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1 ESTÉTICA E SEMIÓTICA AULA 3 Prof. Jeferson Ferro 2 CONVERSA INICIAL Ao longo desta aula, vamos conhecer alguns princípios fundamentais desenvolvidos pela semiótica peirceana, concebida por seu autor como um tratado de lógica. Os tópicos que abordaremos são os seguintes: 1. Correntes da semiótica: Inicialmente, abordaremos outras correntes de pensamento importantes para a área da comunicação desenvolvidas ao longo do século XX. 2. A Semiótica de Peirce: Buscaremos delinear uma visão geral do trabalho de Peirce. 3. Peirce (a fenomenologia): Como porta de entrada para a teoria peirceana, vamos tratar da fenomenologia e de sua tríada fundamental: primeiridade, secundidade, terceiridade. 4. Peirce (signo-objeto-interpretante): Neste tema, abordaremos a tríade central do processo da semiose. 5. Peirce (ícone-índice-símbolo): Por fim, abordaremos os aspectos de apresentação dos signos em relação a seus objetos. CONTEXTUALIZANDO Charles Sanders Peirce foi um lógico, matemático e filósofo que dedicou sua vida inteira à reflexão sobre a questão da significação. Para ele, a semiótica era a própria lógica da comunicação, aplicável não somente às linguagens humanas, mas a todas as formas de comunicação existentes na natureza. Em que consiste a ciência da significação desenvolvida por Peirce? No que ela difere de outras interpretações do mundo simbólico? Nesta aula, buscaremos responder a estas perguntas. Saiba mais Peirce e seu colega de universidade William James criaram uma escola filosófica chamada de Pragmatismo. Apesar de independente da teoria semiótica peirceana, ela parte do mesmo princípio: a observação do mundo e a 3 análise das consequências decorrentes dos atos das pessoas. Para saber um pouco mais sobre do que se trata o Pragmatismo, assista ao vídeo. PRAGMATISMO. Univesp, 19 jul. 2010. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=86aAo2KHOaA>. Acesso em: 17 ago. 2018. TEMA 1 – CORRENTES DA SEMIÓTICA O início do século XX foi um período muito rico para os estudos da linguagem. Conforme vimos na aula anterior, duas linhas independentes de estudos sobre a significação se desenvolveram nessa época: a Semiologia de Saussure, na Europa, e a Semiótica de Peirce, nos EUA. O Curso de Linguística Geral, de Saussure, está na origem de uma tendência analítica que se tornou dominante nas ciências humanas e que se aprofundou na linguística, na psicanálise, nas artes e nos estudos culturais, classificada sob o termo genérico de Estruturalismo. A Semiótica de Peirce, por outro lado, levou bastante tempo para ganhar maior popularidade acadêmica, mantendo-se restrita à área da filosofia por quase todo o século XX. Hoje, todavia, ela se constitui como um aparato teórico de grande relevância para os estudos da comunicação, sendo empregada em áreas tão diversas como a inteligência artificial e a biologia. Ela será o assunto principal de nossa aula. Porém, antes de penetrarmos no rico universo conceitual da semiótica peirceana, vamos fazer um breve apanhado de algumas correntes de pensamento sobre o universo da significação que se desenvolveram ao longo do século passado, e que estabeleceram teorias importantes para análises da cultura e da comunicação. 1.1 A vertente russa A União Soviética do início do século XX foi um grande celeiro de pensadores sobre a arte e a linguagem. Na década de 1920, se consolidou uma corrente de crítica literária que mais tarde seria chamada de Formalismo Russo, inspirada em Saussure. Trata-se de uma proposta de estudo da literatura de forma metódica e científica, entendendo-a como um fato linguístico 4 e uma modalidade de discurso, sujeita, portanto, à análise estrutural. Essa abordagem representava uma mudança radical na área dos estudos literários, que até então era dominada por análises de caráter histórico, biográfico e psicológico. Entre seus princípios básicos estava a noção de que o objeto de estudo da teoria literária deveria ser a “literariedade” (uma formulação de Jakobson) – ou seja, aquilo que faz de um determinado discurso uma construção especificamente literária –, e não a literatura como um todo. Um dos livros marcantes deste período é Morfologia do conto maravilhoso (1929), de Vladimir Propp, em que o autor faz um estudo detalhado dos contos populares russos e destaca um conjunto limitado de personagens básicos, funções e esferas de ação que englobam todos os contos estudados. Por exemplo: o personagem “herói buscador” parte em uma “missão” para longe de sua terra, e no caminho é “enganado” pelo “malfeitor” – essa estrutura narrativa seria um exemplo de algo que se repete em diversos contos. Em sua análise, Propp descobriu que havia 31 funções que seguiam uma mesma ordem de aparecimento em todos os contos, qualquer que fosse a trama – entre elas: afastamente, proibição, transgressão etc. Podemos, por exemplo, trazer essa análise estrutural da narrativa para o cinema contemporâneo, e vamos enxergar padrões claros em filmes de gênero, como a comédia romântica, o filme de ação, o policial etc. O pensador mais importante que se debruçou sobre a literatura na cena russa