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Teoria_Antropologica

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24/05/2019 AVA UNINOVE
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Acredito que a antropologia emana de um impulso tão antigo quanto a
humanidade, da curiosidade sobre os outros povos combinada com a
introspecção a nosso próprio respeito, quem quer que acreditemos ser. Ela
deriva da especulação sobre a natureza humana, sobre o que significa ser
mulher ou homem, e de um desejo de entender a variedade da cultura
humana.
(DAVID MAYBURY-LEWIS)
O que é Antropologia
APRESENTAR AO ALUNO A ANTROPOLOGIA COMO ÁREA DE ESTUDO DAS CIÊNCIAS
SOCIAIS, SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E DIVISÕES EM ÁREAS TEMÁTICAS.
Antropologia: significado, surgimento e áreas temáticas
O significado etimológico de Antropologia seria: anthropos = homem + logos =
estudo/tratado.
A Antropologia constitui-se em uma das áreas das Ciências Sociais. As outras duas áreas
seriam a Sociologia e a Ciência Política. Ela se interessa pelo estudo do homem, seu
processo evolutivo: as dimensões biológicas e culturais envolvidas neste processo. Uma das
preocupações mais presentes na Antropologia é a reflexão sobre o que em nós seria diverso
e o que seria universal.
A curiosidade do homem sobre si mesmo e sobre os fenômenos ao seu redor faz parte da
própria história da humanidade. Antes do século XVIII, os homens atribuíam aos
acontecimentos humanos e naturais causas ligadas ao misticismo e à religiosidade. Por
exemplo, os raios e os trovões seriam manifestações de contrariedade dos deuses.
Fatalidades ou incidentes com uma pessoa poderiam ser interpretados como castigo divino.
Podemos falar de ciência como explicação do homem e de sua cultura apenas no século
XVIII, inclusive bastante inspirada nos métodos científicos da Biologia e da Física. Este
conhecimento surge na Europa, mas fica restrito a este espaço, pois havia povos e culturas
ainda desconhecidos.
MATERIAL DIDÁTICO … PENSAMENTO POLÍTI…
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Preocupada em legitimar-se como ciência, a Antropologia segue o método das ciências
naturais e estabelece como objeto do conhecimento os primitivos, os não civilizados em
contraposição aos civilizados (principalmente países europeus e Estados Unidos da
América).
No início do século XX, a Antropologia fundamenta seus próprios métodos de pesquisa,
como a etnografia. No entanto, surge a percepção de que aqueles "eleitos" como objeto de
estudo — os primitivos — estão em contato constante com outros povos e, assim, estão se
transformando e/ou desaparecendo enquanto singularidade e isolamento culturais. Em
decorrência disso, a Antropologia define-se pela sua abordagem e não por objetos de estudo
específicos.
Todas as sociedades são passíveis de serem pesquisadas e analisadas pela Antropologia,
independentemente do espaço geográfico. O enfoque antropológico deve considerar e
estudar o homem em todas as suas dimensões: física, biológica, psicológica, econômica,
social, histórica e não compartimentá-lo.
As divisões da Antropologia
Podemos dizer que a Antropologia se divide em cinco grandes áreas: Antropologia Biológica,
Pré-História, Linguística, Psicológica, Cultura e Social.
A Antropologia biológica se refere ao estudo das variações de caracteres biológicos do
homem no espaço e no tempo, também à relação entre patrimônio genético e o meio, a
genética das populações: o inato e o adquirido que interagem continuamente. Ela questiona,
por exemplo, o porquê de uma criança africana ter o desenvolvimento psicomotor mais
adiantado do que o da criança europeia.
A Antropologia pré-histórica tem seu projeto ligado à arqueologia e visa reconstituir
sociedades desaparecidas, tanto os seus objetos quanto suas técnicas, organizações sociais e
produções artísticas e culturais.
A linguagem é parte do patrimônio cultural de uma população. É por meio dela que os
indivíduos de uma sociedade expressam seus valores, suas preocupações, seus pensamentos.
Parte dessa constatação gera o interesse da Antropologia pela linguística.
A Antropologia psicológica consiste no estudo dos processos e do funcionamento do
psiquismo humano. Somente por meio dos comportamentos conscientes e inconscientes dos
seres humanos particulares podemos apreender a totalidade dos conjuntos sociais.
A Antropologia social e cultural preocupa-se em demonstrar a particularidade da relação
dos vários aspectos sociais e culturais dos grupos humanos, por exemplo, os aspectos
econômicos, sociais, políticos, religiosos e técnicos de uma sociedade são ao mesmo tempo
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[...] apenas a distância em relação a nossa sociedade (mas uma distância que
faz com que nos tornemos extremamente próximos daquilo que é longínquo)
nos permite fazer esta descoberta: aquilo que tomávamos por natural em nós
mesmos é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é infinitamente
problemático. [...] De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas
cegos à dos outros, mas míopes quando se trata da nossa. A experiência da
alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem
teríamos conseguido imaginar dada à nossa dificuldade em fixar nossa
atenção no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos
evidente.
(LAPLATINE, 1988, P. 21)
particulares e diversos uns dos outros. É essa forma de apreensão da totalidade que
caracteriza o trabalho do antropólogo; como diz Lévi-Strauss, aquilo que os homens "não
pensam em fixar na pedra ou no papel".
O estudo do todo e da diversidade cultural
Além de a Antropologia preocupar-se em estudar tudo o que compõe uma sociedade, ela
estuda todas as sociedades em todas as épocas e lugares. Esse interesse pelo outro, pelo
diverso, é que nos possibilita perceber que nossa forma de expressão cultural é uma entre
várias.
Como podemos perceber, esse olhar antropológico é importante de ser desenvolvido em
todas as áreas de formação. A formação antropológica visa romper com a naturalização do
social, pois nossos comportamentos são definidos pela cultura em que nascemos. Assim,
além de contribuir com nossa formação, desperta uma postura mais tolerante com a
diversidade.
Chegamos ao fim desta aula. Caso tenha ficado alguma dúvida, entre em contato com o seu
professor-tutor.
REFERÊNCIA
ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. São Paulo:
Atlas, 2003.
ARANHA, Maria L. de A.; MARTINS, M. H. Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. São
Paulo: Moderna, 1993.
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LAPLATINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1988.
MARCONI, Marina de A.; PRESOTTO, Zélia M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo:
Atlas, 2001.
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A abordagem antropológica
DEMONSTRAR ALGUMAS ESPECIFICIDADES DA ANTROPOLOGIA, TANTO NO QUE
CONCERNE AOS ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS, QUANTO DA ESCOLHA DOS
OBJETOS DE ESTUDO.
Uma abordagem e não um objeto específico
Podemos dizer que o que essencialmente diferencia a Antropologia das outras Ciências
Sociais é sua abordagem, sua prática metodológica e não objetos de estudo específicos,
como se acreditava no século XIX (que o objeto de estudo seria as chamadas "sociedades
primitivas").
Uma das características importantes da Antropologia é a prioridade dada à experiência de
campo ou à observação direta dos comportamentos sociais. Na Observação Participante,
ocorre a integração e certa identificação do pesquisador com o grupo estudado, sendo
impossível que o antropólogo saia ileso desta experiência.A partir do contato com uma
cultura diferente e do diálogo com ela, ele questionará sua própria identidade cultural.
A Antropologia se detém em fenômenos sociais não escritos, não formalizados, mas naquilo
que é cotidiano no nosso comportamento e que nem ao menos nos damos conta. Por isso,
considera o imprevisto e não se preocupa com um planejamento de pesquisa rígido, pois
este imprevisto pode ser muito mais revelador do que a formalidade de um questionário. Por
exemplo, se estou estudando a discriminação racial em uma sala de aula, é muito mais
importante minha atenta observação do comportamento das pessoas envolvidas do que com
perguntas objetivas do tipo: "Você se considera uma pessoa racista?". Vocês acham que eu
conseguiria atingir respostas verdadeiras com esta minha suposta objetividade?
A Antropologia tem se detido no estudo das condutas habituais, dos resíduos, das minorias.
Objetos de estudo e a abordagem antropológica
Não existem objetos de estudo proibidos, temos pesquisas ligadas às sociedades complexas
e modernas. Por exemplo, a pesquisa Culturas Empresariais Brasileiras: estudo comparativo
de empresas públicas, privadas e multinacionais realizada com a coordenação do
antropólogo Guillermo R. Ruben da Unicamp, cujo objetivo era identificar aspectos
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brasileiros e sua influência na gestão e processo produtivo e as diferentes identidades entre
empresas públicas, privadas e multinacionais. No caso das últimas, revelou, por exemplo,
que não podem e não devem ser impermeáveis à brasilidade.
Um estudo de caso feito em um banco gerenciado por japoneses demonstrou que a
administração sobrepunha as culturas japonesa e brasileira, tentando manter intocada a
cultura nipônica num quadro de 60% de funcionários brasileiros. Isso acarretou problemas
no relacionamento entre funcionários, para a administração e, inclusive, para os resultados
de desempenho financeiro.
