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1 Plano de Aula de Parasitologia – Caso 8: JESS Beatriz Macacari – 341820563 Objetivos de aprendizagem: 1) Identificar as formas do parasito, associando com os modos de transmissão. 2) Discutir o modo de transmissão, patogenia e profilaxia. Resolução: 1) Identificar as formas do parasito, associando com os modos de transmissão. O ciclo biológico do T. gondii desenvolve-se em duas fases distintas: • Fase assexuada: em vários tecidos de diversos hospedeiros (aves, mamíferos inclusive gatos e outros felídeos). • Fase sexuada (ou coccidiana): nas células do epitélio intestinal de gatos e outros felídeos não imunes. Desta forma, T. gondii apresenta um ciclo heteroxeno, no qual os gatos são considerados hospedeiros definitivos ou completos por possuírem simultaneamente um ciclo sexuado, em células epiteliais do intestino, e um ciclo assexuado ocorrendo em outros tecidos. O homem e outros mamíferos, juntamente com as aves, são considerados os hospedeiros intermediários ou incompletos, pois possuem apenas o ciclo assexuado. FASE ASSEXUADA Um hospedeiro suscetível (homem, por exemplo), adquire o parasito e desenvolve a fase assexuada após ingerir oocistos maduros (esporulados) contendo esporozoítos encontrados em alimentos ou água contaminada, cistos contendo bradizoítos encontrados na carne crua ou, mais raramente, taquizoítos eliminados no leite. Os taquizoítos que chegam ao estômago são, na sua maior parte, destruídos pelo suco gástrico, mas os que penetrarem na mucosa oral poderão evoluir do mesmo modo que os bradizoítos e esporozoítos, como se segue: Cada esporozoíto ou bradizoíto (após diferenciação para taquizoíto) sofrerá intensa multiplicação intracelular, após rápida passagem pelo epitélio intestinal e invadirá vários tipos de células do organismo formando um vacúolo parasitóforo onde sofrerão divisões sucessivas por endodiogenia, formando novos taquizoítos (fase proliferativa) que irão rom per a célula parasitada (ou evadir destas células), liberando novos taquizoítos que invadirão novas células. A disseminação do parasito no organismo ocorre através de taquizoítos livres (ou intracelulares) na linfa ou no sangue circulante. Essa fase inicial da infecção - fast proliferativa - caracteriza a fase aguda da doença. Com c aparecimento da imunidade, os taquizoítos são eliminados do sangue, da linfa e dos órgãos viscerais, ocorrendo uma diminuição de parasitismo. Alguns parasitos diferenciam em bradizoítos para a formação de cistos. Esta fase cística, juntamente com a diminuição da sintomatologia, caracteriza a fase crônica, que poderá permanecer por longo período. Alternativamente, em indivíduos imunodeficientes, poderá haver uma reativação desta infecção, que ocorre por mecanismos ainda não inteiramente esclarecidos e apresenta sintomatologia semelhante à primo-infecção. FASE SEXUADA O ciclo sexuado ocorre somente nas células epiteliais do intestino delgado de gatos e outros felídeos não imunes. Durante o desenvolvimento desse ciclo ocorre uma fase reprodutiva prévia por merogonia (esquizogonia) seguida por outra sexuada (gametogonia) do parasito. Por esse motivo, esses animais são considerados hospedeiros definitivos. Deste modo, um gato não imune, infectando-se oralmente com oocistos, cistos ou taquizoítos, desenvolverá o ciclo sexuado. Após a ingestão de cistos, oocistos ou taquizoítos, os parasitos liberados no estômago penetram nas células do epitélio intestinal do gato e sofrerão um processo de multiplicação por merogonia, dando origem a vários merozoítos. O conjunto desses merozoítos formados dentro do vacúolo parasitóforo da célula é denominado meronte ou esquizonte maduro. O rompimento da célula parasitada libera os merozoítos que penetrarão em novas células epiteliais e se transformarão nas formas sexuadas masculinas ou femininas: as gamontes, que após um processo de maturação formarão as gametas masculinos móveis - microgametas (com dois flagelos) e femininos imóveis - macrogametas. O macrogameta permanecerá dentro de uma célula epitelial, enquanto as microgametas móveis sairão de sua célula e 2 irão fecundar a macrogameta, formando o zigoto. Este evoluirá dentro do epitélio, formando uma parede externa dupla, dando origem ao oocisto. A célula epitelial sofrerá rompimento em alguns dias, liberando o oocisto ainda imaturo. Esta forma alcançará o meio ambiente juntamente com as fezes. A sua maturação no meio exterior ocorrerá por um processo denominado esporogonia, após um período de cerca de 1 a 5 dias (dependendo ia temperatura e da aeração), e apresentará dois esporocistos, cada um contendo quatro esporozoítos. Após a infecção, gatos não imunes podem eliminar oocistos durante 2 semanas, aproximadamente. O oocisto, em condições de umidade, temperatura e local sombreado favorável, é capaz de se manter infectante por cerca de 12 a 18 meses. O tempo decorrido entre a infecção e o aparecimento de oocistos nas fezes dos felídeos (período pré-patente) dependerá da forma ingerida. Este período será de 3 dias, quando a infecção ocorrer por cistos, 19 dias ou mais, por taquizoítos e 20 ou mais dias, por oocistos. Em geral, gatos que já eliminaram oocistos tomam-se imunes e não eliminam novos oocistos, mesmo que reinfectados. Entretanto, a imunossupressão induzida por altas doses de corticosteroides podem induzir novas eliminações de oocistos. 