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AMPLIANDO AS VOZES SILENCIADAS: A Importância da Literatura Infantil para Crianças Marginalizadas
 [footnoteRef:0] – UEG [0: ] 
Everton Tizo Pedroso[footnoteRef:1] – UEG (Orientador) [1: ] 
RESUMO
O presente artigo apresenta uma pesquisa bibliográfica de cunho exploratório, que teve como foco a análise das representações marginais na Literatura Infantil. Analisando a trajetória da representação de personagens marginalizados da Literatura em geral, do Século XIX até a contemporaneidade, para então discutir a pouca representação na Literatura Infantil e o por que teóricos como BISHOP(1990), Gultekin e May (2020) e (DEVI, SMITH, WEAVER, 20223) afirmam que tal representatividade é importante para fortalecimento identitário de muitas crianças.
Palavras Chaves: Literatura Marginal; Literatura Infantil; Representatividade.
	
1. INTRODUÇÃO. 
A literatura infantil desempenha um papel crucial no desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, fornecendo histórias envolventes e cativantes que despertam a imaginação, estimulam a criatividade e promovem valores essenciais. (SILVA, 1995) No entanto, é importante reconhecer que nem todas as crianças têm acesso igualitário a essas narrativas, especialmente aquelas que são marginalizadas e vivenciam diversas formas de desigualdade na sociedade. (DO NASCIMENTO, 2009)
A marginalização pode se manifestar em diferentes aspectos, podendo ocorrer com base em raça, etnia, gênero, classe social, orientação sexual, deficiência e origem geográfica, entre outros fatores. Para essas crianças, a falta de representação adequada na literatura infantil pode ter um impacto significativo em sua identidade, autoestima e senso de pertencimento . Além disso, a ausência de histórias que abordam suas experiências e desafios específicos pode dificultar a compreensão e a empatia por parte de outras crianças (DO NASCIMENTO, 2009).
Nesse contexto, é essencial explorar a importância da literatura infantil inclusiva e representativa, que seja específica para crianças marginalizadas. Ao fornecer narrativas que refletem suas realidades, com personagens diversos e situações contextualmente relevantes, a literatura infantil pode desempenhar um papel fundamental na promoção da equidade, na celebração da diversidade e na construção de pontes entre diferentes grupos sociais .
Uma pesquisa recente têm destacado a necessidade de uma abordagem mais abrangente na literatura infantil, que vai além dos estereótipos e preconceitos arraigados Gultekin e May (2020) revelou que crianças que tiveram acesso a livros, com personagens marginalizados, desenvolveram maior consciência social, habilidades de empatia e demonstraram maior resiliência emocional. Essas descobertas indicam que a literatura infantil pode desempenhar um papel significativo na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo analisar a importância da literatura infantil para crianças marginalizadas[footnoteRef:2], explorando de quais formas as narrativas inclusivas podem contribuir para o fortalecimento da identidade, o desenvolvimento da empatia e a promoção de uma sociedade mais igualitária. Por meio de uma revisão crítica da literatura existente, e da análise de estudos de caso relevantes, buscou-se fornecer uma visão abrangente das mensagens e dos benefícios da literatura infantil dirigida às crianças marginalizadas. [2: É importante ressaltar que o termo "marginal" utilizado neste contexto não tem a intenção de ser pejorativo ou ofensivo. Pelo contrário, ele é adotado por algumas pessoas e grupos como uma forma de auto afirmação de identidade. Nesse sentido, o uso do termo "marginal" visa ressignificar a conotação negativa muitas vezes associada a ele, buscando reivindicar espaços e reconhecimento para aqueles que se encontram à margem das estruturas sociais e enfrentam desigualdades e opressões.] 