Este estudo demonstra que as organizações complexas, como empresas, podem ser objeto de
estudo da Antropologia. Esta área de estudo tem sido denominada por Antropologia das
Organizações e mostra a viabilidade de usar conceitos clássicos da Antropologia para o
mundo moderno. Os pesquisadores envolvidos com o projeto demonstraram a convicção de
que em quaisquer agrupamentos humanos as relações acontecem pautadas em referências
culturais e que o antropólogo pode auxiliar com o estudo delas.
É importante dizer que devemos investigar a totalidade das características do grupo que
estudamos. Tudo o que observamos é importante e não somente a temática estudada. Nas
palavras de Marcel Mauss: "o homem é indivisível e o estudo do concreto é o estudo do
completo", constitutivos da realidade social e que devem ser apreendidos pelo pesquisador.
"Após ter forçosamente dividido um pouco exageradamente [...] é preciso que os sociólogos
se esforcem em recompor o todo". (MAUSS apud LAPLANTINE, 1987, p. 90).
Uma das tarefas do antropólogo é, portanto, abordar a totalidade dos fenômenos sociais que
apresentam significações complexas. Nesse sentido, a utilização da pesquisa menos diretiva
possibilita aprofundar os aspectos inconscientes dos comportamentos sociais.
Continuaremos a abordar os aspectos que caracterizam a prática antropológica na próxima
aula.
REFERÊNCIA
CAPITALISMO com cara brasileira. Revista Fapesp, São Paulo, p. 92–95, mar. 2002.
COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2002.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991.
MARCONI, Marina de A.; PRESOTTO, Zélia M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo:
Atlas, 2001.
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Especificidades da prática e
abordagem antropológicas
DEMONSTRAR ALGUMAS ESPECIFICIDADES RELACIONADAS À AQUISIÇÃO DO
CONHECIMENTO ANTROPOLÓGICO. DIFERENCIAR E/OU RELACIONAR ESTE
CONHECIMENTO A OUTRAS ÁREAS AFINS, COMO A SOCIOLOGIA, A LITERATURA E O
CINEMA.
Um pouco mais sobre a abordagem antropológica
Como foi dito na aula anterior, existem algumas preocupações ou características inerentes à
abordagem antropológica. Uma delas refere-se à necessidade de nos descentrarmos daquilo
que nos é tão habitual em nossa cultura. É preciso que nos descentremos para comparar e
comparar para que nos descentremos. Simples, não? Parece simples, mas nem tanto, pois
desde que nascemos, carregamos uma série de valores e comportamentos tão arraigados que
nos distorce a visão do outro. No entanto, relativizar esta postura é extremamente
necessário para evitarmos uma visão simplista das outras sociedades ou, pior, uma análise
etnocêntrica.
Para que possamos identificar o que é específico e o que é variável nas culturas e na cultura
humana, devemos nos aproximar e nos impregnar lentamente do(a) grupo/temática
estudado(a), compreender a lógica de funcionamento de cada cultura e, finalmente, a partir
da comparação, percebermos a estrutura comum na espécie humana.
Outra especificidade da Antropologia é aceitar que toda sua produção está contextualizada
na época e cultura do pesquisador, tanto na escolha do tema de pesquisa quanto na
elaboração do seu trabalho. Isso não tira, em hipótese alguma, o caráter científico deste
conhecimento. Pertencer à determinada cultura e época deve ser um instrumento de
conhecimento e não obstáculo.
Para corroborar com o argumento mencionado, podemos citar o Evolucionismo, que no
século XIX produziu uma teoria para explicar a diversidade cultural totalmente voltada para
o contexto de conquista colonial. Podemos citar ainda o Funcionalismo, que tomou
emprestado diversos conceitos das ciências naturais, pois estas eram consideradas mais
avançadas. Por enquanto, vamos ficar nessas teorias apenas como exemplo, pois nos
aprofundaremos nelas em aulas seguintes.
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A perturbação que o etnólogo impõe através de sua presença àquilo que
observa e que perturba a ele próprio, longe de ser considerada como um
obstáculo que seria conveniente neutralizar, é uma fonte infinitamente
fecunda de conhecimento.
LAPLANTINE, 1991, P. 173
O importante é ressaltar que o discurso antropológico não está livre do seu contexto social
ou do contexto social do pesquisador. Há interferência da época e da cultura específica às
quais o pesquisador pertence tanto em relação ao tema escolhido quanto à produção do
resultado do estudo, o que não tira o seu caráter científico.
Além disso, você pode distinguir, mas não dissociar o observador do seu objeto de estudo
em nome de uma objetividade sempre relativa. Outra característica marcante da
Antropologia é observar o outro e, consequentemente, observar-se:
A Antropologia e suas interfaces
Uma semelhança que podemos destacar em termos de abordagens entre áreas do
conhecimento é a Antropologia e a Literatura. Entre elas, temos a narrativa do outro, o
encontro com este e a metamorfose de si. Identificamos também certa liberdade das
obrigações sociais, pois relativizamos a norma que está totalmente vinculada à cultura a
que pertencemos, mas que relativizamos em contato com o outro. Assim, interrogamos
nossa identidade a partir de testemunhos e documentos que não aqueles estritamente
considerados "científicos" e também macro, pois é nas entrelinhas e nos detalhes que
encontramos o habitual, o comportamental e o simbólico; ou seja, praticamos o "sair de si" e
nos distanciamos ideologicamente do que seja bem e mal, certo ou errado.
A Antropologiavisual, por meio da fotografia ou do cinema, pode revelar um universo de
possibilidades em termos culturais ou de denúncia em casos de injustiças e conflitos sociais.
É o que constatamos no trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado que, apesar de não fazer
um trabalho especificamente antropológico, serve como ferramenta para a reflexão sobre a
diversidade humana e, no caso de seu último trabalho "Gênesis", da diversidade humana e
sua relação também diversa com a natureza.
Para terminar, devemos ressaltar o acesso que o grande público tem às fotos, a filmes e à
própria literatura. E se queremos ampliar a contribuição prática que a Antropologia pode
dar à sociedade, esses recursos são riquíssimos.
Muitos autores se incomodam com o fato de escrever livros sobre pessoas que não terão
acesso sobre o conhecimento que elas mesmas ajudaram a construir. Desta forma, o cinema,
a fotografia e o romance permitem ao etnógrafo partilhar a Antropologia com aqueles
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homens que foram "objeto" do seu estudo.
Darcy Ribeiro foi exemplo de antropólogo que divulgou esse conhecimento através da
literatura. O seu romance Maíra, publicado em 1976, retrata, entre outras coisas, a violência
do contato entre brancos e índios; o que ele chama de "Enfrentamento dos Mundos".
Podemos dizer que, além de divulgar a Antropologia, Darcy Ribeiro a utilizou como
instrumento de transformação social.
1. Acesse o seguinte site para conhecer um pouco mais sobre o
novo livro de Sebastião Salgado. Disponível
em:http://entretenimento.uol.com.br
(http://entretenimento.uol.com.br/noticias/efe/2013/04/08/novo-
livro-de-sebastiao-salgado-genesis-faz-tributo-a-terra-
virgem.htm#fotoNav=3). Acesso em: 10 out. 2013.
2. Conheça mais sobre a biografia de Darcy Ribeiro acessando
o seguinte site: http://www.academia.org.br/
(http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?
infoid=438&sid=158). Acesso em: 10 out. 2013.
Chegamos ao fim desta aula. Caso fique alguma dúvida, entre em contato com o seu
professor-tutor.
REFERÊNCIA
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991.
RIBEIRO, Darcy. Maíra. São Paulo: Círculo do Livro, 1976.
______. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
http://entretenimento.uol.com.br/noticias/efe/2013/04/08/novo-livro-de-sebastiao-salgado-genesis-faz-tributo-a-terra-virgem.htm#fotoNav=3
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=438&sid=158
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Evolução humana e Antropologia
DISCUTIR ALGUNS ASPECTOS DO PROCESSO EVOLUTIVO HUMANO, ESPECIALMENTE
ACONTECIMENTOS QUE TENHAM SIDO FUNDAMENTAIS NESSE PROCESSO. POR
EXEMPLO, O ENTENDIMENTO DO ENTORNO, A FABRICAÇÃO DE FERRAMENTAS, O
CONTROLE DO FOGO E, FUNDAMENTAL, A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM PELA
CAPACIDADE DE PENSAMENTO ABSTRATO GERADO PELA MESMA.
Longo percurso
Uma das tarefas da Antropologia, aliada às outras áreas científicas, como a Biologia,
Arqueologia e Paleontologia, é traçar a trajetória que nos trouxe até aqui, até os seres
humanos que somos hoje.
Cabe ressaltar que há evidências científicas que comprovam nossa evolução. No entanto,
existem divergências, como a explicação religiosa do aparecimento dos seres humanos. O
Criacionismo, por exemplo, acredita que fomos criados por Deus, o que evidentemente
contradiz a explicação evolucionista.
Essa polêmica foi bastante presente não apenas nos tempos de Darwin, mas até hoje. O
próprio Darwin viveu esse conflito por ser católico e sofrer represálias, como a de que os
macacos do zoológico seriam os seus ancestrais. Darwin guardou consigo a ideia da teoria da
evolução por 12 anos e, depois de publicar A Origem das Espécies, em 1859, levou mais uma
década para completar seus estudos sobre a descendência humana.