2) Discutir o modo de transmissão, patogenia e profilaxia. TRANSMISSÃO A infecção pelo T. gondii constitui uma das zoonoses mais difundidas no mundo. Em todos os países, grande parte da população humana e animal (mais de 300 espécies de animais entre mamíferos e aves - domésticos ou silvestres) apresenta parasitismo pelo T. gondii. Em algumas regiões, 40 a 80% dos adultos aparentemente sãos apresentam-se positivos para toxoplasmose, em testes sorológicos. Essa variação da prevalência parece ser devida a fatores geográficos, climáticos, hábitos alimentares, tipo de trabalho etc., indicando que os mecanismos de transmissão devem ocorrer através de várias formas do parasito: oocistos em fezes de gato jovem infectado, cistos presentes em carnes, taquizoítos no sangue de gestantes, atingindo a placenta. O ser humano adquire a infecção por três vias principais: • Ingestão de oocistos presentes em água, verduras mal lavadas, solo, ou disseminados mecanicamente por moscas, baratas etc. 3 • Ingestão de cistos encontrados em carne crua ou mal cozida, especialmente de porcos ovinos e caprinos. Os cistos resistem por semanas ao frio, mas o congelamento a 0°C ou o aquecimento acima de 67°C os toma inviáveis à infecção. • Passagem transplacentária, sendo que o risco deste tipo de transmissão cresce de 14% no primeiro trimestre da gestação após a infecção materna primária, até 59% no último trimestre da gestação. E interessante esclarecer que as mulheres que apresentam imunidade adquirida ao T. gondii. antes da gravidez, podem infectar seus fetos caso venham a apresentar algum tipo de imunocomprometimento, em contraposição àquelas que apresentarem a primoinfecção durante a gestação. Conforme será mostrado abaixo, na seção Patogenia, as manifestações da toxoplasmose podem ser bastante variadas. Entretanto, em vista das possíveis anomalias que podem ocorrer no feto, a transmissão transplacentária é a mais grave. Formas de transmissão mais raramente observadas podem ocorrer pela ingestão de taquizoítos em leite cru de cabra com toxoplasmose aguda, acidente de laboratório, por transplante de órgãos ou transfusão sanguínea de indivíduos infectados na fase proliferativa. PATOGENIA T. gondii geralmente parasita seus hospedeiros (definitivo e intermediário), sem produzir sinais clínicos. Apenas em raras ocasiões o parasito causa manifestações clínicas graves. Taquizoítos de T. gondii (livres ou intracelulares) podem disseminar a partir do local da infecção para linfonodos mesentéricose para outros órgãos mais distantes através da linfa ou do sangue. Durante essa disseminação poderá ocorrer um quadro polissintomático, cuja gravidade dependerá da quantidade de formas infectantes adquiridas, do tipo de cepa do parasito (virulenta ou avirulenta) e da suscetibilidade do hospedeiro. Neste ponto, devido a áreas de necrose causadas em diferentes órgãos pelo crescimento intracelular de taquizoítos, a evolução da doença poderá levar até a morte do hospedeiro, o que ocorrerá principalmente em fetos ou em indivíduos com comprometimento imunológico com parasitismo de órgãos vitais. Na maioria dos casos, a proliferação de taquizoítos irá diminuir e cessar em função do aparecimento de resposta imune específica. Aproximadamente 10 dias após a infecção, taquizoítos iniciam o processo de diferenciação em bradizoítos e se multiplicam lentamente dentro do cisto onde podem evadir do sistema imune do hospedeiro e da maioria dos agentes terapêuticos. Este poder de conversão taquizoítos-bradizoítos é responsável pela fase crônica da infecção e o inverso (conversão de bradizoítos em taquizoítos) pelo evento central na reativação da toxoplasmose em pacientes imunodeficientes. Foram verificadas in vitro que diversas condições do ambiente como pH, temperatura e fatores imunológicos são responsáveis por essa conversão porém, mais estudos devem ser realizados para esclarecer os fatores da patogênese na toxoplasmose. A forma cística contendo bradizoítos contribui para o sucesso do Toxoplasma como parasito devido às seguintes características: o cisto sobrevive