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Definindo Literatura Infantil
O renomado psicanalista e estudioso da literatura infantil Bruno Bettelheim (2010) em seu livro “The uses of enchantment: The meaning and importance of fairy tales.”, oferece uma perspectiva sobre a importância da literatura infantil no desenvolvimento emocional e psicológico das crianças. Para Bettelheim, a literatura infantil desempenha um papel fundamental ao fornecer às crianças um meio de expressar e compreender suas emoções mais profundas. (BETTELHEIM, 2010)
Segundo Bettelheim, os contos de fadas e outras narrativas presentes na literatura infantil oferecem um espaço simbólico onde as crianças podem explorar e confrontar seus medos, desejos e angústias. Essas histórias frequentemente apresentam personagens que enfrentam desafios e adversidades, permitindo que as crianças se identifiquem com esses protagonistas e projetam suas próprias experiências e emoções na história. (BETTELHEIM, 2010)
Por meio dessas histórias, as crianças podem aprender lições valiosas sobre a vida, como a importância da coragem, da perseverança e da superação de obstáculos. Bettelheim acreditava que os contos de fadas eram particularmente poderosos por apresentarem situações extremas e simbólicas, o que permitia às crianças lidar com suas emoções e desenvolver recursos internos para enfrentar os desafios da vida real. (BETTELHEIM, 2010)
Além disso, Bettelheim via a literatura infantil como uma forma de comunicação entre gerações, permitindo que os conhecimentos e valores transmitidos ao longo do tempo fossem compartilhados com as crianças. Através das histórias, as crianças podem se conectar com suas raízes culturais e compreender as experiências e sabedoria dos que vieram antes delas. (BETTELHEIM, 2010)
Maria Nikolajeva (2015), teórica da literatura infantil, oferece uma visão profunda sobre o papel da literatura infantil na formação da identidade das crianças em seu livro “Children's literature comes of age: toward a new aesthetic.”. Segundo Nikolajeva, a literatura infantil desempenha um papel fundamental no processo de construção da identidade das crianças, permitindo que elas explorem e compreendam não apenas a si mesmas, mas também o mundo ao seu redor. (NIKOLAJEVA, 2015)
Para Nikolajeva, a literatura infantil oferece às crianças a oportunidade de vivenciar diferentes perspectivas e realidades por meio das histórias e dos personagens presentes nos livros. Ao se identificarem com personagens de diferentes origens culturais, sociais e emocionais, as crianças podem refletir sobre suas próprias experiências, questionar sua identidade e desenvolver uma maior compreensão de si mesmas e dos outros. (NIKOLAJEVA, 2015)
Além disso, Nikolajeva ressalta que a literatura infantil permite que as crianças explorem questões e temas universais, como amor, amizade, justiça e moralidade. Por meio das histórias, as crianças são desafiadas a refletir sobre essas questões e a desenvolver seu próprio senso de valores e ética. A literatura infantil proporciona um ambiente seguro para que as crianças experimentem diferentes perspectivas e tomem decisões morais, contribuindo para o desenvolvimento de um pensamento crítico e ético. (NIKOLAJEVA, 2015)
Ao enfatizar o poder da literatura infantil como uma forma de conhecimento emocional, Nikolajeva destaca a importância de as crianças se engajarem com histórias que despertem suas emoções, estimulem sua imaginação e as incentivem a refletir sobre si mesmas e o mundo ao seu redor. (NIKOLAJEVA, 2015)
Regina Zilberman(2003), renomada teórica brasileira da literatura infantil, traz uma abordagem ampla e contextualizada da literatura voltada para crianças. Para Zilberman, a literatura infantil é uma forma de arte que transcende o entretenimento e a educação, sendo uma expressão cultural significativa. Ela destaca a importância de considerar a literatura infantil em seu contexto histórico, social e cultural, reconhecendo que ela reflete as ideologias e os valores de uma determinada época. (ZILBERMAN, 2015)
