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AULA 6_Relacoes_de_genero

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 curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com
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ento digital, sob as penas da Lei. ©
 Editora Senac São Paulo.
Capítulo 6
Relações de gênero
No presente capítulo, discutiremos relações de gênero. Para tanto, 
iniciaremos pela análise e diferenciação das concepções de gênero e 
sexo, bem como de cultura e natureza. Trata-se de diferenciar o campo 
das ações e construções humanas do campo biológico. Investigaremos 
importantes intelectuais, como Simone de Beauvoir (1908-1986) e Judith 
Butler (1956-), essenciais para o debate. Por meio do conceito de gêne-
ro, poderemos compreender a sigla LGBTQIA+. Observaremos ainda os 
conceitos de diferença e desigualdade, que nos permitirão compreen-
der a importância de políticas públicas que promovam a diversidade 
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.cultural e a inclusão desses diferentes segmentos nos direitos humanos 
e à cidadania. Tais políticas estão abarcadas na denominação multicul-
turalismo. No segundo tópico do capítulo, investigaremos a evolução do 
debate das questões de gênero no cenário internacional e, em seguida, 
no Brasil, com a análise de fatos históricos e conquistas relevantes.
1 Fundamentos das questões de gênero
Durante o século XX, a filosofia, a antropologia e a sociologia estabele-
ceram distinções entre natureza e cultura. Enquanto a cultura é constituí-
da por símbolos e teias de significados que são construções resultantes 
das relações sociais, a natureza está relacionada a aspectos biológicos 
e intrínsecos à constituição genética. O antropólogo francês Claude Lévi-
Strauss (1908-2009), no ano de 1952, escreveu o ensaio “Raça e história” 
(LÉVI-STRAUSS, 1976), em que demonstra a autonomia da cultura sobre a 
natureza. Deve-se considerar a cultura e todos os seus comportamentos 
não como reflexo da natureza, mas como criações originadas a partir das 
relações sociais. Por isso, o indivíduo é considerado produto e ao mesmo 
tempo produtor de sua cultura. Se a cultura possui certa autonomia sobre 
a natureza e os indivíduos imersos nas relações sociais são responsáveis 
por todas as construções e símbolos presentes nela, isso significa dizer 
que a cultura não é estática, está em permanente transformação, permitin-
do a diferenciação e diversificação dos modos de ser e agir dos indivíduos 
e das distintas gerações. 
Com base nesse pensamento, Lévi-Strauss condena a concepção de 
raças humanas e afirma a existência de apenas uma espécie humana, 
demonstrando que, do ponto de vista biológico, não existem humanos 
ou culturas superiores ou inferiores devido a suas disposições genéti-
cas, posto que esses adjetivos são construções culturais. A natureza e 
a genética constituem todos os seres humanos, dotados das mesmas 
faculdades cognitivas e sensoriais. 
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No final da década de 1990 e início do século XXI, biólogos geneti-
cistas vieram a comprovar a tese antropológica por meio da análise do 
genoma humano. Ao codificar os genes e compará-los entre negros, 
brancos, asiáticos e outras etnias, constataram que as diferenças ge-
néticas são mínimas (ainda assim, por vezes maiores entre brancos do 
que comparando um branco e um negro) e insuficientes para afirmar a 
existência de raças (no plural) diferentes. Nesse sentido, o conceito de 
raças humanas não pertence ao campo natural ou biológico. “Raças” 
são construções culturais ou símbolos sociais, não há fundamento bio-
lógico nelas, sendo hoje utilizadas num sentido simbólico, como expres-
são das lutas políticas dos movimentos negros, por exemplo. Porém, no 
século XIX e até metade do século XX, predominavam teses racistas e 
evolucionistas que atribuíam à cultura determinações biológicas. Nesse 
período, os conceitos de raça e a concepção de gênero eram tomados 
como elementos biológicos, que acabaram servindo de álibi para o pre-
conceito contra povos africanos, asiáticos e indígenas, buscando tam-
bém demonstrar, de forma machista, a superioridade dos homens so-
bre as mulheres. Raça e gênero, portanto, não têm origem na natureza, 
senão na cultura.
A filósofa francesa Simone de Beauvoir, na obra O segundo sexo 
(BEAUVOIR, 1980), publicada em 1949, nos permite compreender a 
distinção entre gênero e sexo, sendo o primeiro conceito relacionado à 
cultura, à historicidade e às relações sociais, e o segundo termo relacio-
nado a aspectos biológicos. Beauvoir toma como base o pensamento 
existencialista de Sartre, o qual, na obra O ser e o nada (escrita em 1943), 
opõe a condição humana e a natureza humana. A condição humana é 
resultado da liberdade e das escolhas dos sujeitos. Sartre (2001) afirma 
que nascemos condenados à liberdade, de modo que tudo o que somos 
ou poderemos ser no futuro é resultado de nossa ação humana. O au-
tor nega a noção de natureza humana porque a considera uma forma 
de fatalismo ou determinismo, como se, por exemplo, uma profissão, 
a honestidade, a maldade, a riqueza ou a pobreza tivessem origem em 
aspectos naturais ou biológicos, quando na realidade são resultado das 
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.contradições sociais. Sartre sintetiza sua crítica à noção de natureza 
humana por meio da célebre expressão “a existência precede a essên-
cia”, o que significa dizer que não há nada de inato (na essência) no 
indivíduo – suas ideias e comportamentos são dados primeiro histori-
camente e em contradição com sua subjetividade, constituindo a condi-
ção humana. Esta última é plástica e está em transformação constante, 
influenciando as transformações sociais. 
