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DESCRIÇÃO Conhecimento da Organização do controle Motor, identificação das fases do desenvolvimento motor, compreensão da estrutura de controle neural do movimento e apresentação das habilidades motoras fundamentais. PROPÓSITO Compreender a organização do controle do movimento baseado nas estruturas neurais envolvidas no desenvolvimento motor e na aquisição das habilidades motoras, a fim de permitir ao uma adequada percepção de suas alterações ao profissional de saúde para sua prática terapêutica. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever os conceitos referentes à organização neural segundo as três unidades funcionais de Luria MÓDULO 2 Identificar a sistematização das fases do movimento segundo o desenvolvimento humano MÓDULO 3 Relacionar as habilidades motoras de acordo com seus estágios de desenvolvimento INTRODUÇÃO O comportamento motor absorve conhecimento de diversas áreas de estudo, dentre elas: Fisiologia, Biomecânica, Psicologia, Cinesiologia e Neurociência. Essa última promove sua contribuição por meio de estudos sobre as estruturas e o funcionamento da organização neural das funções mentais e orgânicas. Neste conteúdo, o foco será a compreensão do desenvolvimento motor e suas fases por meio de um embasamento teórico sobre os princípios que norteiam a relação entre as habilidades cognitivas e motoras, a partir de uma abordagem interdisciplinar do estudo do comportamento motor. Uma abordagem sobre o conhecimento a respeito do movimento humano depende de um olhar de especificidade em relação aos elementos que compõem esse conjunto de conceitos. Essa medida promove uma compreensão mais segura a respeito do movimento e de como o seu desenvolvimento acontece. A sequência dos conteúdos aqui apresentados será distribuída em alguns aspectos, como: conhecimento sobre as fases do desenvolvimento motor; controle neural que organiza e possibilita a realização motora e suas fases de evolução; e classificação das habilidades motoras, sobretudo com intuito de reconhecer a evolução dos elementos que compõem o desenvolvimento motor, o qual se dá a partir de um mecanismo mais simples até atingir uma organização mais complexa. MÓDULO 1 Descrever os conceitos referentes à organização neural segundo as três unidades funcionais de Luria ORGANIZAÇÃO CENTRAL DO CONTROLE NEURAL Tratar das fases do desenvolvimento motor nos remete, primeiramente, a entender o que é o desenvolvimento motor pela sua definição e abrangência. O que é preciso saber sobre o desenvolvimento motor? Qual a função do conhecimento sobre o desenvolvimento motor para a prática educativa? O desenvolvimento motor é um conhecimento muito abrangente que atende a uma esfera ampla de tópicos relacionados à estrutura física e à capacidade do movimento humano. Diz respeito aos indivíduos nas suas interações com o ambiente, com os objetos e com os outros no seu dia a dia, em atividades específicas relacionadas ao seu mundo profissional e particular. Outro aspecto interessante do desenvolvimento motor é que se trata de um fenômeno que se estende desde a concepção até o final da vida. Ainda inseridos no universo de estudo a respeito do movimento humano, existem variáveis ao estado de saúde relacionados às dificuldades e/ou alterações do desenvolvimento típico, como no caso das pessoas com deficiência. Imagem: Shutterstock.com A organização motora tem o seu controle funcional sediado no sistema nervoso sob a coordenação de estruturas centrais e periféricas que funcionam de forma integrada e harmônica, criando um perfeito sistema de realização motora. A motricidade humana passou por um processo de evolução em comparação aos demais seres vivos, sendo organizada a partir de uma postura bípede. Essa posição proporcionou ao ser humano a organização de uma motricidade fina que o permite não apenas a realização de tarefas em resposta a estímulos em relação ao ambiente, mas também a transformação desse ambiente a partir da associação dessa capacidade motora fina à sua capacidade cognitiva. Dessa forma, libertando os membros superiores para expressar sua emoção, estabelecer relações e transformar sua realidade. O controle neural da motricidade humana envolve estruturas específicas e uma organização de extrema complexidade, controlada e efetivada por estruturas do Sistema Nervoso Central e Periférico. O controle do movimento envolve também a compreensão na interrelação entre a realização motora propriamente dita e os componentes cognitivos, como as funções executivas, cognição, memória, percepção e atenção. Autores de fundamental importância se dedicaram ao desenvolvimento do conhecimento específico a respeito da organização neural do movimento, como Alexander Luria, que se dedicou à compreensão do controle motor a partir da organização cerebral sistematizada em unidades funcionais denominadas “Unidades Funcionais de Luria”. Alexander Luria teve reconhecimento mundial e criou um modelo de funcionamento da cognição e da motricidade humana, baseando suas pesquisas na observação dos soldados que apresentavam lesões no cérebro no período pós-guerra. Imagem: Wikimedia Commons/CC-PD-Mark ALEXANDER LURIA Alexander Luria (1902 – 1977) foi um grande neuropsicólogo russo que trabalhou com Lev Vygotsky, sendo um dos pioneiros da ciência do sistema nervoso. A partir de 2008, o autor Vitor da Fonseca relacionou as unidades funcionais de Luria com os conhecimentos da Psicomotricidade, promovendo uma associação entre cognição, pensamento, funções cognitivas e funções javascript:void(0) javascript:void(0) motoras. Segundo o modelo de Alexander Luria e as especificações criadas por Vitor da Fonseca, é possível entender a motricidade humana a partir do estudo do cérebro em sua organização estrutural e funcional. VITOR DA FONSECA Professor catedrático agregado da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. Especializado em Intervenção Cognitiva, Dificuldades de Aprendizagem e Psicomotricidade. O estudo do comportamento das funções cognitivas, receptivas, integrativas intrínsecas à motricidade humana e, consequentemente, ao estudo da motricidade nas funções cognitivas e executivas de planificação, controle, organização funcional, monitoração e verificação da motricidade humana demonstra a operação de uma forma específica. Seu funcionamento básico pode ser representado pela recepção sensorial, pela integração (constituída pelo processamento, armazenamento, conhecimento, aprendizagem e emoções adquiridas) e pela expressão propriamente dita, que é a realização motora. Os estímulos captados pelo organismo humano são oriundos dos ambientes externo e interno. Essas informações são enviadas ao cérebro pelas vias aferentes e captadas pelos canais sensoriais em uma etapa denominada processamento central. As etapas seguintes podem ser identificadas como um planejamento da resposta e o envio dessa resposta pelo cérebro para o corpo por meio das vias eferentes. Assim, é dada a produção da ação, do gesto ou da motricidade enquanto resposta adaptativa ao comportamento humano. Desse modo, colocando em funcionamento as funções cognitivas e executivas de planificação, monitoração, priorização, decisão, verificação dos resultados e consequências. VIAS AFERENTES Vias que organizam a condução dos estímulos da periferia para as regiões centrais do sistema nervoso, passando por estruturas subcorticais, chegando ao córtex cerebral, onde ocorre a identificação, a decodificação e o processamento desses estímulos. VIAS EFERENTES javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Vias que levam a informação dos centros corticais superiores à periferia. Imagem: shutterstock.com Localização das unidades funcionais de Luria. Como dito, a motricidade humana é organizada a partir de uma sequência evolutiva na aquisição dos movimentos, desde reflexos e instintos, como as expressões mais básicas de sobrevivência, até as organizações motoras chamadas praxias, como expressões superiores de capacidadecriativa máxima e relação com o ambiente cultural. Qualquer uma dessas respostas é responsável pela reação adaptativa e evoluída da espécie e, segundo Luria, pelo funcionamento sistêmico integrado do cérebro com base na integração de três unidades ou sistemas neurofuncionais. A primeira unidade indicada por Luria está relacionada ao processo de atenção. A segunda unidade está relacionada à capacidade de processamento. A terceira está relacionada à função de planificação e execução. ATENÇÃO Cada uma dessas unidades está envolvida em todos os tipos de motricidade, entretanto a contribuição relativa de cada uma delas varia conforme o comportamento em questão, ou seja, de acordo com uma motricidade mais ampla, ou de acordo com uma motricidade mais específica. As unidades funcionais de Luria serão detalhadas a seguir. UNIDADES FUNCIONAIS DE LURIA A primeira unidade de Luria está situada no plano inferior do cérebro e está relacionada com o processo de ativação, fornecendo ao cérebro o nível adequado e seletivo de alerta para atenção, controle da tonicidade corporal e da tonicidade cortical. A segunda unidade está situada no plano posterior do córtex cerebral, sendo responsável pelo processo de integração, codificação e