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24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/5 Acredito que a antropologia emana de um impulso tão antigo quanto a humanidade, da curiosidade sobre os outros povos combinada com a introspecção a nosso próprio respeito, quem quer que acreditemos ser. Ela deriva da especulação sobre a natureza humana, sobre o que significa ser mulher ou homem, e de um desejo de entender a variedade da cultura humana. (DAVID MAYBURY-LEWIS) O que é Antropologia APRESENTAR AO ALUNO A ANTROPOLOGIA COMO ÁREA DE ESTUDO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS, SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E DIVISÕES EM ÁREAS TEMÁTICAS. Antropologia: significado, surgimento e áreas temáticas O significado etimológico de Antropologia seria: anthropos = homem + logos = estudo/tratado. A Antropologia constitui-se em uma das áreas das Ciências Sociais. As outras duas áreas seriam a Sociologia e a Ciência Política. Ela se interessa pelo estudo do homem, seu processo evolutivo: as dimensões biológicas e culturais envolvidas neste processo. Uma das preocupações mais presentes na Antropologia é a reflexão sobre o que em nós seria diverso e o que seria universal. A curiosidade do homem sobre si mesmo e sobre os fenômenos ao seu redor faz parte da própria história da humanidade. Antes do século XVIII, os homens atribuíam aos acontecimentos humanos e naturais causas ligadas ao misticismo e à religiosidade. Por exemplo, os raios e os trovões seriam manifestações de contrariedade dos deuses. Fatalidades ou incidentes com uma pessoa poderiam ser interpretados como castigo divino. Podemos falar de ciência como explicação do homem e de sua cultura apenas no século XVIII, inclusive bastante inspirada nos métodos científicos da Biologia e da Física. Este conhecimento surge na Europa, mas fica restrito a este espaço, pois havia povos e culturas ainda desconhecidos. MATERIAL DIDÁTICO … PENSAMENTO POLÍTI… 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/5 Preocupada em legitimar-se como ciência, a Antropologia segue o método das ciências naturais e estabelece como objeto do conhecimento os primitivos, os não civilizados em contraposição aos civilizados (principalmente países europeus e Estados Unidos da América). No início do século XX, a Antropologia fundamenta seus próprios métodos de pesquisa, como a etnografia. No entanto, surge a percepção de que aqueles "eleitos" como objeto de estudo — os primitivos — estão em contato constante com outros povos e, assim, estão se transformando e/ou desaparecendo enquanto singularidade e isolamento culturais. Em decorrência disso, a Antropologia define-se pela sua abordagem e não por objetos de estudo específicos. Todas as sociedades são passíveis de serem pesquisadas e analisadas pela Antropologia, independentemente do espaço geográfico. O enfoque antropológico deve considerar e estudar o homem em todas as suas dimensões: física, biológica, psicológica, econômica, social, histórica e não compartimentá-lo. As divisões da Antropologia Podemos dizer que a Antropologia se divide em cinco grandes áreas: Antropologia Biológica, Pré-História, Linguística, Psicológica, Cultura e Social. A Antropologia biológica se refere ao estudo das variações de caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo, também à relação entre patrimônio genético e o meio, a genética das populações: o inato e o adquirido que interagem continuamente. Ela questiona, por exemplo, o porquê de uma criança africana ter o desenvolvimento psicomotor mais adiantado do que o da criança europeia. A Antropologia pré-histórica tem seu projeto ligado à arqueologia e visa reconstituir sociedades desaparecidas, tanto os seus objetos quanto suas técnicas, organizações sociais e produções artísticas e culturais. A linguagem é parte do patrimônio cultural de uma população. É por meio dela que os indivíduos de uma sociedade expressam seus valores, suas preocupações, seus pensamentos. Parte dessa constatação gera o interesse da Antropologia pela linguística. A Antropologia psicológica consiste no estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo humano. Somente por meio dos comportamentos conscientes e inconscientes dos seres humanos particulares podemos apreender a totalidade dos conjuntos sociais. A Antropologia social e cultural preocupa-se em demonstrar a particularidade da relação dos vários aspectos sociais e culturais dos grupos humanos, por exemplo, os aspectos econômicos, sociais, políticos, religiosos e técnicos de uma sociedade são ao mesmo tempo MATERIAL DIDÁTICO … PENSAMENTO POLÍTI… 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/5 [...] apenas a distância em relação a nossa sociedade (mas uma distância que faz com que nos tornemos extremamente próximos daquilo que é longínquo) nos permite fazer esta descoberta: aquilo que tomávamos por natural em nós mesmos é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é infinitamente problemático. [...] De fato, presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à dos outros, mas míopes quando se trata da nossa. A experiência da alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar dada à nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que nos é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos evidente. (LAPLATINE, 1988, P. 21) particulares e diversos uns dos outros. É essa forma de apreensão da totalidade que caracteriza o trabalho do antropólogo; como diz Lévi-Strauss, aquilo que os homens "não pensam em fixar na pedra ou no papel". O estudo do todo e da diversidade cultural Além de a Antropologia preocupar-se em estudar tudo o que compõe uma sociedade, ela estuda todas as sociedades em todas as épocas e lugares. Esse interesse pelo outro, pelo diverso, é que nos possibilita perceber que nossa forma de expressão cultural é uma entre várias. Como podemos perceber, esse olhar antropológico é importante de ser desenvolvido em todas as áreas de formação. A formação antropológica visa romper com a naturalização do social, pois nossos comportamentos são definidos pela cultura em que nascemos. Assim, além de contribuir com nossa formação, desperta uma postura mais tolerante com a diversidade. Chegamos ao fim desta aula. Caso tenha ficado alguma dúvida, entre em contato com o seu professor-tutor. REFERÊNCIA ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 2003. ARANHA, Maria L. de A.; MARTINS, M. H. Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993. MATERIAL DIDÁTICO … PENSAMENTO POLÍTI… 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/5 LAPLATINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1988. MARCONI, Marina de A.; PRESOTTO, Zélia M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2001. MATERIAL DIDÁTICO … PENSAMENTO POLÍTI… 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 5/5 MATERIAL DIDÁTICO … PENSAMENTO POLÍTI… 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/4 A abordagem antropológica DEMONSTRAR ALGUMAS ESPECIFICIDADES DA ANTROPOLOGIA, TANTO NO QUE CONCERNE AOS ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS, QUANTO DA ESCOLHA DOS OBJETOS DE ESTUDO. Uma abordagem e não um objeto específico Podemos dizer que o que essencialmente diferencia a Antropologia das outras Ciências Sociais é sua abordagem, sua prática metodológica e não objetos de estudo específicos, como se acreditava no século XIX (que o objeto de estudo seria as chamadas "sociedades primitivas"). Uma das características importantes da Antropologia é a prioridade dada à experiência de campo ou à observação direta dos comportamentos sociais. Na Observação Participante, ocorre a integração e certa identificação do pesquisador com o grupo estudado, sendo impossível que o antropólogo saia ileso desta experiência.A partir do contato com uma cultura diferente e do diálogo com ela, ele questionará sua própria identidade cultural. A Antropologia se detém em fenômenos sociais não escritos, não formalizados, mas naquilo que é cotidiano no nosso comportamento e que nem ao menos nos damos conta. Por isso, considera o imprevisto e não se preocupa com um planejamento de pesquisa rígido, pois este imprevisto pode ser muito mais revelador do que a formalidade de um questionário. Por exemplo, se estou estudando a discriminação racial em uma sala de aula, é muito mais importante minha atenta observação do comportamento das pessoas envolvidas do que com perguntas objetivas do tipo: "Você se considera uma pessoa racista?". Vocês acham que eu conseguiria atingir respostas verdadeiras com esta minha suposta objetividade? A Antropologia tem se detido no estudo das condutas habituais, dos resíduos, das minorias. Objetos de estudo e a abordagem antropológica Não existem objetos de estudo proibidos, temos pesquisas ligadas às sociedades complexas e modernas. Por exemplo, a pesquisa Culturas Empresariais Brasileiras: estudo comparativo de empresas públicas, privadas e multinacionais realizada com a coordenação do antropólogo Guillermo R. Ruben da Unicamp, cujo objetivo era identificar aspectos MATERIAL DIDÁTICO … PENSAMENTO POLÍTI… 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/4 brasileiros e sua influência na gestão e processo produtivo e as diferentes identidades entre empresas públicas, privadas e multinacionais. No caso das últimas, revelou, por exemplo, que não podem e não devem ser impermeáveis à brasilidade. Um estudo de caso feito em um banco gerenciado por japoneses demonstrou que a administração