Beauvoir, concordando com essas premissas existencialistas de 
Sartre, afirma em sua obra que “Ninguém nasce mulher: torna-se mu-
lher”. Verifica-se que o que se entende hoje como mulher é uma cons-
trução histórica, de forma que talvez essa noção não seja exatamente 
compreendida como era no passado ou como será no futuro. Ninguém 
do sexo feminino nasce naturalmente com o desejo de ser mãe, ou mais 
doce ou delicada, muito menos apta a se submeter ao domínio mascu-
lino, pois com a noção de condição humana entendemos que todos os 
comportamentos têm origem na cultura e nas relações sociais dadas 
historicamente. Da mesma forma, o machismo é uma construção social, 
e não uma relação natural, e é possível atacá-lo e destituí-lo, construindo 
uma outra e nova sociedade com relações mais equânimes de gênero.
Portanto, o sexo tem origem na natureza, sendo caracterizado pela 
determinação biológica – nasce-se do sexo masculino ou feminino, ou 
simplesmente macho ou fêmea. Já o gênero é uma construção social, 
tem origem na cultura e nas relações sociais, e suas características po-
dem variar de época para época, de indivíduo para indivíduo e de socie-
dade para sociedade. Pedro Jaime e Fred Lucio (JAIME; LUCIO, 2017) 
nos apresentam um importante panorama das discussões em torno da 
distinção dos conceitos de gêneroe sexo durante o século XX, desta-
cando a filósofa e socióloga norte-americana Judith Butler:
De um lado, nós temos um corpo, que é dado pela natureza, que 
estabelece, por exemplo, a diferença entre macho e fêmea. Entre-
tanto, do outro, se analisarmos as sociedades do mundo (como 
fazem antropólogos, sociólogos e historiadores, por exemplo), va-
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mos observar uma infinidade nada semelhante de modos de existir 
como “homem” e como “mulher” [...] Segundo a socióloga Bila Sorj 
[...] “O equipamento biológico inato não dá conta da explicação do 
comportamento masculino e feminino observado na sociedade. 
Para a historiadora Joan Scott, uma das maiores especialistas de 
estudos de gênero na atualidade, “gênero é a organização social da 
diferença sexual percebida. O que não significa que gênero reflita 
ou implemente diferenças físicas e naturais entre homens e mu-
lheres, mas sim que gênero é o saber que estabelece significados 
para as diferenças corporais” [...]. Propondo uma ruptura do bina-
rismo sexo/natural e gênero/social, a filósofa e uma das principais 
referências de gênero na atualidade Judith Butler também recusa 
a ideia de que exista um corpo natural, preexistente. Para ela, uma 
vez que todo corpo é produzido pela linguagem e pelas práticas 
sociais, da mesma forma que gênero, o sexo (um dado suposta-
mente natural) [...] é repleto de significados construídos pela cultu-
ra. (JAIME; LUCIO, 2017, p. 331-333)
Assim como os gêneros homem e mulher são construções sociais, 
as ciências humanas no século XX compreenderam que outros gêneros 
que constituem a sigla hoje conhecida como LGBTQIA+ (veja o quadro 
a seguir com os detalhes dessa sigla) são igualmente resultados da cul-
tura, e não da natureza. A própria sexualidade é diferente do sexo, pois a 
primeira corresponde a aspectos culturais, ou seja, ao modo como cada 
indivíduo expressa seus sentimentos, desejos, comportamentos e iden-
tidades relacionados ao sexo. A noção de identidade é constituída pelo 
autorreconhecimento, pela falta dele ou pelo reconhecimento que nos 
é imposto pelos outros. Dessa forma, os gêneros não necessariamente 
se resumem a dois (homem e mulher) numa mesma sociedade, poden-
do haver diversidade de identidades de gênero. No século XXI, a popu-
larização das redes sociais virtuais e o acesso à internet deram mais 
notoriedade aos diferentes gêneros, que lutam pelo reconhecimento de 
suas identidades e contra a discriminação. Produziu-se a visibilidade 
das lutas políticas contra os preconceitos e por conquistas de direitos 
de cidadania.
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.Quadro 1 – Significado da sigla LGBTQIA+ 
ELEMENTO DA 
SIGLA SIGNIFICADO CARACTERÍSTICAS
L Lésbicas
Mulheres que sentem atração e se envolvem afetiva e sexualmente 
com indivíduos do mesmo gênero.
G Gays
Homens que sentem atração e se envolvem afetiva e sexualmente 
com indivíduos do mesmo gênero.
B Bissexuais
Homens e mulheres que sentem atração e se envolvem afetiva e 
sexualmente com os gêneros masculino e feminino.
T Transexuais 
Correspondem aos indivíduos que não se identificam com o gênero 
atribuído desde o seu nascimento e pela sua cultura. Travestis são 
incluídas na sigla, porém se identificam com a condição feminina e 
são consideradas um terceiro gênero. 
Q Queer
Migram ou transitam entre diferentes gêneros, caso das drag 
queens.
I Intersexo
Limiar entre o masculino e feminino, podendo estar relacionado 
com questões biológicas, como genitálias, gônadas, cromossomos 
e hormônios.
A Assexual
Indivíduo com escassez ou ausência de atração sexual por outros 
gêneros ou indivíduos; não tomam as relações sexuais como 
prioridade para a vida.
+
Inclui outros grupos 
e variações de 
sexualidade e gênero
Diz respeito às variações de outras formas de sexualidade 
e gênero, incluindo pansexuais, que se relacionam afetiva e 
sexualmente com indivíduos de qualquer gênero.
A cisgeneridade (ou simplesmente homens e mulheres cis) pressu-
põe a correspondência entre o sexo biológico e a identificação de gêne-
ro estabelecida desde o nascimento – por exemplo, o sexo masculino 
identifica-se com o gênero masculino. É o oposto do transgênero, o qual 
se identifica com o gênero oposto ao seu sexo. 
A falta de entendimento no que se refere às construções sociais de 
diferentes gêneros acaba produzindo preconceitos em indivíduos con-
servadores. O termo “misoginia” (do grego miseo, ódio; e gyne, mulher) 
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é utilizado para definir a aversão e o desprezo por valores e característi-
cas tidos como femininos, representando, portanto, atitudes machistas 
que supõem a superioridade natural dos homens sobre as mulheres. 
Há ainda outras formas de preconceitos de gênero. Mulheres e seg-
mentos LGBTQIA+ sofrem restrições em termos de ocupação de cargos 
superiores no mercado de trabalho ou tornam-se relegados aos subem-
pregos ou à marginalização. Esses grupos sofrem com violência, assé-
dio e discriminação porque há construções sociais equivocadas, que 
associam ao gênero masculino a capacidade de elaboração de bons 
trabalhos e uma vida honesta, enquanto os demais gêneros são vistos 
como instáveis ou incompetentes devido a características biológicas 
ou em virtude de visões distorcidas sobre os próprios gêneros. Enfim, 
a confusão entre sexo e gênero produz preconceitos diversos. Isso 
também ocorre porque é comum confundir as noções de diferença e 
desigualdade.
Segundo Barros (2006), as diferenças são inerentes à cultura e à na-
tureza, não podem ser evitadas por meio da ação humana. Diferenças 
naturais podem ser o sexo, a cor da pele, a altura ou o formato do cor-
po. Diferenças culturais correspondem, por exemplo, a crenças, gestos, 
gêneros, nacionalidade, formas de se expressar, arquitetura, etc., ou 
seja, são construções sociais. Portanto, podemos considerar normais 
as diferenças, visto que há diversidade humana. O problema consiste 
em transformar diferenças em desigualdades. As desigualdades são 
circunstanciais, construídas devido a elementos históricos, políticos, 
econômicos e jurídicos. Podem ser criadas desigualdades por renda, 
exercício de liberdades, acesso a serviços. As desigualdades, por exem-
plo, transformam diferenças étnicas em atos de racismo. Diferenças de 
gênero transformam-se em desigualdades entre, por exemplo, homens 
e mulheres no mercado de trabalho ou na exclusão de outros gêneros 
desse cenário. A desigualdade não deve ser considerada normal, ela sur-
ge das contradições sociais, é resultado da exclusão ou de preconceitos. 
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.Para combater diversas formas de desigualdade social (gênero, et-
nia e raça), no final do século XIX, nos Estados Unidos(contra o racis-
mo) e na Europa, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e com 
a intenção de expandir direitos às mulheres, fortaleceu-se o conceito 
de multiculturalismo. É importante diferenciar esse conceito e o termo 
“multicultural”. Quando afirmamos que uma sociedade é multicultural, 
estamos nos referindo às características culturalmente diversificadas 
(gêneros e etnias) presentes nela. Há sociedades com diversidade de 
gêneros, nacionalidades, etnias ou religiões. Essas sociedades apresen-
tam problemas em termos de representatividade política e de acesso 
aos direitos pelos grupos heterogêneos presentes nelas. De acordo 
com Stuart Hall, 
[...] multicultural é uma sociedade na qual em seu interior convivem 
comunidades culturais distintas, e os problemas governacionais 
que por esta convivência aparecem. Ou seja, o termo multicultural 
significa que certa sociedade é culturalmente heterogênea, o que 
vai totalmente de encontro com o denominado Estado-nação mo-
derno. (HALL, 2008, p. 53)
O multiculturalismo, por sua vez, representa estratégias promovidas 
por governos, ou seja, políticas públicas que têm como objetivo reduzir 
desigualdades e inserir grupos sociais diversificados, antes socialmen-
te excluídos dos direitos políticos, sociais e civis. Temos como exemplo 
leis que promovem políticas de cotas em concursos públicos ou elei-
ções; equiparação salarial, independentemente de raça ou gênero; di-
reitos ao casamento, herança e liberdade religiosa. O multiculturalismo 
promove a pluralidade de identidades culturais e combate hierarquias e 
padronizações preconceituosas. Trata-se do direito à diferença, que visa 
ampliar direitos aos segmentos que são marginalizados da sociedade 
devido às suas diferenças culturais, além de garantir a liberdade para 
que diversas formas de identidade possam coexistir de maneira pacífi-
ca, respeitando-se os comportamentos uns dos outros. 
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 Editora Senac São Paulo.
2 Questões de gênero no cenário 
internacional
O feminismo não deve ser considerado a antítese do machismo, 
mas a superação deste último. Ou seja, o feminismo não é uma espécie 
de vingança contra o machismo. É um movimento social que busca a 
igualdade entre gêneros e a eliminação das disparidades em termos 
de direitos políticos, econômicos e sociais, além de lutar pelo respeito 
às mulheres e se opor às subjugações e violências historicamente im-
postas pelo machismo. Portanto, trata-se da conquista de direitos e de 
igualdade de condições entre homens e mulheres.
Céli Regina Pinto, em seu artigo “Feminismo, história e poder” (PINTO, 
2010), destaca três “ondas” ou fases do feminismo na cultura ocidental. 
Quando falamos em “onda”, referimo-nos à forma como o movimento 
feminista pressionou governos em diferentes países com o objetivo de 
ampliar direitos e consolidar a igualdade entre gêneros, com base em 
reivindicações políticas estabelecidas segundo determinados contex-
tos históricos, que veremos a seguir. 
A primeira onda feminista consolidou-se no final do século XIX até a 
quarta década do século XX. Esse período caracterizou-se pela expan-
são da industrialização, da urbanização e dos movimentos sindicalistas, 
que lutavam pela expansão da participação política. A principal pauta fe-
minista dessa fase girou em torno do caráter sufragista (ou do sufrágio 
universal), isto é, do direito de votar, eleger representantes mulheres e ter 
participação na vida política da sociedade. Essa fase questionou o papel 
de submissão das mulheres em relação aos homens, pois estavam res-
tritas à vida privada, aos cuidados com o lar e a família. Fez-se um mo-
vimento de dar voz às mulheres no que diz respeito ao espaço público.
A segunda onda feminista é iniciada na década de 1950, porém foi 
nas décadas de 1960 e 1970 que ganhou mais força. Nessa fase, as 
pautas políticas eram dadas pelas lutas relacionadas ao direito ao corpo 
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.e ao prazer e contra o patriarcado, ou seja, fazia-se oposição à condição 
de submissão das mulheres em relação aos homens nas esferas pública 
e privada. Surgiram questionamentos sobre as limitações das funções 
das mulheres na sociedade, sua objetificação e sexualização (sobretudo 
por meio da indústria da propaganda). As mulheres estavam relegadas 
a um papel reprodutivo e sexual, deviam subserviência a seus maridos e 
outros homens e viviam à mercê da violência praticada por estes. 
Na década de 1960, a pílula anticoncepcional foi vista como uma 
invenção revolucionária, pois concedia às mulheres o direito de querer 
ou não ser mãe, e quando. Essa geração é também conhecida como a 
do feminismo radical e promoveu reflexões e reivindicações políticas 
em torno do direito reprodutivo, da sexualidade e de políticas de saúde. 
Questionou, ainda, diferenças salariais e de postos no mercado de tra-
balho em relação aos homens. Foi um movimento que abrangeu princi-
palmente mulheres brancas de classe média e com acesso à educação, 
sobretudo à universidade. A pensadora norte-americana Angela Davis 
(1944-) foi pioneira ao questionar que, ao lado das desigualdades de 
gênero, deve-se problematizar a questão das mulheres negras, cujas 
ocupações sociais são inferiores (e por isso piores) em relação às das 
mulheres brancas. Além disso, a segunda onda, gradualmente, deu voz 
também às lutas do movimento de lésbicas contra o preconceito. 
A organização das lutas feministas na segunda onda buscou pro-
mover o empoderamento feminino por meio de movimentos coletivos 
que demonstravam que a condição de exploração das mulheres era um 
problema universal. Por isso, vislumbrava-se a necessidade de um mo-
vimento feminista unificado e universal contra o patriarcado, presente 
em todas as sociedades e suas instituições. 
Essas pautas foram introduzidas no mundo acadêmico, fomentando 
várias gerações de mulheres intelectuais que passaram a ganhar des-
taque na sociedade por observarem a importância da criação de uma 
epistemologia feminista, ou seja, um campo científico promovido por 
mulheres, a partir de suas críticas, com metodologias e vivências que 
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pudessem conceber uma visão que representasse um contraponto às 
visões machistas disseminadas na sociedade. 
Figura 1 – Símbolo do movimento feminista
Enquanto a segunda onda se caracterizou pelo entendimento da uni-
versalidade e crítica às estruturas, instituições e relações sociais ma-
chistas opressoras, enxergando a necessidade de um movimento femi-
nista coletivo, amplo e em todas as nações, a terceira onda rompeu com 
esses paradigmas. Isso porque sua origem remonta à década de 1990, 
ou seja, ao contexto de colapso da União Soviética, fim da Guerra de Fria 
e ascensão da globalização e do neoliberalismo. O maior acesso às tec-
nologias de informação produziu a fragmentação e diferenciação das 
pautas feministas, dissolvendo seu caráter padronizado em nome de 
narrativas que dão conta de descrições que desconstroem um sentido 
único e universal da categoria mulher como um sujeito único e coletivo. 
A terceira onda procurou demonstrar que nem todas as mulheres 
passam exatamente pelasmesmas opressões, pois estas variam con-
forme as condições de raça, religião, região, gênero e classe social, 
constituindo o que se designa como interseccionalidade. Esse con-
ceito emerge a fim de que mulheres possam analisar e criar distintas 
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.estratégias de luta contra formas variadas de opressão do patriarcado. 
Assim, as mulheres passaram a ser inseridas em novas e diversificadas 
militâncias, que atendem a necessidades específicas interseccionadas. 
Trata-se de reconhecer a variedade de identidades, de formas de ser e 
de experiências feministas. 
As críticas à terceira onda referem-se ao fato de que ela poderia criar 
a individualização, a separação e o enfraquecimento da luta das mulhe-
res; há também o risco de sua capitalização pelo mercado, quando, por 
exemplo, a imagem da mulher empoderada e batalhadora é emprega-
da como estratégia para a venda em massa de mercadorias. Contra o 
risco de dissipação das lutas feministas diante da fragmentação das 
pautas sobre as diferentes formas de ser mulher, criou-se o conceito de 
transversalismo, o qual considera que deve haver união dos diferentes 
movimentos, resguardando, contudo, suas particularidades. As políti-
cas transversais representam o diálogo e a compreensão entre as dife-
rentes condições em que as mulheres se encontram; visam combater 
problemas comuns: machismo, preconceitos e desigualdades.
NA PRÁTICA 
Pesquise em jornais, revistas e sites dados estatísticos que comparem 
a situação da mulher no Brasil e no resto do mundo (principalmente em 
outros países da América do Sul, na Europa, além dos Estados Unidos), 
considerando os seguintes elementos: 
• ocupação de cargos e profissões no mercado de trabalho; 
• comparação de faixas salariais de homens e mulheres; 
• índices de violência; 
• índices de escolaridade.
 
Há ainda o debate contemporâneo a respeito da existência ou não 
de uma quarta onda do feminismo. A terceira onda surgiu na década 
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de 1990, ao lado da globalização e do maior acesso à informação. No 
entanto, a quarta onda estaria mais relacionada à popularização das re-
des sociais, a partir da década de 2010, com os celulares smartphones 
conectados à internet e a possibilidade de produção de conteúdo nes-
sas redes por qualquer indivíduo. Isso teria posto fim ao monopólio de 
sindicatos, universidades e, por vezes, meios de comunicação tradicio-
nais (como TV, rádio, jornais e cinema) na divulgação dos diferentes pro-
blemas enfrentados pelas mulheres. No Chile, por exemplo, em 2019, 
mulheres organizadas nas redes sociais tomaram as ruas em diferentes 
cidades do país contra as práticas machistas. 
As redes democratizaram e deram voz às novas pautas, como tam-
bém permitiram crescentes denúncias à cultura do estupro, aos papéis 
secundários ocupados principalmente por mulheres negras nos meios 
de comunicação, aos abusos no mercado de trabalho e nas universi-
dades e ao silenciamento praticado por homens em atitudes como 
mansplaining (quando homens explicam elementos óbvios a uma mu-
lher) e manterrupting (interrupções bruscas e permanentes de homens 
quando as mulheres exercem a fala). Essa fase teria também como 
uma de suas características uma maior crítica (se comparada à tercei-
ra onda) à forma como os meios de comunicação têm incorporado o 
discurso feminista com a intenção de vender produtos, colocando em 
dúvida as reais intenções do mercado ao veicular pautas de gênero e 
progressistas em suas programações ou publicidades.
Ferreira e Aguinsky (2013) apresentam o histórico de conquistas so-
ciais LGBTQIA+. O movimento foi construído para reivindicar o direito 
e a aceitação da diversidade de identidades de gênero na sociedade, 
buscando a conquista da cidadania. Visa combater o preconceito e o 
discurso de ódio, materializados em atitudes sobretudo homofóbicas 
e transfóbicas. Outro elemento importante do movimento é ampliar a 
representatividade política e social (em empresas, universidades, mer-
cado de trabalho, meios de comunicação, etc.) desses segmentos. 
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.É importante ressaltar que, na cultura ocidental, houve diversas for-
mas de perseguição aos indivíduos que não correspondiam ao que hoje 
designamos como gêneros masculino e feminino. Na Idade Média, de-
vido a preceitos religiosos, era comum a condenação desses indivíduos 
à morte, geralmente na fogueira. Mesmo as sociedades capitalistas do 
século passado tendiam a reprimir comportamentos então considera-
dos pervertidos. Os segmentos denominados hoje como LGBTQIA+ ti-
nham seus comportamentos considerados como distúrbios, doenças 
mentais que deveriam passar por uma cura científica. 
Foucault (1985), no primeiro volume de A história da sexualidade, re-
flete sobre a passagem, a partir do século XIX, da condenação religiosa 
para os tratamentos médicos/científicos que procuravam corrigir o que 
se supunha serem comportamentos sexualmente indecentes. Médicos 
nazistas, ingleses, franceses e norte-americanos, para tanto, promoviam 
torturas, castrações químicas, estupros corretivos, lobotomias e trata-
mentos invasivos. Do ponto de vista jurídico, qualquer comportamento 
considerado pervertido era visto como crime, havendo condenações e 
prisões. Ainda hoje, em pleno século XXI no Ocidente, religiões conser-
vadoras e distantes do conhecimento científico sobre o tema condenam 
a homo, bi e transexualidade, considerando-as doenças ou incorporação 
de espíritos malignos. Países islâmicos radicais punem e matam. 
Além desse discurso de ódio e do genocídio do grupo LGBTQIA+, 
há ainda a segregação social e preconceitos. Sem acesso a estudos e 
bons postos profissionais, esses segmentos são submetidos à violência 
e sofrem com desigualdades econômicas e políticas, que geralmente 
os conduzem ao subemprego, às ruas, à prostituição e à criminalidade, 
sobretudo nos países mais pobres, como o Brasil, conforme veremos 
mais adiante.
No ano de 1969, ocorreu a primeira importante rebelião promovida 
por gays, lésbicas, travestis e drag queens pela conquista de direitos 
civis, conhecida como Rebelião de Stonewall, em Nova York. Além de 
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ter servido como inspiração para a criação do movimento, então co-
nhecido como LGBT, a rebelião se caracterizou por representar a opo-
sição ao preconceito e às arbitrariedades sofridas por esses indivídu-
os, amplamente difundidas na sociedade norte-americana (e que em 
certa medida permanecem até hoje em todo o mundo), principalmente 
na forma de violência policial, colocando esses segmentos em situa-
ções humilhantes e degradantes. A partir dessa rebelião, surgiram, nos 
Estados Unidos, três relevantes grupos: Gay LiberationFront (GLF), Gay 
Liberation Movement e Gay Activists Alliance (GAA), os quais deram vi-
sibilidade às suas lutas políticas. 
Como já mencionamos, a segunda onda do feminismo veio acompa-
nhada do fortalecimento do movimento de lésbicas entre as décadas de 
1960 e 1980, que acabou por promover pautas independentes. 
Figura 2 – Bandeira do movimento LGBTQIA+
A partir de então houve a disseminação de movimentos LGBTQIA+ 
pelo mundo. Em 1989, ocorreu, na Dinamarca, o primeiro casamento 
gay e, portanto, a concessão de direitos civis a esses grupos sociais. 
Depois disso, diferentes países europeus passaram a conceder direitos 
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.civis aos LGBTQIA+, como Holanda, Suécia, entre outros, contribuindo 
para que a presença e a inserção desses indivíduos na sociedade não 
fossem mais consideradas um tabu. 
As principais pautas que envolvem os diferentes movimentos ao re-
dor do mundo hoje são: criminalização da LGBTfobia; luta para que a 
medicina, a psicologia e o direito não considerem mais esses gêneros 
doenças ou crimes, eliminando o discurso de “cura” do vocabulário cien-
tífico; reconhecimento dos governos a respeito da identidade de gênero, 
permitindo legalmente que cada indivíduo escolha livremente a qual gê-
nero quer pertencer; Estado laico, direitos civis, políticos e econômicos 
(casamento, mercado de trabalho, organização de partidos e eleição de 
representantes, direito à herança, adoção de crianças e afins); e políticas 
educacionais de conscientização, respeito e combate ao preconceito.
PARA SABER MAIS 
O movimento LGBTQIA+ é representado pela bandeira com as cores do 
arco-íris. O símbolo foi criado em 1978 pelo artista norte-americano Gil-
bert Baker. 
 
3 Questões de gênero no Brasil
No Brasil, a primeira onda do feminismo se fez presente principal-
mente entre as décadas de 1930 e 1940, com as reivindicações para 
obtenção do sufrágio universal. Além disso, a educação para mulheres 
não era ampla ou pública no período, sendo restrita aos conventos, às 
poucas escolas privadas ou ao ensino particular residencial. Ainda as-
sim, a ênfase dessa educação escassa era nas atividades domésticas, a 
fim de que as mulheres fossem ensinadas a ser obedientes e úteis aos 
seus maridos. 
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As lutas feministas buscaram retirar as mulheres da esfera privada, 
conduzindo o movimento, no Brasil, à luta pela presença da mulher no 
mercado de trabalho, nas universidades e na política. Nesse período, 
destacou-se a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que foi 
criada em 1922 por Bertha Luz e veio a ter papel importante no ano de 
1932, no governo de Getúlio Vargas, para a consolidação do direito ao 
voto no país. Mulheres ligadas aos movimentos operários no período 
foram relevantes para denunciar a dominação masculina, alavancando 
o debate em torno do direito ao divórcio, da equiparação salarial, da se-
gurança no trabalho, das liberdades sexuais e da participação política. 
Apesar de o voto feminino ter sido liberado em 1932, havia restrições, 
pois apenas mulheres com renda própria poderiam votar, portanto, esta-
vam excluídas mulheres pobres e separadas. Em 1934, os direitos polí-
ticos das mulheres foram ampliados, sendo permitido o voto para todas 
acima de 18 anos.
A segunda onda do feminismo no Brasil, a partir da década de 1960, 
trouxe questões em torno do direito reprodutivo e da sexualidade da 
mulher. Havia o debate sobre as vestimentas femininas, num período 
em que até mulheres grávidas eram constrangidas caso expusessem 
suas barrigas em público. Contemporâneo à ditadura militar (1968-
1985), o movimento feminista do período opôs-se à opressão, censura 
e pobreza e contribuiu para a luta em nome do retorno da democracia e 
da anistia de presos políticos. 
A terceira onda no Brasil foi introduzida a partir da década de 1980 
e trouxe à tona problemas que relacionavam gênero feminino e raça 
(conceito utilizado no sentido cultural e político, não biológico, conforme 
vimos), evidenciando as condições às quais as mulheres negras estão 
submetidas no país, discutidas no capítulo anterior. O olhar estava vol-
tado para as especificidades da realidade da mulher brasileira, sobre-
tudo a negra, por meio do conceito de interseccionalidade, tornando o 
debate feminista no país menos dependente do norte-americano e eu-
ropeu. Fundamentava-se, no Brasil, o feminismo negro e a luta contra a 
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.discriminação racial. Passaram a ser debatidos o genocídio da popula-
ção negra, a condição de inferioridade política, econômica e social da 
mulher negra e pobre em relação às opressões cometidas por homens 
contra mulheres brancas e de classe média; surgem reflexões a res-
peito da solidão da mulher negra, sua sexualização pela mídia e pela 
mentalidade machista; é reivindicado o direito à representatividade e à 
visibilidade das mulheres negras na sociedade e nas instituições, como 
nas universidades.
Especula-se que a quarta onda do feminismo no país ocorreu com a 
popularização das redes sociais virtuais a partir da década de 2010. Os 
novos mecanismos digitais de comunicação permitiram denúncias e o 
combate contra assédios e violências (estupros, feminicídio e discrimi-
nações). Essas redes permitiram a expansão de debates em torno da 
liberdade sexual e o questionamento de padrões corporais impostos pe-
los meios de comunicação. Embora esses movimentos tenham surgido 
nas redes sociais, acabaram ganhando as ruas com protestos contra a 
submissão feminina. Em 2018, durante as eleições presidenciais, mul-
tidões de mulheres promoveram oposição às visões conservadoras e 
que se colocam contra o gênero feminino no país.
No que diz respeito ao movimento LGBTQIA+ no Brasil, a primeira 
conquista relevante ocorreu na década de 1980, quando o denominado 
Grupo Gay da Bahia condenou o termo “homossexualismo” (utilizado 
para relacionar a condição gay a uma doença), promovendo campanha 
nacional contra o uso da expressão, inclusive empregada e compreen-
dida como transtorno mental no Código de Saúde do Instituto Nacional 
de Assistência Médica da Previdência Social. O objetivo foi promover 
a despatologização da condição homossexual. Em 1985, o Conselho 
Federal de Medicina atendeu à reivindicação do movimento. 
É importante destacar o pioneirismo do Grupo Gay da Bahia quando 
observamos que a Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, 
apenas no ano de 1990 retirou a homossexualidade da lista de doenças 
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e distúrbios conhecidos, o que demonstra a revisão do perfil antes 
preconceituoso dessa instituição. Outro movimento relevante foi o do 
Grupo Triângulo Rosa, que obteve êxito ao exigir de autoridades, emle-
gislações, nos meios educacionais e de comunicação, o emprego do ter-
mo “orientação sexual”, e não mais “opção sexual” ou qualquer outro ad-
jetivo preconceituoso quando houver referências às causas de gênero.
Em 1997, a primeira Parada LGBT na cidade de São Paulo foi um 
marco que deu visibilidade à luta pela cidadania desses grupos. Reuniu 
milhares de pessoas e tem crescido a cada ano, destacando o combate 
ao preconceito e a necessidade de políticas inclusivas. A partir dela, no 
Brasil ganhou força o tema da união civil entre indivíduos do mesmo 
sexo. Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça passou a permitir que 
esses casais declarem em cartório a união civil estável. Hoje há amplo 
debate no Congresso, com alguns retrocessos, sobre a legalização des-
sa modalidade de matrimônio. 
No ano de 2018, foi concedido aos indivíduos transgêneros o direito 
de modificação do nome social junto aos registros civis. Em 2008, o 
SUS passou a oferecer o procedimento de redesignação sexual, mais 
conhecido como “mudança de sexo”. Embora pouco aplicada devido ao 
elevado conservadorismo no Brasil, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional), aprovada em 1996, prevê a educação para a igual-
dade racial, orientação e identidade de gênero. Infelizmente, o discurso 
LGBTfóbico é bastante difundido nas instituições e entre autoridades 
públicas, sendo comum também em lideranças religiosas antiprogres-
sistas, que tendem a perpetuar variadas formas de preconceitos contra 
essa população, sem que haja conhecimento científico e respeito.
Há ainda muitas conquistas a serem alcançadas, a começar pelo 
fim da violência e preconceito contra a população LGBTQIA+. Pesquisas 
apontam que a expectativa de vida da população transgênero no Brasil 
é uma das mais baixas do mundo. Ocorrem no país espancamentos 
e práticas de intolerância deliberadas pelo simples fato de não haver 
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.respeito à liberdade de expressão de gênero. No mercado de trabalho, 
nos meios acadêmicos e nos meios de comunicação, são raros os pro-
fissionais que têm liberdade para afirmar seu gênero, e a situação pio-
ra com os transgêneros, sendo boa parte marginalizada e sem acesso 
à cidadania. Diante desse cenário, têm ganhado destaque no Brasil os 
chamados mandatos coletivos, caracterizados quando um cargo legis-
lativo tem um ocupante eleito, porém é compartilhado com um grupo 
de cidadãos que apresenta bandeiras e lutas semelhantes. Dessa for-
ma, as decisões são tomadas e debatidas coletivamente e em nome de 
uma causa comum. Devido ao pequeno número de candidatos e políti-
cos que assumem a condição e a luta LGBTQIA+, nas últimas eleições 
tem crescido a eleição de candidatos com mandatos coletivos, a fim 
promover a representatividade política nas esferas públicas nacionais. 
PARA SABER MAIS 
Pesquise em jornais, revistas e sites dados estatísticos que analisem no 
Brasil, em relação à população LGBTQIA+: 
• taxas de mortalidade e expectativa de vida; 
• taxas de escolaridade e ocupação profissional; 
• taxas de ocupação em presídios; 
• políticas públicas em torno de questões como moradia e assistên-
cia médica.
 
Considerações finais
Estudamos, no primeiro tópico do capítulo, os conceitos de gênero e 
sexo e observamos as suas respectivas relações com outros dois con-
ceitos: cultura e natureza. A distinção desses termos nos permitiu verifi-
car que o gênero é resultado da autonomia da cultura sobre a natureza, 
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de forma que nem a sexualidade nem os gêneros são determinados 
biologicamente; são, na realidade, construções sociais e culturais que 
podem ser modificadas ao longo dos séculos, variam de indivíduo para 
indivíduo ou de sociedade para sociedade. Analisamos também o signi-
ficado da sigla LGBTQIA+. 
No segundo tópico, abordamos o histórico das principais lutas e con-
quistas que acompanharam as denominadas quatro ondas do feminis-
mo no mundo ocidental, desde o final do século XIX até o período que 
corresponde ao século XXI, e analisamos as conquistas políticas dos 
segmentos LGBTQIA+, cujas lutas e reivindicações tornaram-se mais 
efetivas principalmente a partir da segunda metade do século XX. Em 
seguida, no terceiro tópico, avaliamos como as questões de gênero fo-
ram construídas no Brasil, destacando os dilemas em nosso território e 
as conquistas que ainda precisam ser realizadas.
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