processamento dos estímulos sensoriais. A terceira unidade está situada no plano anterior do córtex cerebral e se responsabiliza pela elaboração, planificação e produção do movimento. As três unidades obedecem a uma organização funcional hierárquica de baixo para cima, de trás para frente e da direita para a esquerda. PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL A primeira unidade relaciona-se fundamentalmente com a função de atenção e é composta pelas estruturas do tronco cerebral e as estruturas subcorticais e axiais do cérebro, as quais suportam os dois hemisférios, e integram o sistema de ativação reticular ascendente e descendente. É responsável pela moderação do alerta corporal e cortical, bem como pelas funções de sobrevivência, de vigilância tônico-postural, de filtragem, focagem e integração dos impulsos sensoriais. Em síntese, compreendem a atenção uniforme do pronto para a ação, ou a postura do organismo para agir e responder adequadamente às influências do meio externo ou do ambiente. Imagem: shutterstock.com Primeira unidade funcional – Atenção e vigília. Essa unidade compreende o tronco cerebral, o cerebelo, o diencéfalo, o sistema límbico, o hipotálamo e o tálamo. Sem a ação dessa unidade, o cérebro seria incapaz de organizar respostas eficazes aos estímulos advindos do mundo e seria ineficiente a manutenção de um nível ótimo do metabolismo fisiológico. Isso colocaria em risco não só a interação entre o corpo e o cérebro, mas também a interação entre a sensorialidade e a motricidade subjetiva e conotativa do organismo total do indivíduo com seus ecossistemas. Mais especificamente, essa unidade funcional se responsabiliza pelas funções mentais, atencionais e motoras, unindo a percepção e a ação. A motricidade humana é carregada da função da intencionalidade. Isso é decorrente de uma característica específica da espécie humana: a capacidade de consciência, ou seja, existe efetivamente uma cognição e um pensamento que se responsabiliza por organizar intencionalmente as ações através de uma planificação. Portanto, pode-se dizer que os humanos são possuidores de uma inteligência cinestésica e que os indivíduos não são apenas reprodutores de movimentos, e sim perceptores, conhecedores e controladores do meio em que vivem. Os seres humanos são capazes de regular a atenção, a tonicidade envolvendo uma capacidade de garantir o seu bem-estar, a orientação, a motivação e a seletividade. A sustentação modulada e harmonizada em relação às duas outras unidades funcionais permite acesso às funções psíquicas superiores de processamento, armazenamento, recuperação para planificação e execução intencional e adaptativa ao meio ambiente. Essa unidade funcional está implicada na filtragem, seleção, integração sensorial tônica e tônico-motora dos estímulos e das respostas. SAIBA MAIS Também possui a propriedade de impedir que o cérebro seja inundado desnecessariamente com informações sensoriais sem importância, as quais possam causar interferência negativa no processamento cognitivo mais elaborado, fazendo com que, de fato, seja cumprido o papel fundamental de concentração e foco na direcionalização e na fixação da atenção. Sem essa função, não é possível atingir patamares de reconhecimento de complexidade e organização seletiva com as outras unidades funcionais envolvidas em comportamentos e aprendizagens mais complexas. SEGUNDA UNIDADE FUNCIONAL A segunda unidade está localizada na zona posterior do cérebro e é composta pelo córtex occipital, responsável pela visão; pelo córtex temporal, responsável pela audição; e o córtex parietal, responsável pela discriminação tátil e pela motricidade, movimento ou cinestesia. Essa unidade opera segundo uma hierarquia de ações específicas desde as áreas primárias de funções específicas até as áreas secundárias e terciárias de funções inespecíficas de associação e sobreposição. Mais especificamente, as áreas primárias são áreas de captação e recepção das informações sensoriais e estão em conexão com a região periférica corporal, ou seja, com os órgãos sensoriais – estruturas que se responsabilizam pela captação das informações proprioceptivas, exteroceptivas e interoceptivas. Imagem: shutterstock.com Segunda unidade funcional – Processamento simultâneo e sucessivo. As áreas secundárias são de análise, síntese, retenção, integração da informação sensorial específica que foi recebida das áreas primárias. As áreas terciárias são áreas essencialmente localizadas na intercepção e sobreposição dos três lobos: parietal, occipital e temporal de ambos os hemisférios – áreas responsáveis pela integração sensorial. A segunda unidade está relacionada com a função primordial do processamento das informações sensoriais. Compreende, portanto, a maioria das aprendizagens do indivíduo, sejam visuais, tônico-emocionais, auditivas, posturais ou motoras. TERCEIRA UNIDADE FUNCIONAL A terceira unidade, localizada na parte anterior do córtex, contém o lobo frontal, que é responsável pela cognição e motricidade. Ela opera no sentido contrário, pois vai das áreas terciárias para as áreas secundárias programadas e, finalmente, para as áreas primárias, onde é gerada e desencadeada a motricidade propriamente dita. Essa unidade funcional é responsável pelos processos de planificação e de execução da motricidade com as funções cognitivas superiores. A área frontal que corresponde a esta unidade representa o nível mais elaborado de desenvolvimento do cérebro humano, compreende a unidade neurofuncional de resposta, elaboração, autorregulação, monitoração, priorização e verificação das respostas motoras terminalmente controladas pela estrutura das funções executivas. Imagem: shutterstock.com Terceira unidade funcional – Planejamento. Essa região do cérebro é responsável pelo comando das vias motoras piramidais, eferentes e descendentes, as quais se dirigem aos grupamentos musculares mais específicos, passando pelos gânglios basais, de onde partem as vias extrapiramidais. Dirigem-se também ao cerebelo e à medula que concretizam, realizam e executam qualquer tipo de ação motora ou praxia, seja ela de organização motora ampla, ou organização motora fina, como o grafismo. É importante esclarecer que o termo planificação envolve necessariamente o desenvolvimento de um procedimento em sequências, entre espaço e tempo intencionais de ação, ou uma série de manobras e procedimentos para que seja possível o alcance de um determinado objetivo. A planificação organiza um sistema que inclui estratégias, programas de elaboração, regulação, priorização, execução, controle, monitorização e verificação de respostas motoras adaptativas, ou seja, resolução de problemas, soluções planificadas,organizadas, verificadas e adaptadas. Nesse sentido, a terceira unidade neurofuncional responsabiliza-se por cinco dimensões: 1ª Identificação da ação desejada. 2ª Organização dos procedimentos em sequência. 3ª Recuperação dos dados relevantes de informações externas e internas. 4ª Alocação de recursos produtivos. 5ª Decisão e execução da ação. A terceira unidade funcional possui uma especificidade em relação à atenção voluntária, sendo importante dizer que, com a presença dessa unidade funcional, é possível a tomada de consciência, o que denominamos de motricidade voluntária ou motricidade consciente. Essa unidade funcional também está organizada em áreas primárias, secundárias e terciárias: A área primária responsabiliza-se pela execução motora, desencadeada a partir do homúnculo corporal representado no córtex motor (córtex frontal). As áreas secundárias possuem centros de organização sequencial, portanto, espacial e temporal de motricidade. São dependentes da monitoração e informações cinéticas e proprioceptivas, de onde surgem os centros de planejamento das áreas motoras suplementares. Finalmente, as áreas terciárias, também localizadas em áreas pré-frontais, como: centros de antecipação, autorregulação, autocontrole, desprogramação e reprogramação, referência do controle emocional de super focagem da atenção, flexibilidade e plasticidade que reflete a atividade cognitiva que antecede a produção de respostas adaptativas ou competências de aprendizagem. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Ações sincronizadas harmônicas e funcionais das três unidades funcionais de Luria são fundamentais para que a aprendizagem humana, ou qualquer outra função cognitiva ou motora, ocorra de forma adequada. As funções executivas são fundamentais para a organização eficaz da motricidade e da ação humana como um todo. Essas funções possuem o seu centro de controle localizado nas áreas pré-frontais. São funções relacionadas à planificação, à autorregulação, ao suporte à tomada de decisões, à avaliação de respostas, de continuidade temporal, controle emocional, controle inibitório, gratificação adiadas, atenção voluntária, criatividade, entre outros. São funções especificamente humanas e esses elementos se relacionam com a organização motora do sujeito, uma vez que esses elementos balizam as ações que se estruturam pela expressão corporal. A função de planificação antecipada da performance, ou seja, a práxis ou motricidade voluntária, é responsável pela especificidade humana pela evolução sofrida ao longo dos anos e, especificamente, organizada pelos seus processos de aprendizagem mais completos. O córtex frontal recebe continuamente informações oriundas das áreas secundárias e terciárias sensoriais da segunda unidade funcional, situada na parte posterior do cérebro, assim como também recebe informações do sistema límbico. Esse sistema é responsável pela organização e controle das emoções, que, por sua vez, recebe informações oriundas do tronco cerebral e do cerebelo da primeira unidade funcional. Os sistemas funcionais, ao organizarem essas informações, dispõem das condições essenciais para organizar e planejar as respostas finais da ação humana organizada de forma eficiente, pensada e adequada às mudanças necessárias, e em adequação às exigências das informações sensoriais que originaram a resposta. A terceira unidade funcional é desenvolvida mais tardiamente em termos neurológicos. Ela integra, por inerência, a segunda e a primeira unidades que são desenvolvidas mais precocemente. Desse modo, a terceira unidade funcional guia e orienta hierarquicamente as áreas subcorticais, permitindo a modelação da atenção e da consciência. Segundo Vitor da Fonseca (2008), o cérebro é o órgão responsável pelo que ele chamou de civilização, pois é um órgão responsável pela aprendizagem que, inicialmente, transforma a ação em pensamento, para depois transformar o pensamento em ação. Esse percurso é mediado pela linguagem que é interiorizada e associada neurofuncionalmente. De acordo com a organização neurofuncional de Luria, o corpo envia informações aferentes para o cérebro, inicialmente, para estrutura medulares e subcorticais do cérebro, do cerebelo e do sistema límbico-talâmico. Em seguida, essas informações são emitidas para áreas primárias posteriores corticais, as táteis e cinestésicas no lobo parietal; visuais no lobo occipital; e auditivos, no lobo temporal. Posteriormente, as informações sensoriais são transmitidas para as áreas secundárias posteriores, onde são processadas, tratadas, elaboradas e associadas a outras informações para, finalmente, serem organizadas e integradas nas áreas terciárias posteriores, onde ocorrem as operações de hierarquização, equivalência, implicação, compreensão e significação. A organização do comportamento ocorre inicialmente nas áreas terciárias do córtex pré-frontal. Depois, são solicitadas as áreas motoras secundárias, que organizam e fornecem os programas motores e, por fim, o córtex motor, que comanda e organiza o ato corporal, ou seja, o ato motor final, que é observável em termos de comportamento. Imagem: Maria de Fátima Ferreira de Vasconcelos; Shutterstock.com. Adaptadas por Raphael Amado Oliveira As unidades funcionais de Luria e os estudos de Vitor da Fonseca. AS UNIDADES FUNCIONAIS DE LURIA NA ORGANIZAÇÃO NEURAL A especialista Maria de Fátima Ferreira de Vasconcelos apresentará as unidades funcionais de Luria e suas particularidades. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS AÇÕES HUMANAS ESTÃO RELACIONADAS A UM CONTROLE NEURAL CENTRAL E PERIFÉRICO. AS ESTRUTURAS ENVOLVIDAS NO CONTROLE PERIFÉRICO SÃO ESTRUTURAS COMO JUNÇÃO NEUROMUSCULAR, NERVOS AFERENTES E RECEPTORES PERIFÉRICOS. AS ESTRUTURAS CENTRAIS QUE ORGANIZAM A MOTRICIDADE HUMANA ENVOLVEM O CÓRTEX CEREBRAL, ESTRUTURAS SUBCORTICAIS, TRONCO CEREBRAL E CEREBELO. DE ACORDO COM A HIERARQUIA FUNCIONAL ORIENTADA POR ALEXANDRE LURIA, PODEMOS DIZER QUE AS AÇÕES HUMANAS QUE EXIGEM A COORDENAÇÃO DE MOVIMENTOS COMPLEXOS AMPLOS E FINOS ESTÃO SOB O CONTROLE PRIMORDIAL DE QUE UNIDADE FUNCIONAL? A) Primeira unidade funcional B) Segunda unidade funcional C) Terceira unidade funcional D) Segunda e terceira unidades funcionais de maneira combinada E) Primeira e segunda unidades funcionais de maneira combinada 2. O CONTROLE NEURAL DA MOTRICIDADE HUMANA FOI ORGANIZADO EM UNIDADES FUNCIONAIS DE ACORDO OS ESTUDOS ESTRUTURADOS POR ALEXANDRE LURIA. ESSAS UNIDADES ORGANIZAM A REALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS DE ACORDO COM AS FUNÇÕES QUE CADA REGIÃO DO CÉREBRO CONTROLA, RELACIONADAS COM A AÇÃO MOTRIZ ENVOLVIDA. QUAL SERIA A UNIDADE FUNCIONAL RESPONSÁVEL POR NOS PERMITIR REALIZAR UMA POSTURA ESTÁTICA E QUE FUNÇÃO MOTRIZ SERIA ESSA? A) Terceira unidade funcional e a função motriz seria a coordenação motora ampla. B) Primeira unidade funcional e a função motriz seria o equilíbrio estático. C) Segunda unidade funcional e a função motriz seria a percepção do esquema corporal. D) Terceira unidade funcional e a função motriz seria o controle postural. E) Primeira unidade funcional e a função motriz seria a coordenação motora fina. GABARITO 1. As ações humanas estão relacionadas a um controle neural central e periférico. As estruturas envolvidas no controle periférico são estruturas como junção neuromuscular, nervos aferentes e receptores periféricos. As estruturas centrais que organizam a motricidade humana envolvem o córtex cerebral, estruturas subcorticais, tronco cerebral e cerebelo. De acordo com a hierarquia funcional orientada por Alexandre Luria, podemos dizer que as ações humanas que exigem a coordenação de movimentos complexos amplos e finos estão sob o controle primordial de que unidade funcional? A alternativa "C " está correta. Estão sob o controle da terceira unidade funcional, pois tais atividades demandam um controle que envolve funções cognitivas superiores, como planejamento, tomadade decisão e antecipação, que são funções de responsabilidade do córtex frontal. 2. O controle neural da motricidade humana foi organizado em unidades funcionais de acordo os estudos estruturados por Alexandre Luria. Essas unidades organizam a realização dos movimentos de acordo com as funções que cada região do cérebro controla, relacionadas com a ação motriz envolvida. Qual seria a unidade funcional responsável por nos permitir realizar uma postura estática e que função motriz seria essa? A alternativa "B " está correta. Essa unidade compreende o tronco cerebral, o cerebelo, o diencéfalo, o sistema límbico, o hipotálamo e o tálamo, estruturas que controlam a moderação do alerta corporal e cortical, funções de sobrevivência, funções de vigilância tônico-postural, filtragem, focagem e integração dos impulsos sensoriais. MÓDULO 2 Identificar a sistematização das fases do movimento segundo o desenvolvimento humano O DESENVOLVIMENTO MOTOR O desenvolvimento motor envolve um processo extenso e organizado composto de alterações no comportamento da motricidade e se estende ao longo da existência humana. Seu início ocorre ainda na fase pós-nascimento, passando pela fase infantil, adolescência, até a fase adulta e idosa. O processo do desenvolvimento motor acontece de forma permanente por meio do mecanismo de aprendizagem do movimento, que sofre gradativa ampliação na possibilidade de controle e eficiência. A realização motora pode ser identificada nas experiências vividas no cotidiano e nas relações com ambiente interno e externo. Imagem: Shutterstock.com O desenvolvimento motor ocorre de forma diferente para cada indivíduo, sofrendo interferência de fatores intrínsecos a esse, fatores ambientais e fatores denominados da tarefa em si. Esses fatores se relacionam com a própria biologia do sujeito, com as experiências as quais o sujeito é exposto e aos aspectos físicos e mecânicos do indivíduo. Nesse sentido, o estudo do desenvolvimento motor se dá pela observação sequencial de aquisição de habilidades motoras progressivas em termos de complexidade. Os estágios do desenvolvimento motor são organizados em quatro fases: a fase motora reflexiva, a fase motora rudimentar, a fase motora fundamental e a fase motora especializada. Veremos cada uma dessas subdivisões de acordo com a orientação proporcionada pelos estudos desenvolvidos por Gallahue e Ozmun (2001). Imagem: GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D., 2013, pág. 69. Modelo da ampulheta de Gallahue. Compreendendo o desenvolvimento motor – bebês, crianças, Adolescentes e adultos. FASE MOTORA REFLEXIVA Os movimentos iniciais do bebê são denominados movimentos reflexos, pois não dependem da vontade do indivíduo para que seja executado, ou seja, possuem um controle involuntário, organizados a partir de estruturas subcorticais. Os reflexos compõem a base para a organização das demais fases do desenvolvimento motor. A partir da atividade reflexa realizada, o bebê obtém informações essenciais do ambiente no qual está inserido. Reações em resposta a essa interação são desencadeadas continuamente, como, por exemplo: reações ao toque, à luz, aos sons etc. Essas são reações motoras involuntárias que aos poucos sofrem crescente processo de sofisticação cortical, resultante das experiências. Os reflexos podem ser divididos em duas categorias: os reflexos primitivos e os reflexos posturais. Os reflexos primitivos são classificados como organizadores de informações e de reações relacionadas à proteção do organismo, que estimulam a atividade cortical e o desenvolvimento do comportamento motor subsequente. Exemplos de reflexos primitivos: o reflexo de sugar e de pesquisar pelo olfato, considerados como mecanismos de sobrevivência primitiva. Sem eles, o recém-nascido seria incapaz de ter acesso ao alimento. Os reflexos denominados