Polêmicas à parte, hoje se sabe que não apenas a seleção natural, adaptação e mutações são
responsáveis pelo processo evolutivo. Tem sido proposta a teoria sistêmica ou dos sistemas
vivos. O foco central seria o da criatividade em direção à novidade. Evoluir para sistemas
mais complexos não significa evoluir para o humano ou algo necessariamente melhor e mais
adaptado. Assim, não apenas os biólogos, mas todos nós devemos reconhecer que não é a
competição, mas a cooperação e interdependência entre todas as formas de vida que
respondem pelo processo evolutivo.
Segundo Walter Neves, a extrema diversidade de grupos que nos antecederam possibilitou
responder de diferentes formas aos desafios colocados, tanto climáticos quanto ambientais.
Caso contrário, poderíamos não existir. Para dar um exemplo, houve, numa determina fase
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O Australopiteco parece ser, portanto, uma espécie de homem que
evidentemente era capaz de adquirir alguns elementos da cultura —
fabricação de instrumentos simples, caça esporádica, e talvez um sistema de
comunicação mais avançado do que o dos macacos contemporâneos, embora
mais atrasado do que a fala humana —, porém incapaz de adquirir outros, o
que lança certa dúvida sobre a teoria do ponto crítico. [...] O fato de ser
errônea a teoria do ponto crítico (pois o desenvolvimento cultural já se
vinha processando bem antes de cessar o desenvolvimento orgânico) é de
importância fundamental para o nosso ponto de vista sobre a natureza do
homem que se torna, assim, não apenas o produtor da cultura, mas também,
num sentido especificamente biológico, o produto da cultura.
(GEERTZ, APUD LARAIA, 2009, P. 57)
evolutiva (2,4 a 1,4 milhões de anos), um grupo denominado Boisei que estava adaptado à
seca.
Esses hominídeos comiam raízes de junco e viviam comodamente. Já os Homo habilis, (outro
grupo de hominídeos que conviveu com os Boisei) tinham "que se virar ?— evoluíram a
partir de um caminho mais flexível — e começarem a comer carne?". Só que competiam em
desvantagem com os leões e precisavam comer o tutano do osso que sobrava dos esqueletos.
Assim, tanto precisaram utilizar pedras pontiagudas para que alcançassem o tutano no
interior do osso, como o consumo da proteína da carne possibilitou o crescimento do seu
cérebro.
Conclusão: os aparentemente menos adaptados tiveram a possibilidade de ter seu cérebro
aumentado e a consequente utilização do mesmo para "ler" o mundo à sua volta. Perceberam
algo que hoje pode nos parecer banal, mas foi fundamental para chegarmos onde estamos:
espantar o caçador rival — o leão, por exemplo — era mais fácil em bando do que sozinhos.
De qualquer forma, não fomos promovidos a homens da noite para o dia, nisso é que reside a
crítica à teoria do "ponto crítico" postulada por Alfred Louis Kroeber (1917). Essa teoria
postulava a passagem a nossa condição humana quando todo nosso aparato orgânico
permitisse a aquisição da cultura, sendo esse um salto qualitativo sem precedentes na
história da humanidade.
Clifford Geertz alegará, em oposição à teoria do ponto crítico, que o homem é, ao mesmo
tempo, produtor e produto da cultura:
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Bem, como você já deve ter percebido, o conceito de cultura é fundamental para a
Antropologia. Por isso, continuaremos a falar sobre esse conceito na próxima aula. Caso
fique alguma dúvida, acesse o AVA e entre em contato com o seu professor-tutor.
REFERÊNCIA
GEERTZ, Clifford. A transição para a humanidade. In: TAX, Sol (Org.). Panorama da
Antropologia. Brasil-Portugal: Fundo de Cultura, s.d.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura:Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
LÉVI-STRAUSS, C. Natureza e cultura. In: As estruturaselementares do parentesco.
Petrópolis: Vozes; São Paulo: EDUSP, 1976.
MORRIS, Desmond. Os genes imortais. In: O animal humano. Lisboa: Gradiva, 1996.
QUEIROZ, Renato da Silva. O homem: animal que ri. In: Revista da USP. São Paulo, dez-fev.,
2003-2004.
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Conceitos básicos: cultura e
humanização
ABORDAR O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO A PARTIR DA VIDA EM SOCIEDADE E
CONSEQUENTE AQUISIÇÃO DE CULTURA. INICIAR A DISCUSSÃO SOBRE A DIVERSIDADE
CULTURAL E O ETNOCENTRISMO.
Conceitos básicos: cultura e humanização
Apenas nós somos produtores de cultura. Segundo Aranha e Martins (1993, p. 06), cultura
"significa tudo que o homem produz ao construir sua existência: as práticas, as teorias, as
instituições, os valores materiais e espirituais". Os homens elaboram e produzem todos
estes significados materiais e imateriais de forma infinitamente múltipla, daí decorrendo a
diversidade das culturas.
No sentido de verificarmos o quanto é verdadeira essa ideia, podemos pensar em casos
ocorridos com pessoas que não tiveram a oportunidade do convívio social desde crianças. O
que aconteceria com essas pessoas? Teriam elas comportamentos essencialmente
considerados humanos? Já podemos adiantar a resposta e esta seria: não! Até mesmo
expressões tão banais do nosso comportamento como andar e falar não seriam possíveis em
casos de isolamento.
Então: o que nos humaniza? A possibilidade de aprendermos e apreendermos os
comportamentos, hábitos, valores que nos são transmitidos pelo grupo ao qual
pertencemos.
A principal característica humana é a linguagem, pois é a partir dela que o homem produz
símbolos e se insere no universo da inteligência abstrata e, consequentemente, da cultura.
A palavra permite que o homem reorganize experiências passadas, permite ao homem que
se distancie do mundo concreto para elaborar a compreensão sobre o mesmo.
No caso de nosso enigmático Kaspar Hauser, sabemos que ele não passou, em seus primeiros
anos de infância, pelo processo de educação, que é a porta de entrada da abstração. Assim,
ele não compreendia o que se passava consigo, assim como com o mundo e as pessoas ao
seu redor.
Como estava despido de filtros e estereótipos culturais que todos nós adquirimos desde que
nascemos, Kaspar sofre a estigmatização daquele que é, no mínimo, socialmente deslocado.
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Frases ditas por Kaspar Hauser expressam essa sua incompreensão e impossibilidade de
ação: "Ninguém aceita Kaspar"; "O mundo é todo mau" e quando perguntado por uma nobre
da sociedade da época como era a vida no porão, ele responde: "Melhor do que aqui".
De acordo com Saboya (2001, p. 04) o caso de Kaspar Hauser "mostra-nos que a
humanização do homem, entendida como socialização, não é uma decorrência biológica da
espécie, mas consequência de um longo processo de aprendizado com o grupo social".
Conclui-se que, diante da impossibilidade da socialização, da aquisição da linguagem e,
portanto, do poder de abstração, o homem se empobrece como ser humano.
Temos inúmeros exemplos na literatura e na história da humanidade de tentativas de
restrição da linguagem ou de proibições de manifestações culturais como forma de tirar dos
homens ou dos grupos sociais a sua arma mais poderosa de resistência, ou seja, a sua
identidade cultural.
Na literatura, o personagem Fabiano de Vidas Secas se desumaniza na medida em que não
tem acesso ao conhecimento e às palavras. A pobreza e escassez de vocabulário acabam
gerando a pobreza da compreensão da situação de opressão e exploração a que é submetido
por seus patrões ou pessoas que representem o poder, a autoridade ou qualquer tipo de
superioridade.
Em contextos de governos totalitários, podemos citar o Nazismo como exemplo de
supressão de uma cultura para enfraquecer o grupo que se quer dominar. No período
nazista, Hitler proíbe aos judeus que se reúnam em clubes ou encontrem-se para qualquer
tipo de ritual ou celebração próprios da sua identidade cultural, pois sabia que com essa
estratégia enfraqueceria e desuniria os judeus.
Contradição humana: vida em sociedade x liberdade
individual
Podemos concluir que é apenas pela possibilidade da socialização que nos humanizamos. Ao
mesmo tempo, ao introjetarmos várias normas, hábitos, regras, condutas de nosso grupo
social, corremos dois riscos; o primeiro deles seria o de perdermos nossa individualidade e
caminharmos sempre de acordo com o que o grupo espera. O segundo é de nos tornarmos
intolerantes com pessoas e/ou grupos diferentes de nós.
Por isso, precisamos saber que pertencer a um grupo, a uma família, a um país e termos com
estas pessoas uma identificação ou identidade cultural é extremamente importante até para
que nossa existência faça sentido. O problema reside no fato de que ao "naturalizarmos"
para nossas crianças, desde pequenas, nosso comportamento e dizermos a elas que este é o
certo ou o único possível, podemos estar educando pessoas intolerantes e, às vezes, até
mesmo agressivas.
