido e razão para tudo. Ele que criou meus pais, Maria Thereza e Osvaldo, a quem devo um amor incondicional e todo o respeito e admiração, e também recebem esta dedicatória. E quero dedicar este livro ao meu esposo, Rodrigo, companheiro, amigo e parceiro de vida, com quem pude construir uma bela família, formada também pelos meus amados filhos: Maria, Francisco e Cecília. A vocês, que são o melhor de mim, dedico o fruto deste estudo. Não posso esquecer-me do meu amigo Gustavo, que navegou comigo neste sonho, me ensinando e me alegrando muito nesta parceria. E, por fim, pensando também no futuro, quero dedicar esta obra, feita com muito carinho por pessoas capacitadas e também cheias de amor, a todos os profissionais da área da saúde e a todos os pacientes que poderão, de alguma forma, se beneficiar deste material. AGRADECIMENTOS Dr. Gustavo Agradeço à Clínica Somatus Pediasuit Sandra Volpi, em Botucatu, pela generosidade sem tamanho. Ao Professor Rodrigo Bazan, neurologista e amigo, que sempre apoiou em todas as decisões, mesmo aquelas mais difíceis, com incentivo para trilhar meu próprio caminho. Você impulsionou nosso crescimento. A todos os autores, profissionais da área da saúde que contribuíram com o livro e não mediram esforços para que o capítulo atingisse o maior nível de qualidade possível. Aos membros do Grupo de Neurociências Aplicadas à Reabilitação da UFTM, por toda capacidade de articulação para o desenvolvimento deste livro. Para todos aqueles que contribuíram na campanha de crowndfunding para que este livro fosse realidade em nossas mãos. A todos os meus professores, desde a graduação até o pós-doutorado, que fizeram me tornar o que hoje sou. Ao Eduardo, Dudu, meu eterno companheiro, que esteve presente nos caminhos mais difíceis, os tornando leves e passageiros. Dr.ª Luciane Agradeço aqui, primeiro a Deus, por me criar, me amar, me ensinar a cada dia. Aos principais protagonistas da minha história: meus pais. Sem o alicerce que me deram, todo feito de amor, carinho e ensinamentos firmes sobre a vida, eu não seria ninguém. À minha família, que, mesmo estando distante, foi e sempre será presença viva na minha caminhada. À família que formei, meu esposo e meus filhos, motivo de alegria, ânimo e vigor para cada passo a ser trilhado. Aos meus mestres, na infância, adolescência, juventude e em toda a formação acadêmica, de pós-graduação, e aos que convivem comigo no dia a dia, no meu trabalho, renovando meu aprendizado. Em especial aos professores e amigos, que me fizeram amar a fisioterapia, em especial a área da neurologia e também àqueles que me mostraram o caminho da docência. E, claro, agradecer a todos que me cercam, meus grandes amigos, aqueles da infância, que resgatam um tempo tão bom, aos amigos que também estão distantes, mas sempre pertinho, unidos aos nossos sentimentos. Aos amigos e colegas próximos, com quem divido alegrias e angústias. E não podiam faltar meus queridos alunos e ex- alunos. Muito deste estudo é fruto de cada um de vocês, de momentos de dúvidas, nas apresentações, nas piadas neurológicas do dia a dia. E este estudo é também para vocês, com o intuito apenas de lembrá-los e atualizá-los. Ao meu amigo de trabalho, risadas, cantorias e de muitos fatos neurológicos, com quem posso compartilhar a alegria de ver esta obra pronta: Gustavo. Agora, para finalizar, minha eterna gratidão a todos os pacientes que cruzaram meu caminho e deixaram traços de suas vidas unidos à minha. Suas histórias e o modo como cada um lidou com as dificuldades me enriqueceram e também ajudaram a construir o meu eu e agora poder contribuir com esta obra. Como São Francisco de Assis, devemos viver sempre alegres e propagar o bem, o amor. Que esta obra traga conhecimento, alegria e bons frutos a todos. E como ele mesmo diria... desejo a todos paz e bem! APRESENTAÇÃO As pesquisas em neurociências básica e aplicada nos ensinam que a arte de avaliar e tratar indivíduos com qualquer doença do sistema nervoso central e periférico deve ser conduzida com empenho, paciência, mas, acima de tudo, com alta capacidade crítica pra saber que a ciência é mutável e que dependemos cada vez mais de avaliações baseadas em evidências e que sejam funcionais e adaptadas ao cotidiano do indivíduo. Pensando nessas premissas, criamos este livro de avaliação neurológica funcional para demonstrar como deve ser abordado um indivíduo após qualquer distúrbio neurológico dentro de um olhar clínico, funcional e moderno. Os organizadores PREFÁCIO No início de 2012, logo após o carnaval, estava na minha sala no departamento de neurologia da Unesp em Botucatu pensando na complexidade e dificuldades que um então jovem professor recém-contratado enfrentaria para realizar a tríade assistência, ensino e pesquisa de qualidade neste país. Foi nesse contexto, então, que conheci nessa mesma época um jovem recém-formado em fisioterapia chamado Gustavo Luvizutto, interessado em iniciar o estudo na pós-graduação e extremamente focado nas questões de pesquisa, principalmente no campo da reabilitação neurológica após Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em curto espaço de tempo, montamos uma linha de pesquisa junto ao CNPq em reabilitaçãoe AVC, captamos fomentos e passamos a agregar um grupo de pessoas entusiastas com a pesquisa nesse campo da saúde e iniciamos uma produção de trabalhos, dissertações e teses, assim como apresentações em congressos de âmbito nacional e internacional. Já esperado, poucos anos depois, esse jovem sonhador ingressa como docente numa grande universidade de Minas Gerais, a UFTM, em Uberaba. A obra Avaliação Neurológica Funcional, idealizada pelos jovens e brilhantes professores Gustavo José Luvizutto e Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza, certamente, vem preencher uma importante lacuna literária no cenário nacional no campo da Neurociência e reabilitação neurológica. Certamente, esses entusiastas colocaram toda sua capacidade técnica, didática e de coordenação na composição desta obra. Muito me orgulha e emociona o convite da escrita deste prefácio para um livro que certamente auxiliará em muito os alunos de graduação e pós-graduação da área da saúde, assim como será referência para professores e pesquisadores nesse campo do conhecimento. Para finalizar, deixo as palavras que resumem para mim a dedicação de Gustavo e Luciane, assim como de todos os autores de capítulos que colaboraram com esta obra: Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive. (PESSOA, 1946, p. 148) Professor doutor Rodrigo Bazan Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Universidade Estadual Paulista Coordenador do diretório científico de Reabilitação da Associação Brasileira de Neurologia Referência PESSOA, Fernando. Odes de Ricardo Reis. Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor. Lisboa: Ática, 1946. Sumário Capítulo 1 Introdução 17 Caroline Oliveira Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Dr. Gustavo José Luvizutto Capítulo 2 Interrogatório e avaliação visual sistemática 25 Dr. Gustavo José Luvizutto Dr.ª Cíntia Rogean de Jesus Alves Baptista Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Capítulo 3 Uso de Avaliações Padronizadas em Fisioterapia aplicada às Doenças Neurológicas 41 Dr.ª Camila Torriani-Pasin Tatiana Beline de Freitas Natalia Padula Gisele Carla dos Santos Palma Capítulo 4 Avaliação dos nervos cranianos 93 Dr. Alex Eduardo da Silva Dr. Gustavo José Luvizutto Capítulo 5 Avaliação do tônus muscular 107 Dr. Gustavo José Luvizutto Dr.ª Cyntia Rogean de Jesus Alves Baptista Dr. Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Capítulo 6 Importância dos Reflexos para as atividades funcionais 123 Dr. Gustavo José Luvizutto Eduardo de Moura Neto Dr.ª Cyntia Rogean de Jesus Alves Baptista Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Capítulo 7 Avaliação funcional da motilidade e força muscular 133 Dr. Gustavo José Luvizutto Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Capítulo 8 Avaliação do sistema sensorial 149 Dr. Gustavo José Luvizutto Dr.ª Cyntia Rogean de Jesus Alves Baptista Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Capítulo 9 Avaliação do sistema perceptual 161 Taís Regina da Silva Dr. Rodrigo Bazan Dr. Gustavo José Luvizutto Capítulo 10 Avaliação da Coordenação motora global 177 Dr. Fabricio Diniz de Lima Dr. Gustavo José Luvizutto Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Dr. Marcondes Cavalcante França Junior Capítulo 11 Avaliação funcional do Equilíbrio 197 Ana Flávia Silveira Tamiris Aparecida Castro Souza Dr. Gustavo José Luvizutto Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Capítulo 12 Avaliação da verticalidade 213 Dr. Gustavo José Luvizutto Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Capítulo 13 Avaliação do Sistema vestibular 221 Dr. Gustavo José Luvizutto Adriana Tresso Kívia Oliveira Santos Laura Pereira Generoso Dr.ª Josie Resende Torres da Silva Capítulo 14 Avaliação cognitiva estruturada 245 Iramaia Salomão Alexandre de Assis Tamise Aguiar Caires Dr.ª Ellen Lirani-Silva Dr. Gustavo José Luvizutto Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Capítulo 15 Avaliação funcional da marcha 259 Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Dr. Gustavo José Luvizutto Capítulo 16 Avaliação da linguagem em pacientes neurológicos 271 Dr.ª Magali de Lourdes Caldana Dr.ª Natalia Gutierrez Carleto Natalia Caroline Favoretto Dr.