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Disputas pela memória e a história na América Latina os casos guatemalteco, salvadorenho e chileno

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HISTÓRIA	DA	AMÉRICA	INDEPENDENTE:
SÉCULOS	XVIII	E	XIX
CAPI�TULO	4	–	REVOLUÇA�O	CUBANA,
GUATEMALTECA	E	COLOMBIANA:	QUAIS	OS
IMPACTOS	DESSAS	REVOLUÇO� ES	PARA	O
CONTEXTO	DE	GLOBALIZAÇA�O?
Maıŕa	Pires	Andrade
Introdução
O	perı́odo	que	compreende	o	�im	da	Segunda	Guerra	Mundial,	a	Guerra	Fria	e	a	ascensão	das	superpotências	dos
Estados	 Unidos	 e	 União	 Soviética,	 causou	 impacto	 em	 todas	 as	 partes	 do	 mundo,	 inclusive	 na	 América.	 Os
Estados	Unidos,	 com	 seu	 grande	 poder	 econômico,	 polı́tico	 e	 bélico	 intervêm	 na	 polı́tica	 de	 diversas	 nações
americanas,	como	o	caso	de	Cuba	e	da	Guatemala.	Ao	mesmo	tempo,	é	nesse	perı́odo	que	veremos	a	in�luência
das	ideias	marxistas,	construı́das	no	século	XIX,	que	impulsionam	e	con�iguram	inúmeros	movimentos	que	dão
origem	a	lı́deres	e	heróis	revolucionários.
Na	 Revolução	 Cubana,	 houve	 uma	 contraposição	 das	 ideias	 socialistas	 aos	 avanços	 dos	 Estados	 Unidos,	 que
explorava	a	ilha	de	Cuba	e	interferia	em	sua	polı́tica	para	seus	negócios	lucrativos.	Em	reação	a	isto,	Fidel	Castro
e	Ernesto	Che	Guevara	mobilizam	guerrilhas	contra	a	ditadura	em	Cuba,	como	uma	forma	de	depor	a	ação	dos
Estados	 Unidos.	 Para	 entender	 esse	 movimento,	 precisamos	 nos	 questionar:	 quais	 foram	 as	 ideias	 de	 Fidel
Castro?	Como	o	socialismo	in�luenciou	a	Revolução	Cubana?	Qual	foi	o	papel	de	Che	Guevara?
Nesse	 contexto,	 temos	 a	 Revolução	 Guatemalteca,	 também	 marcada	 pela	 intervenção	 dos	 Estados	 Unidos	 e
também	pela	in�luência	das	ideias	da	Revolução	Cubana.
Vamos	acompanhar	este	conteúdo	com	atenção.	Bons	estudos!	
4.1 Revolução Guatemalteca
A	Revolução	Guatemalteca	ocorreu	na	Guatemala	no	perı́odo	entre	1944	e	1954,	mas	desencadeou	uma	guerra
civil	que	se	estendeu	até	1996.	Tudo	começou	com	uma	revolta	popular	para	derrubar	a	ditadura	de	Jorge	Ubico
e	em	1954,	com	a	intervenção	dos	Estados	Unidos,	um	golpe	de	estado	derruba	o	presidente	Jacobo	A� rbenz.	Para
compreender	 essa	 revolução	 é	 fundamental	 analisar	 as	 in�luências	 das	 ideias	 da	 Revolução	 Cubana	 e	 as
intervenções	da	CIA	na	polı́tica	e	na	economia	da	Guatemala.
4.1.1 O contexto da Revolução Guatemalteca
O	�inal	da	Segunda	Guerra	Mundial	fez-se	sentir	na	América	Latina,	provocando	impactos	como	a	introdução	de
governos	democráticos.	No	perı́odo	da	Guerra	Fria,	com	a	bipolarização	do	mundo	entre	a	potência	dos	Estados
Unidos	 e	 da	 União	 Soviética,	 algumas	 nações	 latino-americanas	 assistiram	 a	 uma	 perda	 de	 sua	 democracia,
como	o	caso	da	Guatemala.	Vamos	conhecer	mais	sobre	esse	contexto	na	Guatemala	clicando	a	seguir.	
Sob	 a	 conjuntura	 da	 bipolarização	 do	 mundo	 entre	 as	 potências	 capitalistas	 e	 as	 socialista
somada	 à	 perseguição	 dos	 comunistas,	 as	 ações	 do	 senador	 Joseph	 Raymond	 McCarth
entraram	em	cena.
Ele	implementou	nos	Estados	Unidos,	por	meio	de	discursos	e	de	leis,	a	criação	de	comitês	q
tratavam	 de	 de�inir	 penalidade	 àqueles	 que	 eram	 contrários	 às	 práticas	 estadunidenses.	 N
entanto,	 isso	se	revelou	como	um	grande	combate	e	perseguição	aos	comunistas,	polı́tica	es
que	�icou	conhecida	como	macarthismo	(PEREIRA	JUNIOR,	2016).
Nesse	contexto,	surgem	inúmeros	protestos	populares	na	Guatemala,	 liderados	por	estudante
professores,	classe	média	e	militares,	que	derrubam	o	governo	do	ditador	Jorge	Ubico	em	194
iniciando	o	perı́odo	chamado	de	“dez	anos	de	primavera”.
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Esta	 foi	 a	 chamada	 Revolução	 de	 Outubro,	 iniciada	 em	 1944,	 e	 que	 terá	 como	 �inalidade
garantia	 de	 liberdade	 e	 de	 reformas	 polı́ticas.	 Este	 episódio	 garantiu	 a	 ascensão	 de	 Juan	 Jo
Arévalo	à	presidência,	por	meio	de	eleições	democráticas	(PRADO;	PELLEGRINO,	2014;	RINK
2017).
O	 governo	 de	 Arévalo	 se	 consolidou	 com	 a	 introdução	 de	 um	 sistema	 multipartidário	 e
formação	de	sindicatos	de	trabalhadores.
Nos	 primeiros	 anos	 de	 seu	 governo,	 ainda	 existiam	 determinadas	 restrições	 como:	 o	 partid
comunista	 permanecia	 na	 ilegalidade,	 o	 que	 só	 se	 modi�ica	 no	 governo	 de	 Jacobo	 Arbe
Guzmán;	 o	 sindicalismo	 só	 existia	 com	 limitações	 e	 a	 distribuição	 de	 terras	 era	 ainda	mui
desigual,	sem	projetos	de	mudanças.
Em	seu	governo,	Arévalo	cria	leis	de	proteção	social,	implementadas	a	partir	de	1947,	e	voltad
para	o	Código	do	Trabalho,	sobre	a	organização	de	sindicatos	e	o	direito	à	greve.
Essas	 dimensões	 impactam	 nas	 ambições	 estadunidenses,	 sobretudo	 na	 sua	 empresa	 Unit
Fruit	 Company,	 que	 tinha	 posse	 de	 grandes	 extensões	 territoriais	 com	 muitos	 trabalhador
(PRADO;	PELLEGRINO,	2014;	RINKE,	2017).
