Questionário Proteção Penal ao Patrimônio

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Questionário – Proteção Penal ao Patrimônio – Prof. Ricardo Andreucci
NP2 – Maio 2022
1) Quais os crimes que constam dos Artigos 172 a 179 do CP?
Duplicata simulada, Abuso de incapazes, Induzimento à especulação, Fraude no comércio e Outras Fraudes.
Todos estes crimes dos citados artigos se assemelham ao estelionato, porém, cada qual, possui elementos especializantes.
2) A que se refere a Fraude do chamado “Pendura” (Outras Fraudes) previsto no Artigo 176 do CP?
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
A origem do Pendura foi nas faculdades de Direito da USP em SP (São Francisco) e de Olinda. Ocorre no dia 11 de agosto, os estudantes de Direito se reúnem e saem para comer em restaurantes, alojam-se em hotéis ou utilizam-se de meios de transporte sem dispor de recursos para realizar o pagamento.
3) A que se refere a Fraude à Execução?
O devedor transfere seus bens a terceiros para não honrar suas dívidas.
4) Qual é a diferença entre Contrabando e Descaminho?
Contrabando é a importação de produtos proibidos (Exemplo : pneu usado, veículo usado, cigarro) enquanto que Descaminho é a importação de produtos, sem o pagamento dos tributos. 
5) Qual o conceito de Crime de Receptação e qual a pena prevista?
 Conforme prevê o Art. 180 o crime de Receptação é : Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
6) Quais as modalidades do Crime de Receptação?
· Receptação simples dolosa imprópria, cuja conduta é influir para que terceiro, de boa fé, adquira, receba ou oculte a coisa produto de crime;
· Receptação simples dolosa própria, cuja conduta é adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar a coisa produto de crime em proveito próprio ou alheio e
· Receptação no exercício da atividade comercial ou industrial, também chamada de Receptação qualificada, cujas condutas são adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor a venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial coisa que deve saber ser produto do crime.
O sujeito ativo deste crime é o comerciante ou o industrial. Trata-se de crime próprio.
· Receptação culposa cuja conduta é adquirir ou receber coisa que por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou ainda, pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso. Na receptação culposo, o agente não sabe que a coisa é produto de crime, mas atua com imprudência ou negligência ao adquirí-la, uma vez que deveria presumir se ela produto de crime.
IMPORTANTE : A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena, o autor do crime de que proveio a coisa.
· Receptação de animal cujas condutas são adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comercialização semovente, domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime. (Abigeato = Furto de gado).
7) O que são as imunidade penais e como são conhecidas?
As imunidades penais, também conhecidas como escusas absolutórias, é a isenção de pena que se aplicam apenas aos crimes patrimoniais.
8) Quais são as modalidades de imunidades penais?
· Imunidades Penais Absolutas – também chamadas de substanciais – o crime permanece íntegro, apenas a punibilidade é afetada.
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
 II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
· Imunidades Penais Relativas – também chamadas de processuais – Nos casos de imunidades penais relativas, NÃO HÁ ISENÇÃO DE PUNIBILIDADE, apenas modifica-se o espécie de ação penal, que passa a ser pública condicionada a representação da vítima.
 		Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: 
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
        		II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
        		III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
9) Quais são as hipóteses de exceção às imunidades penais e relativas previstas no Artigo 183 do Código Penal?
Não se aplicam as imunidades penais nas situações abaixo:
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. 
OBS.: Nos crimes de furto, estelionato ou apropriação indébita, há imunidade penal.
10) Qual é a diferença entre crime de perigo comum e crime de perigo individual?
O crime de perigo comum envolve várias pessoas (coletividade), enquanto que o crime de perigo individual envolve uma pessoa ou um grupo determinado de pessoas.
11) O que é um crime de dano? Exemplifique
Crime de dano é aquele que ofende o bem jurídico. Exemplo : homicídio, furto.
12) O que é um crime de perigo? Exemplifique
Crime de perigo é aquele que coloca o bem jurídico em perigo e afeta a incolumidade pública. Exemplo: produtos à venda com data de validade vencida, remédio falso. Aqui o bem jurídico afetado é a saúde pública. 
13) Qual é a diferença entre perigo concreto e perigo abstrato?
Ocorre perigo concreto, quando para a configuração do risco, há necessidade de provas. O perigo abstrato, por sua vez, é o risco presumido, em face de determinada conduta do agente.
14) Conceitue o crime de incêndio e comente sobre as causas de aumento de pena?  
Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Crime de incêndio é punido pela conduta de causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem e tendo como objetividade jurídica a incolumidade pública.
 	A pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
        	Aumento de pena – Artigo 250, CP
        § 1º - As penas aumentam-se de um terço:
        I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;
        II - se o incêndio é:
        a) em casa habitada ou destinada a habitação;
        b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;
        c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;
        d) em estação ferroviária ou aeródromo;
        e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
        f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
        g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;
        h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
        Incêndio culposo
        § 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos.
15) Quais são as condutas do crime de Explosão e qual sua objetividade jurídica?
 Art. 251 - Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos.
16) Quais são as causas de aumento de pena do crime de explosão?
        	As penas aumentam-se de um terço, em caso de utilização de engenho de dinamite ou substâncias análogas.
17) Conceitue o crime de inundação e exemplifique com casos reais.
Art. 254 - Causar inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem. 
Trata-se de crime de perigo concreto. Exemplo : Barragem de Brumadinho e Mariana. O MP enquadrou estes 2crimes como homicídio com dolo eventual, porém, os juízes enquadraram como inundação com resultado morte, pois a pena é mais branda.
18) Conceitue o crime de desabamento ou desmoronamento.
 Art. 256 - Causar desabamento ou desmoronamento, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem.
Desabamento : obra do homem
Desmoronamento : obra da natureza
Trata-se de crime concreto, admite-se a modalidade dolosa.
19) Quais as formas qualificadas do crime de perigo comum?
Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.	
20) Conceitue crime preterdoloso.
É quando o agente age com dolo inicialmente e com culpa no resultado. Por exemplo, o agente queria lesionar a vítima, mas acabou mantando-a.
21) Quais são os crimes cometidos contra a saúde pública?
Epidemia, Infração de Medida Sanitária Preventiva, Omissão de Notificação de Doença
22) Foi enviado Antraz (pó – substância tóxica) em um envelope pelo correio. (Questão da OAB). Em que tipo de crime se enquadraria este fato típico?
O Antraz é um pó que era enviado pelo correio, substância tóxica que inalada pode ser fatal. Este tipo de crime foi bastante disseminado nos Estados Unidos em 2001 e se enquadra na tipificação penal : crime de epidemia.
No caso da pandemia do Covid 19, se a pessoa está contaminada com o vírus e não se utiliza das medidas preventivas (isolamento e uso de máscaras), acaba passando o vírus para outras pessoas, sendo a tipificação penal : crime de Epidemia.
23) Conceitue o crime de Difusão de Doença ou Praga e exemplifique.
Art. 259 - Difundir doença ou praga que possa causar dano a floresta, plantação ou animais de utilidade econômica:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Modalidade culposa
Parágrafo único - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a seis meses, ou multa.
Crime de perigo abstrato – difundir doenças à animais e plantas.
24) Conceitue o crime de epidemia e exemplifique.
Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos
        § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.
        § 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos.
Exemplos mencionados na questão 21 acima : Antraz e Covid 19.
IMPORTANTE: O crime de epidemia com resultado MORTE é considerado crime hediondo.
25) Conceitue o crime contra a saúde pública e exemplifique.
Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
26) O que significa a expressão “determinação do poder público no Artigo 268 do Código Penal?
A expressão significa que se trata de uma norma penal em branco, necessitando de disposição que complete o seu conteúdo. A determinação poderá ser expedida por qualquer autoridade do poder público dentro de sua esfera de competência, podendo ser federal, estadual ou municipal.
O crime se consuma com a determinação do poder público, trata-se de crime de perigo abstrato.
27) Qual é a diferença entre crime de perigo concreto e crime de perigo abstrato?
No crime de perigo concreto, o perigo é concreto e no crime de perigo abstrato, o perigo é presumido. 
Exemplo: durante a pandemia, se o agente está caminhando na praia sozinho, não está causando nenhum risco concreto, mas presume-se a sua existência.
28) Conceitue o crime de omissão de notificação de doença e exemplifique.
Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória. Trata-se de crime próprio, que somente pode ser praticado por médico, sendo sua consumação a omissão do médico. Crime omissivo, que não admite tentativa e crime de perigo abstrato (presumido).
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
29) Por que o médico precisa notificar a doença ao Ministério da Saúde?
Para evitar a disseminação da doença, saber onde há maior incidência da doença, para contê-la e adotar as políticas públicas necessárias. Caso o médico não notifique a doença, pratica crime de omissão de notificação da doença.
30) Conceitue o crime de envenenamento de água potável ou de substância alimentícia e exemplifique.
Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo.
Trata-se de crime de perigo abstrato, sendo o risco à saúde pública presumido. Basta o envenenamento, para a consumação do crime, mesmo que ninguém tome ou utilize a água. Exemplo, se alguém envenena água de uma caixa d’água de uma comunidade.
Pena - reclusão, de dez a quinze anos        
§ 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída, a água ou a substância envenenada.
Modalidade culposa
§ 2º - Se o crime é culposo:
         Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
31) Conceitue o crime de corrupção ou poluição de água potável e exemplifique.
Art. 271 - Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular, tornando-a imprópria para consumo ou nociva à saúde:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
Modalidade culposa
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Trata-se de crime de perigo abstrato, pois basta adulterar a água para ser considerado crime, mesmo que ninguém a utilize para consumo. Exemplo: o agente jogou creolina no poço de água potável (creolina não é veneno, se fosse veneno, o crime seria de envenenamento de água potável ou substância alimentícia).
32) Conceitue o crime de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais e exemplifique.
Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.
Trata-se de crime de perigo abstrato. Exemplo : falsificação de álcool em gel durante a pandemia e falsificação de cosméticos que causam danos à saúde.
33) Conceitue o crime de exercício ilegal da medicina.
Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.
Trata-se de crime contra a saúde pública, crime habitual que se consuma com a reiteração da prática de atos privativos do médico, dentista ou farmacêutico.
34) Conceitue o crime de charlatanismo.
Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Há aqui a promessa de cura de uma doença e a prática tem que ser habitual.
35) Conceitue o crime de curandeirismo e exemplifique.
Art. 284 - Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa.
Curandeirismo é o exercício de atividade de cura por meios não convencionais, tem que ter habitualidade.
Exemplo : cirurgia espiritual, caso do Dr. Fritz que fazia cirurgias com habitualidade e curava os pacientes (presidente Fiqueiredo fez uma cirurgia com o Dr. Fritz e foi curado).
36) Quais são as formas qualificadas dos crime contra a saúde pública?
As formas qualificadas dos crimes contra a saúde pública implicam no resultado lesão corporal de naturezagrave e morte.
A pena dos crimes contra a saúde pública dolosos será aumentada da metade no caso de resultado lesão corporal de natureza grave e será aplicada em dobro no caso de morte.
A pena dos crimes contra a saúde pública culposos será aumentada da metade ser resultar lesão coporal de natureza grave e no caso de morte, aplica-se a pena do homicídio culposo (1 a 3 anos), aumentada de 1/3.