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Disputas pela memória e a história na América Latina os casos guatemalteco, salvadorenho e chileno

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HISTÓRIA DAHISTÓRIA DA
AMÉRICAAMÉRICA
INDEPENDENTE:INDEPENDENTE:
SÉCULOS XVIII E XIXSÉCULOS XVIII E XIX
UNIDADE 3 – ASUNIDADE 3 – AS
REVOLUÇÕES SOB OREVOLUÇÕES SOB O
COMANDO DOSCOMANDO DOS
CAUDILHOSCAUDILHOS
Autora: Julia Rany Campos UzunAutora: Julia Rany Campos Uzun
Revisor: Fabrício Augusto Souza GomesRevisor: Fabrício Augusto Souza Gomes
INICIAR
Introdução
Nesta unidade, você vai conhecer como se deram os processos de independência das
nações da América Central, que levaram algumas décadas a mais para se firmarem
como Estados independentes e soberanos. Você também vai desvendar o caso particular
do Haiti, a única colônia americana a se emancipar através de um movimento liderado
por escravos, mulatos e negros libertos, implantando uma república igualitária. Além
disso, vai estudar os processos de independência do Vice-Reino de Nova Granada e a
formação da Colômbia, da Venezuela e da Bolívia, conhecendo os projetos de Simón
Bolívar e dos demais revolucionários para a América. Por fim, você vai estudar duas das
principais revoluções latino-americanas do século XX: a Revolução Sandinista, na
Nicarágua, e a Revolução Guatemalteca.
3.1 As independências do istmo da América Central
Ao sul do México, desenvolveram-se os processos entendidos como a emancipação da
América Central. No ano de 1823, o italiano Vicente Filisola (que veio para a América a
pedido de Agustín de Iturbide) convocou um congresso cujo objetivo era tentar manter a
região sob o comando mexicano. No entanto, Filisola decidiu declarar a independência
da América Central, temendo que a região fosse retomada pelo exército espanhol. Dessa
forma, foi fundada a Federação das Províncias Unidas da América Central. A instituição
era composta dos atuais territórios da Guatemala, de El Salvador, da Nicarágua, de
Honduras e da Costa Rica. A Federação manteve-se até 1839, sendo extinta devido a
uma série de conflitos políticos iniciados com a ascensão do general Rafael Carrera, em
1838, abertamente conservador. A partir de então, a Federação fragmentou-se em
pequenas nações e Carrera se transformou no presidente da Guatemala, permanecendo
no poder até 1865 (RINKE, 2017).
Cada nação tomou um caminho diferente depois da independência. El Salvador passou a
compor a Federação Centro-Americana até 1839 e, depois, foi reconquistada pelos
espanhóis. A nação já havia passado por um processo de independência, em 1811, mas
apenas conseguiu sua emancipação em 1821, quando se tornou parte do território
mexicano – trocando de metrópole, em realidade. A partir de 1823, com a dissolução do
império mexicano, El Salvador se transformou em uma república presidencialista
(PRADO; PELLEGRINO, 2014).
A independência da Nicarágua, por sua vez, ocorreu em 1821. O País também compôs a
Federação das Províncias Unidas da América Central, mas as disputas internas entre as
elites, após 1839, transformou a região em um espaço de fortes instabilidades. Esse
processo deu origem a certas guerras civis, garantindo que, em 1856, o estadunidense
William Walker tomasse o poder, dando início a uma série de intervenções da Inglaterra e
dos Estados Unidos. No ano seguinte, Walker foi deposto pelo exército da América
Central. Três anos depois, em 1860, foi morto pelo governo de Honduras. O processo de
independência de Honduras ocorreu conjuntamente ao da Nicarágua, em 1821, e o País
também compôs a Federação até sua dissolução, em 1839, mas sua política foi
dominada por caudilhos no século XIX, que uniam a política, o populismo e o poder
militar (RINKE, 2017).
Na mesma região, os movimentos de emancipação da ilha de Cuba refletiram questões
semelhantes às que se manifestaram nos territórios vizinhos. As elites criollas locais
estavam muito insatisfeitas com as constantes cobranças metropolitanas e o monopólio
comercial travado com a Espanha. A relação entre a metrópole e a colônia vinha se
desgastando desde o século XVIII, de tal forma que os interesses entre a Espanha e os
colonos não poderiam mais ser conciliados. É importante destacar que Cuba era uma
capitania regional e possuía certa autonomia frente ao Vice-Reino da Nova Espanha. Em
1868, a partir de um conjunto de rebeliões das elites regionais lideradas por Carlos
Manuel de Céspedes, a ilha se tornou independente em um processo conhecido como
Grito de Yara (PRADO; PELLEGRINO, 2014).
O movimento emancipacionista cubano ficou conhecido como República de Armas,
conquistando as elites regionais e também o povo, recebendo o apoio dos Estados
Unidos, que apoiavam a independência. Os principais líderes do movimento cubano
foram Guillermón Moncada, Antonio Maceo, Máximo Gomes e José Martí, fazendo com
que a população da ilha batalhasse contra os exércitos espanhóis em um conflito que só
terminou com a intervenção dos Estados Unidos, trinta anos depois, em 1898, o que
aumentou ainda mais os confrontos contra a Espanha e levou à Guerra Hispano-
Americana – cujo resultado levou a Espanha a reconhecer a emancipação cubana, a
perder o território de Porto Rico e a independência das Filipinas (PROBST, 2016).