Já	com	o	inı́cio	das	articulações	de	oposição,	Jacobo	Arbenz	é	eleito	democraticamente	e	assume	a	presidência
com	 o	 desı́gnio	 de	 dar	 continuidade	 à	 revolução	 democrática	 na	 Guatemala.	 A	 partir	 de	 1952,	 ele	 coloca	 em
prática	 o	 processo	 de	 reforma	 agrária,	 ajudando	 milhares	 de	 camponeses	 e	 atrapalhando	 os	 interesses	 das
oligarquias	locais,	dos	EUA	e	também	da	Igreja	Católica	(PEREIRA	JUNIOR,	2016).
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VOCÊ QUER LER?
O	 romance	 “Cem	 Anos	 de	 Solidão”	 de	 Gabriel	 Garcıá	 Márquez	 (1967)	 aborda	 as
narrativas	relativas	à	identidade	da	América	Latina	sob	o	viés	da	submissão	às	polıt́icas
intervencionistas	 dos	 Estados	 Unidos,	 que	 serão	 representadas	 pela	 empresa
Companhia	Bananeira,	que	terá	como	in�luência	a	empresa	United	Fruit	Company.
Os	governos	de	Juan	José	Arévalo	e	de	Jacobo	Arbens	Guzmán,	eleitos	democraticamente,	no	perı́odo	seguinte,
focaram	no	fortalecimento	da	classe	média,	viés	da	intervenção	do	Estado,	e	as	reformas	trabalhistas	e	agrárias
eram	 compreendidas	 como	 um	 modo	 de	 modernizar	 a	 Guatemala	 e	 levar	 o	 paı́s	 a	 uma	 transição	 para	 o
capitalismo.	 Apesar	 das	 conquistas,	 o	 governo	 de	 Arbenz	 é	 deposto	 em	 1954,	 pelos	 seus	 opositores	 da
Guatemala	e	com	o	apoio	dos	Estados	Unidos	(PEREIRA	JUNIOR,	2016).
E� 	 importante	 ressaltar	 que	 a	 Revolução	 de	 Outubro	 deixou	 relevantes	 heranças	 para	 a	 Guatemala,	 como	 a
formação	de	diversas	gerações	de	revolucionários	e	militantes,	dando	origem	à	chamada	contrarrevolução,	em
1945.	A	contrarrevolução	se	origina	a	partir	do	embate	entre	a	Central	Intelligence	Agency	(CIA),	a	Igreja	Católica
e	o	Comitê	de	Estudantes	Anticomunistas	Universitários	 (CEAU).	E� 	neste	momento	que	os	Estados	Unidos,	na
representação	da	CIA	intervêm	na	Guatemala,	em	1947.	
A	 postura	 da	 Igreja	 pode	 ser	 representada	 pelo	 arcebispo	 Mariano	 Rossell	 y	 Arellano,	 que	 era	 contrário	 ao
governo	 de	 Arbenz,	 sobretudo,	 após	 a	 adesão	 às	 medidas	 sociais	 e	 à	 reforma	 agrária.	 Essas	 medidas
desagradaram	os	latifundiários	e	a	Igreja,	que	se	uniram	na	intenção	de	reestabelecer	o	poder	polı́tico	da	Igreja
Católica.	O	terceiro	elemento	foi	a	atuação	dos	estudantes,	que	foram	cooptados	pela	CIA	nas	universidades	do
CEAU,	 formando	 movimentos	 estudantis	 com	 a	 �inalidade	 de	 derrubar	 o	 governo,	 sob	 o	 pretexto	 da	 ameaça
comunista.	Nesse	sentido,	os	estudantes	da	CEAU	foram	articulados	e	mobilizados	pelas	operações	da	CIA,	para
eclodir	descon�ianças,	revoltas	e	protestos	(PEREIRA	JUNIOR,	2016).
A	partir	de	1954,	Arbenz	toma	conhecimento	da	conspiração	articulada	internacionalmente	contra	seu	governo,
unindo	contra	ele,	Estados	Unidos,	Nicarágua	e	República	Dominicana.	Ameaçado	diante	da	possibilidade	de	um
golpe,	 ele	 buscou	 forti�icar	 suas	 Forças	 Armadas,	 recorrendo	 à	 Tchecoslováquia,	 que	 estabelecia	 relações
comerciais	bélicas	com	a	Guatemala	desde	1930.	No	entanto,	essa	transação	gerou	mais	reação	nos	adversários,
pois	seria,	na	visão	deles,	a	grande	prova	do	apoio	soviético	ao	governo	da	Guatemala.
Clique	e	acompanhe	a	sequência	de	acontecimentos	históricos	na	Guatemala.	
Figura	1	-	A	Central	Intelligence	Agency	(CIA),	agência	de	inteligência	civil	que	forneceinformações	ao	governo
dos	Estados	Unidos,	teve	papel	interventor	na	polı́tica	da	Guatemala.
Fonte:	cubart,	Shutterstock,	2018.
O	golpe	de	1954,	executado	em	nome	do	combate	ao	comunismo,	que	resultou	na	deposição	de	Jacobo	Arbenz,
foi	 um	 acontecimento	 marcante	 da	 Guerra	 Fria,	 e	 seus	 impactos	 não	 se	 restringiram	 à	 América	 Latina.	 Este
episódio	desencadeou	reações	de	artistas,	sensibilizados	com	tal	situação	da	polı́tica	internacional,	como	Jean
Paul	Sartre,	Pablo	Picasso,	Frida	Kahlo	e	Diego	Rivera.	
Junto	 a	 eles,	 vieram	 inúmeras	manifestações,	 contrárias	 à	 ação	 dos	 EUA,	 que	 interveio	 em	um	paı́s,	 por	 vias
ilegais	e	violentas,	para	depor	um	presidente	eleito	democraticamente.
Ofensiva	dos	EUA
Fator	decisivo
Renúncia	de	Arbenz
Conjuntura	de	1954
No	dia	25	de	junho	de	1954,	com	apoio	da	força	aérea	da	Nicarágua,	os
Estados	Unidos	iniciam	sua	ofensiva	com	os	aviões	P-47	na	capital	da
Guatemala,	 somados	 aos	 ataques	 terrestres	 com	 as	 tropas	 de
Castilhos	que	enfraqueceram	a	capital.	
O	 fator	decisivo	 foi	a	ação	da	CIA,	que	convenceu	 lı́deres	do	exército
de	Arbenz	a	mudar	de	lado	e	combater	o	presidente	eleito.	
Sem	apoio	do	seu	exército,	Arbenz	renunciou	à	presidência,	no	dia	27
de	junho,	e	o	coronel	Carlos	Enrique	Dı́az,	chefe	das	Forças	Armadas,
assumiu	 o	 mandato.	 Sob	 pressão	 polı́tica	 dos	 EUA,	 Dı́az	 passou	 a
presidência	ao	coronel	Elfego	Monzón.