do século passado foi certamente Mikhail Bakhtin. Ele publicou em 1929 Problemas da poética de Dostoiévski, trabalho em que introduzia o conceito de polifonia: romances polifônicos, como os de Dostoiévski, são compostos por muitas vozes distintas, que representam identidades fictícias particulares e não estão submissas ao ponto de vista dominante do narrador. O autor, portanto, não constrói a obra literária para defender uma ideia central, mas como um modelo de mundo em que se encontra a diversidade e a contradição, características inerentes às sociedades humanas. Outro conceito importante, e diretamente relacionado à polifonia, é o de dialogismo. Palavra derivada de “diálogo”, ressalta que a comunicação se baseia no embate entre visões diferentes de mundo, de forma que todo ato comunicativo faz parte de uma cadeia ininterrupta, na qual o que se diz existe em resposta a algo que foi dito 5 antes, e será respondido por algo que virá depois. Esses conceitos bakhtinianos tomam como base uma concepção da linguagem enquanto prática social, em que as produções de sentido se dão no diálogo contínuo entre visões de mundo particulares. Conforme ele aponta em Marxismo e filosofia da linguagem (1995, p. 33-34): “compreender um signo consiste em aproximar o signo apreendido de outros signos já conhecidos; [...] a compreensão é uma resposta ao signo por meio de signos”. As concepções de linguagem de Bakhtin apresentam grandes semelhanças com as de Peirce, para quem essa cadeia ininterrupta de diálogo entre os signos se chamava semiose. Ambos entendiam que o pensamento só pode existir por meio de signos – na mesma obra, Bakhtin diz: “a própria consciência só pode surgir e se afirmar como realidade mediante a encarnação material em signos” (1995, p. 33). Bakhtin foi muito mais do que um teórico da literatura, foi um filósofo da linguagem dotado de uma excepcional capacidade de observação, tanto da arte quanto das estruturas sociais que a produzem. É um pensador de grande influência na academia brasileira, e seus estudos sobre a linguagem e a literatura são empregados nas mais diversas áreas das ciências humanas no Brasil, como a educação, a comunicação e a sociologia. Saiba mais Bakhtin é um dos pensadores estrangeiros mais influentes no Brasil. Que tal conhecer um pouco mais sobre esse autor? Acesse na biblioteca virtual o livro Bakhtin: conceitos-chave, organizado por Beth Brait. BRAIT, B. Bakhtin: conceitos-chave. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572442909/page s/-2>. Acesso em: 16 ago. 2018. Podemos mencionar ainda mais dois pensadores importantes da vertenterussa, em áreas distintas. Vygotsky, psicólogo especialmente dedicado à infância, estudou como as interações sociais determinam o desenvolvimento intelectual das crianças – para ele, a linguagem é um instrumento mediador entre os seres humanos. Suas pesquisas são a base da vertente sócio-interacionista na área de educação, um enfoque de grande relevância na pedagogia moderna. Sergei Eisenstein foi um cineasta e teórico 6 do cinema, defensor das técnicas de montagem como o pilar de sustentação da arte cinematográfica. Além de cineasta, ele foi um importante teórico do cinema, uma forma de arte bastante valorizada na Rússia do início do século XX. Entre seus filmes mais importantes estão Encouraçado Potemkin (1925) e Outubro (1928), que são até hoje considerados referências fundamentais no desenvolvimento da linguagem cinematográfica. Figura 1 – Cena da escadaria de Odessa, do filme O Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstei Crédito: Sergey Mikhaylovich Eisenstein/Latinstock. Por fim, devemos acrescentar que dentro dessa riqueza e diversidade de pensamento sobre o mundo da significação, seja da linguagem enquanto elemento da vida social, seja da linguagem artística em suas especificidades, os artistas e teóricos russos viviam sob o governo comunista, que fiscalizava a atividade intelectual submetendo-a a um rígido viés ideológico. Havia uma oposição entre os estudos formalistas, que analisavam seu objeto de estudo (a língua, a literatura, o cinema) de forma isolada do contexto sócio-histórico, e as abordagens marxistas, que concebiam a língua e as artes enquanto produtos sociais inseridos na dinâmica da luta de classes, viés que era favorecido pelo governo da época. Assim, Jakobson, por exemplo, saiu da União Soviética para poder continuar suas pesquisas, e Bakhtin chegou a ser exilado na Sibéria. Apesar dessas dificuldades, esses autores realizaram grandes contribuições ao estudo da significação e das linguagens humanas. 