O processo de intervenção era uma clara expressão da Doutrina Monroe, com sua
máxima “A América para os americanos”, promulgada em 1823, que buscava uma
coalização americana sob o controle dos Estados Unidos (contra os interesses da
Europa), que ofereciam suporte para a independência das nações americanas, a fim de
garantir sua participação como mercados consumidores para os Estados Unidos, visto
que os monopólios comerciais terminavam. A independência de Porto Rico também
gerou vínculos diretos com os Estados Unidos por meio de acordos. Isso fez com que
Cuba e Porto Rico passassem a sofrer intervenções estadunidenses em suas questões
internas a partir de suas emancipações. Um dos grandes exemplos desse processo foi a
Emenda Constitucional Platt, que impedia que as duas nações gozassem de soberania
total, mantendo as duas nações sob as influências e os interesses estadunidenteses,
determinando sua economia agroexportadora até 1959, com a Revolução Cubana
(RINKE, 2017).
3.1.1 O caso do Haiti
O movimento de emancipação do Haiti foi um caso muito particular, visto que foi o único
iniciado por meio de uma revolta escrava. Por muitas décadas, a colônia de Santo
Domingo foi responsável pelo sustento dos luxos da França através da cultura
canavieira, com o emprego da mão de obra dos africanos escravizados, que eram
castigados com intensa brutalidade, as quais iam desde surras com chibata até a tortura,
a privação de alimentos e as sistemáticas mutilações. As condições de trabalho muito
ruins criaram um grande desejo de vingança cativa, dando origem a uma rebelião, no ano
de 1791, que transformou o movimento na única revolta liderada por escravos com
resultado vitorioso desde a Antiguidade Clássica (quando a revolta de Espártaco
conseguiu seus objetivos). Em 1804, treze anos depois, foi proclamada a independência
haitiana (JAMES, 2010).
Por volta do ano de 1770, o Haiti havia atingido o auge de sua produção açucareira,
exportando uma média de 35 mil toneladas anuais de açúcar bruto e de 25 mil toneladas
do açúcar branco. Os franceses brancos que compunham a elite eram um número
bastante reduzido, dominando o poder econômico, a cultura da cana e o tráfico de
escravos. Neste contexto, aportavam em Santo Domingo cerca de 10 mil africanos
escravizados a cada ano. Entre 1783 e 1789, a produção chegou a dobrar, fazendo com
que o contingente de cativos que chegassem à região ultrapassasse o número de 40 mil
ao ano, visto que todo o trabalho braçal ficava em suas mãos. Ainda no porto, estes
homens e mulheres recebiam uma marca com ferro em brasa, identificando seus
proprietários. Os maus-tratos que se seguiam originavam promessas de ataque dos
escravos, principalmente por meio das práticas noturnas de vodu, muito frequentes em
algumas religiões africanas (CHUST & FRASQUET, 2009).
Tal como ocorria no Brasil, também era possível encontrar quilombosno Haiti neste
período, simbolizando a resistência dos negros contra o sistema escravista. O mais
conhecido era o quilombo liderado por Mackland, vindo da região da Guiné, que
acreditava ser imortal graças aos poderes do vodu. Mackland possuía inúmeros
seguidores. No ano de 1758, ele planejou envenenar as águas das casas das elites
brancas da colônia, com o objetivo de libertar os cativos, mas foi delatado, capturado
pelos brancos e queimado vivo – em uma história que se tornou lenda entre os escravos
(JAMES, 2010).
Mesmo que os maus-tratos sofridos já fossem motivações suficientes para uma rebelião,
a entrada das ideias iluministas disseminadas especialmente pela Revolução Francesa,
em 1789, com seus ideais de igualdade, de liberdade e de fraternidade, transformou o
contexto colonial. Os burgueses começaram a lutar pelo fim da escravidão (incentivados
pela Inglaterra, que buscava novos mercados consumidores), ainda que esse processo
abalasse seus negócios. A partir da convocação dos Estados Gerais, durante o período
revolucionário francês, os latifundiários haitianos compuseram uma comissão para
garantir seus interesses, mas foram surpreendidos por um grupo de mulatos, que
também enviou uma delegação para compor a comissão da representação do Haiti na
França. A comissão desejava aumentar a participação dos haitianos nas decisões
políticas – pois, afinal, os ideais revolucionários não defendiam a igualdade? Esse seria o
momento de colocar esse princípio em prática (McFARLANE, 2006).
VOCÊ SABIA?
No Brasil, o prof. Marcos Piva coordena o podcast Brasil Latino, que traz um
panorama da formação do Haiti desde sua formação, apresentando todo o
processo de independência do País até suas questões atuais. Confira o
programa, cujo principal convidado foi o prof. Everaldo de Oliveira. Disponível em:
< https://jornal.usp.br/podcast/haiti-com-everaldo-de-oliveira-andrade/ >. Acesso
em 18 dez. 2020.
Durante seus debates, o Terceiro Estado francês definiu que as elites brancas haitianas
teriam que considerar os negros da colônia como indivíduos de direito. Neste período, foi
criada a Assembleia Nacional e a revolução foi iniciada na metrópole, o que uniu as
fortunas dos haitianos ao movimento revolucionário. Aos poucos, a independência de
Santo Domingo e a Revolução Francesa andaram de mãos dadas (JAMES, 2010).