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Nossa produção artística, literária, cinematográfica, assim como nossos estudos científicos,
devem servir para mostrar a todos nós as infinitas possibilidades de ser da humanidade. A
possibilidade de irmos contra as posturas engessadas de repugnância em relação ao outro. O
estranhamento ao que nós é comum é a possibilidade de ir ao encontro do outro e de
combater o dogmatismo, o etnocentrismo e o preconceito. Mas isso já faz parte da próxima
aula!
Chegamos ao fim desta aula. Caso fique alguma dúvida, leve a questão ao Fórum e divida-a
com seus colegas e professor.
1. Para saber mais sobre o personagem enigmático Kaspar
Hauser, consulte artigo de Maria Clara Lopes Saboya no
site: www.scielo.br/ (http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0103-
65642001000200007&lng=pt&nrm=iso), acesso em 07 out.
2013. Existe também o filme de Werner Herzog, O enigma
de Kaspar Hauser, que ilustra brilhantemente a vida deste
personagem.
2. Conheça uma pouco mais a história do Nazismo e de Adolf
Hitler no site: www.brasilescola.com/
(http://www.brasilescola.com/historiag/nazismo.htm),
acesso em: 07 out. 2013.
REFERÊNCIA
ARANHA, Maria L. de A; MARTINS, M. H. Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São
Paulo: Moderna, 1993.
ENIGMA de Kaspar Hauser, O. Direção: Werner Herzog. Gênero: Drama. Duração: 101 min.
Alemanha, 1974.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991.
QUEIROZ, Renato da Silva. Não vi e não gostei: o fenômeno do preconceito. São Paulo:
Moderna, 1997.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642001000200007&lng=pt&nrm=iso
http://www.brasilescola.com/historiag/nazismo.htm
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Significados de cultura
APRESENTAR AS VÁRIAS INTERFACES QUE COMPÕEM O CONCEITO DE CULTURA.
DEMONSTRAR A IMPORTÂNCIA E OPERACIONALIDADE DO CONCEITO PARA A
ANTROPOLOGIA. INICIAR A REFLEXÃO DAS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES DE CULTURA
PELAS TEORIAS ANTROPOLÓGICAS.
Significados de cultura
Podemos iniciar este tópico dizendo que há vários significados para cultura, tão ampla pode
ser a sua definição. No entanto, uma afirmação é certa: trata-se de um conceito central da
Antropologia, não descartando a sua importância também para as outras ciências.
No sentido estrito significa colere: cultivar ou instruir; cultus: cultivo, instrução.
Entretanto,não podemos pensar apenas neste sentido, pois ele se aplicaria muito mais à
ilustração, a uma pessoa culta, sendo apenas um dos sentidos do termo.
Para a Antropologia, a cultura é, em linhas gerais, todo comportamento transmitido e
aprendido pelos indivíduos de um mesmo grupo social. Como vimos na aula anterior, todo
ser humano que vive em sociedade se insere no mundo da cultura, dos símbolos, da
linguagem e, por isso, torna-se humano.
É possível destacar ainda, a cultura material da imaterial. A primeira seria o conjunto de
instrumentos e objetos materiais resultantes de determinada tecnologia e conhecimento
acumulado e específico da sociedade em questão. Este aspecto pode revelar muito do
imaterial, o qual é conjunto da produção não palpável, não concreta de uma sociedade. Por
exemplo, crenças, conhecimentos, religião, normas, hábitos, comportamentos e valores.
Refletir sobre o que seja a cultura de um povo ou de um grupo social é muito importante
para entendermos a humanidade em suas diferentes formas de se organizar e dar
significados para sua existência. Não podemos pensar em cada cultura isoladamente, pois
todos os grupos estão em contato e, em razão disso, não podemos pensá-la como algo
estático, mas sim como um processo dinâmico.
Nos primórdios da humanidade tínhamos uma família humana comum em termos
biológicos, mas que foi se diferenciando ao longo do tempo. Apesar das mudanças há alguns
aspectos que se generalizam nas sociedades, como o fato de todas elas se apropriarem dos
recursos naturais para sobreviverem ou de todas se organizarem social e politicamente.
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Conclui-se, que a multiplicidade e diversidade das culturas nada têm a ver com diferenças
biológicas na espécie humana, mas com outras formas de se organizarem e de dominarem a
natureza.
Houve época em que teóricos e estudiosos das diferentes culturas sugeriram hierarquizá-las
pelo critério de maior capacidade de produção material, controle de tecnologias ou
instituições sociais consideradas mais evoluídas. Essa época é o século XIX, no qual o
contexto político e social é de conquista colonial e o antropólogo se interessa por
informações vindas das colônias por meio de questionários enviados por administradores e
missionários lá residentes.
As primeiras obras literárias desta teoria chamada de Evolucionismo objetivavam traçar um
conhecimento sobre o homem, em todas as suas dimensões. Nesta grande descrição da
humanidade, o selvagem do século XVI se torna o primitivo, ancestral do civilizado e, com
isso, a colonização possibilitou encontrar as origens da humanidade.
A ideia central da antropologia evolucionista é que a família humana passaria pelos mesmos
estágios evolutivos, partindo da selvageria, passando pela barbárie, até atingir seu estágio
máximo de evolução, que seria a civilização. No entanto, essa evolução ocorreria em ritmo
desigual nas diferentes sociedades. Continuaremos falando sobre o Evolucionismo na
próxima aula.
Leia na íntegra, a seguinte obra: LAPLANTINE, François. O tempo dos pioneiros: os
pesquisadores eruditos do século XIX. In: ______. Aprender Antropologia. São Paulo:
Brasiliense, 1991 e MORGAN, Lewis. Os períodos étnicos. In: A Sociedade Primitiva.
São Paulo: Presença, 1978.
Aula estudada! Caso fique com dúvidas, leve ao Fórum e divida com seu professor e colegas.
REFERÊNCIA
FRAZER, James. O Ramo de Ouro. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982.
L APLANTINE, F. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1987.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. In: ______. Antropologia Estrutural 2. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1993.
MARCONI, Marina de A.; PRESOTTO, Zélia M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo:
Atlas, 2001.
SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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O Evolucionismo
APROFUNDAR A REFLEXÃO SOBRE A TEORIA EVOLUCIONISTA COMO A PRIMEIRA
INTERPRETAÇÃO DAS DIFERENÇAS CULTURAIS.
O Evolucionismo e a função 
do antropólogo
No contexto do Evolucionismo, a função do Antropólogo, na figura de estudiosos
eminentemente teóricos, pois não faziam pesquisa de campo e se fechavam em gabinetes,
seria a de determinar cientificamente os estágios das transformações evolutivas. Cabe
ressaltar que, se no século XVI houve pensadores e viajantes que consideravam os
aborígenes como aqueles que estavam fora da história e permaneceriam no estado de
infância da humanidade. Para os evolucionistas, o desenvolvimento do indivíduo reproduz o
desenvolvimento da humanidade: da infância à idade adulta.
As instituições sociais eram alocadas em níveis de evolução para que se definisse o estágio
evolutivo da sociedade a que pertenciam, por exemplo, a magia representaria o estágio
menos evoluído: selvageria – passando à religião, barbárie, e, posteriormente, ao maior
estágio evolutivo que seria representado pela ciência – a civilização.
Essa teoria sofreu uma série de críticas, como a de que mediria o atraso das outras
sociedades pelos critérios do Ocidente. Outra crítica seria a de que o pesquisador tomaria
por tema de estudo sociedades não ocidentalizadas e apontaria as vantagens da civilização.
Desta forma, o Evolucionismo se tornaria uma justificativa teórica para o colonialismo, pois
estaria acelerando ou auxiliando as sociedades menos evoluídas a alcançarem mais
rapidamente a civilização.
Segundo Laplantine (1987), a teoria Evolucionista lança mão de julgamentos de valor para
analisar as chamadas sociedades "primitivas", ao mesmo tempo em que objetiva extrair de
documentos prontos leis gerais do desenvolvimento da humanidade. Neste sentido, apoia-
se muito mais em uma tese do que em uma hipótese de pesquisa a ser confirmada ou
refutada.
Deve-se considerar a validade das obras dos evolucionistas pelo trabalho intenso, pela
curiosidade, pela abrangência do conhecimento. Enfim, o fato de terem colocado pela
primeira vez uma das grandes questões no estudo do homem: a universalidade e a
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As culturas e sociedades humanas se relacionam de modo desigual. As
relações internacionais registram desigualdades de poder em todos os
sentidos, os quais hierarquizam de fato os povos e nações. Este é um fato
evidente da história contemporânea e não há como refletir sobre cultura
ignorando essas desigualdades. É necessário reconhecê-las e buscar sua
superação.
(SANTOS, 1987, P. 18)
diversidade humanas.
É importante também ressaltar o caráter antirracista desta teoria, pois as diferenças
culturais não estavam justificadas por critérios genéticos ou biológicos, mas por resultado
de situações técnicas e econômicas. Apesar destas considerações, é inegável o caráter
etnocêntrico da teoria Evolucionista.