7 1.2 A vertente francesa Inspirada na obra de Saussure, e também na vertente russa, a Semiologia francesa terá no antropólogo Claude Lévi-Strauss e no semioticista Roland Barthes dois de seus maiores nomes. Strauss foi bastante influenciado pelo estudo de Propp sobre a estrutura do conto fantástico e, de certa forma, o transpôs para suas análises sobre o mito nas comunidades humanas. Ele leu os mitos como construções narrativas: “Para Lévi-Strauss não há, preliminarmente, diferença apreciável entre os princípios que norteiam a construção do mito e os princípios de organização da língua ou do inconsciente” (Lopes, 1997, p. 316). Entre suas obras mais importantes estão As estruturas elementares do parentesco (1949), em que discute as noções de cultura e natureza a partir das relações familiares, Tristes Trópicos (1955), uma narrativa etnográfica centrada em suas vivências no Brasil, e o conjunto de quatro obras chamado de Mitológicas” (1964 a 1971), nas quais aborda diversos aspectos da vida social de povos indígenas. Strauss foi sempre muito influenciado pelos estudos linguísticos – seu conceito de mitema, por exemplo, é análogo ao conceito linguístico de fonema, e foi criado para se referir à menor unidade constitutiva de um mito. O trabalho de Strauss é um exemplo bastante concreto de como os estudos sobre a linguagem e a literatura podem ser fundamentais para a nossa compreensão das sociedades humanas, aplicando- se em outras áreas. Conforme conclui Lopes (1997, p. 326, grifo do original): Lévi-Strauss operacionalizou magistralmente com seu modelo a noção do mito como relato de uma solução imaginária para uma contradição real historicamente insolúvel na vida das sociedades humanas. Essa conceituação, que constitui para nós, ainda hoje, a melhor resposta que alguém já ofereceu para a pergunta “por que o homem constrói narrativas?”, se complementa, finalmente, com o conceito de mediação que o sábio antropólogo nos brindou, o operador de sentido que nos dá a possibilidade de superar a contradição de origem que motiva a criação de toda e qualquer narrativa. (grifo do autor) Os estudos de Strauss, baseados nos mitos dos povos indígenas, produziram reflexões valiosas sobre a importância das narrativas como sistemas simbólicos organizadores da vida social. Barthes, por sua vez, investigou como esses sistemas simbólicos e mitológicos se instituem nas 8 sociedades capitalistas. Não por acaso, dedicou especial atenção aos meios de comunicação de massa, escrevendo importantes trabalhos sobre a moda, o cinema e a fotografia. Para Barthes (1978, p. 18), “As imagens, os gestos, os sons melódicos, os objetos e os conjuntos dessas substâncias que podemos encontrar nos ritos, nos protocolos e espetáculos constituem se não ‘linguagens’, pelo menos sistemas de significação”. Há toda uma vasta linhagem de pensadores franceses que não nos é possível abordar aqui, incluindo nomes como Lacan, Althusser, Greimas, Kristeva, Foucault, Todorov etc. São teóricos de diversas áreas que construíram obras bastante influentes no universo das ciências humanas e, de uma forma ou de outra, fazem parte dessa grande linhagem chamada de Estruturalismo, que se origina com Saussure, ultrapassa os limites da linguística com os pensadores russos, e se diversifica e populariza com os pensadores franceses. Hoje, muitos pesquisadores que seguem os estudos destes autores são chamados de pós-estruturalistas. Trata-se de um vasto campo da ciência que oferece ao estudante um rico conjunto de possibilidades teóricas para aprofundar seu conhecimento sobre os fenômenos da linguagem e da comunicação nas sociedades humanas. Saiba mais Leia a resenha escrita pela antropóloga Mariza Wernek sobre O Cru e o Cozido, primeira obra do conjunto das Mitológicas de Claude Levi-Strauss. Ela dá uma boa ideia do seu conteúdo. WERNECK, M. F. O cru e o cozido - Mitológicas 1. Comunidade Virtual de Antropologia, 2000. Disponível em: <http://www.antropologia.com.br/res/res21.htm>. Acesso em: 17 ago. 2018. TEMA 2 – A SEMIÓTICA DE PEIRCE Charles Sanders Peirce (1839-1914) é o fundador da semiótica como uma “ciência da significação”. O termo semiótica é anterior à sua teoria, sendo inicialmente utilizado na medicina para se referir ao estudo dos sintomas. O filósofo inglês John Locke, no final do século XVII, foi responsável pela primeira 9 utilização do termo no sentido de se referir ao estudo da significação enquanto parte das atividades comunicativas humanas. Todavia, foi Peirce quem constituiu formalmente esse campo de investigação, definido como “a doutrina dos signos”. A primeira coisa que devemos notar é que, para Peirce, semiótica significa a mesma coisa que lógica: ela é simplesmente o estudo da lógica que rege todos os sistemas de significação, na natureza e nas sociedades humanas, não estando restrito, portanto, à área da comunicação. Como tal, sua investigação parte do princípio de que se busca descobrir aquilo que é verdadeiro. Essa ciência teria “por função classificar e descrever todos os tipos de signos logicamente possíveis” (Santaella, 2007, p. 29). Desta forma, dedica- se a estudar todos os “sistemas de produção de sentido”. Peirce teve uma formação científica bastante rigorosa. Seu pai era um importante matemático, professor em Harvard. Apaixonado pela filosofia desde criança, estudou com grande afinco diversas áreas do conhecimento, doutorando-se em química. Sua vida acadêmica não foi exatamente bem- sucedida. Apesar de participar de círculos de discussão sobre filosofia, e de proferir conferências na universidade, ele nunca conseguiu o cargo de professor universitário. Também nunca publicou um livro em que explicasse suas teorias. O acesso que temos