sobrepunha as culturas japonesa e brasileira, tentando manter intocada a cultura nipônica num quadro de 60% de funcionários brasileiros. Isso acarretou problemas no relacionamento entre funcionários, para a administração e, inclusive, para os resultados de desempenho financeiro. Este estudo demonstra que as organizações complexas, como empresas, podem ser objeto de estudo da Antropologia. Esta área de estudo tem sido denominada por Antropologia das Organizações e mostra a viabilidade de usar conceitos clássicos da Antropologia para o mundo moderno. Os pesquisadores envolvidos com o projeto demonstraram a convicção de que em quaisquer agrupamentos humanos as relações acontecem pautadas em referências culturais e que o antropólogo pode auxiliar com o estudo delas. É importante dizer que devemos investigar a totalidade das características do grupo que estudamos. Tudo o que observamos é importante e não somente a temática estudada. Nas palavras de Marcel Mauss: "o homem é indivisível e o estudo do concreto é o estudo do completo", constitutivos da realidade social e que devem ser apreendidos pelo pesquisador. "Após ter forçosamente dividido um pouco exageradamente [...] é preciso que os sociólogos se esforcem em recompor o todo". (MAUSS apud LAPLANTINE, 1987, p. 90). Uma das tarefas do antropólogo é, portanto, abordar a totalidade dos fenômenos sociais que apresentam significações complexas. Nesse sentido, a utilização da pesquisa menos diretiva possibilita aprofundar os aspectos inconscientes dos comportamentos sociais. Continuaremos a abordar os aspectos que caracterizam a prática antropológica na próxima aula. REFERÊNCIA CAPITALISMO com cara brasileira. Revista Fapesp, São Paulo, p. 92–95, mar. 2002. COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2002. LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991. MARCONI, Marina de A.; PRESOTTO, Zélia M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2001. MATERIAL DIDÁTICO … PENSAMENTO POLÍTI… 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/4 MATERIAL DIDÁTICO … PENSAMENTO POLÍTI… 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/4 MATERIAL DIDÁTICO … PENSAMENTO POLÍTI… 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/5 Especificidades da prática e abordagem antropológicas DEMONSTRAR ALGUMAS ESPECIFICIDADES RELACIONADAS À AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO ANTROPOLÓGICO. DIFERENCIAR E/OU RELACIONAR ESTE CONHECIMENTO A OUTRAS ÁREAS AFINS, COMO A SOCIOLOGIA, A LITERATURA E O CINEMA. Um pouco mais sobre a abordagem antropológica Como foi dito na aula anterior, existem algumas preocupações ou características inerentes à abordagem antropológica. Uma delas refere-se à necessidade de nos descentrarmos daquilo que nos é tão habitual em nossa cultura. É preciso que nos descentremos para comparar e comparar para que nos descentremos. Simples, não? Parece simples, mas nem tanto, pois desde que nascemos, carregamos uma série de valores e comportamentos tão arraigados que nos distorce a visão do outro. No entanto, relativizar esta postura é extremamente necessário para evitarmos uma visão simplista das outras sociedades ou, pior, uma análise etnocêntrica. Para que possamos identificar o que é específico e o que é variável nas culturas e na cultura humana, devemos nos aproximar e nos impregnar lentamente do(a) grupo/temática estudado(a), compreender a lógica de funcionamento de cada cultura e, finalmente, a partir da comparação, percebermos a estrutura comum na espécie humana. Outra especificidade da Antropologia é aceitar que toda sua produção está contextualizada na época e cultura do pesquisador, tanto na escolha do tema de pesquisa quanto na elaboração do seu trabalho. Isso não tira, em hipótese alguma, o caráter científico deste conhecimento. Pertencer à determinada cultura e época deve ser um instrumento de conhecimento e não obstáculo. Para corroborar com o argumento mencionado, podemos citar o Evolucionismo, que no século XIX produziu uma teoria para explicar a diversidade cultural totalmente voltada para o contexto de conquista colonial. Podemos citar ainda o Funcionalismo, que tomou emprestado diversos conceitos das ciências naturais, pois estas eram consideradas mais avançadas. Por enquanto, vamos ficar nessas teorias apenas como exemplo, pois nos aprofundaremos nelas em aulas seguintes. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/5 A perturbação que o etnólogo impõe através de sua presença àquilo que observa e que perturba a ele próprio, longe de ser considerada como um obstáculo que seria conveniente neutralizar, é uma fonte infinitamente fecunda de conhecimento. LAPLANTINE, 1991, P. 173 O importante é ressaltar que o discurso antropológico não está livre do seu contexto social ou do contexto social do pesquisador. Há interferência da época e da cultura específica às quais o pesquisador pertence tanto em relação ao tema escolhido quanto à produção do resultado do estudo, o que não tira o seu caráter científico. Além disso, você pode distinguir, mas não dissociar o observador do seu objeto de estudo em nome de uma objetividade sempre relativa. Outra característica marcante da Antropologia é observar o outro e, consequentemente, observar-se: A Antropologia e suas interfaces Uma semelhança que podemos destacar em termos de abordagens entre áreas do conhecimento é a Antropologia e a Literatura. Entre elas, temos a narrativa do outro, o encontro com este e a metamorfose de si. Identificamos também certa liberdade das obrigações sociais, pois relativizamos a norma que está totalmente vinculada à cultura a que pertencemos, mas que relativizamos em contato com o outro. Assim, interrogamos nossa identidade a partir de testemunhos e documentos que não aqueles estritamente considerados "científicos" e também macro, pois é nas entrelinhas e nos detalhes que encontramos o habitual, o comportamental e o simbólico; ou seja, praticamos o "sair de si" e nos distanciamos ideologicamente do que seja bem e mal, certo ou errado. A Antropologiavisual, por meio da fotografia ou do cinema, pode revelar um universo de possibilidades em termos culturais ou de denúncia em casos de injustiças e conflitos sociais. É o que constatamos no trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado que, apesar de não fazer um trabalho especificamente antropológico, serve como ferramenta para a reflexão sobre a diversidade humana e, no caso de seu último trabalho "Gênesis", da diversidade humana e sua relação também diversa com a natureza. Para terminar, devemos ressaltar o acesso que o grande público tem às fotos, a filmes e à própria literatura. E se queremos ampliar a contribuição prática que a Antropologia pode dar à sociedade, esses recursos são riquíssimos. Muitos autores se incomodam com o fato de escrever livros sobre pessoas que não terão acesso sobre o conhecimento que elas mesmas ajudaram a construir. Desta forma, o cinema, a fotografia e o romance permitem ao etnógrafo partilhar a Antropologia com aqueles 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/5 homens que foram "objeto" do seu estudo. Darcy Ribeiro foi exemplo de antropólogo que divulgou esse conhecimento através da literatura. O seu romance Maíra, publicado em 1976, retrata, entre outras coisas, a violência do contato entre brancos e índios; o que ele chama de "Enfrentamento dos Mundos". Podemos dizer que, além de divulgar a Antropologia, Darcy Ribeiro a utilizou como instrumento de transformação social. 1. Acesse o seguinte site para conhecer um pouco mais sobre o novo livro de Sebastião Salgado. Disponível em:http://entretenimento.uol.com.br (http://entretenimento.uol.com.br/noticias/efe/2013/04/08/novo- livro-de-sebastiao-salgado-genesis-faz-tributo-a-terra- virgem.htm#fotoNav=3). Acesso em: 10 out. 2013. 2. Conheça mais sobre a biografia de Darcy Ribeiro acessando o seguinte site: http://www.academia.org.br/ (http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm? infoid=438&sid=158). Acesso em: 10 out. 2013. Chegamos ao fim desta aula. Caso fique alguma dúvida, entre em contato com o seu professor-tutor. REFERÊNCIA LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991. RIBEIRO, Darcy. Maíra. São Paulo: Círculo do Livro, 1976. ______. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. http://entretenimento.uol.com.br/noticias/efe/2013/04/08/novo-livro-de-sebastiao-salgado-genesis-faz-tributo-a-terra-virgem.htm#fotoNav=3 http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=438&sid=158 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 5/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/5 Evolução humana e Antropologia DISCUTIR ALGUNS ASPECTOS DO PROCESSO EVOLUTIVO HUMANO, ESPECIALMENTE ACONTECIMENTOS QUE TENHAM SIDO FUNDAMENTAIS NESSE PROCESSO. POR EXEMPLO, O ENTENDIMENTO DO ENTORNO, A FABRICAÇÃO DE FERRAMENTAS, O CONTROLE DO FOGO E, FUNDAMENTAL, A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM PELA CAPACIDADE DE PENSAMENTO ABSTRATO GERADO PELA MESMA. Longo percurso Uma das tarefas da Antropologia, aliada às outras áreas científicas, como a Biologia, Arqueologia e Paleontologia, é traçar a trajetória que nos trouxe até aqui, até os seres humanos que somos hoje. Cabe ressaltar que há evidências científicas que comprovam nossa evolução. No entanto, existem divergências, como a explicação religiosa do aparecimento dos seres humanos. O Criacionismo, por exemplo, acredita que fomos criados por Deus, o que evidentemente contradiz a explicação evolucionista. Essa polêmica foi bastante presente não apenas nos tempos de Darwin, mas até hoje. O próprio Darwin viveu esse conflito por ser católico e sofrer represálias, como a de que os macacos do zoológico seriam os seus ancestrais. Darwin guardou consigo a ideia da teoria da evolução por 12 anos e, depois de publicar A Origem das Espécies, em 1859, levou mais uma década para completar seus estudos sobre a descendência humana. Polêmicas à parte, hoje se sabe que não apenas a seleção natural, adaptação e mutações são responsáveis pelo processo evolutivo. Tem sido proposta a teoria sistêmica ou dos sistemas vivos. O foco central seria o da criatividade em direção à novidade. Evoluir para sistemas mais complexos não significa evoluir para o humano ou algo necessariamente melhor e mais adaptado. Assim, não apenas os biólogos, mas todos nós devemos reconhecer que não é a competição, mas a cooperação e interdependência entre todas as formas de vida que respondem pelo processo evolutivo. Segundo Walter Neves, a extrema diversidade de grupos que nos antecederam possibilitou responder de diferentes formas aos desafios colocados, tanto climáticos quanto ambientais. Caso contrário, poderíamos não existir. Para dar um exemplo, houve, numa determina fase 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/5 O Australopiteco parece ser, portanto, uma espécie de homem que evidentemente era capaz de adquirir alguns elementos da cultura — fabricação de instrumentos simples, caça esporádica, e talvez um sistema de comunicação mais avançado do que o dos macacos contemporâneos, embora mais atrasado do que a fala humana —, porém incapaz de adquirir outros, o que lança certa dúvida sobre a teoria do ponto crítico. [...] O fato de ser errônea a teoria do ponto crítico (pois o desenvolvimento cultural já se vinha processando bem antes de cessar o desenvolvimento orgânico) é de importância fundamental para o nosso ponto de vista sobre a natureza do homem que se torna, assim, não apenas o produtor da cultura, mas também, num sentido especificamente biológico, o produto da cultura. (GEERTZ, APUD LARAIA, 2009, P. 57) evolutiva (2,4 a 1,4 milhões de anos), um grupo denominado Boisei que estava adaptado à seca. Esses hominídeos comiam raízes de junco e viviam comodamente. Já os Homo habilis, (outro grupo de hominídeos que conviveu com os Boisei) tinham "que se virar ?— evoluíram a partir de um caminho mais flexível — e começarem a comer carne?". Só que competiam em desvantagem com os leões e precisavam comer o tutano do osso que sobrava dos esqueletos. Assim, tanto precisaram utilizar pedras pontiagudas para que alcançassem o tutano no interior do osso, como o consumo da proteína da carne possibilitou o crescimento do seu cérebro. Conclusão: os aparentemente menos adaptados tiveram a possibilidade de ter seu cérebro aumentado e a consequente utilização do mesmo para "ler" o mundo à sua volta. Perceberam algo que hoje pode nos parecer banal, mas foi fundamental para chegarmos onde estamos: espantar o caçador rival — o leão, por exemplo — era mais fácil em bando do que sozinhos. De qualquer forma, não fomos promovidos a homens da noite para o dia, nisso é que reside a crítica à teoria do "ponto crítico" postulada por Alfred Louis Kroeber (1917). Essa teoria postulava a passagem a nossa condição humana quando todo nosso aparato orgânico permitisse a aquisição da cultura, sendo esse um salto qualitativo sem precedentes na história da humanidade. Clifford Geertz alegará, em oposição à teoria do ponto crítico, que o homem é, ao mesmo tempo, produtor e produto da cultura: 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/5 Bem, como você já deve ter percebido, o conceito de cultura é fundamental para a Antropologia. Por isso, continuaremos a falar sobre esse conceito na próxima aula. Caso fique alguma dúvida, acesse o AVA e entre em contato com o seu professor-tutor. REFERÊNCIA GEERTZ, Clifford. A transição para a humanidade. In: TAX, Sol (Org.). Panorama da Antropologia. Brasil-Portugal: Fundo de Cultura, s.d. LARAIA, Roque de Barros. Cultura:Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. LÉVI-STRAUSS, C. Natureza e cultura. In: As estruturaselementares do parentesco. Petrópolis: Vozes; São Paulo: EDUSP, 1976. MORRIS, Desmond. Os genes imortais. In: O animal humano. Lisboa: Gradiva, 1996. QUEIROZ, Renato da Silva. O homem: animal que ri. In: Revista da USP. São Paulo, dez-fev., 2003-2004. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 5/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/5 Conceitos básicos: cultura e humanização ABORDAR O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO A PARTIR DA VIDA EM SOCIEDADE E CONSEQUENTE AQUISIÇÃO DE CULTURA. INICIAR A DISCUSSÃO SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL E O ETNOCENTRISMO. Conceitos básicos: cultura e humanização Apenas nós somos produtores de cultura. Segundo Aranha e Martins (1993, p. 06), cultura "significa tudo que o homem produz ao construir sua existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores materiais e espirituais". Os homens elaboram e produzem todos estes significados materiais e imateriais de forma infinitamente múltipla, daí decorrendo a diversidade das culturas. No sentido de verificarmos o quanto é verdadeira essa ideia, podemos pensar em casos ocorridos com pessoas que não tiveram a oportunidade do convívio social desde crianças. O que aconteceria com essas pessoas? Teriam elas comportamentos essencialmente considerados humanos? Já podemos adiantar a resposta e esta seria: não! Até mesmo expressões tão banais do nosso comportamento como andar e falar não seriam possíveis em casos de isolamento. Então: o que nos humaniza? A possibilidade de aprendermos e apreendermos os comportamentos, hábitos, valores que nos são transmitidos pelo grupo ao qual pertencemos. A principal característica humana é a linguagem, pois é a partir dela que o homem produz símbolos e se insere no universo da inteligência abstrata e, consequentemente, da cultura. A palavra permite que o homem reorganize experiências passadas, permite ao homem que se distancie do mundo concreto para elaborar a compreensão sobre o mesmo. No caso de nosso enigmático Kaspar Hauser, sabemos que ele não passou, em seus primeiros anos de infância, pelo processo de educação, que é a porta de entrada da abstração. Assim, ele não compreendia o que se passava consigo, assim como com o mundo e as pessoas ao seu redor. Como estava despido de filtros e estereótipos culturais que todos nós adquirimos desde que nascemos, Kaspar sofre a estigmatização daquele que é, no mínimo, socialmente deslocado. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/5 Frases ditas por Kaspar Hauser expressam essa sua incompreensão e impossibilidade de ação: "Ninguém aceita Kaspar"; "O mundo é todo mau" e quando perguntado por uma nobre da sociedade da época como era a vida no porão, ele responde: "Melhor do que aqui". De acordo com Saboya (2001, p. 04) o caso de Kaspar Hauser "mostra-nos que a humanização do homem, entendida como socialização, não é uma decorrência biológica da espécie, mas consequência de um longo processo de aprendizado com o grupo social". Conclui-se que, diante da impossibilidade da socialização, da aquisição da linguagem e, portanto, do poder de abstração, o homem se empobrece como ser humano. Temos inúmeros exemplos na literatura e na história da humanidade de tentativas de restrição da linguagem ou de proibições de manifestações culturais como forma de tirar dos homens ou dos grupos sociais a sua arma mais poderosa de resistência, ou seja, a sua identidade cultural. Na literatura, o personagem Fabiano de Vidas Secas se desumaniza na medida em que não tem acesso ao conhecimento e às palavras. A pobreza e escassez de vocabulário acabam gerando a pobreza da compreensão da situação de opressão e exploração a que é submetido por seus patrões ou pessoas que representem o poder, a autoridade ou qualquer tipo de superioridade. Em contextos de governos totalitários, podemos citar o Nazismo como exemplo de supressão de uma cultura para enfraquecer o grupo que se quer dominar. No período nazista, Hitler proíbe aos judeus que se reúnam em clubes ou encontrem-se para qualquer tipo de ritual ou celebração próprios da sua identidade cultural, pois sabia que com essa estratégia enfraqueceria e desuniria os judeus. Contradição humana: vida em sociedade x liberdade individual Podemos concluir que é apenas pela possibilidade da socialização que nos humanizamos. Ao mesmo tempo, ao introjetarmos várias normas, hábitos, regras, condutas de nosso grupo social, corremos dois riscos; o primeiro deles seria o de perdermos nossa individualidade e caminharmos sempre de acordo com o que o grupo espera. O segundo é de nos tornarmos intolerantes com pessoas e/ou grupos diferentes de nós. Por isso, precisamos saber que pertencer a um grupo, a uma família, a um país e termos com estas pessoas uma identificação ou identidade cultural é extremamente importante até para que nossa existência faça sentido. O problema reside no fato de que ao "naturalizarmos" para nossas crianças, desde pequenas, nosso comportamento e dizermos a elas que este é o certo ou o único possível, podemos estar educando pessoas intolerantes e, às vezes, até mesmo agressivas. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/5 Nossa produção artística, literária, cinematográfica, assim como nossos estudos científicos, devem servir para mostrar a todos nós as infinitas possibilidades de ser da humanidade. A possibilidade de irmos contra as posturas engessadas de repugnância em relação ao outro. O estranhamento ao que nós é comum é a possibilidade de ir ao encontro do outro e de combater o dogmatismo, o etnocentrismo e o preconceito. Mas isso já faz parte da próxima aula! Chegamos ao fim desta aula. Caso fique alguma dúvida, leve a questão ao Fórum e divida-a com seus colegas e professor. 1. Para saber mais sobre o personagem enigmático Kaspar Hauser, consulte artigo de Maria Clara Lopes Saboya no site: www.scielo.br/ (http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0103- 65642001000200007&lng=pt&nrm=iso), acesso em 07 out. 2013. Existe também o filme de Werner Herzog, O enigma de Kaspar Hauser, que ilustra brilhantemente a vida deste personagem. 2. Conheça uma pouco mais a história do Nazismo e de Adolf Hitler no site: www.brasilescola.com/ (http://www.brasilescola.com/historiag/nazismo.htm), acesso em: 07 out. 2013. REFERÊNCIA ARANHA, Maria L. de A; MARTINS, M. H. Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993. ENIGMA de Kaspar Hauser, O. Direção: Werner Herzog. Gênero: Drama. Duração: 101 min. Alemanha, 1974. LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991. QUEIROZ, Renato da Silva. Não vi e não gostei: o fenômeno do preconceito. São Paulo: Moderna, 1997. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642001000200007&lng=pt&nrm=iso http://www.brasilescola.com/historiag/nazismo.htm 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 5/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/4 Significados de cultura APRESENTAR AS VÁRIAS INTERFACES QUE COMPÕEM O CONCEITO DE CULTURA. DEMONSTRAR A IMPORTÂNCIA E OPERACIONALIDADE DO CONCEITO PARA A ANTROPOLOGIA. INICIAR A REFLEXÃO DAS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES DE CULTURA PELAS TEORIAS ANTROPOLÓGICAS. Significados de cultura Podemos iniciar este tópico dizendo que há vários significados para cultura, tão ampla pode ser a sua definição. No entanto, uma afirmação é certa: trata-se de um conceito central da Antropologia, não descartando a sua importância também para as outras ciências. No sentido estrito significa colere: cultivar ou instruir; cultus: cultivo, instrução. Entretanto,não podemos pensar apenas neste sentido, pois ele se aplicaria muito mais à ilustração, a uma pessoa culta, sendo apenas um dos sentidos do termo. Para a Antropologia, a cultura é, em linhas gerais, todo comportamento transmitido e aprendido pelos indivíduos de um mesmo grupo social. Como vimos na aula anterior, todo ser humano que vive em sociedade se insere no mundo da cultura, dos símbolos, da linguagem e, por isso, torna-se humano. É possível destacar ainda, a cultura material da imaterial. A primeira seria o conjunto de instrumentos e objetos materiais resultantes de determinada tecnologia e conhecimento acumulado e específico da sociedade em questão. Este aspecto pode revelar muito do imaterial, o qual é conjunto da produção não palpável, não concreta de uma sociedade. Por exemplo, crenças, conhecimentos, religião, normas, hábitos, comportamentos e valores. Refletir sobre o que seja a cultura de um povo ou de um grupo social é muito importante para entendermos a humanidade em suas diferentes formas de se organizar e dar significados para sua existência. Não podemos pensar em cada cultura isoladamente, pois todos os grupos estão em contato e, em razão disso, não podemos pensá-la como algo estático, mas sim como um processo dinâmico. Nos primórdios da humanidade tínhamos uma família humana comum em termos biológicos, mas que foi se diferenciando ao longo do tempo. Apesar das mudanças há alguns aspectos que se generalizam nas sociedades, como o fato de todas elas se apropriarem dos recursos naturais para sobreviverem ou de todas se organizarem social e politicamente. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/4 Conclui-se, que a multiplicidade e diversidade das culturas nada têm a ver com diferenças biológicas na espécie humana, mas com outras formas de se organizarem e de dominarem a natureza. Houve época em que teóricos e estudiosos das diferentes culturas sugeriram hierarquizá-las pelo critério de maior capacidade de produção material, controle de tecnologias ou instituições sociais consideradas mais evoluídas. Essa época é o século XIX, no qual o contexto político e social é de conquista colonial e o antropólogo se interessa por informações vindas das colônias por meio de questionários enviados por administradores e missionários lá residentes. As primeiras obras literárias desta teoria chamada de Evolucionismo objetivavam traçar um conhecimento sobre o homem, em todas as suas dimensões. Nesta grande descrição da humanidade, o selvagem do século XVI se torna o primitivo, ancestral do civilizado e, com isso, a colonização possibilitou encontrar as origens da humanidade. A ideia central da antropologia evolucionista é que a família humana passaria pelos mesmos estágios evolutivos, partindo da selvageria, passando pela barbárie, até atingir seu estágio máximo de evolução, que seria a civilização. No entanto, essa evolução ocorreria em ritmo desigual nas diferentes sociedades. Continuaremos falando sobre o Evolucionismo na próxima aula. Leia na íntegra, a seguinte obra: LAPLANTINE, François. O tempo dos pioneiros: os pesquisadores eruditos do século XIX. In: ______. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991 e MORGAN, Lewis. Os períodos étnicos. In: A Sociedade Primitiva. São Paulo: Presença, 1978. Aula estudada! Caso fique com dúvidas, leve ao Fórum e divida com seu professor e colegas. REFERÊNCIA FRAZER, James. O Ramo de Ouro. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982. L APLANTINE, F. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1987. LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. In: ______. Antropologia Estrutural 2. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. MARCONI, Marina de A.; PRESOTTO, Zélia M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2001. SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/4 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/4 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/5 O Evolucionismo APROFUNDAR A REFLEXÃO SOBRE A TEORIA EVOLUCIONISTA COMO A PRIMEIRA INTERPRETAÇÃO DAS DIFERENÇAS CULTURAIS. O Evolucionismo e a função do antropólogo No contexto do Evolucionismo, a função do Antropólogo, na figura de estudiosos eminentemente teóricos, pois não faziam pesquisa de campo e se fechavam em gabinetes, seria a de determinar cientificamente os estágios das transformações evolutivas. Cabe ressaltar que, se no século XVI houve pensadores e viajantes que consideravam os aborígenes como aqueles que estavam fora da história e permaneceriam no estado de infância da humanidade. Para os evolucionistas, o desenvolvimento do indivíduo reproduz o desenvolvimento da humanidade: da infância à idade adulta. As instituições sociais eram alocadas em níveis de evolução para que se definisse o estágio evolutivo da sociedade a que pertenciam, por exemplo, a magia representaria o estágio menos evoluído: selvageria – passando à religião, barbárie, e, posteriormente, ao maior estágio evolutivo que seria representado pela ciência – a civilização. Essa teoria sofreu uma série de críticas, como a de que mediria o atraso das outras sociedades pelos critérios do Ocidente. Outra crítica seria a de que o pesquisador tomaria por tema de estudo sociedades não ocidentalizadas e apontaria as vantagens da civilização. Desta forma, o Evolucionismo se tornaria uma justificativa teórica para o colonialismo, pois estaria acelerando ou auxiliando as sociedades menos evoluídas a alcançarem mais rapidamente a civilização. Segundo Laplantine (1987), a teoria Evolucionista lança mão de julgamentos de valor para analisar as chamadas sociedades "primitivas", ao mesmo tempo em que objetiva extrair de documentos prontos leis gerais do desenvolvimento da humanidade. Neste sentido, apoia- se muito mais em uma tese do que em uma hipótese de pesquisa a ser confirmada ou refutada. Deve-se considerar a validade das obras dos evolucionistas pelo trabalho intenso, pela curiosidade, pela abrangência do conhecimento. Enfim, o fato de terem colocado pela primeira vez uma das grandes questões no estudo do homem: a universalidade e a 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/5 As culturas e sociedades humanas se relacionam de modo desigual. As relações internacionais registram desigualdades de poder em todos os sentidos, os quais hierarquizam de fato os povos e nações. Este é um fato evidente da história contemporânea e não há como refletir sobre cultura ignorando essas desigualdades. É necessário reconhecê-las e buscar sua superação. (SANTOS, 1987, P. 18) diversidade humanas. É importante também ressaltar o caráter antirracista desta teoria, pois as diferenças culturais não estavam justificadas por critérios genéticos ou biológicos, mas por resultado de situações técnicas e econômicas. Apesar destas considerações, é inegável o caráter etnocêntrico da teoria Evolucionista. Evolucionismo X Relativismo Não podemos trocar um equívoco pelo outro: a esquematização das culturas em sua hierarquização evolutiva por sua relativização total. Assim, esquecemos aspectos objetivos que o desenvolvimento histórico e a relação entre os povos impõem. Trata-se aqui do Relativismo como forma de entendimento das diferenças culturais. Segundo Santos (1987), enquanto cientistas sociais de países desenvolvidos relativizam culturas, os seus países avançam implacavelmente conquistando e destruindo. De acordo com o relativismo cultural, o conceito de certo e errado, de usos e costumes particulares, relaciona-se à cultura da qual faz parte e, por isso, deve ser analisado a partir da lógica que faz para aqueles que a vivenciam. Essa atitude em não repudiar, mas sim respeitar as diferenças culturais afastaria o olhar etnocêntrico por diversas vezes aqui citado. Outros exemplospolêmicos e que nos trazem a reflexão sobre os limites do relativismo é pensarmos em hábitos culturais tradicionais nas diferentes sociedades, mas que podem, por exemplo, ferir direitos humanos. Podemos citar o infanticídio, o gerontocídio e a extirpação do clitóris como comportamentos considerados, até certo ponto, "normais" em algumas sociedades. Dito isto, não podemos esquecer que isso também serve para refletirmos sobre o interior de uma sociedade particular. Não é possível simplesmente relativizar e esquecer que existem grupos e classes sociais mais poderosos. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/5 No caso da sociedade brasileira, há imensa variedade de formas culturais, pois para cá vieram pessoas do mundo inteiro, há diferenças regionais, de escolaridade, de idade e tudo isso reflete na diversidade cultural, referente a grupos internos de metrópoles, do campo ou cidade com características peculiares religiosas ou filosóficas, por exemplo. Apesar destas características internas distintas temos sempre o diálogo e o contato entre os grupos. Daí a importância de pensarmos a cultura de forma não estagnada. As sociedades são dinâmicas e interagem. É essencial refletirmos sobre a cultura, origem e diversidade, no que é e no que pode vir a ser sem que isso sirva de justificativa à opressão. Dessa forma, concluímos o quanto é ampla e polêmica a discussão sobre cultura, e por isso continuaremos nas próximas aulas. REFERÊNCIA FRAZER, James. O Ramo de Ouro. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982. L APLANTINE, F. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1987. LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. In: ______. Antropologia Estrutural Dois. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. MARCONI, Marina de A.; PRESOTTO, Zélia M. N. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2001. SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 5/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/5 Cultura popular e erudita REFLETIR SOBRE ASPECTOS REFERENTES AO CONCEITO DE CULTURA, O QUE SE ENTENDE POR CULTURA ERUDITA E POPULAR, ASSIM COMO A NOÇÃO DE PODER IMPLÍCITA NESSES ASPECTOS. O erudito e o popular na cultura Nesta aula falaremos sobre duas concepções sempre presentes quando o tema é cultura. A primeira delas estaria ligada a tudo aquilo que se relaciona à alta cultura, cultura de elite, contrário à barbárie, sinônimo de civilização, acesso ao conhecimento, à língua escrita, arte, música (em especial clássica). A tudo isso, convencionou-se chamar cultura erudita. Outra designação diria respeito à cultura de um povo, nação ou grupo, em relação às suas raízes e a sua história. As Ciências Sociais, em especial a Antropologia, vem tratando do conceito de cultura referente à segunda concepção. Na verdade, falarmos destas concepções é muito mais importante para ampliarmos e aprofundarmos a discussão do que para diferenciá-las. Cultura popular e erudita são "faces da mesma moeda" e não contraditórias ou excludentes entre si. A concepção de totalidade de uma realidade social sedimentou-se na concepção científica de cultura no século XIX; já na concepção de conhecimento produzido por uma dada sociedade, é mais antiga, pois se refere ao refinamento pessoal e erudição. A chamada cultura popular está ligada, historicamente, às classes menos favorecidas e a erudita às elites. Em virtude da própria sociedade dividida em classes sociais ocorreu o que as instituições que produzem saber, arte, profissões são dominadas pela elite. O que vem a ser considerado popular é duplamente definido pela elite, pois ela define o que fica de fora ou não da chamada cultura erudita, consequentemente, o que é cultura popular. Entretanto, como já sinalizado, seria um engano polarizar o que seja popular do que seja erudito, pois são muitas as nuances entre manifestações artísticas, religiosas, científicas de uma e outra. Isso porque as classes dominadas e dominantes partilham do mesmo processo social. Toda produção cultural é processo dessa existência comum, um produto dessa história coletiva, o que se reparte desigualmente é o seu controle e os seus benefícios. Conclui-se que não se pode pensar isoladamente numa cultura popular já que ela atinge uma parcela tão grande da população. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/5 Mas é claro que nem o carnaval nem os cultos afro-brasileiros podem ser entendidos exclusivamente da ótica (sic) dessa origem que se pode chamar de popular. Afinal, é obviamente como parte do processo histórico da sociedade como um todo que ambos encontram condições de generalização. Consolidam-se com o crescimento das cidades do país, encontram forte expressão nos centros políticos e econômicos mais importantes, como é o caso de São Paulo e Rio de Janeiro. Transformam-se com o país e deixam de ser exclusivamente associados a uma parte da população, seja na sua prática, seja na sua organização. (SANTOS, 1987, P.61) Poderíamos considerar algumas manifestações populares na cultura, como o carnaval e a umbanda, que têm origem africana e foi oprimida por muito tempo na história brasileira, no entanto, originalmente são manifestações populares. Por outro lado, temos manifestações culturais que se originaram ou foram trazidos para o Brasil pela elite e que, com o passar do tempo, foram se popularizando. O futebol foi trazido para o Brasil por Charles Miller, um menino da elite paulistana que foi estudar na Inglaterra e lá se encantou com o jogo. Os primeiros jogos realizados no Brasil aconteceram entre funcionários de empresas inglesas de São Paulo. O primeiro jogo aconteceu em 15 de abril de 1895. Em sua origem, a prática do futebol era vedada aos negros. Podemos concluir que, embora de elite em sua origem, atualmente o futebol é um dos jogos mais populares no Brasil e no mundo. Exemplos semelhantes são o espiritismo e a medicina homeopática que foram introduzidos no Brasil por representantes das classes dominantes provenientes da França. Mesmo considerando que, no caso da homeopatia, esta elite tenha se preocupado com que as classes oprimidas, como os escravos, tivessem acesso ao seu uso. Atualmente, tanto a homeopatia quanto a religião espírita não podem ser consideradas como manifestações culturais de elite. Uma característica importante da cultura popular é seu caráter de resistência à opressão que sofre. Neste sentido, se refere a tudo que tenha a ver com o seu crescimento e fortalecimento. Segundo Santos "as manifestações culturais não podem ser totalmente reduzidas às relações sociais de que são produto. Elas também têm sua dinâmica própria. A cultura é criativa." (1987, p.66) 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/5 (...) a cultura popular como 1) um processo plural, em constante criação e recriação, 2) uma forma de resistência à ideologia dominante ou, ao contrário, 3) como fruto dessa mesma dominação,entendida como o resultado de uma relação de tensão entre o interesse do dominante e o interesse do dominado e, portanto, ambígua e dissimulada; finalmente, 4) como o espaço no qual se reproduzem simbolicamente as relações de poder vigentes na sociedade, ou onde se invertem, temporária e ritualmente, essas mesmas relações – a cultura popular é concebida sempre do ponto de vista de suas relações com o poder. (DOMINGUES, 2008, P.14) O funk carioca surgiu por influência de um ritmo da Flórida chamado Miami Bass e na década de 1990 suas letras tratam do cotidiano dos moradores das favelas, de sua exclusão social, da violência a que estão sujeitos e do tráfico de drogas; enfim, retratavam a realidade das classes menos favorecidas. Neste sentido, serviucomo denúncia e protesto, e serve até hoje. Todavia, não podemos reduzir a cultura popular ao que se chama de povo pela própria dificuldade em definir esse termo. Povo seria o conjunto daqueles que não pertencem à elite, mas não podemos dizer que estes excluídos sejam uma massa homogênea. Talvez seja melhor falarmos em culturas populares referentes à: local (campo/cidade), sexo (masculino/feminino), faixa etária (velhos/jovens) e assim por diante. Essas culturas serão tanto mais autônomas quanto menor a possibilidade de diálogo com outros grupos. Segundo Domingues, atualmente as abordagens sobre cultura tendem a considerar: Neste contexto, cultura como conceito e como realidade necessita ser pensada como instrumento de dominação e/ou de criação de resistência. Assim, surgiu novamente a importância de inserirmos a noção de processo, de mudança e de diálogo, pois falarmos em cultura não é citar peças de museu, folclore, ou qualquer ideia de estático. Cultura não se refere apenas a tudo o que não seja social, econômico ou político; pelo contrário ela está imbricada com estas e outras dimensões da realidade. Temos exemplos de organizações empresariais que desprezaram fatores culturais e que tiveram fracasso econômico ou administrativo. Não podemos esquecer também da chamada cultura de massa, que será o tema da próxima aula. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/5 1. Acesse o site a seguir e veja um artigo que trata de pesquisas em Antropologia das Organizações e que revelam o peso das dimensões culturais na administração das empresas em termos das relações interpessoais entre colegas de trabalho e entre as chefias e funcionários chegando, caso desconsiderado ao extremo do fracasso econômico destas empresas. Disponível em: revistapesquisa.fapesp.br (http://revistapesquisa.fapesp.br/? art=1723&bd=1&pg=1&lg=-35k-) . Acesso em: 13 set. 2013. REFERÊNCIA BOURDIEU, P. Pierre Bourdieu – Sociologia. São Paulo: Ática, 1983. SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987. THOMPSON, E. P. Costumes em Comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=1723&bd=1&pg=1&lg=-35k- 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 5/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/4 Cultura de massa REFLETIR SOBRE A CULTURA DE MASSA, OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS PARA DEFINIÇÃO DESSA ESPECIFICIDADE CULTURAL. PROBLEMATIZAR A RECEPÇÃO DA CHAMADA CULTURA DE MASSA PELOS DIFERENTES ATORES SOCIAIS. Como vimos na aula anterior, internamente uma sociedade apresenta diversidades relativas à classe social, que tem estilo de viver próprio. Mas nem mesmo dentro de uma classe as vivências são as mesmas. Vários são os recortes de tempo, de espaço físico, de idade, de gênero que podem ser dados para falar de cultura. Por isso, é importante falarmos também dos meios de comunicação de massa no país. Convém dizermos que na comunicação de massa existe uma tendência à homogeneização cultural, dando a impressão de que são amenas as desigualdades sociais, pois todos compartilham, aparentemente, da produção e consumo de produtos e bens. A televisão, o rádio, o cinema e a internet atuam neste sentido. Entretanto, por mais eficientes que estes meios de comunicação sejam, eles não conseguem nublar totalmente a consciência da opressão e desigualdade vivenciada pela população mais carente. A cultura de massa, grosso modo, pode ser considerada toda forma de produção cultural feita a partir da modernidade e que pode ser disseminada pelos meios de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal e internet), portanto, envolve uma série de questões ligadas ao nosso cotidiano na contemporaneidade. Podemos dizer que as formas de vida, os padrões de relacionamento, consumo, produção, etc., dependem da forma como lidamos com os nossos meios de comunicação, e, concomitantemente, com a cultura de massa por eles veiculada. Para muitos, a vida sem as informações ou o entretenimento proporcionado pela televisão, por exemplo, seria inconcebível e, para uma grande parte destes, ficar dois ou três dias sem acesso à internet pode parecer uma forma de sucumbir a um vazio existencial profundo. A existência da cultura de massa está ligada diretamente à existência das massas – da sociedade de massa, das grandes cidades e aglomerados urbanos e dos meios de comunicação que difundem e disseminam a cultura para grandes audiências ou recepções. A cultura de massa depende, portanto, de um grande público consumidor e de um modo de produção industrial em larga escala. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/4 Podemos situar a origem desta cultura na invenção da prensa mecânica, momento em que a forma de produção de informações gráficas deixou de ser artesanal para se tornar mecânica, o que possibilitou grandes tiragens. Naquele momento, no entanto, havia ainda o predomínio da cultura oral e a população apresentava características majoritariamente rurais. A alfabetização era privilégio de poucos, acessível apenas a uma minoria letrada. A possibilidade de disseminação da leitura e do conhecimento proporcionada pelas grandes tiragens, o surgimento de editores e livreiros que impulsionavam novas produções e a reedição de autores da antiguidade clássica por meio da nova forma de impressão incentivou a nova "indústria" e incentivou a universalização da leitura e da escrita. Segundo McLuhan (1990), o livro impresso liquidou com dois mil anos de cultura manuscrita, fez prevalecer a interpretação particular sobre o debate público e estabeleceu o "divórcio entre a literatura e a vida", criando uma cultura altamente abstrata por ser ele mesmo "uma forma mecanizada de cultura". A expansão do mercantilismo e a busca por informações comerciais possibilitaram uma grande expansão da imprensa escrita nos grandes centros urbanos, tornando o jornal o primeiro meio de comunicação com as características típicas da cultura de massa. Em um determinado momento, as informações que eram de interesse estrito da esfera pública (dos governos e entidades de controle comercial) passaram a ser também de interesse privado. Para Jürgen Habermas (apud MARCONDES FILHO, 1989), o jornal surgiu das necessidades do comércio mundial no começo dos tempos modernos; o cálculo capitalista necessitava de um fluxo de informações controlável, regulável e acessível em geral. O trânsito de notícias se desenvolveu não somente no contexto das necessidades do trânsito de mercadorias, pois as próprias notícias se transformam em mercadorias. A Revolução Industrial amplificou a necessidade de informações, assim como possibilitou a criação de incrementos técnicos que tornaram as grandes tiragens de livros e jornais em uma realidade. Ao mesmo tempo iniciou a transferência da população do campo para a cidade, atraída pelo trabalho nas linhas de produção, propiciando a concentração da população nos grandes centros urbanos. Surgia, então, na passagem do século XVIII para o XIX, as condições ideais para o surgimento da cultura de massas, em bases como a temos até hoje, ou, modificada indelevelmente pela popularização da internet na atualidade. Na próxima aula discutiremos o papel essencial que o rádio, a televisão e a internet tiveram como veículos da cultura de massa. Até lá! REFERÊNCIA 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/4 HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de massas. In: LIMA, C. L. Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. MARCONDES FILHO, Ciro. O Capital da Notícia. São Paulo: Ática, 1989. McLUHAN, M. Visão, som e fúria. In: LIMA, C. L. Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. SãoPaulo: Brasiliense, 1987. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/4 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/5 Cultura de massa — rádio, televisão e internet REFLETIR SOBRE A CULTURA DE MASSA, OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS PARA DEFINIÇÃO DESSA ESPECIFICIDADE CULTURAL, ALÉM DE PROBLEMATIZAR A RECEPÇÃO DA CHAMADA CULTURA DE MASSA, EM ESPECIAL DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO: RÁDIO, TV E INTERNET. Cultura de massa: rádio, TV e internet Nada foi tão importante para a constituição da noção de cultura de massas na atualidade quanto o rádio, a TV e o cinema. Como vimos, o impulso técnico proporcionado pela industrialização alavancou a corrida pela constituição de um mercado que abarcasse as formas de comunicação, englobando as grandes populações e, por que não, até as mais afastadas dos grandes centros, alcançadas, então, pela expansão da telefonia e pela invenção do rádio. O rádio foi uma verdadeira revolução. Não dependia, ao contrário dos jornais, de um meio físico para sua distribuição, mas sim de meios técnicos, da amplificação das condições de transmissão e da popularização dos aparelhos receptores. Dessa forma, toda a inovação técnica nos meios de comunicação traz em seu bojo inúmeras mudanças sociais. Da mesma forma, a popularização da fotografia, no final do século XIX, levou à criação de imagens em movimento, o que proporcionou a invenção do cinema. Assim como a conjunção das técnicas de transmissão radiofônicas aliada ao cinema levou à invenção da TV, em meados do século XX. Resta-nos discutir se a proliferação dos meios de comunicação de massa neste mesmo século XX contribuiu para o avanço do pensamento humano, assim como a popularização do livro e da imprensa o fizeram na era pré-industrial. Discute-se, por exemplo, se as ideias revolucionárias francesas tiveram alguma influência nas ideias importadas pelos "meios de massa" de, então, nos processos de independência de países "distantes", como Estados Unidos e Brasil, em suas lutas pelo fim do jugo colonial. Cinema, rádio e televisão atuam hoje abolindo distâncias e situando certas personalidades, acontecimentos e formas de comunicação num novo plano de existência, pois passam a ser percebidos de maneira sui generis através dos meios de comunicação de massa. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/5 A repetição exaustiva das imagens das Torres Gêmeas sendo atingidas pelos aviões sequestrados nos EUA, em 2001, por exemplo, puderam justificar a "guerra contra o terror" que, por sua vez, garantiu a reeleição de George W. Bush. Houve, no Brasil, o caso de um debate entre presidenciáveis que foi visivelmente editado pela rede de TV que o produziu e que provocou nada menos do que a eleição do candidato que tinha vínculos estreitos com esta emissora. Os fatos citados foram eventos marcantes na sociedade de massas que envolveram e continuam envolvendo o destino de milhões de pessoas, não se restringindo somente a um simples ato de comunicação. As discussões no campo da comunicação em torno do poder (alienante ou emancipador) da cultura e dos meios de comunicação de massa contemporâneos dividiram o mundo em duas diferentes categorias: "apocalípticos" e "integrados", termo cunhado pelo pensador da comunicação italiano Umberto Eco, na década de 1960. Para os primeiros, como Theodor Adorno e Max Horkheimer, as formas de comunicação de massa representam um falso iluminismo, que serve à imutabilidade das relações, reforçando toda forma de submissão das massas ao poder da hegemonia capitalista. Já para os outros, como Marshall McLuhan, a evolução dos meios de comunicação nos levaram à formação da "Aldeia Global", uma forma de comunicação que integraria todas as nações, amplificando as possibilidades de interação entre os povos e otimizando ao máximo a criatividade do ser humano. Hoje em dia a internet promete romper todos os paradigmas ligados à cultura e à sociedade de massas. Ela permite um tipo de comunicação em que o usuário final tem completa autonomia para selecionar sua informação diante de uma miríade de assuntos, ideias e opiniões. O internauta pode ser receptor e autor quase ao mesmo tempo. A popularização da internet promete revolucionar a forma com a qual nos comunicamos na contemporaneidade ou se tornar também o maior e mais poderoso meio de alienação e controle das massas. Não resta dúvida de que a ampliação do acesso à comunicação é positiva, mas necessitamos conhecer melhor as fontes das informações e, mais ainda, a fidedignidade delas, deixando, assim, de sermos meros receptores bombardeados o tempo todo pelas notícias e imagens. Os veículos de comunicação podem e devem integrar-nos a uma verdadeira humanidade, ao mesmo tempo, propiciar-nos reconhecer a diversidade cultural, exercício tão importante à tolerância com a diferença. Aula estudada! Caso fique com dúvidas, leve-as ao fórum e divida-as com seu professor e colegas. REFERÊNCIA 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/5 HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. A indústria cultural: o Iluminismo como mistificação de massas. In: LIMA, C. L. Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. MARCONDES FILHO, Ciro. O Capital da Notícia. São Paulo: Ática, 1989. McLUHAN, M. Visão, som e fúria. In: LIMA, C. L. Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 5/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/5 Essa história de raça, Raças más, raças boas – Diz o Boas – É coisa que passou Com o franciú Gobineau Pois o mal do mestiço Não está nisso. Está em causas sociais, De higiene e outras tais: Assim pensa, assim fala Casa Grande e Senzala. (MANUEL BANDEIRA) Cultura e Determinismo Biológico APRESENTAR AO ALUNO OS ARGUMENTOS UTILIZADOS POR ALGUNS ACADÊMICOS E AINDA PRESENTES NO SENSO COMUM, DA CULTURA DETERMINADA POR ASPECTOS BIOLÓGICOS E/OU RACIAIS. DEMONSTRAR OS ARGUMENTOS DESENVOLVIDOS PELA CIÊNCIA ANTROPOLÓGICA CONTRÁRIOS AO DETERMINISMO CITADO. Cultura: expressão cultural X determinismo biológico No fim de nossa última aula, falamos sobre a importância da tolerância com a diversidade cultural e, portanto, com a diferença. Nesse sentido, tocamos em um ponto de extrema relevância para a Antropologia. Estamos falando de mais dois aspectos essenciais para a reflexão sobre o conceito de cultura: o determinismo biológico e o determinismo geográfico. Tanto no campo científico quanto no senso comum, estes discursos foram utilizados, e ainda são, para a compreensão das diferenças culturais. Franz Boas escreveu textos destinados a combater o método e a teoria Evolucionista (já citada em aula anterior). Além disso, empenhou-se em combater as teorias racistas (determinismo biológico) em sua obra. Suas ideias tiveram grande influência na obra de Gilberto Freyre , que declarou no prefácio de Casa-Grande e Senzala: 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/5 [...] Foi o estudo de Antropologia sob a orientação do Professor Boas que primeiro me revelou o negro e o mulato no seu justo valor — separados dos traços de raça os efeitos do ambiente ou da experiência cultural. Aprendi a considerar fundamental a diferença entre raça e cultura; a discriminar entre os efeitos de relações puramente genéticas e os de influências sociais, de herança cultural e de meio. Neste critério de diferenciação fundamental entre raça e cultura assenta todo o plano deste ensaio. Também no da diferenciação entre hereditariedade de raça e hereditariedade de família. (BOAS, 2009,P. 20) Hereditariedade racial implica necessariamente a existência de unidade de descendência e a existência, numa certa época, de um pequeno número de ancestrais de formas corporais definidas, dos quais a população atual descende. É praticamente impossível reconstruir essa ancestralidade pelo estudo de uma população moderna... Cada grupo racial consiste de muitas linhagens familiares que são distintas em formas corporais. (BOAS, 2009) Boas postula a impossibilidade de falarmos de um tipo racial com hereditariedade única e, consequentemente, inferior ou superior. Além disso, os grupos humanos estão todos em contato e, portanto, seria impossível falar em pureza racial. Mais lamentável ainda foi a necessária luta de Boas contra acadêmicos que defendiam a superioridade de algumas raças diante de outras. Em 1931, desafiou a provar o que disse Arthur Keith, reitor da universidade de Aberdeen: "A natureza mantém seu pomar humano saudável pela poda, e a guerra é o seu podão". E ainda: "a natureza implantou em vocês a antipatia e o preconceito raciais para cumprir sua própria finalidade — o aperfeiçoamento da humanidade por meio da diferenciação racial" (BOAS, 2009, p. 74; p. 85). Boas discordava que existisse a antipatia racial inata. Se fosse assim, argumentava, não haveria a mistura dos donos de escravos com suas escravas ou com as índias como aconteceu no Brasil por ocasião do encontro entre portugueses e indígenas e depois com a vinda de africanos. Na verdade, o estranhamento acontece por um ideal de beleza branca e por causas culturais atuantes nos grupos fechados. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/5 São velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades específicas inatas a “raças” ou a outros grupos humanos. Muita gente ainda acredita que os nórdicos são mais inteligentes do que os negros; que os alemães têm mais habilidade para a mecânica; que os judeus são avarentos e negociantes; que os norte-americanos são empreendedores e interesseiros; que os portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nômades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses. Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais. O que a Antropologia tenta desconstruir, como já citado, é a crença em diferenças biológicas ou determinantes biológicos como instrumentos de compreensão das diferenças culturais. Como afirma Laraia (2009, p. 9) em seu livro Cultura: um conceito antropológico: Outro determinismo negado pela Antropologia refere-se ao determinismo geográfico, mas esse assunto fica para a próxima aula! REFERÊNCIA BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. GUIMARÃES, A. Z. (Org.) Desvendando Máscaras Sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980. LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991. LARAIA, Roque de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. MALINOWSKI, Bronislaw. O assunto, o método e o objetivo desta investigação. In: DURHAM. E. R (Org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1986. MEAD, Margareth. Sexo e Temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1976. 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 5/5 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/4 Cultura e determinismo geográfico DESCONSTRUIR, A PARTIR DOS POSTULADOS DA ANTROPOLOGIA, O DETERMINISMO GEOGRÁFICO COMO INSTRUMENTO DE COMPREENSÃO DA DIVERSIDADE E DINÂMICA CULTURAIS. Espaços comuns, respostas diversas Assim como não devemos entender as diferenças culturais a partir das características biológicas/raciais dos povos, não devemos entender as respostas culturais determinadas pelos limites impostos pelo clima e espaço físico onde os povos residem. No século XIX e início do XX, houve a corrente teórica em geografia definida, posteriormente, como determinismo geográfico. Um dos principais pensadores desta teoria foi o alemão Friedrich Ratzel (1844–1904). A principal obra deste pensador foi Antropogeografia. A partir do título de sua obra, podemos verificar a ênfase dada aos estudos geográficos e o impacto da geografia sobre o homem. Nesse sentido, essa teoriza via o homem como ser essencialmente biológico e não social. Vemos a relevância das causas ambientais sobre as condições de vida de uma sociedade e, a esta concepção, denominou-se determinismo geográfico. O homem é produto do seu meio e as condições naturais determinam as sociais. No entanto, a partir dos estudos modernos em Antropologia, sabemos que: Uma das respostas a essa pergunta seria justamente essa capacidade de apresentar soluções distintas às condições impostas pelo meio. Laraia cita vários exemplos de como povos habitantes de espaços com clima, flora e fauna semelhantes apresentam modos de vida diferentes. Compara os lapões aos esquimós, ambos vivem em locais de frio rigoroso, mas cada um tem um tipo de habitação e formas diversificadas de sobrevivência. Os primeiros criam renas e os outros caçam estes animais. Dentro do Parque Nacional do Xingu, temos diferentes etnias indígenas que convivem em um espaço geográfico semelhante. Os Kamayurá, Kalapalo e Trumai