Evolucionismo X Relativismo
Não podemos trocar um equívoco pelo outro: a esquematização das culturas em sua
hierarquização evolutiva por sua relativização total. Assim, esquecemos aspectos objetivos
que o desenvolvimento histórico e a relação entre os povos impõem. Trata-se aqui do
Relativismo como forma de entendimento das diferenças culturais.
Segundo Santos (1987), enquanto cientistas sociais de países desenvolvidos relativizam
culturas, os seus países avançam implacavelmente conquistando e destruindo.
De acordo com o relativismo cultural, o conceito de certo e errado, de usos e costumes
particulares, relaciona-se à cultura da qual faz parte e, por isso, deve ser analisado a partir
da lógica que faz para aqueles que a vivenciam. Essa atitude em não repudiar, mas sim
respeitar as diferenças culturais afastaria o olhar etnocêntrico por diversas vezes aqui
citado.
Outros exemplospolêmicos e que nos trazem a reflexão sobre os limites do relativismo é
pensarmos em hábitos culturais tradicionais nas diferentes sociedades, mas que podem, por
exemplo, ferir direitos humanos. Podemos citar o infanticídio, o gerontocídio e a extirpação
do clitóris como comportamentos considerados, até certo ponto, "normais" em algumas
sociedades.
Dito isto, não podemos esquecer que isso também serve para refletirmos sobre o interior de
uma sociedade particular. Não é possível simplesmente relativizar e esquecer que existem
grupos e classes sociais mais poderosos.
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No caso da sociedade brasileira, há imensa variedade de formas culturais, pois para cá
vieram pessoas do mundo inteiro, há diferenças regionais, de escolaridade, de idade e tudo
isso reflete na diversidade cultural, referente a grupos internos de metrópoles, do campo ou
cidade com características peculiares religiosas ou filosóficas, por exemplo.
Apesar destas características internas distintas temos sempre o diálogo e o contato entre os
grupos. Daí a importância de pensarmos a cultura de forma não estagnada. As sociedades
são dinâmicas e interagem. É essencial refletirmos sobre a cultura, origem e diversidade, no
que é e no que pode vir a ser sem que isso sirva de justificativa à opressão.
Dessa forma, concluímos o quanto é ampla e polêmica a discussão sobre cultura, e por isso
continuaremos nas próximas aulas.
REFERÊNCIA
FRAZER, James. O Ramo de Ouro. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982.
L APLANTINE, F. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1987.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. In: ______. Antropologia Estrutural Dois. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993.
MARCONI, Marina de A.; PRESOTTO, Zélia M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo:
Atlas, 2001.
SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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Cultura popular e erudita
REFLETIR SOBRE ASPECTOS REFERENTES AO CONCEITO DE CULTURA, O QUE SE
ENTENDE POR CULTURA ERUDITA E POPULAR, ASSIM COMO A NOÇÃO DE PODER
IMPLÍCITA NESSES ASPECTOS.
O erudito e o popular na cultura
Nesta aula falaremos sobre duas concepções sempre presentes quando o tema é cultura. A
primeira delas estaria ligada a tudo aquilo que se relaciona à alta cultura, cultura de elite,
contrário à barbárie, sinônimo de civilização, acesso ao conhecimento, à língua escrita, arte,
música (em especial clássica). A tudo isso, convencionou-se chamar cultura erudita.
Outra designação diria respeito à cultura de um povo, nação ou grupo, em relação às suas
raízes e a sua história. As Ciências Sociais, em especial a Antropologia, vem tratando do
conceito de cultura referente à segunda concepção.
Na verdade, falarmos destas concepções é muito mais importante para ampliarmos e
aprofundarmos a discussão do que para diferenciá-las. Cultura popular e erudita são "faces
da mesma moeda" e não contraditórias ou excludentes entre si.
A concepção de totalidade de uma realidade social sedimentou-se na concepção científica de
cultura no século XIX; já na concepção de conhecimento produzido por uma dada sociedade,
é mais antiga, pois se refere ao refinamento pessoal e erudição.
A chamada cultura popular está ligada, historicamente, às classes menos favorecidas e a
erudita às elites. Em virtude da própria sociedade dividida em classes sociais ocorreu o que
as instituições que produzem saber, arte, profissões são dominadas pela elite. O que vem a
ser considerado popular é duplamente definido pela elite, pois ela define o que fica de fora
ou não da chamada cultura erudita, consequentemente, o que é cultura popular.
Entretanto, como já sinalizado, seria um engano polarizar o que seja popular do que seja
erudito, pois são muitas as nuances entre manifestações artísticas, religiosas, científicas de
uma e outra. Isso porque as classes dominadas e dominantes partilham do mesmo processo
social. Toda produção cultural é processo dessa existência comum, um produto dessa
história coletiva, o que se reparte desigualmente é o seu controle e os seus benefícios.
Conclui-se que não se pode pensar isoladamente numa cultura popular já que ela atinge
uma parcela tão grande da população.
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Mas é claro que nem o carnaval nem os cultos afro-brasileiros podem ser
entendidos exclusivamente da ótica (sic) dessa origem que se pode chamar
de popular. Afinal, é obviamente como parte do processo histórico da
sociedade como um todo que ambos encontram condições de generalização.
Consolidam-se com o crescimento das cidades do país, encontram forte
expressão nos centros políticos e econômicos mais importantes, como é o
caso de São Paulo e Rio de Janeiro. Transformam-se com o país e deixam de
ser exclusivamente associados a uma parte da população, seja na sua prática,
seja na sua organização.
(SANTOS, 1987, P.61)
Poderíamos considerar algumas manifestações populares na cultura, como o carnaval e a
umbanda, que têm origem africana e foi oprimida por muito tempo na história brasileira, no
entanto, originalmente são manifestações populares.
Por outro lado, temos manifestações culturais que se originaram ou foram trazidos para o
Brasil pela elite e que, com o passar do tempo, foram se popularizando. O futebol foi trazido
para o Brasil por Charles Miller, um menino da elite paulistana que foi estudar na Inglaterra
e lá se encantou com o jogo. Os primeiros jogos realizados no Brasil aconteceram entre
funcionários de empresas inglesas de São Paulo. O primeiro jogo aconteceu em 15 de abril
de 1895. Em sua origem, a prática do futebol era vedada aos negros. Podemos concluir que,
embora de elite em sua origem, atualmente o futebol é um dos jogos mais populares no
Brasil e no mundo.
Exemplos semelhantes são o espiritismo e a medicina homeopática que foram introduzidos
no Brasil por representantes das classes dominantes provenientes da França. Mesmo
considerando que, no caso da homeopatia, esta elite tenha se preocupado com que as
classes oprimidas, como os escravos, tivessem acesso ao seu uso. Atualmente, tanto a
homeopatia quanto a religião espírita não podem ser consideradas como manifestações
culturais de elite.
Uma característica importante da cultura popular é seu caráter de resistência à opressão
que sofre. Neste sentido, se refere a tudo que tenha a ver com o seu crescimento e
fortalecimento. Segundo Santos "as manifestações culturais não podem ser totalmente
reduzidas às relações sociais de que são produto. Elas também têm sua dinâmica própria. A
cultura é criativa." (1987, p.66)
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(...) a cultura popular como 1) um processo plural, em constante criação e
recriação, 2) uma forma de resistência à ideologia dominante ou, ao
contrário, 3) como fruto dessa mesma dominação,entendida como o
resultado de uma relação de tensão entre o interesse do dominante e o
interesse do dominado e, portanto, ambígua e dissimulada; finalmente, 4)
como o espaço no qual se reproduzem simbolicamente as relações de poder
vigentes na sociedade, ou onde se invertem, temporária e ritualmente, essas
mesmas relações – a cultura popular é concebida sempre do ponto de vista
de suas relações com o poder.
(DOMINGUES, 2008, P.14)
O funk carioca surgiu por influência de um ritmo da Flórida chamado Miami Bass e na
década de 1990 suas letras tratam do cotidiano dos moradores das favelas, de sua exclusão
social, da violência a que estão sujeitos e do tráfico de drogas; enfim, retratavam a realidade
das classes menos favorecidas. Neste sentido, serviucomo denúncia e protesto, e serve até
hoje.
Todavia, não podemos reduzir a cultura popular ao que se chama de povo pela própria
dificuldade em definir esse termo. Povo seria o conjunto daqueles que não pertencem à
elite, mas não podemos dizer que estes excluídos sejam uma massa homogênea. Talvez seja
melhor falarmos em culturas populares referentes à: local (campo/cidade), sexo
(masculino/feminino), faixa etária (velhos/jovens) e assim por diante. Essas culturas serão
tanto mais autônomas quanto menor a possibilidade de diálogo com outros grupos.
Segundo Domingues, atualmente as abordagens sobre cultura tendem a considerar:
Neste contexto, cultura como conceito e como realidade necessita ser pensada como
instrumento de dominação e/ou de criação de resistência.
Assim, surgiu novamente a importância de inserirmos a noção de processo, de mudança e de
diálogo, pois falarmos em cultura não é citar peças de museu, folclore, ou qualquer ideia de
estático. Cultura não se refere apenas a tudo o que não seja social, econômico ou político;
pelo contrário ela está imbricada com estas e outras dimensões da realidade. Temos
exemplos de organizações empresariais que desprezaram fatores culturais e que tiveram
fracasso econômico ou administrativo.