hoje aos seus escritos se dá a partir de uma coletânea de textos, alguns publicados durante sua vida, mas a maioria não, quesão reunidos em uma publicação digital intitulada The Collected Papers1 (Harvard University), contendo aproximadamente 3.000 páginas – há muitos outros artigos e páginas manuscritas dele que ainda não vieram a público, ou estão disponíveis em outros sites e publicações. Basicamente, sua obra começa a ser organizada para publicação apenas na década de 1930. Peirce entendia a semiótica como uma ciência abrangente, capaz de lidar com todos os sistemas de significação, não sendo restrita, portanto, às línguas humanas. Para Peirce, o universo se expande ininterruptamente na mente dos homens e nenhuma ciência é capaz de produzir conhecimento absoluto e infalível. Por isso, um de seus conceitos fundamentais é o 1 Sempre que citamos um trecho dos Collected Papers, o fazemos da forma tradicional: x.yzt – sendo “x” o volume da obra, e “yzt” o número do parágrafo (Pierce, 1931-1958). 10 falibilismo: todo conhecimento produzido pela mente humana, em determinadas circunstâncias, é uma apreensão parcial da verdade, e por isso deve permanecer aberto em uma cadeia ininterrupta de significação que produz novas conclusões diante de novas circunstâncias. Ele entendia a ciência e a Filosofia “como processos que amadurecem gradualmente, produtos da mente coletiva que obedecem a leis de desenvolvimento interno, ao mesmo tempo em que respondem a eventos externos [...], e que dependem, inclusive, do modo de vida, lugar e tempo nos quais o investigador vive” (Santaella, 2007, p. 26). Daí nasce a ideia do pragmatismo, escola filosófica fundada por Peirce, pelo psicólogo William James e posteriormente pelo filósofo John Dewey. Seu princípio geral era o de entender quaisquer hipóteses a partir de suas “consequências práticas”. Mais tarde, Peirce acabou se desentendendo com seus colegas e propôs alterar o nome da sua filosofia para “pragmaticismo”, de forma a não a confundir com o pragmatismo proposto por eles, com o qual não mais concordava em vários aspectos. De toda forma, seu nome permanece ligado a esse campo da filosofia que procura olhar para os problemas, sobretudo a questão da verdade, por um viés mais empírico, buscando observar as ações no mundo real. Outro aspecto importante da obra de Peirce diz respeito ao lugar da semiótica no edifício da ciência, conforme sua concepção. Para ele, os diversos campos do pensamento podem ser organizados numa hierarquia semelhante a de um edifício, de forma que os elementos de baixo precedem e dão sustentação aos de cima. A ciência fundamental, para Peirce, era a matemática, seguida da fenomenologia, das ciências normativas e da metafísica. Abaixo colocamos uma imagem que ilustra essa relação: 11 Figura 2 – O lugar da semiótica na arquitetura filosófica de Peirce Peirce fala do lugar e da função da semiótica (= lógica) dentro desse quadro, da seguinte maneira: “A lógica é a teoria do pensamento autocontrolado, ou deliberado; e como tal, deve recorrer aos princípios da ética. Também depende da fenomenologia e da matemática. Uma vez que todo pensamento é executado por meio de signos, a lógica deve ser considerada a ciência das leis gerais dos signos” (Pierce, 1931-1938, p. 1191). Resta-nos ainda mencionar um aspecto definidor da semiótica peirceana, que a distingue claramente de outras teorias da significação: sua natureza triádica. Quando estudamos Saussure, na aula anterior, vimos como ele trabalha com dicotomias – significante / significado; língua / fala; sincronia / diacronia etc. A teoria de Peirce se baseia em relações de três elementos: primeiridade, secundidade, terceiridade; objeto, signo, interpretante; ícone, índice, símbolo etc. A seguir, vamos adentrar este universo teórico pela porta da fenomenologia. Saiba mais Leia os capítulos “Semiótica” e “Signo Semiótico” do livro recomendado abaixo disponível na biblioteca virtual (p. 87 a 112). O autor aborda os conceitos básicos da semiótica peirceana. PUPPI, A. Comunicação e semiótica. Curitiba: Intersaberes, 2009. 12 TEMA 3 – PEIRCE: FENOMENOLOGIA Nossa percepção do mundo é “fenomenológica” no sentido de que percebemos tudo a nossa volta a partir da experiência que os sentidos nos proporcionam, e como essa percepção se manifesta em nossas mentes. Essa manifestação se dá por meio de signos. Conforme explica Santaella (2007, p. 51): Diante de qualquer fenômeno, isto é, para conhecer e compreender qualquer coisa, a consciência produz um signo, ou seja, um pensamento como mediação irrecusável entre nós e os fenômenos. E isto, já ao nível do que chamamos de percepção. Perceber não é senão traduzir um objeto de percepção em um julgamento de percepção, ou melhor, é interpor uma camada interpretativa entre a consciência e o que é percebido. Importa ressaltar aqui a ideia de que o signo é uma “mediação irrecusável entre nós e os fenômenos”, ou seja, ele é aquilo que surge em nossa mente a partir das experiências que temos no mundo. A Fenomenologia, portanto, é a área da investigação filosófica que estuda os fenômenos e sua percepção pela mente humana. Nas palavras