No	golpe	de	1954,	ocorre	a	formação	de	um	governo	autoritário,	que
provoca	 o	 acirramento	 das	 guerrilhas,	 em	 forma	 de	 resistência,
inspiradas	 na	 Revolução	 Cubana.	 E� 	 nessa	 conjuntura	 que	 a	 CIA
aumentará	 seus	 esforços	 intervencionistas,	 treinando	 milı́cias	 e
executando	 uma	 intensa	 repressão	 em	 grupos	 vistos	 como
subversivos,	era	a	chamada	“operação	limpeza”.	Essas	ações	deixam	o
con�lito	mais	 intenso	 e	 violento,	 causando	 a	morte	 de	mais	 de	 200
mil	pessoas	e	de	inúmeras	torturas	(PEREIRA	JUNIOR,	2016).
Figura	2	-	A	pintora	mexicana	Frida	Kahlo	era	militante	comunista	e,	mesmo	com	a	saúde	frágil,	participou	de
uma	manifestação	contra	o	golpe	que	derrubou	Jacobo	Arbenz.
Fonte:	Janusz	Pienkowski,	Shutterstock,	2018.
Essa	 intervenção	 estadunidense	não	 ocorreu	 só	 na	Guatemala.	As	mesmas	 estratégias	 usadas	para	derrubar	 o
presidente	Arbenz	 foram	mobilizadas	em	1961,	em	Cuba,	no	episódio	 fracassado	conhecido	como	 invasão	da
Baı́a	dos	Porcos.	Foi	mobilizada	uma	intensa	propaganda,	forjando	um	forte	discurso	contra	os	perigos	de	uma
suposta	ameaça	comunista	em	1954,	que	também	viria	a	ser	usada	no	golpe	em	1964,	no	Brasil,	e	em	1973,	no
Chile.
Devido	a	esse	panorama,	os	grupos	polı́ticos	alinhados	à	esquerda,	entre	1960	e	1970,	se	veem	na	obrigação	de
mudar	 a	 sua	 estratégia,	 aglutinando	 outras	 demandas	 para	 além	 das	 questões	 de	 classe,	 como	 o	 combate	 ao
racismo,	 a	 preocupação	 com	 o	 proletariado	 urbano	 e	 o	 potencial	 revolucionário	 do	 campesinato.	 Assim,	 as
guerrilhas	 foram	 direcionadas	 à	 organização	 rural,	 com	 a	 criação	 do	 Comitê	 de	 Unidade	 Camponesa	 (CUC).
Enquanto	 isso,	 a	 Igreja	 católica	 adere	 à	 teologia	 da	 libertação	 e	 se	 radicaliza,	 introduzindo	 uma	 consciência
crı́tica	entre	os	camponeses	(PEREIRA	JUNIOR,	2016).
Entre	1970	e	1980,	vemos	a	ascensão	da	 insatisfação	de	alguns	grupos	das	Forças	Armadas	e	das	oligarquias,
com	 a	 corrupção	 vigente	 no	 governo,	 a	 ausência	 de	 e�icácia	 e	 o	 grande	 caos	 permanente	 no	 regime	 de	 Lucas
Garcı́a,	que	durou	de	1978	a	1982.	Somado	a	 isso,	os	movimentos	sociais	e	as	guerrilhas	na	Guatemala	 foram
aumentando	e	outro	golpe	derrubou	Garcı́a	e	colocou	o	general	Efraı́n	Rı́os	Montt	na	presidência.	Apesar	de	seu
discurso	pelas	demandas	dos	direitos	humanos,	guerrilheiros	e	pessoas	identi�icadas	com	o	comunismo	ainda
foram	alvo	de	perseguição	(PEREIRA	JUNIOR,	2016).
Nesse	cenário	de	intervenções	e	incertezas,	Grandin	(2005)	ressalta	a	postura	oportunista	dos	Estados	Unidos	e
da	CIA,	que,	no	contexto	de	instabilidade	polı́tica	e	de	caos	na	Guatemala,	executaram	um	golpe	contra	Arbenz,	o
que	acabou	sendo	o	começo	de	toda	a	vulnerabilidade	dos	processos	polı́ticos	que	viriam	a	seguir.	No	entanto,
esse	 oportunismo	 foi	 resultado	 de	 alianças	 entre	 os	 Estados	 Unidos	 e	 as	 forças	 internas	 opositoras,
principalmente	as	elites	guatemaltecas	(PEREIRA	JUNIOR,	2016).
VOCÊ QUER LER?
A	 obra	 “A	 Revolução	 Guatemalteca”	 do	 historiador	 Greg	 Grandin	 (2005)	 aborda	 os
aspectos	historiográ�icos	da	Revolução	da	Guatemala	a	partir	de	uma	perspectiva	atual
e	crıt́ica.	A	obra	entrelaça	a	narrativa	factual	com	uma	visão	crıt́ica	dos	acontecimentos
enfocando	as	demandas	 igualitárias	e	os	anseios	por	democracia	que	perpassaram	as
narrativas	desse	evento	histórico.	
4.2 Revolução Cubana 
A	 Revolução	 Cubana,	 iniciada	 em	 1959,	 teve	 como	 caracterı́stica	 os	 movimentos	 e	 guerrilhas,	 liderados	 por
Fidel	Castro,	contra	o	regime	ditador	do	general	Fulgencio	Batista	e	também	contra	as	intervenções	e	exploração
dos	Estados	Unidos	que	transformava	a	Cuba	no	chamado	“quintal	dos	Estados	Unidos”.	
Nesse	 contexto,	 se	destaca	 também	a	 atuação	 ativa,	 no	 treinamento	 e	nas	 frentes	das	 guerrilhas,	 do	 argentino
Ernesto	Che	Guevara,	personagem	que,	junto	com	Fidel,	se	tornou	sı́mbolo	da	luta	cubana.
4.2.1 Da independência de Cuba à ditadura de Fulgencio Batista
Em	 1492,	 Cristóvão	 Colombo	 chegou	 ao	 território	 de	 Cuba	 e	 em	 1509,	 a	 Espanha	 passou	 a	 colonizar	 a	 ilha.
Clique	a	seguir	para	acompanhar	os	acontecimentos	históricos	desta	época.	
Até	o	século	XVI,	a	exploração	se	concentrava	na	mineração,	mas	depois,	com	a	inserção	da	estrutura
de	plantation,	a	produção	de	açúcar	passou	a	ser	o	 foco,	com	a	aproximação	dos	Estados	Unidos.	A
colonização	de	Cuba	dessa	forma,	ocorre	com	o	cultivo	do	açúcar	e	do	tabaco.	A	mão	de	obra	utilizada
era	 a	 escravizada,	 dos	 indı́genas	 e	 dos	 africanos	 capturados	 na	 costa	 africana	 (MARTINS;	 LIEBEL,
2015).