Zilberman enfatiza que a literatura infantil desempenha um papel essencial na formação do imaginárioe da sensibilidade das crianças, proporcionando a elas um espaço para a imaginação, a fantasia e a reflexão. Ela defende que os livros infantis devem estimular a curiosidade, a criatividade e a capacidade crítica das crianças, além de oferecer uma experiência estética enriquecedora. (ZILBERMAN, 2015)
Além disso, Zilberman ressalta a importância da diversidade e da representatividade na literatura infantil. Ela enfatiza a necessidade de oferecer às crianças uma gama variada de histórias, personagens e contextos, que reflitam a pluralidade de experiências e identidades presentes em nossa sociedade. Para Zilberman, a literatura infantil tem o potencial de promover a inclusão, a valorização da diferença e o respeito às diversas formas de ser e estar no mundo. (ZILBERMAN, 2015)
Existem outras infindáveis definições de outros teóricos sobre o tema, é impossível chegar em um conceito fechado. Como diz a renomada crítica literária brasileira Marisa Lajolo, em seu célebre ensaio “ O que é Literatura?” Publicado em 1995, definir com exatidão algo tão multifacetado como a Literatura é muito complexo e quase impossível:
[...] impossível ter uma definição precisa de literatura devido à sua natureza subjetiva e multifacetada. A literatura abrange uma ampla gama de formas de expressão escrita, incluindo poesia, prosa, ficção, não ficção, teatro, ensaios, entre outros. Além disso, a literatura pode ser influenciada por fatores culturais, históricos, sociais e políticos, o que contribui para sua diversidade e complexidade.(LAJOLO, 1995)
Mas, neste trabalho, a visão de Nikolajeva(2015) é a mais adequada, por argumentar que a literatura infantil tem um papel na formação da identidade, no fortalecimento dela. E é nesse sentido que é importante que crianças em situações marginalizadas se vejam representadas nas histórias, que elas possam ter o sentimento de pertencimento e identificação com o que é trabalhado.
2.2 Os marginalizados na literatura
Enquanto existir nas leis e nos costumes uma organização social que cria infernos artificiais no seio da civilização, juntando ao destino, divino por natureza, um fatalismo que provém dos homens; enquanto não forem resolvidos os três problemas fundamentais a degradação do homem pela pobreza, o aviltamento da mulher pela fome, a atrofia da criança pelas trevas; enquanto, em certas classes, continuar a asfixia social ou, por outras palavras e sob um ponto de vista mais claro, enquanto houver no mundo ignorância e miséria, não serão de todo inúteis os livros desta natureza (HUGO, 1862)
As palavras iniciais do francês Victor Hugo para dar início seu magistral romance de 1862, Os​ Miseráveis (no original Les​ Misérables​), continua a nos orientar quando se trata de escrever sobre literatura de representação marginal e por que esse escritos são importantes. Por que além de representação, fortalecimento de identidades, esses livros também são denúncias a nossa sociedade desigual, avisos constantes ao público que essas pessoas existem. Neste tópico falaremos um pouco sobre a história dos personagens marginalizados na Literatura e na Literatura Infantil.
A literatura pré-século 19, em grande parte, não costumava retratar as classes marginais de forma significativa. A produção literária da época frequentemente focalizava temas relacionados à aristocracia, nobreza e aos estratos sociais mais privilegiados. Essa abordagem refletia as estruturas sociais e as expectativas culturais predominantes da época, em que a representação das classes marginalizadas não era considerada relevante ou apropriada para a literatura. (CARPEAUX, 2008)
No entanto, no século 19, uma mudança significativa ocorreu com o advento do movimento literário conhecido como Realismo. O Realismo, que ganhou destaque especialmente na segunda metade do século, trouxe uma nova perspectiva à literatura ao buscar retratar a realidade social de forma mais crua e verossímil. Dentro dessa abordagem, as classes marginalizadas começaram a ser representadas de maneira mais proeminente. (CARPEAUX, 2008)
Um exemplo notável é o romance "Oliver Twist" (1838), escrito por Charles Dickens. A obra descreve a vida de Oliver, um órfão que enfrenta inúmeras dificuldades e vive nas camadas mais baixas da sociedade inglesa da época. Dickens, por meio de sua narrativa realista, revelou as condições sociais precárias e os desafios enfrentados por indivíduos marginalizados, lançando luz sobre questões de pobreza, desigualdade e exploração. (CARPEAUX, 2008)
Victor Hugo, um dos proeminentes escritores do século 19, contribuiu para a representação das classes marginais em sua obra magistral, "Os Miseráveis" (1862). Nessa obra épica, Hugo mergulha nas vidas de personagens como Jean Valjean, Fantine e Cosette, retratando a pobreza, a injustiça social e os desafios enfrentados pelas classes menos favorecidas na França do século 19. "Os Miseráveis" se tornou um ícone da literatura e uma crítica poderosa às desigualdades sociais da época. (CARPEAUX, 2008)
A tendência de retratar as classes marginais na literatura continuou a se desenvolver ao longo dos séculos 19 e 20. Autores como Émile Zola, com sua série de romances "Les Rougon-Macquart" (1871-1893), abordaram a vida da classe trabalhadora e revelaram as dificuldades e a opressão que enfrentavam. (CARPEAUX, 2008)
No entanto, é importante ressaltar que essas representações nem sempre eram precisas ou livres de estereótipos. Muitas vezes, os autores traziam suas próprias perspectivas e preconceitos para as obras, o que pode ter influenciado a forma como as classes marginais eram retratadas. Além disso, a literatura desse período ainda era predominantemente escrita por autores pertencentes às classes privilegiadas, o que limitava o acesso direto à experiência e à vivência das classes marginalizadas. (CARPEAUX, 2008)
A partir do século 20, movimentos literários como o Modernismo e o Pós-Modernismo trouxeram novas abordagens e perspectivas à representação das classes marginais. Autores como James Joyce, Virginia Woolf e Franz Kafka exploraram a alienação, a marginalização e as questões de identidade em suas obras, muitas vezes abordando personagens e contextos sociais considerados marginais. (CARPEAUX, 2008)
Nos tempos contemporâneos, a literatura continua a abordar as classes marginais de maneiras diversas e complexas. Autores contemporâneos, como Chimamanda Ngozi Adichie, Arundhati Roy e Junot Díaz, trazem narrativas que exploram as experiências das classes marginalizadas em diferentes partes do mundo, desafiando estereótipos e ampliando a representação diversa na literatura. Cada vez mais autores que vieram de situação marginalizadas, falam sobre suas próprias vivências, literatura com temática marginal feita por autores que estão em contexto marginal.
No contexto brasileiro, também surgiram obras literárias importantes que abordaram as classes marginais e as realidades sociais do país. Dois autores notáveis que contribuíram significativamente para essa representação são Jorge Amado e Graciliano Ramos. (BOSI, 1994)
Jorge Amado, um dos escritores mais influentes da literatura brasileira, apresentou em sua obra "Capitães de Areia" (1937) uma visão crítica da vida dos meninos de rua em Salvador, Bahia. O romance retrata a jornada dos "Capitães de Areia", um grupo de jovens marginalizados que vivem à margem da sociedade e enfrentam diversos desafios, como pobreza, violência e abandono. Amado denuncia as condições precárias em que essas crianças vivem e oferece uma reflexão sobre a necessidade de transformação social. (BOSI, 1994)
Graciliano Ramos, por sua vez, escreveu "Vidas Secas" (1938), uma das obras mais aclamadas da literatura brasileira. O livro retrata a dura vida de uma família de retirantes nordestinos, lutando pela sobrevivência em meio à seca implacável. Ramos expõe a pobreza extrema, a fome e as condições adversas enfrentadas pelos personagens, oferecendo uma visão realista e contundente das dificuldades enfrentadas pelas classes marginalizadas no Brasil. (BOSI, 1994)
A literatura brasileiracontemporânea também continua a explorar as classes marginais e as realidades sociais do país. Autores como Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e Ferréz trazem narrativas que revelam as experiências das populações marginalizadas, dando voz aos excluídos e desafiando estereótipos sociais.