de Peirce: “A fenomenologia determina e estuda os tipos de elementos que estão universalmente presentes no fenômeno, sendo que fenômeno é compreendido como qualquer coisa que esteja presente, a qualquer momento e de qualquer forma, na mente” (Pierce, 1931-1958, 1.186). Ou seja, todas as nossas percepções provenientes de sentidos, pensamentos, ideias e emoções são fenômenos. Assim, podemos entender a fenomenologia como o estudo da aparência das coisas, ou das coisas como nos aparecem, ou da forma como as “experimentamos”, e, portanto, do sentido que as coisas podem ter a partir de nossa experiência. Aqui se faz necessário abordar a primeira tricotomia de Peirce, aquela que lança as categorias fundamentais do pensamento: primeiridade, secundidade e terceiridade. Trata-se de uma primeira forma de olhar para a experiência de percepção do mundo, mediada pelos signos, que pode ser entendida em três etapas: primeiro, a percepção de uma qualidade; segundo, a reação diante daquilo que foi percebido como um elemento no mundo; terceiro, a interpretação, a atribuição de sentido. Assim, podemos também as reduzir a três elementos básicos: qualidade (1º), reação (2º), interpretação (3º). Se 13 estamos dentro de um quarto e ouvimos uma batida na porta: primeiro nossos sentidos se alertam para o som, segundo olhamos para a porta e constatamos de onde veio o som, terceiro interpretamos quem poderá estar batendo à porta. Os fenômenos nos serão apresentados à mente nessa sequência, sendo que não é possível algo ser segundo se não foi primeiro, ou ser terceiro se não foi segundo. Vejamos mais detalhadamente como entender essas categorias: • Primeiridade: o presente, a consciência do momento em que algo acontece, que se apresenta à nossa percepção como uma qualidade (som, cor, forma etc.). • Secundidade: a existência, a corporificação material da qualidade, que nos causa uma reação. • Terceiridade: nas palavras de Santaella (2007, p. 51): corresponde à camada de inteligibilidade, ou pensamento em signos, através da qual representamos e interpretamos o mundo. Por exemplo: o azul, simples e positivo azul, é um primeiro. O céu, como lugar e tempo, aqui e agora, onde se encarna o azul, é um segundo. A síntese intelectual, elaboração cognitiva – o azul no céu, ou o azul do céu – é um terceiro. Não podemos nos esquecer de que a semiótica é, fundamentalmente, uma ciência observacional, ou seja, uma atividade científica que se dedica a olhar para os signos no mundo e entender como funcionam. Essa dinâmica dos signos, o universo das suas relações produtivas, é o que Peirce chama de semiose, a cadeia ininterrupta de produção de sentido. Nas palavras de Puppi (2009, p. 102), cabe à semiótica, portanto, “Procuraros elementos permanentes e universais em todas as mais diversas e variadas manifestações da linguagem.” No entanto, não podemos ir muito longe na compreensão desse processo olhando apenas paras as três categorias do pensamento. É preciso relacioná-las às três formas de apresentação do signo – icônica, indicial e simbólica. A primeiridade se refere ao ícone, uma vez que ele tem como aspecto central a manifestação de uma possibilidade, uma qualidade absoluta. De acordo com a descrição de Peirce: “Primeiridade é a forma de ser que consiste na existência de seu sujeito tal como ele é, independentemente de qualquer outra coisa. O que só pode ser uma possibilidade” (Pierce, 1931- 14 1958, 1.25). A primeiridade, portanto, se refere ao signo em seu aspecto único, um elemento isolado, algo ainda não desenvolvido. A realização dessa “possibilidade”, de uma forma ou outra, é o que irá mover a semiose à próxima instância: a secundidade, que é a categoria da existência física, aquela que se refere à ligação existencial entre o signo e o objeto, como sintomas ou traços, por exemplo. Nesse momento, estamos tratando do signo em seu aspecto indicial, e, portanto, marcado pela resistência, ou seja, por sua capacidade de provocar uma reação em nós, pelo simples fato de existir. Nas palavras de Peirce (1931-1958, 1.24): A realidade é algo bruto. Não há razão nela. Experimente colocar seu ombro contra uma porta, tentando forçar sua abertura contra uma resistência silenciosa, invisível e desconhecida. Temos uma consciência dupla de esforço e resistência, que me parece se aproximar razoavelmente bem da noção de realidade. Por fim, a terceiridade, que é a categoria que nos leva à dimensão interpretativa do signo que é produzido, em que ressaltamos seu aspecto simbólico. Como todo símbolo, se baseia numa regra interpretativa, numa conveção, como é em qualquer língua humana, em que determinadas combinações de sons representam determinadas ideias, noções e coisas: “Uma regra que eventos futuros tendem a obedecer é um elemento importante no acontecimento daqueles eventos. Este modo de ser, consistindo no fato de que eventos futuros de Secundidade assumirão um determinado aspecto geral, eu chamo de Terceiridade. (Pierce, 1931-1958, 1.26) Tanto é assim que quando ouvimos alguém bater na porta de nosso quarto, entendemos esse gesto como um pedido de permissão, educado, para entrar. E assim somos muitas vezes capazes de interpretar, pela força e ritmo das batidas, quem é a pessoa que bate, e o que revela a natureza simbólica desse gesto, que se configura como uma norma: “sempre que eu ouvir essa batida específica na porta do meu quarto, saberei que é minha mãe.” Agora que já introduzimos brevemente as características de apresentação do signo em relação às categorias do pensamento, vamos nos aprofundar na concepção de signo propriamente e nas suas relações de significação. 