O	aumento	do	preço	do	tabaco	no	século	XVIII	e	a	consequente	exploração	da	Espanha	em	Cuba,	que
desejava	 o	 monopólio	 da	 produção,	 levaram	 às	 primeiras	 agitações	 em	 torno	 da	 independência
cubana.	 Os	 rebeldes,	 organizaram	 em	 1868,	 sob	 a	 liderança	 de	 Carlo	 Manuel	 de	 Céspedes,	 o
movimento	chamado	de	República	em	Armas,	que	contará	com	o	apoio	de	outros	paı́ses	americanos,
que	 também	 estavam	 em	processo	 de	 independência	 e,	 sobretudo,	 dos	 Estados	Unidos,	 entretanto,
mesmo	assim	estes	foram	derrotados	pela	ambição	espanhola	(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
Uma	nova	tentativa	foi	feita	sob	liderança	de	Antonio	Maceo,	Guillermón	Moncada,	Máximo	Gomes	e
José	 Martı́,	 que	 invadiram	 uma	 grande	 extensão	 territorial	 de	 Cuba	 e	 promoveram	 guerrilhas,	 mas
novamente	 foram	 reprimidos	pela	 ação	da	Coroa	 espanhola.	 Preocupado	em	perder	 seus	 interesses
econômicos	 em	 Cuba,	 isto	 é,	 a	 sua	 rede	 comercial	 com	 a	 produção	 cubana	 de	 açúcar,	 os	 Estados
Unidos	interviram	nos	con�litos,	enviando	tropas	para	lutar	contra	o	avanço	espanhol.	
Após	 isso,	 a	 Espanha,	 rendida,	 assinou	 o	 Tratado	 de	 Paris	 em	 1898,	 dando	 aos	 Estados	 Unidos	 a
concessão	de	Cuba,	que	se	 torna	 independente	sob	a	 tutela	dos	Estados	Unidos	 (MARTINS;	LIEBEL,
2015).
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Colonização
Tentativa	de	independência
Nova	tentativa
Tratado	de	Paris
Cuba	era	conhecida	como	o	“quintal	dos	Estados	Unidos”,	porque	era	em	seu	território	que	os	Estados	Unidos
desenvolviam	atividades	muito	lucrativas,	mas	que	não	retornavam	para	a	economia	cubana,	inclusive	algumas
que	 visavam	 lavagem	 de	 dinheiro	 (MARTINS;	 LIEBEL,	 2015).	 O	 fato	 é	 que	 a	 maioria	 dos	 proprietários	 dos
grandes	 negócios	 em	 Cuba,	 era	 estadunidense	 e	 detinha	 os	 grandes	 negócios	 em	 Cuba,	 como	 os	 grandes
latifúndios	de	açúcar,	os	cassinos,	casas	de	prostituiçãoe	grandes	hotéis.
O	ano	de	1898	marcou	não	apenas	a	independência	de	Cuba,	como	também	a	emergência	dos	Estados
Unidos	 como	 uma	 grande	 potência,	 que	 contribuı́ram	 para	 a	 independência	 das	 últimas	 colônias
dominadas	 pelo	 poder	 espanhol	 na	América.	 Essa	 atuação	 desencadeou	um	aumento	do	poder	 dos
Estados	Unidos	sobre	o	território	cubano.	
Para	 concretizar	 a	 in�luência	 norte-americana	 em	 Cuba,	 foi	 aprovada	 na	 constituição	 cubana	 a
“Emenda	Platt”,	que	concedia	aos	Estados	Unidos	o	direito	de	intervir	em	Cuba	em	momentos	de	crise
polı́tica.	 A	 ocupação	 dos	 Estados	 Unidos	 não	 se	 deu	 apenas	 politicamente,	 mas	 também,
economicamente,	dominando	territórios,	como	o	sul	da	 ilha	e	o	controle	da	produção	de	açúcar.	Os
Estados	Unidos	também	controlavam	o	turismo,	as	indústrias	e	as	terras	em	todo	o	território	cubano.	
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VOCÊ SABIA?
O	acontecimento	conhecido	como	Crise	dos	Mıśseis	ocorreu	em	1962	e	 se	 refere
ao	 embate	 entre	 Estados	 Unidos	 e	 a	 União	 Soviética,	 devido	 à	 instalação	 de
mıśseis	nucleares	soviéticos	em	Cuba,	que,	até	então,	era	dominada	pelos	Estados
Unidos.	 Os	 Estados	 Unidos	 realizaram	 um	 bloqueio	 naval	 e	 ameaçou	 usar	 sua
força	 militar	 para	 retirar	 os	 mıśseis.	 Diante	 de	 tal	 tensão,	 ambas	 as	 potências
assinaram	um	acordo	colocando	um	�im	na	tensão	de	13	dias	da	Crise	de	Mıśseis.
Independência	de	Cuba
Ocupação	pelos	Estados	Unidos
Em	1933,	 houve	 a	Revolta	dos	 Sargentos,	 que	 acabou	 colocando	um	 �im	no	 governo	de	Gerardo	Machado	em
Cuba	e	o	general	Fulgencio	Batista	assumiu	o	poder.	Sua	primeira	medida	foi	nomear	a	si	próprio	como	chefe	das
Forças	 Armadas.	 Isso	 lhe	 dava	 autonomia	 para	 nomear	 os	 cargos	 públicos,	 o	 que,	 somado	 aos	 seus
investimentos	 corruptos,	 lhe	 deu	 rápido	 retorno	 �inanceiro,	 o	 que	 o	 tornou	 uma	 �igura	 poderosa.	 Em	 1940,
Fulgencio	Batista	 implementa	a	Constituição	de	Cuba,	vista	como	um	documento	progressista	para	o	perı́odo,
�icando	 em	 vigor	 até	 1944.	 Nesse	 perı́odo,	 o	 então	 presidente	 contribuiu	 na	 Segunda	 Guerra	 Mundial,
demonstrando	apoio	para	o	lado	dos	Aliados,	que	eram	liderados	por	Estados	Unidos,	União	Soviética,	Império
Britânico	e	China.	Fulgencio	Batista	permaneceu	como	ditador	no	comando	de	Cuba	até	1944,	quando	o	exército
se	revoltou,	insatisfeito	com	a	situação	�inanceira	do	paı́s,	e	o	tirou	do	poder.	
No	entanto,	em	1952,	houve	um	novo	golpe,	e	Fulgencio	Batista	retornou	ao	comando	de	Cuba,	instaurando	uma
nova	 ditadura	 militar,	 com	 grande	 repressão	 à	 imprensa	 e	 universidades,	 que	 durou	 até	 1958.	 O	 regime	 de
Batista	 deixava	 a	 população	 muito	 insatisfeita,	 pois	 os	 ı́ndices	 de	 miséria	 e	 analfabetismo	 eram	 crescentes.