ª Cristina do Espírito Santo Bianca Gonçalves Alvarenga Leticia de Azevedo Leite Capítulo 17 Tomada de decisão em Neurologia Pediátrica 283 Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Capítulo 18 Avaliação nutricional no paciente neurológico 291 Juli Thomaz de Souza Capítulo 19 Eletrodiagnóstico como ferramenta de avaliação neurofuncional 307 Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Dr.ª Luciane Fernanda Rodrigues Martinho Fernandes Capítulo 20 Monitoramento utilizando dispositivos vestíveis na avaliação neurofuncional: aplicação na doença de Parkinson 321 Amanda Rabelo Dr. Rodrigo M. A. Almeida Dr. Adriano O. Andrade Capítulo 21 Uso da neuroimagem como ferramenta de avaliação neurofuncional 339 Dr. Gustavo José Luvizutto Dr. Pedro Tadao Hamamoto Filho SOBRE OS AUTORES 363 ÍNDICE REMISSIVO 373 Capítulo 1 Introdução Um olhar baseado na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) Caroline Oliveira Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza Dr. Gustavo José Luvizutto 1. Introdução A avaliação fisioterapêutica neurofuncional inclui a coleta de informações por meio da observação detalhada do paciente para elaborar um diagnóstico e prognóstico e, até mesmo, para intervir na decisão de qual a melhor conduta de tratamento. A avaliação é essencial para identificar o problema e o local do sistema nervoso que se encontra comprometido. Nela, interpretam-se medidas individuais relativas à estrutura e função, atividade e participação, e fatores ambientais e pessoais. O processo de avaliação deve ser parte integrante do tratamento, pois responde à pergunta: é possível alterar o quadro funcional após o processo de reabilitação? Os achados da avaliação auxiliam a resolução do problema, direcionando a terapia para o alcance de metas. A avaliação neurofuncional deve ser ampla, dinâmica e contínua, para que permita um acompanhamento da evolução clínico-funcional (STOKES, 2000; OMS, 2015). Este capítulo busca abranger todos os itens relacionados a uma avaliação neurológica de modo sucinto. No texto, os tópicos se distribuem de maneira ordenada, sendo: conceito (informações principais), forma de avaliar e apontamento de alterações, interpretação dos achados conduzindo ao diagnóstico, além de alguns registros, exemplificando uma avaliação de um paciente fictício. 2. Proposta de avaliação baseado no conceito de funcionalidade, incapacidade e saúde As principais questões que nortearão a avaliação global do paciente são (UMPHRED, 1994): 1) O que o paciente consegue fazer? Como ele executa suas atividades? Há compensações? Onde posso auxiliá-lo? 2) O que o paciente não consegue fazer? Por que ele não faz? O que falta pra ele fazer? Como posso auxiliá-lo? A partir das respostas a estas questões acima, quais as principais hipóteses para elucidar o quadro clínico-funcional? 3) Testar as principais hipóteses por meio da avaliação neurofuncional, além de algum facilitador que possa ajudá-lo na função (por exemplo, uso de estímulos sensoriais, mãos do terapeuta, modificações no ambiente). 4) Como iniciar logicamente o atendimento? Lembrando de respeitar os seguintes domínios: a) atividade e participação - Qual ou quais atividades de vida diária ele mais precisa e anseia realizar? Qual a sua participação na vida familiar e social? b) fatores ambientais – O ambiente é um facilitador uma barreira para à sua funcionalidade? c) fatores pessoais – Quais fatores pessoais (ex: motivação, doenças associadas, temperamento, sonhos, metas de vida, etc) podem interferir no quadro clínico-funcional? Quadro 1 – Raciocínio lógico da avaliação neurofuncional Fonte:o autor Uma avaliação completa e direcionada é imprescindível, não obstante, a cada exercício ou atividade proposta se faz necessário observar e se questionar a execução ou evolução. Em muitos casos, a conversa com a família ou conversa com o próprio paciente nos faz pensar ou criar novos objetivos e condutas (UMPHRED, 1994). A seguir, um exemplo do raciocínio lógico da avaliação neurofuncional: Paciente com quadro clínico de Acidente Vascular Cerebral (AVC) há 3 meses, 57 anos, cozinheiro, mora sozinho em um apartamento de três andares. Apresenta fatores de risco como hipertensão, diabetes e obesidade. Compareceu à avaliação apresentando hemiparesia à direita, relatando dificuldade na transição da postura sentado para em pé e durante a marcha em terrenos irregulares, além da manipulação de objetos à pinça com a mão direita. 1) O que o paciente consegue fazer? Como ele executa suas atividades? Há compensações? Onde posso auxiliá-lo? Deve-se ter como objetivo verificar os principais potenciais do paciente nas principais posturas contra a gravidade, além de atividades como mobilidade, transferências e alcance funcional. O paciente em questão, realiza transferências contra a gravidade e marcha, mas ao realizar a transferência de sentado para em pé aumenta o tônus flexor do membro superior direito, aumenta a garra de artelhos e o tônus extensor de tronco, transferindo a maior parte do peso corporal para o membro inferior esquerdo. Quando realiza marcha em terreno irregular aumenta o tônus extensor de joelho e maior inclinação da pelve. Ao realizar a tarefa de alcance com o membro superior, apresenta como compensação de inclinação ântero-lateral de tronco. 2) O que o paciente não consegue fazer? Por que ele não faz? O que falta pra ele fazer? Como posso auxiliá-lo? O paciente não realiza tarefas de preensão e manipulação com o membro superior direito. Quais as principais hipóteses para o quadro clínico? a) Diminuição do equilíbrio de tronco, aumentando as reações associadas do membro superior durante as tarefas contra a gravidade? b) Espasticidade de extensores de membro inferior e flexores de membro superior, principalmente de caráter dinâmico? c) Fraqueza da musculatura extensora de tronco, gerando compensações para o aumento de tônus do membro superior? d) Fraqueza da musculatura abdominal, gerando aumento de tônus flexor? e) Fraqueza de serrátil anterior, deltoide e tríceps braquial gerando compensações do tronco no momento do alcance? f) Diminuição sensorial no lado hemiparético, aumentando o tônus durante atividades funcionais? g) Tônus flexor aumentado em musculatura intrínseca da mão ou fraqueza intensa dos extensores de dedos? 3) Testar as principais hipóteses por meio de avaliação neurofuncional, além de utilizar algum facilitador que possa ajudá-lo na função. a) Testar equilíbrio de tronco utilizando testes clínicos funcionais ou escalas validadas, como a Escala de Comprometimento de Tronco (EDT); b) Testar o tônus da principal musculatura acometida utilizando a escala modificada de Ashworth e observar o comportamento do tônus durante as mudanças de decúbito e atividades funcionais; c) Teste de força muscular de tronco; d) Teste de força da musculatura abdominal; e) Testar a força da musculatura de escápula e membro superior e observar a atividade muscular durante as atividades funcionais de alcance; f) Testar a sensibilidade tátil superficial e profunda das principais articulações para verificar a influência no tônus. g) Testar tônus flexor e força extensora de dedos 4) Após a confirmação das hipóteses, deve-se diagnosticar as principais alterações funcionais e traçar objetivos a curto, médio e longo prazo, sempre verificando novos potenciais a cada terapia, respeitando os domínios de atividade e participação, fatores ambientes e pessoais. Neste caso poderemos ter as seguintes alterações: a) Atividade e participação: dificuldade moderada para subir e descer escadas e andar em terrenos irregulares ao redor de sua casa; dificuldade severa para deambular até o ponto de ônibus; É incapaz de cortar e manusear objetos e alimentos na cozinha com o membro superior direito e, no momento está afastado de suas atividades profissionais. Como mora sozinho, não tem muitos amigos e seus familiares estão distantes, não pode sair muito de casa, sendo assim suas atividades de lazer também estão restritas. b) fatores ambientais: as principais barreiras encontradas neste caso foram: escada para chegar até seu apartamento, terrenos irregulares no entorno de sua moradia e nas ruas da cidade. c) fatores pessoais: paciente encontra-se desmotivado devido à incapacidade de executar seu trabalho, além disse sua obesidade dificulta no equilíbrio e locomoção. Quadro 2 – Raciocínio lógico aplicado a um caso clínico Fonte: os autores 2.1 Como a CIF pode nos ajudar no processo de avaliação? Auxiliando nesses processos de avaliação funcional, é importante nos basearmos na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF, ICF em inglês). Esse documento de uso mundial foi elaborado em 2001 e publicado em língua portuguesa em 2003. Uma versão específica para a população de crianças e adolescentes (CIF-CJ) foi publicada em 2006 (OMS, 2015). A CIF pode ser utilizada de uma forma geral como apresentada no quadro 2 ou de modo mais específico com as codificações por domínios. Ambos ajudam a formular hipóteses num primeiro momento. A seguir, são feitos os testes específicos e se determinam os códigos individuais. Numa avaliação pontual de pacientes neurológicos com base na CIF, devemos considerar os seguintes aspectos: 1) o paciente é visto como um todo e recebe uma análise completa sobre sua condição de saúde, incluindo sua funcionalidade, incapacidade e aspectos pessoais e ambientais que podem interferir positiva ou negativamente no quadro; 2) é considerada a análise dos componentes: estruturas (código s = do termo structure) e funções corporais (código b = do termo body), atividades e participação (código d = do termo domain), fatores ambientais (código e = environment) e fatores pessoais; 3) após os códigos, em letras minúsculas, vem a numeração que obedece a ordem dos capítulos, a seguir representada apenas por XXX (www.who.int/classifications/icf/en/ – esse site dá acesso a toda a classificação que deve ser usada para consulta dos códigos); 4) por fim, é feita a pontuação, de acordo com a tabela a seguir: Tabela 1 – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde Estrutura e função, atividades e participação XXX.0 Sem problema XXX.1 Problema leve XXX.2 Problema moderado XXX.3 Problema grave XXX.4 Problema completo XXX.8 Não especificado XXX.9 Não aplicável Fonte: adaptado da Organização Mundial de Saúde (2015) Um exemplo clínico distinto do anterior pode auxiliar no entendimento da aplicação da CIF: S.G., 72 anos, diagnosticado com doença de Parkinson há seis anos, apresenta o quadro clássico: bradicinesia, tremor, rigidez e alterações no controle postural. Relata dificuldades em comer e abotoar roupas e também durante caminhadas por longas distâncias. Para a formulação de hipóteses nesse caso, podemos pensar nas funções alteradas relacionadas à execução do movimento, funções de equilíbrio. Com relação à atividade e participação, focamos em algumas AVDs que estariam mais comprometidas, tendo estas, relações diretas com o quadro clínico do paciente. Agora, não está claro nessa descrição outros aspectos que o avaliador teria que investigar: variáveis emocionais, interesse pelas atividades, motivação, envolvimento de familiares e amigos, acesso aos serviços de saúde e medicamentos etc. Assim, após uma ampla entrevista e avaliação minuciosa, já respondendo às hipóteses levantadas, foram considerados os seguintes códigos/pontuações da CIF pelo avaliador. Lembramos que pode ser feita a pontuação também a partir do ponto de vista do paciente. Funções: Movimentos involuntários b765.2 Funções de Energia b130.1 Funções Emocionais b152.1 Estruturas Corporais: Cérebros1103.3 Estruturas relacionadas ao Movimento s798.3 Atividades e Participação: Uso fino das mãos d440.2 Movimentar-se pelos ambientes d450.2 Alimentação d550.2 Vestuário d540.2 Fala d330.1 Vida Comunitária d910.2 Recreação e Lazer d920.2 Emprego d850.3 Facilitadores Uso de medicamentos e110.3 Profissionais de Saúde e120.3 Cadeira de Rodas e355.3 Barreiras Atitudes da Família e Amigos e410.1 Sistemas e Políticas de Saúde e580.2 Quadro 3 – Pontuação da CIF de acordo com a visão de um paciente Fonte: o autor TAREFA DE LABORATÓRIO Agora que os conceitos e dois exemplos de aplicação foram dados, tente utilizar a CIF em pacientes, complementando os dados já coletados com a avaliação tradicional. Talvez você encontre novas hipóteses e, a seguir, também novos achados. 2.2 As escalas também podem ajudar! Inúmeras escalas podem ser utilizadas tanto para elaborar quanto para responder hipóteses. Essas escalas precisam ser validadas em nossa língua e ter alta confiabilidade. É possível optar por uma escala específica para alguma doença/disfunção, como por exemplo, escala de Fugl Meyer utilizada para avaliar o quadro clínico pós-AVC. Ou eleger uma escala de acordo com algum quesito que se queira investigar, como por exemplo, o SF-36 (Short-Form Health Survey), que avalia qualidade de vida e pode ser utilizado em inúmeras situações clínicas. No capítulo 3 deste livro, teremos a apresentação e aplicação de várias escalas, inseridas nos domínios da CIF, e isso poderá nortear a formulação de hipóteses e o desfecho da avaliação como um todo. 3. Implicações clínicas A avaliação neurofuncional é a parte mais importante do planejamento terapêutico, visto que um olhar cuidadoso, preciso e funcional adequado levará a resultados mais promissores. Quando a avaliação é desvalorizada ou não aplicada, há redução das possibilidades de tratamento, com impacto negativo na funcionalidade. 4. Referências ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. 1. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo – Edusp, 2015. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Como usar a CIF: Um manual prático para o uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Disponível em: http://www.fsp.usp.br/cbcd/wp- content/uploads/2015/11/Manual-Prático-da-CIF.pdf. Acesso em: 10 nov. 2018. STOKES, M. Neurologia para fisioterapeutas. 1. ed. São Paulo: Premier, 2000. UMPHRED, D. A. Fisioterapia Neurológica. 2. ed. Barueri: Manole, 1994. Capítulo 2 Interrogatório e avaliação visual sistemática Como o diálogo e observação conduzem a avaliação neurofuncional? Dr. Gustavo José Luvizutto Dr.ª Cíntia Rogean de Jesus Alves Baptista Dr.ª Luciane Aparecida Pascucci Sande de Souza 1. Anamnese A anamnese constitui-se numa das partes mais importantes da avaliação e significa a coleta do relato da doença e de sua evolução. A história clínica deve conter o máximo de informações pertinentes à doença e ao quadro clínico- funcional e, para isso, o avaliador deve saber direcionar as perguntas ao paciente. Nessa coleta de informações, é importante observar a voz, as expressões faciais do paciente, a sua capacidade de organizar as ideias, a coerência dos fatos e também a atenção e memória (ROWLAND, 1997). Na história da doença ou moléstia atual (HMA), devemos permitir que o paciente discorra livremente sobre seus sintomas, sem interrompê-lo, tendo bastante atenção, interesse, perspicácia e paciência. A síntese do relato parte da análise minuciosa dos sintomas e fatos referidos, estabelecendo-se características, relações entre os fatos e, além disso, a ordem cronológica dos acontecimentos. As questões básicas do interrogatório cruzado são sobre o que sente, como sente, qual o local, desde quando, o que foi feito, evolução do quadro, fatores de melhora e piora, qual a frequência dos sintomas, se possui independência para higiene pessoal, locomoção, alimentação, se realiza atividade física etc. Um bom relato sobre os medicamentos é também necessário. Além das perguntas clássicas, é importante saber a história pregressa (HP), ou seja, doenças que acometeram o paciente desde o nascimento até o dia da avaliação. A história familiar (HF) é outro item que se refere à existência de antecedentes familiares ou hereditários com doenças, principalmente semelhantes à do paciente. Vale lembrar que seria desnecessário em um paciente que sofreu lesões traumáticas. É importante investigar o fator que mais o incomoda, suas maiores ansiedades e angústias, o que chamamos de queixa principal (QP). Por fim, é interessante um levantamento da função diária (AVDs), conhecer aspectos sociais, emocionais, hábitos e vícios, habitação, transporte e profissão. Assim, torna-se essencial o registro de todos os dados obtidos com o discurso do paciente. É importante registrar a data da anamnese para permitir o conhecimento da doença no contexto atual e para se fazer um comparativo entre reavaliações periódicas. Exemplo: HMA: A.F.G., 61 anos, apresenta hipertensão arterial (P.A média: 150 x100 mmHg, com controle medicamentoso), realizou cirurgia de angioplastia (ponte de safena) em maio de 2018, porém, há aproximadamente seis meses, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), tendo sido admitida na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas, com sintomas como dor de cabeça, vômitos, desmaio, perda da consciência. Desde estão ficou internada por 21 dias, evoluindo com quadro motor característico de uma hemiplegia à direita e afasia motora. Sente dores no ombro direito há duas semanas. Recebeu tratamento fisioterapêutico, fonoaudiológico e fez terapia ocupacional apenas na fase hospitalar. Devido à evolução das sequelas motoras com deformidades mais incapacitantes, veio à procura de auxílio. AVDs: consegue alimentar-se, banhar-se e vestir-se independentemente, mas possui restrições de coordenação e equilíbrio em atividades complexas, como abotoar uma camisa, prender roupa no varal, caminhar em solo instável. Exercia funções de dona de casa e cozinheira. Utiliza medicamentos como antiagregante plaquetário (AAS), anti-hipertensivos (Captopril) e insulina, não apresenta vícios como tabagismo e etilismo atualmente. HF. Possui mais casos de hipertensão na família (mãe e irmão), sendo que sua mãe também teve um AVC. Aspecto psicológico: variações do humor, mas com esperanças. HP: além da hipertensão arterial, é diabética e teve quadro de pneumonia há Quadro 1 – Exemplo de anamnese realizada em um paciente neurológico Fonte: o autor 2. Inspeção O registro das anormalidades já notáveis ao exame visual deve ser feito cuidadosamente com atenção a alguns aspectos, como (CAMBIER; MASSON; DEHEN, 1999): Atitude; Estado de consciência; Postura; Fácies; Dismorfias; Movimentos involuntários; Exame das mãos e dos pés; Pele; Trofismo. Quadro 2 – Principais aspectos para a inspeção Fonte: o autor 2.1 Atitude: como o paciente se encontra, se está movimentando-se de acordo com a sua vontade, ativo; ou se ele se mantém em posições que lhe impuseram, atitude passiva (DAVIES, 1996; DAVIES, 1997) (Figura 1). A B Figura 1 – (A) Atitude passiva motora de um paciente com distrofia muscular de Duchenne em fase avançada; (B) Atitude ativa motora de um paciente com traumatismo crânio-encefálico tocando a cadeira de rodas. Fonte: o autor 2.2 Nível de Consciência: é avaliado quando o paciente está em atitude passiva, podendo ser classificado quanto a fase de instalação (CAMPBELL, 2005; POSNER; SAPER; SCHIFF; PLUM, 2007; ROWLAND, 2007). A Vigília/Vigil refere-se ao estado acordado, sem distúrbios do estado de consciência. Tabela 1 – Termos usados para descrever os distúrbios da consciência Instalação Aguda Instalação subaguda ou crônica Turvação/Sonolência Demência Delírio Hipersonia Obnubilação Abulia Torpor ou Coma Mutismo acinético Síndrome do encarceramento Estado vegetativo Morte cerebral Fonte: adaptado de POSNER et al. 2007 2.2.1 Distúrbios da consciência de instalação aguda Turvação/Sonolência:é um termo aplicado a vigília ou consciência minimamente reduzidas, que pode incluir hiperexcitabilidade e irritabilidade alternando com sonolência. Delírio: definido pela percepção equivocada de estímulos, perturbação da consciência com capacidade reduzida de foco, e de sustentar ou mudar a atenção. Ocorre mudança na cognição (como déficit de memória, desorientação, distúrbio de linguagem) ou o desenvolvimento de uma perturbação perceptiva que não é melhor explicada por uma demência preexistente. A perturbação se desenvolve por um curto período de tempo (geralmente horas/dias) e tende a flutuar durante o curso do dia. Obnubilação: estado de sonolência patológica; pacientes têm uma redução leve a moderada do estado de alerta, acompanhada de um menor interesse pelo meio ambiente. Ocorre aumento do número de horas de sono e o paciente pode ser sonolento entre os períodos de sono. Torpor: é um estado de sonolência acentuado, da qual o sujeito pode ser despertado apenas com estímulo vigoroso e contínuo. Mesmo quando despertado ao máximo, o nível da função cognitiva pode ser prejudicado. Coma: é um estado de falta de resposta em que o paciente fica de olhos fechados e não pode ser despertado para responder adequadamente aos estímulos mesmo com estimulação vigorosa. O paciente pode realizar expressões faciais em resposta a estímulos dolorosos. O paciente não realiza respostas localizadoras. À medida que o coma se aprofunda, a capacidade de resposta do paciente, mesmo com estímulos dolorosos, pode diminuir ou desaparecer. Síndrome do encarceramento: paciente apresenta déficit das respostas motoras dos 4 membros e parte inferior dos nervos cranianos, com preservação do nível consciência e sensações. Ao exame o paciente apresenta movimentos oculares verticais e por vezes horizontais. 2.2.1 Distúrbios da consciência de instalação subaguda ou crônica Demência: declínio duradouro e muitas vezes progressivo nos processos mentais. Hipersonia: apresenta sono excessivo e pode ser despertado prontamente quando chamado. Abulia: é um estado apático em que o paciente responde devagar e geralmente não inicia conversação ou atividade. Mutismo acinético: descreve uma condição de imobilidade silenciosa e de alerta que caracteriza certos estados subagudos ou crônicos de consciência alterada. Estado vegetativo: estado para designar os pacientes com ciclo sono-vigília presente, função cardiorrespiratória intacta e presença de reflexos do tronco encefálico e espinhais (sucção, mastigação, preensão etc), porém sem evidências de consciência. Se o estado vegetativo permanecer por pelo menos 30 dias pode ser denominado estado vegetativo persistente. Morte cerebral: perda irreversível de todas as funções cerebrais. O nível de consciência pode ser avaliado de maneira objetiva, utilizando-se também a escala de coma de Glasgow. A escala apresenta três domínios: abertura ocular (score de 1-4), resposta verbal (score de 1-5), resposta motora (score de 1- 6). A pontuação total varia de 3 a 15, sendo quanto maior, melhor o nível de consciência (BRAINE; COOK, 2017). Associada à escala de coma de Glasgow, pode ser utilizada a escala Rancho Los Amigos durante todo o período de reabilitação de uma lesão cerebral. A escala leva em conta o estado de consciência do paciente, bem como sua dependência de assistência para realizar funções cognitivas e físicas. A escala varia de I a X, sendo que quanto maior o nível, melhor o desempenho físico, cognitivo e emocional (LIN; WROTEN, 2018). 2.3 Postura: definida como correlação entre extremidades, tronco e as posições das articulações. Na literatura, existem algumas posturas características encontradas em pacientes neurológicos. Porém, é preciso destacar que nem sempre o paciente se enquadra nessas posturas pré- definidas. Portanto o ideal seria descrever de modo detalhado as alterações posturais encontradas para assim nortear a conduta a ser seguida. Abaixo são descritas as posturas típicas ou clássicas mais comuns: Postura hemiplégica espástica (Wernicke-Mann): caracteriza-se pela posição em pé, com o membro superior comprometido em flexão e pronação, e o membro inferior homolateral em hiperextensão com o pé em equino (flexão plantar). Exemplo: A postura hemiplégica do paciente é caracterizada pelos principais aspectos: CABEÇA: A cabeça está flexionada para o lado hemiplégico e rodada de tal modo que a face se orienta para o lado bom. MEMBRO SUPERIOR (padrão flexor): A escápula está retraída e a cintura escapular em depressão. O ombro está aduzido e rodado internamente. O cotovelo está fletido com pronação do antebraço (em alguns casos, supinação domina). O punho está flexionado com algum desvio ulnar. Os dedos estão fletidos e aduzidos. O polegar está fletido e aduzido. TRONCO: O tronco está rodado para trás no lado hemiplégico com flexão lateral do lado hemiplégico. MEMBRO INFERIOR (padrão extensor): A pelve está rodada para trás no lado hemiplégico tracionado para cima. O quadril está estendido, aduzido em rotação interna. O joelho está estendido, o pé está em flexão plantar e inversão (DAVIES, 1997). Quadro 3 – Exemplo do padrão da postura hemiplégica Fonte: o autor Postura parkinsoniana: caracteriza-se pela inclinação anterior de cabeça e tronco, membros superiores flexionados e os dedos em posição de pinça com característico tremor de repouso, assemelhando-se ao movimento de “contar dinheiro” ou “rolar pílulas”. Figura 2 – Postura Parkinsoniana típica (flexão de tronco e cabeça, deslocamento anterior do centro de gravidade) Fonte: o autor Postura de decorticação: postura flexora dos membros superiores e extensora dos membros inferiores, comum em lesões acima do núcleo rubro do mesencéfalo. Postura de descerebração: hiperextensão com tendência à pronação dos quatro membros, própria das lesões do tronco encefálico. Postura miopática: caracterizada pela acentuação da lordose lombar, hipertrofia das panturrilhas e saliência das escápulas. 2.4 Fácies: são relativas às expressões fisionômicas do paciente. A seguir, estão as mais importantes e comuns na área de neurologia (POSNER; SAPER; SCHIFF; PLUM, 2007): Fácies da paralisia facial: caracterizada pelo desvio da comissura labial para o lado da hemiface sadia e pela incapacidade de fechar o olho (logoftalmo) do lado da hemiface paralisada. Aqui, estão referidas características da paralisia facial periférica (nuclear ou infranuclear) e não a do tipo central (supranuclear), que estão comentadas com mais detalhes no capítulo 4, sobre nervos cranianos. Fácies de Hutchinson: das oftalmoplegias, em que o paciente reclina a cabeça para trás e contrai a musculatura frontal enrugando a testa, na tentativa de compensar a ptose palpebral. É vista em lesões do nervo oculomotor, doenças como a miastenia gravis. Fácies parkinsonianas: própria da doença de mesmo nome, inexpressiva, em máscara, com piscar raro, às vezes, com a boca entreaberta escorrendo saliva, ou tremor nos lábios e mandíbula. Fácies coreicas: própria das coreias, caracterizada pelos trejeitos contínuos do rosto, acometimento da face pela movimentação involuntária. Fácies miopáticas: apresenta atrofia dos músculos faciais, sem rugas, lisa e inexpressiva. Pode-se observar também calvície e catarata. Fácies tetânicas: na qual se observa o enrugamento da testa, a musculatura facial está contraída. 2.5 Dimorfismo: são as alterações na forma/formato/volume de estruturas como crânio, coluna e face (POSNER; SAPER; SCHIFF; PLUM, 2007): O crânio pode apresentar malformação, como: Macrocefalia: aumento do volume do crânio, frequentemente devido à hidrocefalia, ou seja, aumento de líquido céfalo-raquidiano nas cavidades ventriculares e meníngeas. Microcefalia: diminuição do volume do crânio. Cranioestenose: ocorre quando há o fechamento precoce de uma das suturas cranianas, associa-se à hiperextensão craniana. A coluna vertebral pode apresentar algumas deformações, como por exemplo, as escolioses em geral, gibosidades comuns do mal de Pott. A facetambém pode ter dimorfismos quando há atrofia hemifacial de Romberg. 2.6 Movimentos Involuntários: São anormalidades observadas no paciente em repouso, que se intensificam com a atividade, e desaparecem durante o sono. Também são denominados discinesias (CAMBIER, 1999; ROWLAND, 2007). Pode-se notar se há continuidade ou intermitência na manifestação desses movimentos, classificando-se em contínuos ou facilmente evocados. A seguir, estão citados alguns movimentos: Tremores são movimentos oscilatórios rítmicos, caracterizados por contrações alternadas de grupos musculares opostos ou simultâneos de músculos agonistas e antagonistas. Tremor de repouso: tremor parkinsoniano, ritmo de 5Hz, presente no repouso. Diminui com relaxamento e pode desaparecer com sono. Pode reduzir com movimento voluntário. Tremor de intenção: lesões cerebelares, grosseiro e irregular. Facilmente visto nos testes de coordenação (index-index, calcanhar-joelho). Miocloniarefere-se a movimentos oriundos de contrações súbitas de grupos musculares, semelhantes a um choque. Coreias são contrações breves e irregulares, de média amplitude, que ocorrem principalmente nas extremidades dos membros e face. Não são repetitivos ou rítmicos, sem finalidade. CASO CLÍNICO: Advogado, 45 anos, vem alterando sua personalidade. Primeiro, ficou irritado e mal-humorado, e depois impulsivo e desconfiado. Ao exame, os movimentos involuntários incluem um piscar frequente, caretas faciais intermitentes e movimentos assimétricos irregulares, breves e rápidos, de braços e