15 TEMA 4 – PEIRCE: SIGNO-OBJETO-INTERPRETANTE O signo é a unidade básica de significação, é aquilo que existe em lugar de outra coisa – ou seja, é um meio de apreensão da realidade, que se manifesta fisicamente de alguma forma, e produz uma interpretação na mente de quem entra em contato com esse signo. O diagrama abaixo representa o processo de semiose (a ação dos signos) em sua relação triádica fundamental. Figura 3 – A relação triádica do signo Podemos dizer que no centro da semiótica peirceana está a concepção da semiose como um processo contínuo de relações triádicas, ou seja, envolvendo sempre, sob todas as circunstâncias, três elementos: um objeto, um signo (também chamado de representamen), e um interpretante. Assim, podemos entender que ao vermos uma fotografia de uma pessoa famosa que imediatamente reconhecemos, essa imagem é um signo, cujo objeto é o ser humano que nela aparece representado, e cujo interpretante é nossa ideia/sentimento a respeito da foto. Esse interpretante, por sua vez, também é um signo, e ao nascer já dá vida a outra cadeia semiótica: por exemplo, se estou na sala de aulas e digo “Nossa, que linda!” ao olhar uma foto, minhas palavras, que eram o interpretante produzido pela minha mente diante da foto, tornam-se um novo signo para os que a ouviram (e também para mim). Alguém poderá responder “Nada a ver!”, e esse será seu interpretante para o signo “nossa, que linda”, cujo objeto era a foto, e assim indefinidamente. Perceba que, a rigor, tudo pode ser um signo, objeto ou interpretante, a depender da 16 posição na cadeia semiótica. Assim é com as imagens, com músicas, gestos, filmes e livros. Sobre a palavra, especificamente, vale ressaltar o que diz Santaella: “o objeto de uma palavra não é alguma coisa existente, mas uma ideia abstrata, lei armazenada na programação linguística de nossos cérebros” (2007, p. 67). Se digo “comida na mesa”, o signo “mesa” representa um conceito genérico de mesa (seu objeto), e não necessariamente uma mesa em específico. Figura 4 – Mural que reproduz o quadro Guernica, de Picasso Crédito: Tichr/Shutterstock. Outro exemplo: o quadro Guernica, pintado por Picasso em 1937, pode ser entendido como um interpretante produzido por ele diante de sua revolta (signo) provocada pela Guerra Civil espanhola (objeto). Para nós, ele é um signo que representa a guerra (objeto) e produz um determinado sentimento / pensamento. Eis o processo da semiose, que nos envolve a todo o momento. Conforme resume Santaella (2007, p. 51-52): O homem só conhece o mundo porque, de alguma forma, o representa e só interpreta essa representação numa outra representação, que Peirce denomina interpretante da primeira. [...] Para conhecer e se conhecer o homem se faz signo e só interpreta esses signos traduzindo-os em outros signos. [...] É porque o signo está numa relação a três termos que sua ação pode ser bilateral: de um lado, representa o que está fora dele, seu objeto, de outro, dirige- se para alguém em cuja mente se processará sua remessa para um 17 outro signo ou pensamento onde seu sentido se traduz. E esse sentido, para ser interpretado tem de ser traduzido em outro signo, e assim ad infinitum. Se o signo é sempre uma representação, é porque existe algo no mundo que ele representa, e essa representação produz um efeito interpretativo em uma mente. Há ainda subdivisões para as categorias de objeto e interpretante que devemos observar (Santaella, 1992). O objeto poderá ser dinâmico, que é aquilo que está fora do signo propriamente, ou imediato, que é o modo como o objeto dinâmico está representado dentro do signo. Assim, a respeito de Guernica, podemos entender que seu objeto dinâmico é a própria guerra, enquanto seu objeto imediato é a cena (composta por homens, cavalos etc.) que Picasso criou como representação do seu sentimento de dor. Já o interpretante também poderá ser “dinâmico”, o que se refere ao efeito efetivamente produzido em uma mente interpretadora (aquilo que eu produzi como interpretação), ou “imediato”, que é aquilo que pode ser interpretado a partir do signo (seus limites de significação), e ainda final, que seria o efeito que a semiose produziria em qualquer mente, caso fosse levada até o limite. O interpretante final só existe enquanto um ideal, mas nunca pode ser atingido – ele é a verdade final sobre um determinado signo, que nunca se dá porque a semiose é ininterrupta, nunca se fecha, e, portanto, nunca acaba. Saiba mais Lucia Santaella é uma das maiores autoridades brasileiras em semiótica. No link abaixo você pode assistir a uma aula em que ela explica o conceito de signo. OPEN Learning: Semiótica Peirceana. Multimeiospucsp, 9 