Contudo,	 o	 que	 causava	 mais	 indignação	 na	 sociedade	 cubana	 era	 a	 vinculação	 de	 Batista	 com	 os	 Estados
Unidos,	na	medida	em	que	a	exploração	em	Cuba	era	permitida.	Seu	governo	autoritário,	violento	e	repressivo
acabou	levando	à	eclosão	da	Revolução	Cubana	(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
4.2.2 Revolução Cubana
Os	acontecimentos	da	Revolução	Cubana	têm	seu	inı́cio	em	26	de	julho	de	1953,	na	ocasião	em	que	Fidel	Castro,
comandando	 o	 primeiro	 movimento	 contra	 a	 ditadura	 de	 Batista,	 lidera	 o	 chamado	 “Assalto	 ao	 Quartel
Moncada”,	que	tinha	como	foco	o	ataque	a	armas.	Este	não	teve	êxito,	mas	destacou	Fidel	Castro	como	o	grande
lı́der.	
Esse	 movimento	 inicial,	 ainda	 não	 congregava	 os	 princı́pios	 comunistas,	 era	 um	 movimento	 nacional
democrático	contra	a	ditadura	de	Fulgencio	Batista	e	a	exploração	estadunidense	em	Cuba	(MARTINS;	LIEBEL,
2015).
Figura	3	-	Quartel	Moncada,	que	foi	alvo	do	primeiro	ataque	de	Fidel	Castro	ao	governo	de	Cuba.
Fonte:	Matyas	Rehak,	Shutterstock,	2018.
Fidel	Castro	foi	preso	e	condenado	a	15	anos	de	prisão,	mas	foi	libertado,	por	pressões	polı́ticas,	em	1955,	e	se
exila	 no	México,	 de	 onde	passa	 a	mobilizar	 a	 guerrilha	 chamada	Movimento	26	de	 Julho.	Nesse	 contexto,	 ele
organiza	 um	 forte	 exército	 de	 guerrilheiros,	 estando	 entre	 eles	 Raúl	 Castro,	 Ernesto	 “Che”	 Guevara	 e	 Camilo
Cienfuegos.	E� 	no	momento	do	exı́lio	que	começa	a	se	delinear	a	 imagem	de	Fidel	Castro	como	herói,	a	grande
esperança	de	Cuba	(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
Figura	4	-	Foto	de	Fidel	Castro,	em	1989,	lı́der	cubano	que	comandou	os	movimentos	contra	o	ditador
Fulgencio	Batista.
Fonte:	Rob	Crandall,	Shutterstock,	2018.
Estes	retornam	para	Cuba	em	1956,	 se	 �ixando	em	Sierra	Maestra,	 local	escolhido	para	recrutar	e	 treinar	mais
adeptos	 a	 guerrilha	 e	 contrários	 ao	 governo	 de	 Batista.	 As	 estratégias	 de	 guerrilha,	 mesmo	 com	 ofensivas	 e
ataques	pequenos	ao	exército	o�icial,	permitia	vitórias	e	conquistava	cada	vez	mais	armas,	mantimentos,	como,
também,	 o	 apoio	 da	 população.	 Tal	 situação	 pressionou	 Batista	 de	 tal	 forma	 que	 ele	 fugiu	 em	 1958,	 para	 a
República	Dominicana	(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
VOCÊ O CONHECE?
Ernesto	Rafael	Guevara	de	 la	 Serna	 era	natural	 da	Argentina	 e	 nasceu	 em	1928,	 em
Rosário.	Sua	mãe,	apesar	de	seguir	o	catolicismo	o	educou	nos	preceitos	dos	 ideais	de
esquerda	e	a	famıĺia	também	possuıá	relações	próximas	com	outras	�iguras	politizadas
de	 esquerda.	 Devido	 a	 fortes	 crises	 de	 asma,	 estudou	 desde	 cedo	 em	 casa	 e	 suas
leituras	 constantes	 eram	 Marx,	 Engels	 e	 Lênin.	 Iniciou	 seus	 estudos	 em	 medicina	 e
após	a	2º	Guerra	Mundial,	passou	a	participar	de	protestos	contra	o	governo	de	Perón.
Com	a	derrota	de	Batista,	Fidel	Castro	avançou	para	Havana,	Manuel	Urrutia	assume	a	presidência	e	Castro	se
torna	primeiro	ministro,	dando	inı́cio	ao	novo	governo.	Em	16	de	abril	de	1961	Fidel	anuncia	a	sua	polı́tica	em
Cuba	 como	 socialista,	 recebendo	 de	 imediato	 a	 oposição	 dos	 Estados	 Unidos	 (PRADO;	 PELLEGRINO,	 2014;
RINKE,	2017).
Figura	5	-	Selo	impresso	em	2007	em	Cuba,	dedicado	aos	40	anos	do	primeiro	combate	de	Ernesto	Che
Guevara,	na	imagem	aparece	Che	Guevara	e	outros	guerrilheiros,	em	Sierra	Maestra.
Fonte:	neftali,	Shutterstock,	2018.
No	dia	 seguinte,	 sob	o	 comando	do	presidente	 John	Kennedy,	 os	Estados	Unidos	enviaram	 tropas	de	 cubanos
exilados,	treinados	pela	CIA,	para	invadir	o	sul	da	ilha	de	Cuba	pela	Baı́a	dos	Porcos.	As	tropas	foram	derrotadas
pelos	guerrilheiros	cubanos	(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
Figura	6	-	Monumento	em	Havana	em	homenagem	a	Ernesto	Che	Guevara,	um	dos	lı́deres	da	Revolução
Cubana.
Fonte:	jakubtravelphoto,	Shutterstock,	2018.
Em	1962,	Cuba	se	tornou	assunto	principal	da	Conferência	de	Punta	del	Este,	que	reuniu	os	paı́ses-membros	da
Organização	 dos	 Estados	 Americanos	 (OEA)	 para	 tratar	 dos	 impactos	 da	 Revolução	 Cubana.	 Nesse	 contexto,
havia	aqueles	paı́ses	que	defendiam	a	punição	econômica,	diplomática	e	militar	contra	Fidel	Castro,	sustentando
tais	sanções	pela	alegação	do	Tratado	Interamericano	de	Assistência	Recı́proca,	que	a�irmava	que	a	existência	de
qualquer	governo	relacionado	 à	União	Soviética	era	um	perigo	ao	sistema	interamericano	e	deveria	ser	extinto
(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
Ao	mesmo	tempo,	tinha	os	paı́ses	que	eram	oposição	às	punições	contra	a	Cuba	e	a�irmavam	que	a	OEA	deveria
garantir	 que	 não	 haveria	 intervenções	 a	 questões	 internas,	 isto	 é,	 a	 decisão	 pela	 forma	 de	 governo	 era	 algo
particular	de	 cada	paı́s	 e	não	 fazia	parte	das	decisões	da	OEA.	Dentre	 estes	membros	estavam	o	Haiti,	Brasil,
Argentina,	Bolı́via,	Chile,	Equador	e	México.	Diante	de	tais	argumentos,	o	Secretário	de	Estado	norte-americano,
Dean	 Rusk,	 decidiu	 pela	 exclusão	 do	 governo,	 mas	 não	 do	 Estado	 cubano	 da	 OEA.	 Aprovada	 tal	 decisão,	 e
somado	 à	 escolha	 de	 Fidel	 por	 aderir	 ao	 bloco	 soviético,	 iniciou-se	 o	 isolamento	 internacional	 de	 Cuba,
controlado	pelos	Estados	Unidos	(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
Fidel	Castro,	mesmo	com	o	isolamento	imposto,	conseguiuefetivar	conquistas	em	sua	polı́tica,	mas	entre	1963
e	1964,	ocorreu	um	intenso	debate	sobre	os	rumos	do	governo.	Nesse	impasse,	Che	Guevara	foi	fundamental	ao
propor	direções	a	serem	tomadas,	relacionadas	ao	modo	de	organização	da	produção	e	os	modos	de	estimulá-
las.	 Os	 pontos	 desse	 debate	 foram	 elencados	 pelo	 lı́der	 trotskista	 Ernest	 Mandel:	 organização	 das	 empresas
industriais;	estı́mulos	para	o	socialismo;	papel	da	 lei	do	valor,	na	mudança	para	o	socialismo;	e	a	natureza	do
meio	de	produção.	