pernas, de predomínio distal. O paciente foi diagnosticado com doença de Huntington, caracterizado por um distúrbio hereditário e progressivo com comportamento anormal, demência e coreia. A estrutura mais afetada nesse caso são os núcleos da base, principalmente o corpo estriado, mais o caudado que o putâmen. Em fase avançada, começa a degenerar células neuronais na região cortical. Atetose são movimentos serpenteantes, lentos, de pequena amplitude e contínuos dos membros (distais e proximais), tronco, cabeça, face ou língua. Existem movimentos de atetose que associam-se à coreia (coreoatetose). Distoniaé contração muscular prolongada, causando movimentos repetidos de torção ou posturas anormais. Miofasciculações são contrações de fibras musculares, visíveis sob a pele, não causam movimentos articulares. Tiques podem ser abalos simples ou sequencias complexas de movimentos coordenados que aparecem de maneira súbita e intermitente. Ainda dentro deste item, podemos considerar alguns padrões anormais de movimento que são encontrados com frequência em pacientes neurológicos: A persistência de sinergias primitivas em massa envolve a execução de movimentos estereotipados, não seletivos, ou seja, a intensidade da atividade muscular é a mesma para todos os esforços, independentemente da demanda (movimentos ativos). Ex. Sinergia flexora Escápula elevada e retraída, ombro abduzido, cotovelo fletido, dedos fletidos e aduzidos. Quadro 4 – Sinergias primitivas em membros superiores de pacientes neurológicos Fonte: o autor 2.7 Mãos e Pés: é importante se fazer a inspeção visual, notando-se aspectos de atrofia da musculatura e posição articular. 2.8. Pele: ressalta-se a observância de lesões cutâneas congênitas, manchas, adenomas etc. 2.9 Trofismo: refere-se ao estado nutricional do músculo. Examinado por meio da observação visual, mensuração e palpação. É importante se notar as atrofias, que podem ser: Atrofia miopática: cujas características se voltam à ausência de distúrbios sensitivos, inicia-se pela raiz do membro. Figura 3 – Quadro de atrofia miopática Fonte: o autor Atrofia neurogênica: que tem o início pela extremidade distal do membro, distribuição conforme a inervação, possível existência de distúrbios sensitivos e reação de degeneração. Figura 4 – Quadro de atrofia neurogênica causada por polineuropatia hereditária de Charcot-Marie-Tooth Fonte: o autor Exemplo: A inspeção visual permite a observação de uma paciente hemiplégica, citada anteriormente no item anamnese, contribuindo para o seguinte registro de achados: apresenta-se em atitude ativa, pois deambula de acordo com vontade própria e auxiliada por uma bengala na mão direita; a postura hemiplégica está citada com detalhes em item de mesmo nome; não apresenta alterações de face e tampouco dismorfias, apenas revela um desvio lateral de tronco para o lado plégico, caracterizando-se em um padrão postural, gerada pelas próprias sinergias, ocorre desalinhamento do centro de gravidade e alteração do limite de estabilidade. O exame do trofismo nos revela uma hipotrofia leve da parte distal e média da coxa esquerda, comprovada pela perimetria e palpação. Nas mãos, notam-se alterações de coloração na palma da mão esquerda, edema e formigamentos. 3. Trocas posturais durante a inspeção As trocas posturais (mudanças de decúbito) devem ser avaliadas durante a inspeção do indivíduo. Devemos observar as principais posturas ou transições desde o decúbito dorsal até a posição em pé ou a postura mais elevada que o indivíduo conseguir. O que é possível observar no indivíduo durante as trocas posturais? Compensações? Sim. Um indivíduo com distrofia muscular de Duchenne, quando está sentado, pode assumir uma postura totalmente cifótica devido à fraqueza dos eretores da espinha. Durante a transição do sentado para em pé, o indivíduo escala os membros inferiores (manobra de Gowers) até assumir a posição em pé, que também é compensatória: hiperextensão de joelho, anteversão pélvica, hiperlordose lombar, retração escapular e extensão de membros superiores. Reflexos? Sim, mas somente possível observar os reflexos tônicos. Um indivíduo com paralisia cerebral há seis anos, com reflexo tônico cervical simétrico (RTCS), ao passar de prono para a postura de gato, permanece nessa posição mantendo extensão da coluna cervical, o que gera extensão de membros superiores, porém os membros inferiores ficam fletidos, o que pode levar ao desabamento da pelve. Quando solicitado a fletir a cervical, irá fletir os membros superiores, desabando a cintura escapular. Tônus? Sim. Paciente com AVC, apresenta aumento do tônus flexor de membros superiores e extensor de membros inferiores ao realizar o rolamento, ou na transição da postura sentada para em pé, pode aumentar o tônus extensor de joelho, com aumento da flexão plantar e garra dos artelhos. E sim para todos os itens da avaliação neurológica, buscando observar quais compensações, reflexos ou alterações de tônus podem estar envolvidas. 4. Marcha durante a inspeção Dentre os distúrbios da marcha, consideramos os mais importantes (UMPHRED, 1996): Marcha hemiplégica (marcha ceifante):postura típica de flexão do membro superior e extensão de membro inferior, pé em equino. Enquanto caminha o indivíduo realiza um movimento circular com membro hemiplégico, usando principalmente o músculo quadrado lombar para evitar que o pé fique arrastando no chão e para dar o passo. Marcha espástica, paraplégica(marcha em tesoura): o paciente apresenta dificuldade na flexão do quadril e um excesso de adução e rotação interna do quadril bilateral. Marcha escarvante:própria da paralisia do tibial anterior, dificultando a flexão dorsal do pé. Assim, a marcha fica com o pé caído enquanto o paciente executa uma flexão exacerbada de quadril e joelho. Marcha atáxica:desequilibrada, em que há afastamento dos membros superiores do tronco, alargamento da base de sustentação e, na presença de déficit sensorial (ataxia sensitiva), pode apresentar fixação do olhar no solo. Antigamente era denominada marcha ébria (relativa ao caminhar de uma pessoa embriagada). Porém, essa classificação não é mais utilizada pois na marcha atáxica existe intensa co-ativação muscular e assim grande gasto energético, diferente da ébria. Marcha parkinsoniana:paciente realiza caminhada conservando sua postura típica, rígida, com passos curtos, festinantes, e com os membros superiores sem movimentação automática. Marchamiopática(anserina): relaciona-se com as distrofias musculares, lembra o andar do pato, com grande movimentação de quadris, com acentuação da lordose lombar e escápulas aladas. A marcha não deve ser caracterizada em apenas uma categoria. Mesmo dentro da categoria, o padrão pode ser individualizado, portanto, deve ser vista como um conjunto de interações de sistemas baseado no controle motor normal e anormal, e na biomecânica. O detalhamento da marcha está descrito no capítulo 15. 5. Implicações clínicas A anamnese no paciente neurológico é de extrema importância, pois é o primeiro passo para criar hipóteses clínicas. O olhar crítico deve ser desenvolvido a fim de direcionar o restante da avaliação. Antes de realizar qualquer teste clínico, devemos observar tônus, posturas, atitudes, padrões atípicos de movimento, o que pode direcionar o terapeuta para a melhor hipótese. TAREFA DE LABORATÓRIO Aguçando o olhar crítico e clínico - Observe e inspecione diferentes patologias neurológicas. Tente observar pacientes com lesões centrais e periféricas e responda às perguntas a seguir: a) Como ele desenvolve as trocas posturais? Ele consegue mudar de deitado para sentado e para em pé? b) Como ele deambula? Tem dificuldades específicas na marcha? c) Apresenta movimentos involuntários? Os movimentos involuntários aparecem em alguma situação de desequilíbrio, força, estresse? d) Apresenta alguma má-formação aparente? Há alterações na fácie? 6. Referências BRAINE, M. E.; COOK, N. The Glasgow Coma Scale and evidence-informed practice: a critical review of where we are and where we need to be. J Clin Nurs, v. 26, n. 1-2, p. 280-293, 2017. CAMBIER, J.; MASSON, M.; DEHEN, H. Manual de Neurologia. 9. ed. Medsi Editora Médica e Científica, 1999. CAMPBELL, W. W. De Jong´s neurological examination. 6. ed. Lippincott: Philadelphia, 2005. DAVIES, P. Recomeçando outra vez. 1. ed. São Paulo: Manole, 1997. DAVIES, P. Passos a seguir. 1. ed. São Paulo: Manole, 1996. LIN, K.; WROTEN, M. Ranchos Los Amigos. StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2018. POSNER, J. B.; SAPER, C. B.; SCHIFF, N. D.; PLUM, F. Plum and Posner´s diagnosis of stupor and coma. 4. ed. New York: Oxford University Press, 2007. ROWLAND, L. P. Merritt: tratado de neurologia. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. UMPHRED, D. A. Fisioterapia Neurológica. 2. ed. São Paulo: Manole, 1996. Capítulo 3 Uso de Avaliações Padronizadas em Fisioterapia aplicada às Doenças Neurológicas Como ser objetivo na avaliação e padronizar os resultados? Dr.