posturais compõem um segundo conjunto de movimentos involuntários e são similares aos comportamentos voluntários. Entretanto, são ações que possuem controle subcortical, portanto, involuntário. Esses reflexos são desencadeadores do desenvolvimento do equipamento neuromotor para os padrões de movimentos posteriores. O reflexo palmar de agarrar está relacionado aos comportamentos voluntários de agarrar e soltar, o reflexo labiríntico vertical e os reflexos de sustentação estão intimamente relacionados às habilidades posteriores de equilíbrio. A fase reflexiva do desenvolvimento motor divide-se em dois estágios: o estágio de codificação de informações e o estágio de decodificação de informações. ESTÁGIO DE CODIFICAÇÃO DE INFORMAÇÕES Esse estágio da fase do desenvolvimento motor é organizado a partir da realização motora involuntária. É um período de captação de informações que se estende da fase fetal, até aproximadamente o quarto mês após o nascimento. O controle dessa realização motora é subcortical, portanto, organizada a partir de centros cerebrais inferiores mais desenvolvidos nesse estágio do que o córtex motor. Os centros cerebrais subcorticais são responsáveis por reações involuntárias. Como resposta, há uma diversidade de estímulos de duração e intensidade variadas. A capacidade do bebê nesse período possibilita reunir informações para sua sobrevivência no que tange à alimentação e à proteção. ESTÁGIO DE DECODIFICAÇÃO DE INFORMAÇÕES Esse período inicia-se aproximadamente no quarto mês de vida. Nessa fase, há um processo gradual de inibição dos reflexos anteriormente observados e se dá o início do processamento das informações. Há uma progressiva maturação dos centros cerebrais superiores que vão controlar a motricidade voluntária, posteriormente. Os centros cerebrais superiores, gradualmente, assumem o controle motor à medida que os centros inferiores cedem esse controle. Desse modo, a atividade motora voluntária substitui a atividade motora reflexa de forma gradativa, ao mesmo tempo em que o córtex cerebral motor assume esse controle. Há uma substituição gradual da atividade sensório-motora por uma habilidade denominada motora perceptiva. Quando a realização motora que a criança experimenta promove um processo de associação do movimento ao pensamento, ocorre o desenvolvimento gradativo do processamento dos estímulos sensoriais e, a partir aprendizagem constituída, oriunda das informações progressivamente armazenadas, o controle voluntário dos movimentos aos poucos substitui os movimentos realizados apenas por reação aos estímulos. FASE DE MOVIMENTOS RUDIMENTARES Os movimentos rudimentares são considerados as primeiras formas de movimento voluntário apresentadas pelos indivíduos. Esses movimentos são observados desde o nascimento até os dois anos de idade, aproximadamente. Os movimentos rudimentares voluntários são uma organização previsível maturacional e sequencial do movimento. As habilidades graduais observáveis no desenvolvimento motor variam em cada indivíduo, de acordo com as suas experiências, com a sua característica biológica e com as tarefas desenvolvidas. Essa categoria de movimento está relacionada a uma necessidade de sobrevivência, enquanto forma básica dos movimentos voluntários. Isso porque envolvem movimentos estabilizadores, como a obtenção do controle da cabeça, do pescoço e dos músculos do tronco. Além disso, envolvem atividades manipulativas, como atividades de agarrar e soltar, e ainda movimentos locomotores, como aquisição da capacidade de arrastar, engatinhar e, posteriormente, marchar. Os movimentos rudimentares são divididos em duas fases que se organizam de acordo com o avanço do controle cortical: o estágio de inibição de reflexos e o estágio do pré-controle. ESTÁGIO DE INIBIÇÃO DE REFLEXOS Esse estágio tem o seu início no nascimento, pois, nesse período, os reflexos são caracteristicamente dominantes no repertório de movimentos da criança. As experiências vivenciadas pelo bebê oferecem informações importantes para o amadurecimento do córtex cerebral e, por conseguinte, proporcionam a gradativa substituiçãodos movimentos reflexos pelos movimentos fundamentais rudimentares. Comportamentos motores voluntários substituem os reflexos primitivos e posturais, gradativamente. É importante ressaltar que a estrutura neuromotora da criança ainda se encontra em fase rudimentar de desenvolvimento. Essa estrutura compõe o movimento que, embora seja direcionado a um objetivo, ainda possui características grosseiras e de descontrole. Por exemplo: quando uma criança dirige a sua mão para alcançar um determinado objeto, mesmo sendo o movimento provocado por um desejo inicial, ainda é realizado com a presença de vários equipamentos musculares desnecessários. Isso porque ainda não há um controle minucioso desse movimento. ESTÁGIO DE PRÉ-CONTROLE Quando a criança atinge aproximadamente um ano de idade, ela começa a ter maior precisão e controle de seus movimentos. Nesse período, existe uma maior diferenciação dos sistemas sensorial e motor, possibilitando integração de informações perceptivas e motoras com maior qualidade. Associado ao desenvolvimento sensório-motor, ocorre também o desenvolvimento dos processos cognitivos superiores, que influenciam sobremaneira a organização das habilidades motoras rudimentares. ATENÇÃO Nesse estágio, as crianças adquirem maior capacidade de manutenção do equilíbrio, locomoção e manipulação dos objetos, apresentando maior eficiência e controle desses movimentos. FASE DE MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS Os movimentos rudimentares são precursores na aquisição das habilidades motoras fundamentais. A evolução das habilidades motoras é decorrente fundamentalmente da exploração e da experimentação, as quais as crianças são submetidas em sua interação com o ambiente e por meio do seu corpo. O período dos movimentos fundamentais é essencial para que a criança possa descobrir como realizar de forma organizada os movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos que, inicialmente, são realizados com maior habituação de forma isolada e, posteriormente, de forma combinada, ampliando, assim, a complexidade das ações motoras. Foto: Shutterstock.com ATENÇÃO Nesta fase, é importante a experimentação corporal, pois é a forma em que o controle motor e a maior competência na realização motora são adquiridos. Por meio da exploração e experimentação que a criança realiza com seu corpo em relação aos diversos estímulos, aos poucos, a eficiência do movimento é alcançada. A criança aumenta progressivamente a capacidade de realizar movimentos em série, movimentos contínuos e movimentos mais complexos de acordo com a ampliação exigida na realização das tarefas. Os principais movimentos a serem envolvidos no repertório motor das crianças nesta fase são: Foto: Shutterstock.com Atividades locomotoras, como correr e pular. Foto: Shutterstock.com Atividades manipulativas, como arremessar e apanhar. Foto: Shutterstock.com Atividades estabilizadoras, como andar com firmeza e o equilíbrio em um pé só. Esses são movimentos importantes e devem estar presentes nos primeiros anos da infância. É fundamental entender que a sequência maturacional do organismo não é a única responsável pelo desenvolvimento de tais habilidades. Nessa fase, assim como em outras, é importante para a criança experimentar diversas possibilidades de movimento para que o seu desenvolvimento de ampliação na capacidade de realização motora seja possível. Os movimentos fundamentais podem ser divididos em estágios identificados na seguinte sequência: o estágio Inicial, o estágio elementar e o estágio maduro da realização motora. ESTÁGIO INICIAL Esse estágio é composto por movimentos que representam as primeiras tentativas que a criança consegue realizar de uma habilidade fundamental, com uma orientação pré-determinada e dirigida para um objetivo. Os movimentos observados nesse estágio ainda apresentam incompletude, pois são movimentos que usam o corpo de forma ainda não harmônica, cujo fluxo rítmico de realização motora ainda não apresenta uma eficiência plena. ATENÇÃO A criança de aproximadamente 2 anos de idade demonstra a realização motora nesse nível inicial de desenvolvimento. ESTÁGIO ELEMENTAR Neste estágio, a criança já demonstra um maior controle e melhor coordenação rítmica dos movimentos fundamentais presentes. A realização motora apresenta maior aprimoramento e sincronia dos elementos de organização temporal e espacial, sobretudo os padrões de movimentos observados, que ainda são restritos e/ou exagerados em sua realização como um todo, embora demonstrem melhor coordenação em relação ao estágio inicial. ATENÇÃO Crianças de aproximadamente 3 a 4 anos de idade apresentam este estágio do desenvolvimento elementar dos movimentos fundamentais. ESTÁGIO MADURO Nesse estágio do desenvolvimento dos movimentos fundamentais, observa-se que os movimentos são mais eficientes, mais coordenados, mais controlados, ao passo que o desempenho se dá com maior qualidade. ATENÇÃO Crianças de aproximadamente 5 a 6 anos de idade, normalmente, encontram-se no estágio maduro do desenvolvimento dos movimentos fundamentais. As habilidades manipulativas são atividades que