As	propostas	de	Che	Guevara	foram	colocadas	em	prática,	na	centralização	da	administração	e	nas	motivações
morais	para	a	instalação	do	socialismo,	de	modo	a	romper	com	o	padrão	capitalista	(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
VOCÊ QUER VER?
O	�ilme	“Diários	de	Motocicleta”	(RIVERA;	GRANADO,	2004),	dirigido	por	Walter	Salles,
narra	uma	das	viagens	de	Ernesto	Che	Guevara	em	1952,	quando	estava	 concluindo
seus	 estudos	 em	 medicina,	 junto	 com	 seu	 colega	 Alberto	 Granado.	 O	 �ilme	 é	 uma
importante	 contribuição	 para	 conhecer	 a	 vida,	 a	 trajetória,	 ideias,	 preocupações	 e
interpretações	deste	reconhecido	lıd́er	revolucionário	para	a	América	Latina.
Nos	primeiros	anos,	Fidel	implementou	polı́ticas	de	desapropriação	de	indústrias	e	de	igrejas,	o	que	logo	levou
a	 uma	 reação	 dos	 Estados	 Unidos,	 que	 decretou	 o	 embargo	 econômico	 à	 ilha.	 Mesmo	 com	 a	 oposição
estadunidense,	o	governo	cubano	conseguiu	dar	continuidade	a	suas	polı́ticas,	aumentando	o	nı́vel	da	educação
e	ampliando	o	acesso	 à	saúde	a	toda	a	população.	Esta	primeira	fase	do	governo	de	Fidel,	 é	considerada	pelos
estudiosos	como	a	mais	socialista,	pois	era	nesse	contexto	que	o	Estado	controlava	a	economia	e	a	polı́tica	de
Cuba,	assim	como	os	seus	recursos	nacionais,	ocasionando	uma	industrialização	 inicial	em	Cuba,	nos	setores
de	produção	do	açúcar,	eletricidade	e	do	cimento	(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
VOCÊ SABIA?
Che	 Guevara	 era	 um	 tıṕico	 revolucionário	 e	 não	 contribuiu	 apenas	 com	 as	 lutas
em	Cuba,	mas	também	se	deslocou	para	o	continente	africano	para	ajudar	na	luta
pela	libertação	das	colônias	africanas.	Ele	foi	para	o	Congo,	em	1965,	para	treinar
guerrilhas	contra	o	ditador	Joseph	Mobutu.	Contudo	seu	ataque	não	foi	e�iciente	e
em	 1966,	 ele	 foi	 para	 a	 Bolıv́ia,	 a	 �im	 de	 articular	 uma	 guerrilha	 contra	 René
Barrientos	(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
Assista	ao	vı́deo	abaixo	e	aprenda	mais	sobre	o	tema.
Nesse	panorama,	emerge	a	 imagem	heroica	também	do	lı́der	argentino	Ernesto	Che	Guevara,	que	aglomerava	a
representação	 do	 ideal	 tı́pico	 de	 um	 revolucionário.	 Ele	 defendia	 a	 libertação	 dos	 princı́pios	 capitalistas
burgueses,	como	os	que	prevalecem	nas	relações	de	trabalho,	e	a	defesa	dos	valores	coletivos.	Isto	é,	pregava-se
CASO
Após	 a	 explicação	 sobre	 a	 Revolução	 Cubana,	 um	 aluno	 perguntou	 para	 a
professora	sobre	a	in�luência	das	ideias	marxistas	no	desenvolvimento	de	Cuba	e
a	 possibilidade	 de	 construção	 de	 outros	 regimes	 socialistas.	 Diante	 disso,	 a
professor	 ressaltou	que	as	obra	de	Marx	e	Engels,	 responsáveis	pelas	primeiras
ideias	 sobre	 o	 socialismo,	 foram	 escritas	 no	 inıćio	 do	 século	 XIX,	 e	 inspiraram
diversos	 movimentos.	 Contudo,	 é	 importante	 sublinhar	 que	 existem
interpretações	diferentes	e	muitos	equıv́ocos	nas	 leituras	referentes	aos	escritos
de	Marx.	 Nesse	 sentido,	 a	 experiência	 da	União	 Soviética,	 China,	 Vietnã,	 Cuba	 e
Coreia	 do	 Norte	 são	 os	 exemplos	 que	 temos	 mais	 próximos	 de	 um	 regime
socialista,	 no	 entanto,	 nenhum	 deles	 alcançou	 de	 fato	 a	 consumação	 de	 um
governo	com	ideologia	comunista,	como	nos	escritos	de	Marx.	Sua	inspiração	pode
ter	se	originado	no	marxismo,	mas	a	aplicação	divergiu,	devido	 às	circunstâncias
particulares	de	cada	paıś	e	tempo	histórico.	Com	isso,	a	professora	salientou	que,
ao	 elaborarmos	 crıt́icas	 positivas	 ou	 negativas	 ao	 socialismo,	 ou	 às	 ideias
marxistas,	é	substancial	realizar	a	leitura	propriamente	dita	das	obras	de	Marx	e,
sobretudo,	compreender	o	contexto	em	que	ele	escreveu	suas	ideias.
o	 rompimento	 com	 o	 sistema	 capitalista,	 o	 que	 na	 visão	 de	 Che,	 nem	 a	 União	 Soviética	 tinha	 alcançado
(MARTINS;	LIEBEL,	2015).
Diversos	 estudiosos	 narram	 os	 eventos	 da	 Revolução	 Cubana	 e	 Florestan	 Fernandes	 é	 um	 destes	 com	 a
publicação	em	1979	da	obra	“Da	guerrilha	ao	socialismo:	a	Revolução	Cubana”.	Sustentado	pelo	viés	marxista,
ele	 salienta	 o	 imperialismo	 norte	 americano	 como	 a	 grande	 origem	 da	 revolução,	 ou	 seja,	 a	 polı́tica	 de
exploração	norte-americana	que	englobava	Cuba	em	seu	sistema,	 seria	o	primeiro	ponto	a	ser	combatido	pela
revolução.	