ª Camila Torriani-Pasin Tatiana Beline de Freitas Natalia Padula Gisele Carla dos Santos Palma 1. Introdução Este capítulo tem o objetivo de discutir a avaliação neurológica baseada nos componentes da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) (WHO, 2001); facilitar a escolha de instrumentos apropriados para pacientes pós-Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença de Parkinson (DP) e lesão medular (LM); apresentar as medidas psicométricas dos instrumentos e sua aplicação, além de apresentar casos clínicos que envolvem o raciocínio clínico e a seleção de tais instrumentos, a fim de direcionar o estabelecimento dos objetivos terapêuticos. A avaliação é parte integrante da reabilitação do paciente neurológico, e o uso de instrumentos de avaliação abrangentes, padronizados (DUNCAN, 2013) e validados na literatura deve fazer, cada vez mais, parte desse processo. No entanto um instrumento de avaliação somente gera benefícios se as informações fornecidas forem passíveis de interpretação (CAPATO; DOMINGOS; ALMEIDA, 2016) e sua utilização for prática e aplicável ao dia a dia clínico e de pesquisa. Instrumentos de avaliação cuidadosamente selecionados e usados adequadamente dão suporte aos fisioterapeutas e aos pacientes de maneira estruturada, objetiva e transparente e devem apoiar a tomada de decisões clínicas. Além disso, seu uso serve para definir objetivos e metas a curto e longo prazos que atendam às necessidades do paciente (CAPATO; DOMINGOS; ALMEIDA, 2016); desenvolver um plano de tratamento apropriado voltado para os problemas identificados; gerar motivação e adesão ao tratamento; permitir monitorar as mudanças ao longo do tratamento, medindo o progresso individual (CAPATO; DOMINGOS; ALMEIDA, 2016); gerar comunicação entre si e com outros profissionais da saúde (CAPATO; DOMINGOS; ALMEIDA, 2016), além de embasar a continuidade ou descontinuidade do tratamento fisioterapêutico, apoiando a avaliação da eficácia de intervenções e serviços terapêuticos (CAPATO; DOMINGOS; ALMEIDA, 2016; DUNCAN, 2013). A seleção de instrumentos de avaliação na prática neurológica é complexa devido à variabilidade encontrada nas etiologias, heterogeneidade dos sintomas, variabilidade na gravidade e diferentes trajetórias de recuperação apresentadas pelos pacientes (BARAK; DUNCAN, 2006; DUNCAN, 2013). Apesar disso, Duncan (2013) sugere quatro fatores-chave que devem orientar a seleção de medidas de resultados para a prática clínica e a pesquisa: estrutura conceitual, propriedades psicométricas, modo de administração do instrumento e fonte de informação e a viabilidade do seu uso. A estrutura conceitual atual utilizada na reabilitação neurológica é a CIF (WHO, 2001). Nesse sentido, a avaliação deve identificar as deficiências, as limitações de atividade e restrições de participação, bem como as barreiras ambientais e pessoais (BARAK; DUNCAN, 2006; CAPATO; DOMINGOS; ALMEIDA, 2016; DUNCAN, 2013; SILVA et al., 2015). As deficiências podem incluir déficits motores, sensoriais, cognitivos, de percepção, linguagem, emocionais, entre outros. A avaliação das atividades inclui atividades da vida diária (por exemplo, mobilidade, equilíbrio, vestuário e autocuidado) ou atividades instrumentais (por exemplo, dirigir, tomar remédios, fazer compras). Já a participação inclui a avaliação do exercício de diversos papéis de vida e na sociedade, tais como o trabalho, família, lazer, desempenho religioso, cívico, entre outros. Os fatores pessoais, como autoeficácia e a motivação, por exemplo, são imprescindíveis de serem avaliados, pois podem modificar as relações entre deficiências, atividades e participação (DUNCAN, 2013; JONES; RIAZI, 2011). As propriedades psicométricas mais utilizadas de um instrumento de avaliação são a validade, a confiabilidade e responsividade do instrumento (ECHEVARRÍA-GUANILO; GONÇALVES; ROMANOSKI, 2017). Estas estão ilustradas na Figura 1. Figura 1 – Medidas Psicométricas dos Instrumentos de Avaliação. Fonte: o autor A validade refere-se à qualidade de um instrumento para medir o construto para o qual foi construído (ECHEVARRÍA-GUANILO; GONÇALVES; ROMANOSKI, 2017). A confiabilidade refere-se ao grau de consistência com que os itens do instrumento medem o atributo proposto livre de erro de medida e o grau em que o instrumento permite a reprodução e a obtenção de resultados consistentes, quando aplicados em diferentes ocasiões, exceto por erros aleatórios (ECHEVARRÍA-GUANILO; GONÇALVES; ROMANOSKI, 2017). A confiabilidade também é referida na literatura como sinônimos de: precisão, concordância, equivalência, consistência, objetividade, fidedignidade, constância, reprodutibilidade, estabilidade, confiança e homogeneidade. O estudo da confiabilidade contempla três importantes aspectos: a consistência interna, a confiabilidade propriamente dita e o erro de medida (ECHEVARRÍA- GUANILO; GONÇALVES; ROMANOSKI, 2017). Com relação à consistência interna, esta se refere à homogeneidade dos itens, ou seja, ao quanto os itens medem o mesmo atributo e produzem resultados consistentes (ECHEVARRÍA-GUANILO; GONÇALVES; ROMANOSKI, 2017). Com relação à confiabilidade propriamente dita, ela pode ser medida por meio do teste-reteste (test-retest reliability), interobservador (inter-rater reliability), intraobservador (intra-rater reliability) e formas paralelas (parallel test) ou formas equivalentes (equivalent-forms) (ECHEVARRÍA-GUANILO; GONÇALVES;ROMANOSKI, 2017). Já com relação ao erro da medida, deve ser avaliado e conhecido pelo profissional e pelo pesquisador, pois sua presença tem como principal consequência a redução da confiabilidade de um instrumento. Os erros de medida podem ocorrer de forma sistemática ou aleatória. O erro sistemático ou viés poderá afetar igualmente todas as medições, seja pela influência do entrevistado ou por mudanças de avaliadores com treinamentos distintos. O erro aleatório poderá estar presente em algumas situações, por exemplo, no registro de informações quantitativas semelhantes. Outro aspecto que poderá influenciar a confiabilidade da medida é o tempo (curto ou amplo demais) transcorrido entre as medidas. Com relação a esse aspecto, é importante que o pesquisador ou o profissional que fará uso da avaliação compreenda que a confiabilidade não se trata de uma propriedade de medida fixa de um instrumento, já que pode variar entre populações e entre situações diversas nas mesmas populações (ECHEVARRÍA-GUANILO; GONÇALVES; ROMANOSKI, 2017). A responsividade é definida como a capacidade do instrumento de detectar mudanças do estado de saúde dos pacientes ao longo do tempo (ECHEVARRÍA- GUANILO; GONÇALVES; ROMANOSKI, 2017). Outro aspecto que devemos ressaltar é a necessidade e a importância da adaptação do instrumento de avaliação para o idioma e a cultura na qual se está inserido, pois devem ser preservadas suas propriedades de validade e confiabilidade após a adaptação (ECHEVARRÍA-GUANILO; GONÇALVES; ROMANOSKI, 2017). Desse modo, a escolha de um sistema de avaliação deve contemplar a existência deste traduzido, adaptado e válido para a língua portuguesa. A partir disso, alguns conceitos podem nos ajudar a verificar se as mudanças que ocorrem entre uma avaliação e uma reavaliação são relevantes para aquela determinada população. As mais utilizadas na literatura e que devem subsidiar a escolha do instrumento são: a mínima mudança clinicamente importante (minimal clinically important difference – MCID) e a mínima mudança detectável (minimal detectable change – MDC). A MCID pode ser definida como a menor diferença no escore do instrumento de avaliação que os pacientes percebem como benéfico (JAESCHKE; SINGER; GUYATT, 1989; LIN et al., 2010), e isso ocorre porque uma mudança estatisticamente significante não é sinônimo de uma mudança clinicamente importante para o paciente (LIN et al., 2010). Já a MDC é definida como a menor mudança na pontuação que um paciente apresenta entre a avaliação e a reavaliação que deve ser considerada como mudança e não como erro da medida, ou seja, o MDC é a quantidade mínima de alteração em uma pontuação que provavelmente reflete uma mudança real em vez de uma variação na medição (LIN et al., 2010). O terceiro aspecto levantado por Duncan (2013) que deve ser levado em consideração para a escolha de um instrumento de avaliação é o modo de administração. Os modos de administração podem incluir avaliação real do desempenho, autorrelato, entrevistas administradas pelo entrevistador (presenciais ou por telefone) e métodos computadorizados. Na prática clínica, a maioria das avaliações é baseada no desempenho. No entanto a avaliação baseada no desempenho pode apenas refletir o desempenho em um único momento e refletir o ambiente clínico mais especificamente e não o “mundo real”. Já as avaliações de autorrelato são mais rápidas e refletem a perspectiva do paciente, porém podem ser limitadas pelos problemas de cognição e comunicação de pacientes neurológicos (DUNCAN, 2013). Avaliações de autorrelato são importantes, pois apresentam o ponto de vista do principal interessado na reabilitação, o paciente. Desse modo, uma abordagem centrada no paciente busca o relato deste para entender questões como: atitudes, experiências individuais, sentimentos, emoções, comportamentos e a saúde percebida (STONE et al., 2008). Entretanto o uso dos relatos dos pacientes ainda é pouco difundido e entendido na literatura (RUMSFELD et al., 2013)functional status, and health-related quality of life (HRQL; Figure, havendo poucos instrumentos que o consideram e, consequentemente, poucos delineamentos de estudos que incluem medidas mais qualitativas relacionadas às informações reportadas pelos pacientes. Captar problemas de qualidade de vida que são mais importantes para os pacientes é crucial justamente porque refletem a participação social destes após uma lesão neurológica. Desse modo, mensurar e gerar Medidas Relacionadas ao Paciente (MRP) como um componente central dos cuidados clínicos faz com que os profissionais possam usá-los para melhorar os cuidados de um indivíduo, bem como melhorar os cuidados de forma mais geral para uma determinada população neurológica (NEIL, 2016). Por fim, o quarto aspecto levantado por Duncan (2013) é a viabilidade da aplicação do instrumento de avaliação. Essa questão leva em consideração o tempo de administração, a viabilidade do espaço onde a avaliação será realizada e os materiais necessários para a realização deste. Assim, baseados nas assunções descritas anteriormente, este capítulo tem como objetivo principal listar as principais avaliações utilizadas na prática clínica em pacientes pós-Acidente Vascular Cerebral (AVC), Doença de Parkinson (DP) e Lesão Medular (LM). 2. Avaliação clínica em pacientes pós-AVC O AVC traz comprometimentos em diversos âmbitos da vida, e essas disfunções, em conjunto, repercutem na funcionalidade do indivíduo. Os comprometimentos relacionados serão dependentes do local e da extensão da lesão, do tipo de lesão e do número de lesões, haja vista que o AVC pode ser recorrente e agregar novas deficiências a um quadro já existente (GILLEN, 2015; TIPPING, 2008). A avaliação nesse contexto em que diversos domínios estão comprometidos necessita ser direcionada a fim de permitir a elaboração de uma intervenção efetiva. Avaliar o paciente baseado nos pressupostos da CIF (WHO, 2001) permite que se possa ampliar a visão sobre o paciente e direcionar objetivos de intervenção para cada componente, quando este é avaliado por meio de um instrumento adequado. A seguir, apresentaremos a interação entre os componentes da CIF (funções e estruturas corporais, atividades e participação) e alguns instrumentos de avaliação que podem ser utilizados em cada um desses componentes no paciente pós-AVC, conforme ilustra a Figura 2 a seguir. Nessa figura, os retângulos em vermelho são referentes a escalas que contemplam diferentes componentes da CIF, havendo intersecção entre dois ou mais componentes. Figura 2 – Instrumentos de avaliação de acordo com os domínios da CIF em pacientes pós-AVC Fonte: o autor Legenda: MEEM: Miniexame de Estado Mental; MoCA: Montreal Cognitive Assessment; AM: Ashworth modificada; RMS: Research Medical Council; TSL - 30 seg: teste sentar e levantar – 30 seg; TSL – 5 vezes: teste sentar e levantar – cinco vezes; TC – 6 min: Teste de caminhada de seis minutos; ORP: Escala de Prognóstico de Orpington; FuM: Fugl-Meyer; BBS: Escala de Equilíbrio de Berg; DGI: Índice Dinâmico de Marcha; TUG: teste de levantar e caminhar; AF: alcance funcional; TC – 10m: teste de marcha de 10 metros; Escala ABC: Escala de Confiança de Atividade/Específica Do Equilíbrio; RNLI: Reintegration to Normal Living Index; PSFS: Patient Specific Funcional Scale; EI - AVC: Escala de Impacto do Acidente Vascular Cerebral; SSQoL: Escala Específica Para Qualidade de Vida após Acidente Vascular Cerebral. 2.1 Estruturas e Funções corporais As Funções e Estruturas Corporais da CIF podem ser avaliadas de maneira global, relativas ao grau de comprometimento daquela função ou estrutura após o AVC. Iniciaremos exemplificando com a funções cognitivas e suas estruturas. O comprometimento cognitivo causado por essa patologia pode acontecer em diversas funções, tais quais, linguagem, funções executivas, atenção, memória, percepção e práxis (DICHGANS; LEYS, 2017; RACE et al., 2009; TEASELL; HUSSEIN, 2014). Dessa forma, a avaliação deverá, sempre que possível, acessar taisfunções de forma separada. A seguir, apresentaremos alguns instrumentos disponíveis para essa finalidade. Miniexame de Estado Mental (MEEM) O MEEM objetiva a avaliação e detecção de um declínio cognitivo dos indivíduos. O MEEM é composto por questões que contemplam sete categorias, buscando abranger o complexo e amplo domínio cognitivo: orientação no tempo (5 pontos), orientação no espaço (5 pontos), registro de três palavras (3 pontos) para avaliação da memória de trabalho, atenção e cálculo (5 pontos), lembrança das três palavras (3 pontos) para avaliação da memória de curto prazo, linguagem (8 pontos) e capacidade construtiva visual (1 ponto) para avaliação da abstração. O escore do MEEM pode variar de um mínimo de 0 até um total máximo de 30 pontos (BERTOLUCCI et al., 1994). A classificação baseada no escore do paciente direciona no sentido da ausência de comprometimento cognitivo, comprometimento leve e comprometimento severo, deste modo: Ausência: 25 – 30 pontos; Comprometimento leve: 18 – 24 pontos; Comprometimento severo: 0 – 17 pontos. A mínima mudança detectável para essa escala é de 5 pontos ou menos para um período de cinco a 10 anos (SHIRLEY RYAN ABILITYLAB – FORMERLY RIC, 2013). Além disso, os pontos de corte de alteração cognitiva relacionados à escolaridade também nos ajudam a entender qual o efeito da doença na cognição, sendo 26 para indivíduos com alta escolaridade, 18 para baixa/média escolaridade e 13 para analfabetos (BERTOLUCCI et al., 1994). Montreal Cognitive Assessment (MoCA) Tem como objetivo a avaliação dos domínios cognitivos direcionados ao comprometimento cognitivo leve. O instrumento avalia os domínios relativos a: funções visuoespaciais e executivas para avaliar a velocidade de processamento, nomeação, memória (avalia especificamente memória de trabalho e curto prazo), atenção (avaliando a seleção e o estado de vigília), linguagem (avaliação da fluência verbal), abstração, evocação tardia (memória de longo prazo) e orientação. A pontuação total é de 30 pontos e pontuações maiores ou iguais a 26 indicam desempenho normal (NASREDDINE et al., 2005), assim, escores abaixo deste indicam comprometimento cognitivo leve. Existe ainda disponível no site oficial dessa avaliação um questionário mais básico especializado para pessoas de baixa escolaridade ou analfabetos, o MoCA-B, que, apesar de ter essa versão traduzida para o português, ainda não é possível encontrar estudos de validação e adaptação cultural (JULAYANONT et al., 2015). Ashworth modificada (AM) A escala Ashworth modificada é utilizada na avaliação de hipertonia elástica ou espasticidade (CRAVEN; MORRIS, 2010). O profissional gradua o tônus muscular dos segmentos afetados pela LM em posições pré-definidas definidas para cada músculo, realizando o movimento passivo antagonista ao músculo em alta velocidade. A espasticidade é pontuada de 0 a 4 de acordo com a percepção de resistência, durante o movimento realizado, pelo profissional, sendo considerado 0 = sem aumento do tônus muscular; 1 = leve aumento do tônus muscular, manifestado por um contrair e relaxar ou por mínima resistência no final da ADM, quando a parte afetada é movida em flexão ou extensão; 1+ = leve aumento do tônus muscular, em menos da metade da ADM, manifestado por uma tensão abrupta, seguida de resistência mínima até o final da ADM; 2 = aumento do tônus muscular na maior parte da ADM, mas é possível realizar a movimentação passiva ao longo da ADM; 3 = aumento considerável do tônus muscular com movimento passivo difícil, e 4 = membros rígidos em flexão ou extensão. Research Medical Council (RMC) A força muscular é avaliada por meio do Research Medical Council – que pode incluir todos os grupos musculares bilateralmente, ou então, considerar apenas os grupos musculares de maior interesse (GREGSON et al., 2000)wrist, knee and ankle; flexors and extensors, baseados no comprometimento após o AVC. As diretrizes de aplicação estão especificadas para cada músculo e contemplam a posição inicial, solicitação de movimento e forma de oferecimento da resistência manual. Teste de Sentar e Levantar em 30 segundos (TSL) Este teste, apesar de contemplar a realização de uma atividade, permite inferir sobre a força e resistência dos membros inferiores durante a execução desta, por isso, pode ser incluído na parte de função corporal, baseada na CIF. A posição inicial para o teste é: o paciente, sentado na cadeira, deve cruzar os braços com o dedo médio em direção ao acrômio. Ao sinal do fisioterapeuta, o paciente levanta-se e fica totalmente em pé e, então, senta-se novamente. O participante deve completar quantas ações similares a esta forem possíveis em 30 segundos. O teste não pode ser repetido na mesma sessão. A pontuação ocorre por meio do número total de execuções corretas durante o tempo do teste. Caso, ao final dos 30 segundos, o paciente estiver no meio da elevação, o terapeuta deve contar esta como uma execução completa (NG et al., 2016). 2.2 Atividade As atividades são impactadas por consequência das deficiências nas estruturas e funções corporais após um AVC, e podem-se observar essas limitações nas atividades básicas e instrumentais de vida diária. Assim, uma avaliação específica das atividades mais relevantes ao paciente será fundamental para guiar o objetivo da fisioterapia e aproximar as estratégias de tratamento às dificuldades enfrentadas pelo paciente, como por exemplo, avaliações sobre o equilíbrio estático e dinâmico e alterações na velocidade da marcha. No componente da CIF relacionado às Atividades, podemos considerar as seguintes avaliações: Escala de Equilíbrio de Berg (Berg) Com o objetivo de detectar problemas de equilíbrio, essa escala é utilizada na determinação dos preditores para perda da independência e quedas em idosos. A Berg quantifica o equilíbrio funcional e avalia o desempenho do equilíbrio funcional em 14 itens relacionados à vida diária. Cada item é avaliado em uma escala ordinal de cinco alternativas que variam de 0 a 4 pontos. A pontuação máxima a ser atingida é de 56 pontos. A avaliação vai desde manter uma determinada postura, por exemplo, ortostatismo, a realizar transferências e pegar objetos no chão (SCALZO et al., 2009). Teste da Caminhada de seis Minutos (TC – 6 min) Trata-se de um teste de esforço submáximo, simples, de fácil aplicabilidade e de baixo custo. Apesar de gerar alterações na frequência cardíaca e na pressão arterial (POHL et al., 