2.3 As representações marginais na literatura infantil
A representação dos marginalizados na literatura infantil é um tema que tem evoluído nas últimas décadas, embora ainda ocorra de forma limitada se comparada a outros gêneros literários. Ao longo da história, a literatura infantil geralmente se concentrou em narrativas mais simplificadas e idealizadas, buscando oferecer histórias e personagens que fossem facilmente compreendidos e que transmitissem valores positivos às crianças. Havia pouca ou nenhuma preocupação com representação e identificação, já que literatura infantil por muitos era visto como um “subproduto literário” com mais valor pedagógico do que literário. (BISHOP, 1990)
A representação dos marginalizados na literatura infantil começou a ganhar mais visibilidade a partir do final do século XX e início do século XXI. Autores como Jacqueline Woodson, Kwame Alexander, Malorie Blackman e Jason Reynolds têm se destacado ao abordar questões de raça, etnia, gênero, deficiência e outros aspectos da diversidade humana em suas obras para crianças. 
Essas obras têm o objetivo de proporcionar às crianças a oportunidade de se identificar com personagens marginalizados, de modo a promover uma compreensão mais ampla do mundo, a valorização da diversidade e a luta contra estereótipos prejudiciais desde cedo. (DEVI, SMITH, WEAVER, 20223)
Um teórico que aborda a representação dos marginalizados na literatura infantil é Rudine Sims Bishop. Ela é conhecida pelo seu ensaio seminal "Espelhos, Janelas e Cortinas: Conceitos de Literatura Infantil Multicultural" ("Mirrors, Windows, and Sliding Glass Doors: Perspectives on Multicultural Children's Literature"), publicado em 1990.
No ensaio, Bishop apresenta a ideia de que a literatura infantil pode ser vista como uma forma de espelho, janela e cortina. O espelho reflete a própria experiência da criança, permitindo que ela se veja representada nas histórias. A janela oferece uma visão para outras realidades e culturas, expandindo o conhecimento e a compreensão do mundo. E a cortina, por sua vez, pode ocultar ou distorcer determinadas perspectivas e vozes. (BISHOP, 1990)
Bishop argumenta que é essencial oferecer às crianças uma variedade de histórias que funcionem como espelhos e janelas, permitindo que elas se reconheçam em personagens e culturas diferentes, ao mesmo tempo em que desenvolvem empatia e conhecimento sobre o mundo. Ela ressalta a importância de proporcionar às crianças acesso a narrativas que representem de forma autêntica a diversidade de experiências e identidades presentes na sociedade. (BISHOP, 1990)
Uma das escritoras contemporâneas que se ocupa em escrever histórias infantis com esse cunho de representação dos oprimidos é Maria José Ferrada é uma escritora chilena, que produziu obras como "Kramp" (2013) e "O Livro do Lugar" (2015), Ferrada busca oferecer narrativas que dialogam com as vivências das crianças e que estimulam a reflexão sobre questões sociais relevantes, como a marginalização, a desigualdade e a inclusão.
Em conclusão, ao longo dos anos, a representação dos marginalizados na literatura infantil passou por transformações significativas. A literatura infantil, que anteriormente se concentrava em narrativas simplificadas e idealizadas, tem se esforçado para oferecer histórias mais diversificadas e inclusivas. Muitos autores têm desafiado estereótipos e abordado questões de raça, etnia, gênero e deficiência em suas obras para crianças. Essas narrativas proporcionam às crianças a oportunidade de se identificar com personagens marginalizados, promovendo uma compreensão ampliada do mundo, valorização da diversidade e desconstrução de estereótipos prejudiciais desde cedo. A teórica Rudine Sims Bishop contribuiu para esse avanço, defendendo a importância de oferecer à criança espelhos e janelas na literatura infantil, para que elas possam se reconhecer e explorar outras realidades. Embora haja progresso, é essencial continuar a ampliar e aprofundar a representação dos marginalizados na literatura infantil, garantindo que todas as crianças se sintam valorizadas e representadas em suas histórias, construindo um mundo mais inclusivo e empático desde a infância
3. MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado como uma revisão crítica da literatura, abrangendo estudos teóricos e empíricos sobre o tema da importância da literatura infantil para crianças marginalizadas. A intenção foi refletir sobre como a literatura infantil pode ser emancipadora para a criança (aqui em recorte as crianças na fase escolar do Fundamental 1) , em particular a criança marginalizada. Desse modo, procurou-se responder às seguintes perguntas: “qual é a importância da literatura infantil na formação da criança em situação marginal?" e “os benefícios da representação marginal na literatura infantil?”.
Tomando como referência base o que é fundamentado por “pesquisa bibliográfica" por Lakatos e Marconi (2003) em seu livro Fundamentos de metodologia científica. A pesquisa foi conduzida com base em fontes de dados secundários, compreendendo artigos acadêmicos, livros, estudos de caso, relatórios governamentais, materiais educacionais e outras publicações relevantes relacionadas ao tema. Para a seleção dessas fontes, foi realizada uma busca sistemática em bases de dados acadêmicas, bibliotecas digitais e catálogos de instituições de pesquisa (SciElo, BDTD e Google Acadêmico), utilizando palavras-chave como "literatura infantil inclusiva", "crianças marginalizadas" e "representação na literatura infantil".
A partir da síntese dos resultados, foi conduzida uma discussão que relaciona os achados da revisão da literatura com os objetivos da pesquisa. Foram apresentadas conclusões sobre a importância da literatura infantil inclusiva para crianças marginalizadas, destacando suas implicações no fortalecimento da identidade, desenvolvimento da empatia e promoção de uma sociedade mais igualitária.
Através da condução de uma revisão crítica da literatura, este estudo tem como objetivo examinar a importância da literatura infantil para crianças marginalizadas, explorando como narrativas inclusivas podem fortalecer a identidade, desenvolver a empatia e promover uma sociedade mais igualitária
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A representação marginal na literatura infantil desempenha um papel crucial na construção de identidades e no fortalecimento de crianças em situações de marginalização. Quando crianças em circunstâncias marginalizadas se veem representadas nas histórias, elas têm a oportunidade de se identificar com personagens que enfrentam desafios semelhantes aos seus e desenvolvem um senso de pertencimento e empoderamento. Além disso, a literatura infantil que aborda temas de marginalização pode servir como um meio de conscientização e educação, permitindo que crianças de todas as origens compreendam melhor as realidades enfrentadas por seus colegas marginalizados.
A representação marginal na literatura infantil tem evoluído ao longo do tempo para incluir histórias que abordam uma ampla gama de experiências e identidades marginalizadas. Essas histórias podem explorar questões como pobreza, discriminação racial, deficiência, imigração, gênero e orientação sexual, entre outros temas relevantes. Ao apresentar personagens marginalizados de forma autêntica e respeitosa, a literatura infantil oferece às crianças a oportunidade de desenvolver empatia, compreensão e respeito pelas diferenças.
No entanto, é importante ressaltar que a representação marginal na literatura infantil ainda enfrenta desafios significativos. A falta de diversidade e representatividade é um problema persistente em muitos livros infantis, o que pode levar a crianças marginalizadas a se sentirem invisíveis e excluídas. Éessencial que os autores, editores e outros profissionais do ramo editorial se comprometam a ampliar a diversidade nas histórias infantis, garantindo que crianças de todas as origens encontrem personagens com os quais possam se identificar.
Além disso, a representação marginal na literatura infantil deve ser sensível, precisa e livre de estereótipos prejudiciais. É fundamental que os autores pesquisem e compreendam as experiências das comunidades marginalizadas que estão retratando, evitando generalizações simplistas ou caricaturas. A colaboração com especialistas, membros das comunidades representadas e organizações comprometidas com a diversidade pode contribuir para garantir uma representação autêntica e significativa.
Em suma, a representação marginal na literatura infantil é um aspecto crucial para promover a inclusão, o fortalecimento da identidade e o desenvolvimento de empatia nas crianças. Ao oferecer histórias que refletem a diversidade e abordam as realidades das crianças marginalizadas, a literatura infantil desempenha um papel fundamental na criação de um mundo mais inclusivo, onde todas as crianças se sintam valorizadas e representadas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste estudo, examinamos a relevância da representação marginal na literatura infantil. Através da análise crítica da literatura existente, ficou evidente que a inclusão de personagens marginalizados contribui para uma experiência de leitura mais enriquecedora e significativa para as crianças. Além disso, essa representação diversa desempenha um papel crucial na promoção da empatia, da valorização da diversidade e da construção de identidades saudáveis.
Considerando os benefícios associados à representação marginal, como a construção da autoestima e da autoimagem positiva, bem como a promoção da aceitação e da inclusão, torna-se evidente que a literatura infantil deve abraçar a diversidade e ampliar a variedade de personagens representados. Através da inclusão de personagens marginalizados, as crianças terão a oportunidade de se identificar com personagens que se parecem com elas, enquanto também são expostas a diferentes perspectivas e realidades.
Com base em nossas descobertas, recomendamos que escritores e editores assumam a responsabilidade de garantir uma representação mais diversa na literatura infantil. Isso implica na criação de personagens que reflitam a riqueza da sociedade atual, abrangendo uma ampla gama de etnias, gêneros, orientações sexuais, deficiências e outras características que historicamente foram negligenciadas ou sub-representadas. Ao fazer isso, esses profissionais podem desempenhar um papel essencial na educação das crianças sobre a importância da igualdade, respeito e inclusão.
Por fim, incentivamos pais, educadores, bibliotecários e demais envolvidos na escolha de livros infantis a priorizarem aqueles que promovem a representação marginal. Ao fornecer acesso a uma variedade de histórias e personagens diversos, podemos ampliar os horizontes das crianças, permitindo-lhes desenvolver uma consciência crítica e uma mentalidade aberta em relação às diferenças.
Em suma, a representação marginal na literatura infantil desempenha um papel fundamental na promoção da diversidade, inclusão e valorização da pluralidade de experiências. Através de uma maior conscientização e ação por parte dos escritores, editores e responsáveis pela seleção de livros, podemos criar um ambiente literário mais rico e representativo, que contribua para o crescimento e o desenvolvimento positivo das crianças.
REFERÊNCIAS
BETTELHEIM, Bruno. The uses of enchantment: The meaning and importance of fairy tales. Vintage, 2010.
BISHOP, R. S. Mirrors, Windows, and Sliding Glass Doors. Perspectives: Choosing and Using Books for the Classroom, 1990
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 38. ed. São Paulo: Cultrix, 1994.
CARPEAUX, Otto Maria. História da literatura ocidental. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 2008.
DEVI, Gayatri; SMITH, Philip; WEAVER, Stephanie J. O Ensino da Equidade por meio da Literatura Infantil. Taylor & Francis, 2023. 
DO NASCIMENTO, Érica Peçanha. Vozes marginais na literatura. Aeroplano, 2009.
HUGO, Victor. Os Miseráveis(1862). São Paulo: Martin Claret, 2018. Edição especial: Texto Integral. 
FILHO, José Martins. A criança Terceirizada: Os descaminhos das relações familiares no mundo contemporâneo. Campinas: Papirus, 2007.
LAJOLO, Marisa. O que é Literatura? São Paulo, Ed. Brasiliense, 17ª ed. 1995.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
GULTEKIN, Mehmet; MAY, Laura. Children's literature as fun‐house mirrors, blind spots, and curtains. The Reading Teacher, v. 73, n. 5, p. 627-635, 2020
NIKOLAJEVA, Maria. Children's literature comes of age: toward a new aesthetic. Routledge, 2015.
NODELMAN, P., REIMER, M. The pleasures of children’s literature (3rd ed.). Allyn & Bacon, New York, 2013
PERROT, Michelle. História da Vida Privada, volume 4: Da revolução Francesa à Primeira Guerra – São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
PIAGET, J.; INHELDER, B. The psychology of the child Basic Books. Inc New York, 1969.
ROSENBLATT, Louise M. The reader, the text, the poem: The transactional theory of the literary work. SIU Press, 1994.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. A produção da literatura na escola:Pesquisas x propostas. São Paulo: Ática, 1995
YUNES, Eliana; PONDÉ, Glória. Leitura e leituras da literatura infantil. São Paulo: FDD, 1988
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo:Global, 2015[footnoteRef:3] [3: ]

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