Fernandes	 aponta	 um	 sentido	 ideológico	 e	 polı́tico	 desde	 o	 inı́cio	 da	 ação	 revolucionária,	 que	 tinha	 como
direção	o	socialismo	e	os	princı́pios	anti-imperialistas	e	anti-capitalista.	(FERNANDES,	1979).
Para	 outro	 autor,	 Daniel	 Aarão	Reis,	 a	 revolução	 no	 seu	 estopim	 seria	 nacional-democrática,	 nesse	 sentido,	 o
contexto	 de	 exploração	 apontado	 por	 Fernandes,	 seria	 o	 inı́cio	 da	 conjuntura	 da	 revolução,	mas	 não	 o	 inı́cio
propriamente	 dito,	 pois	 a	 origem	 estaria	 na	 Constituição	 de	 1940,	 assentada	 no	 retorno	 dos	 princı́pios	 de
liberdade	e	democracia.	No	entanto,	diante	da	di�iculdade	desse	retorno,	o	socialismo	emergiu	como	o	caminho
mais	viável.
4.3 As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
As	chamadas	Forças	Armadas	Revolucionárias	da	Colômbia	surgem	o�icialmente	em	1966,	mas	são	resultado	de
um	contexto	especı́�ico,	no	qual	a	Colômbia	se	encontrava	 imersa	em	uma	 instabilidade	polı́tica	e	na	extrema
pobreza.	 Sob	 in�luência	 dos	 princı́pios	 de	 Simón	 Bolı́var,	 as	 FARC	 serão	 uma	 força	 de	 combate	 à	 polı́tica
excludente	e	concentrada	nas	mãos	das	oligarquias	colombianas,	assim	como	contra	os	governos	autoritários	e
repressivos.
4.3.1 Contexto de surgimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
O	 surgimento	 das	 FARC	 está	 ligado	 ao	 contexto	 da	 guerra	 civil	 ocorrida	 no	 �inal	 da	 década	 de	 1940,	 que
desestruturou	 a	 Colômbia	 e	 que	 teve	 como	 motivação	 o	 embate	 entre	 as	 facções,	 vinculado	 ao	 partido
conservador	 e	 ao	 partido	 liberal.	 O	 partido	 liberal	 defendia	 a	 inserção	 de	 um	 modelo	 de	 desenvolvimento
nacional,	forma	adotada,	inclusive,	para	conglomerar	mais	adeptos	entre	a	população	(CEARA� ,	2009;	GUEVARA,
2010).	Clique	e	acompanhe	os	eventos	históricos	ocorridos	na	Colômbia	neste	contexto.	
O	 inı́cio	 da	 guerra	 civil	 ocorreu	 em	9	 de	 abril	 de	 1948,	 com	o	 assassinato	 de	 um	 lı́der	 caudilho
pertencente	 ao	 setor	 radical	 do	 Partido	 Liberal	 Jorge	 Eliécer	 Gaitán.	 Este	 tinha	 criado	 a	 União
Nacional	 de	 Esquerda	 Revolucionária	 que	 possuı́a	 propostas	 para	 reformas	 polı́ticas	 e	 sociais,
entre	elas,	combate	à	corrupção,	fraudes	eleitorais,	e	�im	dos	privilégios	das	elites.	
Durante	 a	 campanha	 presidencial,	 Jorge	 Eliécer	 tinha	 amplo	 apoio	 dos	 trabalhadores,	 planejando
propostas	 que	 adequavam	 aos	 seus	 anseios,	 a	 sua	 morte	 gerou	 diversas	 insatisfações	 e
manifestações,	por	parte	do	operariado	de	todo	o	paı́s	(CEARA� ,	2009;	GUEVARA,	2010).
As	 condições	 da	 Colômbia	 estavam	 em	 pleno	 descaso	 social,	 econômico	 e	 polı́tico,	 o	 paı́s	 se
encontrava	 imerso	na	pobreza,	o	que	se	 intensi�icou	com	as	 intervenções	dos	Estados	Unidos	no
Estado	colombiano.	Em	plena	conjuntura	polı́tica,	econômica	e	armada	da	Guerra	Fria,	os	Estados
Em	 meio	 a	 esse	 contexto,	 as	 guerrilhas	 rurais,	 organizadas	 pelo	 PCC,	 passam	 a	 criar	 zonas	 de	 colonização
armada	em	resposta	ao	perı́odo	de	“La	violência”,	isto	é,	zonas	de	autodefesas	que,	aos	poucos,	começa	a	ser	um
alvo	de	ataque	do	governo.	Em	1964,	o	governo	denomina	essas	insurgências	como	“repúblicas	independentes”
autorizandoum	forte	bombardeio	sobre	os	locais.	Os	grupos	passam	a	resistir	aos	bombardeios	do	governo	e
passam	a	se	reorganizar	em	guerrilhas	(CEARA� ,	2009;	GUEVARA,	2010).
Unidos	 interviram	 nas	 revoltas	 e	 orientaram	 os	 conservadores	 colombianos	 que	 comandavam	 o
paı́s,	 a	 reprimir	as	revoltas,	o	que	 �icou	chamado	como	o	perı́odo	da	 “La	violência”,	entre	1948	a
1953.
Os	 embates	 entre	 os	 partidos	 se	 ampliou	 para	 o	 campo,	 aumentando	 a	 violência,	 pois	 nesse
momento	os	 lı́deres	rurais	recebiam	apoio	dos	polı́ticos	dos	centros	urbanos	e	 legitimados	pelas
suas	 opções	 partidárias,	 esses	 lı́deres	 somados	 aos	 seus	 bandos	 utilizavam	 a	 violência	 também
para	 conquistar	 interesses	 pessoais.	 Os	 camponeses,	 sob	 a	 liderança	 do	 Partido	 Comunista
Colombiano	(PCC)	 iniciam	as	primeiras	revoltas,	assumindo	a	 liderança	das	resistências	(CEARA� ,
2009;	GUEVARA,	2010).
Nesse	panorama,	 em	1953,	 o	General	Rojas	Pinilla	 assume	a	presidência	do	paı́s	 com	o	evidente
objetivo	 de	 paci�icar	 a	 violência	 do	 paı́s.	 Em	 1958,	 há	 um	 acordo	 entre	 o	 partido	 Liberal	 e	 o
Conservador,	 que	desencadeia	 a	 Frente	Nacional,	 que	 repercute	 em	um	monopólio	do	poder	 e	na
alternância	pactuadas	da	presidência.	
Em	1964,	o	principal	foco	da	resistência	era	Marquetalia	desenvolvido	em	meio	ao	PCC	e	que	tinha	o	apoio	dos
movimentos	agrários.	Esta	região	começou	a	receber	ataques	do	governo	colombiano,	�inanciado	pelos	Estados
Unidos	por	meio	do	plano	Latin	American	Security	Operation	(Plano	Laso),	que	tinha	como	desı́gnio	eliminar	as
resistências.	