Não podemos esquecer também da chamada cultura de massa, que será o tema da próxima
aula.
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1. Acesse o site a seguir e veja um artigo que trata de
pesquisas em Antropologia das Organizações e que revelam
o peso das dimensões culturais na administração das
empresas em termos das relações interpessoais entre
colegas de trabalho e entre as chefias e funcionários
chegando, caso desconsiderado ao extremo do fracasso
econômico destas empresas. Disponível em:
revistapesquisa.fapesp.br
(http://revistapesquisa.fapesp.br/?
art=1723&bd=1&pg=1&lg=-35k-) . Acesso em: 13 set. 2013.
REFERÊNCIA
BOURDIEU, P. Pierre Bourdieu – Sociologia. São Paulo: Ática, 1983.
SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.
THOMPSON, E. P. Costumes em Comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=1723&bd=1&pg=1&lg=-35k-
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Cultura de massa
REFLETIR SOBRE A CULTURA DE MASSA, OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS
PARA DEFINIÇÃO DESSA ESPECIFICIDADE CULTURAL. PROBLEMATIZAR A RECEPÇÃO DA
CHAMADA CULTURA DE MASSA PELOS DIFERENTES ATORES SOCIAIS.
Como vimos na aula anterior, internamente uma sociedade apresenta diversidades relativas
à classe social, que tem estilo de viver próprio. Mas nem mesmo dentro de uma classe as
vivências são as mesmas. Vários são os recortes de tempo, de espaço físico, de idade, de
gênero que podem ser dados para falar de cultura. Por isso, é importante falarmos também
dos meios de comunicação de massa no país.
Convém dizermos que na comunicação de massa existe uma tendência à homogeneização
cultural, dando a impressão de que são amenas as desigualdades sociais, pois todos
compartilham, aparentemente, da produção e consumo de produtos e bens. A televisão, o
rádio, o cinema e a internet atuam neste sentido. Entretanto, por mais eficientes que estes
meios de comunicação sejam, eles não conseguem nublar totalmente a consciência da
opressão e desigualdade vivenciada pela população mais carente.
A cultura de massa, grosso modo, pode ser considerada toda forma de produção cultural
feita a partir da modernidade e que pode ser disseminada pelos meios de comunicação de
massa (rádio, televisão, jornal e internet), portanto, envolve uma série de questões ligadas
ao nosso cotidiano na contemporaneidade. Podemos dizer que as formas de vida, os padrões
de relacionamento, consumo, produção, etc., dependem da forma como lidamos com os
nossos meios de comunicação, e, concomitantemente, com a cultura de massa por eles
veiculada. Para muitos, a vida sem as informações ou o entretenimento proporcionado pela
televisão, por exemplo, seria inconcebível e, para uma grande parte destes, ficar dois ou três
dias sem acesso à internet pode parecer uma forma de sucumbir a um vazio existencial
profundo.
A existência da cultura de massa está ligada diretamente à existência das massas – da
sociedade de massa, das grandes cidades e aglomerados urbanos e dos meios de
comunicação que difundem e disseminam a cultura para grandes audiências ou recepções. A
cultura de massa depende, portanto, de um grande público consumidor e de um modo de
produção industrial em larga escala.
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Podemos situar a origem desta cultura na invenção da prensa mecânica, momento em que a
forma de produção de informações gráficas deixou de ser artesanal para se tornar mecânica,
o que possibilitou grandes tiragens. Naquele momento, no entanto, havia ainda o
predomínio da cultura oral e a população apresentava características majoritariamente
rurais. A alfabetização era privilégio de poucos, acessível apenas a uma minoria letrada. A
possibilidade de disseminação da leitura e do conhecimento proporcionada pelas grandes
tiragens, o surgimento de editores e livreiros que impulsionavam novas produções e a
reedição de autores da antiguidade clássica por meio da nova forma de impressão
incentivou a nova "indústria" e incentivou a universalização da leitura e da escrita.
Segundo McLuhan (1990), o livro impresso liquidou com dois mil anos de cultura
manuscrita, fez prevalecer a interpretação particular sobre o debate público e estabeleceu o
"divórcio entre a literatura e a vida", criando uma cultura altamente abstrata por ser ele
mesmo "uma forma mecanizada de cultura". A expansão do mercantilismo e a busca por
informações comerciais possibilitaram uma grande expansão da imprensa escrita nos
grandes centros urbanos, tornando o jornal o primeiro meio de comunicação com as
características típicas da cultura de massa.
Em um determinado momento, as informações que eram de interesse estrito da esfera
pública (dos governos e entidades de controle comercial) passaram a ser também de
interesse privado. Para Jürgen Habermas (apud MARCONDES FILHO, 1989), o jornal surgiu
das necessidades do comércio mundial no começo dos tempos modernos; o cálculo
capitalista necessitava de um fluxo de informações controlável, regulável e acessível em
geral. O trânsito de notícias se desenvolveu não somente no contexto das necessidades do
trânsito de mercadorias, pois as próprias notícias se transformam em mercadorias.
A Revolução Industrial amplificou a necessidade de informações, assim como possibilitou a
criação de incrementos técnicos que tornaram as grandes tiragens de livros e jornais em
uma realidade. Ao mesmo tempo iniciou a transferência da população do campo para a
cidade, atraída pelo trabalho nas linhas de produção, propiciando a concentração da
população nos grandes centros urbanos. Surgia, então, na passagem do século XVIII para o
XIX, as condições ideais para o surgimento da cultura de massas, em bases como a temos até
hoje, ou, modificada indelevelmente pela popularização da internet na atualidade.
Na próxima aula discutiremos o papel essencial que o rádio, a televisão e a internet tiveram
como veículos da cultura de massa.
Até lá!
REFERÊNCIA
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HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de
massas. In: LIMA, C. L. Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
MARCONDES FILHO, Ciro. O Capital da Notícia. São Paulo: Ática, 1989.
McLUHAN, M. Visão, som e fúria. In: LIMA, C. L. Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1990.
SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. SãoPaulo: Brasiliense, 1987.
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Cultura de massa — rádio, televisão e
internet
REFLETIR SOBRE A CULTURA DE MASSA, OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS
PARA DEFINIÇÃO DESSA ESPECIFICIDADE CULTURAL, ALÉM DE PROBLEMATIZAR A
RECEPÇÃO DA CHAMADA CULTURA DE MASSA, EM ESPECIAL DOS VEÍCULOS DE
COMUNICAÇÃO: RÁDIO, TV E INTERNET.
Cultura de massa: rádio, TV e internet
Nada foi tão importante para a constituição da noção de cultura de massas na atualidade
quanto o rádio, a TV e o cinema. Como vimos, o impulso técnico proporcionado pela
industrialização alavancou a corrida pela constituição de um mercado que abarcasse as
formas de comunicação, englobando as grandes populações e, por que não, até as mais
afastadas dos grandes centros, alcançadas, então, pela expansão da telefonia e pela
invenção do rádio.
O rádio foi uma verdadeira revolução. Não dependia, ao contrário dos jornais, de um meio
físico para sua distribuição, mas sim de meios técnicos, da amplificação das condições de
transmissão e da popularização dos aparelhos receptores. Dessa forma, toda a inovação
técnica nos meios de comunicação traz em seu bojo inúmeras mudanças sociais.
Da mesma forma, a popularização da fotografia, no final do século XIX, levou à criação de
imagens em movimento, o que proporcionou a invenção do cinema. Assim como a
conjunção das técnicas de transmissão radiofônicas aliada ao cinema levou à invenção da
TV, em meados do século XX.
Resta-nos discutir se a proliferação dos meios de comunicação de massa neste mesmo
século XX contribuiu para o avanço do pensamento humano, assim como a popularização do
livro e da imprensa o fizeram na era pré-industrial. Discute-se, por exemplo, se as ideias
revolucionárias francesas tiveram alguma influência nas ideias importadas pelos "meios de
massa" de, então, nos processos de independência de países "distantes", como Estados
Unidos e Brasil, em suas lutas pelo fim do jugo colonial.
Cinema, rádio e televisão atuam hoje abolindo distâncias e situando certas personalidades,
acontecimentos e formas de comunicação num novo plano de existência, pois passam a ser
percebidos de maneira sui generis através dos meios de comunicação de massa.
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A repetição exaustiva das imagens das Torres Gêmeas sendo atingidas pelos aviões
sequestrados nos EUA, em 2001, por exemplo, puderam justificar a "guerra contra o terror"
que, por sua vez, garantiu a reeleição de George W. Bush. Houve, no Brasil, o caso de um
debate entre presidenciáveis que foi visivelmente editado pela rede de TV que o produziu e
que provocou nada menos do que a eleição do candidato que tinha vínculos estreitos com
esta emissora. Os fatos citados foram eventos marcantes na sociedade de massas que
envolveram e continuam envolvendo o destino de milhões de pessoas, não se restringindo
somente a um simples ato de comunicação.