Waurá não consomem carne de grandes mamíferos e, por isso, não se dedicam à caça dos mesmos. Essa opção se relaciona às interdições culturais. Já os Kayabi, que habitam o norte do Parque, caçam e consomem preferencialmente os mamíferos de grande porte. PENSAMENTO POLÍTI… 1 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/4 A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura. Mas que é cultura? (LARAIA, 2009, P. 14) Retomemos Franz Boas, autor já citado na aula anterior. Além de negar o determinismo biológico, esse pensador se opõe ao determinismo geográfico. Em seu texto Alguns problemas de metodologia nas Ciências Sociais, escrito em 1930, ele argumenta que seria equivocada a linha de investigação, ainda vigente naquele momento, e representada por pensadores como Karl Ritter, Guyot, Ratzel, De la Blache e Jean Brunhes; que atribuía peso excessivo às condições geográficas para o entendimento das sociedades. Boas alega que, em muitos aspectos, a vida cultural pode ser limitada por condições geográficas e dá como exemplo a ausência de vegetais no Ártico ou de água no deserto. Sem dúvida, esses fatores limitam as atividades dos homens, mas de maneira alguma as tornam impossíveis. Por meio do desenvolvimento tecnológico moderno, podemos resolver problemas ambientais aparentemente insolúveis como, por exemplo, a irrigação e plantio de uva como tem acontecido em áreas secas do Nordeste brasileiro . As palavras de Boas, citadas a seguir, resumem perfeitamente a visão da Antropologia sobre cultura e determinismo geográfico. Diz ele: REFERÊNCIA BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. GUIMARÃES, A. Z. (Org.) Desvendando Máscaras Sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980. LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991. LARAIA, Roque de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. MALINOWSKI, Bronislaw. O assunto, o método e o objetivo desta investigação. In: DURHAM. E. R (Org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1986.MEAD, Margareth. Sexo e Temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1976. PENSAMENTO POLÍTI… 1 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/4 PENSAMENTO POLÍTI… 1 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/4 PENSAMENTO POLÍTI… 1 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/4 Cultura e determinismo geográfico DESCONSTRUIR, A PARTIR DOS POSTULADOS DA ANTROPOLOGIA, O DETERMINISMO GEOGRÁFICO COMO INSTRUMENTO DE COMPREENSÃO DA DIVERSIDADE E DINÂMICA CULTURAIS. Espaços comuns, respostas diversas Assim como não devemos entender as diferenças culturais a partir das características biológicas/raciais dos povos, não devemos entender as respostas culturais determinadas pelos limites impostos pelo clima e espaço físico onde os povos residem. No século XIX e início do XX, houve a corrente teórica em geografia definida, posteriormente, como determinismo geográfico. Um dos principais pensadores desta teoria foi o alemão Friedrich Ratzel (1844–1904). A principal obra deste pensador foi Antropogeografia. A partir do título de sua obra, podemos verificar a ênfase dada aos estudos geográficos e o impacto da geografia sobre o homem. Nesse sentido, essa teoriza via o homem como ser essencialmente biológico e não social. Vemos a relevância das causas ambientais sobre as condições de vida de uma sociedade e, a esta concepção, denominou-se determinismo geográfico. O homem é produto do seu meio e as condições naturais determinam as sociais. No entanto, a partir dos estudos modernos em Antropologia, sabemos que: Uma das respostas a essa pergunta seria justamente essa capacidade de apresentar soluções distintas às condições impostas pelo meio. Laraia cita vários exemplos de como povos habitantes de espaços com clima, flora e fauna semelhantes apresentam modos de vida diferentes. Compara os lapões aos esquimós, ambos vivem em locais de frio rigoroso, mas cada um tem um tipo de habitação e formas diversificadas de sobrevivência. Os primeiros criam renas e os outros caçam estes animais. Dentro do Parque Nacional do Xingu, temos diferentes etnias indígenas que convivem em um espaço geográfico semelhante. Os Kamayurá, Kalapalo e Trumai Waurá não consomem carne de grandes mamíferos e, por isso, não se dedicam à caça dos mesmos. Essa opção se relaciona às interdições culturais. Já os Kayabi, que habitam o norte do Parque, caçam e consomem preferencialmente os mamíferos de grande porte. PENSAMENTO POLÍTI… 1 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/4 A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se transformou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura. Mas que é cultura? (LARAIA, 2009, P. 14) Retomemos Franz Boas, autor já citado na aula anterior. Além de negar o determinismo biológico, esse pensador se opõe ao determinismo geográfico. Em seu texto Alguns problemas de metodologia nas Ciências Sociais, escrito em 1930, ele argumenta que seria equivocada a linha de investigação, ainda vigente naquele momento, e representada por pensadores como Karl Ritter, Guyot, Ratzel, De la Blache e Jean Brunhes; que atribuía peso excessivo às condições geográficas para o entendimento das sociedades. Boas alega que, em muitos aspectos, a vida cultural pode ser limitada por condições geográficas e dá como exemplo a ausência de vegetais no Ártico ou de água no deserto. Sem dúvida, esses fatores limitam as atividades dos homens, mas de maneira alguma as tornam impossíveis. Por meio do desenvolvimento tecnológico moderno, podemos resolver problemas ambientais aparentemente insolúveis como, por exemplo, a irrigação e plantio de uva como tem acontecido em áreas secas do Nordeste brasileiro . As palavras de Boas, citadas a seguir, resumem perfeitamente a visão da Antropologia sobre cultura e determinismo geográfico. Diz ele: REFERÊNCIA BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. GUIMARÃES, A. Z. (Org.) Desvendando Máscaras Sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980. LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1991. LARAIA, Roque de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. MALINOWSKI, Bronislaw. O assunto, o método e o objetivo desta investigação. In: DURHAM. E. R (Org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1986. MEAD, Margareth. Sexo e Temperamento. São Paulo: Perspectiva, 1976. PENSAMENTO POLÍTI… 1 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 3/4 PENSAMENTO POLÍTI… 1 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 4/4 PENSAMENTO POLÍTI… 1 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 1/4 A atitude mais antiga, e que se baseia indiscutivelmente em fundamentos psicológicos sólidos (já que tende a reaparecer em cada um de nós quando nos situamos numa situação inesperada), consiste em repudiar pura e simplesmente as formas culturais: morais, religiosas, sociais, estéticas, que são as mais afastadas daquelas com as quais nos identificamos. “Hábitos de selvagens”, “na minha terra é diferente”, “não se deveria permitir isso” etc., tantas reações grosseiras que traduzem esse mesmo calafrio, essa mesma repulsa de maneiras de viver, crer ou pensar que nos são estranhas. (LÉVI-STRAUSS, APUD LAPLANTINE, 1987, P. 40) Um marco para a Antropologia: os primeiros relatos de alteridade APRESENTAR AO ALUNO O MARCO PARA A ANTROPOLOGIA NO SÉCULO XVI: OS PRIMEIROS RELATOS DE ALTERIDADE. INTRODUZIR O CONCEITO DE ETNOCENTRISMO E AS ATITUDES DE INTOLERÂNCIA ÀS DIFERENÇAS CULTURAIS. Os primeiros relatos de alteridade O século XVI foi um marco no que se refere aos relatos sobre o encontro com a diferença, com o outro, podemos chamá-los de relatos de alteridade. Portanto, foi também um marco relevante para a Antropologia. A importância deste encontro se deve ao fato de que os homens se autointerpretam ao entrarem em contato com a diferença. "Por isso, a descoberta da América tem um significado vital para o entendimento do homem europeu. O mundo selvagem é um contraponto à civilização ocidental." (ORTIZ, 1999, p. 29). Esse contraponto funciona tanto como fonte de inspiração como de dominação, o outro preexiste como diferença e é utilizado pelo europeu para a compreensão das variedades da espécie humana. A carta de Pero Vaz de Caminha é um exemplo deste tipo de relato. Essa carta descreve a percepção de um português sobre as terras, a vegetação, a moradia, o tipo de alimentação, enfim o comportamento dos indígenas encontrados no Brasil. PENSAMENTO POLÍTI… 1 24/05/2019 AVA UNINOVE https://ava.uninove.br/seu/AVA/topico/container_impressao.php 2/4 Esse encontro entre o português e o indígena provocou tal perplexidade que a Coroa Portuguesa e a Igreja Católica, em um primeiro momento, versavam sobre a presença ou não de alma nesses habitantes (os índios). Teriam ou não alma? Estariam inseridos na doutrina do pecado original? Enfim, pertenceriam à humanidade? No caso de ampliarmos a visão do outro, como fonte de inspiração ou dominação, teremos o que Laplantine (1987) chama de ideologia de fascinação e/ou repulsa. Essa dupla resposta ideológica estaria presente não só no início da história da humanidade, mas também ainda nos dias atuais, já que aparece com extrema regularidade em nossas atitudes. Isso porque os homens têm certa dificuldade em encarar e lidar com a diferença. Na antiguidade grega, eram considerados bárbaros aqueles que não pertenciam à cultura helênica. Um dos povos bárbaros era os vândalos, interessante
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