maio 2012. Disponível em: <http://www.antropologia.com.br/res/res21.htm>. Acesso em: 17 ago. 2018. TEMA 5 – PEIRCE (ÍCONE-ÍNDICE-SÍMBOLO) Os signos que povoam nossa mente possuem relações distintas com os objetos que os determinam, econsequentemente geram tipos de interpretantes distintos. Conforme descreve Andacht (2013, p. 25): “A semiose é a jornada ininterrupta a partir do objeto dinâmico – o real como ele é além de qualquer 18 representação – através do meio ou representamen até um signo mais desenvolvido do objeto representado, em que o sentido pode ser apreendido, o interpretante”. Peirce (1931-1958, 2.243) entende que podemos olhar para o signo sob três pontos de vista distintos: 1. Primeiro, de acordo com o signo em si mesmo, se é uma mera qualidade, algo que de fato existe, ou uma regra geral; 2. Segundo, de acordo com a relação do signo com seu objeto, se o signo possui uma característica em si mesmo, se há uma relação existencial com o objeto, ou se há uma relação com o interpretante; 3. Terceiro, se o interpretante o representa como um signo de possibilidade, como um signo factual ou como um signo da razão. Quando pensamos na relação entre o signo e seu objeto (2), estamos falando de um signo que pode ser icônico, indicial ou simbólico. Mas isso não quer dizer que o signo tenha uma dessas três formas exclusivamente, pois todo signo é as três coisas: um ícone, um índice e um símbolo. Dizer que um signo é icônico, por exemplo, apenas significa que esse aspecto, da iconicidade, nos parece mais relevante. De maneira geral, podemos dizer que: 1. o ícone se refere à aparência, ao aspecto primeiro de alguma coisa – imagens, cores, formas; 2. o índice se refere ao aspecto existencial – uma pegada na areia é um signo indicial de que alguém pisou ali; 3. o símbolo se refere a uma regra interpretativa, a uma convenção, como as que fazem parte de qualquer língua humana, ou as placas de trânsito, por exemplo. Essas três formas de apresentação dos signos estão, naturalmente, ligadas às três categorias fenomenológicas do pensamento. O quadro abaixo resume essa relação a partir de suas características definidoras. Quadro 1 – Características Primeiridade Ícone Uma qualidade, semelhança, sensação, possibilidade – perceber. Secundidade Índice Relação física com outra coisa – constatar. Terceiridade Símbolo Lei, regra, tendência, raciocínio – interpretar. Não devemos jamais nos esquecer de que todo signo é icônico, indicial e simbólico por natureza, e que a classificação nos serve para ressaltar um determinado aspecto de sua relação com o objeto que ele representa. Por isso mesmo dizemos que um ícone puro – por exemplo, uma cor – é um “quase- signo”, pois para se transformar em um signo de fato ela precisa encarnar em 19 algo (indicialidade) e então se apresentar à consciência humana, gerando uma interpretação. Peirce (1931-1958, 5.283, grifo no original) assim fala sobre estes três aspectos inerentes a todo signo em relação a seu objeto: Pois um signo tem, necessariamente, três referências: primeiro, é um signo para algum pensamento que o interpreta; segundo, é um signo por algum objeto para o qual, naquele pensamento, ele é equivalente; terceiro, é um signo em algum respeito ou qualidade, o que o traz em conexão com o objeto. Compreendemos que, quando Peirce fala da relação do signo “para algum pensamento”, ele está pensando no aspecto simbólico dessa relação, qual seja, a criação de um interpretante; quando ele fala do “signo por algum objeto”, ele está apontando para o objeto representado pelo signo, referindo-se, portanto, a seu aspecto indicial, sua existência no mundo; e finalmente, quando ele fala do signo “em algum respeito ou qualidade”, está se referindo a seu aspecto icônico, que se baseia em uma qualidade intrínseca do objeto. Dessa forma, temos aqui mencionados os três aspectos fundamentais da relação entre um signo e seu objeto: icônica, indicial, simbólica. Esta tríade, todavia, não funciona por exclusão. Bem ao contrário, como aponta Ransdell (1997, p. 17): Assim quando identificamos um signo como sendo icônico, por exemplo, isso significa que a iconicidade daquele signo é de um interesse especial para nós, por alguma razão qualquer implícita na situação e propósito daquela análise, sem qualquer implicação no sentido de que ele seja, por consequência, não-simbólico ou não- indicial. A fim de tornarmos essas categorias algo mais concreto, façamos algumas considerações genéricas sobre os aspectos dos signos. Um texto, por exemplo, sempre será um signo notadamente simbólico, pois sua matéria prima é a linguagem, um código em sua essência, que estabelece relações regidas por regras (a sintaxe e a semântica da língua, por exemplo). Uma mancha fresca de comida na sua camisa é um signo indicial de que você estava comendo há pouco tempo. Sua qualidade, a cor e o formato, chamam a atenção de nosso olhar enquanto uma possibilidade (primeiridade) – o que é isso? Ao constatarmos que se trata de uma mancha, estamos na secundidade. Sua cor e forma podem nos indicar o tipo de comida que você estava comendo. 