à ingestão e à passagem pelo estômago para invadir o intestino delgado; o cisto é refratário à resposta imune do hospedeiro e aos medicamentos; o estado dormente dos bradizoítos dentro do cisto previne o Toxoplasma de causar danos significativos ao hospedeiro, permitindo que o parasito persista de forma benigna; os bradizoítos, em cistos teciduais permanecem infectantes, sendo a transmissão do parasito realizada pelo consumo de vísceras do hospedeiro pelo predador. A patogenia na espécie humana parece estar ligada a alguns fatores importantes, tais como: variabilidade entre as cepas do parasito, idade e resistência do indivíduo e o modo pelo qual ele se infecta. A alta prevalência de cepas atípicas de T. gondii na América do Sul, em contraste ao observado no hemisfério Norte onde predominam cepas clonais (especialmente cepas do genótipo II), pode estar associada à maior gravidade da toxoplasmose observada no Brasil. Ressalta-se ainda que durante a invasão de células hospedeiras por T. gondii, as roptrias secretam proteínas da família ROP que são essenciais nesse processo. Fundamentalmente as proteínas quinase ROP 18 e ROP 16 e a pseudoquinase ROP5 são moléculas-chave na patogênese da doença, provavelmente por subverter as vias de sinalização entre o parasito e a célula hospedeira. O quadro clínico resultante da transmissão transplacentária de T. gondii é frequentemente mais grave, enquanto a toxoplasmose adquirida após o nascimento pode apresentar uma evolução variável. Com o uso de quimioterapia para transplantes de órgãos e da medula óssea, bem como nos casos da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), a 4 incidência de infecção oportunista por T. gondii tem aumentado, principalmente nas últimas décadas, apresentando quadros graves desta doença, especialmente no sistema nervoso central. Toxoplasmose Transplacentária ou Pré-natal Para que se instale uma toxoplasmose transplacentária é necessário que a gestante esteja na fase aguda da doença ou, mais raramente, tenha havido uma reativação da infecção durante a gravidez associada a imunodepressão acentuada. A parasitemia por T. gondii durante a gestação pode causar placentite e alguns taquizoítos podem atravessar a placenta e disseminar nos tecidos fetais. As consequências da toxoplasmose materna para o feto dependerão do grau da exposição do feto ao parasito, da virulência da cepa, da capacidade dos anticorpos maternos protegerem o feto e do período da gestação. Assim sendo, as gestantes na fase aguda da doença podem abortar, produzir partos precoces ou a termo, dando origem a crianças sadias ou apresentando anomalias graves e até mesmo levar à morte. As alterações ou lesões fetais mais comuns causadas pela toxoplasmose na gravidez variam conforme o período da gestação: • Primeiro trimestre da gestação: aborto (dados estatísticos indicam que a frequência de aborto é maior em gestantes com sorologia positiva que nas normais). • Segundo trimestre da gestação: aborto ou nascimento prematuro, podendo a criança apresentar-se normal ou já com anomalias graves típicas. • Terceiro trimestre da gestação: a criança pode nascer normal e apresentar evidências da doença alguns dias, semanas ou meses após o nascimento. Nesta situação, a toxoplasmose pode ser multiforme, mas em geral ocorrem lesões oculares, as quais são patognomônicas, um com prometimento ganglionar generalizado, hepatoesplenomegalia, edema, miocardite, anemia, trombocitopenia. Taquizoítos atingem a coroide e a retina (uni ou bilateralmente), provocam inflamação e degeneração em graus variáveis que, ao exame oftalmológico, recebe o nome de “foco em roseta” ou “em roda de carroça”. Este quadro pode causar microftalmia, cegueira, nistagmo, estrabismo, catarata e irite. Outras vezes, essa infecção da retina não provocará alterações no recém-nascido, uma vez que mecanismos imunes determinam o encistamento das formas. Posteriormente, já na idade adulta, poderá haver uma eventual reativação das formas latentes, levando a uma toxoplasmose ocular (de origem intrauterina). Portanto, a toxoplasmose congênita é uma das formas mais graves da doença, em geral provocando sintomas variados, mas comumente enquadrados dentro da “síndrome de Sabin”, assim caracterizada: coriorretinite (90% dos casos), calcificações cerebrais (69%), perturbações neurológicos - retardamento psicomotor (60%) e alterações do volume craniano - micro ou macrocefalia (50% dos casos). Outras possíveis manifestações clínicas são: epilepsia, anemia, rash cutâneo, icterícia, encefalite e reumonite. Toxoplasmose adquirida ou pós natal Dependendo da virulência da cepa, estado de imunidade da pessoa etc., a toxoplasmose pós-natal pode apresentar desde casos benignos ou assintomáticos (a grande maioria) até casos de morte. Entre esses dois extremos, há uma variada gama de situações, dependendo da localização do parasito: • Ganglionar ou Febril Aguda: é a forma mais frequente, encontrada tanto em crianças quanto em adultos. Há um comprometimento ganglionar, generalizado ou não, com febre alta. Pode ainda ocorrer mialgia, dor abdominal, hepatoesplenomegalia, mal-estar e exantema. Geralmente é de curso crônico e benigno, podendo às vezes levar a complicações de outros órgãos, inclusive a ocular (uveíte, coriorretinite). • Ocular: a coriorretinite (ou retinocoroidite) é a lesão mais frequentemente associada à toxoplasmose, uma vez que 30 a 60% dos casos se devem ao T. gondii. E consequência de uma infecção aguda com a presença de taquizoítos causando lesões na retina e na coroide. Parece que T. gondii alcança a retina através da corrente sanguínea na forma de taquizoítos livres ou taquizoítos residindo dentro de macrófagos circulantes, temporariamente sequestrados para dentro dos capilares da retina. Esses taquizoítos são liberados quando as células infectadas são lisadas e podem invadir a retina adjacente. A toxoplasmose ocular ativa consiste em um foco coagulativo e necrótico bem definido da retina. Além disso, pode estar presente uma inflamação difusa da retina e da coroide. Antígenos de T. gondii são frequentemente detectados em áreas de necrose por meio da imuno-histoquímica. Em pacientes com AIDS, somados 5 a lesões discretas ou multifocais pode estar presente uma necrose difusa da retina associada a leve inflamaçãoe grande número de parasitos. As lesões podem evoluir para uma cegueira parcial ou total ou podem se curar por cicatrização. As bordas da cicatrização são frequentemente hiperpigmentadas como resultado da ruptura do pigmento retinal do epitélio. Cistos teciduais podem estar presentes na borda da cicatriz. Podem ocorrer recidivas de toxoplasmose ocular em pacientes crônicos devido à reativação de cistos contendo bradizoítos localizados na retina. • Encefalite: manifestação clínica rara em indivíduos imunocompetentes, porém observada frequentemente em indivíduos com AIDS ou em pacientes utilizando drogas imunossupressoras, em decorrência da queda da imunidade e reativação de cistos encontrados no SNC em indivíduos com infecções latentes. Este risco de reativação, para indivíduos imunodeficientes com sorologia positiva para toxoplasmose, é estimado em cerca de 15 a 25%. Os parasitos invadem as células nervosas e provocam lesões necróticas focais múltiplas, principalmente no hemisfério cerebral (área frontoparietal) ou no gânglio basal e cerebelo. Como consequência, pode ocorrer cefaleia, febre, anomalias focais manifestando hemiparesia (paralisia) leve até perda da capacidade de coordenação muscular, confusão mental, convulsões, letargia, que pode progredir para estupor, coma, até a morte do paciente. Em alguns doentes, foram encontradas manifestações de delírio e alucinação visual. • Toxoplasmose e Doenças Psiquiátricas Estudos epidemiológicos associados à soroprevalência da toxoplasmose têm mostrado uma provável associação entre a presença de anticorpos para T. gondii e desordens neuropsiquiátricas em pacientes imunocompetentes, particularmente a esquizofrenia. No entanto, este assunto ainda é controverso e necessita ser investigado por estudos multicêntricos para que esta associação possa ser validada de uma forma mais contundente. PROFILAXIA • Beber apenas água filtrada e/ou fervida. • Controlar a população de gatos. • Os criadores de gatos devem manter os animais dentro de casa e alimentá-los com carne cozida ou seca, ou com ração de boa qualidade. • Descartar diariamente a areia da caixa utilizada para gatos defecarem no interior das casas. • Incinerar todas as fezes dos gatos. • Proteger as caixas de areia em escolas infantis para evitar que os gatos defequem nesse local. • Não se alimentar de carne crua ou mal cozida de qualquer animal ou leite cru. • Fazer o exame sorológico pré-natal trimestral para toxoplasmose em todas as gestantes, com ou sem histórico de enfartamento ganglionar ou aborto. • Tratamento das grávidas em fase aguda. • Desenvolvimento de vacinas: vacinas com subunidades do parasito, adequadas para combater a toxoplasmose nos seres humanos têm sido desenvolvidas, porém sem nenhum resultado preventivo concreto até o momento. Vacina existente no mercado para ovinos tem como proposta a diminuição da transmissão zoonótica e consequentemente tomar a came mais segura para consumo humano. Os animais vacinados adquirem imunidade contra T. gondii, e não teriam seus tecidos contaminados com cistos. Esta vacina ainda não é liberada para uso no Brasil.
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