O rei Luís XVI indicou a dissolução da Assembleia Nacional e os revolucionários
tomaram a Bastilha, o que acabou com o poder real na França. Já em 1790, foi composta
uma Assembleia Colonial, dividindo a sociedade do Haiti entre os latifundiários, os grupos
brancos pertencentes às camadas sociais mais baixas, os mulatos livres e os negros
escravizados. O debate tinha o tom bastante conservador. Em 1791, a Assembleia
https://jornal.usp.br/podcast/haiti-com-everaldo-de-oliveira-andrade/
Constituinte Francesa reafirmou a igualdade de direitos entre todos os homens, incluindo
os cativos, reconhecendo o direito dos negros haitianos, o que ampliou as tensões
revolucionárias em Santo Domingo. Cabe ressaltar que o regime escravista não acabou
de imediato, mas os cativos passaram a compreender a importância daquele contexto
para eles, ao mesmo tempo em que os grandes proprietários começaram a temer a
possibilidade dos ideais da Revolução, retomando a noção de mulatos e negros
simplesmente não poderiam ser considerados como pessoas comuns (CHAUNU, 1979).
As rebeliões de cativos e mulatos aumentaram em solo colonial. Ao norte, o capataz e
sacerdote de vodu Boukman passou a liderar uma grande revolta que incendiou os
canaviais, dizimou as elites brancas e tentou tomar toda a colônia, partindo da região de
Lê Cap. Era o início da Revolução Negra. Os escravos de toda a colônia se uniram à
Boukman, que faleceu no campo de batalha. A revolta ultrapassou o continente de 100
mil soldados voluntários, amadurecendo seus ideais e se tornando muito mais do que um
movimento de vingança contra as elites brancas, mas sim de independência e liberdade
colonial. Outra liderança de destaque foi Toussaint L’Ouverture, um escravo instruído e
que não havia sofrido castigos físicos, que se tornou responsável por formar um exército
suficientemente unificado para vencer as tropas europeias (CHUST & FRASQUET,
2009).
Como as elites brancas coloniais não se renderam ao exército negro, os franceses
enviaram um exército com seis mil homens e três comissários para fechar um acordo de
paz, ao mesmo tempo em que a França proclamava a República e declarava guerra à
Inglaterra. No ano de 1794, a França aboliu a escravidão em todos os seus territórios –
incluindo o Haiti. Sob a liderança de Touissant L’Ouverture, o exército negro conseguiu
expulsar os espanhóis e os ingleses do território haitiano, tornando-se o chefe efetivo do
Exército (McFARLANE, 2006).
Quando Napoleão Bonaparte se transformou no primeiro-cônsul, Santo Domingo
promulgou sua primeira Constituição, transformando-se em província autônoma.
Contudo, em 1802, Napoleão passou a encarar o território como um ponto estratégico
para sua política expansionista, enviando tropas para dominar a região sob o comando
do general LeClerc. Coube à L’Ouverture a reorganização do exército de ex-escravos,
que conseguiu vencer as tropas francesas. O chefe do Exército negro foi levado para a
França, sendo preso e morto (JAMES, 2010). As tropas permaneceram sob a liderança
do general Dessalines, levando a uma nova derrota francesa, o que garantiu a
independência do Haiti, em 1804. Com um saldo de mais de 200 mil mortes em cerca de
10 anos de conflitos, a Revolução Negra chegava ao fim. O movimento levou a uma
grande repercussão no Ocidente, representando a força dos negros em sua luta pela
autonomia e pela liberdade (McFARLANE, 2006).
Líderes da independência do Haiti
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Com o fim do processo de independência, a Espanha determinou que o Haiti devolvesse
a outra metade da ilha de Santo Domingo para a antiga metrópole – que havia sido
conquistada no movimento de emancipação. Depois de muitos conflitos e tratados, o
presidente Jean-Pierre Boyer reunificou o Haiti e conquistou novamente a parte
espanhola da ilha, em 1822. Alguns anos depois, em 1844, a parte espanhola da ilha
passou por uma revolta interna e se tornou independente do Haiti, compondo a
República Dominicana. Mesmo já tendo experimentado um processo de independência,
a República Dominicana apenas foi reconhecida como nação independente em 1844,
pois ela era uma colônia da Espanha, e não da França (como o Haiti). Seu movimento foi
liderado por Pedro Santana, Juan Pablo Duarte e Francisco del Rosario Sánchez. Em
1861, a República Dominicana foi novamente integrada à Espanha e, quatro anos
depois, a nação conseguiu novamente sua liberdade. Dessa forma, a ilha de Hispaniola
foi definitivamente dividida entre duas novas nações (RINKE, 2017).
Teste seus conhecimentos
Atividade não pontuada.
 Toussaint L’Ouverture Jean Jacques Dessalines
3.2 A independência da Grã-Colômbia e o papel de Simón
Bolívar
No período colonial, o território do Vice-Reino de Nova Granada era correspondente aos
atuais Panamá, Colômbia e a uma grande parcela do Equador. A independência dessa
região teve início em 20 de julho de 1810, com a criação de uma Junta de Governo na
cidade de Santa Fé, a capital do Vice-Reino. Ainda em 1808, Quito havia tentado compor
uma Junta de Governo anterior, liderada pelos criollos, mas esse movimento não teve
sucesso porque não foi apoiado pelas lideranças das proximidades, todas compostas por
chapetones, não conseguindo se manter e fazendo com que a independência do
Equador ainda demorasse alguns anos para se dar (BUSHNELL, 2001).
Neste contexto, formaram-se diversas Juntas de Governo na região onde hoje se localiza
a Colômbia, como aquelas de Cali, Socorro, Pamplona, Cartagena e, por último, de
Santa Fé, atualmente chamada de Bogotá. Os boatos acerca da composição destas
instituições rapidamentechegaram em todo o Vice-Reino, motivando a criação de novas
juntas nas diversas regiões. Contudo, as diversidades econômicas e as diferenças
culturais, além da dificuldade de comunicação característica da colônia, deram origem a
vários desentendimentos entre as elites criollas da região, a partir do momento em que
cada uma das novas Juntas de Governo buscava criar um novo tipo de regime específico
para a colônia, quando a independência fosse garantida (DEAS, 2001).
No ano de 1811, foram fundadas as Províncias Unidas de Nova Granada, com o objetivo
de oferecer alguma unidade política para tais Juntas governamentais. Porém, a cidade
de Santa Fé, que era a capital do Vice Reino, situava-se em uma área de acesso muito
difícil e decidiu não se juntar a essa proposta, dando origem ao Estado de
Cundinamarca. No ano seguinte, em 1812, a Cundinamarca e as Províncias Unidas
entraram em uma série de disputas, enquanto outras regiões do Vice-Reino decidiram
manter sua lealdade à Espanha. Este momento de lutas e de falta de união entre as
regiões do Vice-Reino de Nova Granada, que perdurou até 1816, ficou conhecido como a
“Pátria Boba” (DORATIOTO, 1994).
Nesse mesmo período, Simón Bolívar, que havia atuado no movimento de independência
da Venezuela, havia se refugiado no Vice-Reino de Nova Granada depois da vitória dos
chapetones naquela região. Bolívar tinha um grande ideal de criar um Estado de grandes
proporções na América Latina, capaz de unir Nova Granada à Venezuela, fortalecendo os
territórios e garantindo sua soberania. A partir de então, o general passou a liderar o
Exército das Províncias Unidas, garantindo a anexação do Estado da Cundinamarca no
final do ano de 1814 (RINKE, 2017).
Figura 1 – Selo comemorativo argentino do general Simón Bolívar. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 17/12/2020.
#PraCegoVer : Na figura, temos um selo com margens brancas
pontilhadas. Em azul, está escrito, na vertical, o nome “Simón
Bolívar” e a data “1783-1830” e, na horizontal, constam os dizeres
“República Argentina” e o valor do selo de 700 pesos. Com um
fundo avermelhado, o centro da imagem traz o busto de um homem
branco, com feições europeias e uniforme militar na cor azul, com
galões dourados. Ele é Simón Bolívar, o principal general
responsável pela independência das nações da América espanhola.
Contudo, dada a queda de Napoleão Bonaparte neste mesmo ano e o começo das
negociações para a realização do Congresso de Viena, o rei espanhol Fernando VII
começou a realizar uma ampla perseguição contra os liberais tanto em solo espanhol
como em suas colônias. Apenas no ano de 1815, 10 mil homens foram mandados para a
Venezuela, sob a liderança de Pablo Morillo, em busca de restaurar a ordem no território.
Na chegada deste Exército espanhol, os chapetones já haviam vencido Bolívar e tomado
o poder, liberando as tropas para seguirem em direção à Nova Granada, junto ao general
Santa Maria. Já no ano seguinte, o Vice-Reino de Nova Granada retornou ao domínio
espanhol. Após a tomada da Cundinamarca, Bolívar tinha partido para a Jamaica e,
depois, para o Haiti, mas, com a investida espanhola nos territórios americanos, ele
retornou para a Venezuela e, contando com o apoio britânico, dominou o porto de
Angostura e criou a sede de um novo governo independente na região (BUSHNELL,
2001).
Esta perseguição política realizada pelos espanhóis tanto na Venezuela quanto no Vice-
Reino de Nova Granada foi tão extensa que o governo bolivariano na região de
Angostura acabou sendo visto como uma possibilidade de libertação, de tal forma que as
elites criollas da região se tornaram aliadas de Simón Bolívar, contra o domínio espanhol.
Como estratégias de luta, os rebeldes começaram a fazer saques nos estabelecimentos
dos chapetones (inclusive em suas fazendas) e a lutar pelo fim da escravidão, o que
atraiu tanto os mestiços quanto os indígenas para o movimento (PRADO; PELLEGRINO,
2014).
Bolívar conseguiu unir colombianos e venezuelanos de vários grupos sociais, formando
um exército forte para combater a Espanha. No ano de 1819, foi criado o território da
Grã-Colômbia por meio do Congresso de Cucuta, contando com a anuência das duas
partes. A Grã-Colômbia formava-se através de um Estado único que juntava os territórios
da Venezuela e de Nova Granada. No dia 24 de junho de 1821, o Exército bolivariano
conseguiu finalmente derrotar os espanhóis, convocando uma Assembleia Constituinte
para a elaboração da primeira Constituição da Grã-Colômbia, fundando uma nação
presidida por Bolívar e sediada em Santa Fé, que a partir de então seria chamada de
Bogotá (DEAS, 2001).
No ano de 1822, na cidade de Guayaquil (atualmente situada no Equador), Simón Bolívar
se reuniu com o general argentino José de San Martín, responsável pelas
independências da Argentina, em 1816, e do Chile, em 1818. O encontro buscava discutir
as estratégias para a independência do Vice-Reino do Peru, o que ocorreu alguns anos
depois, em 1824. Ainda que os generais conhecidos como “Libertadores da América”
concordassem sobre a importância da emancipação colonial, eles criaram projetos muito
diferentes para as nações da América espanhola. De acordo com San Martín, a melhor
estratégia para a América era transformar as antigas colônias em monarquias chefiadas
por príncipes europeus, que seriam convidados para ocupar os postos em solo
americano. O objetivo de San Martín era impedir a ocorrência de guerras civis e tornar
mais fácil o reconhecimento dos processos de independência frente às nações
europeias. Bolívar, por sua vez, defendia a importância da implantação do regime
republicano nas novas nações, acreditando na importância da criação de um único
Estado federativo em toda América Latina, seguindo um modelo próximo ao que foi
implementado pelos Estados Unidos (RINKE, 2017).
Como os generais não conseguiram entrar em consenso, San Martín retornou para o
território argentino, enquanto Bolívar começou a preparar seu exército para a
independência do Peru. Em 1823, o Exército bolivariano tomou a cidade de Lima, até
então um importante núcleo espanhol e, com a companhia do general venezuelano
Antonio José de Sucre combateu as forças hispânicas, derrotando-as em 6 de agosto de
1824, na Batalha de Junin. Em 9 de dezembro do mesmo ano, o general Sucre
conseguiu dar fim ao último reduto hispânica na América do Sul, vencendo as tropas
espanholas na Batalha de Ayacucho com o auxílio de um exército enviado por Bolívar.
Em 6 de agosto de 1825, Sucre fundou a República da Bolívia – cujas terras, até então,
eram parte do Peru. O nome da nova nação era uma clara homenagem ao general
Bolívar. Em 1826, Simón Bolívar elaborou a primeira Constituição do País (que nunca foi
efetivamente usada), com bases no pensamento iluminista e nas teorias greco-romanas
(PRADO; PELLEGRINO, 2014).
Os libertadores americanos II
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Latina, sendo o primeiro a defender oficialmente a integração da
América espanhola e a lutar pela descolonização e contra as influências
externas no território. Foi um dos principais membros dos processos de
independência da América, lutando em diversos territórios. BuscouANTONIO JOSÉ DE SUCRE
Para resolver as questões da Grã-Colômbia, Simón Bolívar convocou, ainda em 1826, a
Primeira Assembleia Internacional de Estados Americanos, que ficou popularmente
conhecida como Primeiro Congresso do Panamá. A Assembleia buscava discutir o
modelo bolivariano para a América, baseado na união entre as repúblicas da América
espanhola em busca da garantia da soberania nacional – o panamericanismo. No
entanto, a reunião não teve o sucesso esperado pela pouca participação das nações
americanas (DORATIOTO, 1994).Em novembro de 1821, foi a vez do Panamá garantir
sua independência em relação à Espanha, unindo-se também ao território da Grã-
Colômbia. Em maio de 1822, Bolívar juntou-se ao general Antônio José de Sucre e,
auxiliados pelo exército deJosé de San Martín, esta grande tropa garantiu a anexação
do Equador à Grã-Colômbia. A Espanha manteve sua posição no Peru até 1826, quando
o exército bolivariano conseguiu vencer as tropas hispânicas, proclamando a
emancipação peruana. Ao voltar para Bogotá, Bolívar percebeu que a Grã-Colômbia se
encontrava em um movimento de desintegração, pois havia muitas dificuldades de
cooperação entre as suas diversas regiões devido às diferenças regionais e ao desejo de
poder político pelas elites criollas regionais (BUSHNELL, 2001).
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Projeto de Simón Bolívar Projeto de José de San Martín
Projeto de José Martí
unificar as nações latino-americanas através do panamericanismo;
ANTONIO JOSÉ DE SUCRE
Foi um importante militar e estadista no processo de independência da
América espanhola. Participou ativamente dos movimentos de
emancipação do Equador, da Grã-Colômbia e do Alto Peru, que passou
a ser conhecido como Bolívia, onde foi presidente.
3.3 A Revolução Guatemalteca e a contrarrevolução
O desenvolvimento das rivalidades entre a União Soviética e os Estados Unidos, após a
Segunda Guerra Mundial, fez com que algumas nações da América Latina tivessem suas
soberanias e suas democracias abaladas. Um dos principais exemplos desse movimento
foi a Guatemala. Neste contexto pós-Segunda Guerra, o País sofreu uma onda de
manifestações encabeçadas por professores, estudantes, pela classe média nascente e
por militares que desejavam as reformas no País. Estes movimentos levaram à
deposição do governo de Jorge Ubico y Castañeda, ditador que havia governado a nação
entre os anos de 1931 e 1944, dando início ao que ficou conhecido como os dez anos de
“primavera guatemalteca” (GRANDIN, 2004).
Buscando evitar a completa separação da Grã-Colômbia, Bolívar criou um governo mais
centralizado, diminuindo uma parcela da autonomia das administrações regionais. Em 27
de agosto de 1828, o general se autodenominou como presidente vitalício – ou seja,
como ditador –, acabando com o cargo de vice-presidente. Em 25 de setembro do
mesmo ano, sofreu uma tentativa de assassinato, conhecida como “conspiração
setembrina”, mas conseguiu escapar graças ao auxílio de Manuela Sáenz, uma
importante revolucionária colombiana com quem ele teve um romance. Ainda que ele
tenha pretendido perdoar os autores, Bolívar acabou decidindo enviá-los para um
julgamento marcial, que os condenou ao fuzilamento. No entanto, a experiência afetou
duramente sua saúde: com o agravamento dos problemas políticos, Bolívar sofreu uma
grave tuberculose e renunciou ao cargo, buscando exilar-se na França, mas faleceu em
17 de dezembro de 1830, na Colômbia, pedindo para que todos os seus escritos fossem
queimados. A morte de Bolívar ocorreu antes da completa desintegração de seu sonho.
Em 1831, foi fundada a República de Nova Granada, que passou a chamar-se Colômbia
em 1886 (RINKE, 2017).
Teste seus conhecimentos
Atividade não pontuada.
A Revolução Guatemalteca teve início em 1944, garantindo uma série de reformas
econômicas, políticas e o desenvolvimento de várias liberdades individuais no País. A
primeira fase deste período revolucionário é também conhecida como Revolução de
Outubro. As medidas definidas neste primeiro momento foram aplicadas por dois chefes
de Estado eleitos de forma democrática: Juan José Arévalo, que governou a Guatemala
entre 1945 e 1950, e Jacobo Arbenz Guzmán, que permaneceu no poder entre 1951 e
1954. O objetivo central destes governos era a promoção da classe média e a adoção de
um Estado intervencionista capaz de modernizar a Guatemala, de tal forma que a
reforma agrária e a reforma trabalhista se tornaram questões de primeira ordem,
entendidas como um investimento nas relações de produção, a partir do momento em
que as condições anteriores de trabalho limitavam as ações das burguesias regionais.
Tais reformas se mostraram fundamentais para construir um Estado ativista e
cristalizado, refletindo a ideologia etapista presente no pensamento comunista latino-
americano, que entendia a necessidade destas mudanças para que a transição para a
modernização capitalista fosse realizada (GUERRA-BORGES, 1993).
Ainda que tenha conseguido respeito em sua região e tenha alcançado importantes
conquistas econômicas e políticas, como a efetivação da reforma agrária na Guatemala,
o mandato democrático de Arbenz foi derrubado no ano de 1954 por grupos opositores
regionais, que contavam com o apoio dos Estados Unidos e viam no processo
revolucionário uma ameaça comunista. Contudo, a influência das vitórias da Revolução
de Outubro permaneceu na Guatemala entre os grupos populares, criando várias
gerações de revolucionários e ativistas no País (CERVO, 2013).
No mês de julho de 1954, a Guatemala viveu uma contrarrevolução a partir da união de
três importantes instituições: a Igreja Católica, o Comitê de Estudantes Anticomunistas
Universitários (CEAU) e Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA. Em
1947, a CIA havia iniciado suas atividades na Guatemala, criando uma campanha
batizada como PBSUCESS, sendo até então a operação secreta mais ambiciosa da
agência, servindo como modelo para futuras campanhas com o objetivo de diminuir
qualquer tipo de influência comunista no País. A Igreja Católica, por sua vez, queria
restaurar sua autoridade no País, tendo como principal líder o arcebispo Mariano Rossell
y Arellano. A instituição investia contra o governo desde os anos de 1930, mas com a
adoção de programas sociais as investidas se tornaram mais intensas, pois a Igreja via
nesses programas uma ação comunista. Assim, a instituição se juntou aos latifundiários,
buscando acabar com a “ditadura agrária” da Guatemala (GRANDIN, 2004) mesmo com
a oposição ao presidente e com o anticomunismo, a Igreja Católica tinha influência
política limitada no País.
Os estudantes universitários, por sua vez, passaram a ser cooptados pela CIA,
especialmente aqueles que compunham famílias de fazendeiros. Nesse contexto, o
movimento estudantil, através do CEAU, buscava fragilizar o governo com protestos e
manifestações, criando panfletos e jornais que conscientizassem a população da ameaça
comunista que o governo representava. Além disso, o grande plano da CIA tinha várias
estratégias para aumentar o anticomunismo no País e intensificar o sentimento contrário
ao governo, seja através do desenvolvimento de confusões ou pela invenção de
desconfianças e suspeitas (TULCHIN, 2016).
Com o golpe de Estado desencadeado em 1954, com a contrarrevolução, surgem
guerrilhas que tentam derrubar os governos instaurados com o apoio dos Estados
Unidos. Estas guerrilhas inspiraram-se na Revolução Cubana, principalmente (AYERBE,
2004). Na metade da década de 1960, o governo guatemalteco criou grupos
paramilitares e esquadrões da morte que buscavam reprimir de forma muito intensa
qualquer suspeito de apoiar as guerrilhas, sendo as linhas iniciais contra os rebeldes.
Esse contexto foi marcado pela ampliação da intervenção da CIA, que financiou o
treinamento do exército do País e desenvolveu listagens daqueles que eram
considerados como subversivos. Uma das principais ações, conhecidas como “operação
limpeza”, uniu a Polícia Nacional, a Polícia Judiciária e o Exército da Guatemala, com o
apoio da CIA, para fortalecer a inteligência do País, lançando o primeiro passo para a
repressão oficial do Estado, que culminou com cerca de 200 mil mortes e incontáveis
casos de tortura, ao final do processo (FERREIRA; MERCHER, 2015).
Com o intenso ataque governamental na Guatemala, as esquerdas se transformaram
intensamente entre as décadas de 1960 e 1970, abandonando apenas o viés da classe e
do desenvolvimento econômico para se focar em uma crítica ao racismo, passando
também a reconhecer no homem do campo um importante agente da revolução. Esse
processo se deu de forma concomitante à adoção da teologia da libertação pela Igreja
Católica, que passou a olharos camponeses de forma crítica. O País passou a
desenvolver novas guerrilhas rurais, organizando o Comitê de Unidade Camponesa.
Entre os anos de 1970 e 1980, a oligarquia e o Exército começaram a demonstrar sua
insatisfação com a ineficiência, com a corrupção e com a violência do governo dos
García, enquanto as guerrilhas enfraqueciam a ação do presidente (CERVO, 2013).
Em 1982, Efraín Ríos Montt assumiu a presidência da Guatemala, adotando um discurso
favorável aos direitos humanos, ainda que mantivesse a perseguição aos comunistas e
aos guerrilheiros. De acordo com Grandin, ainda que a Guatemala tivesse alcançado um
regime de democracia representativa, ela deveria ser encarada mais como uma derrota
das visões de emancipação das políticas populares implantadas no período
revolucionário do que como uma realização. Segundo o autor, a democracia na América
Latina, especialmente no caso guatemalteco, “(...) pelo menos o seu conteúdo mais
igualitário, tem sido perseguida incansavelmente – e tem sido caçada, dominada e
derrotada” (GRANDIN, 2004).
A revolução e a contrarrevolução na Guatemala
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3.4 A Revolução Sandinista na Nicarágua
Na década de 1920, o revolucionário Augusto César Sandino comandou uma revolta
contra a ocupação dos fuzileiros navais dos Estados Unidos sobre a Nicarágua, dando
início ao movimento conhecido como Revolução Sandinista. O movimento defendia a
soberania nicaraguense e lutava pela distribuição de riquezas e de terras entre a
1931 a 1944 – Governo de Jorge Ubico
Outubro de 1944 – Revolução de Outubro
1945 a 1954 – Governos de Juan José Arévalo e Jacobo Arbenz Guzmán
1954 – Golpe de Estado/Contrarrevolução
Décadas de 1960 e 1970 – Aumento da perseguição
população do País. No ano de 1930, os Estados Unidos já haviam conseguido treinar e
compor um exército de segurança na Nicarágua, conhecido como a Guarda Nacional
(TULCHIN, 2016). Três anos depois, os militares estadunidenses deixaram o País, mas a
Guarda Nacional permaneceu na Nicarágua, com a pretensão de manter a ordem na
nova nação, perseguindo os rebeldes que se aliavam ao movimento sandinista. A ação
da Guarda Nacional levou ao assassinato de Sandino, no ano de 1934, mas sua morte
não calou o movimento, fazendo com que os rebeldes lutassem de modo ainda mais
intenso, ainda que os ataques da Guarda Nacional continuassem (FERREIRA;
MERCHER, 2015).
VOCÊ QUER LER?
O artigo abaixo traz um panorama acerca do processo de desenvolvimento da
Revolução Sandinista na Nicarágua desde a formação do pensamento
revolucionário, na década de 1920, até a queda da família Somoza, nos anos de
1970. Para saber mais, leia o artigo “A Revolução Sandinista” de Lima e
Ahumada.
No ano de 1936, a Nicarágua sofreu um golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos.
Anastasio Somoza García assumiu o poder, dando início a um governo ditatorial que
durou até seu assassinato pelo poeta Rigoberto López Pérez, 20 anos depois. Contudo,
a morte de Anastasio Somoza não acabou com a ditadura nicaraguense: seu filho, Luis
Somoza, tomou o poder, dando continuidade ao governo militar e “familiar”. No entanto, o
assassinato de Anastasio Somoza se tornou um marco para a retomada das rebeliões
contra a ditadura – que haviam sido suprimidas com a morte de Sandino, vinte e dois
anos antes. Em junho de 1959, no território de Honduras, a guerrilha liderada por Rafael
Sommariba (conhecida como Rigoberto López Pérez) foi destruída pelo governo local em
uma ação conjunta com o Serviço de Inteligência da Guarda Nacional da Nicarágua, que
faz fronteira com o território hondurenho. Após este episódio, conhecido como El
Chaparral, diversas revoltas eclodiram na região (TULCHIN, 2016).
Com o retorno das rebeliões, novas investidas armadas sandinistas entraram em cena.
Enquanto os sindicatos se desenvolviam no País, surgia também a JPN (Juventude
Patriótica Nicaraguense), composta principalmente por entidades estudantis. A
insatisfação com o governo da família Somoza crescia no País. Durante a década de
1960, desenvolveu-se a FNN (Frente de Libertação Nacional da Nicarágua), sob a
influência da Revolução Cubana, que anos depois passou a ser conhecida como FSLN
(Frente Sandinista de Libertação Nacional), cujos bastiões eram a luta armada contra o
imperialismo norte-americano e o fim da exploração da população do País. O grupo
recebeu o apoio das grandes massas populares e também de parcelas importantes da
Igreja Progressista, incluindo sua participação na luta armada (CERVO, 2013).
A Frente Sandinista de Libertação Nacional se transformou em uma importante fonte
ideológica e política, na Nicarágua, para garantir as transformações daquele País,
desenvolvendo estruturas paramilitares clandestinas e conseguindo travar contato direto
com a população. Contando com grande organização interna, a FSLN desenvolveu a
Frente Estudantil Revolucionária e Comitês Cívicos Populares, além de diversas
estratégias de comunicação com a população do País. Em 1975, a organização foi
dividida em três tendências: a primeira, conhecida como “proletária”, se direcionava para
as classes operárias, consideradas como a principal força na revolução; a segunda
discutia as teorias militares e políticas maoístas com base nas ideias de Sandino, sendo
chamada de Guerra Popular Prolongada; e a última abria o diálogo para o povo e tentava
recrutar as pessoas comuns para a luta armada, sendo chamada de Tendência
Inssurrecional, sob o comando dos irmãos Ortega Saavedra (FERREIRA; MERCHER,
2015).
Depois de três anos de atividade, estas frentes do movimento sandinista se unificaram,
ao mesmo tempo em que o governo da família Somoza perdia suas forças. O auge do
desgaste se deu em 1978, a partir do assassinato de Pedro Chamorro, o principal
jornalista de oposição ao governo, membro do periódico La Prensa. A questão teve
grande repercussão em toda a Nicarágua e também internacionalmente, fazendo com
que os Estados Unidos se vissem obrigados a deixar de apoiar o regime. No ano
seguinte, o governo dos Somoza chegava ao fim na Nicarágua, após grande
deterioração frente à opinião pública. Os membros do movimento sandinista criaram uma
junta provisória de governo, com o apoio de Violeta Chamorro, viúva do jornalista.
Apenas em 1984, a Nicarágua teve sua primeira eleição livre, alçando Daniel Ortega, ex-
guerrilheiro e grande liderança da FSLN, à presidência. Ele governou entre 1985 e 1990
e foi eleito novamente em 2006, em 2011 e em 2016, sendo o atual presidente do País
(visto que a Constituição da Nicarágua não determina um limite de mandatos) (CERVO,
2013).
A Revolução Sandinista na Nicarágua
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Síntese
Década de 1920 – Início da Revolução Sandinista
1934 – EUA deixa a Nicarágua
1934 – Sandino é assassinado
1936 – Golpe de Estado na Nicarágua
1956 – Assassinato de Anastasio Somoza
1959 – Supressão de El Chaparral
Década de 1960 – Criação da Juventude Patriótica Nicaraguense e da
Frente Sandinista de Libertação Nacional
1975 – Divisão da FSLN
1978 – Reunificação da FSLN
1984 – Primeira eleição livre
Nesta unidade, foi estudado o processo de independência no território hoje conhecido
como América Central, especialmente os casos das nações que compuseram a
Federação das Províncias Unidas. Também foi conhecido o caso específico do Haiti, a
única nação cuja independência esteve ligada à ação dos escravos, dos mulatos e dos
negros livres, implantando-se uma república sem escravidão. Além disso, foi investigado
o processo de emancipação do Vice-Reino de Nova Granada e os projetos para a
América espanhola de Bolívar, San Martín e de José Martí. Já no século XX, foram
conhecidos dois grandes movimentos sociais importantes na América Latina, envolvendo
as tentativas de intervenção dos Estados Unidos: a Revolução Guatemalteca (e sua
contrarrevolução) e a Revolução Sandinista, na Nicarágua.
SAIBA MAIS
Título : Simón Bolívare o congresso do Panamá: o primeiro
integracionismo latino-americano
Autores : Alexandre Ganan de Brites Figueiredo e Márcio Bobik Braga
Ano : 2017
Comentário : O artigo aprofunda o desenvolvimento do Primeiro
Congresso do Panamá, ocorrido em 1826, apresentando o projeto de
Simón Bolívar para a América independente e justificando o porquê de
seu fracasso.
Onde encontrar : Passagens - Revista Internacional de História Política
e Cultura Jurídica, Rio de Janeiro. v. 09, n. 02, p. 308-329, mai./ago.,
2017. Disponível em: <
https://www.redalyc.org/pdf/3373/337351121008.pdf >. Acesso em: 26 out.
2020.
https://www.redalyc.org/pdf/3373/337351121008.pdf
Título : Capítulo: movimentos internos e caminhos futuros em História
política comparada da América Latina .
Autor : Leonardo Mércher
Editora : Intersaberes
Ano : 2015
Comentário : O capítulo trata dos principais movimentos sociais e
políticos da América Latina no século XX, desde as revoluções de começo
de século, passando pelos governos populistas e pelas ditaduras militares
até a integração do continente.
Onde encontrar: Biblioteca Virtual da Laureate
Título : Disputas pela memória e a história na América Latina: os casos
guatemalteco, salvadorenho e chileno
Autora : Marcela Cristina Quinteros
Ano : 2017
Comentário : O artigo trata sobre a construção da memória na América
Latina em três casos específicos após momentos de guerra: na
Guatemala, em El Salvador e no Chile, indicando como a história é
construída.
Onde encontrar? Diálogos , Maringá. v. 20, n. 02, p. 02-12, 17 dez.
2017. Disponível em: <
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/view/34581/pdf >
Acesso em 26 out 2020.
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/view/34581/pdf
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São Paulo: Saraiva, 2013.
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FERREIRA, A. P. L.; MERCHER, L. História política comparada da América Latina .
Curitiba: Intersaberes, 2015.
FIGUEIREDO, A. G. B.; BRAGA, M. B. Simón Bolívar e o congresso do Panamá: o
primeiro integracionismo latino-americano. Passagens- Revista Internacional de
História Política e Cultura Jurídica , Rio de Janeiro. v. 09, n. 02, p. 308-329, mai/ago,
2017. Disponível em: < https://www.redalyc.org/pdf/3373/337351121008.pdf >. Acesso
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Historia general de Centroamérica : de la posguerra a la crisis. Costa Rica: FLACSO,
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https://seer.ufrgs.br/RevistaPerspectiva/article/view/80170/47836 >. Acesso em: 18 dez.
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https://jornal.usp.br/podcast/haiti-com-everaldo-de-oliveira-andrade/ >. Acesso em: 18
dez. 2020.
https://seer.ufrgs.br/RevistaPerspectiva/article/view/80170/47836
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/view/34581/pdf
https://jornal.usp.br/podcast/haiti-com-everaldo-de-oliveira-andrade/

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