envolvem a interceptação dos objetos em movimento, como o apanhar, o derrubar e o rebater. Habitualmente, essas habilidades se desenvolvem em momento posterior às habilidades de estabilização e locomoção, pois exigem a interação com objetos e a ativação das funções visuais motoras sofisticadas para a realização dessa tarefa. Mesmo em crianças mais velhas e em adultos, é comum observar que as habilidades motoras fundamentais não foram desenvolvidas até o nível maduro, e isso pode ser decorrente da inexperiência do indivíduo ao longo do seu desenvolvimento, por meio das suas ações corporais. Portanto, é de fundamental importância oferecer rica gama de oportunidades à prática, para o engajamento e para instrução em um ambiente que seja estimulante e promova o aprendizado motor. Sem os estímulos adequados, é muito difícil um indivíduo conseguir alcançar o estágio maduro das habilidades motoras, o que pode gerar dificuldade de desenvolvimento dessas habilidades em períodos subsequentes. FASE DOS MOVIMENTOS ESPECIALIZADOS Essa fase do desenvolvimento das habilidades motoras é resultado das experiências vivenciadas e, portanto, do amadurecimento alcançado na fase dos movimentos fundamentais. Nessa fase, o movimento adquire característica de ferramenta a ser aplicada em muitas atividades motoras de complexidade maior, presentes na vida diária, na prática desportiva e no lazer. Ocorre nesse período do desenvolvimento um refinamento das habilidades motoras estabilizadoras, locomotoras e manipulativas, que, de forma combinada, servem para o uso em situações de crescente exigência motora. EXEMPLO Observamos essa situação em movimentos fundamentais de saltar em um pé só e pular, que, de forma associada, podem ser utilizados em uma atividade muito comum na prática recreativa de crianças, como o pula corda, a dança e outras atividades esportivas mais específicas. Mais uma vez, fatores como a tarefa, as características individuais e as experiências relacionadas ao ambiente no qual o sujeito está inserido interferem no desenvolvimento das habilidades dos movimentos especializados. Outros fatores mais específicos também promovem interferência no desenvolvimento das habilidades especializadas, tais como: peso, altura, hábitos diários, relações sociais, característica emocional, tempo de reação, velocidade do movimento, coordenação, biotipo, entre outros. De acordo com a sistematização de Gallahue e Ozmun (2001), a fase de desenvolvimento dos movimentos especializados é dividida em três estágios: estágio transitório, estágio de aplicação e estágio de utilização permanente. ESTÁGIO TRANSITÓRIO Essa fase se estende, aproximadamente, na faixa etária dos 7 a 10 anos. Caracteriza-se pela capacidade que o indivíduo alcança de combinar e aplicar as habilidades motoras fundamentais em situações de desempenhomotor que demandam aquisição de habilidades especializadas, como nos esportes e nas ações corporais como um todo. Algumas atividades podem ser exemplificadas, como: pular corda, jogar bola ou caminhar sobre um percurso definido com exigência de equilíbrio. Essas ações corporais exigem habilidades transitórias comuns já instaladas. Foto: Shutterstock.com As habilidades motoras transitórias exigem para sua execução uma maior precisão e um maior controle do corpo para uma realização harmônica. Desse modo, são solicitados os movimentos fundamentais que foram desenvolvidos e refinados no estágio anterior. Nessa fase de desenvolvimento, as habilidades motoras transitórias podem ser aplicadas qualificando as ações motoras das crianças nas brincadeiras, em situações de vida diária, nos esportes, nos jogos, entre outros. As habilidades motoras transitórias podem ser definidas, simplesmente, como a possibilidade de aplicação dos padrões de movimentos fundamentais de forma mais específica e com uma exigência mais complexa. O estágio transitório dos movimentos especializados é muito importante para criança, pois é marcado pelo ganho qualitativo na realização motora, capacitando para a realização de uma maior combinação de padrões motores. Assim, as crianças percebem-se extremamente capazes de executar habilidades motoras de forma mais rápida e mais eficiente em comparação ao que faziam anteriormente, gerando uma sensação prazerosa. ATENÇÃO É importante entender que não se deve restringir o envolvimento da criança em atividades específicas, o que poderia restringir as habilidades nesse estágio, provocando um efeito indesejável para os estágios do desenvolvimento subsequentes. No estágio transitório, as crianças possuem uma característica específica em relação à organização cognitiva e à habilidade emocional, pois ainda se encontram em fase de instabilidade de desenvolvimento, não estando ainda em seu padrão maduro. Tais características, somadas ao fato da descoberta de uma capacidade de realização motora maior, provocam expansão na experimentação corporal e em uma atividade característica dessa idade, promovendo uma experiência generalizada das atividades motoras como um todo. ESTÁGIO DE APLICAÇÃO Esse estágio é denominado de estágio de aplicação dos movimentos especializados e se estende aproximadamente dos 11 aos 13 anos de idade, quando ocorrem alterações específicas no desenvolvimento das habilidades da criança. O estágio de aplicação dos movimentos especializados caracteriza-se pela possibilidade de as crianças obterem um ganho de sofisticação em sua organização cognitiva, o que permite uma possibilidade de experiências motoras complexas associadas a uma capacidade cognitiva mais ampla. Tal estágio do desenvolvimento capacita o indivíduo de, aproximadamente, 12 anos à maior potencialidade de tomada de decisão associada à sua realização motora. Portanto, há maior possibilidade de uso de estratégias, de maior agilidade e coordenação, de refinamento de habilidades mais complexas, de poder realizar jogos mais avançados, de realizar atividades de liderança e de praticar esportes mais selecionados. ESTÁGIO DE UTILIZAÇÃO PERMANENTE Essa fase se caracteriza por aquisições que perduram por toda a vida adulta. Usualmente, inicia-se por volta dos 14 anos de idade e é um estágio que representa o ápice do desenvolvimento das habilidades motoras como se fosse a fase final e mais desenvolvida dos estágios anteriores do desenvolvimento motor. Nessa fase, o indivíduo torna-se capaz de se utilizar de todo o repertório de movimentos adquiridos ao longo das suas experiências vividas até o momento. Foto: Shutterstock.com A participação do indivíduo na realização motora dependerá de algumas condições, como sua habilidade particular, oportunidades, condições físicas e motivação intrínseca, o que também acarretará nuances e diferenças no desempenho do indivíduo em determinadas práticas motoras. O nível de habilidade de cada indivíduo possui uma variação desde o nível de performance de alto nível até participações em atividades simples da vida diária. ATENÇÃO É importante ressaltar que crianças não devem ser consideradas como adultos em miniatura, que podem ser programadas para realizar atividades similares às desenvolvidas por adultos. Deve ser respeitada a escala do desenvolvimento, segundo a hierarquia apresentada desde os movimentos reflexos até os movimentos especializados, passando pelos movimentos rudimentares e pelos movimentos fundamentais. Cabe aos profissionais responsáveis por estimular o desenvolvimento corporal das crianças entenderem a importância do conhecimento apresentado pelos estudos do desenvolvimento das habilidades motoras. É importante organizar experiências motoras apropriadas para os níveis de desenvolvimento em cada faixa etária, respeitando cada etapa do desenvolvimento. Se as crianças são exigidas a se especializarem em uma área de habilidade, há possibilidade de ocorrência de uma sobrecarga, de forma a inibir o desenvolvimento de outras habilidades não expostas em suas experiências. FASES DO MOVIMENTO HUMANO A especialista Maria de Fátima Ferreira de Vasconcelos apresentará as fases do desenvolvimento motor, desde a fase motora reflexiva, até a fase dos movimentos especializados. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. COM BASE NO DESENVOLVIMENTO MOTOR, LEIA ATENTAMENTE O TRECHO QUE SEGUE. AS FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR SÃO ORGANIZADAS DESDE UMA REALIZAÇÃO REFLEXA MAIS SIMPLES ATÉ UMA REALIZAÇÃO MAIS COMPLEXA, CHAMADA FASE ESPECIALIZADA, PASSANDO POR FASES INTERMEDIÁRIAS DENOMINADAS DE MOVIMENTOS RUDIMENTARES E FUNDAMENTAIS. ENTENDENDO ESSA EVOLUÇÃO DE COMPLEXIDADE, AS CRIANÇAS DEVEM SER ESTIMULADAS COM REALIZAÇÕES MOTORAS ADEQUADAS À SUA FASE DO DESENVOLVIMENTO, NÃO OFERECENDO APENAS OS MOVIMENTOS QUE EXIGEM UMA COMPLEXIDADE MAIOR DE REALIZAÇÃO. TENDO EM VISTA O TRECHO, INDIQUE A OPÇÃO QUE APRESENTA A AFIRMAÇÃO CORRETA. A) Os estímulos oferecidos não precisam respeitar uma adequação ao desenvolvimento motor da faixa etária específica. Quanto mais estímulo, melhor. B) Qualquer atividade pode ser oferecida em qualquer faixa etária, pois o desenvolvimento motor acontece respeitando apenas a maturação das estruturas inerente ao desenvolvimento. C) As atividades oferecidas devem estar adequadas à fase do desenvolvimento para que todas as habilidades fundamentais possam ser desenvolvidas de forma eficiente. D) A oferta de estímulos deve respeitar a estimulação precoce, mesmo que as estruturas neuromotoras envolvidas ainda não estejam devidamente desenvolvidas. E) As atividades oferecidas não devem ser diversificadas, pois a repetição de um gesto é o fator fundamental para a aprendizagem desse gesto específico. 