2002), não possui correlação significativa com o VO² máximo em indivíduos pós-AVC. Assim, não é o mais adequado considerá-lo uma medida de nível de condicionamento cardiorrespiratório nessa população (ENG; DAWSON; CHU, 2004). Desse modo, torna-se mais adequado utilizá-lo para mensurar a capacidade funcional de marcha, uma vez que avalia a capacidade de um indivíduo em manter uma atividade física moderada durante um período de tempo determinado (ENG et al., 2002). Apresenta moderada correlação com os aspectos motores e de locomoção da Medida de Independência Funcional (FULK et al., 2008), e levando-se em consideração comprometimentos comuns no pós-AVC (redução do equilíbrio e da força muscular, espasticidade, entre outros) que também interferem na distância total percorrida durante o teste (ENG, 2004). Mede-se um trajeto de 30m e delimita- se suas extremidades com cones; solicita-se, em seguida, que o avaliado percorra a maior distância possível em seis minutos, indo e voltando no trajeto delimitado (contornando os cones nas extremidades). Não é permitida a utilização de meios auxiliares, como bengalas e andadores e, mesmo que não se interrompa o tempo do teste, é permitido que o avaliado pare para descansar caso se sinta muito cansado. Ao fim do teste, mede-se a distância percorrida (metros) nos seis minutos e monitora-se os sinais vitais, como pressão arterial e frequência cardíaca (RIKLI; JONES, 1998). O teste possui excelente confiabilidade teste- reteste (ICC = 0,99) (ENG, 2004) e validade de critério quando correlacionado com o Testede Degrau (r = 0,88) (FLANSBJER et al., 2005). Índice Dinâmico de Marcha (Dymanic Gait Index-DGI) O objetivo deste teste é avaliar a capacidade de o paciente modificar a marcha em resposta às mudanças nas demandas de determinadas tarefas. O DGI é constituído de oito tarefas que envolvem a marcha em diferentes contextos sensoriais, que incluem superfície plana, mudanças na velocidade da marcha, movimentos horizontais e verticais da cabeça, passar por cima e contornar obstáculos, giro sobre seu próprio eixo corporal, subir e descer escadas. A pontuação é dada de 3 = Marcha normal, 2 = comprometimento leve, 1 = comprometimento moderado e 0 = comprometimento grave. A pontuação máxima é de 24 pontos (CASTRO; RODRIGUES; GANANÇA, 2006). Timed Up and Go (TUG) Avalia o equilíbrio dinâmico. O teste consiste em levantar de uma cadeira com os braços cruzados sobre o tórax, andar três metros, virar-se, voltar e sentar novamente na cadeira. O critério utilizado é o tempo para a realização do teste (PODSIADLO; RICHARDSON, 1991). A mínima mudança detectável para essa medida é de 2,9 segundos e o erro padrão da medida é de 1,14 segundos (FLANSBJER et al., 2005). Alcance Funcional (AF) É um instrumento de avaliação utilizado para identificar alterações dinâmicas relativas ao controle postural. Pede-se ao paciente que fique em pé, com o ombro não comprometido próximo a uma parede, onde está fixada uma fita métrica, realizando uma flexão anterior do braço a ٩٠º com os dedos da mão estendidos. Nessa posição, o comprimento do membro superior do paciente é registrado. Logo após, pede-se ao paciente que tente alcançar algum objeto à frente, sem dar passos, retirar o calcanhar do chão ou rodar o tronco. O resultado do teste será a média, após três tentativas, da diferença entre a medida na posição inicial e a final registrada. Deslocamentos menores que 15 cm são preditores de fragilidade e risco de quedas (KATZ-LEURER et al., 2009). No AF, o erro padrão da medida é de 2,67 cm no AVC subagudo para o lado não parético, já para o lado parético é de 1,62 cm (KATZ-LEURER et al., 2009). A mínima mudança detectável para o lado não parético é de 2,67 cm e para o lado parético é de 2,3 cm (KATZ-LEURER et al., 2009). Teste de Caminhada de 10 m (TC – 10 m) Este teste é usado para avaliar a velocidade de marcha, o paciente realiza um percurso de 20m em linha reta, dos quais os 5 m iniciais não são avaliados, pois são reservados para aceleração, por 10m o paciente anda em velocidade autosselecionada (espaço utilizado para a avaliação) e os 5m finais para desaceleração, que também não são computados para a análise da velocidade. Marcadores são colocados na posição 5 e 15 m ao longo do percurso. O paciente anda em um ritmo confortável, também denominado de autosselecionado, de um ponto a outro. O terapeuta cronometra o tempo levado para o paciente a atravessar os 10 m centrais do percurso, acionando o cronômetro assim que o membro inferior do paciente atravessa o primeiro marcador e interrompendo o cronômetro assim que o membro inferior do paciente cruza o segundo marcador (NOVAES; MIRANDA; DOURADO, 2011). 2.3 Participação Assim como o domínio da Atividade na CIF, o domínio da Participação é um aspecto importante do ponto de vista biopsicossocial para a reabilitação, justamente por aproximar a reabilitação à vida real do paciente, incluindo sua rotina, valores, trabalho, família (WHO, 2001), o que é um parâmetro ideal para verificar a efetividade da intervenção fisioterapêutica, pois se o paciente tem seu objetivo atendido parcialmente ou totalmente pela fisioterapia, esse paciente será participativo e protagonista em sua vida. Dentro desse contexto, o domínio da CIF relacionado à Participação é uma fonte de MRP e tem papel relevante e crucial para a reabilitação, na medida em que é importante saber, sob a perspectiva do paciente, como ele enxerga sua participação na sociedade e o exercício de seus papéis de vida. Tais medidas apresentam alta confiabilidade e são únicas. Podem ser usadas as seguintes escalas: Reintegration to Normal Living Index (RNLI) A escala Reintegration to Normal Living Index foi desenvolvida para avaliar, quantitativamente, o grau em que indivíduos que sofreram doenças traumáticas ou incapacitantes alcançam a reintegração em atividades sociais normais (por exemplo, recreação, movimento na comunidade e interação na família ou outras relações). A reintegração à vida normal foi definida pelos autores da escala como a “reorganização das características físicas, psicológicas e sociais de um indivíduo em um todo harmonioso para que se possa retomar uma vida bem ajustada após uma doença ou trauma incapacitante” (WOOD-DAUPHINEE et al., 1988). A administração do RNLI é rápida e simples e não requer treinamento para administrar. O índice RNLI é composto por 11 declarações que representam o funcionamento cotidiano dos domínios (mobilidade interna, comunitária e a distância; autocuidado; atividade cotidiana – trabalho e escola); atividades lúdicas e sociais; relações pessoais e percepção de si (apresentação de si para os outros, habilidades gerais de enfrentamento). Cada domínio é acompanhado por uma escala analógica visual (EVA) (0 a 10 cm). A EVA é ancorada pelas declarações “não descreve minha situação” (1 ou integração mínima) e “descreve completamente minha situação” (10 ou integração completa). As pontuações de itens individuais são somadas para fornecer uma pontuação total de 110 pontos, que é convertida proporcionalmente para criar uma pontuação de 100. A escala possui alta consistência interna (ICC=0.83) (STEINER et al., 1996). Importante salientar que, até o momento, não há tradução, adaptação transcultural e validação para a língua portuguesa. Patient Specific Functional Scale (PSFS) O Patient Specific Functional Scale (PSFS) é uma medida de resultado específico do paciente que investiga o status funcional (STRATFORD et al., 1995). Os pacientes são solicitados a selecionar até cinco atividades com as quais tenham dificuldades devido à sua condição e, então, avaliar a limitação funcional associada a essas atividades. O PSFS destina-se a complementar os resultados de medidas genéricas ou específicas de condições. Instruções para o cliente e pontuação: na avaliação inicial, os clientes são perguntados ‘Hoje, há alguma atividade que você é incapaz de fazer ou tem dificuldades com o seu problema [nomeado]?’. Os pacientes, então, classificam sua limitação funcional com cada atividade nomeada em uma escala de 0 a 10, na qual 0 = incapaz de realizar atividade e 10 = capaz de realizar atividade no mesmo nível que antes de lesão ou problema. Nas avaliações de acompanhamento, os pacientes são novamente solicitados a avaliar cada uma de suas atividades previamente nomeadas na mesma escala. Não há pontuação total calculada e o PSFS não é projetado para comparar os pacientes, apenas para acompanhamento do mesmo paciente ao longo do tempo. O PSFS leva apenas 5-10 minutos para concluir e pontuar, não requer nenhum treinamento especial para administrar (HALL et al., 2011; STERLING; BRENTNALL, 2007). Importante salientar que, até o momento, não há tradução, adaptação transcultural e validação para a língua portuguesa. Stroke Impact Scale – Escala de Impacto do AVC (EI – AVC) A SIS é utilizada para avaliar a qualidade de vida após um AVC. Essa escala possui 59 itens que contemplam oito domínios: força (quatro itens), função da mão (cinco itens), AVD / Avid (10 itens), mobilidade (nove itens), comunicação (sete itens), emoção (nove itens), memória e raciocínio (sete itens), participação social (oito itens). Cada item é avaliado em uma escala de Likert de cinco pontos, relacionados à dificuldade que o paciente tenha em completar cada item. Pontuações somatórias são geradas para cada domínio, variando de 0-100. Uma pergunta extra é realizada a fim de saber, numa escala de 0-100, o quanto o paciente sente que se recuperou desde o AVC (LIN et al., 2010). Stroke Specific Quality of Life – Escala Específica
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