20 Por fim, podemos interpretá-la como um signo de sua falta de habilidade com talheres, por exemplo – momento em que pensamos na mancha como um signo simbólico. Por outro lado, se você é um apreciador de música clássica, pode ouvir uma melodia e ficar completamente absorto por ela. Esse é o momento em que ela é um signo icônico para você – em que você não a identifica com um determinado compositor, nem se preocupa com a origem do som (da onde ela está vindo?). Claro que esse momento de primeiridade, em que a emoção pura e simples domina a percepção, é muito fugaz, porque basta “pensarmos” na música para que ela ganhe uma encarnação – “está vindo dali, é Vivaldi” – e uma interpretação – “como é bonita, tocou no casamento da minha irmã”. De modo geral, podemos dizer que o universo da arte é de natureza icônica, pois apela aos sentidos de maneira mais evidente. Uma imagem, desenho ou caricatura, por exemplo, se referem a seu objeto a partir da semelhança que a representação guarda com ele. A música, a mancha e o texto apresentam os três aspectos – icônico, indicial, simbólico. O texto também tem uma cor e tamanho, e está disposto em algum suporte – mas isso pode ser absolutamente irrelevante. O mesmo vale para a mancha, que apesar de não representar um tipo de linguagem específica, pode ser interpretada de diferentes maneiras. A música, por sua vez, é um tipo de linguagem, ainda que possa ser apreciada por aqueles que são completamente ignorantes nela – o que não acontece com um texto, por exemplo, que exige o conhecimento das “regras” dessa linguagem para que seja interpretado. Assim, podemos sempre pensar nas três categorias para falar de um signo, mas dependendo do signo, uma delas poderá ser mais evidente do que as outras. TROCANDO IDEIAS A semiótica de Peirce é uma teoria de alto grau de complexidade, e por isso mesmo exige um esforço intelectual grande. Como em qualquer teoria filosófica, não é tarefa fácil estabelecer relações concretas e objetivas entre os conceitos e a realidade que nos cerca. Todavia, Peirce tem como um dos fundamentos de sua teoria a própria ideia da falibilidade, ou seja, ele mesmo 21 nos adverte de que toda a interpretação que produzimos é provisória, e só vale enquanto não chegamos a uma ideia melhor, mais próxima da verdade. Portanto, não devemos ter medo de tentar. Você seria capaz de explicar, com suas próprias palavras, algum dos três conjuntos triádicos que vimos nesta aula? São eles: primeiridade, secundidade e terceiridade; objeto, signo e interpretante; ícone, índice e símbolo. NA PRÁTICA Podemos pensar em qualquer signo sob os três aspectos da relação com o objeto – ícone, índice, símbolo. Analise a imagem abaixo como um signo e reflita sobre esses três aspectos. Em que sentido podemos dizer que ela é um ícone, um índice e um símbolo? Qual destes aspectos é mais evidente? Figura 5 – Imagem: signo Crédito: Rvlsoft/Shutterstock. FINALIZANDONesta aula, começamos falando das vertentes russa e francesa dos estudos semióticos, que foram bastante populares ao longo do século XX. Os formalistas russos, Roland Barthes e Lévi-Strauss, entre tantos outros, produziram reflexões teóricas de grande impacto em seus campos de estudo, constituindo um movimento que ficou conhecido como Estruturalismo. Fortemente influenciado pela abordagem estrutural da língua, realizada por Saussure, essa tendência conferiu um caráter de rigor científico aos estudos humanistas. 22 Ao iniciarmos nossos estudos da semiótica peirceana, partimos da primeira tríade do pensamento semiótico desenvolvido pelo filósofo norte- americano: primeiridade, secundidade e terceiridade. Caracterizada como uma categorização do pensamento, ela se refere à nossa apreensão fenomenológica do mundo. Em seguida, estudamos a concepção fundamental da semiose como um processo que envolve um objeto, um signo e o interpretante produzido por essa relação. Esse processo, por sua vez, dá origem a uma nova cadeia semiótica, já que o interpretante é um outro signo, e assim funciona ininterruptamente. Por fim, abordamos as três formas de relação do objeto com seu signo: icônica, indicial e simbólica. Vimos que não se tratam de categorias excludentes, pois um signo sempre terá essas três características, ainda que uma delas seja, em determinada situação, mais relevante para a semiose. 23 REFERÊNCIAS ANDACHT, F. T. ¿Qué puede aportar la semiótica triádica al estudio de la comunicación mediática? Revista Galáxia, v. 12, n. 25, p. 24-37, 2013. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1995. LOPES, E. A identidade e a diferença. São Paulo: Edusp, 1997. PEIRCE, C. S. The Collected Papers of C. S. Peirce. Bostonn: Harvard University Press, 1931-1958. PUPPI, A. Comunicação e semiótica. Curitiba: InterSaberes, 2009. RANSDELL, J. On Peirce’s concept of Iconic Sign. Arisbe, 1997. Disponível em: <http://www.iupui.edu/~arisbe/menu/library/aboutcsp/ransdell/ICONIC.HTM>. Acesso em: 17 ago. 2018. SANTAELLA, L. A assinatura das coisas: Peirce e a literatura. Rio de Janeiro: Imago, 1992. _____. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2007. Conversa inicial Contextualizando Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS