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Semiótica e Percepção Visual Estética e Semiótica (Centro Universitário Internacional) Digitalizar para abrir em Studocu A Studocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade Semiótica e Percepção Visual Estética e Semiótica (Centro Universitário Internacional) Digitalizar para abrir em Studocu A Studocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual https://www.studocu.com/pt-br/document/centro-universitario-internacional/estetica-e-semiotica/semiotica-e-percepcao-visual/65537270?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual https://www.studocu.com/pt-br/course/centro-universitario-internacional/estetica-e-semiotica/4387938?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual https://www.studocu.com/pt-br/document/centro-universitario-internacional/estetica-e-semiotica/semiotica-e-percepcao-visual/65537270?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual https://www.studocu.com/pt-br/course/centro-universitario-internacional/estetica-e-semiotica/4387938?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual Indaial – 2020 Semiótica e PercePção ViSual Prof. Jorge Elias Dolzan 1a Edição Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Jorge Elias Dolzan Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográ昀椀ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: D665s Dolzan, Jorge Elias Semiótica e percepção visual. / Jorge Elias Dolzan. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 217 p.; il. ISBN 978-65-5663-289-6 ISBN Digital 978-65-5663-284-1 1. Semiótica. - Brasil. 2. Percepção visual. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 745.2 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 aPreSentação Para iniciar o estudo relacionado à disciplina de Semiótica e à Percepção Visual é necessária uma breve contextualização destas duas temáticas, tão pertinentes à formação de pro昀椀ssionais ligados às áreas de projeto, planejamento e criação. A noção de que processos criativos resultem em produtos/serviços para o mercado, que precisa perceber estes produtos não apenas como necessários utilitariamente, mas como carregados de signi昀椀cados e sentidos, pode contribuir para demonstrar a importância da semiótica e da percepção visual na formação de pro昀椀ssionais ligados às áreas de projeto de produto (seja ele grá昀椀co, industrial, moda, interiores, arquitetura, entre outros). A昀椀nal de contas é preciso ter um vasto repertório visual para dar forma às ideias que serão geradas nos processos criativos de projeto. Ainda, é preciso entender que existe uma teoria que dá conta dos processos de signi昀椀cação e da linguagem visual, na qual temos pouca formação em nossa passagem escolar – há um peso considerável no letramento, mas poucas são as metodologias de ensino escolar que dão ênfase à linguagem visual. E quando optamos por áreas pro昀椀ssionais ligadas ao projeto – e aqui entram a arte (em todos os seus manifestos); a arquitetura; o design; entre outras; carecemos de tal formação. Em paralelo à importância do “letramento” visual – da capacidade de ler e produzir formas e elementos visuais; somos cobrados pro昀椀ssionalmente pela capacidade de entregar conceitos – dar e entender os signi昀椀cados por trás dos textos visuais, ou seja, de que nossos produtos possam se vender por si só, que o resultado de nosso trabalho seja entendido pelo nosso cliente. Além de que precisamos, de certa forma, buscar muitos destes conceitos nos contextos em que está inserido o público-alvo dos nossos projetos. De certa forma, além de ter o “letramento” visual precisamos saber o que vamos “escrever” visualmente. E aí entra a semiótica, como uma ciência que dá conta, sob certa perspectiva, desta leitura de mundo e de como podemos produzir para que este mesmo mundo compreenda. Cada vez mais nos vemos inseridos em uma sociedade onde as relações sociais estão pautadas na imagem e na capacidade de comunicação que o mundo visual (e audiovisual) proporciona. Dentro disso, a percepção visual se torna impactante, à medida que o entendimento de como percebemos e compomos o mundo à nossa volta vem se tornando ferramenta diferenciadora para o sucesso pessoal e pro昀椀ssional. Em outra perspectiva, mas referente ao mesmo objeto, vemos que a capacidade de interpretar coerentemente os elementos de comunicação e a inteligência de darmos sentido ao que queremos comunicar, tem base operacional na Semiótica – que de forma introdutória pode ser entendida como a “ciência que estuda os signos”. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual A junção destas duas áreas (Semiótica e Percepção Visual) tem coerência, mas nos coloca num cenário complexo e denso em abordagens a ser trabalhada em uma disciplina. Desta forma, além de fazer um recorte dos teóricos, vamos, num primeiro momento, dividir as duas temáticas, tratando da semiótica e depois da percepção visual, para então ao 昀椀nal unir as duas, dando conta do objetivo geral da disciplina: desenvolver a capacidade de análise e crítica a partir da noção de percepção visual com base na semiótica. O livro didático está estruturado em três unidades, com a pretensão de discutir os temas: a semiótica, a percepção visual e a semiótica e a percepção visual nos processos de design. Na Unidade 1, estudaremos a semiótica. Serão tratados os conceitos introdutórios de semiologia e semiótica. E, de forma especí昀椀ca, serão trabalhadas de昀椀nições sobre a semiologia e o plano de expressão e plano de conteúdo; e sobre a semiótica e a tricotomia do signo: ícone, índice e símbolo. Na Unidade 2, estudaremos a percepção visual. Abordaremos a percepção visual e aprofundamentos nas leis da organização da forma: Gestalt; e nos princípios, técnicas e elementos básicos da composição. Na Unidade 3, estudaremos a semiótica e a percepção visual nos processos de design; com análise de casos que permitam a aplicabilidade da semiótica na percepção visual, identi昀椀cando as categorias de conteúdo nos formantes da macroestrutura dos textos não verbais. Estas unidades dão conta de suportar a disciplina Semiótica e Percepção Visual que tem como objetivo geral o desenvolvimento da capacidade do discente de analisar e criticar projetos de design, a partir da noção de percepção visual com base na semiótica. Contextualizando estas duas áreas, esta apresentação permite que sejam observados que a disciplina pretende proporcionar aos alunos a instrumentalização necessária ao desenvolvimento de exercícios teóricos e práticos relacionados à semiótica e à percepção visual; promover o entendimento da semiótica comociência base para o desenvolvimento de projeto de design; sensibilizar e instrumentalizar o discente para o uso, intencional, de elementos da linguagem visual; e potencializar a capacidade analítica e crítica do discente com base em fundamentos que suportem seus posicionamentos pro昀椀ssionais. Ciente de que alcançar estes objetivos está relacionado diretamente com o comprometimento de todos os envolvidos, desejamos bons estudos e sucesso! Prof. Jorge Elias Dolzan Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRE TE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 Sumário UNIDADE 1 — SEMIÓTICA ............................................................................................................... 1 TÓPICO 1 — EFEITOS DE SENTIDO NO PROCESSO SEMIÓTICO ....................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 EFEITOS DE SENTIDO NO PROCESSO SEMIÓTICO .............................................................. 3 RESUMO DO TÓPICO 1....................................................................................................................... 8 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 9 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA ................. 11 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 11 2 BASES INICIAIS DE SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA ................................................................ 11 3 SEMIOLOGIA .................................................................................................................................... 15 4 SEMIÓTICA ........................................................................................................................................ 19 4.1 A PRIMEIRIDADE ........................................................................................................................21 4.2 A SECUNDIDADE .......................................................................................................................22 4.3 A TERCEIRIDADE........................................................................................................................22 5 CATEGORIAS DO SIGNO ............................................................................................................. 23 6 TRICOTOMIA DO SIGNO ............................................................................................................. 24 6.1 REPRESENTÂMEN ...................................................................................................................... 25 6.2 INTERPRETANTE ........................................................................................................................ 31 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 40 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 41 TÓPICO 3 — A SEMIOLOGIA E A SEMIÓTICA ......................................................................... 43 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 43 2 A SEMIOLOGIA E O PLANO DE EXPRESSÃO E PLANO DE CONTEÚDO ...................... 43 3 A SEMIÓTICA E A TRICOTOMIA DO SIGNO: ÍCONE, ÍNDICE E SÍMBOLO ................ 47 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 52 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 55 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 56 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 63 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL ............................................................................................ 65 TÓPICO 1 — PERCEPÇÃO VISUAL – FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO .................... 67 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 67 2 PERCEPÇÃO VISUAL – FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO .................................... 68 3 FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO .................................................................................. 72 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 79 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 80 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual TÓPICO 2 — AS LEIS DA ORGANIZAÇÃO DA FORMA: GESTALT ..................................... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 83 2 AS LEIS DA GESTALT ......................................................................................................................83 3 PRINCÍPIOS DA COMPOSIÇÃO DA GESTALT ....................................................................... 88 3.1 UNIDADE ...................................................................................................................................... 88 3.2 SEGREGAÇÃO ............................................................................................................................. 89 3.3 PROXIMIDADE ............................................................................................................................ 90 3.4 SEMELHANÇA............................................................................................................................. 90 3.5 UNIFICAÇÃO ............................................................................................................................... 91 3.6 FECHAMENTO ............................................................................................................................ 92 3.7 CONTINUIDADE ......................................................................................................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 94 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 95 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO ...... 101 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 101 2 OUTROS PRINCÍPIOS E TÉCNICAS ......................................................................................... 101 2.1 HARMONIA ................................................................................................................................101 2.2 CONTRASTE ...............................................................................................................................102 2.3 EQUILÍBRIO ................................................................................................................................ 105 2.4 EQUILÍBRIO E INSTABILIDADE ............................................................................................ 108 2.5 REGULARIDADE E IRREGULARIDADE .............................................................................. 108 2.6 SIMPLICIDADE E COMPLEXIDADE ..................................................................................... 109 2.7 UNIDADE E FRAGMENTAÇÃO ............................................................................................ 109 2.8 ECONOMIA E PROFUSÃO ......................................................................................................110 2.9 MINIMIZAÇÃO E EXAGERO ..................................................................................................111 2.10 PREVISIBILIDADE E ESPONTANEIDADE .........................................................................111 2.11 ATIVIDADE E ESTASE ............................................................................................................112 2.12 SUTILEZA E OUSADIA ..........................................................................................................112 2.13 NEUTRALIDADE E ÊNFASE ................................................................................................. 113 2.14 TRANSPARÊNCIA E OPACIDADE ...................................................................................... 113 2.15 ESTABILIDADE E VARIAÇÃO .............................................................................................. 114 2.16 EXATIDÃO E DISTORÇÃO .................................................................................................... 114 2.17 PLANURA E PROFUNDIDADE ............................................................................................ 115 2.18 SINGULARIDADE E JUSTAPOSIÇÃO ................................................................................. 115 2.19 SEQUENCIALIDADE E ACASO ........................................................................................... 116 2.20 AGUDEZA E DIFUSÃO .......................................................................................................... 116 2.21 REPETIÇÃO E EPISODICIDADE ..........................................................................................117 3 ELEMENTOS VISUAIS .................................................................................................................. 118 3.1 O PONTO ..................................................................................................................................... 118 3.2 A LINHA ......................................................................................................................................120 3.3 A FORMA.....................................................................................................................................121 3.4 A DIREÇÃO .................................................................................................................................122 3.5 O MOVIMENTO ......................................................................................................................... 123 3.6 A ESCALA ................................................................................................................................... 124 3.7 A DIMENSÃO ............................................................................................................................. 126 3.8 A TEXTURA .................................................................................................................................127 3.9 O TOM .......................................................................................................................................... 128 3.10 A COR ......................................................................................................................................... 129 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 132 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 138 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 139 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 143 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL ............................................................. 145 TÓPICO 1 — A PERCEPÇÃO VISUAL E OS PRINCÍPIOS DE ESTILO ................................ 147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 147 2 PRINCÍPIOS E HABILIDADES DE ESTILO ............................................................................. 148 3 OS DOIS ESTÁGIOS DO PROCESSAMENTO VISUAL ....................................................... 148 4 A PRIMEIRA PERCEPÇÃO GLOBAL ......................................................................................... 150 5 A HIPÓTESE VISUAL .................................................................................................................... 151 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 158 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 159 TÓPICO 2 — ANÁLISE DICOTÔMICA ....................................................................................... 163 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................163 2 ANÁLISE DICOTÔMICA: A LEITURA COM BASE NA SEMIOLOGIA OU SEMIÓTICA SAUSSUREANA ..................................................................................................... 163 3 PLANOS DE EXPRESSÃO E CONTEÚDO ................................................................................ 164 3.1 PLANO DE EXPRESSÃO .......................................................................................................... 164 3.2 PLANO DE CONTEÚDO .......................................................................................................... 166 4 ANÁLISE DICOTÔMICA: PLANO DE EXPRESSÃO E PLANO DE CONTEÚDO .......... 166 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 175 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 176 TÓPICO 3 — ANÁLISE TRICOTÔMICA ..................................................................................... 179 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 179 2 ANÁLISE TRICOTÔMICA: A LEITURA COM BASE NA SEMIÓTICA DE PEIRCE ...... 179 3 ANÁLISE TRICOTÔMICA: AS CATEGORIAS DO OBJETO – ÍCONE, ÍNDICE E SÍMBOLO ....................................................................................................................................... 185 4 REFERÊNCIAS ICÔNICAS ........................................................................................................... 194 5 REFERÊNCIAS INDICIÁTICAS ................................................................................................. 195 6 REFERÊNCIAS SIMBÓLICAS ...................................................................................................... 196 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 197 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 203 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 204 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 207 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 1 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender as noções de sentido dentro da noção de representação sígnica; • aprender o que é signo e como se dá o processo de signi昀椀cação; • conhecer os conceitos de semiologia e semiótica como fundamento para o entendimento de semiótica; • re昀氀etir acerca da capacidade humana de interpretar e produzir signos; • potencializar a capacidade analítica e crítica de leitura de objetos sígnicos com base na semiologia (plano de expressão e plano de conteúdo) e na semiótica (ícone, índice e símbolo). Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – EFEITOS DE SENTIDO NO PROCESSO SEMIÓTICO TÓPICO 2 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA TÓPICO 3 – A SEMIOLOGIA E A SEMIÓTICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMAD A Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 2 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 EFEITOS DE SENTIDO NO PROCESSO SEMIÓTICO 1 INTRODUÇÃO Desde sua origem, o ser humano se questiona como as coisas são capazes de signi昀椀car outras coisas. Tanto que organizou pensamento para explicar inúmeros fenômenos naturais, alguns atribuiu às divindades, outros à observação do próprio fenômeno e, para alguns se utilizou de métodos, que chamou de ciência. As divindades gregas, por exemplo, davam conta de explicar fenômenos naturais. A observação do amanhecer e do anoitecer deu conta de explicar que o sol girava em torno da Terra, que depois pelo método cientí昀椀co foi reorganizando colocando a Terra como um astro que gira sobre si mesmo e ao redor do Sol. Tanto o movimento dos astros quanto os fenômenos naturais observados são objetos que surgiram da capacidade de investigação humana. Parecendo suprir a necessidade e a vontade humana de dar conta de explicar, de alguma forma, o que lhe atinge. E a semiótica ocupa posição privilegiada nesse processo, se entendermos, inicialmente, que se trata da ciência geral dos signos. Veremos que, onde houver abordagens acerca de coisas e seus signi昀椀cados, ela se fará presente. Neste primeiro tópico vamos compreender as noções de sentido dentro da noção de representação sígnica, contribuindo para a re昀氀exão acerca da capacidade humana de interpretar e produzir signos. Também potencializamos a capacidade analítica e crítica de leitura de objetos sígnicos com base na semiologia (Plano de Expressão e Plano de Conteúdo) e na semiótica (Ícone, Índice e Símbolo). 2 EFEITOS DE SENTIDO NO PROCESSO SEMIÓTICO Somos seres capazes de dar sentido a tudo que nos relacionamos. Quantas vezes você vivenciou situações onde o uso de uma determinada roupa durante o êxito de um time de futebol fez com que esta mesma roupa fosse usada nas próximas partidas do mesmo time, na ideia de existir sentido entre o uso de determinada peça do vestuário e a vitória dele? Note, que as duas coisas provavelmente não tenham sentido algum, passam a ter sentido para uma determinada pessoa em uma determinada ocasião – aí está um exemplo de como o ser humano é um produtor de sentido por excelência. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 1 — SEMIÓTICA 4 Esta mesma lógica ocupa o fazer promocional de um projetista que, ao de昀椀nir uma cartela de cores visa dar um sentido a sua coleção. Isso vale também para a cartela de tecidos, de texturas, de aviamentos. Todavia, diferente do exemplo do time de futebol, os sentidos aqui deverão ser partilhados por outros – pelo mercado, pelo público-alvo. Esta noção de “sentido” é importante ser entendida para que possamos iniciar nosso entendimento sobre a semiótica. Então, de forma introdutória, trataremos sobre o “sentido”. A abordagem sobre “sentido” pode se limitar ao entendimento que você tem do dia a dia. Que tal buscar o conceito do termo “sentido” em um dicionário? Quanto tem relação com o seu fazer profissional? Veja os que podem ser encontrados: 1. Que se ofende ou melindra facilmente; suscetível, sensível. 2. Que causa pesar; plangente, lamentoso, "canto SENTIDO". 3. Repassado de mágoa; ressentido, magoado. 4. Que está em começo de decomposição, um tanto podre ou estragado. 5. Substantivo masculino (FISIOLOGIA) – faculdade de perceber uma modalidade específica de sensações, que correspondem a órgãos determinados [são cinco os sentidos: tato, visão, audição, paladar e olfato.]. 6. Substantivo masculino – faculdade de sentir ou perceber, de compreender; senso.7. Substantivo masculino – faculdade de julgar; bom senso, tino. 8. Substantivo masculino – aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação; alvo, fim, propósito. "suas últimas ações não tiveram SENTIDO nenhum". 9. Substantivo masculino – ponto de vista, modo de considerar; aspecto, face. "em que SENTIDO você está falando?" 10. Substantivo masculino – encadeamento coerente de coisas ou fatos; lógica, cabimento. "a renúncia do ministro não tem SENTIDO". 11. Substantivo masculino – consciência, razão, discernimento (mais us. no pl.). "recuperou os SENTIDOS depois de meses em coma". 12. Substantivo masculino – concentração da atividade mental; atenção, pensamento. "ele estuda, mas com o SENTIDO na televisão". 13. Substantivo masculino – aplicação dos sentidos para evitar (algo ruim); cuidado, cautela. "tenha SENTIDO no que faz". 14. Substantivo masculino – orientação segundo a qual se efetua um movimento. "SENTIDO horário". 15. Substantivo masculino (FILOSOFIA) – faculdade de captar determinada classe ou grupo de sensações, estabelecendo um contato intuitivo e imediato com a realidade, e assentando desta maneira os fundamentos empíricos do processo cognitivo. 16. Substantivo masculino (LEXICOGRAFIA•LEXICOLOGIA) – cada um dos significados de uma palavra ou locução; acepção. INTERES SANTE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — EFEITOS DE SENTIDO NO PROCESSO SEMIÓTICO 5 17. Substantivo masculino (LINGUÍSTICA•LÓGICA) – aquilo que uma palavra ou frase podem significar num contexto determinado; significado. "falam em relatividade, no sentido einsteiniano do termo". 18. Conjunto de funções da vida orgânica que buscam experimentar o prazer físico, a sensualidade. 19. Faculdades intelectuais; o raciocínio. 20. Interjeição expressa cautela, advertência, recomendação. 21. Interjeição (MILITAR – TERMO) – voz de comando para chamar a atenção da tropa. São muitos os conceitos, atenção aos de número: 5, 6, 7, 15, 16, 17, 18 e 19; estes ficam mais em linha ao SENTIDO que se quer para “sentido” em nossa abordagem. FONTE: https://www.google.com/search?q=SENTIDO&oq=SENTIDO&aqs=chrome. .69i57j0l7.980j1j4&sourceid=chrome&ie=UTF-8. Acesso em: 23 set. 2020. O termo sentido pode ser compreendido como o processo 昀椀siológico de receber e reconhecer as sensações e os estímulos que nos chegam através dos cinco sentidos – visão, audição, olfato, tato e paladar. Este processo ancora a base conceitual de semiótica, a昀椀nal, se estamos tratando, como já foi dito, da ciência que estuda o signo; a capacidade de receber e reconhecer as sensações e os estímulos que nos chegam e acabam tendo algum signi昀椀cado, é relevante. O entendimento para esta atividade de dar sentido aos fenômenos se ajusta à ideia de “semiose”. O significado de semiose vai aparecer mais à frente. Neste momento, é interessante considerar que semiose é o processo cognitivo humano, ou seja, é o processo que ocorre quando elaboramos qualquer raciocínio lógico para interpretar fenômenos que nos chegam pelos sentidos. ESTUDOS FUTUR OS É importante considerar então que os seres humanos são produtores de sentido por excelência (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2014), para que se possa assegurar que haverá sentido em tudo, basta que o ser humano inter昀椀ra de forma intencional. Ao passearmos na rua, encontramos inúmero objetos, e aplicamos, de alguma forma, uma atividade semelhante à da leitura: no nosso dia a dia passamos nosso tempo a ler. Lemos primeiro imagens, formas, gestos, posturas, comportamentos: tal cor nos chama a atenção, tal celular nos diz o status social de seu proprietário, tal roupa nos diz da dose de excentricidade de seu portador. Sim! Nestas leituras, além de receber os estímulos, reconhecemos em nosso repertório e damos certo sentido – ou seja, certo signi昀椀cado. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 1 — SEMIÓTICA 6 Ao olharmos para a história, encontraremos exemplos do ser humano ser um produtor de sentidos – um bom exemplo disso está na arte, na arquitetura, na própria indumentária. Cada um em sua época, a partir dos fenômenos vividos, produziu objetos de acordo com seus contextos – e, em alguns casos, entregaram para a humanidade documentos capazes de representar (de signi昀椀car) seu período. Escolha uma obra de um artista famoso! Uma pintura, uma escultura, uma música. Faça uma busca na internet e veja o quanto esta obra representa para a época em que foi criada – note que ela é capaz de representar uma época! DICAS A capacidade de dar sentido às coisas coloca o ser humano na condição de ser um ser signi昀椀cador, pois para ele uma cor, um desenho, um cheiro, um barulho, tudo pode signi昀椀car alguma coisa. Este processo está diretamente relacionado com a capacidade deste ser humano de interagir com seu ambiente. A昀椀nal, o processo de signi昀椀cação – a princípio – é um processo de interação do ser humano com os fenômenos de seu ambiente, conhecido como processo fenomenológico. Para ajudar neste entendimento da capacidade de significarmos através de processos fenomenológicos, assista ao curta de comédia romântica “Signs”, de 2008. Apresentado no Schweppes Short Film Festival 2009, o curta-metragem foi premiado com o Ouro na categoria Cyber, do Cannes Lions International Advertising Festival, em 2009. Foi dirigido por Patrick Hughes, estratégia proposta pela agência neozelandesa Publicis Mojo para a subsidiária do Coca-Cola Group. Foi um dos vídeos mais vistos na Internet naquele ano (2009). Acesse o link: https://youtu.be/H0QoU59B37E. Acesso em: 15 ago. 2020. DICAS Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — EFEITOS DE SENTIDO NO PROCESSO SEMIÓTICO 7 Ainda abordando a noção de sentido, podemos fazer a seguinte re昀氀exão: “um objeto só tem sentido se for sentido”. Perceba que o verbo sentir aqui oferece duas maneiras de ser interpretado, a primeira na capacidade de representar (de signi昀椀car); e a segunda na capacidade de tocar nossos sentidos – seja o da visão, da audição, do olfato, do tato e/ou do paladar. O ponto de honra desse pensamento que interessa à abordagem semiótica é a noção de efeito de sentido. Os objetos, não apenas têm sentido, mas são sentidos. “Produzir sentido não é transmitir algo já dado, mas construir uma dimensão sensível em ato de troca” (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2014, p. 290). Interessante isso, pois muitas coisas que passam a ter sentido para a gente, ganham sentido quando nos permitimos interagir (promover “atos de troca”) com esta coisa. Mais interessante é que a cada nova interação com esta mesma coisa, podemos construir novos sentidos. Fica evidente aqui que é a ação intencional que parece mover esta capacidade de dar sentido. Perceba que um produto de moda, carregado de conceito e em linha com uma tendência de consumo, precisa apresentar em sua composição elementos que produzam o sentido desejado pela marca, e construam um espaço sensível de troca. Como exemplo, podemos pensar este produto composto não apenas pela roupa, mas com um tag, uma arara, com uma vitrina, posicionado em uma loja, que tem uma iluminação, uma música ambiente, uma fragrância, que se bem trabalhado estimularão o ato de troca – ou seja, vão promover discursos e interações que serão experenciados por parte do consumidor, induzindo-o ao entendimento do conceito de coleção e ao estilo que a marca está comercializando. Desta forma, o processo de signi昀椀cação é resultado de um processo relacional onde se tem as propriedades da coisa e as potencialidades de signi昀椀car desta coisa. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 8 Neste tópico, você aprendeu que: • O ser humano é um ser produtor de sentido por excelência. • Sentido tem uma variedade de signi昀椀cados, mas é importante entendê-lo como a faculdade de perceber uma modalidade especí昀椀ca de sensações, que correspondem a órgãos determinados; faculdade de sentir ou perceber, de compreender; senso; como a faculdade de julgar; bom senso, tino, e como faculdade de captar determinada classe ou grupo de sensações, estabelecendo um contato intuitivo e imediato com a realidade, e assentando desta maneira os fundamentos empíricos do processo cognitivo. • É importante entender o sentido como cada um dos signi昀椀cados de uma palavra ou locução; acepção; como aquilo que uma palavra ou frase podem signi昀椀car num contexto determinado; seu signi昀椀cado; tem a ver como o raciocínio. • A noção de “sentido” é importante para que possamos iniciar o entendimento sobre a semiótica, à medida que esta noção tenha relação com a semiose. RESUMO DO TÓPICO 1 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 9 1 Uma forma de exercitar o conteúdo até agora é aproveitar uma saída sua pelas lojas de sua cidade. Escolha uma vitrine especí昀椀ca e procure tirar delas algumas a昀椀rmações. Qual é o público-alvo da loja? Que tipo de produto vende? É possível arriscar o valor médio de um produto? Qual seria o diferencial da loja? E, então, aponte quais os elementos da vitrine que deram estes sentidos para você? Vamos praticar tomando como base uma das vitrines da rede De Fursac: VITRINE E SEUS SENTIDOS FONTE: <https://i2.wp.com/farm6.static.flickr.com/5301/5660386039_bde9ceb848. jpg?zoom=2>. Acesso em: 12 abr. 2020. Qual o público-alvo da loja? Que tipo de produto vende? É possível arriscar o valor médio de um produto? Qual seria o diferencial da loja? Com base nos elementos da vitrine que dão sentidos é possível a昀椀rmar: I- Uma primeira coisa: o que é sentido para você é correto, a昀椀nal, sentimos coisas diferentes, o que importa neste momento é que exista lógica. II- A vitrine da imagem nos declara alguns sentidos: o do público-alvo ser masculino; vende trajes masculinos, como ternos. Dá para arriscar que a alfaiataria seria um diferencial, e que os valores colocam a loja como de produtos caros. III- Os objetos que dão sentido, são: os dois manequins masculinos; o traje que cada um está vestido; os elementos explodidos que fazem menção a camisaria e acessórios (caso das gravatas) sugerem alfaiataria, e o conceito clean – minimalista, cujo estilo (tanto no design, quanto na arquitetura) induz a um determinado per昀椀l de consumidor, voltado mais para a classe A. IV- É impossível perceber que uma vitrine é uma peça de comunicação, pois, mesmo bem trabalhada, ela não dá conta de dizer (declarar) um determinado conteúdo. AUTOATIVIDADE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 10 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a alternativa I está correta. b) ( ) Todas as alternativas estão corretas. c) ( ) Somente a alternativa III está correta. d) ( ) As alternativas I, II e III estão corretas. 2 O termo “semiose” surge de forma introdutória neste tópico. Ao que foi declarado, ele tem relação com a noção de dar sentido às coisas. Noção de excelência do ser humano. Dentro disso é possível a昀椀rmar: a) ( ) Que o ato ou efeito de dar sentido é exclusivo do ser humano. Nem um outro ser vivo dá conta disso. b) ( ) Que o ser humano somente dá sentido aos fenômenos que lhe chegam pela visão. Ao ver o homem é um signi昀椀cador por excelência. c) ( ) O processo de sentir só terá sentido se for sentido. d) ( ) Que sentir é uma abstração e apenas existe no campo das ideias. 3 Ainda que de forma introdutória, o termo “processo fenomenológico” apareceu no conteúdo, que a昀椀rmação abaixo dá conta de explicar o mesmo? a) ( ) Trata da noção espiritualizada dos fenômenos extraterrenos. b) ( ) Trata de um processo de interação do ser humano com os fenômenos de seu ambiente. c) ( ) Trata de um processo de interação do ser humano com os fenômenos internos de sua psiquê. d) ( ) Trata de um processo de interação fenomenológica do ser humano com ele mesmo, desconsiderando qualquer agente externo. e) ( ) Trata da noção ativa do ser humano ao excluir acontecimentos que estão agindo no ambiente onde ele está operando. 4 Os seres humanos são produtores de sentido por excelência. Explique como se dá a noção de efeito de sentido, dentro do pensar um projeto: 5 A noção de “sentido” é importante para que se possamos iniciar o entendimento sobre a semiótica, a medida que esta noção tem relação com a semiose. Que relação é essa? Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 11 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 1 INTRODUÇÃO Iniciamos o segundo tópico desta unidade. Nela aprenderemos o que é signo e como se dá o processo de signi昀椀cação. Contribuiremos para a re昀氀exão acerca da capacidade humana de interpretar e produzir signos e, potencializaremos a capacidade analítica e crítica de leitura de objetos sígnicos, com base na semiologia (Plano de Expressão e Plano de Conteúdo) e na semiótica (ícone, índice e símbolo). Como já vimos o ser humano é produtor de sentido por excelência. Sentido que tem uma variedade de signi昀椀cados, e que neste momento é importante entendê-lo como a faculdade de perceber uma modalidade especí昀椀ca de sensações, que correspondem a órgãos determinados. São cinco os sentidos: tato, visão, audição, paladar e olfato; faculdade de sentir ou perceber, de compreender; senso; como a faculdade de julgar; bom senso, tino, e como “faculdade de captar determinada classe ou grupo de sensações, estabelecendo um contato intuitivo e imediato com a realidade, e assentando desta maneira os fundamentos empíricos do processo cognitivo. Esta noção de “sentido” é importante para que se possamos iniciar o entendimento sobre a semiótica, à medida que esta noção tem relação com a semiose, e que a mesma se dá no processo dar signi昀椀cação as coisas – sendo a semiose o objeto principal de toda abordagem semiótica. 2 BASES INICIAIS DE SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA O ponto de partida da ciência que estuda os signos é o axioma de que toda esta capacidade de dar sentido às coisas se faz essencialmente por um processo que a semiótica aborda. Seu objeto de estudo – o signo, pode ser considerado uma ideia que se refere a outras ideias e objetos do mundo, tendo assim “sentido”. Desta forma, somos levados a criar e acumular repertório à medida que vamos signi昀椀cando nosso mundo. Um signo precisa ser percebido por pelo menos um dos nossos sentidos. Podemos ver (uma forma, uma cor), podemos escutar (um som, uma fala), podemos cheirar (um perfume, uma fumaça), podemos tocar (uma superfície quente, áspera) ou ainda podemos saborear (um amargor, um cítrico), podemos Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 12 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA absorver fenômenos do mundo e ainda dar a eles sentidos outros – que passam a signi昀椀car algo naquele instante. Quando sentimos o cheiro de fumaça podemos deduzir que estamos perto do fogo (sem mesmo ver o fogo) – a fumaça, neste momento, signi昀椀ca fogo. É com isso que a semióticase ocupa. Veja que interessante isso no campo da moda: quando uma coleção quer falar de liberdade e romance, deve ser capaz de apresentar peças de roupa, acessórios que conseguem representar isso. Que no momento que o cliente vê a peça, prova-a, sente estes conceitos, e se somarmos então um editorial, a vitrine, a loja, o tag, a abordagem de vendas – constatamos o quão importante é ter a semiótica em nossa formação. Para Elisabeth Walther-Bense (2000), as primeiras noções de signo são encontradas nos gregos, que sustentavam sua existência como: sinal – sobretudo verbal. Tendo em vista que ao sinalizar, o verbo duplicava uma coisa, um fenômeno, uma realidade; permitindo debates acerca do original e da cópia, ou seja, a palavra “maçã”, que dá conta de duplicar a coisa (a fruta), é mais original? É cópia? Em comparação com a fruta que passa a representar (perceba que ao ler a palavra “maçã”, deve ter vindo uma imagem na sua cabeça que dá conta do “seu” real de maçã). O termo “semiótica” vem do grego “seme” – semeiotikos: “intérprete de signos”. Enquanto o termo “signo” deriva do latim “signum”, que vem do grego “secnom”: “extrair uma parte de”, “seccionar”, portanto, a “semiótica”, como disciplina, dá-se na análise do funcionamento dos sistemas de signos e de suas interpretações. A ideia platônica de signo é de que o mundo real não passava de uma imitação do mundo das ideias. Seu modelo se mostrou triádico com os seguintes componentes: nome; noção (ou ideia) e coisa (WALTHER-BENSE, 2000). Quando exempli昀椀camos anteriormente com “maçã”, dá para perceber este modelo triádico acontecendo – o nome [“maçã”]; fez surgir a noção/a ideia [imagem da maçã na cabeça], que nos leva à coisa [a fruta]. Já a ideia aristotélica de signo, estava pautada na crença de que Aristóteles tinha do mundo perceptível sensorialmente. Acreditava que prevaleciam as funções intelectuais do homem, desta forma o signo era fruto de convenções e davam conta de representar realidades nas quais os homens se inseriam (WALTHER-BENSE, 2000). Assim, delineou uma separação entre “signo certo” e “signo incerto”, sendo o primeiro resultante das interações naturais – no sentido de prova: se tem febre, logo está doente (febre signi昀椀ca estar doente); e o segundo resultante de hipóteses, de generalizações – que ele considerava “signo fraco”: se tem lábios estourados, então tem febre (nem sempre lábios estourados tem relação com febre). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 13 Por volta do ano 300 a.C., ainda na Grécia, a abordagem aconteceu em diferenciar “signos naturais” (aqueles que ocorrem livremente na natureza) dos “signos convencionais” (aqueles que foram criados para dar conta dos fenômenos de comunicação) (WALTHER-BENSE, 2000). Na Idade Média, Santo Agostinho estabeleceu bases ocidentais sobre o signo, apresentando uma de昀椀nição interessante, em que signo seria uma coisa que além de produzir sensações, faz com que estas tragam à mente, de quem está sentido, uma outra coisa como consequência de si mesma. E conseguiu dar uma distinção aos “signos naturais” e “signos convencionais”, em que os primeiros são produzidos sem intenção, mas são capazes de remeter a outras coisas. E os segundos são os que os seres humanos partilham, intencionalmente, para dar conta de serem compreendidos. Desta forma expressou a capacidade de as palavras parecerem correlatos das ideias – das palavras mentais; o que afetaria muitos estudos futuros sobre os signos (WALTHER-BENSE, 2000). Esta noção de sentido e capacidade de dar signi昀椀cado aos fenômenos que nos circulam, como já foi dito, nos acompanha historicamente. Durante o século XVII, várias abordagens trouxeram o entendimento sobre esta noção de sentido que abordamos aqui, de maneira a dar um nome para ela (WALTHER- BENSE, 2000). Caso do médico Eric Henry Stubbes, que, em 1670, tratando da ideia de sintomas, organizou suas abordagens nominando-as de “semiótica” – num sentido bem restrito à ciência médica dedicada ao estudo e a interpretações de sinais patológicos (dentro da lógica que uma dor pode ser sintoma de uma enfermidade). Vinte anos depois, John Locke usou o mesmo termo, em sua obra o “Ensaio acerca do Entendimento Humano”. Ao nos aproximarmos do século XIX, a teoria do signo se consolidava cada vez mais com as questões do conhecimento – dando conta do contexto que se formava como moderno, e muitas demandas relacionadas à sociedade da informação, no movimento das mensagens – como eram produzidas e compartilhadas. Um contexto que contribuiu para a昀椀rmar a “semiótica” como a ciência que se ocupa da vida dos signos no interior da convivência social. Indo dos mecanismos relativos ao conhecimento até as orientações formais – dos conteúdos, dos sentidos. E, foi neste século (XIX) que as correntes contemporâneas da semiótica surgiram, em especial duas delas: uma europeia – mais restritiva tendo como base a linguística, e outra norte-americana – mais abrangente, com base em todo e qualquer fenômeno capaz de representar algo em seu lugar, inclusive o signo linguístico. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 14 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA Dois termos que apareceram neste momento precisam ser apresentados: “Linguística” que é a ciência que tem por objeto: a linguagem humana em seus aspectos fonético, morfológico, sintático, semântico, social e psicológico; as línguas consideradas como estrutura; de forma bem grosseira: a língua escrita; as palavras, e “signo linguístico” que é um elemento representativo que tem dois aspectos: o significado e o significante. Exemplo da palavra “maçã”: quando a escutamos, vem a nossa mente uma imagem do objeto, e não a palavra (ao escutar a palavra “maça” é pouco provável que em nossa mente se construa o “M”, o “A”, o “Ç” e “A” com “~”, rapidamente visualizamos a fruta maçã). Aí está a noção de signo, pois um termo linguístico (uma palavra), é capaz de representar algo em seu lugar. NOTA A capacidade de representar algo é a base primeira para o entendimento de signo. São muitos os exemplos possíveis e todos levam à lógica de que ao entrarmos em contato com algum fenômeno (um objeto, um cheiro, um som, uma palavra escrita/falada), somos levados a lembrar alguma coisa que não está a nossa frente, estando então em contato com um signo. Todos já vivemos momentos em que falamos: “Isto me fez lembrar de uma coisa” – um perfume que fez lembrar de uma pessoa; um barulho que nos fez a昀椀rmar que uma motocicleta se aproxima; uma fumaça que nos fez crer que havia fogo. Em todos estes momentos: o cheiro do perfume; o barulho do motor; a visão da fumaça – 昀椀zeram lembrar de uma pessoa sem que estivesse ali (no caso do perfume); fez a昀椀rmar que estava se aproximando uma moto sem se quer vermos tal veículo (no caso do barulho do motor); e fez pensar no fogo (vendo apenas fumaça). Tal qual um detetive, nos relacionamos com os fenômenos que nos circulam, desvendando-os e assumindo posturas frente às pistas. Uma dada situação nos oferece fenômenos que sugerem leituras (que sejam identi昀椀cados) – perceba que o barulho do motor, no exemplo anterior, para ser assumido como de moto, tem certas peculiaridades, que diferem de um carro, de um liquidi昀椀cador. Há quem já tenha vivenciado muito este determinado fenômeno que pode ter maiores informações sobre ele – assim, um mecânico de motocicletas ou um motociclista experiente em motos, pode não só a昀椀rmar que está se aproximando uma moto, mas dizer o tipo de moto,quiçá até sua marca e potência. Neste momento, vale o entendimento de que signo tem a capacidade de representar algo para alguém em determinado contexto. No design de moda, disciplinas técnicas como modelagem, costura nos habilitam a decifrar elementos do vestuário, da mesma forma que o mecânico/ motociclista consegue dar considerações mais especí昀椀cas apenas ouvindo um barulho de motor. Percebe-se neste caminho, à medida que vamos estudando um determinado conteúdo, 昀椀camos mais aguçados em identi昀椀car elementos e a昀椀rmar conceitos que dão conta de explicá-los. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 15 O ser humano signi昀椀ca o que lhe é signi昀椀cante. Esta a昀椀rmação nos dá a primeira noção para entendermos a lógica europeia, em que a partir do entendimento das palavras, elas passam a signi昀椀car. À medida que vamos aprimorando o nosso vocabulário, vamos permitindo signi昀椀car e fazer com que muitas palavras nos sejam signi昀椀cantes, ou seja, uma palavra tem a capacidade de representar algo em seu lugar, quando escutamos a palavra “praia”, somos capazes de trazer o conceito que temos de praia – com nossa vivência de praia. Deixando evidente que se trata de um processo dicotômico, escuto a palavra e penso em seu conceito. Toda e qualquer palavra será signo quando este processo dicotômico ocorrer – ou seja, uma palavra (signi昀椀cante) tem que ter signi昀椀cado (seu conceito, seu entendimento) para que se possa a昀椀rmar que é signo. Vale ressaltar que todo e qualquer termo que você lê ou escuta e tem pouco entendimento sobre ele parece que ele não faz tanto sentido para você. Perceba aqui um exemplo legal para signo linguístico, perceba o desconforto de entrar em contato com uma palavra que você nunca ouviu (ou leu), ela não tem sentido, não faz sentido – ou seja, ela não tem capacidade de representar algo em seu lugar – aí é bom pesquisar sobre ela. No caso de palavras, o dicionário (que pode ser on-line) é um lugar bom para pesquisar – que tal fazer isso para o termo “dicotômico”, lido anteriormente? Você pode pesquisa por “dicotomia”. O entendimento deste termo ajudará como base conceitual para o conteúdo que estamos tratando aqui. NOTA A noção do signo linguístico está veiculada diretamente com a corrente mais restritiva das duas que surgiram no século XIX – a europeia, que 昀椀cou conhecida como semiologia e tem como principal expoente Ferdinand de Saussure. 3 SEMIOLOGIA O 昀椀lósofo e linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) elaborou teorias que contribuíram para o desenvolvimento da linguística como ciência autônoma, exercendo grande in昀氀uência sobre o campo literário e dos estudos culturais. Para Saussure, signo tem sua base conceitual e organizativa na estrutura linguística de uma determinada cultura, ou seja, na língua – principalmente falada (WALTHER-BENSE, 2000). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 16 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA Aqui 昀椀ca evidente pensarmos que, à medida que nos letramos (que vamos estudando e aprendendo) mais signi昀椀cativa 昀椀ca nossa linguagem – tal raciocínio ajuda no entendimento de que o signo para Saussure tem arbitrariedade inerente, pois precisa das convenções linguísticas. Perceba que quando buscamos, no dicionário, o entendimento de uma palavra, entramos em contato com seu signi昀椀cado convencional e quando damos uso a ela em nosso processo de comunicação, estamos sujeitos à arbitrariedade do termo, da capacidade de ele representar o que queremos expressar – ou seja, estamos sujeitos à arbitrariedade do signo. Por isso que é muito inteligente saber para quem estamos falando, assim podemos escolher as palavras mais coerentes para este per昀椀l de pessoas. É claro, existem palavras cuja convenção não é arbitrária, elas são transmitidas de diferentes tipos de estruturas gramaticais, percebidas de forma funcional – caso das onomatopeias – a partir da reprodução aproximada, com os recursos que se dispões da língua, de um som natural a ela associado, um exemplo se dá quando imitamos um animal para nominá-lo: “miau-miau” para gato; “au-au” para cachorro. Voltamos à noção de signo linguístico e, de como a palavra enunciada (signi昀椀cante) precisa de seu conceito (signi昀椀cado) para que, dicotomicamente, o signo exista. FIGURA 1 – SIGNO DICOTÔMICO FONTE: O autor O signi昀椀cado é o conceito que é assimilado mentalmente quando lemos ou ouvimos a palavra. O signi昀椀cante tem a ver com a forma semântica e fonética da palavra que, por sua vez, é composta por letras e sons. O olhar de Ferdinand de Saussure tratava de noções meramente psicológicas, mas, atualmente, o signi昀椀cante seria a forma material perante o signi昀椀cado. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 17 No tópico a seguir vamos ampliar a visão saussuriana, dando conta de tratar do significante como forma material perante o significado. ESTUDOS FUTUR OS Para Saussure (1990, p. 124), signo não une: uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta última não é o som material, puramente físico, mas a marca psíquica desse som, a sua representação fornecida pelo testemunho dos sentidos, é sensorial e se, por vezes, lhe chamamos material é neste sentido e por oposição ao outro termo da associação, o conceito, geralmente mais abstrato. Dentro disso, “imagem acústica” / “signi昀椀cante” é arbitrário, não motivado, pois não existe relação entre ele e a coisa que representa. Para Saussure (1990), o signo é sempre mental, sendo uma representação que um sujeito tem de algo na sua mente em determinado momento de sua vida. FIGURA 2 – IMAGEM ACÚSTICA E CONCEITO FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 18 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA Se a palavra “gato” for pronunciada, o som desta pronúncia cria na mente de quem escuta algo correspondente a ela, perceba que existe na mente deste sujeito uma estrutura capaz de reconhecer o som da palavra e, a sua maneira, cria- se uma imagem referente à palavra – esta seria a “imagem acústica” – existindo assim uma imagem da palavra na mente de quem a escutou. Desta forma, o signi昀椀cante é a imagem mental de uma rede sonora (repertório de quem escutou). Então, toda vez que chega um som (que é sentido por um dos sentidos – no caso o auditivo) e tem sentido no cérebro tendo signi昀椀cado, estamos na presença de um processo de signo. Dentro desta lógica, o signo é sempre mental. Se, neste momento, entendermos que o som que ouvimos não é puramente físico, mas também a impressão deste som em nossos sentidos, e que quando recebido se torna signi昀椀cante por ter, de alguma forma uma “imagem mental” associada a ele, nos levando a um signi昀椀cado (conceitos relacionados ao determinado som), estamos em linha com o pensamento de Saussure. Ao tornar o signo uma entidade mental, Saussure faz com que o signo sempre associe um signi昀椀cante a um signi昀椀cado, possibilitando que esta concepção tenha papel central na distinção histórica entre “signos naturais” (que ele entende como motivados) e “signos arbitrários” (ou convencionais). Esta arbitrariedade “deve dar a ideia de que o signi昀椀cante não depende da livre escolha do sujeito falante”, este não tem motivação alguma, pois não existe “na realidade, qualquerligação material” entre a palavra e a coisa que ela representa (SAUSSURE, 1990, p. 83). Esta corrente considera que o signo é resultado do [signi昀椀cante] + [signi昀椀cado], sendo ele sempre mental, e é a representação de algo que se tem na mente. Em se pensando na língua, essa se fecha em regras e convenções de um determinado sistema signi昀椀cante, perceba que para o mesmo signi昀椀cado vamos ter signi昀椀cantes diferentes dependendo do sistema cultural que estamos inseridos – 昀椀ca evidente quando pensamos a palavra “gato” no português, e “cat” no inglês; mas da mesma forma nos regionalismos – em nosso país temos inúmeras palavras que signi昀椀cam a mesma coisa, mas são diferentes dependendo da região em que estamos. No mercado de moda isto pode ser pertinente quando nos reportamos às tribos e aos estilos. Estas regras e convenções colocam a existência do signo, para Saussure, como arbitrária. Colocando a perspectiva estruturalista como fundamento, em que o signi昀椀cante surge, primeiro, a partir de uma imagem mental – de um conceito, ou seja, um objeto (um fenômeno) só será signo se já existir um conceito relacionado a ele – aí temos a arbitrariedade deste signo. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 19 Quantas vezes você se perguntou por que tal palavra está atribuída para um determinado objeto? Por que “mesa” é “mesa”? Note que a resposta não tem uma lógica (caso de palavras como as onomatopeias: au-au para cachorro; miau para gato). Mesa tem um significado atribuído por convenções, por regras, ou seja, ela foi atribuída e é usada de forma arbitrária na língua portuguesa. INTERES SANTE Esta capacidade dicotômica de signi昀椀cante e signi昀椀cado do signo no pensamento saussuriano apresenta dois grandes problemas: Primeiro: não considera a matéria externa, 昀椀cando somente com a palavra. Segundo: ao a昀椀rmar que o signi昀椀cado é o conceito da coisa, não especi昀椀ca a coisa, pois se existem signi昀椀cantes diferentes, haverá variações nos signi昀椀cados. Estes dois problemas mostram uma vontade de expandir para que possamos assumir sons, cores, gestos, odores, gostos, texturas, formas, ou seja, toda e qualquer coisa (inclusive as palavras) que sejam capazes de representar algo em seu lugar. E aí entramos na corrente mais abrangente – a norte-americana –, que tem como base todo e qualquer fenômeno capaz de representar algo em seu lugar, inclusive o signo linguístico – esta corrente é a Semiótica. 4 SEMIÓTICA O 昀椀lósofo e físico norte-americano, Charles Sanders Peirce (1839-1917), assentou as bases da semiótica alicerçado em um pensamento: “O simples ato de olhar está carregado de interpretação". Trazendo uma abordagem mais ampla, ao que vinha sendo construído por Ferdinand de Saussure, na Europa no mesmo período. Quando analisamos o pensamento “alicerce de Peirce”, percebemos que a corrente norte-americana tem fundamento nos processos fenomenológicos, ou seja, na fenomenologia, que pode ser entendida como uma postura frente ao mundo. Como uma metodologia que dá importância aos fenômenos em si, e quanto afetam nossos sentidos. Se pararmos para pensar, muito do que sabemos sobre nosso mundo vem deste método: os cheiros; as texturas; as formas; um ruído; uma imagem em uma revista; até mesmo uma palavra. En昀椀m, tudo que se apresenta a nossa mente através de nossos sentidos. Lembra a “maçã”, é possível a昀椀rmar que a imagem que se forma na sua cabeça tem a ver com as experiências de maçãs como fenômenos – se você só viu imagens desta fruta – terá uma imagem Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 20 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA mais visual, mas se já comeu uma, conseguirá atribuir barulho, gosto, acidez. Imagina se você já colheu uma na macieira. Perceba que a fenomenologia pode ser encarada como uma postura frente ao mundo – ao se pesquisar um público-alvo, só ver imagens na tela pode dar uma noção diferente, do que poder participar de momentos, dos fenômenos que este público vive em seus contextos. Trazer o pensamento de Peirce como um de seus alicerces pode ajudar: “O simples ato de olhar está carregado de interpretação". Para Peirce (2005, p. 46) signo é aquilo que representa algo para alguém. É alguma coisa que se dirige: a alguém, isto é, cria, na mente da pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto. Representa esse objeto não em todos os seus aspectos, mas com referência a um tipo de ideia que eu, por vezes, denominei fundamento do representâmen. Para Peirce (2005), é irrelevante discutir o que é mental e o que não é mental no debate sobre o signo, mas se torna importante determinar se o pensamento é dirigido ou não aos objetos reais, a昀椀nal real é o que signi昀椀ca, que tem sentido, em qualquer coisa de real. Esta postura ajuda a evitar posicionamentos falsos de dar a uma palavra, por exemplo, um sentido universal externo ao pensamento e se afastar da ideia de que se pode conceber coisas de forma independente das relações que se tem no espírito (capacidade inventiva do ser humano). A noção de signo para Peirce, é toda e qualquer coisa que representa uma outra coisa em seu lugar – objeto, e que produz um efeito interpretativo. Se pensarmos dentro da lógica da semiologia vemos que aqui a semiótica peirciana dá conta dos problemas saussurianos: Peirce considera a matéria externa e dá conta de especi昀椀car a coisa. Com isso, se a semiologia era dialógica, aqui vamos ter um posicionamento triádico – em que o signo é composto de três partes, que serão chamadas de categorias: a primeiridade, a secundidade e a terceiridade. Estas partes podem ser assim pensadas: FIGURA 3 – PARTES QUE COMPÕEM O MODELO TRIÁDICO FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 21 Interessante perceber que essa “alguma coisa” é captada pelos órgãos dos sentidos, mas também percebida de forma intencional – dentro de uma noção de que perceber é traduzir “alguma coisa” (fenômeno, evento, objeto) captado pelos sentidos em um julgamento. Uma vez captada, é levada a um processo de comparações com outras coisas já percebidas, chegando até a capacidade de nominá-la. Pensando estas três partes como categorias, temos a primeiridade (como aquele momento de percepção primeira, inicial – quando captamos “alguma coisa”), temos a secundidade (como o momento de comparação com o que já fora percebido), e temos a terceiridade (como o momento de construção, de de昀椀nição, de nominação). Como já mencionado, a teoria do signo de Charles S. Peirce está alicerçada à fenomenologia, permite alargar as capacidades interpretativas à medida que entende o intérprete, o observador, o sujeito com autonomia em relação ao produtor de sentido, ao enunciador. Em outras palavras, a noção e efeito de sentido nesta teoria é fugidia à medida que o enunciador pode ter pensado em “dizer” algo, mas seu intérprete não precisa necessariamente entender da maneira que enunciador pretendia. Esta liberdade faz com que o enunciador esteja preparado para isso e tenha competência para ajustar o signo para tenha êxito em sua comunicação. A teoria de Charles S. Peirce está concebida como doutrina em que todo e qualquer tipo de semiose é possível. Ela “é tão geral e abstrata a ponto de poder dar conta de qualquer processo sígnico, esteja ele no invisível mundo físico[...] nos movimentos sociais” (SANTAELLA, 2002, p. 36). A noção peirciana é pragmatista, está pautada num processo lógico- semiótico de como as ideias surgem. Tal processo é pensado em três ramos (SANTAELLA, 2002): o primeiro que se ocupa da 昀椀siologia das formas, das funções e dos elementos formais – a gramática especulativa; o segundo que consiste na abordagem classi昀椀catória e de comparações – a lógica crítica; e o terceiro que se dá no estudo dos métodos, nas fórmulas que os mais variados tipos de raciocínio dão origem – a retórica especulativa. A abordagem do signo por Peirce, por ser pragmatista, baseia-se na noção de que o sentido de um conceito pode ser explicado ao considerarmos seus efeitos práticos, desta forma, ela se mostra metodológica, tendo uma ordem e procedimentos que são as categóricas: de primeiridade, secundidade e terceiridade. 4.1 A PRIMEIRIDADE É a primeira das categorias de uma experiência de mundo. É a categoria do ser. Está nas qualidades das coisas. Relativa às propriedades de um fenômeno que podem ser descritas, por exemplo: tal coisa é azul. Esta categoria direciona para a ideia de primeira concepção sígnica de Peirce, que é pré-re昀氀exiva – o da abstração pura. De forma prática, é mais ou menos como um sentimento, uma sensação primeira – não é consciente nem elaborada. É aquilo que é, nada mais que isso. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 22 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA 4.2 A SECUNDIDADE Em contraposição à primeiridade (categoria do ser), a secundidade é a da ocorrência, da existência segundo ao que já se sentiu. Diferente da primeiridade, na secundidade já existe uma elaboração consciente, já se faz comparações, já se enseja particularidades do fenômeno em análise. Enquanto a primeira é atemporal, na secundidade existe a noção de tempo, a昀椀nal para se chegar às comparações é preciso ter passado pela primeiridade. Nesta categoria só se tem consciência da qualidade de algo, pois é possível constatar com outra qualidade. Acidental e singular, a secundidade tem na existência, no registro de sentimento, um fato. Se a primeira é da qualidade, esta, a segunda, é da relação. 4.3 A TERCEIRIDADE Completa a tríade. Se a primeiridade é a do ser, a secundidade é do existir, a terceiridade é do interpretar – na capacidade de a coisa ser signo – ou seja: tem a ver com o que o fenômeno é (primeiridade), no que existe nele em comparação a outros (secundidade) e no quanto é possível construir algo que não está ali – de signi昀椀car. Se a primeira é da qualidade, a segunda da relação, esta é da representação – do que Peirce vai chamar de signo em si. De forma geral, a primeiridade sempre será a percepção (algo rápido e abstrato), a secundidade está relacionada ao fato quanto o que foi percebido permite ensejar particularidades (processo de comparação, de dúvida) e a terceiridade está atrelada à capacidade, do que foi percebido e fez pensar, representar algo em seu lugar (de ser signo). Esse processo triádico, em que se tem o signo, o elemento designado e a pessoa a quem ele se destina como signo, se chama semiose: que para Peirce é “o processo no qual o signo tem um efeito cognitivo sobre o intérprete” (NÖTH, 1998, p. 128). Se a semiótica é a ciência que tem por tarefa estudar todos os tipos possíveis de ações sígnicas, a semiose é o seu objeto de estudo. Se no projeto de produtos para o mercado estamos mergulhados em processos de desenvolvimento de conceitos que planejam causar algum efeito cognitivo no público-alvo de uma marca, 昀椀ca evidente o valor da semiótica para os pro昀椀ssionais desta área. E quanto a entender os processos de signi昀椀cação (de semiose) dos consumidores frente aos valores comercializados é de昀椀nidor do sucesso. Dentro da teoria de Charles S. Peirce essas três categorias são chamadas, no âmbito fenomenológico, de faculdades. Sendo a primeira condicionada à capacidade de ver (de sentir); conduzindo à segunda faculdade, que implica um Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 23 esforço, ou seja, quando se atenta para (ensejando particularidades); chegando então na terceira faculdade, que faz com que tal aspecto incidental (do sentir da primeira) e consciente (das relações da segunda) possa ser generalizado, cabendo poder chegar a um conceito (de nominar o fenômeno sentido, por exemplo). Interessante perceber que as faculdades que devemos entender para dar conta das categorias e principalmente para compreendermos a semiótica como uma metodologia dos processos cognitivos que vivemos cotidianamente, são três: A primeira é a rara faculdade de sentir o que está diante da gente. Tal como se apresenta, sem qualquer interpretação. Veja se consegues exercitar tal faculdade observado uma cena, um objeto, um evento, uma música e descrevendo-a como ela é, sem atribuir nenhum valor. A segunda faculdade é mais como um compromisso. Um comportamento que deve ser treinado, uma postura frente ao fenômeno observado de detetive, de busca de aspectos especí昀椀cos ao fenômeno em observação que só pode estar nele e em nenhum outro similar. Buscando o que o faz único, detectando os elementos desta unicidade sob todos os seus disfarces. Esta faculdade nos pede tempo, quanto mais tivermos mais vamos construir relações possíveis. A terceira faculdade é a de generalizar, como um matemático devemos buscar de昀椀nir fórmulas que sejam capazes de da conta dos elementos que fazem do fenômeno, agora único, ser pensado de forma generalizada. Esta fórmula abstrata, garantirá a compreensão do fenômeno puri昀椀cando-o de todos os elementos estranhos e irrelevantes, nos dando bases para construção de conceitos. Esta faculdade, se bem trabalhada, nos coloca como construtores de novos conhecimentos. Com base nestas faculdades e nas categorias, Peirce classi昀椀ca o signo como Representâmen; objeto e interpretante. 5 CATEGORIAS DO SIGNO A variação e a quantidade dos signos são tão grandes que, Charles S Peirce organizou-os em categorias, classi昀椀cando-os a partir das faculdades em uma tríade composta pelo representâmen – aquilo que funciona como signo; pelo objeto – o que é referido pelo signo; e pelo interpretante – no efeito do signo de quem o interpreta. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 24 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA FIGURA 4 – TRICOTOMIA DO SIGNO EM PEIRCE FONTE: O autor A ideia central é que dentro das faculdades já discutidas, o signo é composto pelas três categorias simultaneamente, mas de forma didática (pragmatista) Peirce apresenta cada uma delas numa sequência. Dentro disso, a primeira categoria é a capacidade de ser signo, ou seja, a capacidade de funcionar como signo – de ser representativa: o representâmen. É através dele que o signo tem sentido (seja por semelhança, por alguma relação ou por convenção). O objeto é a coisa externa do signo (o fenômeno que toca os sentidos) enquanto o interpretante dá conta do processo interpretativo (e não deve ser confundido com o ser humano). Estas nomenclaturas são importantes para o entendimento da semiótica peirciana. Uma dica legal é pegar uma folha A4 e montar este triângulo bem no centro dela – e a partir desta parte, ir completando com as novas nomenclaturas que surgirem. ATENCA O 6 TRICOTOMIA DO SIGNO A noção tricotômica昀椀ca declarada na 昀椀gura anterior, onde para que o signo exista é preciso ter os três pontos – representâmen, objeto e interpretante, porém, Peirce (2005) organizou um raciocínio em sua teoria que em cada um destes pontos, existem outros três pontos – cada ponto é tricotômico, ou seja, que no representâmen existem três categorias internas a ele; da mesma forma no objeto e no interpretante. Parece confuso! Mas vamos por partes. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 25 Se até agora foram apresentadas as faculdades: primeiridade, secundidade e terceiridade; que pelas categorias seriam, respectivamente: representâmen, objeto e interpretante. E que na primeira estarão relacionadas às capacidades e às qualidades iniciais de já serem representativas – ou seja, de serem signo; na segunda estarão relacionadas às condições de sentido, como sugestões possíveis de representar – de ser signo; e na terceira a capacidade de a昀椀rmar, de como convenção garantir a representação – de ser signo. Perceba que o conteúdo parece repetitivo. E é isso mesmo, por isso a dica anterior é boa, pois a repetição vai construindo o entendimento. IMPORTA NTE 6.1 REPRESENTÂMEN A capacidade de ser signo é a primeiridade dele. Ela terá as três faculdades também, condicionadas aos fatores que dão capacidade de ser signo: suas qualidades, suas propriedades que lhe são singulares, e suas características que o legitimam – em caráter de lei. Assim, temos: FIGURA 5 – TRICOTOMIA DO REPRESENTÂMEN FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 26 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA Qualissigno é a qualidade que já é signo. Diz respeito aos elementos menos particulares, como cores, texturas, formas, entre outras. Para assumir esta capacidade é preciso expor os sentidos aos fenômenos sem nenhum juízo, somente sentir os fenômenos pelos fenômenos. O qualissigno está nas qualidades. Como descreve Santaella (2002, p. 12): uma cor, qualquer cor, um azul-claro, sem considerar onde essa cor está corpori昀椀cada, sem considerar se é uma cor existente e sem considerar seu contexto. Tomemos apenas a cor, nela mesma, só cor, pura cor. Quantos artistas não 昀椀zeram obras para nos embriagar apenas com uma cor? Por que e como uma simples cor pode funcionar como signo? Ora, uma simples cor, como o “azul-claro”, imediatamente produz uma cadeia associativa que nos faz lembrar céu, roupa de bebê etc.; por isso mesmo, esse tom de azul costuma ser chamado de azul-celeste ou azul- bebê. A mera cor não é o céu, não é roupa de bebê, mas lembra, sugere isso. Esse poder de sugestão que a mera qualidade apresenta lhe dá a capacidade para funcionar como signo, pois quando o azul lembra o céu, essa qualidade da cor passa a funcionar como quase-signo de céu. O mesmo tipo de situação, também se cria com quaisquer outras qualidades, como o cheiro, o som, os volumes, as texturas etc. Nos projetos de design de moda, os qualissignos predominantes estão nas formas e elementos puros: cores, tons, manchas, brilhos, contornos, formas, texturas, movimentos, ritmos, contrastes, entre outros, sendo que a combinação destes não vem de conexão alguma extraída da experiência externa. Podem ser entendidos como formas não objetivas, por não representarem nenhum objeto identi昀椀cável – 昀椀cam no campo das abstrações: a cor pela cor, a textura pela textura, a forma pela forma. Exemplos práticos para qualissigno são encontrados nas experiências estéticas modernistas, caso da obra Delicate Tension no 85, de Wassily Kandinsky: FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO EM TONS DE CINZA DA OBRA: DELICATE TENSION Nº 85, DE WASSILY KANDINSKY FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/42/23/ec/4223ec9ee31a88ee6b462a6279186996.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2020. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 27 Em obras como essa, as qualidades sensíveis se fazem presentes, permitindo visões de formas nunca vistas em experiências externas. Cores (no caso da imagem gradações de cinzas), formas, linhas, planos nos oferecem uma experiência totalmente nova – nada de semelhante existe e por isso então tudo pode se assemelhar – aqui está o “frescor” da primeiridade do representâmen da possibilidade de ser signo – do qualissigno. Acesse o link que está como fonte da figura acima, ou pesquise na internet pelo nome da obra para poder ver a imagem colorida. DICAS A partir do momento que os fenômenos sentidos fazem pensar, ganham juízo de valor (mesmo que bem inicial), estamos na secundidade – no sinssigno em que o aspecto de ser signo já o particulariza, já o individualiza. Para assumir esta capacidade é preciso assumir a observação do modo particular como o signo se forma – observando características existenciais, que no fenômeno observado é irreptível, é único. A noção de que se está na experiência de sinssigno quando, abandonada a abstração do qualissigno, é possível, de um modo ou de outro, de alguma maneira identi昀椀car representações reconhecíveis fora do objeto experenciado. No campo da moda, o desenho de moda terá elementos grá昀椀cos – cores, linhas, texturas, formas que combinadas nos permitem ver representado um corpo, um tecido. Nos desenhos do estilista Christian Lacroix é possível ter a secundidade do representâmen declarada, à medida que as linhas se organizam para dar a sugestão de braços, de rosto, de volume, de movimento. Da mesma forma que a representação do vestido, se dá pela singularidade das manchas cromáticas e das texturas do conjunto de linhas do desenho. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 28 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO EM TONS DE CINZA DE UM DESENHO DO ESTILISTA CHRISTIAN LACROIX ONTE: <https://i.pinimg.com/474x/eb/55/89/eb55892fd2817193da0de8ac5a00ec53.jpg>. Aces- so em: 14 abr. 2020. Havendo a capacidade de observar as particularidades do fenômeno pode ser possível, a partir destas particularidades abstrair o geral deste particular, colocando-o em uma classe geral, potencializando o fenômeno à uma convenção, uma regra, uma norma. Esta seria a terceiridade – o legissigno. O legissigno é uma convenção que representa algo em seu lugar, é uma lei que é signo. Não é algo singular, mas alguma coisa que se tem acordado ser signi昀椀cante. São predominantes nas formas que só podem ser entendidas com a ajuda de alguma convenção cultural. Um exemplo interessante aqui está nas representações grá昀椀cas de moda – é preciso entender as convenções para saber o que é um desenho estilizado ou croqui; um desenho técnico; uma ilustração de moda; um desenho de 昀椀gurino. Cada uma dessas representações grá昀椀cas, tem suas convenções que as legitimam dentro de determinado conceito. OBJETO Dependendo do representâmen, ou seja, da propriedade do signo será diferente a maneira como o signo se faz representar pelo objeto. São três tipos de propriedade: qualidade, singularidade (existência) e lei, também são três os tipos de propriedades, de relações que o signo poderá ter com o objeto a que se aplica. Quanto ao objeto, o signo pode ser denominado como ícone, índice e símbolo. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 29 FIGURA 8 – TRICOTOMIA DO OBJETO FONTE: O autor Comoícone, o signo aparece como semelhança ao que representa e tem autopoder de sugestão – já pelas qualidades é possível a昀椀rmar o que representa. Tem fortes condições de substituir a coisa que representa (caso de um desenho de mulher para representar mulher). O ícone mantém relação de analogia com aquilo que representa. O desenho 昀椀gurativo, uma fotogra昀椀a, a imagem de uma casa são ícones por se assemelharem com os objetos reais. FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DE CASA FONTE: <https://desenhospracolorir.com.br/wp-content/uploads/Casas-16.jpeg>. Acesso em: 14 abr. 2020. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 30 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA Importante lembrar que a relação de semelhança não é somente visual, ela pode ser tátil, auditiva, olfativa e gustativa. Se não houver semelhança, poderão existir duas condições do objeto ser signo, uma delas é por relação, ou seja, pela capacidade que alguns elementos singulares (algumas particularidades) sugerirem o que representam. Haverá alguma conexão que liga uma coisa com outra. (Caso da fumaça para fogo, de um chão molhado para chuva) – ou seja, quando as particularidades indiciam o que está possível de representação – o índice. Na ilustração anterior, icônica de casa, temos uma representação indiciática, onde a imagem nos sugere que dentro da casa tenha um fogo aceso. No desenho, os elementos grá昀椀cos que saem da chaminé nos remetem ao ícone de fumaça, mas indiciam fogo. Não vemos o fogo, mas se há fumaça, há fogo. E a outra é por convenção – o símbolo, em que de forma arbitrária o objeto representa a partir de uma associação de ideias, ou seja, existe uma lei, uma convenção, um pacto coletivo que determina que aquele signo represente seu objeto, ou seja daquela maneira representado. Um objeto representa alguma coisa como símbolo, não porque é semelhante (ícone), nem porque tem alguma particularidade que permita relações (índice), mas sim porque algum sistema de昀椀niu, por convenção tal, representação (símbolo). Na 昀椀gura anterior, algumas convenções estão declaradas, uma delas é que a imagem ilustra um dia ensolarado – dadas as convenções da representação grá昀椀ca circular que remete ao sol, pois tem cinco formas triangulares ao seu redor sugerindo, por convenção, raios solares. Se formos pensar na ideia de símbolo peirciana, ela é muito parecida com a ideia de signo linguístico de Saussure – por mais que estes pensadores elaboraram suas teorias na mesma época, eles nunca se encontraram, nem se conheceram – Peirce no Estados Unidos da América e Saussure na Europa formularam teorias, que tratam de um mesmo tema, mas se apresentam, em alguns momentos, até de forma contraditória. Isto pode ficar melhor entendido a partir da leitura do artigo “A Semiótica: A base para a linguagem visual”, de Deivi Eduardo Oliari. FONTE: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2004/resumos/R2115-2.pdf>. Acesso em: 22 set. 2020. DICAS Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 31 6.2 INTERPRETANTE Já vimos que o representâmen é a condição primeira do signo existir. Que o objeto é aquilo que determinará o signo e é o que o representa, sendo a segunda condição. Agora vamos para a terceira, que é o interpretante – o efeito interpretativo que o signo produz em uma mente, ou em um sistema capaz de interpretar (este último comentário é necessário, para seguirmos a sugestão de Peirce: de não limitarmos o interpretante ao ser humano). Se existe a capacidade de ver semelhança (ícone), relações (índice) e assumir convenções (símbolo); ou de pelas qualidades termos signo (qualissigno); ou através de singularidade de certas qualidades termos (sinssigno); ou ainda de sermos capazes de generalizar em convenções (legissigno); é por que existem efeitos sobre o interpretante, que ocorrem em três momentos: um primeiro – rema; um segundo – discente; e um terceiro – argumento. FIGURA 10 – TRICOTOMIA DO INTERPRETANTE FONTE: O autor Rema é efeito primeiro que um signo provoca no intérprete. Trata-se de uma simples qualidade de sentido que permite um valor emocional. Uma determinada situação em uma circunstância, que faz um fenômeno ser percebido é condição do rema, porém quando este fenômeno solicita do interpretante alguma ação física ou mental, ou seja, exige um dispêndio de energia está na condição de discente, mas quando o signo é interpretado por meio de regras e convenções internalizadas pelo intérprete tem-se a condição do argumento. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 32 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA No discente há um esforço, uma vontade de buscar relações. Se voltarmos à 昀椀gura anterior, da casa, vamos perceber que a capacidade remática está na condição de que o desenho provoca no observador – ao passar o olho pela página, o desenho chama sua atenção, indiferente da emoção causada houve a primeiridade (rema); quando assumimos que o desenho ilustra um dia – é porque a terceiridade está declarada, como um argumento – é possível a昀椀rmar, sem dúvida que é dia! Todavia, a secundidade sempre sugere, ela pode ser discutida. O índice de fogo (formas que representam a fumaça) não nos a昀椀rma fogo, nos sugere, e então como detetives, percorremos a imagem, em suas possibilidades, questionando-a, provocando idas e vindas, para tomar conclusões que, nem sempre serão seguras. Este é o discente. Você sabe que professores são chamados de docentes nas universidades. E que alunos são chamados de “discentes”. Olha que interessante! Se alunos formam o corpo discente, eles devem ser os questionadores, os que não se conformam e que se permitem mudar de opiniões, desde que exista lógica e coerência para isso. INTERES SANTE O processo em que signo tem um efeito cognitivo sobre o intérprete – que o estimula a pensar – a semiose; para Peirce, desenvolve-se em três etapas: a “primeiridade”, a “secundidade” e a “terceiridade” ocorrem sucessivamente e são interligadas de maneira que na “primeiridade” ocorrem o qualissigno, o ícone e o rema. Compreendendo o campo do possível, do sensível, do qualitativo (emocional) se trata da apresentação de algo para os sentidos, imediata e integralmente, por onde se captam as qualidades deste algo, como um sentimento instantâneo, fugaz, precedido de qualquer elaboração posterior. Passada a primeira etapa, que é pura impressão, vem a sensação, o confronto, a consciência de algo concreto – vem a “secundidade”, em que ocorrem o sinssigno, o índice e o discente. Compreendendo o domínio da experiência, da realidade, da ação (energético). O momento em que o sujeito da semiose por meio de níveis progressivos de consciência, passa de um pensamento de impressão pura e instantânea de algo (primeiridade), alcança um pensamento de constatação, resultante de uma sensação desse algo como presença concreta (secundidade) e então chega na percepção da realidade exterior, ele está na (terceiridade), em que ocorrem legissigno, o símbolo e o argumento. Compreendendo tudo que dependa da consciência, da inteligência (racionalidade). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 33 A semiótica peirciana pode ser organizada pelo esquema a seguir – as relações sígnicas: QUADRO 1 – CATEGORIAS DO SIGNOFONTE: O autor com base em Peirce (2005) Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade Qualissigno ícone rema Secundidade Sinssigno índice discente Terceiridade Legissigno símbolo argumento As três categorias, em conjunto, permitem uma divisão do signo em dez classes de signos, que são para Peirce (2005) possíveis relações categóricas por onde passam as possibilidades interpretativas. A primeira classe de signo é: qualissigno, icônico, remático. QUADRO 2 – QUALISSIGNO, ICÔNICO, REMÁTICO FONTE: O autor com base em Peirce (2005) Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno ícone rema Secundidade Sinssigno índice discente Terceiridade Legissigno símbolo argumento É quando uma qualidade já é signo, caso do tom de cinza. Pura sensibilidade – entramos em contato com o fenômeno cromático “cinza”. FIGURA 11 – TOM DE CINZA FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 34 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA A segunda classe de signo é: sinssigno, icônico, remático. QUADRO 3 – SINSSIGNO, ICÔNICO, REMÁTICO FONTE: O autor com base em Peirce (2005) Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno Ícone rema Secundidade sinssigno Índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento Trata-se de um objeto particular e real, que pelas suas qualidades enuncia a ideia de outro objeto. Os diagramas, desenhos técnicos dão conta de ser signos nesta classe. FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE UMA CAMISA FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/527343437596135203/>. Acesso em: 23 set. 2020. A terceira classe de signo é: sinssigno, indicial e remático. QUADRO 4 – SINSSIGNO, INDICIAL, REMÁTICO FONTE: O autor com base em Peirce (2005) Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno Ícone rema Secundidade sinssigno índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 35 Dá conta de dirigir a atenção a um fenômeno determinado pela sua própria presença. Um grito de dor é um exemplo. A quarta classe de signo é: sinssigno, indicial, discente QUADRO 5 – SINSSIGNO, INDICIAL, DISCENTE FONTE: O autor com base em Peirce (2005) Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno Ícone rema Secundidade sinssigno Índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento Signo ainda afetado diretamente pelo seu objeto, mas consegue dar informações sobre este objeto, 昀椀nalidade. Um cata-vento é exemplo para este signo. FIGURA 13 – FOTOGRAFIA DE UM CATA-VENTO FONTE: <https://urbanarts.vteximg.com.br/arquivos/ids/4744325/236025-IMA-043-046. jpg?v=637194245047930000>. Acesso em: 14 abr. 2020. A quinta classe de signo é: legissigno, icônico, remático. QUADRO 6 – LEGISSIGNO, ICÔNICO, REMÁTICO FONTE: O autor com base em Peirce (2005) Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno Ícone rema Secundidade sinssigno Índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 36 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA É um ícone interpretado com regra, como lei. Pode ser o mesmo diagrama da segunda classe, mas sua capacidade de se de昀椀nir em leis é importante. Ele se representa pelas regras. Veja um diagrama eletrônico como 昀椀ca difícil se não conhecemos as regras que o estabelecem. FIGURA 14 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE UM DISPOSITIVO ELÉTRICO FONTE: <https://eletricidadesemsegredosblog.files.wordpress.com/2018/05/a2.png>. Acesso em: 14 abr. 2020. A sexta classe de signo é: legissigno, indicial, remático. QUADRO 7 – LEGISSIGNO, INDICIAL, REMÁTICO FONTE: Adaptado de Peirce (2005) Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno Ícone rema Secundidade sinssigno índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento É um signo que está delimitado por uma lei geral, que de tal modo atrai a atenção para este objeto. Um exemplo são as sirenes de ambulância e de bombeiro – cada uma tem uma frequência que diz, exatamente, de qual é. A sétima classe de signo é: legissigno, indicial, discente. QUADRO 8 – LEGISSIGNO, INDICIAL, DISCENTE FONTE: O autor com base em Peirce (2005) Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno ícone rema Secundidade sinssigno índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 37 Signo que está delimitado por uma lei geral afetada por um objeto real, que consegue fornecer informações de昀椀nidas sobre esse objeto. Uma placa de trânsito é um exemplo. FIGURA 15 – REPRESENTAÇÃO EM TOM DE CINZA DE UMA SINALIZAÇÃO DE TRÂNSITO FONTE: <https://www.novaflexisencao.com.br/wp-content/uploads/2018/08/ 1_27092013122011236444265412651f56we1f56ef1236r65.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2020. A oitava classe de signo é: legissigno, simbólico, remático. QUADRO 9 – LEGISSIGNO, SIMBÓLICO, REMÁTICO FONTE: Adaptado de Peirce (2005) Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno ícone rema Secundidade sinssigno índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento É um signo convencional que não tem nenhum caráter propositivo. Exemplos são os substantivos comuns. A bandeira branca signi昀椀cando paz. FIGURA 16 – IMAGEM DE BANDEIRA BRANCA FONTE: <https://postoavenda.com/wp-content/uploads/2014/05/posto-de-gasolina-a-venda- bandeira-branca.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2020. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 38 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA A nona classe de signo é: legissigno, simbólico, discente. QUADRO 10 – LEGISSIGNO, SIMBÓLICO, DISCENTE FONTE: Adaptado de Peirce (2005) Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno ícone rema Secundidade sinssigno índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento Combina símbolos remáticos (da oitava classe) em proposições. Qualquer proposição completa é exemplo de signo nesta classe – se na oitava classe os substantivos comuns foram exemplo, aqui uma proposição com base nele será: “Nenhum cisne é negro”. E no que compete à ideia de cor branca para paz – um ambiente todo branco pode sugerir tranquilidade. A décima classe de signo é: legissigno, simbólico, argumental. QUADRO 11 – LEGISSIGNO, SIMBÓLICO, ARGUMENTAL Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno Ícone rema Secundidade sinssigno Índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento FONTE: Adaptado de Peirce (2005) A décima classe do signo é a mais racional de todas. Se formos pensar em um exemplo uma proposição que opera no campo dos silogismos caberia (Exemplo de silogismo: "todos os homens são mortais; os gregos são homens; logo, os gregos são mortais"). Se formos para o campo do design, é possível assumir como exemplo a cor branca para determinados uniformes – não apenas por remeter e convenção a uma classe pro昀椀ssional (caso de médicos, cozinheiros...), mas porque nas diretrizes e normas de saúde a cor branca permite identi昀椀car sujeira e problemas de contaminação – assim a cor branca em uniformes pro昀椀ssional estáatrelada a décima classe do signo, sendo seu uso explicado de forma racional – se o cliente for destas classes pro昀椀ssionais e solicitar outras cores para suas roupas pro昀椀ssionais – o direcionamento que cabe é trabalhar com tons claros – tendo em vista que ao sujar funcionarão de forma semelhante ao branco. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — CONCEITOS INTRODUTÓRIOS: SEMIOLOGIA E SEMIÓTICA 39 Como vimos é possível dividir os signos em 10 classes, que nada mais são que desdobramentos lógicos de combinações possíveis dentro das tríades, porém, Peirce (2005) nos faz considerar ser um terrível problema a昀椀rmar a qual classe pertence um signo, pois ele pode assumir características diversas, junto a várias circunstâncias. É importante saber das 10 classes, contudo, antes disto, o que deve operar: a lógica. E foi o método lógico de classi昀椀car os signos que deu relevância para a grande contribuição de Peirce. Como a昀椀rmamos no início deste tópico: a capacidade de representar algo é a primeira base para o entendimento de um signo. E, neste momento, deve ser possível entender que existem duas correntes que estudam esta capacidade – uma mais restritiva – focada na palavra: a semiologia; na noção dicotômica de Ferdinand de Saussure, em que signo é a relação entre signi昀椀cante e signi昀椀cado. E outra, nada restritiva: a semiótica; na noção tricotômica de Charles Sanders Peirce, em que signo tem sua relação categorizada em três tricotomias: representâmen (qualissigno, sinssigno e legissigno), objeto (ícone, índice e símbolo) e interpretante (rema, discente e argumento). Claro que a abordagem e o entendimento destas duas correntes são densas e solicitam um aprofundamento maior para os mais interessados. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 40 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Durante o século XIX surgiram duas correntes: uma europeia (a semiologia) e outra norte-americana (a semiótica), e que estas duas correntes têm seus principais teóricos: Saussure, para a semiologia; e Peirce, para a semiótica. • A visão saussuriana é do signo linguístico, assumindo principalmente a palavra (falada) como principal objeto de abordagem. • Para Saussure, na semiologia, o signo é formado pelo signi昀椀cado e pelo signi昀椀cante. • Na semiologia, o signo é dicotômico, formado pelo signi昀椀cante e signi昀椀cado. O signi昀椀cado é o conceito da coisa e o signi昀椀cante é como essa coisa se manifesta. • A visão peirciana é do signo em geral, assumindo todo e qualquer coisa que representa algo em seu lugar, inclusive a palavra. • Para Peirce, na semiótica, o signo é formado por três categorias: a primeiridade, a secundidade e a terceiridade. • Essa categorização é chamada de tricotômica do signo que se apresenta pelo representâmen, pelo objeto e pelo interpretante. • A tricotomia se repete para cada um deles, 昀椀cando para o representâmen a primeiridade: o qualissigno; a secundidade: o sinssigno e a terceiridade: o legissigno. • A tricotomia se repete para cada um deles, 昀椀cando para o objeto a primeiridade: o ícone; a secundidade: o índice e a terceiridade: o símbolo. • A tricotomia se repete para cada um deles, 昀椀cando para o interpretante a primeiridade: o rema; a secundidade: o discente e a terceiridade: o argumento. • O signo é toda e qualquer coisa que representa algo em seu lugar. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 41 1 A relação lógica do fenômeno e signi昀椀cado surge inicialmente na medicina. Ao 昀椀nal do século XVII, Henry Stubbes aponta um ramo da ciência médica dedicado ao estudo da interpretação dos sinais (sintomas). Tal ramo cientí昀椀co amplia-se e tem como objeto qualquer sistema sígnico. Por volta do século XVIII, o “nome” começa a aparecer com os seus respectivos estudiosos. Com base nessa introdução, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a semiologia que tem nos estudos do norte-americano Charles Peirce seu principal expoente. b) ( ) Semiologia com Peirce e Semiótica com Saussure. c) ( ) Semiologia com Saussure e Semiótica com Peirce. d) ( ) Somente a semiótica que tem nos estudos de Saussure sua base central. e) ( ) Nenhuma das alternativas, pois a a昀椀rmação introdutória está equivocada a昀椀nal semiótica não tem relação alguma com a medicina. 2 Quando iniciamos um entendimento semiótico, percebemos que a abordagem cientí昀椀ca surge num mesmo período, mas em lugares diferentes. Semiótica e semiologia se diferem por isso, a primeira com berço nos Estados Unidos da América e a segunda na França – contexto europeu. Além desta, outras diferenças marcam esse entendimento. Qual das alternativas não apresenta uma diferença entre estas duas correntes? a) ( ) A semiologia entende que o signo é resultado de uma dicotomia; enquanto que a semiótica, entende que o signo é tricotômico. b) ( ) O verbo (a palavra) é signo tanto para a semiologia quanto para a semiótica. c) ( ) Enquanto a semiótica dá conta de todo e qualquer fenômeno como signo, a semiologia se limita ao verbo (a palavra). d) ( ) A abordagem semiótica em Peirce é mais generalista do que a abordagem saussuriana na semiologia. 3 A semiologia e a semiótica têm como base o entendimento que signo é alguma coisa que representa algo em seu lugar. A partir da introdução, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- Uma palavra será signo, considerando que seus falantes estejam em um mesmo contexto linguístico. PORQUE II- Se formos pensar na palavra “mãe” ela é signi昀椀cante para os falantes da língua portuguesa, tendo signi昀椀cando similiar à palavra “mother” para os falantes da língua inglesa. AUTOATIVIDADE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 42 A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA. a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justi昀椀cativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justi昀椀cativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 4 A tricotômica da semiótica de Peirce, entende que existem momentos diferentes de semiose, de processar o signi昀椀cado das coisas. Apresenta quais são estas categorias e como são chamadas: 5 Descobrir o conceito, determinar as formas como ele será manipulado, combinar todas as exigências possíveis para que o projeto dê conta de reprentá-lo demanda do pro昀椀ssional de projeto a capacidade de produzir objetos que sejam capazem de signi昀椀car. Um muitos casos se utlizam das convenções do mercado – tendências de cores, de materiais por exemplo. Ao usar das convenção, em relação ao objeto, qual categoria signícia da tricotomia da semiótica de Peirce o projetista está tomando como base? Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 43 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 A SEMIOLOGIA E A SEMIÓTICA 1 INTRODUÇÃO Iniciamos o terceiro tópico desta unidade. Nela, você conhecerá os conceitos de semiologia e semiótica como fundamento para o entendimento de semiótica, contribuindo para a re昀氀exão acerca da capacidade humana de interpretar e produzir signos,potencializando a capacidade analítica e crítica de leitura de objetos sígnicos com base na semiologia (Plano de Expressão e Plano de Conteúdo) e na semiótica (ícone, índice e símbolo). O entendimento inicial para este tópico é perceber que o foco linguístico da semiologia de Saussure, que se limitava à palavra (principalmente falada), vai ganhar amplitude, com outros teóricos que passaram a chamá-la, também de semiótica. Oportunizando, mesmo de forma dicotômica, seja possível abordar o signo de forma genérica. O recorte deste tópico tem o objetivo de focar, dentro de cada uma das correntes estudadas até aqui, o entendimento das abordagens semióticas possíveis, possibilitando que se tenha duas maneiras de abordar o signo. 2 A SEMIOLOGIA E O PLANO DE EXPRESSÃO E PLANO DE CONTEÚDO Ao conceber o signo dicotomicamente – com base no signi昀椀cante e no signi昀椀cado, Ferdinand de Saussure ofereceu condições teóricas para que se pudesse pensar não apenas na linguagem verbal, mas também na relação entre “som” e “sentido”. Neste contexto aparecem dois grandes nomes da semiótica. Louis Trolle Hjelmslev, um dos grandes teóricos do Círculo Linguístico de Copenhague, não somente deu continuidade às visões linguísticas de Saussure, como as sistematizou para as demais linguagens humanas, expandido o objeto saussuriano. Seu pensamento foi uma das fontes de昀椀nidoras da Semiótica de Algirdas Julien Greimas fundador da Escola de Semiótica de Paris nos anos de 1960, cuja obra teórica foi solidamente construída abarcando teoria, prática e epistemologia. De fato, para este, a semiótica está na capacidade de exercitar a descrição e análise. Na visão greimasiana, na esteira do pensamento de Hjelmslev, toda análise de qualquer fenômeno signi昀椀cante precisa considerar uma estrutura fundamental, profunda, ao dar conta dela tem-se garantida a signi昀椀cação. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 44 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA Tanto a semiótica quanto a semiologia têm um corpo teórico consistente e vasto. Nossa disciplina objetiva o entendimento destas áreas, recortando a abordagem nas posturas, não se aprofundando em cada teórico. Contudo, se você tem interesse em conhecer cada um deles vale acessar o google scholar: https://scholar.google.com.br e colocar o nome dos teóricos que aparecem. ATENCA O O ponto de partida deste subtópico é o modelo semiótico desenvolvido por A. J. Greimas e colaboradores, em linha com as propostas de Louis Hjelmslev, o dinamarquês mais saussuriano dos linguistas, que apresentou uma linha de pensamento em que as noções de signi昀椀cante e signi昀椀cado sofreram ajustes consideráveis, passando a ser chamadas de “plano de expressão” (signi昀椀cante) e “plano de conteúdo” (signi昀椀cado), substituindo a ideia de signo entre as duas, e atribuindo a esta relação a ideia de semiose, como processo de produção de sentido. FIGURA 17 – PLANO DE EXPRESSÃO E PLANO DE CONTEÚDO FONTE: O autor O plano de expressão pode ser de昀椀nido como instância de exteriorização do conteúdo, onde 昀椀cam manifestadas as qualidades concretas dos elementos e estímulos que tocam os órgãos sensoriais. Quanto mais complexo o objeto, mais se deve investigá-lo para dar conta de assumir seu signi昀椀cado. Um bom exemplo são os des昀椀les de moda: várias expressões (looks, per昀椀l das modelos, músicas, iluminação, alocação – espaço, layout da passarela, entre outros elementos) devem dar conta, em conjunto, do conteúdo (conceito) da coleção apresentada. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — A SEMIOLOGIA E A SEMIÓTICA 45 Um designer de moda tem que ter bem claro o “conteúdo” (conceito) da coleção que está desenvolvendo, para então “expressar” em seus desenhos (linhas, cores, texturas, cartela de materiais, entre outros) elementos que vão ser sentidos pelo seu público-alvo promovendo o ato de compra. Amplie isso para o vitrinismo, para um editorial, para um desfile e vemos a complexidade aumentando! INTERES SANTE Outro ponto interessante aqui, que tem como base a lógica de Hjelmslev, é o entendimento de que o “plano de expressão” pode ter variações, dando conta das diversidades de estilos, ou seja, um “conteúdo”, pode ser “expresso” de várias formas. No design, dois projetistas podem expressar o mesmo conteúdo de formas diferentes, cada um dando conta de expressá-lo, conforme seu estilo de desenho e de trabalho. Todavia, é claro que alguns elementos de expressão, se pensados dentro de uma mesma cultura, vão ser similares. Na Unidade 2 estudaremos os elementos visuais – e, então, perceberemos que um elemento visual tem potencial para expressar um determinado conteúdo. Cabe como exemplo aqui a ideia das formas curvas/circulares que se mostram mais orgânicas que as lineares – então, se dois designers expressam fluidez em seus desenhos, é bem provável que as formas curvas/circulares aparecerão nas duas expressões. ESTUDOS FUTUR OS Os conteúdos estão impregnados de sentidos já articulados, por formas acrescidas de hábitos e condições sociais, que in昀氀uenciam diretamente na maneira como devem ser expressos. Interessante perceber que o “plano de expressão” indica os elementos que participam da homologação com o “plano de conteúdo” – e que na composição do primeiro, vamos ter elementos principais, secundários e outros que complementam o todo. Em resumo, nós podemos destacar que um objeto sígnico aqui tratado terá elementos de enunciação – do “plano de conteúdo”; elementos de expressão – do “plano de expressão”; e os efeitos de sentido – da semiose, da capacidade de signi昀椀car, de ter signi昀椀cado. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 46 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA Para Hjelmslev (1975, p. 49) “um signo que funciona, que designa e que signi昀椀ca, é, acima de tudo, um signo portador de uma signi昀椀cação”. Ele não pode ser de昀椀nido como alguma coisa de natureza vazia, ou seja, a condição do signo é ser signo – é signi昀椀car. Havendo aqui a necessidade da contextualização, pois descontextualizado 昀椀ca desprovido de signi昀椀cado. E, dentro disso, sua máxima relação sígnica se dá pelas relações que mantêm com outros signos dentro de um determinado contexto. Esta ideia 昀椀ca mais clara quando pegamos um determinado signo, e o analisamos fora e dentro de um determinado contexto. No pensamento de Hjelmslev, mais voltado à linguística, vamos tomar a palavra “botão”, vê-se que isolada nem sempre é possível relacionar a um sentido, havendo aqui um esvaziamento de sentido (lembre-se de que ausência de sentido não é somente não ter sentido algum, mas permitir muitos sentidos, o que nos leva a não assumir sentido algum). A palavra “botão”, na língua portuguesa, tem vários signi昀椀cados, mas quando aplicada em um determinado contexto, direcionada; desta forma, ela tem sentido. “Chame o elevador apertando o botão”; “Feche sua calça apertando o botão”; são sentenças que colocam a palavra “botão” em contexto diferentes, dando a mesma palavra sentidos diferentes. “[...] isoladamente, signo algum tem signi昀椀cação. Toda signi昀椀cação de signo nasce de um contexto” (HJELMSLEV, 1975, p. 50). Portanto, entendemos isso como um contexto de situação ou um contexto explícito. Vale ressaltar que cores, materiais podem ser considerados elementos signi昀椀cativos, como expressões de signos, quando desempenham funções de sentido, caso contrário são elementos vaziosde signi昀椀cação. Entretanto, quando compõem um objeto, dão conta de ser signos, e ao signi昀椀carem permitem que o objeto, na sua totalidade tenha o signi昀椀cado do conteúdo pretendido. Pensando com foco no desenvolvimento de produtos é permitir ver que “plano de conteúdo” e “plano de expressão” funcionam dicotomicamente. Cada uma dessas partes parece ter outras internamente, como a昀椀rma Hjelmslev (1975), e mostra o quadro a seguir: QUADRO 12 – PLANO DE CONTEÚDO E PLANO DE EXPRESSÀO FONTE: O autor SIGNO Plano de Conteúdo Forma do conteúdo É a estrutura do conteúdo (como narrativa, como língua na fala/escrita). Substância do conteúdo É o pensamento, a ideia, a signi昀椀cação. Plano de Expressão Forma da expressão São os elementos da forma – traços, cores, texturas, materiais (na linguagem verbal são as palavras, os fonemas). Substância da expressão São as composições (na linguagem verbal os sons articulados pela fala, os textos escritos). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — A SEMIOLOGIA E A SEMIÓTICA 47 Num contexto íntimo à comunicação e a todo período considerado de contracultura, que marcou a segunda metade do século XX, a semiótica de que aqui estamos tratando tem outro pensador: Rolland Barthes, que rede昀椀niu a semiologia. Rolland Barthes, reinterpretando Hjelmslev, esclarece que qualquer sistema de signi昀椀cação, e aí podemos entender o design, comporta um “plano de expressão” e um “plano de conteúdo”, e sua signi昀椀cação consiste na relação entre estes dois planos. Para este autor o vestuário constituía um excelente objeto poético. Primeiramente, porque ele mobiliza com muita variedade todas as qualidades da matéria – substância, forma, cor, tactilidade, movimento, apresentação, luminosidade; e depois porque, em contato com o corpo e funcionando ao mesmo tempo como seu substituto e sua cobertura, é ele, certamente, objeto de um investimento muito importante (BARTHES, 1979, p. 42). Rollando Barthes, em Paris nos anos de 1960, na École Pratique des Hautes Études en Sciences Sociales, se notabilizou como um dos principais representantes do estruturalismo, entre algumas obras o livro Sistema da Moda (editora Martins Fontes) é pertinente para a formação em design de moda e em áreas relacionadas à comunicação. INTERES SANTE Neste momento de nossa disciplina, a ideia é mostrar que é possível trabalhar com uma postura semiótica, a partir da noção dicotômica de Saussure. Ampliando para as noções de “plano de conteúdo” e “plano de expressão” tratadas até aqui. 3 A SEMIÓTICA E A TRICOTOMIA DO SIGNO: ÍCONE, ÍNDICE E SÍMBOLO Da mesma forma que nos permitimos retornar à semiologia e mostrar de forma mais aplicável, dentro da semiótica tricotômica de Peirce é possível fazer um recorte para que ela 昀椀que menos complexa. Vimos que a semiótica peirciana entende o signo como resultado de relações triádicas, em suma composto pelo “representâmen”, pelo “objeto” e pelo “interpretante”, em categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade. A noção de que todo este sistema opera quando estamos abordando o signo é importante. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 48 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA QUADRO 13 – CATEGORIAS TRICOTÔMICA DE PEIRCE FONTE: O autor Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno ícone rema Secundidade sinssigno índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento O desenvolvimento de projeto em design tem sua natureza diretamente ligada ao pensamento criativo. Um fenômeno interno mental, que sugere percepção inconsciente, consciente e conhecimento, envolvendo aspectos psíquicos, afetivos e o sistema sensório-motor, ou seja, quando nos damos conta que no desenvolvimento de projeto estamos nos ocupando de um processo criativo, todo nosso sistema sensorial, psíquico parece estar operando, e nos vemos assumindo uma postura singular que não separa corpo e mente. E tudo isso parece acontecer se nos darmos conta! O ato de projetar, que é ato de criação, é ato de linguagem gerada pelo corpo, e também é ato de incluir as percepções ambientais, podendo então resultar em processos que ocorrem internamente e/ou no entorno do contexto do projeto. Em linha com a semiótica peirciana há neste processo a percepção do sujeito, do que ele vê/sente do contexto; e do que ele já viu, recordando o que já indicia; e até daquilo que ele consegue extrair do contexto informações de forma consciente. É possível perceber as três categorias: no processo de primeiridade, o signo desperta na consciência do projetista uma qualidade imediata, não há reconhecimento nem análise dela, apenas é sentida – uma sensação. Então os elementos que a compõe e suas propriedades (como cores, formas, texturas etc.) se apresentam em qualidades do fenômeno, havendo neles então a constatação de algo existente, em secundidade, fazendo o signo se apresentar de forma consciente, provocando recordações de experiências já vividas. E, então, ocorre o julgamento, a síntese, a certeza, sendo esta, a terceiridade. Essas categorias mostram que, no processo criativo, que é o de projetar, são perpassadas as experiências como qualidade, de relações e de representação – as três categorias de Peirce. Por vezes a de昀椀nição de uma cartela de cores de uma coleção não vem apenas da certeza, de algo que está em terceiridade: assumida como verdade e síntese nas tendências de um determinado bureau. Ela pode aparecer de uma experiência de primeiridade, quando o projetista se permitiu vivenciar situações do público-alvo da marca, e então, movido mais pelo sentimento do que pela razão, de昀椀niu uma cor, uma tonalidade, uma composição. Este exemplo mostra quanto o projeto, o ato criativo é singular. O projetista está imerso num processo dinâmico onde, a cada momento, precisa tomar decisões e fazer escolhas. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — A SEMIOLOGIA E A SEMIÓTICA 49 Ao considerarmos o processo criativo como dinâmico e então caracterizado por uma constante articulação, é possível que se tenha uma infinidade de ideias, de associações. Basta que se tenha lógica e que esta consiga ser explicada. Uma ideia leva a outra, nenhum signo é completo, estático, todo signo se completa em outro e assim por diante. ATENCA O Todo projeto contém signos ordenados por regras, cuja 昀椀nalidade é permitir sua comunicação – seu entendimento. O contexto sentido por um pro昀椀ssional pode ser por ele incorporado e transformado e resultar em novas formas de representação. O projeto pode ser entendido como processo de modulação que traduz formas similares (iguais) – icônicas; que têm relação e remetem aos fenômenos – indiciáticas; e que se sustentam em regras, em normas – simbólicas. Uma maneira de ilustrar isso é de昀椀nirmos o tema “automóveis”. À medida que nos damos tempo para pensar nele, vemos quão importante é termos o carro como referência – ou seja, o desenho de um carro se mostra icônico – em suas qualidades dá conta de representar “automóveis”. FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO DE UM AUTOMÓVEL FONTE: <https://amordepapeis.com.br/wp-content/uploads/2019/11/carros-para-colorir-47.jpg>. Acesso em: 16 abr. 2020. Para darmos conta de representar carro, e 昀椀carmos no tema “automóveis”, ícone fazem de forma rápida – olhando a 昀椀gura acima, dado o contexto cultural que vivemos, não precisa esforço para vermos a representação de automóvel, porém algumas representações grá昀椀cas podem indiciar “automóveis”, como exemplo, a marca de pneus que passaram sobre uma superfície:Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 50 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA FIGURA 19 – REPRESENTAÇÃO DE MARCAS DE PNEU DE UM AUTOMÓVEL FONTE: <https://pt.dreamstime.com/trilha-de-sujeira-do-protetor-da-roda-carro-silhueta-pneu- preta-ilustra-o-vetor-isolada-no-fundo-branco-image144799156>. Acesso em: 29 set. 2020. Ao olharmos para as duas imagens acima, elas dão conta de representar “automóveis” a partir da noção de experiência do automóvel no mundo, ou seja, o desenho do carro é ícone de carro, pois é similar – em suas qualidades representa o automóvel. Enquanto a representação de “marca de pneus numa superfície” representa “automóveis” a partir da sugestão. Ela sugere automóvel, mas não o declara. Para termos esta noção, precisamos buscar detalhes a partir de comparações de experiências já vividas. Sabe-se que é uma marca de pneu, que dada sua largura e elementos não é de bicicleta nem de motocicleta; e conseguimos ver referência ao carro, sem ele estar ali representado diretamente. Assumimos o automóvel na 昀椀gura, da mesma forma que assumimos fogo ao vermos fumaça, chuva para chão molhado – ou seja, o desenho da marca de pneu indicia automóvel, reforçando a presença do índice (secundidade). Quando vamos para a categoria da terceiridade, na representação de “automóveis” vamos perceber que as relações se dão com base em regras, em normas, ou seja, em expressões que foi preciso aprender. E, que de forma arbitrária, dá conta de representar “automóvel”. FIGURA 20 – REPRESENTAÇÃO EM TOM DE CINZA DA MARCA DA VOLKSWAGEN FONTE: <https://logodownload.org/wp-content/uploads/2014/02/volkswagen-vw-logo-0- 2048x2048.png>. Acesso em: 16 abr. 2020. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — A SEMIOLOGIA E A SEMIÓTICA 51 A marca da Volkswagen dá conta de representar “automóveis”, porém para isso acontecer é preciso conhecer a marca, esta representação não se faz apenas pelos traços – circulares e triangulares, ou da mesma forma no fato da composição remeter às letras V e W (talvez isso até contribua para o conceito da marca) – mas é no conhecimento da marca que se faz capaz de representar “automóveis”, e faz isso como Símbolo, em terceiridade. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 52 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA LEITURA COMPLEMENTAR SEMIÓTICA APLICADA AO DESIGN DE MODA: UMA LEITURA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS Joana Brolhani Thyenne Vilela Introdução A teoria Semiótica apresentada como Teoria Geral dos Signos, conduz o acadêmico de moda a compreender o processo de comunicação e identi昀椀car os fatores que in昀氀uenciam a signi昀椀cação de uma mensagem. Instrumentaliza e desenvolve intersemioses entre as diferentes linguagens que constituem os ambientes humanos, além de exercitar a produção de linguagens, como resultado dos processos de organização dos signos por habilidades teóricas e práticas. A 昀椀m de reconhecer os usos da semiótica no design de moda, veri昀椀cando possíveis aplicações e resultados analíticos, foi identi昀椀cada a oportunidade trabalhar com amostras de artigos cientí昀椀cos publicados em eventos de design. A escolha dos artigos se deu, devido ao caráter exploratório que, em hipótese, além de apresentar o referencial teórico –, potencializam apresentar também a teoria aplicada em análises de projetos em design de moda. É necessário esclarecer que o resultado 昀椀nal da avaliação crítica dos artigos, não acompanhados dos artigos originais, reduziria a representação signi昀椀cativa da crítica para junto ao leitor. Por isso, de昀椀niu-se direcionar o conteúdo desse artigo, para os procedimentos que conduziram a leitura do pesquisador de graduação, que investiga a semiótica aplicada ao design de moda, sendo possível replicar esse percurso para os demais pesquisadores interessados. Identi昀椀cação de artigos cientí昀椀cos com referencial da teoria Semiótica Com base na metodologia de Lakatos e Marconi (1991) foi possível o desenvolvimento da pesquisa de seleção e organização dos 11 artigos cientí昀椀cos na área de Design de Moda que usassem como referência principal a 1 Graduanda do curso de Design de Moda da Universidade Positivo; Pesquisadora no Programa de Iniciação Cientí昀椀ca (PIC) desta universidade. 2 Mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná; Docente nos cursos de Design da Universidade Positivo desde 2004; Orientadora do TCC – Trabalho de Conclusão de Curso – Design de Moda. 2 Semiótica. Foi realizado o 昀椀chamento bibliográ昀椀co indicando: 1. Título do artigo; 2. Autores e vínculo acadêmico; 3. Resumo do artigo; 4. Evento e ano de publicação; 5. Link da referência online. Em seguida, foi desenvolvida e preenchida uma 昀椀cha para identi昀椀car em cada um dos artigos Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — A SEMIOLOGIA E A SEMIÓTICA 53 selecionados: 1. Quais autores da semiótica o artigo apresentava; 2. Qual foi a referência utilizada; 3. Uma cópia de uma citação relevante do autor; 4. O modo como a teoria foi abordada no artigo: a. Teórico com aplicação argumentativa; b. Teórico com aplicação analítica. Cabe aqui, apresentar os títulos dos artigos selecionados e respectivas instituições: Design de Moda: o corpo, a roupa e o espaço que os habita (UESP); A inter-relação entre moda, corpolatria e mídia (UEM); Comunicação, moda e semiótica: pressupostos para o estudo da história do jeans em campanhas publicitárias (UEM; UFPR); A semiótica e a Moda (UNICAMP); Por uma tipologia de estilos: Fronteiras da construção da aparência do corpo (UFPE); Apresentação e discussão do Modelo exploratório de intervenção de design – Meid (SORBONNE; UFPE); Pioneiras da Moda de Autor em Portugal (UNL); A linguagem visual do vestuário da revista Manequim na década de 1960 (UFC; UFPE); O vestir como dispositivo simbólico da arte (UFPE); A mensagem pela imagem – análise semiótica das fotogra昀椀as publicitárias da coleção verão 2007 da WJ acessórios (UNIASSELVI-SC); Publicidade de perfume – uma análise plástica do sensível (PUC-SP). Dos autores mais presentes nos artigos selecionados, é possível reconhecer uma divisão entre referências à semiótica francesa (Greimas; Barthes; Baudrillard; Floch; Castilho; Martins, etc.) e referências à semiótica americana (Peirce; Santaella; Pignatari; Brosso; Valente; etc.). Por meio de questionário aplicado online a pesquisadores e professores de semiótica em cursos de design de diferentes localidades, identi昀椀cou-se que 70% adotam determinada linha de pesquisa devido à herança acadêmica, e os demais, porque estudaram as diferentes linhas e optaram por trabalhar com uma determinada. Sendo assim, de昀椀niu-se não adentrar a discussão quanto à linha de pesquisa, e sim em como os conceitos teóricos estavam sendo abordados nos artigos. De 11 artigos, 5 apresentaram a teoria aplicada à análise de projetos de moda (abordagem teórico-prática), os demais artigos concentraram nas abordagens especi昀椀camente teóricas. Reconhecimento de abordagens teórico-práticas Para explorar quais as condutas e critérios adotados para a aplicação da teoria no design de moda, foram selecionados 3 artigos que indicavam algum tipo de análise. A 昀椀m de identi昀椀car possíveis sistemas analíticos, foi veri昀椀cado em cada artigo o uso de: 1. Tabela; 2. Texto analítico discursivo; 3. Uso de imagem do objeto; 4. Uso de imagemauxiliar ao projeto e / ou editada; 5. Outros. O resultado apresenta que todos os artigos realizaram análise mediada 3 por: ‘texto analítico discursivo’ e ‘uso de imagem do objeto’. Isso indica que diante dos artigos selecionados nessa pesquisa, as análises semióticas adotam o método descritivo quantitativo de apropriação da teoria na prática. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 54 UNIDADE 1 — SEMIÓTICA Avaliação da teoria como base analítica-prática Em seguida foi realizada uma leitura exploratória quanto à qualidade da análise no artigo. Foi desenvolvido e aplicado um formulário-guia, e para cada item indicar: os autores; as citações pertinentes; e uma breve discussão argumentativa a partir das informações disponíveis no artigo. O formulário-guia apresentava as seguintes questões: 1. O objeto e o contexto do objeto analítico foram anunciados / explicados? 2. Os conceitos teóricos foram explicados (considerando público leigo) com os respectivos autores indicados? 3. Os conceitos teóricos foram resgatados durante a análise? 4. Foi apresentado um referencial teórico complementar à semiótica? Se sim, quais e qual a in昀氀uência dos mesmos para a análise semiótica? 5. A análise favoreceu uma discussão com resultados? Se sim, houve o resgate dos conceitos teóricos nessa discussão? Vale ressaltar, que o item 4 favoreceu o reconhecimento da necessidade de um referencial teórico complementar à semiótica, que condicione a representação de signos, com lógica na leitura das linguagens. O resultado desse processo avaliativo revela que o conhecimento dos códigos empregados, bem como das teorias a昀椀ns, é repertório fundante para – então – ter a semiótica como mediadora do processo. Para apresentar a leitura avaliativa realizada, seria necessária também a apresentação dos artigos originais, evitando recortes críticos sem a devida referência, o que ocasionaria possíveis ruídos para o leitor, reduzindo a compreensão do que conduziu um ou outro argumento por parte do pesquisador. Considerações 昀椀nais A pesquisa apresentada foi conduzida a partir de questões entorno de como a semiótica estava sendo aplicada no design de moda; quais eram os autores, as abordagens, e os tipos de análises; Como trata de uma iniciação cientí昀椀ca, o que é mais relevante no presente artigo, é o percurso investigativo do graduando, a昀椀m de atender a essas questões. Portanto, os procedimentos adotados, que poderão guiar futuras análises. É relevante considerar, que em uma área criativa como o design de moda, o uso da semiótica pode ser potencializado como guia processual no desenvolvimento de projetos ou como guia analítico de linguagens da moda. A teoria depende de uma prática que a revele, articulada com outras teorias que fundamentam a produção da linguagem na área, pois o repertório de quem se destina a realizar uma análise semiótica, exige referências da natureza da linguagem investigada, bem como do reconhecimento do contexto, do público destino e da situação de aplicação; sem esse referencial preliminar a teoria semiótica não se aplica. FONTE: BROLHANI, Joanna; VILELA, Thyenne. Semiótica aplicada ao design de moda: uma leitura de artigos científicos. 11º Colóquio de Moda – 8ª Edição Internacional – 2º Congresso Brasileiro de Iniciação Científica em Design e Moda, 2015. Disponível em: http://www. coloquiomoda.com.br/anais/Coloquio%20de%20Moda%20-%202015/POSTER/PO-EIXO1- DESIGN/PO-1-SEMIOTICA-APLICADA-AO-DESIGN-DE-MODA.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 55 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A semiologia saussuriana, que só tratava do signo linguístico, ganhou a possibilidade de tratar de outros tipos de signo a partir da noção de outros pensadores que atribuíram a noção dicotômica de Plano de Expressão e Plano de Conteúdo. • A semiótica peirciana pode sofrer um recorte em sua tricotomia e trabalhada apenas e uma de suas categorias – caso do objeto: ícone, índice e símbolo. • É possível analisar um objeto (que não seja apenas linguístico) a partir da noção dicotômica – Plano de Expressão e Plano de Conteúdo; e/ou a partir da noção tricotômica – ícone, índice e símbolo. • Considerando as categorias do objeto: a primeiridade do objeto é o ícone e sua relação sígnica se faz por similaridade; a secundidade do objeto é o índice e sua capacidade sígnica se faz por relação indireta; e a terceiridade do objeto é o símbolo e sua capacidade sígnica se faz, em grande parte, por convenção. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMAD A Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 56 1 Analise a imagem disponível no site Fashion Bubbles, um dos maiores sites de tendências em lifestyle, para fazer uma análise rápida. Você pode usar o espaço reservado ao lado da imagem e então observá-la, listando primeiro os elementos de expressão (liste o máximo de coisas que você vê na imagem); depois que esta lista estiver bem completa, procure ver o que estes elementos isolados ou em conjunto enunciam – sugerem, como conteúdo (perceba que isso tem muito a ver com seu nível de conhecimento e claro com sua capacidade de ter ideias – tudo vale, desde que tenha lógica, claro). Após estas duas listas, você consegue fazer uma síntese? Você consegue montar um pequeno texto colocando em palavras o que a imagem diz? Se possível, escreva dentro da área de sua formação. Atenção! A imagem foi modi昀椀cada para tons de cinza. Em destaque, apenas vale mencionar que o vestido na imagem seria azul (veja no link a seguir para ter acesso à imagem colorida). Em nossa leitura, daremos direcionamentos para esta cor ao mesmo tempo que vamos também ler o tom cinza, que se forma no vestido na imagem impressa aqui). FONTE: <https://www.fashionbubbles.com/estilo/a-cor-do-verao-2021-a-i-aqua-aposta-wgsn/>. Acesso em: 22 set. 2020. AUTOATIVIDADE Liste os elementos de expressão (Plano de Expressão) O que cada elemento listado enuncia? (Plano de Conteúdo) Há algum sentido no que está expresso e enunciado? (efeito de sentido) Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 57 Normalmente, resvalamos na descrição de objetos conhecidos que vemos: uma mulher (modelo) com outra ao fundo; um vestido cinza; sapatos (botas) pretas; piso; elementos que remetem à divisória com bases circulares. Não está errado! Contudo, podemos nos ocupar do que está expresso na imagem: como elementos como as linhas onduladas que formam o vestido cinza; o própria forma cinza que representa vestido; elementos semicirculares (posicionados no piso dando a ideia que são as bases das divisórias); desses semicírculos saem linhas mais curvas em vertical, no canto superior direito estas linhas curvas 昀椀cam mais evidentes; linhas retas (do piso cinza), formas pretas da mancha ao fundo que remete a uma segunda modelo, dos sapatos que se espelham no piso cinza, que tal completar com estes direcionamentos sua lista? Liste tudo o que você vê. Se formos para os elementos de enunciação (plano de conteúdo), a imagem, em seus elementos expressos pode sugerir algumas coisas: as formas onduladas dão conta de enunciar um conteúdo: nos remetem a 昀氀uido, uma forma que sugere líquido, podendoaté ser pensada como um tecido (trama), como tecnologia têxtil. A formas circulares que sustentam pequenas linhas verticais pode nos remeter galhos (ainda mais quando somadas às linhas curvas do canto superior direito) induzindo, de forma abstrata, a antenas e tramas de galhos. Da mesma forma as linhas retas do piso que mostram uma outra trama (só que está mais organizada, mais métrica), por onde o re昀氀exo dos sapatos sugere um espaço virtual (espelho). E, então, podemos assumir os efeitos de sentido, em que uma modelo (pois a mulher parece estar des昀椀lando) lança um look (seu vestido cinza) num espaço composto por redes e antenas que nos remetem à tecnologia, onde a modelo parece se virtualizar. A imagem dá o sentido de que no contexto tecnológico o tom cinza do vestido parece ganhar espaço. Ao considerarmos ao que foi chamado atenção no enunciado: onde a imagem colorida daria conta de mostrar um vestido azul – a ideia líquida ganha conotação de água. Podemos perceber que a imagem dá conta, pelos seus elementos de expressão e elementos de enunciação sugerem o efeito de sentido que a WGSN – Worth Global Style Network; vem apostando como tendência de cor verão 2021 – que é o Azul Elétrico AI Aqua – inspirada na tecnologia – e por isso 昀椀ca importante ver a imagem real – e perceber que a cor azul compõe a imagem. O legal do exercício é que se lançarmos o olhar novamente à imagem, outros elementos parecem 昀椀car evidentes, reforçando enunciações ou trazendo novas enunciações, e promovendo efeitos de sentidos mais consistentes e novos. Interessante perceber, que cada elemento é portador de signi昀椀cação, e que somados promovem a imagem como portadora também de signi昀椀cação, dando a ela um signi昀椀cando maior – que dá conta de um todo. Perceba o impacto de uma fotogra昀椀a em um des昀椀le – onde o enquadramento, o foco, a luz, a velocidade, podem interferir diretamente no discurso 昀椀nal da coleção e do trabalho de um designer. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 58 Com base na análise, assinale V para verdadeiro e F para falsa cada uma das seguintes sentenças: ( ) Os elementos de expressão são compostos pela estrutura sensível que o objeto em análise nos oferece. ( ) Entende-se como estrutura sensível todos os elementos do objeto que tocam os nossos um ou mais dos nossos cinco sentidos. ( ) A estrutura sensível é formada apenas pelo que é visto – apenas pelo sentido da visão. Desta forma, se estivéssemos assistindo o des昀椀le da imagem analisada, a música não afetaria o efeito de sentido do objeto em análise. ( ) A noção de que para todos elementos de expressão exista uma enunciação é basilar para a noção de efeito de sentido e da ideia de signo. ( ) Não existe relação alguma entre signo e a noção de efeito de sentido. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – F – V – F. b) ( ) V – V – V – V – V. c) ( ) F – F – V – F – V. d) ( ) V – F – V – F – V. 2 Analise a mesma imagem do exercício anterior para completar a tabela ao lado. Você pode se apoiar nos direcionamentos de efeitos de sentido da resposta anterior (昀椀que à vontade de deixar mais dentro do que você respondeu), perceba que ele contribui para o Plano de Conteúdo (e como você conseguia dar a ele uma narrativa). Os elementos que dão conta da narrativa vão precisar ter sentido (no caso de uma imagem fotográ昀椀ca: precisam 昀椀car visíveis – alguns mais evidentes que outros). E aí então, você pode listar quais elementos estão expressos na imagem dando conta do Plano de Expressão. Atenção! Lembre-se de que a imagem foi modi昀椀cada para tons de cinza. Em destaque, apenas vale mencionar que o vestido na imagem seria azul. Em nossa leitura, daremos direcionamentos para esta cor ao mesmo tempo que vamos também ler o tom cinza que se forma no vestido na imagem impressa aqui. FONTE: <https://www.fashionbubbles.com/estilo/a-cor-do-verao-2021-a-i-aqua-aposta-w- gsn/>. Acesso em: 22 set. 2020. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 59 SIGNO Plano de Conteúdo Plano de Expressão Mais do que uma resposta, o exercício aqui é promover a capacidade de transformar ideias (o que foi sua narrativa) em expressões. Em muitos casos, percebemos que nossa capacidade de ideação é impregnada de elementos que são nossos, e isso é muito importante – pois é isso que faz com que seu trabalho, no momento de escolher expressões, sejam únicos – que o trabalho tenha o seu estilo – a sua assinatura. E, então, quando vamos para o campo de expressão, vemos que a imagem poderia ser outra: com outro enquadramento, com outra velocidade, com outros elementos no lugar dos que estão ali expressos. Se você percebeu isso neste exercício, parabéns! A ideia aqui é que você pode ser capaz de fazer uma crítica a um produto (neste caso uma fotogra昀椀a) de algum pro昀椀ssional, pautada em fundamentos lógicos, que tenha sentido. Mais uma coisa: perceba que os outros só vão entender seu posicionamento se haver lógica também para eles, então cuidado para não 昀椀car tendo ideias que só para você tem lógica – pois seu trabalho (sua crítica, se for o caso) tem que pro昀椀ssional para os outros. Um exemplo: a cor cinza que ocupa boa parte da imagem tem lógica, ainda mais se considerada na imagem colorida que seria azul – pois a foto de onde foi tirada está declarando uma tendência de cor – como vimos pela WGSN, o azul é muito usado na área da tecnológica e tem tudo a ver com água, certo? Então, por mais que você não concorde, o peso da cor azul na imagem tem lógica – e ainda mais ostentada pela modelo – a昀椀nal, como tendência, ela remete ao uso como vestimenta. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 60 Com base na análise, assinale V para verdadeiro e F para falsa cada uma das seguintes sentenças: ( ) O plano de expressão dá conta dos elementos formais, cromáticos, imagéticos, que formam a estrutura do objeto. ( ) O plano de expressão seria o signi昀椀cante e o plano de conteúdo se organiza dentro da mesma ideia do signi昀椀cado na semiologia. ( ) O signo tem relação com a capacidade de cada elemento do plano de expressão, ter enunciações no plano de conteúdo. ( ) O signo só vai ocorrer quando o plano de expressão não tiver nenhuma relação com plano de conteúdo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – V– V. b) ( ) V – V – F – F. c) ( ) V – V – V – F. d) ( ) F – V – F – F. 3 A semiótica peirciana direciona que o objeto tem três categorias - ícone, índice e símbolo, analise as sentenças a seguir: I- A primeiridade do objeto está relacionada ao fato de podermos ver representações similares nos signos, ou seja, que uma representação grá昀椀ca será signo se for igual ao objeto que ela representa – o desenho de uma cadeira é um exemplo disso! II- A secundidade do objeto está nas relações indiretas, nos fenômenos que indiciam suas representações. Caso do chão molhado para a chuva, não vemos a chuva, mas pelo chão molhado é provável que choveu. III- A terceiridade do objeto está nas convenções sígnicas. Em grande parte, são arbitrárias. Caso da luz vermelha no semáforo signi昀椀cando pare. IV- Em comparação com a primeiridade, a secundidade dispende mais energia, pois nela que 昀椀camos indo e voltando na busca de a昀椀rmações sobre a representação. Ela não é direta, e por ao indiciarela faz com o que o interpretante enseje particularidades para chegar em algum posicionamento frente ao signo. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Todas as sentenças estão corretas. b) ( ) As sentenças I, II e II estão corretas. c) ( ) Somente a sentença III está correta. d) ( ) Todas as sentenças estão incorretas. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 61 4 Continuando com a mesma imagem dos exercícios anteriores, observe a imagem e aponte três elementos nela, que são: três ícones; três índices; e três símbolos. Atenção: lembre-se novamente de que a imagem foi modi昀椀cada para tons de cinza. Em destaque, apenas vale mencionar que o vestido na imagem seria azul. Em nossa leitura, daremos direcionamentos para esta cor ao mesmo tempo que vamos também ler o tom cinza que se forma no vestido na imagem impressa aqui). FONTE: <https://www.fashionbubbles.com/estilo/a-cor-do-verao-2021-a-i-aqua-aposta- wgsn/>. Acesso em: 22 set. 2020. 5 Um projetista ao ter uma ideia de produto dá forma a essa ideia através de um esboço, esse seria a expressão do conteúdo que a ideia tem. Vemos nessa a昀椀rmação uma explicação rápida do Plano de Expressão e do Plano de Conteúdo que, dicotomicamente, dão conta do signo a partir da corrente saussuriana. Explique com suas palavras o que seria o Plano de Conteúdo e o Plano de Expressão: Ícones Índices Símbolos Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 62 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 63 REFERÊNCIAS BARTHES, R. Sistema da moda. São Paulo: Nacional: USP, 1979. HJELMSLEV. L. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. 2. ed., São Paulo: Perspectiva, 1975. HOHLFELDT, A.; MARTINO, L. C.; FRANÇA, V. V. (Org.). Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. NÖTH, W. Panorama da semiótica de Platão a Peirce. 2. ed. rev. São Paulo: Annablume, 1998. PEIRCE, C. S. Semiótica. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005. SANTAELLA, L. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Edusp, 1990. WALTHER-BENSE, E. A teoria geral dos signos. São Paulo: Perspectiva, 2000. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 64 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 65 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender o que é percepção visual e como se dá a capacidade de representar visualmente ideias e conceitos; • entender, de forma introdutória, a 昀椀siologia e psicologia da visão; • aprender os princípios da Lei da Gestalt – da organização da forma; • conhecer os princípios e as técnicas básicas da composição visual; • identi昀椀car os elementos básicos da composição visual. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PERCEPÇÃO VISUAL – FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO TÓPICO 2 – AS LEIS DA ORGANIZAÇÃO DA FORMA: GESTALT TÓPICO 3 – PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMAD A Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 66 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 67 UNIDADE 2 TÓPICO 1 — PERCEPÇÃO VISUAL – FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO 1 INTRODUÇÃO Para iniciar esta segunda unidade, vale lembrar que o conteúdo de semiótica até aqui trabalhado oportunizou não apenas um entendimento de que se trata de uma ciência que se ocupa do signo e de todo o processo de signi昀椀cação – a semiose; mas que estamos imersos em um cotidiano onde recebemos uma quantidade considerável de textos visuais e não visuais, e aplicamos a eles certa leitura e certa compreensão. A semiótica, indiferente da corrente assumida, ocupa-se do processo de signi昀椀cação destes textos. Dos não visuais, que nos chegam pelo olfato, pelo paladar, pela audição, pelo tato, e dos visuais, que colocam a visão como o principal sentido. E este último (a visão) é o primeiro quando somos indagados sobre o que sentimos de algum fenômeno. A capacidade de perceber visualmente vai além da acuidade visual – do ver bem. Da mesma forma que não basta saber ler, é preciso entender o que se está lendo, a percepção visual trata da capacidade de leitura e da capacidade interpretativa do texto percebido visualmente (e então, o que já tratamos dentro da semiótica, ajuda bastante). Se somos capazes de perceber visualmente e entender o percebido, adquirimos habilidade para construir fenômenos visuais – que serão percebidos visualmente, ou seja, o que faz um bom escritor é a capacidade de leitura e interpretação do que lê. Pro昀椀ssionais da área de projeto precisam de habilidades de um bom escritor (para construir textos visuais) e de um repertório considerável para representar visualmente suas ideias, seus conceitos, seus projetos. Este momento da disciplina vai ao encontro disso: aproximar o aluno das bases do alfabeto visual e as possíveis relações gramaticais, para que se possa dar conta de sensibilizar e instrumentalizar o discente para o uso, intencional, de elementos da linguagem visual – um dos objetivos desta disciplina. Além de desenvolver, somado à semiótica, a capacidade de análise e crítica de textos visuais e projetos de design – em linha com o objetivo geral da disciplina. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 68 2 PERCEPÇÃO VISUAL – FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO Por mais que sentimos o mundo com nossos cinco sentidos, este tópico assume o foco na visão. Tratando de algumas qualidades deste sentido e, de certa forma, contribuindo para aprimorá-la e gerenciá-la. O conteúdo aqui tratado limitar- se-á aos meios visuais, dando ênfase aos exemplos relacionados às artes e ao design. Para que se entenda um objeto destas duas áreas, deve-se dar valor ao todo. O que se vê? Qual é a dinâmica das formas e das cores? Este olhar total pode ser assumido em suas qualidades (em primeiridade das categorias de Peirce). Este olhar inicial ajudará em muito no entendimento das partes, com destreza vai-se percorrendo a estrutura total do objeto, para então reconhecer as principais características e, então, poder explorar com domínio os detalhes interdependentes. Ao analisar um objeto de design, uma obra de arte – perceba- se fazendo isso – inicialmente nos damos conta de um olhar geral – de um todo do objeto – para então percorrer suas partes. Da mesma forma, ao desenvolver um projeto de design ou de arte, o pro昀椀ssional precisa da segurança e da capacidade de transformar suas ideias, seus conceitos em elementos de expressão (aqui é possível assumir o Plano de Conteúdo (ideias – conceitos) com o Plano de Expressão (elementos da composição – as formas, as cores as texturas). Paratanto, é necessário que se tenha entendimento das categorias visuais, dos princípios adjacentes e das relações estruturais em jogo para que se possa, sem intervir na capacidade inovadora, promover a coerência e o re昀椀namento da composição 昀椀nal, formadas por cada parte. Pense no que faz um bom escritor, que tem uma bela história em mente, ele até pode inovar em seu texto, mas precisa ter coerência gramatical e re昀椀namento na escrita para entregar um texto de qualidade. Se um objeto – utilizado para ser percebido visualmente – passar uma mensagem, ele precisa ser objetivo, assim, faz-se necessário que a sua composição tenha legibilidade para todos e por todos da mesma maneira. Se não tiver isso, ele será percebido visualmente, mas não será interpretado da maneira que seu produtor planejou – fracassando em seu maior objetivo: a comunicação. Vale a pena entender aqui que obter sucesso na comunicação faz com que um automóvel seja entendido como tal – um automóvel tem que ser visualmente planejado para que se consiga não apenas denominar-se automóvel, mas declarar suas potências e até mesmo a marca que o construiu. Ao chegarmos perto de um automóvel, salvo exceções mais inovadoras, devemos saber onde estão as portas e como abri-las. Ao nos sentarmos no banco do motorista, o panorama visual que percebemos, deve nos informar onde está o câmbio e onde acionamos a parte elétrica, que quando ligado nos disponibilizará, num painel, uma quantidade de informações nos comunicando sobre as funções dele. Perceba que, por mais que a função principal do automóvel é ser veículo motorizado de transporte, a função comunicativa, determinada pela sua composição visual em grande parte, tem papel de昀椀nidor no sucesso de uso. Isso vale para um controle de televisão, para um telefone celular, para uma mochila, para uma calça. Todos estes objetos funcionam Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — PERCEPÇÃO VISUAL – FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO 69 utilitariamente, mas para isso precisam, através da composição de seus elementos visuais, expressarem como devem ser manuseados. Perceber os designers como pro昀椀ssionais que têm o papel de construtores destes textos é dar ainda mais valor à pro昀椀ssão, que, na maioria das vezes, tem reconhecimento somente em atribuir beleza aos seus produtos – então, além de projetar utilitariamente um produto, o designer tem que fazer com que ele comunique seu manuseio, seus atributos e, ainda, deixá-lo dentro do gosto (do belo) de seu cliente. De fato, projetar com a aptidão é um trabalho que requer algumas habilidades de seu pro昀椀ssional. Nesta linha de pensamento, é preciso considerar que um objeto será percebido de uma maneira, dentro de um determinado contexto. Cada pessoa tem um repertório imagético dentro de si, que faz parte de sua experiência de vida e que se acumulou com o passar do tempo – muitos de forma consciente e outros de forma inconsciente. Algumas distantes (de um passado), outras próximas (mais atuais), e junto a tudo isso as que causaram mais ou menos determinadas emoções. Isso tudo é relevante à medida que o objeto, depois de projetado, deixa de pertencer ao projetista – ele se torna de seu cliente. Quem o projetou não vai mais estar ao lado dele para explicá-lo – o objeto tem que se explicar sozinho, e isso se dá, em grande parte, pelo o que deixa expresso visualmente, pelo o que seus clientes (expectadores) percebem. É neste cenário complexo, que designers precisam saber que elementos – que formas, que cores, que contrastes, que texturas devem ser usadas para comunicar determinadas informações para um determinado per昀椀l de clientela. Se voltarmos ao que já estudamos, uma a昀椀rmação pode ser repetida aqui: “só tem sentido aquilo que é sentido”. Sim! Só tem sentido aquilo que faz sentido. Não há o que questionar quando uma excelente costureira, querendo comprar um belo vestido, nota um na vitrine; entra na loja; pede para ver o vestido e, por 昀椀m, não o compra! Mesmo que o vestido esteja dentro das condições de preço acessíveis para ela. É certo que o motivo da “não aquisição” não faz e nem tem sentido para boa parte das pessoas que entram na loja e o compram. O entendimento de tecido, de acabamento de sua confecção, de sua modelagem, e outros requisitos que compõem o vestido comunicaram à costureira que o objeto não estava adequado aos seus padrões de qualidade. Um consumidor que pouco sabe disso é atraído pela beleza e pelo preço do vestido. Por 昀椀m, acaba comprando-o. Além disso, vai usá-lo com a maior satisfação. Se lhe falarem que a modelagem poderia ser outra, que o corte do tecido deveria estar de outra forma, ele não saberá o que dizer, até porque tudo isso não lhe faz sentido. No seu repertório, esses elementos não lhe dizem nada. Ampliar o repertório alarga possibilidades de contato com as realidades dispostas à nossa frente: percebemos mais, vemos mais! É interessante perceber o quanto vamos ampliando nosso repertório, à medida que investimos um tempo para observar determinada coisa – por exemplo, a textura de alguns tecidos. Um tecido de algodão vai apresentar uma determinada característica quando comparado a uma seda. O couro e suas nuances de toque comparadas com o corino. Tudo o que vemos tem características próprias, da mesma forma que tudo o que queremos comunicar deverá ter características próprias também. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 70 Wassily Kandinsky foi professor de uma das principais escolas do design moderno – a Escola Bauhaus. Sua disciplina tratava da linguagem visual e ele utilizava um exercício que vamos fazer aqui. A seguir teremos dois espaços, cada um com um ponto, tomando como limite cada espaço. O exercício é fazer um traço que inicie no ponto e termine nele, sem tirar o lápis (ou caneta) do papel. O resultado será uma forma linear fechada – procure fugir de desenhos existentes. Faça uma forma livre, ok? No primeiro espaço, a linha deverá representar um relacionamento feliz – um casamento feliz! No segundo espaço, a linha deverá representar um relacionamento conflituoso – um casamento cheio de brigas. Este exercício dá conta do que estamos tratando até aqui. Cada pessoa expressa os seus conteúdos com base em seu repertório, então, não tem um certo ou errado para este exercício, o que precisa ter é: lógica. A ideia do exercício é mostrar como somos levados a manifestar, em linhas, em traços, nas formas situações subjetivas – neste caso, o sentimento é de “casamento feliz” no primeiro espaço; e de “casamento conflituoso” no segundo espaço. A noção de felicidade nos passa uma sensação orgânica, linhas onduladas, mudanças graduais, leveza. Enquanto a noção de conflito nos sugere sensações de contrastes, de ruído, linhas retas, pontiagudas, mudanças repentinas, peso. Interessante perceber aqui, que muito dos conteúdos que vamos expressar estão impregnados do nosso contexto, da nossa cultura, e, por consequência, os traços (as linhas) devem dar conta de expressar da forma como as linhas acima. Pode haver uma possibilidade de aparecerem respostas contrárias, não tem problema. Todavia, a probabilidade de mais pessoas seguirem esta lógica é maior – ainda mais em nossa cultura – que tal você fazer isso com seus amigos? Com seus colegas de trabalho? INTERES SANTE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — PERCEPÇÃO VISUAL – FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO 71 Em um único traço, em uma única linha é possível comunicar. Um ponto interessante aqui é perceber que projetistas,designers, artistas grá昀椀cos devem projetar imagens que, do início, tenham a capacidade de aparecerem nas superfícies que são rabiscadas – parece básico, mas acreditamos que no exercício anterior poucos, ou ninguém, optou em pegar um lápis branco para desenhar as linhas. Intuitivamente, a escolha foi de um gra昀椀te, de uma tinta, que contrastasse com o fundo. A intuição aqui nos faz tratar de um assunto muito importante: dada nossa cultura e o quanto estamos imersos num mundo visual, muitas das coisas ocorrem por intuição. E nesta disciplina muito do que é intuitivo deverá ser pensado intencionalmente. Volte ao exercício anterior e perceba com que cor você fez a linha. Se houvesse a possibilidade de escolher uma cor para dar ainda mais expressão à linha, você mudaria a cor da sua linha? Certamente, teria que escolher uma cor para a linha do espaço 1 diferente da cor para a linha do espaço 2. Perceba que você deve ter realizado o exercício de forma intuitiva – optando por uma cor do lápis ou caneta que se destacasse frente ao fundo – mas, se além disso você conscientemente quisesse optar por uma cor que também expressasse – teria uma ação intencional sobre a superfície. Este pequeno exemplo ilustra esta mudança de atitude que, como projetista, em seus projetos deverá assumir. IMPORTA NTE Este pensar intencional dentro dos processos de percepção visual 昀椀ca evidente quando entendemos que percebemos visualmente tudo o que nossos olhos conseguem ver. Dos fenômenos do mundo (caso das nuvens no céu, uma árvore) até as intervenções humanas (caso de uma linha no papel, de um projeto, de um cartaz, de um edifício). Fenômenos que comunicam mensagens de acordo com os contextos onde estão inseridos, e que “entre todas essas mensagens que passam através dos nossos olhos é possível fazer, pelo menos; duas distinções: [...] pode ser casual ou intencional” (MUNARI, 1997, p. 65). Como casual estão os fenômenos visuais que ocorrem sem que tenham interesses de comunicar algo – claro que uma nuvem no céu pode ser interpretada como um evento climático, mas a princípio ela não se fez intencionalmente para passar tal mensagem. Ao contrário de uma fumaça no céu criada por alguém, que perdido em uma 昀氀oresta, consegue fazer fogo e produzir fumaça para que seja encontrado. A casualidade de um fenômeno visual dá liberdade de interpretações para quem a recebe. Ao contrário, o fenômeno intencional deve ser recebido de maneira que seja entendido o seu signi昀椀cado – e, aqui, vemos que para quem está perdido em uma 昀氀oresta, só fazer fumaça pode não dizer muito de sua condição, a昀椀nal, pessoas que a visualizam podem interpretar como uma queimada. Será preciso que o produtor module a fumaça – talvez com algumas folhas – criando fumaças maiores e menores – que quando vistas de longe pode indiciar que alguém a está manipulando e, então, passar a ser coerente interpretar que alguém causa a fumaça. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 72 3 FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO No processo de comunicação que estamos tratando, é possível compreender como emissor de uma mensagem visual todo e qualquer fenômeno visual – casual ou intencional. E para quem o percebe podemos chamar de receptor. Ao perceber a mensagem visual é interessante considerar que o receptor terá três 昀椀ltros: sensorial; cultural e operativo, como mostra a 昀椀gura: FIGURA 1 – OS FILTROS DO RECEPTOR AO RECEBER A MENSAGEM VISUAL FONTE: Adaptado de Munari (1997, p. 70) Emissor Receptor Filtros operacionais Filtros culturais Filtros sensoriais Mensagens Visuais Qualquer fenômeno visual Estes três 昀椀ltros, por mais que na ilustração se mostrem distintos, não os são. E nem seguem a ordem ilustrada. O que é necessário entender é que, ao receber uma mensagem visual, esta deverá passar pelo 昀椀ltro sensorial – a mensagem deverá ser sentida – caso da cor, que para um daltônico este 昀椀ltro limitará o sentir determinadas cores, ou se conter elementos muito pequenos pode não ser captada pelo olho humano. Outro 昀椀ltro é o cultural, que pode apenas deixar passar mensagens que compõem seu repertório cultural, ou seja, o receptor só reconhecerá a mensagem por fazer parte de sua cultura – caso de estilos de moda; onde ao ver uma pessoa com um look que não faz parte de sua cultura, o receptor pode a昀椀rmar que a pessoa vista está fora de moda – malvestida, que tem mal gosto. E um outro 昀椀ltro, o operacional, onde a mensagem recebida é confrontada pelas condicionantes psico昀椀siológicas (MUNARI, 1997), que constituem o per昀椀l do receptor – caso de uma cena de um desenho animado onde uma criança interpreta de uma maneira (mais infantilizada) e a mesma cena ganha conotações políticas para um adulto. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — PERCEPÇÃO VISUAL – FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO 73 É importante entender a existência destes 昀椀ltros para, como produtor de mensagens visuais considerar cada um deles. Ao desenvolver um projeto de um produto – caso de uma jaqueta, por exemplo, é importante assumir que este objeto, além de um produto que será utilizado como vestuário será suporte visual de uma marca, de um estilo e claro de uma mensagem que deverá comunicar que se trata de uma jaqueta. Como suporte visual, entende-se o: conjunto de elementos que tornam visível a mensagem, todas aquelas partes que devem ser consideradas e aprofundadas para poderem ser utilizadas com a máxima coerência em relação à informação. São elas: Textura, Forma, Estrutura, Módulo, Movimento. Não é simples, e talvez nem seja possível, estabelecer uma fronteira exata entre as partes enunciadas, até porque elas se apresentam muitas vezes, todas juntas (MUNARI, 1997, p. 69). O reconhecimento dos 昀椀ltros sensoriais, culturais e operacionais apresentados destacam o ser humano como 昀椀gura central, dentro da noção de receptor de mensagens visuais. Colocando em questão a capacidade de receber o estímulo visual como ponto crucial para, pelo menos, permitir um fundamento básico para pro昀椀ssionais que, em seus projetos, precisam dar conta disso – caso dos designers. Desta forma, uma aproximação sobre a visão como processo 昀椀siológico por onde se distinguem formas e cores é relevante. A medida que na percepção visual o “olho” é o principal órgão. Ao tratarmos da fisiologia da visão, é importante compreender a complexidade de tal abordagem e que aqui se buscará uma abordagem básica, permitindo fundamentos introdutórios acerca de tal conteúdo. NOTA A noção física de que vemos os objetos a partir dos raios luminosos que eles re昀氀etem é fundamento para compreender que o globo ocular (o olho) é o órgão que recebe estes raios do exterior e os transformam em informação elétrica, que é enviada ao cérebro, que se transformará em uma imagem do objeto que se está vendo. De forma geral, o processo básico da percepção visual humana se dá no fato da luz atingir o globo ocular (o olho), ela passa pela córnea, tocando a íris que permite sua passagem pela pupila (abertura que dilata ou comprime, regulando a quantidade de luz), a luz então chega ao cristalino, e é focada sobre a retina – camada 昀椀na de tecido nervoso sensível à luz, sua função é transformar a luz em estímulo nervoso, é nela que a energia luminosa é convertida eletroquimicamente em padrões nos neurônios e que são codi昀椀cados pelo Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 2 — PERCEPÇÃOVISUAL 74 sistema nervoso cerebral (STERNBERG, 2010). Na retina existe um ponto focal – a fóvea, que dá conta das de昀椀nições focais da imagem ali projetada, todo o resto da retina dá conta do que está ao redor do objeto visto. Se retornarmos aos 昀椀ltros, vemos aqui que os sensoriais – se dão mais no campo do olho e os outros dois já estariam mais na padronização neural e codi昀椀cação cerebral. FIGURA 2 – O GLOBO OCULAR FONTE: <http://especialistaemcatarata.com.br/_novo/wp-content/uploads/2016/12/como- enxergamos.jpg>. Acesso em: 27 ago. 2020. A camada 昀椀na de tecido que forma a retina apresenta uma diversidade celular, duas delas, em especial, merecem destaque neste momento: as cônicas e as bastonetes. As primeiras são especializadas pela agudeza da visão e pelas cores. As segundas são sensíveis apenas à intensidade, não têm a mesma capacidade de resolução de detalhes e não sentem as cores, mas dão de possibilitar que enxerguemos com pouca luz. Reconhecer objetos é questão primeira na capacidade de percepção visual, neste processo são mais percebidas as composições mais bem organizadas, mais simples e estáveis – isso se dá pela lei de Prägnanz – que a teoria da Gestalt analisa. A Teoria da Gestalt é muito importante para profissionais do design, da comunicação. Ela trata da percepção e da sensação do movimento, dos processos psicológicos que ocorrem com o sujeito diante de um estímulo, e estuda como este estímulo é percebido. Vamos tratar mais à frente da teoria da Gestalt. ESTUDOS FUTUR OS Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — PERCEPÇÃO VISUAL – FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO 75 O sistema ocular tem papel importante em todo este processo, pois além de levar os estímulos luminosos (os objetos) para a retina e convertê-los em impulsos padrões, para o sistema nervoso, ele é composto por uma estrutura que dá conta de distinguir 昀椀gura e fundo, onde a 昀椀gura (o objeto focado) vai ter uma forma mais bem de昀椀nida, em oposição ao fundo. Como a昀椀rma Jonathan Crary (1999, p. 72): “A percepção visual, por exemplo, é inseparável do movimento muscular do olho e do esforço físico envolvido na busca de foco em um objeto”. A noção de que a luz é a matéria-prima da visão é tão importante que os mecanismos de captação de luz para a reprodução da imagem têm como base esta mesma noção. O entendimento da máquina fotográfica é similar ao mecanismo ocular humano, e entender o papel da luz é muito relevante. Leia o artigo “Fotografia: a escrita da luz” de Angélica Lüersen, que poderá ajudar neste entendimento. Confira em: http://www. intercom.org.br/papers/regionais/sul2007/resumos/R0520-1.pdf. DICAS Perceber visualmente é um processo que ocorre em etapas sucessivas a partir do momento que a luz re昀氀etida por um objeto chega aos nossos olhos. Com relação à intensidade de luz, de acordo com a luminosidade, a visão pode ser fotópica – modo “normal”, quando os objetos estão iluminados pela luz do dia – aciona basicamente as células cônicas, tendo sua acuidade acentuada. E a visão pode ser estocópica – visão noturna. Onde as células bastonetes são ativadas, permitindo uma percepção sem cores e de fraca acuidade visual. Com relação ao comprimento de onda luminosa, a visão se dá na percepção das cores do espectro luminoso (o arco-íris), em que a cor varia de acordo com o comprimento de onda. Na 昀椀gura a seguir, nós vamos perceber que das ondas existentes, algumas conseguem ser captadas pelo olho humano, estas compõem o espectro eletromagnético visível pelo ser humano. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 76 FIGURA 3 – ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO VISÍVEL AO OLHO HUMANO FONTE: <https://s4.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/06/espectro-visivel.jpg>. Acesso em: 27 ago. 2020. vermelho laranja amarelo verde ciano azul violeta Com os maiores comprimentos de onda, as ondas de rádio, as micro-ondas e o infravermelho ultrapassam o limite máximo possível para ser captado pelo olho humano, que então em forma decrescente tem seu espectro visível composto pelo: vermelho, laranja, amarelo, verde, ciano, azul e violeta. Abaixo do comprimento do violeta os comprimentos, não mais visíveis pelo ser humano, são: o ultravioleta, o raio X e os raios gamas. Vale lembrar que, por mais que não visualizamos todos estes comprimentos de onda nos atingem e podem causar danos ao nosso corpo – caso dos raios ultravioletas UV-A e UV-B que causam queimaduras. Por muito tempo se pensou no olho humano como um órgão que captava e transmitia informações sem processá-las. Atualmente, é sabido que as informações trafegam sem interrupções da retina ao sistema nervoso, e um vai interferido no outro. Quantas vezes, focados em um problema, não percebemos coisas no nosso campo de visão? De fato, as expectativas do espectador in昀氀uenciam o processo de percepção dele. Por mais que seja o olho que capte a luz é o cérebro, a partir das informações que chegam à retina, que “enxerga”. Tratamos até aqui da 昀椀siologia da visão – do mecanismo que faz o olho “ver”, mas é muito importante discutir a capacidade de “enxergar” que é o cérebro, ou melhor, da capacidade cerebral de assumir os olhos como um dos órgãos para o processo de percepção visual. A Grosso modo e, dentro de um signi昀椀cado mais geral, popular, 昀椀losó昀椀co e de senso comum, o “ver” remete à percepção e o conhecimento do ambiente através do sentido da visão. Já o “enxergar”, remete a um sentido mais profundo que ultrapassa a limitação 昀椀siológica do sentido da visão. Alguém pode ver em um museu uma pintura surrealista e não entender o seu conteúdo, porém alguém com senso ou dotes artísticos, ao observar a mesma obra, enxergará além de sua visão comum o conteúdo da pintura (COSTA et al., 2015, p. 5). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — PERCEPÇÃO VISUAL – FISIOLOGIA E PSICOLOGIA DA VISÃO 77 Se retornarmos ao exemplo da costureira que não adquiriu o vestido anteriormente, vemos que ela “enxergou” coisas na peça que outros consumidores não enxergaram. Se voltarmos aos 昀椀ltros, ilustrados na Figura 2, podemos constatar que o processo de receber uma mensagem tem mais sentido no “enxergar”, onde além de “ver” (昀椀ltro sensorial) se somam o repertório cultural e operacional (com seus respectivos 昀椀ltros). Esta discussão do “ver” e “enxergar” é muito interessante. Uma obra muito pertinente é a obra “Ensaio sobre a Cegueira”, romance do escritor português José Saramago, publicado em 1995, que tem o filme de 2008, sob a direção de Fernando Meirelles. DICAS Entender que existem diferenças conceituais entre o “ver” e o “enxergar” provoca uma re昀氀exão importante para que se possa entender as nuances da percepção visual. Principalmente pelo fato de que toda nossa atenção visual 昀椀ca condicionada aos nossos interesses, aos fatos que movem nossos olhos pelas coisas. Quantas vezes deixamos de ver coisas porque, naquele momento, elas não faziam parte de nossos interesses. Diferente da lente de nossa máquina fotográ昀椀ca, nossos olhos, por mais que recebam todas as imagens externas, dará, por intermédio do cérebro, um recorte, deixando em primeiro plano o que tem a ver com nossos interesses. Um exemplo interessante para isso – e aí vale para qualquer outro sentido – é pensar em um problema de projeto: surge uma demanda para desenvolver roupas para mulheres grávidas, perceba que a partir deste momento, não importa onde você vá, você parece ver mulheres grávidas. Sem o problema de projeto, muitas delas, mesmo estando em seu campo de visão, não seriam percebidas – você não as veria. Trazendopara o campo das artes, muitos quadros de artistas famosos brincam com o duplo sentido em suas obras. Elas provocam o nosso olhar e o que percebemos visualmente. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 78 FIGURA 4 – PINTURA DE DUPLO SENTIDO DE VLADIMIR KUSH FONTE: <https://2.bp.blogspot.com/-oM_04u4aq9Y/UH_wUHCQohI/AAAAAAACF0Q/ uwzvCZYt2TQ/s1600/Vladimir+Kush+1965+-+Russian++Surrealist+painter+-+Tutt'Art@.jpg>. Acesso em: 27 ago. 2020. Por mais que esteja em tons de cinza, a obra do surrealista russo Vladimir Kush brinca com o “ver” e “enxergar”, ilustrando as possibilidades que nosso repertório impõe à maneira como olhamos para as coisas. De fato, “ver” e “enxergar” são ações diferentes, se no primeiro olhar vemos a representação de um rosto (enxergamos um rosto), é somente quando nos permitimos “ver” os detalhes que nos damos conta que não se trata de um rosto, mas de uma composição de elementos que nos induzem a enxergar outra coisa. Esta capacidade de perceber o todo em decorrência das partes é base para uma das principais teorias do design – a Gestalt. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 79 Neste tópico, você aprendeu que: • Para percebermos visualmente um objeto, é necessário um olhar geral dele. • É preciso considerar que um objeto será percebido de uma maneira, dentro de um determinado contexto. Cada pessoa tem um repertório imagético dentro de si, que faz parte de sua experiência de vida e que se acumulou – muitas de forma conscientes e outras inconscientes. • Existem fenômenos visuais casuais e intencionais. • Ao recebermos uma mensagem visual, ela entra em contato com três 昀椀ltros: sensorial; cultural e operativo. • Somos capazes de perceber apenas alguns comprimentos de onde de luz, que vão do vermelho até o violeta. • Existem diferenças conceituais entre o “ver” e o “enxergar”. RESUMO DO TÓPICO 1 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 80 1 A abordagem inicial que permitimos dar aos fenômenos quali昀椀cará o diagnóstico da situação que estamos analisando. O olhar inicial, ajuda muito no entendimento das partes, com destreza vai-se percorrendo a estrutura total do objeto, para reconhecer as principais características e então poder explorar com domínio os detalhes interdependentes. A partir da leitura deste texto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- Ao analisar um objeto de design, uma obra de arte, uma situação de projeto é importante assumir essa abordagem indo do todo para as partes e das partes para o todo. PORQUE II- Nesse ir e vir, vamos descobrindo as categorias visuais, os princípios adjacentes e as relações estruturais em jogo para poder promover a coerência e o re昀椀namento da leitura visual. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justi昀椀cativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justi昀椀cativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. 2 Vale a pena entender que para obter sucesso na comunicação, um automóvel deve ser entendido como tal. Tem que ser visualmente planejado para que se consiga não apenas dizer-se automóvel, mas declarar suas potências e até mesmo a marca que o construiu. Ao chegarmos perto de um automóvel, salvo exceções mais inovadoras, devemos saber onde estão as portas e como abri-las. Ao nos sentarmos no banco do motorista, o panorama visual que percebemos, deve nos informar onde está o câmbio e onde acionamos a parte elétrica, que quando ligado nos disponibilizará, num painel, uma quantidade de informações nos comunicando sobre as funções dele. Perceba que, por mais que a função principal do automóvel é ser veículo motorizado de transporte, a função comunicativa, determinada pela sua composição visual, em grande parte, tem papel de昀椀nidor no sucesso de uso. A partir da leitura desse texto avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: AUTOATIVIDADE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 81 I- Se um objeto, utilizado para ser percebido visualmente e passar uma mensagem, precisa ter objetividade, faz-se necessário que sua composição tenha legibilidade para todos e por todos da mesma maneira. PORQUE II- Indiferente disso, ele será percebido visualmente, e será interpretado, seguramente, da maneira que seu produtor planejou – alcançando o objetivo de comunicar. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justi昀椀cativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justi昀椀cativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. 3 De forma bem geral, o processo básico da percepção visual humana se dá no fato da luz atingir o globo ocular (o olho), ela passa pela córnea, tocando a íris que permite sua passagem pela pupila (abertura que dilata ou comprime regulando a quantidade de luz), a luz então chega ao cristalino, e é focada sobre a retina – camada 昀椀na de tecido nervoso sensível à luz, sua função é transformar a luz em estímulo nervoso, é nela que a energia luminosa é convertida eletroquimicamente em padrões nos neurônios e que são codi昀椀cados pelo sistema nervoso cerebral (STERNBERG, 2010). A camada 昀椀na de tecido que forma a retina apresenta uma diversidade celular, duas delas em especial merecem destaque neste momento: as cônicas e as bastonetes. As primeiras são especializadas pela agudeza da visão e pelas cores. E as segundas são sensíveis apenas à intensidade, não tem a mesma capacidade de resolução de detalhes e não sentem as cores, mas dão de possibilitar que enxerguemos com pouca luz. A partir da leitura desse texto avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: FONTE: Adaptado de STERNBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. São Paulo: CENGAGE Learning, 2010. Assinale a alternativa CORRETA: Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 82 I- Com relação à intensidade de luz, de acordo com a luminosidade, a visão pode ser fotópica – modo “normal”, quando os objetos estão iluminados pela luz do dia – aciona basicamente as células cônicas, tendo sua acuidade acentuada. PORQUE II- Durante a visão noturna – a visão pode ser estocópica. Onde as células bastonetes são ativadas, permitindo uma percepção sem cores e de fraca acuidade visual. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. b) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. c) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II complementa corretamente da I. d) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não complementa a I. 4 “[...] entre todas essas mensagens que passam através dos nossos olhos é possível fazer, pelo menos; duas distinções: [...] pode sercasual ou intencional” (MUNARI, 1997, p. 65). A partir da leitura desse texto, explique o que mensagem casual e mensagem intencional, exempli昀椀cando cada uma delas. FONTE: Adaptado de MUNARI, B. Design e comunicação visual: contribuição para uma metodologia didática. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 5 No processo de comunicação, é possível compreender como emissor de uma mensagem visual todo e qualquer fenômeno visual. E, para quem o percebe, podemos chamar de receptor. Neste processo de transmitir e receber uma mensagem visual, é interessante considerar três 昀椀ltros: sensorial; cultural e operativo (MUNARI, 1997). A partir da leitura desse texto explique cada um dos 昀椀ltros. FONTE: Adaptado de MUNARI, B. Design e comunicação visual: contribuição para uma metodologia didática. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 83 UNIDADE 2 TÓPICO 2 — AS LEIS DA ORGANIZAÇÃO DA FORMA: GESTALT 1 INTRODUÇÃO Iniciamos o segundo tópico desta unidade. Nela aprenderemos os princípios que regem a Gestalt, entendendo o que faz um objeto alcançar a boa forma, ou seja, ter a capacidade de se mostrar legível e com alto grau de pregnância. Na percepção visual, quando inseridos no lado do produtor da mensagem, precisamos assumir uma postura de comunicador, organizando e desenvolvendo o objeto (imagem, mensagem) de maneira que seja de fácil compreensão, entendimento e memorização. Do outro lado, como receptores (leitores) apreciamos a boa composição, e valorizamos as experiências que, uma vez memorizadas, podem facilmente ser lembradas. No cenário diversi昀椀cado de mensagens visuais, a capacidade de atrair a atenção e promover a facilidade em ser lembrado se tornam requisitos dos projetos de pro昀椀ssionais como designers, publicitários, entre outros. A as leis ou princípios da Gestalt apresentam parâmetros seguros para o bom desenvolvimento dos projetos nessas áreas. 2 AS LEIS DA GESTALT Nos processos de leitura ou produção de objetos que devem ser percebidos visualmente, tanto a experiência quanto o comportamento de “ver” e “enxergar” são importantes. A Gestalt é uma escola de psicologia experimental. Considera-se que Christian von Ehrenfels, 昀椀lósofo austríaco de 昀椀ns do século XIX, foi o precursor da psicologia da Gestalt. Mais tarde, por volta de 1910, teve seu início mais efetivo por meio de três nomes principais: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Kohler (1887-1967) e Kurt Ko昀턀a (1886-1941), da Universidade de Frankfurt (GOMES FILHO, 2008, p. 18). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 84 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL Atua principalmente na forma e tem grande relevância nos estudos de percepção, linguagem, conduta e dinâmica de grupos sociais, dando conta de sugerir respostas ao porquê gostamos mais de uma coisa do que de outra. Em um sentido mais geral, o termo Gestalt “signi昀椀ca uma interação de parte em oposição à soma do todo” (GOMES FILHO, 2008, p. 18). Está relacionada com forma, 昀椀gura e estrutura que tem, como já mencionado na lei de Prägnanz – lei da pregnância; uma postura norteadora à medida que seus principais expoentes forneceram direcionamentos sobre os princípios organizacionais que devem ser aplicados na percepção do mundo. Quando saímos de um lugar que tinha muita fumaça e ficamos com o cheiro dela em nossas roupas, falamos que ficamos “impregnados de fumaça”. Esta mesma noção vale aqui para a lei de Prägnanz, que nos processos de comunicação e percepção de mundo, nos direciona a maneira que devemos seguir para fazer com que o objeto desenvolvido fique “impregnado” na pessoa, ou seja, o objeto é tão bem organizado que quando alguém o vê (entra em contato com ele) fica impregnado dele – consegue lembrar dele. Isso foi tão intenso no design, que na segunda metade do século XX se criou o conceito da “boa forma”, que tem tudo a ver com esta lei e com a Gestalt. Se você algum dia já ouviu, ou usou a premissa: “menos é mais”, ela está em linha com o que estamos estudando aqui! INTERES SANTE A Lei da Prägnanz é de昀椀nida da seguinte forma: “As forças de organização da forma tendem a se dirigir tanto quanto o permitam as condições dadas, no sentido da harmonia e do equilíbrio visual. Qualquer padrão de estímulo tende a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto o permitam as condições dadas” (GOMES FILHO, 2008, p. 36). A ideia aqui é que quanto mais simples, mais equilibrado, homogêneo e regular for o objeto, mais pregnante ele será. A descomplicação visual potencializa o objeto dentro desta lei. Na 昀椀gura a seguir, nós vemos alguns exemplos da Lei da Prägnanz, onde na sequência de cima para baixo o nível de pregnância vai diminuindo. O termo é o mesmo, mas os primeiros facilitam a leitura, dada a composição visual de suas tipogra昀椀as. Imagine você lendo um texto com a última letra? O esforço solicitado deixaria a leitura cansativa. Por isso, ao produzir um texto é estratégico escolher fontes mais pregnantes. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — AS LEIS DA ORGANIZAÇÃO DA FORMA: GESTALT 85 FIGURA 5 – EXEMPLO DA PREGNÂNCIA NA TIPOGRAFIA FONTE: Adaptada de Gomes Filho (2008) Esta legibilidade, exempli昀椀cada na 昀椀gura anterior também vai aparecer nas composições, contrastes entre 昀椀gura e fundo precisam ser considerados nas composições, vamos pegar o termo mais pregnante e ver como ele perde a pregnância em decorrência do seu contraste com o fundo. FIGURA 6 – EXEMPLO DA PREGNÂNCIA FIGURA E FUNDO FONTE: Adaptada de Gomes Filho (2008) Além de promover a facilidade de legibilidade, a pregnância trata do sentido psicológico da organização formal do objeto, à medida que ele tenha a melhor estrutura, a melhor composição. Para tanto alguns critérios são apontados por Gomes Filho (2008, p. 37): 1. Quanto melhor ou mais clara for a organização visual da forma do objeto, em termos de facilidade de compreensão e rapidez de leitura ou interpretação, maior será seu o seu grau de pregnância. 2. Naturalmente, quanto pior ou mais complicada e confusa for a organização visual da forma do objeto menor será o seu grau de pregnância. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 86 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL Um passeio pela cidade, ou pelo shopping pode possibilitar um belo exercício deste conteúdo. Você pode organizar uma escala de julgamento para o nível de pregnância – estabelecendo um grau onde 1 o objeto tem péssima pregnância e 10 se ele tem alto nível de pregnância. O site “Fashionismo”, em agosto de 2010, publicou a matéria “O poder de uma vitrine”, que trata de quanto uma vitrine comunica e convida o consumidor a entrar no estabelecimento. FONTE: <https://www.fashionismo.com.br/2010/08/o-poder-de-uma-vitrine/>. Acesso em: 27 ago. 2020. É apenas para ilustrar este exercício que você pode fazer: Analisando estas duas imagens, qual pontuação cada uma ganharia? O legal é ter fotografias das vitrines que você pontuou para depois analisar e identificar que elementos contribuíram para o julgamento de cada uma. No caso destas duas vitrines, percebe-se que as duas têm baixo grau de pregnância. Na comparação entre estas duas, observa-se que a segunda terá um grau de julgamento, quanto à pregnância, maior – em função de estar composta por elementos similares (papéis que remetem a cédulas) que contribuem para a harmonização, facilitando o percurso do olhar (do centroda vitrine para baixo onde se concentram). Em contraposição, a primeira vitrine apresenta elementos circulares em sua composição, mas além de formas diferentes (bolas e cilíndricas) se localizam por toda a vitrine, fazendo com que o percurso do olhar seja bem maior que na segunda vitrine. Além do percurso do olhar, a diversidade de elementos que compõe a primeira e relação à segunda compromete seu julgamento do grau de pregnância. INTERES SANTE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — AS LEIS DA ORGANIZAÇÃO DA FORMA: GESTALT 87 A legibilidade de um objeto, dentro da noção de percepção visual, tem na Lei da Prägnanz um guia para a efetividade de sua compreensão analítica acerca da sua totalidade. Tratando-se de um juízo que se faz da organização visual do objeto, considerando suas partes e os graus psicológicos que aferimos nas avaliações, nos exemplos e exercícios que propomos não avaliamos as partes isoladas, as suas relações com o todo de suas composições. A Gestalt entende que o que acontece no olho humano é diferente com o que acontece no cérebro, e que a percepção é da junção destes dois momentos, é do todo, é uni昀椀cada. Não percebemos formas isoladas, vamos perceber sempre relações, onde uma parte depende da outra. Na 昀椀gura a seguir vemos um exemplo disso, por mais que pareçam diferentes, os dois círculos centrais têm o mesmo tamanho. FIGURA 7 – ILUSÃO DE ÓTICA FONTE: Adaptado de Gomes Filho (2008) A ilusão de ótica acima declara visualmente o postulado gestaltiano onde todo e qualquer processo consciente, toda a forma percebida está relacionada às forças que integram o processo 昀椀siológico cerebral. “A hipótese da Gestalt, para explicar a origem dessas forças integradoras, é atribuir ao sistema nervoso central um dinamismo autorregulador que, à procura de sua própria estabilidade, tende a organizar as formas em todos coerentes e uni昀椀cados” (GOMES FILHO, 2008, p. 19). Esta capacidade autorreguladora por mais espontânea que seja, parece seguir alguns princípios básicos, chamadas forças de organização ou de lei de organização da forma perceptual. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 88 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL O princípio inicial se dá no fato de que as formas visuais precisam estar segregadas (desiguais) ou uni昀椀cadas (similares). E para que possam formar unidades faz-se necessário o contraste entre as partes (descontinuidade dos estímulos), ou a conformidade (estímulos homogêneos, sem contraste). Um exemplo é a diferença de estimulação que os pontos pretos da 昀椀gura anterior explicitam em contraste com o fundo branco. Fica evidente que à medida que vamos escurecendo o fundo, vamos diminuindo a percepção das formas circulares (veja isto acontecendo na Figura 27). São as relações de segregação e uni昀椀cação que dão conta da formação de unidades como pontos, linhas, formas, manchas. 3 PRINCÍPIOS DA COMPOSIÇÃO DA GESTALT A lei de organização da forma perceptual também é conhecida por Lei da Gestalt, que apresenta uma espécie de alfabeto básico para a leitura e produção de textos visuais. Ao analisar um objeto os princípios apresentados a seguir favorecem a articulação analítica e interpretativa do objeto. Os princípios são: Unidade, Segregação, Uni昀椀cação, Fechamento, Continuidade, Proximidade, Semelhança, que levam a uma postura frente a pregnância do objeto. Este último, regulado pela Lei da Prägnanz. 3.1 UNIDADE Identi昀椀cada em um único elemento: a forma, encerra-se em si mesma. Pode ter um ou mais elementos que con昀椀guram um todo único. A unidade pode ser percebida pelas relações de similaridade destas partes, pode haver unidade formal, dimensional, cromática. Se houver mais de uma unidade em um objeto, é interessante eleger as unidades principais, desde que permitam a leitura do objeto como um todo. FIGURA 8 – UNIDADE VISUAL – TRÊS LISTRAS DA MARCA ADIDAS FONTE: <https://www.flaticon.com/svg/static/icons/svg/731/731962.svg>. Acesso em: 27 ago. 2020. As três barras que compõem a marca da Adidas mostram um bom exemplo para a unidade. É formada pela mesma faixa retangular cortada em tamanho diferente e organizada paralelamente. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — AS LEIS DA ORGANIZAÇÃO DA FORMA: GESTALT 89 3.2 SEGREGAÇÃO A capacidade de separar dando destaque ao que está se separando, pode ajudar na noção deste princípio. A capacidade de evidenciar, notar, destacar unidades de uma composição pode ser um recurso realizado através de cores, formas, dimensões, posicionamentos. Somos capazes de diferenciar e evidenciar objetos, mesmo que sobrepostos. E isso vai depender do padrão estético (forma, cor, dimensão, entre outros) tem em comparação ao outro. No design, trabalhar com elementos contrastantes podem ajudar neste princípio, havendo ainda a possibilidade de organizar por hierarquia a segregação, dando maior peso a um conjunto de elementos do que outros. FIGURA 9 – SEGREGAÇÃO NA MARCA DO CARREFOUR FONTE: Adaptado de <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5b/Carrefour_logo.svg>. Acesso em: 27 ago. 2020. Uma 昀氀or tem unidade visual à medida que composta por unidades similares, que formam um conjunto de pétalas que são unidades particulares, mas que juntas dão conta do todo de uma 昀氀or. A noção de unidade deve considerar os elementos similares que organizem partes que promovem uma composição única de um todo. Por exemplo, no desenvolvimento de moda, a cartela da cor ajuda a garantir unidade para cada peça e para toda uma coleção. Na 昀椀gura anterior, vemos duas versões da marca do Carrefour. As duas mostram a segregação com seus fundos – o contraste dos tons de cinza escuros destaca as marcas do fundo branco – tal destaque faz com que os elementos ganhem destaque. Na marca da esquerda temos ainda a evidência de dois elementos diferentes pelos tons de cinza (na marca colorida o elemento em cinza claro é vermelho e outro elemento – cinza mais escuro – é azul – nesta composição – a segregação sugere formas que apontam para lados opostos. Já a marca da direita remete ao princípio da unidade, pois os dois elementos têm o mesmo tom de cinza escuro e por unidade sugerem uma mesma forma – um losango que tem um “C”, de Carrefour, cortando-o. Aqui, vemos como pode ser inteligente saber compor formas com base nos princípios da Gestalt. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 90 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 3.3 PROXIMIDADE Ao aproximarmos elementos uns dos outros, oferecemos ao leitor a possibilidade de vê-los juntos, constituindo unidade de um todo, ou um todo por si só. Se você olhar esta página, verá que as letras mais próximas sugerem palavras e que a cada espaço maior entre elas, uma nova palavra aparece – no conjunto das palavras temos os parágrafos. Entretanto, vamos nos apoiar nas duas marcas que usamos nos princípios anteriores: FIGURA 10 – PROXIMIDADE – ELEMENTOS SEPARADOS DAS MARCAS ADIDAS E CARREFOUR FONTE: O autor Os elementos que dão unidade a cada uma das marcas, quando distanciados não sugerem o que precisam comunicar. A aproximação de cada um permite a visualização de um todo capaz de dizer da Adidas e dizer de Carrefour. 3.4 SEMELHANÇA Semelhança e proximidade parecem uma agir sobre a outra. E ambas têm forte relação com a unidade. Elementos semelhantes facilitam o estabelecimentode agrupamentos. E condições iguais, os estímulos mais semelhantes entre si, seja por forma, cor, tamanho, peso, direção e localização, terão maior tendência a ser agrupados, a constituir parte ou unidades. Em condições iguais, os estímulos originados por semelhança e em maior proximidade terão também maior tendência a serem agrupados, a constituírem unidades (GOMES FILHO, 2008, p. 35). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — AS LEIS DA ORGANIZAÇÃO DA FORMA: GESTALT 91 FIGURA 11 – SEMELHANÇA DOS ELEMENTOS DAS MARCAS ADIDAS E CARREFOUR FONTE: O autor Vemos na parte superior da 昀椀gura que as formas e cores similares atraem o olho para que se atribua unidade, o que mais circular segrega as formas mais retas, da mesma forma que o tom cinza mais claro segrega o mais escuro. As semelhanças das formas e cores permitem que possamos pensá-las como unidades e quando aproximadas oportunizam as imagens das marcas citadas. Conhecida também como similaridade, a semelhança é considerada a lei mais óbvia, à medida que agrupamos quase que intuitivamente objetos similares. É o que fazemos na segunda vitrine do exercício anterior, com as cédulas. 3.5 UNIFICAÇÃO Tanto a proximidade quanto a semelhança concorrem fortemente para a uni昀椀cação, que consiste na semelhança dos elementos apresentado na composição visual. A uni昀椀cação é veri昀椀cada quando um objeto apresenta harmonia, equilíbrio e coerência visual. Numa composição, podemos ter níveis de uni昀椀cação. Havendo composições mais uni昀椀cadas e outra nem tanto. Dependendo do caso, é possível atribuir valores de qualidade para uma determinada leitura. Analisaremos o exemplo que João Gomes Filho (2008, p. 31) apresenta para ilustrar a uni昀椀cação. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 92 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL FIGURA 12 – UNIFICAÇÃO EM QUATRO EXEMPLOS FONTE: Gomes Filho (2008, p. 31) Os quatro exemplos apresentados na 昀椀gura anterior apresentam facilmente o conceito de uni昀椀cação. Na primeira 昀椀gura, tem-se uma uni昀椀cação perfeita (possui equilíbrio e harmonia pelas próprias leis da Gestalt de proximidade, semelhança, fechamento e boa continuidade). Na segunda, a uni昀椀cação é prejudicada por uma unidade vazada e por uma unidade “cinza” (um ruído visual). Na terceira 昀椀gura a uni昀椀cação é mais prejudicada ainda pelo vazio de duas unidades perdidas e por outra que destoa pela forma circular, além de “seu tom cinza”. Finalmente, na quarta 昀椀gura, a uni昀椀cação simplesmente desaparece: perdeu o equilíbrio e a harmonia pela completa desordenação e irregularidade formal e cromática. (GOMES FILHO, 2008, p. 31 – os termos entre aspas foram alterados, pois a 昀椀gura do autor é colorida e aqui foi reproduzida em tons de cinza). 3.6 FECHAMENTO Obtido pela continuidade e agrupamento de elementos que promovem um todo mais completo, mais fechado. Não se trata de um fechamento físico, mas de uma sensação de fechamento. É pelo fechamento, resultando da aproximação que a Marca do Carrefour sugere a letra “C” cortando um losango, depois que percebemos tal fechamento passamos a enxergar ora o losango vazado pelo “C”, ora duas formas que apontam para direções opostas. FIGURA 13 – FECHAMENTO FORMAL E MARCA DO INMETRO FONTE: Adaptada de <https://asmetro.org.br/>. Acesso em: 27 ago. 2020. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — AS LEIS DA ORGANIZAÇÃO DA FORMA: GESTALT 93 Nestas duas manifestações visuais, o fechamento pode ser exempli昀椀cado. “As forças de organização da forma dirigem-se sempre para uma ordem espacial lógica, con昀椀rmando o signi昀椀cado formal desejado” (GOMES FILHO, 2008, p. 32). O triângulo equilátero formado pelos três semicírculos; e as duas letras iniciais da marca InMetro, formada pela forma espelhada e rebatida – neste caso vemos em preto o “I” e, vazando ele o “N”. Neste segundo caso, percebe-se o fator denotativo, já no primeiro o fator abstrato ou conotativo, porém é importante entender que é a postura artística que instiga a atração visual destas formas, e promovem formas de alta pregnância quando trabalhadas de forma sútil. 3.7 CONTINUIDADE A sucessão das partes, sem quebras ou interrupções sugerindo uma trajetória ou oportunizando 昀氀uidez visual, é a continuidade. Ela está na tendência da organização de elementos de maneira a um acompanhar o outro, permitindo a continuidade de um movimento numa direção especí昀椀ca. FIGURA 14 – CONTINUIDADE Fonte: O autor O círculo e suas variações de昀椀nem a melhor continuidade, que ocorre quando existe uma 昀氀uidez visual que sugere um sentido estável. Na representação ao lado, percebe-se a continuidade 昀氀uindo por forma e tamanho. Sempre que se trabalha com elementos similares, próximos à sugestão de continuidade pode ser oportuna para orientar o leitor para um lugar especí昀椀co da composição. Os princípios da lei de organização da forma perceptual – Lei da Gestalt, são as bases norteadoras para que se alcance composições que sejam coerentes aos objetivos da comunicação em jogo. Não existe uma regra correta para alcançar compor visualmente, “o que existe é um alto grau de compreensão do que vai acontecer em termos de signi昀椀cado, se 昀椀zermos determinadas ordenações das partes que nos permitam organizar e orquestrar os meios visuais” (DONDIS, 1997, p. 29). Para isso os princípios estudados até agora ajudam, mas outros devem ser considerados. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 94 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Quanto mais simples, mais equilibrado, homogêneo e regular for o objeto, mais pregnante ele será – e que é esse o princípio da Lei da Prägnanz. • A teoria da Gestalt entende que o que acontece no olho humano é diferente com o que acontece no cérebro, e que a percepção é da junção destes dois momentos, é do todo e é uni昀椀cada. • Pela teoria da Gestalt não percebemos formas isoladas, percebemos sempre relações, onde uma parte depende da outra. • A teoria da Gestalt, pode ser entendida como a Lei da Gestalt ou como a Lei da organização da forma perceptual. • Ao nos apoiarmos à Lei da Gestalt para analisar um objeto, os princípios que devemos no apoiar são: unidade, segregação, uni昀椀cação, fechamento, continuidade, proximidade, semelhança, e a própria Lei da Prägnanz. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 95 1 Um objeto que atende à Lei da Prägnanz apresenta clareza e promove sua leitura de forma fácil. Para que possamos poder validar o nível de pregnância de um objeto, basta ver se conseguimo-nos lembrar do objeto sem estar à frente dele. Quanto mais lembramos o objeto, em sua totalidade – com suas partes, mais pregnante será. Se olharmos as três imagens a seguir, e formos tratar da pregnância de cada objeto ali representado, é possível a昀椀rmar que: I- A possibilidade de poder lembrar de cada um dos pares de sapato tem muito a ver com a sua capacidade de armazenar detalhes. Perceba que o sapato que vai pedir um menor esforço em seus detalhes é o segundo. Dos três pares, ele é mais pregnante, sugere a monocromia, poucos elementos, poucas texturas, enquanto os outros dois parece ter mais de uma textura, elementos decorativos estruturais. Pense da seguinte forma: se daqui alguns dias você se recortar deste exercício, é bem possível que o segundo sapato você terá com mais segurança para descrevê-lo. II- O primeirosapato você lembrará, mas quando chegar nos elementos: caso da textura do salto e da base e do laço que será mais difícil lembrar com segurança; da mesma forma o terceiro, aquelas tiras que seguram a armação, quantas eram? Perceba que o segundo é mais fácil de 昀椀car impregnado em você. III- Feche seus olhos e lembre de uma peça do vestuário que você desenharia com segurança – claro que pode aparecer aquela peça que de tanto você usar, você lembre em sua totalidade, mas a probabilidade de aparecer desenhos de peças básicas, sem estampas, como: T-shirts básicas, vestidos básicos e bermudas/shorts básicos. Estas são peças pregnantes, sua neutralidade, clareza, harmonia, unidade, potencializam-nas para compor looks com outras peças facilmente. AUTOATIVIDADE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 96 Com base no que é possível a昀椀rmar acerca das sentenças apresentadas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A Lei da Prägnanz garante que quanto mais elementos, mais fácil de lembrar do objeto. b) ( ) A Lei da Prägnanz está relacionada com a a昀椀rmação “menos é mais”. c) ( ) A Lei da Prägnanz não pode estar relacionada com a capacidade de comunicação de um objeto. d) ( ) Ao garantir a Lei da Prägnanz, um objeto 昀椀ca complicado de ser percebido. 2 Vamos retornar a uma vitrine de que tratamos anteriormente (h琀琀ps://www. fashionismo.com.br/2010/08/o-poder-de-uma-vitrine/). Focaremos apenas no que se mostrou mais pregnante das duas – até porque, quanto mais utilizamos os princípios da Gestalt estudados até aqui, maior a probabilidade de chegarmos em uma composição que atenderá à Lei da Prägnanz. Neste exercício, analise a imagem da vitrine e descreva como estão declarados cada princípio de composição: Unidade Segregação Proximidade Semelhança Uni昀椀cação Fechamento Continuidade Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 97 Este exercício tem dois objetivos: primeiro, exercitar o olhar para identi昀椀car cada princípio, oportunizando o entendimento de cada um. Segundo: entender que os princípios se completam, e de como trabalhar um é trabalhar o outro. Cada um tem seu olhar e ele deve ser pensando dentro da lógica. Dentro disso, leia com atenção as sentenças a seguir: I- Unidade – Se voltarmos ao exercício anterior, onde analisamos o grau de pregnância de duas vitrines, podemos ver que o conjunto de cédulas (formas que são iguais) garante unidade à vitrine. As a tonalidade cinza é que faz da imagem, uma unidade de fato. II- Segregação – é possível ver que as unidades “cédulas” e “manequim” se segregam por quantidade, dimensão, posicionamento; a forma em barra branca que declara “AUTOBANK” para garantir o entendimento de que se trata deste ambiente – estes elementos permitem que a vitrine tenha uma leitura dentro da temática (conteúdo) pretendida. III- Proximidade – mas a proximidade é estratégia interessante e também é vista nesta vitrine. As cédulas que se aproximam do chão – sugerindo quantidade; as formas mais orgânicas que dão conta de compor o manequim; as formas lineares geométricas em tons cinzas escuros, que sugerem um caixa eletrônico. IV- Semelhança – elementos semelhantes facilitam o estabelecimento de agrupamentos, na vitrine a composição ao segregar bem as partes, ajuda muito nisso – pois boa parte dos elementos semelhantes já estão agrupados, mas alguns que aparecem isolados dão destaque ao formato de cada elemento – isso vale para as cédulas que parecem sair do caixa eletrônico – que sugerem estar caído – dada a quantidade de elementos semelhantes na parte de baixo – e como a estampa do vestido ganha destaque com isso – pois não nenhum outro elemento similar a ela existe fora do vestido. V- Uni昀椀cação – os tons de cinza uni昀椀cam a vitrine, e declaram a mesma como harmonia, equilíbrio e coerência visual. Percebe-se que os elementos semelhantes e a proximidade ajudam a compor a vitrine com partes uni昀椀cadas – a parte inferior – onde temos uma textura formada pelas cédulas, a parte superior que tem uma composição geométrica com elementos que se fecham em si. E a parte do meio da imagem – onde todas as formas se destacam e o corpo da modelo parece segregar-se em relação à parede e ao caixa-eletrônico. VI- Fechamento – vários elementos, por proximidade inclusive, parecem se fechar – os elementos do caixa-eletrônica fecham a imagem dele. Da mesma forma que a barra superior declara a palavra “AUTOBANK” explicitando o espaço que a vitrine representa. Os elementos orgânicos da textura do vestido se fecham dando a ele destaque. VII- Continuidade – No caso da continuidade, vemos como os elementos, que por semelhança, sugerem direções do olhar. Algumas linhas retas sugerem a noção de perspectiva – veja a 昀椀gura que enquadra a palavra “AUTOBANK”, por exemplo. Enquanto as cédulas que caem vão formando uma linha curva que sugere um alagamento do espaço, de onde saltam as duas pernas (que por proximidade) explicitam uma “ponta” – direcionada ao look da modelo, que se segrega de toda a composição – ganhando o devido destaque. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 98 Com base no que é possível a昀椀rmar acerca dos princípios apresentados, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Todas as sentenças estão corretas. b) ( ) As sentenças I, II, III e VII estão corretas. c) ( ) As sentenças II, IV, V, VI e VI estão corretas. d) ( ) As sentenças I, III e V estão corretas. 3 A Gestalt “é uma escola de Psicologia Experimental. Considera-se que Christian von Ehrenfels, 昀椀lósofo austríaco de 昀椀ns do século XIX, foi o precursor da psicologia da Gestalt. Mais tarde, por volta de 1910, teve seu início mais efetivo por meio de três nomes principais: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Ko昀턀a (1886-1941), da Universidade de Frankfurt” (GOMES FILHO, 2008, p. 18). A partir da leitura desse texto avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- A Gestalt atua principalmente na forma e tem grande relevância nos estudos de percepção, linguagem, conduta e dinâmica de grupos sociais, dando conta de sugerir respostas ao porquê gostamos mais de uma coisa do que de outra. PORQUE II- Em um sentido mais geral, o termo Gestalt tem seu signi昀椀cado relacionado à interação de parte em oposição ao todo. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. b) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. c) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II complementa corretamente da I. d) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não complementa a I. 4 Reconhecer objetos é questão primeira na capacidade de percepção visual, neste processo são mais percebidas as composições mais bem organizadas, mais simples e estáveis – isso se dá pela lei de Prägnanz – que a teoria da Gestalt analisa. A partir da a昀椀rmação, explique o que é a Lei da Prägnanz – lei da pregnância, exempli昀椀cando: 5 Vemos na 昀椀gura a seguir a mesma palavra escrita com tipogra昀椀as diferentes. Aponte qual delas tem maior pregnância, justi昀椀cando sua resposta. Explique cada um dos 昀椀ltros. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 99 FONTE: Adaptado de Gomes Filho (2008) Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 100 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 101 UNIDADE 2 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 1 INTRODUÇÃO Iniciamos o terceiro tópico desta unidade e nela vamos conhecer outros princípios que parecem completar a Lei da Gestalt, ou, de certa forma estão intrínsecos a ela. Entendendo que alguns princípios apresentam técnicas opostas à Gestalt e mesmo assim ter poder na composição visual. Neste tópico, nós vamos explorar técnicas no âmbito da polaridade, caso do: equilíbrio e instabilidade; regularidade e irregularidade; simplicidade e complexidade; unidade e fragmentação; economia e profusão; minimização e exagero; previsibilidade e espontaneidade; atividade e estase; sutileza e ousadia; neutralidade e ênfase; transparência e opacidade; estabilidade e variação; exatidão e distorção; planura e profundidade; singularidade e justaposição; sequencialidade e acaso; agudeza e difusão; e repetição e episodicidade. A análise de um objeto pode identi昀椀car muitas das técnicas e dos princípios em sua estrutura, e cabe ao pro昀椀ssional saber usar a variedade dos princípios e as inúmeras técnicas na composição estrutural do seu objeto. Este tópico os apresentará, vamos lá? 2 OUTROS PRINCÍPIOS E TÉCNICAS No desenvolvimento de um objeto, um produto de design por exemplo, são utilizados um número considerável quantidade de elementos (cores, formas, texturas) e estratégias (proporção, posição, tamanho), relacionados com base nos princípios da Lei da Gestalt (unidade, segregação, uni昀椀cação, fechamento, continuidade, proximidade, semelhança, pregnância); mas é possível perceber a existência de outros princípios que regem a composição, caso da harmonia, do contraste e de outras técnicas e elementos básicos da composição visual. 2.1 HARMONIA A harmonia está relacionada à boa organização e boa proporção em toda a composição visual. Quando os fatores de equilíbrio, ordem e regularidade visual permitem clareza e simplicidade na leitura da composição, tem-se a harmonia plena. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 102 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL FIGURA 15 – HARMONIA FONTE: O autor A 昀椀gura apresenta a harmonia pela ordem na disposição dos elementos e tem concordâncias formais entre suas unidades. “O organismo humano parece buscar a harmonia, um estado de tranquilidade e resolução que os zen-budistas chamam de ‘meditação em repouso absoluto’” (DONDIS, 1997, p. 108), um objeto harmônico sugere a redução da tensão, a racionalização, resolve as confusões visuais, dando conta de garantir a Lei da Prägnanz. Quando 昀椀ca evidente este contexto harmônico é que o contraste ganha valor. 2.2 CONTRASTE Se a vontade humana é a harmonia, o contraste é estratégia opositora a isso. Como já mencionamos, é pelo contraste que é possível ver – imagine um desenho branco sobre um fundo branco – este baixo contraste di昀椀cultará a visualização do desenho – para darmos visualização, é preciso acentuar a oposição cromática do fundo ou do desenho – e isso, basicamente, é o contraste. A importância e o signi昀椀cado do contraste começam no nível básico da visão pela presença ou ausência da luz. É a força que torna visível as estratégias da composição visual. É de todas as técnicas a mais importante para o controle visual de uma mensagem bisou tridimensional. É também um processo de articulação visual em uma força vital para a criação de um todo coerente (GOMES FILHO, 2008, p. 62). O contraste ganha valor (inclusive na comunicação) à medida que ele potencializa as oposições, como comentamos inicialmente o traço escuro sobre um fundo branco potencializa a visualização de um desenho. Entendendo isso é preciso sutileza para trabalhar com ele, ainda mais quando optar pelo contraste é estratégia é expressar, transmitir uma ideia. “O contraste é o aguçador de todo signi昀椀cado; é o de昀椀nidor básico das ideias. Entendemos muito mais a felicidade quando a contrapomos à tristeza, e o mesmo se pode dizer com relação aos opostos amor e ódio” (DONDIS, 1997, p. 121). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 103 Retorne ao início desta unidade e veja as linhas que você compôs para expressar a ideia de “casamento feliz” e de “casamento conflituoso” – o contraste destas duas situações provavelmente estará manifestado em suas expressões. INTERES SANTE De todas as técnicas o contraste é obrigatoriamente o mais existente nas manifestações visuais, sendo uma referência obrigatória, tanto na composição visual como um todo ou na caraterização de um elemento especí昀椀co, pelo fato de que ele garante a articulação e a expressão visual pretendidas. Só será possível evidenciar um elemento de uma composição se promovermos este por contraste. No croqui do estilista Christian Lacroix, nós vemos como ele utilizou o contraste para dar ênfase aos elementos especí昀椀cos – expressando transparências nos ombros em contraste com a opacidade expressa na representação do vestido na cintura. FIGURA 16 – OS CONTRATSES NA REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO ESTILISTA CHRISTIAN LACROIX FONTE: <http://www.parisartours.com/wp-content/uploads/2016/12/ eb55892fd2817193da0de8ac5a00ec53-1.jpg>. Acessado em: 27 ago. 2020. No croqui de Lacroix é possível perceber o contrate de tom, onde a claridade ou a obscuridade relativas promovem intensidades contrastantes, analisando a imagem é evidente que existem divisões dos extremos tonais, que são su昀椀cientes para expressar por contraste as diferenças de volumes, de peso e Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 104 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL de tamanho de elementos que estão compondo a peça do vestuário representada pelo estilista. Outros contrastes que aprecem na 昀椀gura são: contraste de forma (onde linhas sugerem texturas diferentes – umas mais esvoaçantes que outras, que na ausência de linhas expressam tecidos lisos). Contraste de escala, onde pequenos traços que sugerem amarrações (laços) nas mangas dão força (dada ao seu tamanho menor) ao elemento de amarração na cintura (um laço que parece cinturar a peça no corpo de quem a veste). INTERES SANTE Com apenas dois elementos, vamos exercitar o que estamos tratando aqui. Recorte um quadrado em uma folha de papel branca de tamanho 10x10cm (tendo como base um A4). E uma moeda. Usando o quadrado como base, coloque a moeda sobre o papel quadrado. Inicialmente, vemos que a moeda se contrasta com o fundo branco. Agora, posicione a moeda dentro do quadrado de maneira criando uma composição harmônica. Veja que interessante: Harmonia, como tratamos aqui é um estado de repouso absoluto, desta forma, há uma probabilidade de a moeda estar posicionada em um lugar dentro do quadrado que provoque um relaxamento das tensões visuais – ou seja, que nosso olhar não fique vagando a composição em busca de uma situação considerada melhor. Assim é bem possível que a posição mais sugestiva seja o centro do quadrado. Interessante perceber que nós nos comportamos como um instrumento de medida, como nos diz Rudolf Arnheim (2005), vamos levando a moeda de forma que ela esteja distanciada das quatro bordas igualmente, buscando o centro geométrico da figura. Desta forma, garantimosa composição harmonia visual em todos os sentidos. Note que se posicionarmos a moeda sem esta capacidade de medida, a figura fica pedindo isso: Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 105 Com este exercício, colocamos em evidência técnicas de composição que se apoiam na ideia que a “experiência visual é dinâmica” (ARNHEIM, 2005, p. 4). Perceba quanto a moeda tem vontade de se posicionar no centro, e parece se puxada para esta posição por forças que não estão declaradas na imagem. Esse exercício nos mostra que existem mais coisas no campo de visão do que a retina consegue captar (lembre-se das diferenças entre “ver” e “enxergar”), e como este fator induz o comportamento de quem compõe visualmente. A vontade de pausa sugerida pela harmonia, declara que as energias envolvidas na composição atingiriam o mínimo, pouco há para deixar a mesma em equilíbrio. 2.3 EQUILÍBRIO Assim como para a harmonia, o ser humano tem uma tendência de buscar o equilíbrio, é da natureza dele. Desta forma, o equilíbrio é referência visual forte quando recebe ou produz informações visuais. A noção horizontal-vertical compõe a base do ser humano com o meio ambiente e com o espaço que ele vai compor seus objetos, que passam a ter “eixo” vertical, com referência horizontal, e juntos determinam as condicionantes estruturais que dão conta do equilíbrio – conhecido como “eixo de sentido”. FIGURA 17 – TESTE DE MAITLAND GRAVES FONTE: Adaptado de Arnheim (2005, p. 14) Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 106 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL Ilustrando um exemplo dos testes feitos por Maitland Graves para determinar a sensibilidade de estudantes foi descrita por Arnheim (2005, p. 14) assim: A 昀椀gura da esquerda é bem equilibrada. Há bastante vida nesta combinação de quadrados e retângulos de vários tamanhos, proporções e direções, mas eles se prendem uns aos outros de tal modo que cada elemento permanece em seu lugar, tudo é necessário, nada está procurando mudar. Compare a vertical interna claramente estabelecida de (a) com sua patética contraparte vacilante em (b). Em (b), as proporções baseiam-se em diferenças tão pequenas que deixam os olhos na incerteza de contemplar igualdade ou desigualdade, simetria ou assimetria, quadrado ou retângulo. Não se pode dizer o que a 昀椀gura tenta transmitir. Neste exemplo, alguns fatores relevantes quanto ao equilíbrio, cujas propriedades relevantes são: Peso e direção – Dependendo da posição ou do tamanho de um elemento ele pode ganhar peso na composição, e com isso atrai a atenção. Para que se consiga dar a esta composição equilíbrio faz-se necessário inserir outros elementos que contrabalancem seu peso. As obras de Piet Mondria são composições equilibradas com base em estruturas onde pesos e direções são potencializados. FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO EM TONS DE CINZA DA OBRA DE PIET MONDRIAN FONTE: Adaptada de <http://twixar.me/m5gm>. Acesso em: 27 ago. 2020. Mesmo em tons de cinza é possível ver que quadrados de tons iguais se apresentam em tamanhos diferentes e estão posicionados estrategicamente para que a obra tenha equilíbrio. A capacidade do artista, quase que matemática, é elogiável, pois é preciso competência visual para alcançar esta composição visual. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 107 Simetria e assimetria – toda composição apresenta, pelo menos, um eixo que divide o objeto ao meio, quando as partes são iguais ou se assemelham a composição é simétrica; quando elas não são iguais a composição será assimétrica. Dada a relação de igualdade das duas partes, as composições simétricas têm a tendência de serem percebidas mais facilmente. E dada a uma estrutura que se repete podem se tornar algo monótono, enfadonho e sem graça. A composição da Figura 19 é um exemplo disso, e dada a possibilidade de a mesma ter eixos horizontal, vertical e diagonal que a dividem é chamada de Simetria Axial – neste tipo, o equilíbrio é absolutamente perfeito. FIGURA 19 – SIMETRIA NUMA FOTOGRAFIA DE PAISAGEM FONTE: <https://olhares.com/simetria-axial-natural-foto8109719.html>. Acessa em: 27 ago. 2020. A fotogra昀椀a de paisagem se mostra simétrica por pesos e direções de seus elementos. É possível ver o eixo de simetria vertical (1); o eixo de simetria horizontal (2) e até os eixos simétricos diagonais (3a; 3b). Já a assimetria é a ausência de simetria. Uma composição assimétrica, para alcançar o equilíbrio, demanda de um esforço árduo por parte de seu produtor. Na composição de Piet Mondrian (Figura 18) o contraste assimétrico se manifesta em todos os eixos. Os pesos das 昀椀guras geométricas e os contrastes das linhas pretas e dos tons de cinza conferem um resultado plástico, além de equilibrado, interessante. Cabe ao pro昀椀ssional responsável em compor visualmente um objeto, seja ele um desenho, um produto, uma coleção de moda, entender de que forma ele quer atingir seu público alvo. As composições equilibradas, harmônicas e que vão em linha à Lei da Prägnanz direcionam o discurso visual para a simplicidade, para a sensatez. Todavia, nem sempre é isso que atrairá a clientela, entender que é possível utilizar técnicas opostas a isso pode contribuir para o repertório deste pro昀椀ssional. Desta forma, vamos apresentar algumas técnicas visuais que pode servir como estratégias na comunicação (DONDIS, 1997): Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 108 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 2.4 EQUILÍBRIO E INSTABILIDADE Já tratamos do equilíbrio que numa composição visual pode ser trabalhado na de昀椀nição de um centro de suspensão, que dará norte para os pesos e direções e para os eixos de simetria. Já a instabilidade é oposta ao equilíbrio. FIGURA 20 – EQUILÍBRIO (1) E INSTABILIDADE (2) FONTE: O autor 2.5 REGULARIDADE E IRREGULARIDADE Enquanto a regularidade potencializa a uniformidade dos elementos da composição e, institui uma ordem na estrutura organizacional, a Irregularidade vai enfatizar o inesperado, comprometendo o que seria ordinário na estrutura organizacional da composição. FIGURA 21 – REGULARIDADE (1) E IRREGULARIDADE (2) FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 109 2.6 SIMPLICIDADE E COMPLEXIDADE A ordem e a uniformidade são norteadoras da simplicidade, cujas formas se apresentam sem complicações e se maiores elaborações. Enquanto a composição complexa é compreendida por uma quantidade e/ou variedade considerável de elementos, precisamos de artifícios complicados em sua organização. FIGURA 22 – SIMPLICIDADE (1) E COMPLEXIDADE (2) FONTE: O autor 2.7 UNIDADE E FRAGMENTAÇÃO A unidade já foi trabalhada anteriormente e, neste momento, é importante salientar que está relacionada com o equilíbrio adequado de vários elementos em uma composição que os totaliza visualmente. Esta totalização 昀椀ca tão harmonizada que passa a ser vista como uma única coisa. A fragmentação, ao contrário, decompõe os elementos e as unidades possíveis, deixando cada uma das partes da composição relacionadas entre si, conservando o caráter individual de cada uma. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual110 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL FIGURA 23 – UNIDADE (1) E FRAGMENTAÇÃO (2) FONTE: Adaptada de <https://i.pinimg.com/originals/58/ e9/9c/58e99cacda07ba7a8714b5581e22f81e.jpg>. Acesso em: 30 out. 2020. 2.8 ECONOMIA E PROFUSÃO A economia é numa organização sensata, coerente e parcimoniosa na utilização de elementos visuais. A profusão, pelo contrário, se apresenta cheia de elementos, com muitos detalhes e ornamentos; pode ser entendida como uma estratégia de enriquecimento visual, associando seu discurso ao poder e à riqueza, enquanto a economia está relacionada ao conservadorismo e pureza da forma. FIGURA 24 – ECONOMIA (1) E PROFUSÃO (2) FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 111 2.9 MINIMIZAÇÃO E EXAGERO Equivalentes da polaridade econômica e profusão, a minimização se mostra mais abrandada, dando conta de expressar o máximo com o mínimo de elementos. O Exagero recorre à expressão profusa e extravagante, dando ênfase à agressividade, intensi昀椀cando e ampli昀椀cando seu discurso. FIGURA 25 – MINIMIZAÇÃO (1) E EXAGERO (2) FONTE: O autor 2.10 PREVISIBILIDADE E ESPONTANEIDADE Uma composição previsível sugere ordem e convenção, tem a possibilidade de oferecer elementos que deixam previsível como a mesma será composta. Por outro lado, a espontaneidade parece não ser planejada, de forma impulsiva e livre surpreende em sua composição. FIGURA 26 – PREVISIBILIDADE (1) E ESPONTANEIDADE (2) FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 112 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 2.11 ATIVIDADE E ESTASE Atividade re昀氀ete visualmente o movimento, sugerindo ou representando isso. Toda a energia e o estímulo da técnica visual Atividade é acalentada, pela Estase que busca no equilíbrio o efeito de repouso e tranquilidade. FIGURA 27 – ATIVIDADE (1) E ESTASE (2) FONTE: O autor 2.12 SUTILEZA E OUSADIA Embora delicada e requintada, a sutileza apresenta criteriosa concepção apresentando composições de grande habilidade e inventividade. É uma técnica que apresenta saídas distintas e apuradas. A ousadia tem na obviedade sua lógica, objetivando a máxima visibilidade deve ser utilizada com audácia, con昀椀ança e segurança. FIGURA 28 – SUTILEZA (1) E OUSADIA (2) FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 113 2.13 NEUTRALIDADE E ÊNFASE A neutralidade aparece em ocasiões em que a composição tem uma estrutura visual que pouco provoca o observador. Enquanto a ênfase quebra esta atmosfera, criando elementos provocativos, realçado por fortes contrastes determinados elementos. FIGURA 29 – NEUTRALIDADE (1) E ÊNFASE (2) FONTE: O autor 2.14 TRANSPARÊNCIA E OPACIDADE Nesta polaridade a transparência vai envolver detalhes que permitem que os elementos situados na parte de trás sejam revelados. Enquanto a opacidade os bloqueia totalmente. FIGURA 30 – TRANSPARÊNCIA (1) E OPACIDADE (2) FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 114 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 2.15 ESTABILIDADE E VARIAÇÃO A uniformização e a coerência da composição de昀椀nem a estabilidade. A variação exige mudanças e elaborações, caracterizando-se pela diversidade e sortimento dos elementos da composição. FIGURA 31 – ESTABILIDADE (1) E VARIAÇÃO (2) FONTE: O autor 2.16 EXATIDÃO E DISTORÇÃO A exatidão é a reprodução 昀椀el de como nossos olhos veem. É quando a composição dá conta de representar o fenômeno como ele é no real. Uma fotogra昀椀a é um bom exemplo para a Exatidão. Já a distorção altera o realismo da exatidão, age sobre a composição desviando a forma regular, a forma verdadeira. FIGURA 32 – EXATIDÃO (1) E DISTORÇÃO (2) FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 115 2.17 PLANURA E PROFUNDIDADE Duas técnicas que estão submetidas ao entendimento da perspectiva. No caso da planura, não existe a perspectiva e nem efeitos de luz e sombra. Quando a perspectiva aparece, assim como os efeitos de luz e sombra, temos a profundidade. FIGURA 33 – PLANURA (1) E PROFUNDIDADE (2) FONTE: O autor 2.18 SINGULARIDADE E JUSTAPOSIÇÃO A singularidade dá ênfase a um elemento especí昀椀co, ela focaliza, deixando este elemento independentemente de qualquer outro elemento da composição. A justaposição sugere a interação entre os elementos, estabelecendo relações entre elas tornando-as dependentes uma das outras na composição. FIGURA 34 – SINGULARIDADE (1) E JUSTAPOSIÇÃO (2) FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 116 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 2.19 SEQUENCIALIDADE E ACASO Quando a composição apresenta uma ordem lógica e permite que se tenha uma resposta compositiva ordinária, temos a sequencialidade, que provoca uma disposição de elementos similares ou não, segundo um padrão rítmico. Já, a ausência de planejamento rítmico, a desorganização ordinária de昀椀ne o acaso, cuja estrutura composicional se mostra acidental. FIGURA 35 – SEQUENCIALIDADE (1) E ACASO (2) FONTE: O autor 2.20 AGUDEZA E DIFUSÃO Agudeza de昀椀ne-se na clareza física e de expressão da composição cujos elementos se mostra precisos, com linhas/contornos rígidos, com efeito 昀椀nal claro e de fácil interpretação. Enquanto a suavidade e a menor precisão caracterizam a composição difusa, que cria uma “atmosfera de sentimento e calor” (DONDIS, 1997, p. 158). FIGURA 36 – AGUDEZA (1) E DIFUSÃO (2) FONTE: O autor; Dondis (1997, p. 158) Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 117 2.21 REPETIÇÃO E EPISODICIDADE Quando a composição apresenta elementos visuais ininterruptos que a uni昀椀ca, tem-se a repetição, onde a continuidade dá união à composição. Já a técnica da episodicidade apresenta elementos desconexos, com conexões frágeis, ela reforça a individualidade de cada elemento, sem desquali昀椀car a composição como um todo. FIGURA 37 – REPETIÇÃO (1) E EPISODICIDADE (2) FONTE: O autor Retiradas da obra de Donis A. Dondis: Sintaxe da linguagem visual, estas técnicas são ferramentas importantes na mão do designer. Muitas outras técnicas visuais podem ser exploradas, descobertas e empregadas na composição, sempre no âmbito da polaridade ação-reação: luminosidade, embaçamento; cor, monocromatismo; angularidade, rotundidade; verticalidade, horizontalidade; delineamento, mecanicidade; intersecção, paralelismo. Seus estados antagônicos de polaridade dão ao compositor visual uma grande oportunidade de aguçar, graças à utilização do contraste, a obra em que são aplicados (DONDIS, 1997, p. 160). Interessante perceber que “a percepção da forma é o resultado de uma interação entre o objeto físico e o meio de luz agindo como transmissor de informação, condições e imagens que prevalecem no sistema nervoso do observador que é, em parte, determinada pela própria experiência visual” (GOMES FILHO, 2008, p. 41). Quando olhamos para uma vitrine, podemos perceber o “esquema do plano de expressão”, convertendo a forma fotográ昀椀ca (que espelha oreal da vitrine), em um conjunto de formas abstratas (linhas, retângulos, círculo) que vão contribuir para o entendimento mais apurado da vitrine. Isso ajuda a entender que estes elementos formais se tornam uma espécie de alfabeto visual. Este alfabeto é formado pelos elementos visuais que são: o ponto, a linha, a forma, a direção, o movimento, a escala, a dimensão, a textura, o tom e a cor. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 118 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL 3 ELEMENTOS VISUAIS Os elementos visuais formam a base do que vemos, como letras de um alfabeto: ponto, linha, forma, direção, movimento, escala, dimensão, textura, tom e cor, se mesclam construindo elementos que sozinhos ou em conjunto formar as composições visuais. Um pequeno número que é matéria-prima de toda e qualquer informação visual. Assim como um alfabeto e a gramática 昀椀ca à disposição do escritor, os elementos visuais 昀椀cam à disposição do artista visual, do designer que, dado o seu repertório gramatical visual (caso do entendimento dos princípios e das técnicas visuais), garantirá composições que sejam lidas, compreendidas e convençam a aquisição de seus valores por parte de seus consumidores. Para que possamos entender os elementos vamos tratar de cada um deles isoladamente: 3.1 O PONTO O elemento mais simples da comunicação visual. Irredutível. Todo e qualquer ponto tem forte poder de atração. FIGURA 38 – O PONTO Isolado o pondo concentra a atenção do espectador. Quando trabalhado em conjunto e com a mesma proporção o ponto age como eixos de para do olhar – fazendo com que se percorra as distâncias que supostamente cada um limita. Perceba na Figura 38 que do lado esquerdo nosso olho repousa no ponto isolado, e quando dentro de uma 昀椀gura (como o quadrado) ele chama a atenção – concentra as forças de toda a composição. Agora se posicionarmos dois pontos ou mais, veremos que o conjunto dos pontos dirigem o olhar: FONTE: O autor Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 119 FIGURA 39 – PONTO E A DIREÇÃO DO OLHAR FONTE: O autor A aproximação dos pontos permite a sensação de tonalidades – quanto mais próximos mais fortes os tons, quanto mais distantes, mais suaves. Essa capacidade contribuiu para o surgimento de um movimento artístico chamado de “pontilhismo”, que como manifesto dá conta de expressar o poder de atração dos pontos numa composição visual. FIGURA 40 – TÉCNICA DO PONTILHISMO FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-Rw8gA-kJImY/WMC-SVvhZGI/AAAAAAAAAG0/eG02q h2hZNQpjGA1dRpf-OglGL_NQLHNwCLcB/s320/olho%2Bponto.jpg>. Acesso em: 27 ago. 2020. A aproximação de elementos para intensi昀椀car as tonalidades é um recurso interessante. Muitos artistas visuais se utilizam disso, na história os artistas do pontilhismo “exploraram os processos de fusão, contraste e organização, que se concretizam nos olhos do espectador” (DONDIS, 1997, p. 54). Potencializando o papel do “olhar” na percepção visual. O ponto, como elemento primeiro de qualquer composição, induz a qualquer outro elemento. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 120 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL Muito do que estamos vendo nesta disciplina conversa diretamente com a história da arte. Que tal um retorno a ela para poder entrar em contato com artistas e obras que dão conta de exemplificar toda essa teoria? Acesse: https://arteref.com/arte-no-mundo/9- coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-o-pontilhismo/ e veja o exemplo do pontilhismo. INTERES SANTE 3.2 A LINHA Como vimos, os pontos quando vão se aproximando, dirigem o olhar e aumentam a tonalidade do conjunto que compõem. Esta aproximação, quando impossibilita a identi昀椀cação dos pontos nos leva à experiência da linha. Tanto que uma forma de conceituar linha é pela noção do ponto movimentar-se no espaço, deixando uma marca contínua – uma linha. FIGURA 41 – A LINHA FONTE: O autor A linha nunca é estática, uma vez que ela é o ponto em movimento. É um elemento da composição inquieto e questionador de todo e qualquer desenho. Todavia, ela não é vaga, ela é decisiva, delimita. A linha dá forma às ideias, e permite organizar o sistema visual para que ideias sejam pensadas. FIGURA 42 – CROQUI ARQUITETÔNICO FONTE: Adaptada de <https://mir-s3-cdn-cf.behance.net/project_modules/2800_ opt_1/2dd5d894389143.5e7e512c2340c.jpg>. Acesso em: 27 ago. 2020. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 121 A linha é o elemento essencial do desenho, tanto na escrita quanto na capacidade de ser desenho. “Pode assumir formas muito diversas para expressar uma grande variedade de estados de espírito” (DONDIS, 1997, p. 57), lembre-se do exercício de representar, pela linha o sentimento de “casamento feliz” e de “casamento con昀氀ituoso”! A linha dá conta de retirar tudo o que é supér昀氀uo e expressar. Delicada ou grosseira, reta ou ondulada, a linha tem poder personalizar o traço de seu executor, potencializando a identidade no traço, expressão máxima do estilo de um artista. Da mesma forma que pode ser fria, sem identidade em desenhos de mapas, projetos técnicos e engrenagens de máquinas. A linha pode ser entendida como limite. Difícil de ser encontrada na natureza ela aparece nos limites de uma rachadura na parede, nos limites das sobras de uma árvore na calçada, no contraste dos 昀椀os de luz com o céu azulado. Ela potencializa, então as formas que nos chegam à visão. 3.3 A FORMA É descrita, delimitada pela linha. Sua complexidade é articulada pela linha. Apenas três formas básicas existem: o quadrado, o círculo e o triângulo. Com características especí昀椀cas cada um dá conta de representar determinados signi昀椀cados, em alguns casos de forma arbitrária. FIGURA 43 – AS FORMAS BÁSICAS: QUADRADO, CÍRCULO E TRIÂNGULO FONTE: O autor “Ao quadrado se associam enfado, honestidade, retidão e esmero; ao triângulo, ação con昀氀ito, tensão; ao círculo, in昀椀nitude, calidez, proteção” (DONDIS, 1997, p. 58). Estas formas básicas são planas e a partir das mais variadas combinações dão conta de formar todas as outras formas. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 122 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL FIGURA 44 – EXEMPLOS DA VARIAÇÃO FORMAL DAS COMBINAÇÕES DAS FORMAS BÁSICAS FONTE: O autor Se entendemos que a linha surge do movimento do ponto pelo espaço, podemos entender que a forma surge do movimento linear neste mesmo espaço. São as direções que a linha percorre que dão as formas que vemos. 3.4 A DIREÇÃO As três formas básicas surgem de três direções básicas: da direção horizontal e vertical vamos ter as formas quadráticas; da direção angular vamos ter as formas triangulares; e da direção em curva, vamos ter as formas circulares. FIGURA 45 – DIREÇÕES VISUAIS BÁSICAS FONTE: O autor Da mesma maneira que as formas básicas, cada direção tem signi昀椀cados importantes: a direção vertical-horizontal constitui a referência primária do homem, em termos de bem-estar e maneabilidade. Seu signi昀椀cado mais básico tem a ver [...] com a estabilidade em todas as questões visuais. A necessidade de equilíbrio não é uma necessidade exclusiva do homem; dele também necessitam todas as coisas construídase desenhadas. A direção diagonal tem referência direta com a Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 123 ideia de estabilidade. É a formulação oposta, a força direcional mais instável, e, consequentemente, mais provocadora das formulações visuais. Seu signi昀椀cado é ameaçador e quase literalmente perturbador. As forças direcionais curvas têm signi昀椀cados associados à abrangência, à repetição e à calidez. Todas as forças direcionais são de grande importância para a intenção compositiva voltada para um efeito e um signi昀椀cado de昀椀nidos (DONDIS, 1997, p. 60). FIGURA 46 – TENSÕES FORMAIS CONFORME AS DIREÇÕES FONTE: O autor 3.5 O MOVIMENTO Este elemento visual está mais implícito que explícito nas composições visuais. Contudo é um dos principais recursos visuais do funcionamento das estruturas visuais. Se formos pensar no movimento explícito, vamos percebê-lo no cinema, nos audiovisuais, onde de fato, a imagem se expressa em movimento; ou em mecanismos que tenham no movimento sua expressão (podemos pensar aqui em vitrines que tenham elementos que 昀椀quem se movimentando). Todavia, a maneira implícita de se declarar faz do movimento um dos principais recursos das imagens estáticas. Muitas imagens estáticas podem em sua composição sugerir movimentos – como resposta à posição de elementos e/ou recursos visuais que formam a estrutura visual dela. Se voltarmos à Figura 39, vamos ver que a combinação de dois ou mais pontos, ao sugerirem direção, sugerem movimento. O olhar do espectador vai e volta entre os elementos visuais (que neste exemplo são similares – pontos). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 124 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL FIGURA 47 – MOVIMENTO EM IMAGENS ESTÁTICAS FONTE: O autor É este vagar do olhar, essa exploração visual da estrutura, que promove movimento à composição. Em nossa cultura (Ocidente) a convenção da leitura arbitraria esta exploração, induz o olhar a percorrer um caminho na página. Este vagar também está condicionado às questões 昀椀siológicas – caso de, na busca de um suposto equilíbrio, exploramos as imagens pelos eixos de sentido (vertical, horizontal e diagonal); além do próprio olho apresentar movimentos musculares que o deixam sempre em movimento, percorrendo o espaço de visão – este tipo de movimento ocular organiza padrões de esquadrinhamento que “são tão individuais e únicos quanto as impressões digitais” (DONDIS, 1997, p. 81). Essas capacidades de olhar, sozinhas ou em conjunto, deixam claro que existe movimento nas imagens, da mesma forma que nos processos de visão. 3.6 A ESCALA Os elementos que constituem uma composição podem ser diferentes um dos outros, estas diferenças constituem as escalas – uma cor é mais forte que outra; uma forma é maior que a outra. “A escala pode ser estabelecida não só através do tamanho relativo das pistas visuais, mas também através das relações com o campo ou com o ambiente” (DONDIS, 1997, p. 72). O resultado destas relações nunca é absoluto, podem sofrer modi昀椀cações no decorrer da experiência do olhar – comparado a um elemento tal forma é menor, mas se mostra mais intensa que outra forma, e por aí vai. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 125 FIGURA 48 – ESCALA E A VARIAÇÃO NAS RELAÇÕES FONTE: O autor Um mesmo círculo pode ser considerado grande em relação à 昀椀gura que o contém, e pequeno quando situado dentro de uma 昀椀gura maior. O tamanho relativo da composição interfere na a昀椀rmação sobre um mesmo elemento, deixando relativa toda e qualquer a昀椀rmação sobre as comparações. A escala nos permite, então, termos uma dimensão dos elementos a partir de um valor. Em mapas, por exemplo, ela indica que uma determinada medida no desenho representa outra medida no mundo real. No caso de um desenho técnico, onde o desenho a proporcionalidade do desenho para a peça 昀椀nal é feito em escala, normalmente 1:10 (um para dez). Onde na peça real o que for 100 cm de altura, terá no desenho 10 cm. A escala vai aparecer na indústria do vestuário nos tamanhos variáveis das peças – P, M, G; com base em uma escala proporcional à média das medidas do corpo humano em uma determinada etnia. FIGURA 49 – ESCALA EM DESENHOS TÉCNICOS FONTE: Adaptada de <http://www.renataperito.com/?p=2078>. Acesso em: 27 ago. 2020 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 126 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL Existem outras relações de escala que se fazem por fórmulas de proporção – caso da seção áurea (fórmula matemática de grande elegância visual). Ela é muito usada para o desenvolvimento de marcas, mas seu papel básico é proporcionar uma certa sensação de equilíbrio para o espectador – assim, ao desenvolvermos um projeto com base na proporção áurea estamos colocando toda a composição em linha com a Lei da Prägnanz. A proporção áurea é discutida e apresentada por vários autores e profissionais da área do design, das artes, da comunicação, da arquitetura, e outras. Se você buscar na internet terá acesso a vários conteúdos interessantes sobre o tema. Disponibilizamos um site para mostrar isso: https://designculture.com.br/finalmente-aprenda-a-aplicar- proporcao-aurea. Boa pesquisa! DICAS Entender que ao relacionarmos os elementos de uma composição a partir de uma escala, nos faz perceber quanto isso pode afetar os signi昀椀cados e o quanto poderá interferir nos objetivos pretendidos em jogo na composição. Controlar a escala é dominar o discurso, manipulando os elementos a favor do que se pretende com projeto. 3.7 A DIMENSÃO A dimensão de objetos tridimensionais é lógica e real, porém imagens bidimensionais dão conta de representar a dimensão através da ilusão – o desenho, a pintura, a fotogra昀椀a, por mais que representam objetos tridimensionais, não os são. É possível representar a dimensão por várias maneiras, uma das principais é a técnica da perspectiva. Os resultados da perspectiva podem 昀椀car mais intensos com a manipulação de claro-escuro, luz e sombra. A perspectiva tem base matemática e em regras múltiplas e complexas. A representação utilizando a perspectiva permite o realismo nos desenhos. Muitos sites e vídeos ajudam a entender esta técnica, que tal uma pesquisa na internet sobre este tema? Segue um link que pode ajudar nisso: https://comodesenharbemfeito.com.br/desenho- em-perspectiva/. DICAS Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 127 A dimensão permite nos aproximarmos da técnica, já estudada, da exatidão. Um cubo no espaço, ganha dimensões “exatas” de um cubo se seguir as regras métricas da perspectiva, por exemplo. FIGURA 50 – DIMENSÕES DE UM CUBO PELA PERSPECTIVA FONTE: O autor A dimensão real é a dominante no desenho de projetos. Por mais que se trabalhe com escalas, em um determinado momento o tamanho de 1:1 (um para um) se torna o recurso mais sensato para diminuir os riscos no momento de confecção das peças. A capacidade de produzir o objeto na dimensão real de forma tridimensional é chamada de mockup – que num projeto é um modelo (em escala proporcional ou real) de um dispositivo capaz de demonstrar seu funcionamento. No design de moda, a peça piloto pode ser entendida assim. O problema aparece quando há a necessidade de apresentarmos a dimensão real numa representaçãobidimensional – por mais que se possa dar ao desenho uma ilusão tridimensional, utilizando a perspectiva por exemplo, uma técnica, dentro da área de projeto, são os desenhos das vistas do objeto. Mostrando o mesmo em partes – caso da Ficha Técnica da Figura 49. 3.8 A TEXTURA A ideia visual para o tato é a trabalhada na textura. Um objeto pode apresentar texturas que não são perceptíveis pelo tato, apenas pela visão, caso dum uma composição de linhas impresso em papel, em um tecido. Boa parte da experiência com a textura é visual, quando há o toque ampliamos o níveo desta experiência. Visualizar um casaco de pele e poder tocá-lo, oferece uma experiência, primeiramente visual – observamos uma composição visual que nos remete à determinada textura, e depois, ao tocar, con昀椀rmamos o que olhos sugeriram. Um outro exemplo, é visualizarmos um casaco, cujo tecido imita, em Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 128 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL desenho, a textura de uma pele – neste caso, a sensação primeira é a mesma da anterior. Todavia, quando tocamos, a textura sentida é diferente dos que os olhos sugeriram. Assim, vamos que a capacidade de trabalhar com a textura em uma composição visual é sugerir estas experiências (que podem ser con昀椀rmadas com o tato, ou não). FIGURA 51 – REPRESENTAÇÃO VISUAL DE COURO FONTE: <https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/loja2/248f138f8b8d8c37caaaef0e325150c7.jpg>. Acesso em: 27 ago. 2020. 3.9 O TOM A base do tom está na utilização de técnicas de representação que se utilizam da intensidade, da obscuridade ou claridade do que se quer representar. O tom pode ser entendido como a variação de luz, mas é bom ressaltar que quando “falamos de tonalidade em artes grá昀椀cas, pintura, fotogra昀椀a e cinema, fazemos referência a algum tipo de pigmento, tinta ou nitrato de prata, que se usa para simular o tom natural” (DONDIS, 1997, p. 61). Entre a obscuridade e a luz existe uma in昀椀nidade de tons na natureza, mas nas artes visuais essas tonalidades são bem mais limitadas. Entre o branco e o preto existem tonalidades de cinza perceptíveis aos olhos, quanto à variação tonal – e isso é relevante na reprodução de composições visuais. FIGURA 52 – VARIAÇÃO DE TONALIDADE DO BRANCO AO PRETO FONTE: Adaptada de Dondis (1997, p. 62) Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 129 Na segunda composição da imagem percebe-se que um mesmo tom de cinza, colocado em composição com outras tonalidades modi昀椀ca-se dramaticamente. Esta composição tonal pode resultar em sugestões dimensionais, já tratamos da possibilidade métrica de resultar dimensão tridimensional aos desenhos bidimensionais, mas isso é possível também através da variação tonal. FIGURA 53 – DIMENSÃO RESULTANTE DA VARIAÇÃO TONAL FONTE: O autor 3.10 A COR Enquanto a tonalidade nos dá noção de profundidade, de dimensão, a cor sugere emoção. Isso é interessante, pois conseguimos expressar informações através de desenhos em preto e branco, mas quando inserimos cor, exaltamos sentidos emocionais – se voltarmos a exercício das linhas que expressavam um relacionamento feliz e outro con昀氀ituoso, podemos lembrar que, na sequencia dele, foi levantada a possibilidade de desenharmos a linha com um traço colorido – e que, dependendo do relacionamento, teríamos cores diferentes em cada uma destas linhas. Esta capacidade de a cor sugerir sentidos está relacionada aos fenômenos da natureza – um dia ensolarado (com um céu azul) nos faz ter um comportamento diferente de um dia chuvoso (com o céu “cinza”, nebuloso – se formos pensar no azul e no cinza como possibilidade para representar a felicidade – certamente a cor azul seria a mais provável. De outra maneira, estamos impregnados de cores com peso simbólico – que arbitrariamente tem seus signi昀椀cados atrelados a determinados contextos culturais: a cor vermelha signi昀椀cando “pare” nos semáforos, é um exemplo disso! Assim, cada cor está carregada de sentidos, e eles devem ser considerados quando analisamos ou desenvolvemos um objeto. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 130 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL Muitas são as teorias da cor, não vamos tratar delas aqui! Vamos tratar da cor como elemento visual, e dentro disso ela pode ser dividida em três dimensões: A cor em si – matiz (ou croma); a pureza da cor – saturação; e a variação de tonalidade da cor – o brilho (as gradações de luz e sombra atribuídas a ela). Quanto à matiz, existem três matizes elementares (primários): vermelho, azul e amarelo. Cada uma delas representa determinadas qualidades: ao vermelho se atribui relações emocionais, ativas. Ao azul se atribui passividade e suavidade. E ao amarelo calor, sendo a cor mais próxima da luz. Quando associadas, organizam outros signi昀椀cados: “O vermelho, um matiz provocador, é abrandado ao misturar-se com o azul, e intensi昀椀cado ao misturar-se com amarelo. As mesmas mudanças de efeito são obtidas com o amarelo, que se suaviza ao se misturar com o azul” (DONDIS, 1997, p. 65). Estas misturas oportunizam o surgimento de outras cores. Ao combinarmos as cores primárias – vermelho, azul e amarelo, vamos ter as cores secundárias – violeta (vermelho + azul), verde (azul + amarelo) e laranja (amarelo + vermelho). A partir destas combinações é possível montar o Círculo Cromático. Quando falamos de cores primárias e suas combinações – que vão resultar em cores secundárias, a visão do Círculo Cromático surge. Muitos são os livros, sites e vídeos que tratam deles. Clique no link para ter acesso a uma abordagem sobre o Círculo Cromático: http://reformavisual.com/circulo-cromatico/. DICAS Quanto à saturação, que é a pureza relativa da cor, pode-se entender que ela se compõe das cores primárias e secundárias – elas são tão intensas que são as preferidas pelas crianças. “Quanto mais intensa ou saturada for a coloração de um objeto ou acontecimento visual, mais carregado estará de expressão e emoção” (DONDIS, 1997, p. 66). Quanto ao brilho, estamos atribuindo à cor mais luz ou menos luz – ou seja, variando a tonalidade dela. Um televisor em cores é um excelente mecanismo para a demonstração desse fato visual. Ao acionarmos o controle da cor até que a emissão 昀椀que em branco e preto e tenhamos uma imagem monocromática, estaremos gradualmente removendo a saturação cromática. O processo não afeta em absoluto os valores tonais da imagem. Aumentar ou diminuir a saturação vem demonstrar a constância do tom, provando que a cor e o tom coexistem na percepção, sem se modi昀椀carem entre si (DONDIS, 1997, p. 66). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 131 A cor é um elemento visual emocional e representativo, deve ser considerado em todos os projetos pro昀椀ssionais como elemento pode poderoso no impacto do objeto no mercado que estará envolvido. Todos os elementos aqui apresentados são os ingredientes de toda composição visual. Quando bem dosadas oportunizam discursos palatáveis aos que se aventuram consumir. Podem ser entendidos como os meios essenciais da mensagem visual, saber que eles existem e entender como funcionam pode ser um diferencial importante na carreira de pro昀椀ssionais da área das artes visuais, da arquitetura, do design. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com)lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 132 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL LEITURA COMPLEMENTAR CATÁLOGO DE REFERÊNCIAS PARA A SÍNTESE VISUAL EM PROJETO DE DESIGN DE MODA Introdução Considerando que o vestuário pode ser um meio de construir discursos simbólicos, por intermédio de uma linguagem não verbal, 昀椀ca evidente que o estudo de ferramentas facilitadoras da composição visual no projeto de tais artefatos é fundamental para a valorização do repertório metodológico de designers de moda. Por isso, o presente estudo pretende desenvolver um material grá昀椀co com exemplos documentados do uso de ferramentas de síntese imagética no design de moda, proporcionando um referencial didático de consulta para estudantes, designers ou empresas de moda. Metodologia O principal método utilizado foi o levantamento teórico sobre a Sintaxe da Linguagem Visual, abordando a composição de imagens e as ferramentas de síntese imagética utilizadas na concepção de produtos de moda. Também foi utilizada uma pesquisa de campo com pro昀椀ssionais atuantes em empresas de moda para constatar o uso de imagens no processo criativo. A partir de tais análises, foram determinados os parâmetros de conteúdo do catálogo de referências. Sintaxe da linguagem visual A linguagem visual é construída por um vocabulário de elementos compositivos e suas relações, integrando pontos, linhas, planos, volumes, formatos, tamanhos, cores, texturas, direção, posição, espaço, etc. Esses elementos podem ser relacionados dentro de estruturas de organização, como repetição, gradação ou radiação, compondo uma gramática de informações não verbais, elaborada sobre os conceitos de polaridade das Técnicas Visuais: equilíbrio / instabilidade; unidade / fragmentação; previsibilidade / espontaneidade etc. Ferramentas de síntese imagética Para Sanches (2012) a síntese imagética auxilia na sistematização do projeto de design de moda e ao mesmo tempo é uma importante ferramenta metodológica na interpretação, expressão e disseminação da dimensão estético-simbólica de produtos, uma vez que, a percepção humana é amplamente dominada pela visão. Assim, quando uma imagem é observada, o cérebro identi昀椀ca seus componentes (linhas, cores, texturas etc.) e processa uma série de relações para produzir um signi昀椀cado (BAXTER, 1995). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 133 No âmbito do design de moda, a comunicação por meio de referências imagéticas, incluindo os desenhos de representação do produto, pode ser utilizada de acordo com a fase de projeto na qual o designer se encontra, conforme especi昀椀cado no Quadro 1. QUADRO 1 – FASES DE PROJETOS E FERRAMENTAS IMAGÉTICAS CORRESPONDENTES. FONTE: PRÓPRIA (2013, BASEADO EM HATADANI, 2011) Especi昀椀cação do Projeto Síntese do Universo do Consumidor Painel de Estilo de Vida: Coletânea de imagens que representam valores sociais e pessoais do público alvo a ser atingido. “[...] procura retratar também outros tipos de produtos usados pelo consumidor e que devem se compor ao produto a ser projetado” (BAXTER, p. 190, 1995). Pesquisa de Conteúdo de Moda Painel de Tendências: Coletânea de imagens de tendências de moda (microtendências) que auxiliam nas formas, cores e modelagem. Baseia-se no estudo de macrotendência, no qual é analisado o comportamento do consumidor. Delimitação Conceitual De昀椀nição de Princípios Funcionais e de Estilo Moodboard: Contém as impressões subjetivas, materializadas em uma coletânea de imagens, que o item a ser criado deve obter. Representa a emoção principal que o produto transmitirá ao primeiro olhar (BAXTER,1995). Painel Semântico: Imagem, ou composição sintética de imagens, que exprimem a linguagem estético-formal que os produtos deverão obter. “Para isso, os elementos visuais que o compõe devem ser analisados, selecionados e inter-relacionados [...]” (SANCHES, p. 4, 2007). Auxiliam na escolha de cores, formas, texturas etc. Painel de Tema Visual: Coletânea de imagens de produtos que possuem as mesmas impressões subjetivas que o produto a ser criado deverá ter. Geração de Alternativas Geração de alternativas de solução de problema Esboços e Croquis: “[...] caracteriza-se como um desenho ágil, realizado à mão, apenas com papel e lápis. Por meio dele, o designer consegue reproduzir todos os seus pensamentos, sem barreiras de restrição, assim como num brainstorming” (HATADANI; MENEZES, p. 72, 2011). Serve tanto para uma comunicação pessoal quanto para membros de uma equipe de projeto. Avaliação e Elaboração Escolha das alternativas Plano de Coleção: Reunião dos croquis selecionados e representados por “desenhos de estilo”, e não mais esboços, em uma única prancha. Serve para a veri昀椀cação da unidade da coleção e para comunicar sua intenção a terceiros, apresentando suas ideias às pessoas com poder de decisão sobre a fabricação dos produtos. Detalhamento e Con昀椀guração Desenhos Técnicos: “[...] linguagem grá昀椀ca utilizada na indústria, que tem como principal objetivo orientar a fabricação de um produto. Nele, a representação de formas, dimensões e detalhamentos ocorre por meio de linhas, números, símbolos e especi昀椀cações escritas e organizadas de forma precisa” (HATADANI; MENEZES, p. 76, 2011). Além de auxiliar na comunicação entre designer e produção, também ajuda o próprio designer na escolha de aviamentos, tipos de acabamentos e costuras justamente por ser uma representação grá昀椀ca que requer o máximo de detalhamento do produto. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 134 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL Pesquisa de campo Após a entrevista parcialmente estruturada com 4 designers atuantes no mercado, concluiu-se que cada um possui um processo criativo especí昀椀co e que muitas vezes estes são dependentes do local onde trabalham. Mesmo assim, todos utilizam e consideram a pesquisa com imagens essencial, mesmo que não construam painéis ou utilizem sempre uma mesma ferramenta em especí昀椀co. Catálogo virtual de referências Após a pesquisa bibliográ昀椀ca, percebeu-se que, para a utilização plena de ferramentas de síntese imagética, é muito importante um conhecimento prévio sobre a construção da sintaxe da linguagem visual. Neste sentido, Sanches (2012), descreve o percurso do raciocínio de composição visual da seguinte forma: FIGURA 1 – PERCURSO DO RACIOCÍNIO DE COMPOSIÇÃO VISUAL FONTE: Sanches (2012) Baseado nesse raciocínio, fez-se necessária a adição de informações sobre a sintaxe visual e suas aplicações na moda, com a intenção de embasar teoricamente o usuário do catálogo virtual para que o mesmo possa fazer uso das ferramentas de síntese imagética sem maiores di昀椀culdades. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 135 O catálogo foi organizado de forma simples em formato de CD com os seguintes tópicos principais: Introdução, Elementos e Princípios da Comunicação Visual, Técnicas Visuais, Série Fibonacci e Ferramentas de Síntese Imagética. FIGURA 2 – EXEMPLO DO CONTEÚDO DO CATÁLOGO FONTE: A autora (2013) No exemplo ilustrado pela Figura 2, observa-se o uso do contraste de gravidade (no caso, leve/pesado) na moda por meio da mistura de materiais: o couro, material de aspecto pesado e rígido, em contraste ao que parece ser umtecido leve e maleável, como o chi昀昀on. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 136 UNIDADE 2 — PERCEPÇÃO VISUAL FIGURA 3 – EXEMPLO DO CONTEÚDO DO CATÁLOGO FONTE: A autora (2013) Já no exemplo ilustrado pela Figura 3 observa-se na moda o uso da anomalia em estruturas por meio da abrupta diferença entre os lados direito e esquerdo do produto. A quebra da regularidade estrutural da estampa (listras) assim como a quebra da regularidade da modelagem, servem para causar um certo impacto ao consumidor no momento em que o produto foge de um modelo óbvio. Considerações 昀椀nais Embora o resultado do projeto seja pautado na investigação de aplicações práticas da linguagem visual, a pesquisa bibliográ昀椀ca mostrou-se fundamental para a elaboração do produto 昀椀nal. Sem ela, seria impossível delimitar diretrizes para o conteúdo do catálogo, para que este se tornasse realmente útil. Assim, após a pesquisa bibliográ昀椀ca, ocorreu a síntese dos principais conteúdos da Sintaxe da Linguagem Visual que deveriam estar presentes no CD, auxiliando o entendimento da leitura de imagens. Cada conteúdo foi ilustrado com exemplos de aplicação dos princípios de composição visual em diferentes áreas, além da moda. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — PRINCÍPIOS, TÉCNICAS E ELEMENTOS BÁSICOS DA COMPOSIÇÃO 137 Já a pesquisa de campo, serviu para con昀椀rmar a importância da pesquisa imagética no processo de criação dos designers, mesmo que estes não destaquem nenhuma ferramenta em especí昀椀co. Por 昀椀m, o resultado do projeto se mostrou satisfatório, uma vez que os objetivos foram atendidos e a importância das ferramentas de síntese imagética foi con昀椀rmada. FONTE: PRADO, M. M.; SANCHES, M. C. de F. Catálogo de referências para a síntese visual em projeto de design de moda. 2014. Disponível em: http://www.coloquiomoda.com.br/anais/ Coloquio%20de%20Moda%20-%202014/POSTER/POSTER-EIXO1-DESIGN/PO-EIXO-1-Catalogo- de-referencias-para-a-sintese-visual-em-projeto-de-design-de-moda.pdf. Acesso em: 13 out. 2020. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMAD A Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 138 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem mais princípios que a Lei da Gestalt apresenta, e eles são a harmonia; o contraste e o equilíbrio. • Nem sempre os princípios podem ser a estratégia a ser utilizada, podendo haver técnicas visuais que se opõem. • Muitas outras técnicas visuais podem ser exploradas, descobertas e empregadas na composição, sempre no âmbito da polaridade, algumas são: equilíbrio e instabilidade; regularidade e irregularidade; simplicidade e complexidade; unidade e fragmentação; economia e profusão; minimização e exagero; previsibilidade e espontaneidade; atividade e estase; sutileza e ousadia; neutralidade e ênfase; transparência e opacidade; estabilidade e variação; exatidão e distorção; planura e profundidade; singularidade e justaposição; sequencialidade e acaso; agudeza e difusão; e repetição e episodicidade. • A análise de um objeto pode identi昀椀car muitas das técnicas e dos princípios em sua estrutura. • Um pro昀椀ssional pode usar dos mais variados princípios e de inúmeras técnicas para compor a estrutura do seu objeto. • Ponto, linha, forma, direção, movimento, escala, dimensão, textura, tom e cor compõem o Alfabeto Visual. • Existem três formas básicas: o quadrado, o triângulo e o círculo. • Toda e qualquer forma surge da combinação das formas básicas. • Imagens estáticas podem estar em movimento, basta que se trabalhe posicionamento e composição de seus elementos. • Textura e tonalidade podem contribuir para a representação tridimensional em imagens bidimensionais. • Conseguimos expressar informações através de desenhos em preto e branco, mas quando inserimos cor, exaltamos sentidos emocionais. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 139 AUTOATIVIDADE 1 Voltamos a vitrine tratada nesta unidade (h琀琀ps://www.fashionismo.com. br/2010/08/o-poder-de-uma-vitrine/). Ela tem em sua composição muitas das técnicas estudadas até aqui. A alternativa que pode preencher os espaços correspondentes é: a) ( ) Primeira técnica: distorção; segunda técnica: planura; terceira técnica: acaso. b) ( ) Primeira técnica: distorção; segunda técnica: repetição; terceira técnica: acaso. c) ( ) Primeira técnica: exatidão; segunda técnica: assimetria; terceira técnica: espontaneidade. d) ( ) Primeira técnica: exatidão; segunda técnica: simetria; terceira técnica: previsibilidade. e) ( ) Primeira técnica: economia; segunda técnica: planura; terceira técnica: ousadia. 2 Voltamos à mesma vitrine do exercício anterior. Por se tratar de uma imagem visual ela tem os elementos ponto, linha, forma, direção, movimento, escala, dimensão, textura, tom como seu alfabeto visual. Leia atentamente as sentenças a seguir e assinale a alternativa CORRETA: Primeira Técnica: Segunda Técnica: Terceira Técnica: Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 140 FONTE: <https://www.fashionismo.com.br/2010/08/o-poder-de-uma-vitrine/>. Acesso em: 27 ago. 2020. a) ( ) A imagem não permite assumir que o elemento dimensão existe, pois não há nem perspectiva e nem textura que reforce isso. b) ( ) O contraste do elemento que representa o cabelo da modelo pode ser entendido como ponto visual – pois concentra e atrai a atenção da cena. c) ( ) As linhas verticais não sugerem direcionamento, pois estão paralelas uma as outras. d) ( ) Existe variação tonal na imagem é fraca e insu昀椀ciente para diferenciar os elementos que compõem a imagem. e) ( ) Os objetos que compõem a imagem não variam em escala. 3 “A importância e o signi昀椀cado do contraste começa no nível básico da visão pela presença ou ausência da luz. É a força que torna visível as estratégias da composição visual. É de todas as técnicas a mais importante para o controle visual de uma mensagem bi ou tridimensional. É também um processo de articulação visual em uma força vital para a criação de um todo coerente” (GOMES FILHO, 2008, p. 62). A partir da leitura desse texto avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- O contraste ganha valor à medida que ele potencializa as oposições, como comentamos inicialmente, o traço escuro sobre um fundo branco potencializa a visualização de um desenho. Entendendo isso é preciso sutileza para trabalhar com ele, ainda mais quando optar pelo contraste é estratégia é expressar, transmitir uma ideia. PORQUE II- É pelo contraste que aguçamos muitos dos signi昀椀cados, como poderíamos identi昀椀car uma placa de trânsito se ela não contrastasse com o fundo dela? Como entenderíamos a felicidade sem ter experenciado a tristeza? Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 141 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não complementa a I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II complementa corretamente da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, ea II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. 4 Quando vamos fazer uma fotogra昀椀a (tirar uma foto), somos levados, mesmo que intuitivamente, a organizar o que queremos fotografar. Enquadramos o que deverá compor nossa foto, e capturamos a cena em nossa câmera fotográ昀椀ca. Ao analisarmos a foto feita, nosso olhar percorre a imagem, fazendo valer dos princípios da percepção visual – um deles é o eixo de simetria. A partir da a昀椀rmação feita, explique o que é o eixo de simetria. 5 Assim como o alfabeto e a gramática 昀椀cam à disposição do escritor, os elementos visuais 昀椀cam à disposição do artista visual e do designer, que, dado o seu repertório gramatical visual (caso do entendimento dos princípios e das técnicas visuais), garantirá composições que sejam lidas, compreendidas e convençam a aquisição de seus valores por parte de seus consumidores. Os elementos visuais formam a base do que vemos, como letras de um alfabeto: ponto, linha, forma, direção, movimento, escala, dimensão, textura, tom e cor mesclam-se, construindo elementos que, sozinhos ou em conjunto, formam as composições visuais. Um pequeno número que é matéria prima de toda e qualquer informação visual. A partir da leitura desse texto conceitue o elemento: Linha. Dissertando como ela surge e qual o poder dela como elemento visual. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 142 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 143 REFERÊNCIAS ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. COSTA, F. S. M. et al. Uma luz para os cegos: uma re昀氀exão sobre os conceitos de “ver” e “enxergar” à luz da literatura. Campina Grande: UEPB, 2015. Disponível em: h琀琀ps://scholar.googleusercontent.com/ scholar?q=cache:FMdzZBXQsTgJ:scholar.google.com/+ver+e+enxergar&hl=pt- BR&as_sdt=0,5. Acesso em: 15 ago. 2020. CRARY, J. Suspensions of perception – a琀琀ention, spectacle, and modern culture. Massachuse琀琀s: MIT Press, 1999. DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997. GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual. São Paulo: Escrituras Editora, 2008. MUNARI, B. Design e comunicação visual: contribuição para uma metodologia didática. São Paulo: Martins Fontes, 1997. STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. São Paulo: CENGAGE Learning, 2010. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 144 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 145 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a maneira como a percepção visual se relaciona com o estilo dos produtos; • entender, de forma prática, a semiótica como ferramenta de análise crítica; • conhecer princípios de análise semiótica com base na semiologia; • escolher quais princípios de análise podem ser usados em sua atuação pro昀椀ssional. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A PERCEPÇÃO VISUAL E OS PRINCÍPIOS DE ESTILO TÓPICO 2 – ANÁLISE DICOTÔMICA TÓPICO 3 – ANÁLISE TRICOTÔMICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMAD A Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 146 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 147 UNIDADE 3 TÓPICO 1 — A PERCEPÇÃO VISUAL E OS PRINCÍPIOS DE ESTILO 1 INTRODUÇÃO As habilidades e as competências desenvolvidas em pro昀椀ssionais de criação – caso dos designers, arquitetos, artistas, entre outros – é alavanca para a identi昀椀cação de estilos individuais, que quando bem trabalhados permitem criações com forte impacto inovador. Alcançar o estilo em projeto é garantir uma qualidade provocante, principalmente no ato de chamar a atenção, de atrair a atenção de outras pessoas. De certo modo, esse seria um dos requisitos mais procurados pelos empregadores e pelo cliente no mercado atual. A capacidade de dar estilo às ideias deve ser estimulada para que seja possível expressar algo atrativo, que, para determinado per昀椀l de pessoas, seja belo. Essa capacidade de dar estilo agrega valor aos produtos, mesmo que em muitos casos a mudança seja apenas super昀椀cial – caso do produto de moda, que a cada nova estação não muda suas estruturas construtivas (modelagem, corte, acabamento), mas declara mudanças em sua composição visual (cartela de cor, de aviamentos, entre outros). Desenvolver habilidades e competências que promovam o estilo é muito importante. Para isso, entender a semiótica e a percepção visual se faz coerente, e, ainda mais, conhecer os princípios de estilo. Neste tópico, voltaremos ao que já foi estudado nas unidades anteriores, mas com um foco mais prático, dando ênfase aos princípios de estilo, propondo uma abordagem voltada ao desenvolvimento de projeto que se direcionam aos objetivos especí昀椀cos: sensibilizar e instrumentalizar o discente para o uso, intencional, de elementos da linguagem visual; e potencializar a capacidade analítica e crítica do discente com base em fundamentos que suportem seus posicionamentos pro昀椀ssionais. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL 148 A noção de que quando expressamos uma ideia, ou entramos em contato com alguma expressão, nossos cinco sentidos são estimulados é ponto inicial para que possamos falar do estilo como princípio regulador do fazer em projeto. De fato, cada vez mais somos estimulados e podemos estimular todos os sentidos – caso de uma loja, que além do visual, de fragrância própria, tem música ambiente, permite que os produtos sejam tocados e em alguns casos nos dão experiências degustativas de seu conceito. Em uma experiência dessa, quando bem realizada, o cliente é impactado positivamente. Todavia, deve-se considerar que grande parte das experiências se fazem no campo do sentido visual. A percepção visual é o estímulo maior nas experiências de consumo, e muito da atratividade de um produto depende do estilo visual dele. Como já estudamos, a visão humana se dá pelo olho. A luz emitida por um objeto entra nesse órgão sensorial e atinge as células na retina, gerando um impulso elétrico. A tudo que se vê, é fruto da interpretação que o cérebro dá conta de processos que ocorrem no sistema nervoso, que é capaz de dividir os diversos componentes dos impulsos (imagem) que lhe chegam – caso de pontos, linhas, cores, direções, entre outros. Todos esses componentes transmitidos ao cérebro produzem signi昀椀cados e podem ou não ser memorizados pelo indivíduo. A engenhosidade cerebral é interessante. Basicamente, ela processa de algumas maneiras, trataremos de três, como faz Mike Baxter (2011), em sua obra Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos: os dois estágios do processamento visual; a primeira percepção global; e a hipótese visual. 3 OS DOIS ESTÁGIOS DO PROCESSAMENTOVISUAL Quando uma imagem nos chega à visão damos contas de abordá-la de duas formas, em dois estágios. No primeiro estágio, a visão varre a imagem, como um grande “scanner” ela busca padrões e formas. Se faz de forma involuntária. Perceba que essa involuntariedade tem relação direta com a primeiridade na semiótica peirciana? Vasculhe uma imagem desta forma, olhe para toda a composição de forma bem geral, não dirija o olhar nem a atenção – deixe os movimentos do olho vagarem involuntariamente – nesse “scanneamento” tudo que for identificado (padrões, formas) e dão conta de representar alguma coisa, pode ser entendido como a primeiridade de Peirce. NOTA 2 PRINCÍPIOS E HABILIDADES DE ESTILO Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — A PERCEPÇÃO VISUAL E OS PRINCÍPIOS DE ESTILO 149 FIGURA 1 – PROCESSAMENTO VISUAL FONTE: Adaptado de Baxter (2011, p. 49) Esta 昀椀gura ilustra estes dois estágios. Uma primeira varrida do olhar destaca se existe algo diferente na composição no canto superior direito dela. Para perceber isso o esforço foi mínimo e não foi preciso investir intencionalmente atenção – eis aqui o primeiro estágio. Todavia, se vagarmos com intencionalidade a composição, nos esforçando, é possível identi昀椀car uma forma retangular com seis letras X em negrito de altura e oito letras X em negrito de largura. Perceba que a intencionalidade – o esforço que empreendemos em analisar uma imagem ou composição – já nos impõe uma tarefa de legitimar o que é diferente, o que se destaca. Quando isso ocorre, pode ser atribuída a ideia de secundidade do signo peirceano. Ao tentarmos particularidades, abandonamos a primeiridade de um vasculhar involuntário. NOTA O segundo estágio inicia quando passamos a dar foco intencional aos detalhes da imagem. Quando algumas partes da composição nos chama a atenção. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL 150 4 A PRIMEIRA PERCEPÇÃO GLOBAL Todo o processo que ocorre no primeiro estágio pode ser entendido como primeira percepção global, ela se dá nos momentos que antecedem a atenção voluntária global (segundo estágio); e ela é global pois, como tratamos, ela “scannea” toda a imagem, ela se dá no olhar do todo e não para detalhes, por mais que esse olhar do todo já mostre padrões e formas que se destacam, orientando ao segundo estágio – onde acontecerá o olhar focalizado. De certa forma, a qualidade dessa “scanneada”, a paciência é primeiro olhar o todo, sem assumir nenhum foco, dará suporte qualitativo quando o momento de focar surgir. Como vimos na 昀椀gura anterior, a “scanneada” na imagem permitiu visualizar uma área de interesse (o retângulo de X em negrito); e de imediato a atenção parece parar aí! E não nos permitimos voltar a “scannear” novamente a composição como um todo. Perceba se você notou um outro X em negrito? Ele está no canto inferior esquerdo. Sim! Ele é menor (único), mas se destaca na composição. Perceba que após o visualizarmos, nossa atenção começa a assumir o foco nesta outra parte da composição – dando mais qualidade à análise da imagem como um todo. Se pararmos nos primeiros elementos que se destacam, podemos perder a identi昀椀cação de outros elementos, não mais nem menos importantes, mas potentes em garantir um olhar inovador, criativo, diferente e com estilo. Outro exemplo clássico nas teorias e percepção visual, inclusive na Gestalt, é o caso das imagens ambíguas, dado primeiro estágio do olhar podemos visualizar uma determinada forma, um determinado discurso visual; e corremos o risco de não visualizamos outra forma, outro discurso – que faria a imagem ser, de fato, ambígua. Veja a imagem a seguir: FIGURA 2 – IMAGEM AMBÍGUA FONTE: <http://twixar.me/Vjgm>. Acesso em: 19 out. 2020. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — A PERCEPÇÃO VISUAL E OS PRINCÍPIOS DE ESTILO 151 Este é um caso de imagem ambígua, mostrando a cabeça e os ombros de uma jovem, com a face voltada para o fundo da 昀椀gura. Mostra também a face de uma idosa, em per昀椀l. É impossível perceber simultaneamente as duas imagens, devido à primeira percepção global. Se a mente se 昀椀xar em uma das duas imagens, uma percepção global será produzida. Você, então, pode examinar os detalhes: na jovem, a linha pronunciada do queixo, a elegância da gargantilha, o lenço volumoso sobre a cabeça e o luxuoso casaco. Na senhora idosa, o nariz aquilino, a protuberância do queixo, os lábios 昀椀nos e os olhos profundos. Geralmente, a imagem que você perceber primeiro vai determinar a estratégia para a exploração posterior dos detalhes. Para enxergar outra imagem, você precisará piscar, desviar os olhos ou tirar a 昀椀gura temporariamente do campo de visão. É como se fosse necessário apagar a primeira imagem. Depois de percebida essa segunda imagem, ela determinará também a exploração posterior dos seus detalhes, de modo que não é possível perceber uma das imagens e explorar os detalhes da outra (BAXTER, 2011, p. 50-51). Interessante perceber quanto uma imagem, um objeto, que nos chega pela percepção visual, tem poder em atrair nossa atenção. Faz de maneira geral incialmente e depois nos prende em seus detalhes. Eis aqui um princípio do design para Mike Baxter (2011, p. 50): “chamar a atenção e depois prender a atenção”. No projeto de uma vitrine em um shopping, por exemplo, ela precisa atrair a atenção dos transeuntes. Inicialmente, eles não saberão do que se trata, mas os olhos vão “scannear”, varrer (primeiro estágio) e organizar elementos e formas que se destacam (segundo estágio), levando-os a darem foco a esses elementos e essas formas. Nesse momento, a vitrine prendeu a atenção deles – e atualmente isso já pode ser considerado um sucesso no projeto, tendo em vista a quantidade vitrines, de informações que o transeunte está recebendo naquele momento. Veja, que se o primeiro estágio não funcionar, nada adiantará o segundo. 5 A HIPÓTESE VISUAL Todo esse processo de perceber visualmente uma imagem, entendendo os dois estágios e a ambiguidade das imagens, precisa ser percebido como insu昀椀ciente, a昀椀nal de contas, muitas imagens não declaram visualmente, não explicitam em sua composição o que podem querer discursar. Essa incompletude imagética, da mesma forma que a completude, nos faz de昀椀nir hipóteses visuais mentais que projetamos sobre a imagem visualizada, ou seja, somos levados a ver com o cérebro – já tratamos disso na Unidade 2. Padrões visuais nos fazem ver formas que não existem na imagem, mas na nossa mente, por mais que as formas estejam incompletas na imagem, em nossa cabeça elas se completam, dando conta de declarar coisas que não estão explícitas na imagem. Vamos trazer uma imagem que já utilizamos anteriormente para ilustrar a hipótese visual: Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL 152 FIGURA 3 – HIPÓTESE VISUAL FONTE: <https://www.yescert.com.br/voce-conhece-o-inmetro/>. Acesso em: 17 ago. 2020). Ao olharmos para as duas composições visuais desta 昀椀gura, nossa mente organizará hipóteses visuais sobre as formas, que dada a proximidade e fechamento nos induzem a vermos imagens que não estão materializadas na imagem. A esquerda vemos um triângulo enquanto na direta vemos uma imagem ambígua que dá conta de formar as duas letras da marca INMETRO. Essas descobertas sobre o nosso processo visual contrariam algumas noções intuitivas. Intuitivamente, acreditamos que os nossos olhos são janelas para o mundo. Mas não é bem assim. Nós enxergamosaquilo que pensamos ver. Nós olhamos para uma imagem e, sem perceber, extraímos suas principais características. A partir dessas características, a nossa mente trabalha na sua identi昀椀cação com algum padrão conhecido. Segue-se uma visão mais focalizada, guiada por essa visão inicial, para se examinar detalhes (BAXTER, 2011, p. 52). Se entendermos que muito do que pensamos está atrelado ao nosso repertório cultural, podemos entender que vemos o mundo com certa arbitrariedade – ou seja, visualizamos no mundo muitas coisas que o nosso contexto cultural, social, econômico e ideológico nos dita como coerentes (e até mesmo corretos). Essa arbitrariedade entendida como basilar das hipóteses visuais poder ajudar a entender a terceiridade do signo peirceano. Se ao vasculhar a imagem de forma involuntária, sem nenhum esforço relacionamos com a primeiridade; e quando já assumimos uma postura voluntária de identificar padrões e formas dando atenção voluntária a eles assumimos como secundidade; será terceiridade quando, de certo modo, passamos a ver, a partir de padrões arbitrariados pela cultura ideológica (por exemplo) imagens que não estão declaradas, da mesma quando conseguimos nominar o que estamos vendo – caso da imagem ambígua mulher jovem ou mulher idosa – precisamos arbitrariamente saber o que define uma mulher, juventude e velhice. NOTA Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — A PERCEPÇÃO VISUAL E OS PRINCÍPIOS DE ESTILO 153 A percepção global é responsável, em grande parte, pela percepção do estilo, da mesma forma que sua noção contribui, como habilidade, para o desenvolvimento de um objeto estiloso. Quando um objeto é percebido globalmente, quando ocorre o “scanneamento” ocorre a atração – atrair é sem dúvida uma das principais estratégias de todo e qualquer material que está em oferta. Após a tração, imediatamente ocorre a fase de pré-atenção, como a昀椀rma Baxter (2011), onde se realizam alguns julgamentos ainda sem maiores deliberações e exames detalhados. Tente lembrar de um objeto, e perceba que a primeira imagem que vem é a visão global dele. Conseguimos, inclusive, ter a visão do seu estilo. Aí está a con昀椀rmação da importância da percepção global, e quanto o estilo de um produto depende desta primeira abordagem. Até mesmo no processo criativo, quando estamos certos do conceito a ser trabalhado, e iniciamos a fase de geração de alternativas, os primeiros esboços dão conta, em sua maioria, da forma global do produto. Nossa habilidade de representação nos leva a desenhar formas e composições que tenham o poder representativo do global, e ao se con昀椀rmando essa forma geral, os detalhes começam a ganhar atenção. Como bom escritor, precisamos dar conta de respeitar algumas regras básicas da escrita visual. Falamos muito disso na unidade anterior, mas é preciso trazer aqui um recorte do que foi lá tratado. Como dito, todo o aparato sensorial humano, atribui enorme valor à visão. Sim! Precisamos estimular os outros sentidos e nos dar o deleite de sentir e até de oferecer experiências sensoriais que envolvam estes outros – caso de marcas, que além do desenho da marca e sua aplicabilidade na fachada da loja e nos uniformes, tem um cheiro, uma música e permite que seus produtos sejam tocados – todas essas experiências ajudam a dar força ao conceito da marca e garantir a memorização do estilo da marca. Todavia, neste pequeno exemplo, a percepção visual parece ser a porta de entrada dessa experiência. A Teoria da Gestalt sugere que a visão tem uma predisposição de reconhecimento por meio de padrões. Ao lançarmos o primeiro olhar a uma cena, a um objeto, nosso sistema perceptivo, em especial, o cérebro, ao “scannear” identi昀椀ca alguns desses padrões e os ajusta, internamente, em uma imagem mental que seja capaz de conferir signi昀椀cados. Esse processo não é nato, ele vem se construindo a partir dos estímulos visuais que recebemos durante nosso crescimento – 昀椀que à vontade para pensar em quantos estímulos recebermos, e, quanto mais estímulos, mais potente o processo! Já estudamos os princípios que regem a Gestalt e a percepção visual, todavia, focaremos em alguns deles, como os padrões tratados aqui. O padrão mais observado nessa primeira abordagem do olhar é a simetria. O ser humano é hábil em criar eixos de simetria em tudo o que vê, parece uma “vontade de equilíbrio”, somos levados a comparar as partes de uma cena, de um objeto, para ver se o mesmo se mostra equilibrado – assim, comparamos a parte direita com a esquerda – criando imaginariamente uma linha que o divide, quase que metricamente. Comparamos também a parte de cima com a parte de baixo, e assim por diante. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL 154 FIGURA 4 – EIXOS DE SIMETRIA FONTE: O autor Somada a essa “vontade de equilíbrio”, que nos permite analisar simetricamente as coisas, outros dois padrões se somam: proximidade e continuidade. No primeiro, agrupamos formas próximas, dando a elas uma visão de conjunto. Enquanto no segundo, somos levados a dar continuidade à trajetória de uma linha, de um conjunto de coisas, que dirigem nosso olhar, prolongando sua sequencialidade. FIGURA 5 – PROXIMIDADE E CONTINUIDADE FONTE: Adaptado de <https://caelum-online-public.s3.amazonaws.com/1631-gestalt/ Transcri%C3%A7%C3%A3o/Imagens/1_2_1_cachorro.jpg>. Acesso em: 7 out. 2020. Com base nesses três padrões, uma característica que 昀椀ca acentuada na percepção humana é a habilidade de separar o que se julga ser mais importante – ou seja, dar ênfase, destaque ao que consideramos ser mais importante no momento em que olhamos a imagem. Essa característica é responsável por conseguirmos distinguir, em uma cena, a “昀椀gura” e o “fundo”. Quando olhamos uma fotogra昀椀a nossa em uma viagem, perceba que somos levados a nos colocar como “昀椀gura” e toda a cena enquadrada do lugar que estávamos como “fundo”. Isso 昀椀ca tão evidente, que chamamos a foto de: “minha foto” – por mais que seja uma composição plana – em um papel, em uma tela de celular, evidenciamos o Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — A PERCEPÇÃO VISUAL E OS PRINCÍPIOS DE ESTILO 155 que nos atrai. Imagine que essa foto tenha ao fundo um edifício de um grande arquiteto. Se sua foto estiver em suas redes sociais e, por acaso, ser acessada por um estudante de arquitetura que não conhece você, mas conhece o edifício, para ele a “昀椀gura” será o edifício, e o você fará parte do “fundo”, inclusive essa pessoa poderá usar essa foto para ilustrar seu trabalho, chamando a foto pelo nome do edifício ou do arquiteto. Isso explicaria quando dirigimos a cena, antes de fotografá-la, pois, uma vez colocado o que queremos como “昀椀gura” (e isso pode ocorrer centralizando esses elementos no centro geométrico do enquadramento ou ofuscando os outros elementos), delegamos ao restante dos elementos o “fundo” da composição. Permitir esse jogo entre “昀椀gura” e “fundo” pode ser uma estratégia interessante para atrair a atenção de um número maior de pessoas. Um exemplo para isso pode ser visto na imagem ambígua (Figura 2), utilizada anteriormente, nossa visão 昀椀ca pulando entre “昀椀gura” e “fundo”, dando 昀椀guração à jovem em um momento e à idosa em outro. Esta capacidade da imagem de ser “昀椀gura” ou” fundo” está diretamente relacionada aos padrões simetria, proximidade e continuidade, somando a estes as noções de tamanho relativo – proporção, contorno e orientação. “Quanto mais a imagem for simétrica, relativamente pequena, contornada e orientada no sentido horizontal ou vertical, será mais facilmente identi昀椀cada com 昀椀gura” (BAXTER, 2011, p. 57). FIGURA 6 – FIGURA OU FUNDO FONTE: O autor Percebaque ao ganhar proximidade, simetria e contorno a imagem da direita permite que possamos ora ver duas faces de per昀椀l, ora ver uma taça. Essa ambiguidade ilustra o que estamos tratando aqui de “昀椀gura” ou “fundo”. Fica evidente a importância da Gestalt no estilo dos produtos. A capacidade de valorizarmos o todo, a visão global, efetivando a integração de todos os componentes evidencia a funcionalidade das relações das partes em decorrência do todo, porém, além de considerar a percepção visual, as composições formais dos objetos, como eles são formatados – sua materialidade, é preciso considerar que muito desta percepção – como já comentamos da unidade anterior – está impregnada da maneira como pensamos – lembre-se das diferenças dentre o “ver” e o “enxergar”. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL 156 Fatores socioculturais, econômicos, históricos, in昀氀uenciam diretamente em como percebemos e valoramos as coisas. Há pouco vimos que uma foto sua em uma viagem pode ser vista de outra maneira por outra pessoa. É isso! Nosso olhar é dirigido por como “pensamos” o mundo – e a maneira que pensamos é resultado de toda uma vida de aprendizado que empreendemos durante nossa vida. Se olharmos três fotogra昀椀as de épocas diferentes (uma de hoje, uma de três anos e outra de seis anos atrás), e por mais que escolhíamos o que vestir, veremos pelas roupas das fotos como somos in昀氀uenciados pelas tendências de moda e comportamento. A cada ano, mudanças sutis reorganizam o nosso estilo. Entender esse mecanismo, e programar habilmente nossos projetos para que sejam capazes de, em suas composições, apresentarem o que é desejoso pelos clientes é estratégia importante para promover um impacto positivo no comércio. Todavia, além do fenômeno das tendências de moda, o efeito cultural sobre a percepção visual é mais longo e in昀氀uencia valores e crenças pessoais. Se por um lado as tendências de moda contribuem para que tenhamos gostos parecidos, os in昀氀uenciados pela cultura nos permitem ter gostos individuais, então, é possível uma pessoa ser atraída por um objeto e outra não. “Certas in昀氀uências culturais no estilo de produtos podem ter um ciclo de longa duração chegando a ser centenárias” (BAXTER, 2011, p. 74), mas é interessante perceber que por mais que tenhamos essas in昀氀uências: das tendências de moda e da cultura; o estilo visual de um produto, em grande parte, será demandado pelo seu cliente, podendo ter três níveis de determinação: 1. NÍVEL BÁSICO – pelo momento que o produto é acessado pelo nosso sistema visual. O momento que chamamos anteriormente de “scanneamento”, em que ao determinar nossa percepção visual, direcionará elementos onde o foco do olhar se concentrará. 2. NÍVEL INTERMEDIÁRIO – a partir do momento em que o foco do olhar acontece, atributos especí昀椀cos do processo visual são declarados. Passamos a dar atenção aos elementos especí昀椀cos, que pode ser uma marca, um acabamento ou um detalhe estrutural. 3. NÍVEL MAIS ELEVADO – ao focarmos aos detalhes, depois de uma investida visual no todo, os fatores sociais, culturais e comerciais determinam o estilo do objeto que estamos percebendo. Nesse momento, muito do que nos chegou cultural, social e economicamente ajudará a perceber valores no objeto, permitindo entender seu valor e iniciar o momento da aquisição. O estilo de um produto deve ser considerado um momento do projeto que ocorre em conjunto com outras áreas e em todas as fases de desenvolvimento. Não pode e nem deve ser considerado apenas na fase 昀椀nal – pois em grande parte, o estilo é condicionado e condicionador dos elementos estruturantes, dos materiais, da composição do objeto desde seu início. Como salienta Baxter (2011, p. 77): “As decisões sobre o estilo precisam ser tomadas em todas as fases, desde o planejamento do produto até a engenharia de produção”. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 1 — A PERCEPÇÃO VISUAL E OS PRINCÍPIOS DE ESTILO 157 É importante perceber que a percepção visual e a capacidade de analisar e criticar projetos de design, a partir da noção de percepção visual, com base na semiótica (objetivo desta disciplina), potencializa a habilidade de pensar os projetos de forma mais atrativas, inclusive através do estilo do produto. De fato, a atração é requisito básico de todo objeto que objetiva alcançar seu mercado, e, para isso, é preciso considerar que: • um objeto pode chamar atenção de várias formas, inclusive por ser visualmente agradável. Perceba quantas vezes você desvia o olhar do que está fazendo para ver uma pessoa bem vestida; um jardim bem decorado. Certamente isso acontece quando em meio a vários produtos, um lhe chama atenção. • ao chamar a atenção um objeto passa a ser desejável. Perceba que a maioria dos produtos que passamos a desejar ganham destaque em nossa atenção. • se pensarmos nestes dois momentos – o produto que chama a atenção e, ao mesmo tempo, é desejável, tem forte poder de atração – ou seja, é atraente. Portanto, quando somos capazes, como projetistas, de desenvolver/projetar produtos que chamem a atenção pelo seu estilo, e que esse estilo está em linha com os comportamentos de voga no mercado, estamos entregando ao mercado produtos atraentes – com forte poder de consumo. Basicamente, o que nos atrai está relacionado com quatro coisas (BAXTER, 2011): o que já é conhecido; o que parece funcionar bem; o que parece ajudar a dizer quem sou; e o que é bonito. Perceba que, quando na composição de um produto a ser percebido visualmente, escolhemos uma ou mais dessas coisas, e estamos assumindo a habilidade de compor objetos com base nos princípios da percepção visual (Unidade 2), compreendendo que o objeto que estamos desenvolvendo tenha a capacidade de signi昀椀car produtos que o cliente já conheça; ou representar seu funcionamento; ou dar conta de simbolizar status, de昀椀nindo a pessoa que o usará; ou ser signi昀椀cante dentro dos valores de beleza considerados pelo mercado consumidor, ou seja, precisamos ter a competência, também, em semiótica (Unidade 1). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 158 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem dois estágios para o processamento visual; a primeira percepção global; e a hipótese visual. • Que a capacidade da imagem de ser “昀椀gura” ou “fundo” está diretamente relacionada aos padrões simetria, proximidade e continuidade, somando a estes as noções de tamanho relativo – proporção, contorno e orientação. • Que fatores socioculturais, econômicos, históricos, in昀氀uenciam diretamente em como percebemos e valoramos as coisas. • O estilo visual de um produto, em grande parte, será demandado pelo seu cliente, podendo ter três níveis de determinação: nível básico (“scanneamento” visual); nível intermediário (foco nos atributos especí昀椀cos do processo visual); e nível mais elevado (percepção dos valores do objeto com base na cultura, sociedade e economia permite assumir o seu entendimento). • O estilo de um produto deve ser considerado um momento do projeto que ocorre em conjunto com outras áreas e em todas as fases de desenvolvimento. RESUMO DO TÓPICO 1 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 159 1 Quando olhamos uma vitrine, durante um passeio no shopping, rapidamente conseguimos ter alguns posicionamentos frente a ela. Sabemos, por exemplo, se somos ou não o público-alvo; os produtos que a loja vende e até mesmo conseguimos ter noção de quanto custaria uma compra naquela loja. Vamos tomar a vitrine já utilizadaem nossa disciplina, da rede De Fursac. FONTE: <https://i2.wp.com/farm6.static.flickr.com/5301/5660386039_bde9ceb848. jpg?zoom=2>. Acesso em: 12 out. 2020. Sobre o processo visual aplicado nessa situação, pode-se a昀椀rmar que: I- Ocorrem dois estágios no processo visual, a percepção global e a hipótese visual. II- As condições culturais, sociais e econômicas que formam o repertório do expectador não in昀氀uenciam nada na percepção visual. III- A percepção visual, no primeiro estágio, a visão varre a imagem, como um grande “scanner” ela busca padrões e formas. Faz-se de forma involuntária. IV- A hipótese visual, no segundo estágio, tem o seu início quando passamos a dar foco intencional aos detalhes da imagem. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a a昀椀rmativa I está correta. b) ( ) Todas as a昀椀rmativas estão corretas. c) ( ) Somente a a昀椀rmativa III está correta. d) ( ) As a昀椀rmativas I, III e IV estão corretas. AUTOATIVIDADE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 160 2 A imagem que ilustra essa questão “é um caso de imagem ambígua, mostrando a cabeça e os ombros de uma jovem, com a face voltada para o fundo da 昀椀gura. Mostra também a face de uma idosa, em per昀椀l. É impossível perceber simultaneamente as duas imagens, devido à primeira percepção global. Se a mente se 昀椀xar em uma das duas imagens, uma percepção global será produzida. Você, então, pode examinar os detalhes: na jovem, a linha pronunciada do queixo, a elegância da gargantilha, o lenço volumoso sobre a cabeça e o luxuoso casaco. Na senhora idosa, o nariz aquilino, a protuberância do queixo, os lábios 昀椀nos e os olhos profundos. Geralmente, a imagem que você perceber primeiro vai determinar a estratégia para a exploração posterior dos detalhes. Para enxergar outra imagem, você precisará piscar, desviar os olhos ou tirar a 昀椀gura temporariamente do campo de visão. É como se fosse necessário apagar a primeira imagem. Depois de percebida essa segunda imagem, ela determinará também a exploração posterior dos seus detalhes, de modo que não é possível perceber uma das imagens e explorar os detalhes da outra” (BAXTER, 2011, p. 50-51). A imagem é chamada “My Wife and My Mother-in-Law” (“Minha Esposa e Minha Sogra”, em tradução livre) é uma ilusão de ótica muito conhecida, criada pelo cartunista britânico William Ely Hill, em 1915. FONTE: <http://twixar.me/Vjgm>. Acesso em: 19 out. 2020. A partir da leitura desse texto avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- A primeira impressão de uma imagem é resultado da percepção dela como um todo. PORQUE II- As teorias de percepção visual, inclusive na Gestalt, entendem que no primeiro estágio do olhar podemos visualizar uma determinada forma, um determinado discurso visual; correndo o risco de não visualizamos outra forma, outro discurso – que faria a imagem ser, de fato, ambígua. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 161 A respeito dessas asserções, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justi昀椀cativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justi昀椀cativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 3 O estilo visual de um produto pode ter três níveis de determinação. Sobre estes níveis, analise as sentenças a seguir: I- O nível básico é responsável pelo momento que o produto é acessado pelo nosso sistema visual. O momento que chamamos anteriormente de “scanneamento”, em que ao determinar nossa percepção visual, direcionará elementos onde o foco do olhar se concentrará. II- No nível intermediário se dá o foco do olhar, onde atributos especí昀椀cos do processo visual são declarados. Passamos a dar atenção aos elementos especí昀椀cos – que pode ser uma marca, um acabamento, um detalhe estrutural. III- No nível mais elevado, focando nos detalhes, percebemos que os fatores sociais, culturais e comerciais determinam o estilo do objeto que estamos percebendo. Nesse momento, muito do que nos chegou culturalmente, socialmente e economicamente ajudará a perceber valores no objeto, permitindo entender seu valor e iniciar o momento da aquisição. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a a昀椀rmativa I está correta. b) ( ) Todas as a昀椀rmativas estão corretas. c) ( ) Somente a a昀椀rmativa III está correta. d) ( ) As a昀椀rmativas I, III e IV estão corretas. 4 As “descobertas sobre o nosso processo visual contrariam algumas noções intuitivas. Intuitivamente, acreditamos que os nossos olhos são janelas para o mundo. Mas não é bem assim. Nós enxergamos aquilo que pensamos ver. Nós olhamos para uma imagem e, sem perceber, extraímos suas principais características. A partir dessas características, a nossa mente trabalha na sua identi昀椀cação com algum padrão conhecido. Segue-se uma visão mais focalizada, guiada por essa visão inicial, para se examinar detalhes” (BAXTER, 2011, p. 52). Qual é o papel do contexto cultural, social e econômico na percepção visual de uma pessoa? 5 A percepção visual e a capacidade de analisar e criticar projetos de design, a partir da noção de percepção visual com base na semiótica, potencializa a habilidade de pensar os projetos de forma mais atrativa, inclusive através do estilo do produto. De fato, a atração é requisito básico de todo objeto que pretende alcançar o seu mercado. Cite dois requisitos de atração de um objeto, explicando-os. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 162 Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 163 UNIDADE 3 TÓPICO 2 — ANÁLISE DICOTÔMICA 1 INTRODUÇÃO Iniciamos o segundo tópico desta unidade. Entramos no momento da disciplina mais prático. Analisaremos imagens com base na semiologia, mais especi昀椀camente na abordagem dicotômica dos objetos em seus planos de expressão e conteúdo, e poder, de certa forma, criticar e desenvolver objetos que sejam capazes de ser percebidos visualmente em linha com os discursos que pretendem passar. É muito importante perceber o valor de se conhecer e saber usar um referencial que dê suporte nas leituras que nos propomos fazer em nossos campos de trabalho. No design, a capacidade de ler imagens é fundamental para que se possa potencializar o desenvolvimento de objetos pertinentes, que devam funcionar esteticamente (tocar os sentidos do consumidor), utilitariamente e simbolicamente – dando conta de representar os valores das marcas que as promovem em seus mercados. O entendimento que um objeto funciona de forma estética, de forma utilitária e de forma simbólica, é importante aqui, pois muito do que é expresso em um objeto está relacionado ao discurso que ele quer passar (os tais valores mencionados no parágrafo anterior), com a maneira como deve ser manuseado (de que forma ele diz onde liga, onde pega, onde aperta, onde abre), e ainda se é belo (se tem o estilo atraente que tratamos no tópico anterior). 2 ANÁLISE DICOTÔMICA: A LEITURA COM BASE NA SEMIOLOGIA OU SEMIÓTICA SAUSSUREANA Para não escorregarmos num erro comum, ainda mais como estudantes, daremos como encerrada essa diferença de nomenclaturas. A primeira unidade desta disciplina apresentou as duas principais correntes em seus idealizadores: semiologia com Saussure, e semiótica com Peirce. A noção de que estas duas cabem numa mesma nomenclatura ocorreu historicamente na Europa,à medida que outros 昀椀lósofos, ocupando-se com pressupostos saussurianos, deram conta da generalidade do signo, tal qual os norte-americanos. Aprumados numa mesma linha de pensamento, os europeus assumiram o nome Semiótica, com base no linguista Algirdas Julius Greimas (1919-1992), no momento que pretendia dar conta do fenômeno de produção de sentido para todo e qualquer objeto que representasse algo em seu lugar. Afastando-o da base semiológica de Saussure. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 164 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL [...] para os iniciados, esta polêmica entre os termos Semiologia e Semiótica passou a ser um episódio histórico a partir de 1969, quando Roman Jakobson – e a Associação Internacional de Semiótica aceitou – a adoção do termo comum Semiótica para designar todo o campo de estudo abarcado tanto pela semiologia quanto pela Semiótica (OLIVEIRA, 2004, p. 17). Na visão greimasiana, a semiótica é uma ciência geral dos sistemas sígnicos que possibilita o estudo do conjunto dos processos de produção de sentidos. Ela pode ser compreendida como um conjunto de maneiras que permitem o conhecimento de qualquer grandeza que se manifesta aos nossos sentidos. Para Greimas, de acordo com Oliveira (2004), a semiótica estuda o discurso com base na ideia de que uma estrutura narrativa se manifesta em qualquer tipo de texto, não necessariamente verbal. A análise que se sustentada na semiótica greimasiana, cuja base está nos posicionamentos estruturalistas de Saussure está apoiada na capacidade de percebemos globalmente e criarmos hipóteses, como tratado no início desta unidade. 3 PLANOS DE EXPRESSÃO E CONTEÚDO O ponto de partida do modelo semiótico desenvolvido por A. J. Greimas e colaboradores, com foi tratado na primeira unidade, está na noção de que signi昀椀cante e signi昀椀cado precisaram de ajustes consideráveis, passando a ser chamadas de “plano de expressão” (signi昀椀cante) e “plano de conteúdo” (signi昀椀cado), permitindo que dicotomicamente o signo pode ser toda e qualquer coisa que represente algo em seu lugar, além da palavra. 3.1 PLANO DE EXPRESSÃO Ao entrarmos em uma imagem, para analisá-la, precisamos nos dar conta de “vasculhar” o todo, de entender o momento da percepção global (BAXTER, 2011), nos permitindo perceber o plano de expressão, tudo o que compõe a imagem e é perceptível ao olhar. Neste momento, somos capazes de compreender a macroestrutura da imagem visual (OLIVEIRA, 2004), que pode ser chamada de estrutura básica. As primeiras indagações surgem na busca de clareza sobre essa estrutura, ela é geométrica? Linear? Inclinada? De que maneira essa estrutura se declara visualmente ao sustentar a composição visual que estamos analisando? As certezas sobre isso in昀氀uenciarão diretamente nas decodi昀椀cações do signi昀椀cado que aos poucos vão surgindo. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — ANÁLISE DICOTÔMICA 165 Com a estrutura básica de昀椀nida, com a visão total da estrutura realizada, inicia-se a fase de identi昀椀cação dos elementos constitutivos – pontos, linhas, cores, volumes, dimensões, entre outras (OLIVEIRA, 2004). Um novo jogo de indagações deve ser realizado, quais os princípios que regem a organização destes elementos constitutivos (aqueles tratados em nossa Unidade 2)? Que outros elementos compõem a imagem, mas que não dão conta de assumirem o posicionamento de constitutivos? É o caso do suporte, da moldura e do espaço onde está situada a imagem em análise. Não existem repostas erradas, erro seria não fazer as indagações. Compreendida a estrutura básica e identi昀椀cados os elementos constitutivos é possível estabelecer relações. Assim “identi昀椀cados os elementos constitutivos, buscam-se as articulações entre esses elementos, momentânea e mentalmente desfeitas, quando da investigação do rol de elementos que constituem a imagem” (OLIVEIRA, 2004, p. 24). Neste momento, têm-se os procedimentos relacionais, que podem ocorrer entre elementos, entre estes e blocos de elementos, entre blocos entre si. Um mesmo elemento pode ter um tipo de relação com outro, e uma outra forma relacional com outro. Para clarear um pouco esta composição intricada que é a imagem, poderemos fazer analogias, que são bastante simplistas, mas têm funcionado. Uma das comparações propõe pensar na imagem como um texto verbal, onde os elementos constitutivos seriam as palavras, e os procedimentos relacionais corresponderiam a sintaxe, ou seja, ao modo de organizar as palavras entre si. Mas é preciso cuidado, pois existem distinções para além do aspecto visual de ambos os textos. Uma dela é que nem a escrita nem a leitura da imagem são lineares; a outra é que cada elemento não “concorda” com apenas um outro elemento [...] (OLIVEIRA, 2004, p. 25). A análise tratada neste momento sugere um desmonte da imagem. Um processo complexo que na busca de efeitos de sentido sugere signi昀椀cações. Todo esse processo ocorre no ir e vir, no desconstruir e construir os elementos da imagem, oportunizando uma cadeia de signi昀椀cações com base em regras que se mostram em linha com os princípios formais trabalhados na Unidade 2. Uma vez vasculhada a estrutura da imagem e identi昀椀cada seus elementos constitutivos, cabe o questionamento: como estão organizados os elementos na imagem? Qualquer que seja a intenção do projetista da imagem, a expressão do conteúdo estará na imagem, explicitada em seu texto visual. Cabe ao leitor, entrar em contato com este texto estético, ler e o interpretar – passando pelo momento de percepção global e alcançado a hipótese visual (BAXTER, 2011). Concretizando a autonomia da imagem, ou seja, que por mais que o autor expresse um determinado conteúdo, este só será interpretado e entendido se o objeto (a imagem) permitir isso – ela é autônoma e não pode contar com seu criado ao lado para explicar! “A imagem passa a falar por si mesma, independentemente do que seu autor queria dizer” (OLIVEIRA, 2004, p. 26). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 166 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL O leitor passa a ter domínio sobre o objeto (imagem) que está lendo. Ele deve transitar incansavelmente pela imagem, indo e vindo pelos elementos e pelos blocos de elementos e para o todo da imagem, encontrando detalhes, nesse ir e vir, que não se declaram nos primeiros olhares. É esse vagar intencional pela imagem que faz com ela, em sua autonomia, tenha condições de expressar seu conteúdo; e ainda faz com que o leitor seja capaz de interpretar outros conteúdos, bastando para isso, que a imagem, em seus elementos e seus procedimentos relacionais, permita! Todo esse envolvimento de “varredura” e de “foco”, de desconstrução e construção, de ir e vir pela imagem, permite que o leitor alcance os possíveis signi昀椀cados, alcançando então, o plano de conteúdo. 3.2 PLANO DE CONTEÚDO Os elementos constitutivos não adquirem sentido isolados, precisam das relações, seja com outros elementos, com blocos, ou até mesmo com os espaços, com a situação onde estão e como estão posicionados. Entender a importância destas relações é vital para que se alcance o plano de conteúdo, capacitando o leitor na interpretação do objeto analisado. 4 ANÁLISE DICOTÔMICA: PLANO DE EXPRESSÃO E PLANO DE CONTEÚDO A análise semiótica de um objeto percebido visualmente é complexa e requer um referencial mínimo para sua realização. A expectativa aqui é que tudo o que já foi tratado em nossa disciplina seja capaz de suportar como parâmetro deste momento, que se faz de maneira mais prática. Além disso, a postura doobservador frente ao objeto a ser analisado é vital ao processo, é preciso abordar o objeto diferentemente do habitual. A noção de que se está no momento do “scanneamento”, faz com que o processo de percepção do todo seja intencional, visando acessar o sistema (objeto em análise) visual como um todo – o que Baxter (2011) a昀椀rma que a percepção global leva à hipótese visual; entender que algumas partes do sistema atrairão o olhar, e só por isso já se organizam como elementos constitutivo, ora potencializando o foco e atenção em um único elemento, ora para blocos de elementos; assumir o compromisso de voltar ao todo do objeto em observação, realizando relações a partir do que está declarado e com base, claro, em seu repertório social, cultural, histórico e econômico. E, por 昀椀m, ter a noção de que o que se faz expresso no objeto sugere conteúdos que estão em nossa bagagem cultural; mas que outras relações podem nos instigar a novas descobertas, a uma oxigenação ou aumento de nosso repertório. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — ANÁLISE DICOTÔMICA 167 O processo de signi昀椀cação precisa considerar a totalidade do objeto, e toda análise deve ser orientada por um processo de signi昀椀cação que estará sobreposto ao encadeamento de signos que se materializam, ou ganham sentidos, entre o plano de expressão e o plano de conteúdo (GREIMAS; CORTÉS, 2011). Vamos a um exemplo de leitura, realizada por Sandra Ramalho e Oliveira na obra “Imagem também se lê”, da Editora Rosari (2004). Será de uma obra de arte, o que de certa forma ajudará no entendimento da abordagem e na maneira como se descreve cada momento. FIGURA 7 – ANÁLISE DICOTÔMICA DE ENTERRO NA REDE – CANDIDO PORTINARI (1944) FONTE: <https://i0.wp.com/virusdaarte.net/wp-content/uploads/2014/10/enterro-na-rede-port..jpg>. Acessado em: 9 out. 2020. A obra “Enterro na Rede”, integra a “Série Retirantes” do artista brasileiro Candido Portinari (1903-1962), com in昀氀uências expressionistas trata da situação social do povo brasileiro. Essa pequena apresentação é apenas uma forma de respeitar a obra e situá-la histórica e contextualmente. No que se pede em análises semióticas, é que o autor e toda sua vontade sejam esquecidas, a obra tem que falar por si só! Portinari não está aqui nos explicando sua obra, e sua obra que deve falar por ela. Então, vamos seguir a maestria de Sandra Ramalho Oliveira no passo a passo de sua análise semiótica. O que se vê? Primeiro, o todo da obra, rapidamente damos conta de observar o todo. E aí alguns elementos atraem a atenção, são os elementos constitutivos. Quase que juntos, começamos a fazer relações, primeiro pelo olhar – perceba que ele vai vagando de um elemento constitutivo a outro, de um elemento constitutivo a um bloco de elementos, e vice-versa. Como esses processos ocorrem simultaneamente e de forma muito rápida, é necessário, pelo menos para 昀椀m didático, utilizarmos ferramentas de análise, em uma delas são os esquemas visuais que vão apresentar as 昀椀guras que compõem a estrutura da imagem. “Nesse esquema são destacados um a um os planos de profundidade propostos, diferenciação que é feita através do uso e linhas e cores especí昀椀cas para contornar e destacar a estrutura de cada um deles” (OLIVEIRA, 2004, p. 35). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 168 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL Acesse o link que está como fonte da figura, ou pesquise na internet pelo nome da obra para poder ver a imagem colorida. DICAS No “scanneamento” da imagem, a planta dos pés da mulher ajoelhada evidencia-se, pois além da forma, está em primeiro plano na obra. E com isso observamos o todo desta composição formada pelos dois pés. As linhas formadas pelas pernas da mulher ajoelhada direcionam o olhar para os pés e fazem o “convite” para o olhar retornar para a obra – ir para o centro dela. Como salienta Oliveira (2004, p. 35): “A posição dos pés indica a forma que está destacada em toda a imagem: o ângulo”. Como elemento constitutivo, o bloco de elementos constitutivos (se considerarmos os dois pés) direcionam a rotina de toda a imagem que se faz de forma angular, e explicitam formas triangulares por toda a composição. Os contornos das partes internas e externas dos pés não são paralelos e por estarem eles postos, qual mãos postas em oração, compõem a diagonalidade da obra e formam dois ângulos que se sobrepõem e remetem o olhar ao centro da tela onde se situa, o culto atrás desta mulher, a personagem principal da cena, o morto. Também no centro da tela, o ângulo formado pelos pés da mulher central, é rebatido por um grande ângulo – na verdade, um triângulo – que se origina do lençol ou rede, situado no terceiro plano de profundidade (OLIVEIRA, 2004, p. 35). Tendo os pés da mulher no primeiro plano de profundidade, a rede ou lençol no terceiro plano, o corpo da mulher no segundo plano de profundidade, a composição mantém a rotina angular, a saia dela é formada por uma variedade de traços angulares da mesma forma sua blusa. Os braços abertos dão conta de um grande triângulo que rebate no segundo plano de profundidade a forma que a rede ou lençol formam no terceiro plano. Até nos dedos da mulher as linhas e formas angulares, em proporções menores repetem o esquema – como que por redundância evidencia a rotina angular da cena. Os cabelos formados por traços, mesmo mais sinuosos, remetem à forma triangular. Da mesma forma que alguns elementos da textura do tecido que cobrem os braços da mulher, evidenciam linhas e formas angulares. Composta por vários elementos constitutivos a mulher se faz um bloco, e como bloco se relaciona com toda a obra: “O ângulo formado pelos braços desta mulher remete o olhar para seu vértice, no tronco do corpo dela mesma, o qual oculta o centro da rede, lugar onde está o morto” (OLIVEIRA, 2004, p. 35-36). Os procedimentos de 昀椀gurativização (GREIMAS; CORTÉS, 2011) são revelados durante o processo de geração de sentido, colocando o autor da obra como um criador de estratégias no processo interpretativo, por meio do plano de Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — ANÁLISE DICOTÔMICA 169 expressão e plano de conteúdo. O “scanneamento” da imagem como um todo, nos fez perceber alguns elementos constitutivos, caso da planta dos pés no primeiro plano de profundidade; caso do corpo da mulher no segundo plano; e a composição formada pela rede ou lençol e os carregadores no terceiro plano de profundidade. E, ainda, em termos relacionais foi percebido elementos constitutivos que nos fazem ir e vir em cada um desses planos – caso das pernas da mulher que nos fazem sair dos pés e ir para o corpo dela, ou voltar do corpo para os pés. Caso da forma triangular dos braços da mulher que se rebate com a forma triangular da rede ou lençol, indicando uma ponte entre o plano segundo e terceiro. Estacionados em um dos planos, nosso foco, nossa atenção direciona o vagar do olhar para a identi昀椀cação dos elementos constitutivos e blocos de elementos permitindo os procedimentos relacionais. Em nossa análise, seguindo a abordagem de Sandra Ramalho e Oliveira (2004), entramos pelos pés (primeiro plano de profundidade); tratamos do corpo da mulher (segundo plano de profundidade); e agora vamos para o terceiro plano de profundidade. Este plano é composto pela rede ou lençol e seus carregadores – duas 昀椀guras masculinas. O pano da rede apresenta, acima da cabeça da mulher, um suposto quadrado em tom mais claro, que tendo uma parte encoberta, deixa aparente, no seu contorno, um ângulo que é rebatido nas diversas formas angulares do fundo, na parte superior da tela. A rede forma um triângulo isósceles cujo maior lado é o superior, horizontale quase paralelo ao pau no qual está amarrada, bem como à linha que delimita o chão. Um ponta de pano, à esquerda, sai do vértice em direção ao centro inferior da rede; as linhas das dobras do ângulo da direita tomam a mesma direção, indicando o local onde está depositado o defunto (OLIVEIRA, 2004, p. 36). Os elementos constitutivos que dão conta de rede ou lençol se mostram importantes, pois ao rebaterem com os braços da mulher fazem acesso entre os dois planos. Todavia, além deste bloco de elementos constitutivos, o terceiro plano de profundidade é formado por duas 昀椀guras masculinas – dois carregadores. As formas angulares os compõem e nos dão a ideia de marcha, de movimento. Movimento esse como passos pelo ângulo formado por cada perna ao dar passadas; mas também pelos triângulos formados pelas pernas que apontam no sentido inverso ao da rede ou lençol, promovendo um movimento plástico – vetorial, a que o olhar se submente. Fica evidente na composição que os três triângulos (das pernas e da rede ou lençol), se encaixam. Outras formas angulares aparecem na composição – no braço do carregador que está à frente no carregar (à direita da tela); e em proporções menores formas angulares dão conta de sua mão; e de sua face – com destaque ao seu nariz. O outro carregador é composto de forma angular também – pés, volumes da sua vestimenta, mãos e cabeça. Interessante registrar que as formas angulares que sugerem pontas, direcionam o olhar como vetores para uma direção oposta ao trajeto que suas pernas e própria composição parece ir. É o olhar sendo direcionando para ir e voltar na imagem. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 170 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL A obra não é composta apenas por linhas e formas angulares, ela apresenta linhas sinuosas (como as que já forma descritas: cabelo da mulher). Elas estão evidenciadas no braço direito do homem da esquerda; em algumas dobras das vestes da mulher e até nas linhas que compõem os dedos dos pés – veja aqui, que a linha orgânica mais evidente é do braço do homem da esquerda (terceiro plano de profundidade), que nos leva para a sinuosidade dos cabelos e de algumas linhas da veste da mulher (segundo plano de profundidade), chegando aos dedos dos pés (primeiro plano de profundidade) – um novo caminho para vagar entre esses planos. Como falamos durante nossa disciplina, alguns elementos da imagem vão ganhando destaque à medida que nos permitimos vagar pela imagem, ou à medida que a imagem nos direciona o olhar – por isso, destacamos os elementos que nos fazem entrar e sair de cada plano. Este ir e vir nos fazem perceber elementos que antes não víamos – estavam lá! Todavia passam desapercebidos nos primeiros olhares. E não só elementos surgem, pode saltar blocos de elementos e até mesmo outros planos – que é o que ocorre nessa imagem: um quarto plano de profundidade surge. Nele nos deparamos com uma 昀椀gura feminina, composta por linhas sinuosas – curvas (interessante perceber que seus elementos se destacam quando nos damos conta que a obra não é somente angular e vem num lugar da obra que faz o olhar percorrer o todo da tela – lembre-se de que em linhas sinuosas – saímos dos braços do homem da esquerda, fomos para o centro nos cabelos e vestes da mulher; chegamos aos pés, mas a parte da direita da tela, com as formas sinuosas das vestes desta 昀椀gura faz com que cheguemos ali – ou seja, nosso olhar foi da esquerda à direita da imagem – percorrendo toda ela mais uma vez!). As linhas curvas que compõem essa 昀椀gura do quarto plano de profundidade, estão no contorno do braço visível, na cabeça e nas suas pernas ajoelhadas. Existem linhas retas e angulares nessa 昀椀gura, mas elas estão posicionadas na parte interna, dando conta das linhas interiores dos braços, do pescoço e queixo. Em suas mãos aparecem triângulos, explicitando rigidez e tensão de seus músculos. Essas linhas sinuosas percorrem horizontalmente compondo o solo, na metade da parte inferior da imagem, nos trazendo o quinto plano de profundidade. Que forma quadrangular total da tela – o fundo do quadro. O ritmo sinuoso do chão é quebrado na parte inferior por blocos angulares – elementos ríspidos e di昀椀culdades de pedregulhos por onde passa o cortejo fúnebre. Já a parte superior dessa linha horizonte sinuosa a composição visual é formada por linhas e formas angulares, em algumas dessas formas as pinceladas deixaram elementos pontuais “gerando uma textura grosseira” (OLIVEIRA, 2004, p. 37). Sugerimos como dica, acessar o link que aparece como fonte da Figura 7 para visualizava em cores, mas as gradações de cinza da impressão aqui disponibilizada sugerem um olhar total. Na obra como um todo destaca-se Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — ANÁLISE DICOTÔMICA 171 os tons de cinza e os contornos fortes em preto, os tons mais escuros de cinza sugere as trevas, o sentido mais negativo, a melancolia, também evidentes nas tensões das formas lineares e angulares que ambienta quase que a totalidade da obra. “Este preto, especialmente nos músculos expostos e nas obras das roupas, funciona também para dar profundidade, pois é sombra, e para compor texturas” (OLIVEIRA, 2004, p. 37). Interessante perceber que os contornos pretos ou mais escuros não estão no quarto e quinto plano de profundidade, como que os sugerindo como planos de fundo, e destacando os três primeiros planos onde o conteúdo parece estar evidenciado. Até na obra colorida, os tons de cinza tomam conta da composição, como que estratégico no plano de comunicação da obra e de seu artista. Ao não estar presente para explicar, perceba que ele atribuiu ao seu objeto, elementos, formas, cores e os compôs de maneira que declarassem, ou sugerissem o que e como deveriam ser lidos e entendidos. “O cinzento predominante dá a ideia de cinza, o que resta depois de um incêndio, ou de cadáver, o que restou da vida”, nos descreve Sandra Ramalho Oliveira (2004, p. 37), da mesma forma que dias cinzentos são mais melancólicos, e o clima triste e melancolia de um cortejo fúnebre pode ser assim cromatizado. Pontos, linhas e planos formam a estrutura angular e dão conta dos elementos constitutivos das obras, direcionam plasticamente gestualidades, que ganham ainda mais expressão nas pinceladas, onde contornos grosseiros evidenciam a tensão das linhas retas imprimindo 昀椀guras que mais parecem ser talhadas em madeira (OLIVEIRA, 2004). E quando surgem as linhas curvas, que também ganham expressividade em suas pinceladas ela “parecem” deformar as 昀椀guras – deformação que remete, normalmente, ao sofrimento. A obra toda apresenta uma simetria, ela não é absoluta, mas é possível situar a mulher ajoelhada no centro simétrico da imagem total, o que sugere quebrar a simetria é a segunda mulher – lá do quarto plano de profundidade. Todavia, a sugestão simétrica tem seus rebatimentos por pesos – evidente na parte inferior com a parte superior – onde o pau que carrega o defunto se faz linha da simetria horizontal. As formas lineares e angulares sugerem à obra o que sugerem como elementos isolados – linhas direcionam o olhar e ângulos, como 昀椀gura incompleta que é expressa imperfeição, algo que precisa ser acabado, que precisa ser completo pela ausência de outra parte. O ângulo vetoriza, mostra e direciona um suposto caminho que não está traçado, mas é para onde se deve ir. “Adotando-se esse modo de olhar, observa-se a inter-relação entre expressão, no nível de manifestação, e signi昀椀cação, no nível do conteúdo” (OLIVEIRA, 2004, p. 38 – grifo da autora), e que assim complementa: Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual172 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL Os pés da mulher central, vincados por linhas diversas, assim como a superdimensão dos demais membros e músculos evidentes aludem à atividade braçal, no cultivo da terra. Pés descalços reforçam esta ideia e presenti昀椀cam uma noção de nobreza. A forma dos pés, grandes, retangulares, com toda a base em contato com o solo, parece colar o ser humano àquele chão, àquela realidade. É uma versão da expressão verbal: “com os pés no chão”, que pode ser entendido como o estado de quem deixou os sonhos de lado. Atentos a linha de simetria vertical, que parte do meio dos dois pés, divide a cabeça e o triângulo formado pelos braços e o triângulo formado pela rede ou lençol subindo até a borda superior da tela, percebemos que essa linha estabelece o eixo da composição principal da composição plástica. Inclusive registra metricamente, nos dando a exatidão, de constatar que o triângulo formado pelos braços da mulher e o inferior do triângulo – a rede e o lençol, coincidem se sobrepõem. “Esta coincidência, reiterada pelo fato de estar a rede prenhe do morto, podem indicar que esta mulher é a mãe do defunto. Ou teria sido ele quem fertilizou seu ventre?” (OLIVEIRA, 2004, p. 38 – grifo da autora). As possibilidades de efeito de sentido que uma composição pode causar é grande e permite variações, tantas quantas o repertório e a curiosidade do analista (leitor) permitirem. Traçada essa linha imaginária, da simetria vertical, outros elementos constitutivos podem aparecer no plano de expressão e se tornarem relevantes ao plano de conteúdo. Fica declarada a mão esquerda do homem que está à direita no pau onde está presa a rede ou lençol, posicionada sobre a cabeça da mulher que vela e sofre pelo morto. A forma dessa mão se faz ambígua nos remetendo à mão posta que benze e ao mesmo tempo faz 昀椀gurar-se em uma caveira (OLIVEIRA, 2004), símbolo de morte. Outra ambiguidade aparece na ausência ou impossibilidade de vermos a face da mulher que abre os braços. Não sabemos se ela está revoltada ou pede por clemência, o que é possível a昀椀rmar é que ela não está passiva com o cortejo. E deve estar sedenta por justiça – sede entregue pela forma da rede ou lençol que sugere uma boca aberta, provocando o efeito de sentido de querer receber algo para saciar a fome, a sede. Em meio às ambiguidades e possibilidades interpretativas, o autor deve entender que haverá um processo de interpretação (realizado pelo leitor/ analista da obra); e que ao considerar esse processo deve (ou não) intervir – tomando posição na manipulação que se caracteriza em levar o leitor/analista a executar o seu programa narrativo (GREIMAS; CORTÉS, 2011). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 2 — ANÁLISE DICOTÔMICA 173 A quantidade de linhas e ângulos é atravessada por uma linha grossa – a vara, o pau que segura, suporta o corpo, e segurar, suportada pelos homens que a atravessa por todo o quadro horizontalmente. “A vara, como 昀椀gurativização de laça, atravessa o quadro; ela é paralela à linha da terra, da realidade, da morte; ambas as linhas, horizontais, dão estabilidade à composição, contrastando com a diagonalidade dos ângulos” (OLIVEIRA, 2004, p. 39 – grifo da autora). A imposição linear e angular que a rede ou lençol adquire e expressa no desenho, sugere um corpo pesado e esguio, “um defunto minguado, amontoado no fundo da rede” (OLIVEIRA, 2004, p. 39 – grifo da autora). Como vetor angular ela ponta para baixo, como sendo cova, ou para onde será levado seu conteúdo. A quantidade de ângulos e seus direcionamentos vetoriais entrecruzam sentidos e sentimentos, sugerindo o ir e vir de um olhar que precisa se dar conta das injustiças terrenas (sofrimento) e divinas (a morte). “Tanto os ângulos com abertura para o céu quando aqueles com abertura a terra podem dar a ideia de cunha, ferindo pelo vértice, agressão, violação, ou, pelo lado oposto, pela abertura do ângulo, a ideia de abertura do mesmo, de vulnerabilidade, de rendição, fragilidade, aceitação do estupro inevitável” (OLIVEIRA, 2004, p. 39 – grifo da autora). De forma geral, a tela ilustra uma cena onde dois homens carregam sobre seus ombros uma vara que tem uma rede amarrada nela e em seu conteúdo algo pesado. Mostra duas mulheres, uma em primeiro plano que parece lamentar e clamar; e outra que reza, que lamenta em silêncio. O plano de expressão é marcado pela linearidade e formas angulares, tendo quebras com elementos sinuosos. Por mais que tenha cores e marcado pela tonalidade cinza. Ao plano de conteúdo o que está expresso já permite direcionar o olhar para um determinado discurso, que quando nos vem o título da obra: Enterro na Rede; permite que os elementos, cores e composição ganhem ainda mais efeito de sentido em seus procedimentos relacionais. Percebe-se aqui, o valor do título de uma obra, porém muitas podem estar sem o título, aí, caro leitor, é com você nominar a obra, e sua postura frente a mesma garantirá êxito nessa tarefa. Neste encontro/troca entre expressão e conteúdo pode ser observada a dimensão epistemológica da obra pois, além de desvendar as relações, precisa também articular as áreas de conhecimento que o estudo de cada obra especí昀椀ca leva-o a se defrontar. Vale dizer, embora esse texto pictórico traga todo um conjunto de signi昀椀cados em si, passível de leitura em qualquer contexto sociocultural, a apreciação cresce em densidade se se dispuser a conhecer um pouco mais sobre o tema, o que, neste caso, é favorecido pelo texto verbal que, sendo o título da obra, com o texto pictórico interage (OLIVEIRA, 2004, p. 39-40). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 174 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL Ao considerar a “dimensão epistemológica”, o conteúdo deste tópico acredita que a definição de epistemologia esteja entendida. Para facilitar apresentamos duas definições que podem ajudar: se trata de um substantivo feminino ligado à filosofia. A primeira definição o relaciona com a “reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, especificamente nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento. E a segunda entende o termo como sendo a “frequência do estudo dos postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das teorias e práticas em geral, avaliadas em sua validade cognitiva, ou descritas em suas trajetórias evolutivas, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e a história; teoria da ciência”. FONTE: <http://twixar.me/Dpgm>. Acesso em: 9 out. 2020. NOTA Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 175 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Atualmente é possível adotar do termo comum semiótica para designar todo o campo de estudo abarcado tanto pela semiologia quanto pela semiótica. • Ao analisarmos o plano de expressão somos capazes de compreender a macroestrutura da imagem visual, que pode ser chamada de estrutura básica. • Com a estrutura básica de昀椀nida, com a visão total da estrutura realizada, inicia-se a fase de identi昀椀cação dos elementos constitutivos – pontos, linhas, cores, volumes, dimensões, entre outras. • Compreendida a estrutura básica e identi昀椀cados os elementos constitutivos é possível estabelecer relações, fazer o chamado procedimentos relacionais. • Os elementos constitutivos não adquirem sentido isolados, precisam dos procedimentos relacionais, a importância destas relações é vital para que se alcance o plano de conteúdo, capacitando o leitor na interpretação do objeto analisado. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 176 1 “[...] para os iniciados, esta polêmica entre os termos Semiologia e Semiótica passou a ser um episódio histórico a partir de 1969, quando Roman Jakobson – e a Associação Internacional de Semiótica aceitou – a adoção do termo comum Semiótica para designar todo o campo de estudo abarcado tanto pela semiologia quanto pela Semiótica” (OLIVEIRA, 2004, p. 17). A partir da leitura desse texto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- Durante o século XIX Semiologia e Semiótica eram corrente diferentes, além de contexto geopolíticos diferentes, e também se diferenciavam pelos teóricos e seus fundamentos, porém a noção linguista foi expandida PORQUE II- Além do verbo – palavra falada; todo e qualquer outro fenômeno capaz de representar algo em seu lugar podia ser objeto de análise da semiótica, indiferente das duas. O que resultou no abandono da semiótica dicotômica, prevalecendo apenas análises tricotômicas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justi昀椀cativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justi昀椀cativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 2 “Para clarear esta composição intricada que é a imagem, poderemos fazer analogias, que são bastante simplistas, mas têm funcionado. Uma das comparações propõe pensar na imagem como um texto verbal, em que os elementos constitutivos seriam as palavras, e os procedimentos relacionais corresponderiam a sintaxe, ou seja, ao modo de organizar as palavras entre si. Mas é preciso cuidado, pois existem distinções para além do aspecto visual de ambos os textos. Uma dela é que nem a escrita nem a leitura da imagem são lineares; a outra é que cada elemento não “concorda” com apenas um outro elemento [...]” (OLIVEIRA, 2004, p. 25). AUTOATIVIDADE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 177 A partir da leitura desse texto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- Ao entrarmos em uma imagem, para analisá-la, precisamos nos dar conta de “vasculhar” o todo, nos permitindo perceber o plano de expressão, tudo o que compõe a imagem e é perceptível ao olhar, como consequência desse momento vamos identi昀椀cando os elementos constitutivos; e com o tempo vai se fazendo os procedimentos relacionais, que resultarão no plano de conteúdo. PORQUE II- Chegar no plano de conteúdo é um trabalho de ir e vir. Muitos elementos constitutivos são só percebidos depois de inúmeros olhares – “vasculhadas” no todo da imagem; a cada elemento constitutivos, ou bloco de elementos constitutivos percebidos, novos procedimentos relacionais podem ser realizados, desvelando conteúdos outros. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justi昀椀cativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justi昀椀cativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 3 A análise semiótica de um objeto percebido visualmente é complexa e requer um referencial mínimo para sua realização. A postura do observador frente ao objeto a ser analisado é vital ao processo, é preciso abordar o objeto diferentemente do habitual. A partir da introdução dessa questão, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- A capacidade de dar tempo à percepção visual é importante para que se tenha qualidade na interpretação de seus elementos constitutivos e de seus processos relacionais. PORQUE II- Esse tempo, quando bem utilizado permitirá processos de ir e vir constantes no objeto em análise quali昀椀cando os processos relacionais e promovendo qualidade na intepretação do plano de conteúdo de toda a composição visual. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 178 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II não é uma justi昀椀cativa correta da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II é uma justi昀椀cativa correta da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 4 A análise com base na semiótica dicotômica entende que todo e qualquer objeto que representa algo em seu lugar é signo, ou seja, tem signi昀椀cado porque é signi昀椀cante. Quais são os planos que se referem signi昀椀cado e signi昀椀cante? Explique cada um deles. 5 “A imagem passa a falar por si mesma, independentemente do que seu autor teria querido dizer” (OLIVEIRA, 2004, p. 26). Explique a autonomia da imagem. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 179 UNIDADE 3 TÓPICO 3 — ANÁLISE TRICOTÔMICA 1 INTRODUÇÃO Iniciamos o terceiro tópico desta unidade. Dando continuidade ao momento da disciplina mais prático, trataremos de uma outra maneira de analisar imagens com base na semiótica norte-americana, mais especi昀椀camente na abordagem tricotômica de Charles S. Peirce, e poder de certa forma criticar e desenvolver objetos que sejam capazes de serem percebidos visualmente em linha com os discursos que pretendem passar. Reforçamos a importância de ter um referencial que dê suporte às leituras que nos propomos fazer em nossos campos de trabalho, e com esse tópico a disciplina direciona a segunda referência. Se no Tópico 2 desta unidade, foi considerado a semiologia/semiótica saussuriana como referencial, neste tópico vamos nos apoiar em Peirce. Lembramos que no design a capacidade de ler imagens é fundamental para que se possa potencializar o desenvolvimento de objetos pertinentes, que devam funcionar esteticamente (tocar os sentidos do consumidor), utilitariamente e simbolicamente – dando conta de representar os valores das marcas que as promovem em seus mercados. O entendimento destas funções é muito importante para o pro昀椀ssional de projeto, uma vez que dentro da análise tricotômica vamos percorrer as possibilidades de um objeto signi昀椀car dentro das três categorias sígnicas, podendo se mostrar icônico (primeiridade), indiciático (secundidade) e simbólico (terceiridade) e que o processo de coleta de dados pode também estar apoiado nessa categorização. Os projetistas con昀椀guram seus objetos de maneira que eles devam mostrar seus atributos. No campo das artes os atributos estéticos ganham destaque, enquanto no design, por mais que o estilo (a estética) tenha certa persuasão, os atributos utilitários ganham destaques. Assim como dito anteriormente: “O produto diz de si próprio: suas qualidades e características, o seu modo de produção, o que serve, para quem se dirige” (NIEMEYER, 2003, p. 15). Desta forma cabe ao projetista coletar os dados e as informações do mercado para dar a elas expressão em seus produtos. 2 ANÁLISE TRICOTÔMICA: A LEITURA COM BASE NA SEMIÓTICA DE PEIRCE Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 180 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL Assim como Saussureteve seus seguidores, a semiótica norte-americana influenciou outros pensadores que deram suas interpretações. Um deles, em especial foi Umberto Eco (1932-2016), linguista italiano que em suas obras aproximaram a semiótica do grande público. A obra “O nome da rosa”, foi lançada como livro em 1980 e virou filme em 1986 dirigido por Jean-Jacques. ATENCA O Vamos nos apropriar de um trecho do livro, das primeiras páginas do livro, e em sua leitura vamos entender como a categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade funcionam na maneira como enxergamos o mundo. Vale lembrar que como primeiridade estamos falando das qualidades do mundo, dos fenômenos que nos chegam aos sentidos e só em sentir já nos dizem, já nos representam algo, já se fazem signo; enquanto que na secundidade, esses fenômenos que nos chegam aos sentidos nos fazem ensejar particularidades, fazer comparações com o que já temos em nossa experiência, com as coisas do mundo; enquanto que na terceiridade tudo que nos tocou os sentidos, que nos fez pensar, ganha valor cultural, ganha relações arbitrárias para que possamos assumir e legitimar o signo nesse terceiro nível. O trecho que segue foi retirado da obra de Umberto Eco: O nome da rosa (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986), mais especi昀椀camente das páginas 36 a 39. Um direcionamento para a sua leitura, já que estamos também promovendo a leitura (análise) semiótica do texto, a昀椀nal compete a você interpretá-lo, correto? Faça uma leitura, sublinhando trechos que você acredita ser referente a alguma categoria. Vamos iniciar esse tópico assumindo a semiótica como uma ferramenta de análise de situações, posicionamento que pode ajudar em muito na maneira que coletamos informações e as transformamos em atributos de projeto. Existe uma obra conhecida cinematogra昀椀camente que pode nos ajudar nesse momento, e se chama: “O nome da rosa”, obra escrita por Umberto Eco. Que tal escolher três cores de lápis/caneta para sublinhar, definindo cada cor para cada categoria? DICAS Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — ANÁLISE TRICOTÔMICA 181 Para ajudar na leitura, o texto é uma narrativa, dois frades viajam até a um monastério, um dele é o mestre (Guilherme) e o outro é o aprendiz (Adso). Adso é o narrador. Guilherme está subindo para a Abadia como investigador e o texto se dá no momento em que eles estão subindo o monte para chegar na Abadia. Vamos à leitura: Primeiro dia. Primeira: onde se chega aos pés da abadia e Guilherme dá provas de grande argúcia. Era uma bela manhã de 昀椀ns de novembro. À noite nevara um pouco, e o chão estava coberto de um pelame fresco que não tinha mais que três dedos. No escuro, logo depois dos laudes, tínhamos assistido à missa num vilarejo do vale. Depois seguimos viagem rumo às montanhas, no despontar do sol. Tão logo subimos pela trilha íngreme que se desatava ao redor do monte, vi a abadia. Não me espantaram nela as muralhas que a cingiam por todos os lados, iguais a outras que vi em todo o mundo cristão, mas a mole daquele que, depois 昀椀quei sabendo ser o Edifício. Era uma construção octogonal que a distância parecia um tetrágono (昀椀gura perfeitíssima que exprime a solidez e a intocabilidade da Cidade de Deus), cujos lados meridionais se erguiam sobre o planalto da abadia, enquanto os setentrionais pareciam crescer das próprias faldas do monte, sobre o qual se enervavam a pique. Digo que de certos pontos, de baixo, parecia que a rocha se prolongava até o céu, sem solução de tintas e de matéria, e virava, a uma certa altura, fortaleza e torreão (obra de gigantes que tinham grande familiaridade tanto com a terra como com o céu). Três 昀椀leiras de janelas davam o ritmo trinário de sua sobrelevação, de modo que aquilo que era 昀椀sicamente quadrado na terra, era espiritualmente triangular no céu. Ao nos aproximarmos mais, via- se que a forma quadrangular gerava, em cada um de seus ângulos, um torreão heptagonal, do qual cinco lados se projetavam para fora – quatro, portanto, dos oito lados do octógono maior, gerando quatro heptágonos menores, que no exterior manifestavam-se corno pentágonos. E não há quem não veja a admirável harmonia de tantos números santos, cada um revelador de um sutilíssimo sentido espiritual. Oito, o número da perfeição de todo tetrágono, quatro, o número dos evangelhos, cinco, o número das zonas do mundo, sete, o número dos dons do Espírito Santo. Pela mole, e pela forma, o Edifício me pareceu como mais tarde veria no sul da península italiana Castel Ursino ou Gastei dal Monte, mas pela posição inacessível era mais tremendo que esses, e capaz de gerar temor no viajante que dele se aproximasse devagar. E é sorte que, sendo uma límpida manhã de inverno, a construção não me surgiu como é vista nos dias de tempestade. Não direi de modo algum que ela sugerisse sentimentos de alegria. Trouxe-me espanto, e uma inquietação sutil. Deus sabe que não eram fantasmas de minh'alma imatura, e que corretamente eu Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 182 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL interpretava indubitáveis presságios inscritos na pedra, desde o dia em que os gigantes nela tocaram, e antes que a ilusória vontade dos monges ousasse consagrá-la à custódia da palavra divina. Enquanto os nossos mulos arrastavam-se pelo último cotovelo da montanha, lá onde o caminho principal se rami昀椀cava em trevo, dando origem a dois atalhos laterais, meu mestre deteve-se por algum tempo, olhando para os lados ao redor da estrada, para a estrada, e acima da estrada, onde uma série de pinheiros sempre verdes formava por um breve trecho um teto natural, encanecido de neve. “Abadia rica", disse, "Ao Abade agrada aparecer bem nas ocasiões públicas." Habituado que estava a ouvi-lo fazer as mais singulares a昀椀rmações, não o interroguei. Mesmo porque, após mais um trecho de estrada, ouvimos rumores, e numa curva apareceu um agitado punhado de monges e de fâmulos. Um deles, como nos visse, veio ao nosso encontro com muita urbanidade: "Bem- vindo, senhor", disse, "e não vos admireis se adivinho quem sois, porque fomos advertidos de vossa visita. Eu sou Remigio de Varagine, o despenseiro do mosteiro. E se vós sois, como creio eu, frei Guilherme de Baskerville, o Abade precisaria ser avisado." "Tu", ordenou voltando-se para alguém do séquito, "sobe para avisar que nosso visitante está para adentrar os muros!" "Agradeço-vos, senhor despenseiro", respondeu cordialmente meu mestre, "e tanto mais aprecio a vossa cortesia quanto para saudar-me interrompestes a perseguição. Entretanto, não receeis, o cavalo passou por aqui e dirigiu-se para o atalho da direita. Não poderá ter ido muito longe, porque chegado ao depósito de estrume precisará deter-se. É inteligente demais para lançar-se escarpa abaixo." "Quando o vistes?", perguntou o despenseiro. "Na realidade não o vimos, não é, Adso?", disse Guilherme voltando- se para mim com ar divertido. "Se estais à procura de Brunello, o animal não pode estar senão onde eu disse." O despenseiro hesitou. Olhou Guilherme, em seguida o atalho, e por 昀椀m perguntou: "Brunello? Como sabeis?" "Vamos", disse Guilherme, "é evidente que andais à procura de Brunello, o cavalo favorito do Abade, o melhor galopador de vossa escuderia, de pelo preto, cinco pés de altura, de cauda suntuosa, de casco pequeno e redondo, mas de galope bastante regular; cabeça diminuta, orelhas 昀椀nas e olhos grandes. Foi para a direita, estou vos dizendo, e apressai-vos, em todo caso." Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — ANÁLISE TRICOTÔMICA 183 O despenseiro teve, um momento de hesitação, depois acenou aos seus e tomou o atalho à direita, enquanto nossos mulos recomeçavam asubir. Quando estava para interrogar Guilherme, porque tinha sido mordido pela curiosidade, ele fez-me um sinal para esperar: e de fato alguns instantes depois ouvimos gritos de júbilo, e na curva do caminho reapareceram monges e fâmulos conduzindo o cavalo pelo cabresto. Passaram por nós continuando a nos olhar um tanto aturdidos e nos precederam em direção à abadia. Creio também que Guilherme diminuíra o passo de sua cavalgadura para permitir- lhes contar o que acontecera. Com efeito, tivera oportunidade de perceber que meu mestre, em tudo e por tudo homem de altíssima virtude, tolerava o vício da vaidade quando se tratava de dar provas de sua argúcia e, tendo já apreciado seus dotes de sutil diplomata, compreendi que queria chegar à meta precedido de uma sólida fama de homem sábio. "E agora dizei-me", não pude me controlar por 昀椀m, "como conseguistes saber tudo isso?" "Meu bom Adso", disse meu mestre. “Durante toda a viagem tenho te ensinado a reconhecer os traços com que nos fala o mundo como um grande livro. Alan das Unas dizia que”: omnis rnundi creatura quasi Jiber et picture nobís est in speculum E pensava na abundante reserva de símbolos com que Deus, através de suas criaturas, nos fala da vida eterna. O universo é ainda mais loquaz do que pensava Alan e não só fala das coisas derradeiras (caso em que o faz sempre obscuramente), mas também daquelas próximas, e nisto é claríssimo. Quase me envergonho de repetir aquilo que devias saber. No trevo, sobre a neve ainda fresca, estavam desenhadas com muita clareza as marcas dos cascos de um cavalo, que apontavam para o atalho à nossa esquerda. A uma distância perfeita e igual um do outro, os sinais indicavam que o casco era pequeno e redondo, e o galope bastante regular – disso então deduzi a natureza do cavalo, e o fato de que ele não corria desordenadamente como faz um animal desembestado. Lá onde os pinheiros formavam como que um teto natural, alguns ramos tinham sido recém-partidos bem na altura de cinco pés. Uma das touceiras de amoras, onde o animal deve ter virado para tomar o caminho a sua direita, enquanto sacudia altivamente a bela cauda, trazia presas ainda entre os espinhos longas crinas negras. Não vais me dizer a昀椀nal que não sabes que aquela senda conduz ao depósito do estrume, porque subindo pela curva inferior vimos a baba dos detritos escorrer pelas escarpas aos pés do torreão meridional, enfeando a neve; e do modo como o trevo estava disposto, o caminho não podia senão levar aquela direção." "Sim", disse, "mas a cabeça pequena, as orelhas pontudas, os olhos grandes...". "Não sei se os tem, mas com certeza os monges acreditam piamente nisso. Dizia Isidoro de Sevilha que a beleza de um cavalo exige “ut sít exiguum caput et siccum prope pelle ossibus adhaerente, aures breves et argutae, oculi magni, nares Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 184 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL patulae, erecta cervix, coma densa et cauda, ungularum soliditate 昀椀xa rotunditas”. Se o cavalo de que inferi a passagem não fosse realmente o melhor da escuderia, não se explicaria por que não foram apenas os cavalariços a persegui-lo, mas até o despenseiro deu-se ao incômodo. E um monge que considera um cavalo excelente, além de suas formas naturais, só pode vê-lo assim como as autoridades o descreveram, especialmente se “aqui endereçou-me um sorriso de malícia”, "é um douto beneditino...", "Está bem", disse, "mas por que Brunello?" "Que o Espírito Santo te dê mais esperteza que a que tens, meu 昀椀lho!" exclamou o mestre. "Que outro nome lhe darias se até mesmo o grande Buridan, que está para tornar-se reitor em Paris, precisando falar de um belo cavalo, não encontrou nome mais natural?". Assim era meu mestre. Sabia ler não apenas no grande livro da natureza, mas também no modo como os monges liam os livros da escritura, e pensavam através deles. Dote que, como veremos, lhe seria bastante útil nos dias que se seguiriam. Sua explicação, além disso, pareceu-me àquela altura tão óbvia que a humilhação por não a ter achado sozinho foi superada pelo orgulho de participar dela e quase congratulei a mim mesmo por minha agudeza. Tal é a força do verdadeiro que, como o bem, difunde-se por si. E seja louvado o santo nome de nosso senhor Jesus Cristo por essa bela revelação que tive. FONTE: ECO, Umberto. O nome da Rosa. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 36-39. O interessante na leitura desse texto é que somos levados a entrar no processo de análise semiótica de Guilherme através da narrativa entusiasta de Adso. Há nele, momentos onde 昀椀cam declaradas as categorias semióticas de Peirce, mostrando como podemos, de certo modo, agir para analisar uma determinada ocasião, uma cena, um evento. Fica evidente o momento do “scanneamento”, onde nele já existem referências sígnicas; 昀椀ca declarado e com exemplos a secundidade, onde Guilherme traz suas referências que indiciam suas considerações, e, de forma didática, Guilherme explica para Adso como a terceiridade acontece, à medida que entendo e acessando o contexto cultural, consegue dar nome ao cavalo! Este texto é utilizado como exemplo em algumas aulas do Professor do Pós- Design Dr.Richard Perassi Luiz de Sousa, que atualmente leciona na Universidade Federal de Santa Catarina. Ele escreveu um artigo mostrando como aborda esse texto, e uma aqui temos uma dica para a leitura do artigo, cuja referência é: GHIZZI, Eluiza Bortolotto; MACHADO, Amanda Pires; SOUSA, Richard Perassi Luiz de. Ícones, índices e símbolos em um trecho de O nome da rosa. Semeiosis: semiótica e transdisciplinaridade em revista. [suporte eletrônico] Disponível em: http://www.semeiosis.com.br/o-nome-da-rosa/. Acessado em 09 nov. 2020. DICAS Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — ANÁLISE TRICOTÔMICA 185 3 ANÁLISE TRICOTÔMICA: AS CATEGORIAS DO OBJETO – ÍCONE, ÍNDICE E SÍMBOLO Tal qual o personagem do texto anterior, Guilherme, o observador que assume analisar semiticamente algum fenômeno, precisa “parar” e observar. “Scannear” o todo do fenômeno, fazendo com que aos pontos elementos, ou blocos de elementos ganhem destaque provocando relação de indagações acerca de suas singularidades; para então, norteado pelo seu repertório legitimar o que estará vendo. Se formos perceber esses três momentos, (1) de observar, (2) de ensejar particularidades/singularidades do que está sendo observado e (3) assumir conclusões (em alguns casos com base nos valores culturais), é base para a construção de conhecimento. Então, quando nos posicionamentos intencionalmente frente a algum fenômeno e conseguimos assumir que o conhecemos esses três momentos acontecem. Interessante notar que quando olhamos para um objeto que já conhecemos (que já faz parte de nossa cultura) esses momentos ocorrem simultânea e rapidamente, a ponto de nem percebemos que passamos por eles. Agora, quando entramos em contato com algum fenômeno nunca visto, perceba que somos levados a ter que observar – “scannear”. E então, vamos comparando suas singularidades com o que já conhecemos – ensejando particularidades que, na sequência, poderão nos ajudar a darmos um nome, um conhecimento sobre o que estamos vendo. Na prática profissional, a monotonia de projetos/clientes similares, nos faz assumir verdades – “conhecimento” – rapidamente. A dica é assumir uma postura que todo cliente, por mais que seja do mesmo mercado que outros que você já vem atendendo; ou até um cliente que já atende, mas que agora chama para uma nova interveçào profissional, seja entendido como novo. Para, que antes de assumirmos “verdades” sobre ele, pois “já” o conhecemos; possamos dar valor e atençào à “observaçào” e a possibilidade de pensarmos sobre fenômenos singluares que passama operar nesse momento em sua rotina. DICAS Os fenômenos estão relacionados com seus contextos, por mais que estejamos à frente de um fenômeno já experenciando e conhecido, sempre é bom lembrar que, por ser a segunda vez que o experenciamos isso já faz diferença, pois não é a primeira, e ainda há a coerência de lembrar que o tempo passou, e nesse passar do tempo nós mudamos, aprendemos coisas novas, reorganizamos nossa maneira de pensar e, consequentemente de operar no mundo. “Sígnico, o Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 186 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL mundo está em constante transformação, adquirindo ressigni昀椀cações, segundo as diferentes culturas e épocas, porque as fronteiras espaço-temporais são diferenciadas em cada lugar e em cada momento dado de sua historização” (RIBEIRO; SANTOS, 2018, p. 79). Como vamos analisar o objeto que foi analisado anteriormente, isso faz sentido! Nossa análise agora está sustentada na tricotomia peirciana, e nos três momentos que estamos tratando aqui, valendo lembrar que por se tratar de um exercício, sempre haverá maneiras outras de pensar, o que será feito aqui é uma descrição, com foco no entendimento de como é possível analisar um fenômeno (um objeto visual – uma obra de arte), e não em chegar a conclusões maiores acerca do discurso da obra de arte. Dessa forma, se durante a análise você chegar a conclusões sobre o discurso, o considere válido, desde que – como já salientamos durante toda a disciplina, tenha lógica e coerência. Nossa análise tomará como base a leitura realizada por Augusto Gonçalves Ribeiro e Luciana Rocha dos Santos, publicada como um capítulo no livro “Discussões e aplicações da semiótica de extração peirciana”, organizada por Marcília Simões e Claudio Manoel de Carvalho, para a editora carioca Dialogarts, em 2018. Seguindo os passos que esses autores se utilizaram para aborda a obra: “Enterro na Rede” de Candido Portinari, na série chamada de “Retirante” de 1944. FIGURA 8 – ANÁLISE TRICOTÔMICA DE ENTERRO NA REDE – CANDIDO PORTINARI (1944) FONTE: <https://i0.wp.com/virusdaarte.net/wp-content/uploads/2014/10/enterro-na-rede-port..jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. Como primeiro momento veri昀椀car-se-ão os qualissignos ou as qualidades da aparência; depois os sinsignos ou os elementos que são signos por meio da ocorrência; e por 昀椀m os legissignos, dar relações sígnicas que se fazem por meio de leis, convenções, ou seja, seguindo as categorias peircianas da primeiridade, secundidade e terceiridade. Para a análise é preciso considerar que na primeiridade, Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — ANÁLISE TRICOTÔMICA 187 devemos buscar as relações que ocorrem livremente, sem esforço de pensamento algum, com mais originalidade e irresponsabilidade – é que se sente, sem explicações maiores – ganham registro apenas por tocarem os sentidos e darem algum sentido – sem necessidade de explicações e justi昀椀cativas, sem que tenhamos que processar algum raciocínio – a propósito, no momento que nós pegamos a pensar sobre os sentidos que estamos tendo, já somos levados para a secundidade, onde ocorrem as relações sígnicas da materialidade, da realidade, das comparações, do ensejar particularidades, da incerteza e da dúvida; no momento em que essa situação duvidosa, quando parecemos seguros de a昀椀rmar (pautados principalmente nas convenções culturais) somos levados para a terceiridade “que corresponde à camada da continuidade, mediação, lei, norma, hábito, regularidade e aprendizagem” (RIBEIRO; SANTOS, 2018, p. 81). A compreensão de que nos processos de análise semiótica, com base nas teorias de Charles Sanders Peirce (2005), existem 10 classes de relações categóricas por onde passam as possibilidades interpretativas é fundamental aqui. Nestas possibilidades (apresentadas na Unidade 1), teremos maneiras de abordar o objeto da nossa maneira, mas, para isso, precisamos apenas nos lembrar das categorias como mostra o quadro a seguir: QUADRO 1 – CATEGORIAS TRICOTÔMICA DE PEIRCE FONTE: O autor Categorias do signo Representâmen Objeto Interpretante Primeiridade qualissigno ícone rema Secundidade sinssigno índice discente Terceiridade legissigno símbolo argumento Ao analisarmos a obra de Portinar, assumiremos o caminhar processual das categorias, partindo da primeiridade, passando pela secundidade e chegando à terceiridade. Em um determinado momento, nos posicionaremos para apontar quais objetos na obra são icônicos, indiciáticos e simbólicos, dentro da relação do objeto como signo, por se assemelharem à coisa que representam (ícone); por indicarem as coisas que representam (índice) e por normatizarem a coisa que representam (símbolo). O que de certa forma serão identi昀椀cados os elementos da obra que nas qualidades já representam (primeiridade: qualissigno); que nas relações de comparações das suas singularidades representam (secundidade: sinssigno); e que nas relações de representarem por normas, por lei (terceiridade: legissigno). E o que nos leva a considerar o interpretante no processo: na noção de a obra e seus elementos propiciam interpretar (primeiridade: rema); veiculam e sugerem dúvidas e ponderações no interpretar (secundidade: discente); e os que interpretam pelo raciocínio, pela lógica (terceiridade: argumento). Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 188 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL Iniciando nossa abordagem analítica da obra, continuamos com os níveis apresentados no Tópico 1 desta nossa unidade. Onde em nível básico, acessamos o objeto como um “scanneamento”, em que ao determinar nossa percepção visual, direcionará elementos onde o foco do olhar se concentrará. Indo para o nível intermediário onde o foco do olhar acontece, atributos especí昀椀cos do processo visual, são declarados. Passamos a dar atenção aos elementos especí昀椀cos – que pode ser uma marca, um acabamento, um detalhe estrutural. Chegando ao nível mais elevado ao nos focarmos aos detalhes, depois de uma investida visual no todo, os fatores sociais, culturais e comerciais determinam o estilo do objeto que estamos percebendo. O “scanneamento”, a contemplação primeira de uma obra o que deve ser considerado são suas formas, as qualidades de como a obra chega aos nossos sentidos – caso das linhas, traços, das cores e dos tons que já podem, de forma livre nos sugerir representações. Depois vamos descrever melhor os elementos através de nossas reações à existência concreta, das ocorrências singulares do que está expresso na obra e pode ser relacionado com o real, é quando a obra nos sugere coisas representadas que não estão ali, mas se fazem presentes por indicação; e 昀椀nalmente o que passa a representar algo por que compreendemos e normatizamos, através de nossa vivência e repertório cultural. Como estamos trabalhando com uma obra de arte, que se encontra impressa em um livro, e que pelo link se faz disponível na internet e acessada em uma tela (de computador, de tablet, de celular), é preciso considerar que ela se mostra diferente da original por apresentar características distintas da obra verdadeira (que se faz única e está em uma galeria de arte). Então muito das qualidades como dimensões, textura, cromatização, tonalidades são diferentes e serão assumidas com as que acessamos na página impressa. Ao olharmos a obra, nos deparamos com essas qualidades e nos damos conta, em qualissigno, que a paisagem é diminuta, faz-se secundária na obra, nos oferecendo um aspecto de tensão humana, esse sentido é efêmero, não é possível descrevernem dar uma de昀椀nição verbal, apenas, de forma original e livre nosso olhar, ao acaso sente – sentimos pela 昀椀guração e pelos tons, um clima tenso e triste do sertão e seu clima árido – de fato, as qualidades expressas no quadro nos sugerem mais tristeza e sofrimento, do que alegria e felicidade. Da mesma forma que iconiza o solo e o clima árido. E, então, tão subitamente como o lugar de onde a cena se passa e o sentimento de tensão que nos foi dado em primeiridade, começamos a interagir com a obra, a ensejar particularidades – e aí já estamos na secundidade. Vemo-nos discutindo com a gente mesmo, numa busca de comparar e dialogar como nossas experiências para identi昀椀car o que na imagem indicia sentidos que, para a gente faz e tem sentido, “a partir de uma dialética de ação e reação, con昀椀guramos o Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — ANÁLISE TRICOTÔMICA 189 caráter de existência concreta da paisagem no aqui e agora de sua representação. Esta singularidade pode ser observada e apreendida” (RIBEIRO; SANTOS, 2018, p. 86). Na obra “Enterro na rede”, a paisagem parece desaparecer completamente, enfatizando e dramatizando a tensão e a tristeza das 昀椀guras humanas que perecem experenciar a morte pela di昀椀culdade geográ昀椀ca, econômica e social. Percebemos estar na terceiridade quando o quadro nos traz essa noção de di昀椀culdade social, econômica do sertão, claro que a cena indicia di昀椀culdade, mas ela só dá conta de simbolizar a di昀椀culdade quando o enredo social em que o artista e o quadro pintado nos vêm e, por meio do contexto cultural, colocamos a discussão da sobrevivência no clima árido (onde toda a vida natural se esvai) em que o sertanejo está situado. Retornamos aos conceitos da Unidade 2, e então os elementos visuais dão conta de formar a base estrutural do que vemos: ponto, linha, forma, direção, movimento, escala, dimensão, textura, tom e cor se mesclam construindo elementos que sozinhos ou em conjunto formam as composições visuais (DONDIS, 1997). Os elementos visuais da obra têm papel de昀椀nidor nas demandas de enfocar os detalhes de seu discurso. Acesse o link que está como fonte da figura acima, ou pesquise na internet pelo nome da obra para poder ver a imagem colorida. DICAS Na 昀椀gura impressa, os tons cinzas e escuros dão conta do clima cromático da obra, mas na obra colorida (que pode ser acessada no link logo abaixo da 昀椀gura) os tons amarelo-alaranjados predominam na obra nos situando já em primeiridade de um dia de calor, seco e árido. A dramaticidade da obra é de昀氀agrada por essas tonalidades, que com as linhas angulares, pontas e pesos visuais nas linhas orgânicas mostra a sutileza do artista ao exaltar ainda mais o sofrimento e a tensão de toda a composição. “Nem a luz divina, nem a escura treva se atualizam nesta tela, pois sua 昀椀nalidade é justamente priorizar o caráter sentimental, emocional e humano de um ser social com seu grito de dor devido às privações que sofre em seu mundo terreno” (RIBEIRO; SANTOS, 2018, p. 92). A cromatização da tela iconiza o árido de um dia quente – isso se faz em primeiridade – note que não há esforço algum para sentir isso – as qualidades da cor e da composição nos sugerem isso! Quando acessamos cada elemento e passamos a buscar sentido – ensejando particularidades de cada cor, de cada Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=semiotica-e-percepcao-visual 190 UNIDADE 3 — SEMIÓTICA E PERCEPÇÃO VISUAL forma expressa na obra, estamos em secundidade, e aí as cores e os elementos grá昀椀cos indiciam ruptura, quebra, movimento, calor; e quando acessamos as regras assumimos o discurso da obra – de tensão, sofrimento, tristeza, dor, aridez e morte. Note que os signi昀椀cados das cores apresentados por Dondis (1997, p. 65) arbitrariam isso: [...] o amarelo é a cor que se considera mais próxima da luz e do calor; o vermelho é a mais ativa e emocional; o azul é passivo e suave. O amarelo e o vermelho tendem a expandir-se; o azul, a contrair-se. Quando são associadas através de misturas, novos signi昀椀cados são obtidos. O vermelho, um matiz provocador, é abrandado ao misturar- se com o azul, e intensi昀椀cado ao misturar-se com o amarelo, que se suaviza ao se misturar com o azul. Da mesma forma que os elementos visuais induzem nosso olhar, somos capazes de identi昀椀car no primeiro olhar “pontos”; “linhas” e “planos” e percorrer a obra por meio deles. É válido lembrar que sem ponto, sem linha não existe o manifesto grá昀椀co. Por meio desses elementos e de seus signi昀椀cados visuais é que somos capazes de interpretar os objetos aos quais nos propomos analisar. Que tal voltar à Unidade 2, ou em suas anotações e lembrar os conceitos de ponto, linha, plano – dos elementos visuais, que trabalhamos? Eles podem ajudar no entendimento da análise que estamos realizando. DICAS A olharmos a obra, vemos formas triangulares, piramidais. Elas compõem boa parte da textura da obra. Em primeiridade vemos formas abstratas, linhas que se aproximam e dão conta de elementos piramidais, pontas... antes de buscar signi昀椀cados maiores, ainda em primeiridade vale considerar que formas piramidais têm aspecto concreto e real em nosso mundo, como as pirâmides do Egito, ou as pirâmides das classes sociais. Claro que quando legitimamos as formas piramidais para a cultura egípcia – estamos, indiscutivelmente, na terceiridade (a昀椀nal esta relação se fez pela cultura). Entretanto, ao estar nesse nível, ao poder ver ali relação com as pirâmides egípcias, podemos voltar à categoria primeira e relacionar iconicamente a pirâmide como túmulo – lugar onde os faraós sepultavam seus mortos, com a 昀椀nalidade de mantê-los vivos. E secundidade, a forma piramidal nos indicia trabalho, povo trabalhador (escravos que as construíram) e ainda como pontas – direcionam o sentido espiritual. E em terceiridade a forma piramidal simboliza essa espiritualidade, nos permitindo crer que o artista vê a salvação espiritual como força motora da relação social apresentada em sua tela. Baixado por Maria Jéssica (mariajessicans@gmail.com) lOMoARcPSD|39259348 TÓPICO 3 — ANÁLISE TRICOTÔMICA 191 Este mesmo ir e vir nas categorias sígnicas, aparece na noção da forma piramidal como pirâmide social. Em sua forma temos uma maior quantidade ao distanciar do vértice angular, onde estaria menor quantidade isso é icônico, na noção primeira de espaço entre as linhas; mas ela indicia grá昀椀co quantitativo, e simboliza em sua posição de base maior em baixo, a ideia de diferentes classes sociais, onde as mais baixas têm maior quantidade. Uma interferência intencional do artista, ao remeter ao cenário social e econômico brasileiro “visto que somente um por cento da população detém o poder econômico. Portanto, a classe dominante concentra-se na parte superior” (RIBEIRO; SANTOS, 2018, p. 94). Quando analisamos a obra, percebemos que as principais formas piramidais se apresentam de forma invertida, nos provocando novas singularidades, ressigni昀椀cações produzindo em nossa mente, outros efeitos de sentido que podemos legitimar em terceiridade. E, ainda, a noção de que, percebida em primeiridade virada, iconiza o vetor de direção para baixo, o que nos indicia que o que está carregado 昀椀cará na terra? Ou será enterrado? Suposições que podem nos levar à conclusão de que, ao observar a pirâmide voltada para a terra onde a matéria corpórea 昀椀ca para o todo sempre, que há um momento no qual todos os seres humanos se igualam, ou seja, a morte. Neste momento não há diferenças entre negros e brancos, pobres e ricos, religiosos ou ateus, todos, sem exceção, vão perecer e se destinar ao mesmo lugar, aos braços da mãe Terra (RIBEIRO; SANTOS, 2018, p. 95). Ao olhar a obra pela primeira vez, saltam aos olhos as 昀椀guras humanas, em traços esqueléticos