As discussões no campo da comunicação em torno do poder (alienante ou emancipador) da
cultura e dos meios de comunicação de massa contemporâneos dividiram o mundo em duas
diferentes categorias: "apocalípticos" e "integrados", termo cunhado pelo pensador da
comunicação italiano Umberto Eco, na década de 1960.
Para os primeiros, como Theodor Adorno e Max Horkheimer, as formas de comunicação de
massa representam um falso iluminismo, que serve à imutabilidade das relações, reforçando
toda forma de submissão das massas ao poder da hegemonia capitalista.
Já para os outros, como Marshall McLuhan, a evolução dos meios de comunicação nos
levaram à formação da "Aldeia Global", uma forma de comunicação que integraria todas as
nações, amplificando as possibilidades de interação entre os povos e otimizando ao máximo
a criatividade do ser humano.
Hoje em dia a internet promete romper todos os paradigmas ligados à cultura e à sociedade
de massas. Ela permite um tipo de comunicação em que o usuário final tem completa
autonomia para selecionar sua informação diante de uma miríade de assuntos, ideias e
opiniões. O internauta pode ser receptor e autor quase ao mesmo tempo. A popularização da
internet promete revolucionar a forma com a qual nos comunicamos na contemporaneidade
ou se tornar também o maior e mais poderoso meio de alienação e controle das massas.
Não resta dúvida de que a ampliação do acesso à comunicação é positiva, mas necessitamos
conhecer melhor as fontes das informações e, mais ainda, a fidedignidade delas, deixando,
assim, de sermos meros receptores bombardeados o tempo todo pelas notícias e imagens. Os
veículos de comunicação podem e devem integrar-nos a uma verdadeira humanidade, ao
mesmo tempo, propiciar-nos reconhecer a diversidade cultural, exercício tão importante à
tolerância com a diferença.
Aula estudada! Caso fique com dúvidas, leve-as ao fórum e divida-as com seu professor e
colegas.
REFERÊNCIA
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HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. A indústria cultural: o Iluminismo como mistificação de
massas. In: LIMA, C. L. Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
MARCONDES FILHO, Ciro. O Capital da Notícia. São Paulo: Ática, 1989.
McLUHAN, M. Visão, som e fúria. In: LIMA, C. L. Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1990.
SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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Essa história de raça,
Raças más, raças boas
– Diz o Boas –
É coisa que passou
Com o franciú Gobineau
Pois o mal do mestiço
Não está nisso.
Está em causas sociais,
De higiene e outras tais:
Assim pensa, assim fala
Casa Grande e Senzala.
(MANUEL BANDEIRA)
Cultura e Determinismo Biológico
APRESENTAR AO ALUNO OS ARGUMENTOS UTILIZADOS POR ALGUNS ACADÊMICOS E
AINDA PRESENTES NO SENSO COMUM, DA CULTURA DETERMINADA POR ASPECTOS
BIOLÓGICOS E/OU RACIAIS. DEMONSTRAR OS ARGUMENTOS DESENVOLVIDOS PELA
CIÊNCIA ANTROPOLÓGICA CONTRÁRIOS AO DETERMINISMO CITADO.
Cultura: expressão cultural X determinismo biológico
No fim de nossa última aula, falamos sobre a importância da tolerância com a diversidade
cultural e, portanto, com a diferença. Nesse sentido, tocamos em um ponto de extrema
relevância para a Antropologia. Estamos falando de mais dois aspectos essenciais para a
reflexão sobre o conceito de cultura: o determinismo biológico e o determinismo geográfico.
Tanto no campo científico quanto no senso comum, estes discursos foram utilizados, e ainda
são, para a compreensão das diferenças culturais. Franz Boas escreveu textos destinados a
combater o método e a teoria Evolucionista (já citada em aula anterior). Além disso,
empenhou-se em combater as teorias racistas (determinismo biológico) em sua obra.
Suas ideias tiveram grande influência na obra de Gilberto Freyre , que declarou no prefácio
de Casa-Grande e Senzala:
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[...] Foi o estudo de Antropologia sob a orientação do Professor Boas que
primeiro me revelou o negro e o mulato no seu justo valor — separados dos
traços de raça os efeitos do ambiente ou da experiência cultural. Aprendi a
considerar fundamental a diferença entre raça e cultura; a discriminar entre
os efeitos de relações puramente genéticas e os de influências sociais, de
herança cultural e de meio. Neste critério de diferenciação fundamental
entre raça e cultura assenta todo o plano deste ensaio. Também no da
diferenciação entre hereditariedade de raça e hereditariedade de família.
(BOAS, 2009,P. 20)
Hereditariedade racial implica necessariamente a existência de unidade de
descendência e a existência, numa certa época, de um pequeno número de
ancestrais de formas corporais definidas, dos quais a população atual
descende. É praticamente impossível reconstruir essa ancestralidade pelo
estudo de uma população moderna... Cada grupo racial consiste de muitas
linhagens familiares que são distintas em formas corporais.
(BOAS, 2009)
Boas postula a impossibilidade de falarmos de um tipo racial com hereditariedade única e,
consequentemente, inferior ou superior.
Além disso, os grupos humanos estão todos em contato e, portanto, seria impossível falar
em pureza racial. Mais lamentável ainda foi a necessária luta de Boas contra acadêmicos que
defendiam a superioridade de algumas raças diante de outras. Em 1931, desafiou a provar o
que disse Arthur Keith, reitor da universidade de Aberdeen: "A natureza mantém seu pomar
humano saudável pela poda, e a guerra é o seu podão".
E ainda: "a natureza implantou em vocês a antipatia e o preconceito raciais para cumprir sua
própria finalidade — o aperfeiçoamento da humanidade por meio da diferenciação racial"
(BOAS, 2009, p. 74; p. 85).
Boas discordava que existisse a antipatia racial inata. Se fosse assim, argumentava, não
haveria a mistura dos donos de escravos com suas escravas ou com as índias como
aconteceu no Brasil por ocasião do encontro entre portugueses e indígenas e depois com a
vinda de africanos. Na verdade, o estranhamento acontece por um ideal de beleza branca e
por causas culturais atuantes nos grupos fechados.
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São velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades específicas
inatas a “raças” ou a outros grupos humanos. Muita gente ainda acredita que
os nórdicos são mais inteligentes do que os negros; que os alemães têm mais
habilidade para a mecânica; que os judeus são avarentos e negociantes; que
os norte-americanos são empreendedores e interesseiros; que os
portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses
são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades por
instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a
imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses. Os antropólogos estão
totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são
determinantes das diferenças culturais.
O que a Antropologia tenta desconstruir, como já citado, é a crença em diferenças biológicas
ou determinantes biológicos como instrumentos de compreensão das diferenças culturais.
Como afirma Laraia (2009, p. 9) em seu livro Cultura: um conceito antropológico:
Outro determinismo negado pela Antropologia refere-se ao determinismo geográfico, mas
esse assunto fica para a próxima aula!
REFERÊNCIA
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
GUIMARÃES, A. Z. (Org.) Desvendando Máscaras Sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1980.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991.
LARAIA, Roque de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
MALINOWSKI, Bronislaw. O assunto, o método e o objetivo desta investigação. In:
DURHAM. E. R (Org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1986.
MEAD, Margareth. Sexo e Temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1976.
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Cultura e determinismo geográfico
DESCONSTRUIR, A PARTIR DOS POSTULADOS DA ANTROPOLOGIA, O DETERMINISMO
GEOGRÁFICO COMO INSTRUMENTO DE COMPREENSÃO DA DIVERSIDADE E DINÂMICA
CULTURAIS.
Espaços comuns, respostas diversas
Assim como não devemos entender as diferenças culturais a partir das características
biológicas/raciais dos povos, não devemos entender as respostas culturais determinadas
pelos limites impostos pelo clima e espaço físico onde os povos residem.
No século XIX e início do XX, houve a corrente teórica em geografia definida,
posteriormente, como determinismo geográfico. Um dos principais pensadores desta teoria
foi o alemão Friedrich Ratzel (1844–1904).
A principal obra deste pensador foi Antropogeografia. A partir do título de sua obra,
podemos verificar a ênfase dada aos estudos geográficos e o impacto da geografia sobre o
homem. Nesse sentido, essa teoriza via o homem como ser essencialmente biológico e não
social. Vemos a relevância das causas ambientais sobre as condições de vida de uma
sociedade e, a esta concepção, denominou-se determinismo geográfico. O homem é produto
do seu meio e as condições naturais determinam as sociais.
No entanto, a partir dos estudos modernos em Antropologia, sabemos que:
Uma das respostas a essa pergunta seria justamente essa capacidade de apresentar soluções
distintas às condições impostas pelo meio. Laraia cita vários exemplos de como povos
habitantes de espaços com clima, flora e fauna semelhantes apresentam modos de vida
diferentes. Compara os lapões aos esquimós, ambos vivem em locais de frio rigoroso, mas
cada um tem um tipo de habitação e formas diversificadas de sobrevivência. Os primeiros
criam renas e os outros caçam estes animais. Dentro do Parque Nacional do Xingu, temos
diferentes etnias indígenas que convivem em um espaço geográfico semelhante. Os
Kamayurá, Kalapalo e Trumai Waurá não consomem carne de grandes mamíferos e, por isso,
não se dedicam à caça dos mesmos. Essa opção se relaciona às interdições culturais. Já os
Kayabi, que habitam o norte do Parque, caçam e consomem preferencialmente os mamíferos
de grande porte.
PENSAMENTO POLÍTI… 1
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A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias
limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou
toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas,
dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares.
Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui
cultura. Mas que é cultura?
(LARAIA, 2009, P. 14)
Retomemos Franz Boas, autor já citado na aula anterior. Além de negar o determinismo
biológico, esse pensador se opõe ao determinismo geográfico. Em seu texto Alguns
problemas de metodologia nas Ciências Sociais, escrito em 1930, ele argumenta que seria
equivocada a linha de investigação, ainda vigente naquele momento, e representada por
pensadores como Karl Ritter, Guyot, Ratzel, De la Blache e Jean Brunhes; que atribuía peso
excessivo às condições geográficas para o entendimento das sociedades.
Boas alega que, em muitos aspectos, a vida cultural pode ser limitada por condições
geográficas e dá como exemplo a ausência de vegetais no Ártico ou de água no deserto. Sem
dúvida, esses fatores limitam as atividades dos homens, mas de maneira alguma as tornam
impossíveis. Por meio do desenvolvimento tecnológico moderno, podemos resolver
problemas ambientais aparentemente insolúveis como, por exemplo, a irrigação e plantio de
uva como tem acontecido em áreas secas do Nordeste brasileiro .
As palavras de Boas, citadas a seguir, resumem perfeitamente a visão da Antropologia sobre
cultura e determinismo geográfico. Diz ele:
REFERÊNCIA
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
GUIMARÃES, A. Z. (Org.) Desvendando Máscaras Sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1980.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991.
LARAIA, Roque de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
MALINOWSKI, Bronislaw. O assunto, o método e o objetivo desta investigação. In:
DURHAM. E. R (Org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1986.MEAD, Margareth. Sexo e Temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1976.
PENSAMENTO POLÍTI… 1
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Cultura e determinismo geográfico
DESCONSTRUIR, A PARTIR DOS POSTULADOS DA ANTROPOLOGIA, O DETERMINISMO
GEOGRÁFICO COMO INSTRUMENTO DE COMPREENSÃO DA DIVERSIDADE E DINÂMICA
CULTURAIS.
Espaços comuns, respostas diversas
Assim como não devemos entender as diferenças culturais a partir das características
biológicas/raciais dos povos, não devemos entender as respostas culturais determinadas
pelos limites impostos pelo clima e espaço físico onde os povos residem.
No século XIX e início do XX, houve a corrente teórica em geografia definida,
posteriormente, como determinismo geográfico. Um dos principais pensadores desta teoria
foi o alemão Friedrich Ratzel (1844–1904).
A principal obra deste pensador foi Antropogeografia. A partir do título de sua obra,
podemos verificar a ênfase dada aos estudos geográficos e o impacto da geografia sobre o
homem. Nesse sentido, essa teoriza via o homem como ser essencialmente biológico e não
social. Vemos a relevância das causas ambientais sobre as condições de vida de uma
sociedade e, a esta concepção, denominou-se determinismo geográfico. O homem é produto
do seu meio e as condições naturais determinam as sociais.
No entanto, a partir dos estudos modernos em Antropologia, sabemos que:
Uma das respostas a essa pergunta seria justamente essa capacidade de apresentar soluções
distintas às condições impostas pelo meio. Laraia cita vários exemplos de como povos
habitantes de espaços com clima, flora e fauna semelhantes apresentam modos de vida
diferentes. Compara os lapões aos esquimós, ambos vivem em locais de frio rigoroso, mas
cada um tem um tipo de habitação e formas diversificadas de sobrevivência. Os primeiros
criam renas e os outros caçam estes animais. Dentro do Parque Nacional do Xingu, temos
diferentes etnias indígenas que convivem em um espaço geográfico semelhante. Os
Kamayurá, Kalapalo e Trumai Waurá não consomem carne de grandes mamíferos e, por isso,
não se dedicam à caça dos mesmos. Essa opção se relaciona às interdições culturais. Já os
Kayabi, que habitam o norte do Parque, caçam e consomem preferencialmente os mamíferos
de grande porte.
PENSAMENTO POLÍTI… 1
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A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias
limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou
toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas,
dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares.
Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui
cultura. Mas que é cultura?
(LARAIA, 2009, P. 14)
Retomemos Franz Boas, autor já citado na aula anterior. Além de negar o determinismo
biológico, esse pensador se opõe ao determinismo geográfico. Em seu texto Alguns
problemas de metodologia nas Ciências Sociais, escrito em 1930, ele argumenta que seria
equivocada a linha de investigação, ainda vigente naquele momento, e representada por
pensadores como Karl Ritter, Guyot, Ratzel, De la Blache e Jean Brunhes; que atribuía peso
excessivo às condições geográficas para o entendimento das sociedades.
Boas alega que, em muitos aspectos, a vida cultural pode ser limitada por condições
geográficas e dá como exemplo a ausência de vegetais no Ártico ou de água no deserto. Sem
dúvida, esses fatores limitam as atividades dos homens, mas de maneira alguma as tornam
impossíveis. Por meio do desenvolvimento tecnológico moderno, podemos resolver
problemas ambientais aparentemente insolúveis como, por exemplo, a irrigação e plantio de
uva como tem acontecido em áreas secas do Nordeste brasileiro .
As palavras de Boas, citadas a seguir, resumem perfeitamente a visão da Antropologia sobre
cultura e determinismo geográfico. Diz ele:
REFERÊNCIA
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
GUIMARÃES, A. Z. (Org.) Desvendando Máscaras Sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1980.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991.
LARAIA, Roque de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
MALINOWSKI, Bronislaw. O assunto, o método e o objetivo desta investigação. In:
DURHAM. E. R (Org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1986.
MEAD, Margareth. Sexo e Temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1976.
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PENSAMENTO POLÍTI… 1
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A atitude mais antiga, e que se baseia indiscutivelmente em fundamentos
psicológicos sólidos (já que tende a reaparecer em cada um de nós quando
nos situamos numa situação inesperada), consiste em repudiar pura e
simplesmente as formas culturais: morais, religiosas, sociais, estéticas, que
são as mais afastadas daquelas com as quais nos identificamos. “Hábitos de
selvagens”, “na minha terra é diferente”, “não se deveria permitir isso” etc.,
tantas reações grosseiras que traduzem esse mesmo calafrio, essa mesma
repulsa de maneiras de viver, crer ou pensar que nos são estranhas.
(LÉVI-STRAUSS, APUD LAPLANTINE, 1987, P. 40)
Um marco para a Antropologia: os
primeiros relatos de alteridade
APRESENTAR AO ALUNO O MARCO PARA A ANTROPOLOGIA NO SÉCULO XVI: OS
PRIMEIROS RELATOS DE ALTERIDADE. INTRODUZIR O CONCEITO DE ETNOCENTRISMO E
AS ATITUDES DE INTOLERÂNCIA ÀS DIFERENÇAS CULTURAIS.
Os primeiros relatos de alteridade
O século XVI foi um marco no que se refere aos relatos sobre o encontro com a diferença,
com o outro, podemos chamá-los de relatos de alteridade. Portanto, foi também um marco
relevante para a Antropologia. A importância deste encontro se deve ao fato de que os
homens se autointerpretam ao entrarem em contato com a diferença.
"Por isso, a descoberta da América tem um significado vital para o entendimento do homem
europeu. O mundo selvagem é um contraponto à civilização ocidental." (ORTIZ, 1999, p. 29).
Esse contraponto funciona tanto como fonte de inspiração como de dominação, o outro
preexiste como diferença e é utilizado pelo europeu para a compreensão das variedades da
espécie humana. A carta de Pero Vaz de Caminha é um exemplo deste tipo de relato.
Essa carta descreve a percepção de um português sobre as terras, a vegetação, a moradia, o
tipo de alimentação, enfim o comportamento dos indígenas encontrados no Brasil.
PENSAMENTO POLÍTI… 1
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Esse encontro entre o português e o indígena provocou tal perplexidade que a Coroa
Portuguesa e a Igreja Católica, em um primeiro momento, versavam sobre a presença ou não
de alma nesses habitantes (os índios). Teriam ou não alma? Estariam inseridos na doutrina
do pecado original? Enfim, pertenceriam à humanidade?
No caso de ampliarmos a visão do outro, como fonte de inspiração ou dominação, teremos o
que Laplantine (1987) chama de ideologia de fascinação e/ou repulsa.
Essa dupla resposta ideológica estaria presente não só no início da história da humanidade,
mas também ainda nos dias atuais, já que aparece com extrema regularidade em nossas
atitudes. Isso porque os homens têm certa dificuldade em encarar e lidar com a diferença.
Na antiguidade grega, eram considerados bárbaros aqueles que não pertenciam à cultura
helênica. Um dos povos bárbaros era os vândalos, interessante

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