2. LEIA A SITUAÇÃO PRÁTICA DESCRITA A SEGUIR: SITUAÇÃO: PARA UMA TURMA DE CRIANÇAS DE, APROXIMADAMENTE, 2 ANOS DE IDADE, O PROFESSOR OFERECE UMA BOLA DE BORRACHA PARA CADA UM DE SEUS ALUNOS E PEDE PARA QUE ELES EMPURREM A BOLA AO CHÃO DE FORMA REPETIDA, COM MOVIMENTOS DE REBATIDA E AO MESMO TEMPO, DESLOQUEM-SE DE UM PONTO A OUTRO DA SALA/QUADRA, O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL. AS FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR SÃO SISTEMATIZADAS EM: FASE REFLEXA, MOVIMENTOS RUDIMENTARES, MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS E MOVIMENTOS ESPECIALIZADOS. NA SITUAÇÃO DESCRITA ABAIXO, O PROFESSOR AGIU ADEQUADAMENTE DE ACORDO COM A SISTEMATIZAÇÃO DAS FASES DO DESENVOLVIMENTO? A) Sim. O professor agiu corretamente, pois respeitou a fase do desenvolvimento adequada ao desenvolvimento de sua turma. B) Sim. O professor agiu corretamente, pois as crianças de 2 anos de idade possuem competência motora para a realização da atividade escolhida. C) Não. O professor fez uma escolha de atividade inadequada, pois crianças de 2 anos de idade apresentam desenvolvimento psicomotor acima desta demanda de habilidade. D) Não. O professor fez uma escolha inadequada, pois a exigência motora da atividade proposta é de uma habilidade motora fundamental manipulativa comuma uma faixa etária superior. E) O professor fez uma escolha inadequada, pois crianças de 2 anos de idade ainda apresentam o desenvolvimento motor da fase dos movimentos reflexivos. GABARITO 1. Com base no desenvolvimento motor, leia atentamente o trecho que segue. As fases do desenvolvimento motor são organizadas desde uma realização reflexa mais simples até uma realização mais complexa, chamada fase especializada, passando por fases intermediárias denominadas de movimentos rudimentares e fundamentais. Entendendo essa evolução de complexidade, as crianças devem ser estimuladas com realizações motoras adequadas à sua fase do desenvolvimento, não oferecendo apenas os movimentos que exigem uma complexidade maior de realização. Tendo em vista o trecho, indique a opção que apresenta a afirmação correta. A alternativa "C " está correta. O fornecimento de oportunidades motoras não apropriadas para os níveis de desenvolvimento de cada faixa etária, de forma significativa e que respeite cada etapa do desenvolvimento, exige especialização em uma área, ou em algumas áreas específicas de habilidades, sobrecarregando e provocando inibição do desenvolvimento de outras habilidades não expostas em suas experiências. Além do fato de as estruturas neuromotoras centrais e periféricas ainda não estarem prontas para a realização do movimento solicitado. 2. Leia a situação prática descrita a seguir: Situação: Para uma turma de crianças de, aproximadamente, 2 anos de idade, o professor oferece uma bola de borracha para cada um de seus alunos e pede para que eles empurrem a bola ao chão de forma repetida, com movimentos de rebatida e ao mesmo tempo, desloquem-se de um ponto a outro da sala/quadra, o mais rápido possível. As fases do desenvolvimento motor são sistematizadas em: fase reflexa, movimentos rudimentares, movimentos fundamentais e movimentos especializados. Na situação descrita abaixo, o professor agiu adequadamente de acordo com a sistematização das fases do desenvolvimento? A alternativa "D " está correta. É importante o conhecimento a respeito do desenvolvimento motor em suas fases para que as práticas elencadas nas propostas estejam adequadas às capacidades de cada criança. Na situação apresentada, a atividade estruturada está em dissonância com a maturidade das estruturas neuromotoras da criança, pois a exigência motora feita pelo professor é de uma habilidade motora fundamental manipulativa comum a uma faixa etária a partir dos 5 anos de idade. MÓDULO 3 Relacionar as habilidades motoras de acordo com seus estágios de desenvolvimento HABILIDADES MOTORAS O desenvolvimento motor envolve uma organização ampla e, ao longo das suas fases, há uma especificidade em relação às aquisições corporais que constituem a motricidade humana, que é o processo de estruturação das habilidades motoras fundamentais. Cabe destacar que o movimento se relaciona não apenas a aspectos mecânicos, motores e plásticos, pois está imbricado em processos relacionados à percepção, à compreensão, à memória, à atenção, à linguagem e à cognição. É importante ressaltar que a motricidade humana se organiza a partir de funções mentais superiores que exigem um controle específico e complexo de estruturas e funções corticais importantes. A expressão motora do indivíduo pode estar relacionada a práticas simples, comuns, aprendizagens rudimentares e a práticas específicas que demandam repetição, aprendizagem complexa e controle mais específico. O termo desenvolvimento pressupõe um conjunto de transformações e aquisições que estão relacionadas à capacidade funcional e estrutural do organismo. O organismo vivo é uma estrutura que está em constante desenvolvimento, portanto, em constante transformação, em uma contínua mudança, sofrendo alterações estruturais e funcionais observadas em diversos períodos da existência do indivíduo. O desenvolvimento motor pode ser mais rápido ou mais lento em diferentes períodos do desenvolvimento do indivíduo, pois podem existir diferenças relacionadas às experiências específicas de cada sujeito. Isso significa que o desenvolvimento não necessariamente ocorre da mesma maneira e na mesma proporção em todos os indivíduos. Apesar de existir um padrão, uma expectativa em relação às mudanças sequenciais nas estruturas e nas funções do organismo em desenvolvimento, as suas respectivas alterações podem acontecer sob influência de diversos fatores, causando ritmo e possibilidades diferenciadas no desenvolvimento de cada indivíduo. ATENÇÃO É importante ressaltar que o desenvolvimento motor é definido a partir de uma sequência de mudanças em que a fase posterior, de algum modo, depende de uma fase anterior, pois trata-se de uma sequência de mudanças de maneira ordenada e interdependente. Todos os indivíduos de uma mesma espécie passam por padrões previsíveis de desenvolvimento motor, cujo resultado é sempre definido por esse padrão previsível. No entanto, podem ocorrer interferências específicas de acordo com a interação que cada um estabelece com o ambiente e com as experiências ao longo de seu desenvolvimento. Entendendo que esse processo se dá em diferentes aspectos, como físico, motor, social, cognitivo e psicológico, é possível identificar a ampla gama de interferências que podem ocorrer na organização do desenvolvimento ao longo da existência do indivíduo. O desenvolvimento motor, portanto, pode ser definido como o termo utilizado como referência ao desenvolvimento do movimento. O estudo do desenvolvimento motor dedica-se à compreensão das mudanças no comportamento de movimento e aos fatores que organizam essas mudanças, entretanto nem toda mudança no movimento é necessariamente desenvolvimento. O outro termo associado ao campo de conhecimento do desenvolvimento motor é aprendizagem motora, que se refere às mudanças do movimento que são permanentes. São relativamente definitivas, mas não estão relacionadas à idade ou ao estágio do desenvolvimento. Foto: Shutterstock.com Crianças brincando livremente, aumentando seu leque de experiências. SAIBA MAIS Empregamos o termo comportamento motor com referência à distinção entre aprendizagem e desenvolvimento. O desenvolvimento motor é um processo sequencial e contínuo relacionado à idade pelo qual o comportamento motor se modifica, e aprendizagem motora se refere aos ganhos relativamente permanentes em habilidades motoras e estão associadas à prática ou à experiência. Cabe trazer também outros conceitos, como a definição de controle motor, crescimento físico, maturação e envelhecimento. Esses termos interagem de forma proximal com o universo de conhecimento sobre o desenvolvimento motor, sendo importante especificar de forma clara cada um desses conceitos para que não haja confusão de compreensão. O controle motor pode ser definido como o estudo dos aspectos neurais físicos e comportamentais do movimento. Ele se refere ao controle do sistema nervoso e dos músculos para permitir movimentos mais coordenados e habilidosos. O estudo do controle motor é muito importante, pois permite conhecer como o movimento é controlado pelo sistema nervoso, de forma a estruturar a melhor oferta das práticas educativas e de reabilitação na perspectiva de desenvolvimento do movimento. O crescimento físico é um outro aspecto que se refere especificamente a um aumento no tamanho ou na massa corporal, resultante de um processo em que as partes do corpo já estão formadas e completas, o que, normalmente, estende-se até o final da adolescência. A maturação física ou fisiológica é um avanço qualitativo na constituição biológica e pode estar relacionado à célula, ao órgão ou ainda ao avanço do sistema em composição bioquímica, em vez de somente estar relacionado ao tamanho. Normalmente, o desenvolvimento motor continua mesmo após o alcance da maturidade física plena. O envelhecimento é um processo que ocorre com a passagem do tempo levando à perda de adaptabilidade ou disfunção total e, eventualmente,à morte. O processo de envelhecimento está inserido no processo de desenvolvimento. É importante trazer essa definição de envelhecimento como um processo inerente ao desenvolvimento, pois compreende-se que o envelhecimento não faz parte desse processo, uma vez que entendemos desenvolvimento como algo crescente e o envelhecimento como algo descendente. Vale ressaltar que os processos fisiológicos do crescimento e de envelhecimento se encontram no desenvolvimento motor. O campo do desenvolvimento motor preocupa-se com mudanças no movimento ao longo da vida, decorrentes das interações do organismo com o ambiente no qual os movimentos ocorrem. SAIBA MAIS O desenvolvimento motor, nessa perspectiva, pode ser compreendido como o conjunto de alterações que ocorrem no indivíduo ao longo do seu processo de existência, decorrente da experiência. Precisamos entender como se dá a organização do movimento nas suas diferentes fases de evolução e como promover os estímulos necessários para que o desenvolvimento aconteça de forma eficaz. Vimos que os autores David Gallahue e John Ozmun (2001) indicam a organização do desenvolvimento motor em suas distintas fases: movimentos reflexivos, rudimentares, fundamentais e especializados. Vamos aqui nos ater à compreensão da fase do desenvolvimento motor em que são estruturadas as habilidades motoras fundamentais. Essas aquisições são dependentes de fatores como a realização do movimento em si, as características biológicas e o ambiente no qual o indivíduo está inserido. Segundo esses autores, as aquisições motoras se estruturam a partir das habilidades motoras fundamentais que finalizam o seu amadurecimento por volta dos 6 anos de idade. As habilidades motoras fundamentais podem ser classificadas em: habilidades motoras estabilizadoras, habilidades motoras locomotoras e habilidades motoras manipulativas. Para entender cada uma dessas habilidades, vamos no nos ater à identificação de suas características, segundo Gallahue e Ozmun (2001): MANIPULATIVAS Arremesso, lançamento, chute, rebatida, recepção, agarrar LOCOMOTORAS Correr, saltar, saltitar javascript:void(0) javascript:void(0) ESTABILIZAÇÃO Rolar, flexionar, equilibrar, apoio invertido, coordenação motora global, coordenação motora fina, esquema corporal, estruturação espacial, estruturação temporal, lateralidade HABILIDADES MOTORAS FUNDAMENTAIS ESTABILIZADORAS A capacidade de estabilidade pode ser definida pela disposição do organismo de se manter em equilíbrio, na relação entre o indivíduo e a força da gravidade. As habilidades motoras estabilizadoras são um conjunto de movimentos chamados movimentos estabilizadores fundamentais, os quais se organizam em torno de uma característica que envolve o aspecto de instabilidade. Os movimentos estabilizadores são considerados os movimentos axiais, que são os movimentos de tronco, ou os movimentos dos membros que direcionam o corpo em uma posição de instabilidade. Esses movimentos são verificados nas tarefas que envolvem o equilíbrio, como: permanecer sobre a base de um pé só, caminhada com uma certa direção, apoios invertidos e movimentos de rotação ou desvio do corpo. Podemos tratar os movimentos denominados de habilidades motoras estabilizadoras como aqueles que envolvem a organização do equilíbrio dinâmico, equilíbrio estático e movimentos axiais: Equilíbrio dinâmico: Composto por movimentos realizados na manutenção do equilíbrio conforme o centro de gravidade se desloca. Esses movimentos surgem habitualmente dos 2 aos 6 anos de idade. Exemplo: caminhadas, rolamentos, entre outros. Equilíbrio estático: É composto por movimentos que envolvem a manutenção do equilíbrio do corpo enquanto o centro de gravidade permanece estacionado. Esses movimentos surgem, habitualmente, dos 10 meses até, aproximadamente, os 6 anos de idade. Exemplo: permanecer de pé com apoio reduzido, podendo ser em uma postura de pé ou apoio invertido. Movimentos axiais: São as posturas estáticas que envolvem alongamento, rotações e giros, inclinações e similares. As habilidades que possibilitam os movimentos axiais são desenvolvidas no período da infância, que se inicia por volta dos 2 meses até, aproximadamente, os 6 anos de idade. Essas habilidades ganham um refinamento progressivo até o estágio onde esses movimentos podem ser percebidos nos padrões manipulativos emergentes de aparar, chutar, bater, lançar, entre outros. Exemplo: rolar em torno do eixo longitudinal, com e sem auxílio. Os movimentos estabilizadores baseiam-se na capacidade de estabilidade, que é um aspecto fundamental do aprendizado do movimento, pois, assim, as crianças adquirem e mantêm um ponto de origem para as explorações que realizam no espaço. A estabilidade envolve a capacidade de manter em equilíbrio o corpo em relação à força de gravidade. Isso é válido mesmo em situações em que a aplicação de força no corpo seja javascript:void(0) alterada, fazendo com que a relação entre o centro de gravidade do corpo e o movimento realizado seja modificada. Experiências motoras organizadas para melhorar as habilidades estabilizadoras das crianças permitem o desenvolvimento da flexibilidade nos ajustes da postura quando realizam movimentos de maneiras diferentes. São movimentos estabilizadores: movimentos axiais, rotação corporal, desvios, equilíbrio em um pé só, caminhada direcionada e apoios invertidos. AS HABILIDADES MOTORAS LOCOMOTORAS Como o próprio nome diz, as habilidades locomotoras envolvem a característica de realização do movimento que envolve a locomoção do corpo, um estágio fundamental para a aprendizagem, uma vez que se amplia a relação com o mundo exterior. Define-se como a capacidade de projeção e deslocamento do corpo no espaço, alterando a localização do organismo relativo a pontos fixos em uma determinada superfície. EXEMPLO São algumas habilidades motoras locomotoras fundamentais: caminhada, salto vertical, salto horizontal, salto misto, corrida, saltito, galope, deslocamento e pulo. Durante o desenvolvimento das habilidades motoras, percebe-se uma evolução de acordo com a idade, como, por exemplo, a caminhada, que envolve uma realização sequencial de colocação de um pé à frente do outro (enquanto um pé permanece em contato com o solo, o outro realiza o deslocamento). O desenvolvimento dessa habilidade se estende, aproximadamente, de 1 até os 2 anos de idade. O salto, por sua vez, é caracterizado de três formas: salto em altura, salto em distância e salto a partir de uma determinada altura. Desenvolvem-se a partir de um 1 ano e meio, aproximadamente, até os 6 anos de idade. O padrão maduro desse movimento é atingido quando o movimento pode ser realizado com o impulso em um pé só e o pouso no mesmo pé. O desenvolvimento desse padrão de habilidade motora ocorre dos 3 até, aproximadamente, os 6 anos de idade. Já o galope envolve a realização de uma combinação de movimentos: a caminhada e o salto com o mesmo pé, alcançando o padrão maduro de realização por volta dos 6 anos de idade. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) SALTO EM ALTURA Saltar a partir do chão. SALTO A PARTIR DE DETERMINADA ALTURA Corresponde a saltar de um ponto mais alto a outro mais baixo. Os movimentos locomotores envolvem a capacidade de locomoção, que é um aspecto fundamental do aprendizado. A capacidade de deslocamento efetivo e eficiente pelo ambiente envolve a projeção do corpo nos diversos espaços, alterando a localização em relação a pontos fixos da superfície. HABILIDADES MANIPULATIVAS FUNDAMENTAIS As habilidades motoras manipulativas podem ser definidas como habilidades que envolvem a realização de um movimento com objetos e se caracterizam pela aplicação de força e/ou captação desses objetos. Os movimentos de manipulação ou habilidades motoras manipulativas podem ser classificados em movimentos propulsores e movimentos amortecedores: MOVIMENTOS PROPULSORES Acontecem quando um objeto é deslocado com impulso para longedo corpo. Exemplo: chutar, rolar, bater, arremessar e voleio. MOVIMENTOS AMORTECEDORES javascript:void(0) javascript:void(0) Envolvem realizações quando um corpo ou parte desse é posicionado na trajetória de um objeto, com a intenção de interrompê-la ou desviá-la. Exemplo: rebater, aparar, agarrar e apanhar. Os movimentos manipulativos fundamentais podem ser realizados a partir da combinação dos movimentos estabilizadores e movimentos locomotores, pois eles são responsáveis por algumas características específicas da realização motora, quando envolvem a manipulação de um determinado objeto. EXEMPLO Projeção da trajetória estimada, precisão do movimento, velocidade do deslocamento do objeto, distância que esse objeto alcança e massa do objeto que é deslocado. Uma característica importante para a realização das habilidades motoras manipulativas é a presença funcional e de forma significativa das funções cognitivas. O período de surgimento das habilidades manipulativas se dá em torno dos 2 meses até, aproximadamente, os 6 anos de idade. Envolvem atividades como: 1) O ato de segurar, soltar e alcançar um determinado objeto espontaneamente. Essa aquisição se desenvolve até o estágio maduro, por volta dos 2 meses até os 18 meses de idade. 2) O ato de arremessar (movimento de imprimir força em um determinado objeto na direção objetivada), que é um movimento que atinge uma maturidade no período de 2 até os 6 anos de idade. 3) O ato de pegar (receber um determinado objeto com as mãos), que se desenvolve dos 2 até os 6 anos de idade; o ato de chutar (imprimir força no objeto com os pés), o qual tem a possibilidade de desenvolvimento até um estágio relativamente maduro, que vai dos 18 meses aos 6 anos de idade. 4) O ato de bater (contato súbito como objeto realizado com os braços acima da cabeça, lateralmente ou abaixo do nível da mão), que se desenvolve até o padrão maduro dos 2 anos até, aproximadamente, os 7 anos de idade. É importante sinalizar que, embora diretamente relacionada à idade, a aquisição de habilidades motoras fundamentais no seu estágio mais maduro não é dependente exclusivamente da idade, mas também de inúmeros fatores, como a tarefa em si, a característica do indivíduo e do ambiente no qual o indivíduo se desenvolve. Em torno do segundo ano de vida, as crianças, habitualmente, já dominam as habilidades motoras rudimentares. No período da primeira infância, essas habilidades motoras formam a estrutura sobre a qual cada criança vai desenvolver e refinar os padrões motores fundamentais, que vão se estruturar nas fases subsequentes da infância e nas habilidades motoras especializadas, as quais se organizam, aproximadamente, no período da adolescência. Após adquirirem a capacidade de locomoção de forma autônoma, ou seja, após aprenderem a marcha independente, as crianças são capazes de explorar os potenciais motores da sua estrutura corporal. À medida que se movimentam no espaço (locomoção), ganham maior autonomia e controle; adquirem controle crescente sobre a musculatura em uma determinada posição em relação à gravidade (estabilidade) e estão capacitadas para fazer um contato controlado e preciso com os objetos ao seu redor (manipulação). As crianças, nesse momento, encontram-se em um processo de desenvolvimento refinado das habilidades motoras fundamentais para o ganho de uma grande variedade de movimentos —denominados estabilizadores, locomotores e manipulativos —, o que significa que elas devem envolver-se com muitas experiências coordenadas, ampliando o seu potencial de movimento. O desenvolvimento de um padrão motor está relacionado ao desenvolvimento de níveis aceitáveis de habilidade e de uma organização corporal mecânica eficiente para diferentes situações motoras. Não se trata apenas da conquista de muita habilidade em um número limitado de situações motoras. As chamadas habilidades motoras fundamentais são inicialmente dominadas pelas crianças de formas separadas e, com o avanço no desenvolvimento, elas são capazes de combinar esses elementos entre si e aperfeiçoar a realização motora por meio dessa combinação. ATENÇÃO É fundamental que as crianças alcancem o domínio das habilidades motoras fundamentais para que seu desenvolvimento seja eficiente. As experiências motoras, de um modo geral, fornecem informações diversas sobre a percepção que a criança tem de si própria e do mundo que a cerca. Habilidades motoras básicas Habilidades manipulativas Habilidades locomotoras Habilidades de estabilização Arremessar Andar Flexionar Quicar Correr Equilibrar-se Chutar Saltar Estender Lançar Saltitar Girar Rebater Escorregar Posições invertidas Cabecear Escalar Agarrar Rolar-se Rolar a bola Desviar Quadro: Habilidades motoras básicas. Adaptado de MOREIRA, 2013. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal HABILIDADES MOTORAS A especialista Maria de Fátima Ferreira de Vasconcelos apresentará uma diferenciação entre as atividades motoras estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais, exemplificando com uma aplicabilidade prática cada uma delas. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS HABILIDADES MOTORAS FUNDAMENTAIS PODEM SER SUBDIVIDIDAS EM: HABILIDADE LOCOMOTORAS, ESTABILIZADORAS E MANIPULATIVAS. TENDO EM VISTA SEUS RESPECTIVOS CONCEITOS E APLICABILIDADE, ASSINALE A OPÇÃO CORRETA. A) O deslocamento pela quadra de handebol como uma atividade de equilíbrio dinâmico, pois há deslocamento do centro de gravidade. B) Na realização do movimento de salto para um bloqueio há uma combinação entre habilidades motoras locomotoras, estabilizadoras e manipulativas. C) No chute do futebol, há uma organização motora definida a partir da combinação entre habilidades motoras locomotoras e estabilizadoras. D) Na brincadeira de pular corda, há uma combinação entre habilidades motoras locomotoras, estabilizadoras e manipulativas. E) As habilidades manipulativas podem ser observadas no exercício “trave” da ginástica artística. 2. UMA CARACTERÍSTICA ESPECÍFICA DOS MOVIMENTOS MANIPULATIVOS FUNDAMENTAIS É QUE ESSES PODEM SER IDENTIFICADOS POR MEIO DA REALIZAÇÃO COMBINADA DE UM CONJUNTO DE OUTRAS FORMAS DE MOVIMENTO. INDIQUE A OPÇÃO QUE APRESENTA ATIVIDADES MANIPULATIVAS QUE COMBINEM PADRÕES DE MOVIMENTO LOCOMOTORES E ESTABILIZADORES FUNDAMENTAIS: A) Arremesso da bola à cesta de basquetebol B) Brincadeira de pular corda C) Corrida de obstáculos D) Nado de borboleta E) Recepção passiva de uma bola lançada GABARITO 1. As habilidades motoras fundamentais podem ser subdivididas em: habilidade locomotoras, estabilizadoras e manipulativas. Tendo em vista seus respectivos conceitos e aplicabilidade, assinale a opção correta. A alternativa "A " está correta. O deslocamento pela quadra de handebol, dependendo das circunstâncias do jogo, pode ocorrer em baixa, média e alta velocidade. Em qualquer uma dessas ocasiões, o centro de gravidade está sendo deslocado em razão do movimento propulsor. Neste sentido, há necessidade de uma habilidade estabilizadora para efetividade do movimento. 2. Uma característica específica dos movimentos manipulativos fundamentais é que esses podem ser identificados por meio da realização combinada de um conjunto de outras formas de movimento. Indique a opção que apresenta atividades manipulativas que combinem padrões de movimento locomotores e estabilizadores fundamentais: A alternativa "A " está correta. A combinação de movimentos na realização do “arremesso à cesta em um jogo de basquete” pode ser observada por meio de ações de alternância e/ou junção de padrões de movimento locomotores e estabilizadores fundamentais, de forma que esses proporcionem condições para que os movimentos manipulativos sejam realizados com eficiência. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da exposição do conteúdo, podemos chegar à conclusão de que a realização motora humana voluntária é organizada a partir de uma estrutura muito organizada.Essa estrutura é composta de elementos periféricos e centrais, entendendo os elementos periféricos como responsáveis pela captação de informações necessárias ao processamento, associação e planificação da resposta motora por meio dos mecanismos centrais de controle da realização motora. O sistema responsável pela realização motora é o sistema neuromuscular e esquelético, que promove desenvolvimento motor por meio da maturação de suas estruturas e acúmulo das informações registradas a partir das experiências. Ao longo do desenvolvimento, a motricidade humana passa por etapas, desde uma motricidade involuntária baseada em respostas reflexas, até alcançar habilidades mais complexas, como a motricidade voluntária, a qual depende de organização prévia e, portanto, planejamento. Os movimentos assumem maior eficiência à medida que o desenvolvimento avança, chegando às habilidades especializadas, passando por outras escalas de menor especificidade, mas não de menor importância. Para que essa organização motora seja alcançada em sua plenitude e de forma eficiente, o conhecimento desse universo de conceitos é fundamental para a promoção de estímulos adequados e estruturados a fim de que o desenvolvimento efetivamente ocorra. A evolução da complexidade do movimento humano acontece a partir das características individuais do ambiente no qual o sujeito está inserido e das suas experiências. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS FILGUEIRAS, I. P. A Criança e o Movimento – Questões para pensar a prática pedagógica na educação infantil e no ensino fundamental. In : Avisa Lá, 2002. FONSECA, V. Dificuldades de aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica ao insucesso escolar. 4. ed. Lisboa: Âncora, 2008. GALLAHUE, D. L. Conceitos para Maximizar o Desenvolvimento da Habilidade de Movimento Especializado. Rev. da Educação Física, UEM. v. 6, n. 2, 2005, p. 197-202. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor – bebês, crianças, Adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2001. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvimento motor – bebês, crianças, Adolescentes e adultos. Porto Alegre: AMGH, 2013. KOLB, B.; WHISHAW, I. Q. Neurociência do Comportamento. 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