Figura	7	-	Representação	do	General	Gustavo	Rojas	Pinilla,	que	assumiu	a	presidência	da	Colômbia	em	1953	e
tinha	como	objetivo	paci�icar	a	violência	do	paı́s.
Fonte:	NNNMMM,	Shutterstock,	2018.
Os	Estados	Unidos	enviaram	tropas	e	insumos	bélicos	para	o	Exército	da	Colômbia.	Contudo,	esses	ataques	não
terão	êxito	e,	pelo	contrário,	desencadearam	mais	reações,	como	a	assembleia	dos	agricultores	de	Marquetalia,
rebelados	contra	o	governo,	em	1964,	para	de�inir	o	Programa	Agrário	dos	Guerrilheiros.	
Em	1966,	ocorre	a	segunda	conferência,	que	é	marcada	pela	fundação	das	FARC	e	tem	como	responsável	Manuel
Marulanda	Vélez,	conhecido	como	“Tiro�ijo”,	Jacobo	Arenas,	entre	outros	do	PCC.	Somente	na	sétima	conferência
em	1982,	que	se	de�ine	o	nome	atual,	Forças	Armadas	Revolucionárias	da	Colômbia	-	Exército	Popular	(CEARA� ,
2009;	GUEVARA,	2010).
Nesse	sentido,	no	 âmbito	 interno,	atribui-se	o	surgimento	das	 forças	revolucionárias	da	Colômbia	ao	contexto
da	polı́tica	excludente	colombiana,	que	mantinha	o	poder	nos	partidos	tradicionais	e	nas	estratégias	do	governo,
que	possuı́a	uma	postura	violenta	aos	partidos	de	oposição,	 sobretudo	o	PCC.	No	 âmbito	externo,	atribui-se	o
contexto	 da	Guerra	 Fria	 e	 os	 embates	 entre	 o	mundo	 socialista	 e	 capitalista	 que	 terá	 como	 consequências	 os
con�litos	polı́ticos	na	América	Latina.	Somado	a	isso,	temos	a	ocorrência	da	Revolução	Cubana,	que	in�luenciou
outros	movimentos	de	esquerda	(CEARA� ,	2009;	GUEVARA,	2010).
4.3.2 As FARC
As	FARC	foram	criadas	tendo	como	base	as	ideias	defendidas	pelo	lı́der	revolucionário	Simón	Bolı́var,	isto	é,	os
princı́pios	 do	 anti-imperialismo,	 anticapitalismo,	 a	 oposição	 ao	 liberalismo,	 a	 defesa	 do	 socialismo	 e	 da
reforma	 agrária,	 a	 independência,	 em	 relação	 às	 potências	 estrangeiras.	 As	 FARC	 surgem	 como	 uma	 entidade
Figura	8	-	Bandeira	das	Forças	Armadas	Revolucionárias	da	Colômbia	-	Exército	Popular.
Fonte:	yui,	Shutterstock,	2018.
voltada	para	o	progresso	social,	polı́tico	e	econômico	da	Colômbia,	sobretudo	da	população	que	vivia	à	margem
da	sociedade,	como	os	indı́genas,	camponeses	e	operários.	As	FARC	se	con�iguram	como	um	corpo	polı́tico	que
lança	oposição	ao	governo	de	Colômbia,	 com	o	objetivo	de	desenvolver	o	Estado,	dando	atenção	 à	população
civil	(CEARA� ,	2009;	GUEVARA,	2010).	Clique	a	seguir	e	conheça	mais	sobre	a	história	dessa	organização.	
Década	de	1970
As	FARC	passam	por	diversas	mudanças,	voltando	seu	programa	para	um	viés	educativo,	tendo
como	meta	a	formação	ideológica	sustentada	pelos	ideais	de	expansão	do	território,	o
desenvolvimento	militar,	o	aumento	da	força	de	guerrilha	e	a	formação	do	exército	revolucionário.	
A	partir	de	1980
As	guerrilhas	passam	a	ter	ampla	inspiração	das	ideias	de	Bolı́var,	como	a	unidade	latino-
americana,	a	igualdade,	o	bem-estar	social	e	a	formação	de	um	exército	bolivariano	e,	sobretudo,	a
luta	contra	o	imperialismo	(CEARA� ,	2009;	GUEVARA,	2010).
Aumento	da	violência
A	partir	da	década	de	1980,	com	as	mudanças	no	meio	polı́tico	e	o	aumento	do	�inanciamento
vindo	do	narcotrá�ico,	os	con�litos	internos	colombianos	se	modi�icaram.	Este	foi	um	perı́odo	de
aumento	signi�icativo	do	poder	bélico	e,	consequentemente,	na	violência.	
Os	 guerrilheiros	 controlavam	 grandes	 plantações	 de	 coca,	 como	 a	 do	 sul	 do	 paı́s,	 em	 Guaviare,	 Caquetá	 e
Putumayo.	A	produção	de	coca	começou	como	uma	reação	à	uma	polı́tica	dos	Estados	Unidos	de	exterminar	as
plantações	da	Bolı́via	e	do	Peru,	o	que	acabou	por	incentivar	o	deslocamento	delas	para	a	Colômbia.
Após	52	anos	de	con�lito	violento	e	com	mais	de	200	mil	mortos,	entre	as	FARC	e	o	governo	da	Colômbia,	com	o
�im	da	Guerra	Fria	 e	 a	 falta	de	 investimento	e	 apoio,	 as	FARC	perdem	 força.	Em	2002,	A� lvaro	Uribe	assume	a
presidência	 e	 as	 classi�ica	 como	 grupo	 terrorista,	 dando	 inı́cio	 novamente	 aos	 con�litos,	 com	 o	 apoio	 dos
Estados	Unidos.	Em	2010	com	a	presidência	de	 Juan	Manoel	Santos,	 tem	 inı́cio	as	negociações	e	em	2016,	as
FARC	assinam	um	acordo	de	paz	com	o	governo	colombiano.	O	acordo	previa	a	entrega	das	armas	das	FARC,	o
combate	ao	narcotrá�ico,	a	reparação	das	vı́timas	dos	con�litos	e	a	destruição	das	plantações	de	coca.	Por	parte
do	 governo	 colombiano	 o	 acordo	 assinalava	 a	 eliminação	 das	 minas	 terrestres	 na	 Colômbia,	 a	 execução	 de
polı́ticas	para	diminuir	 a	desigualdade	 social,	 a	 reforma	agrária,	 o	 reparo	das	vı́timas,	 a	 ajuda	no	 retorno	dos
refugiados	e	a	reintegração	de	guerrilheiros	à	sociedade.
Após	um	ano	de	acordo,	houve	a	redução	do	número	de	armas	em	circulação,	foram	entregues	para	a	ONU,	8.994
fuzis	pertencentes	a	7	mil	milicianos.	O	número	de	homicı́dios,	 também	obteve	redução	 inicial,	mas	em	2018
voltou	a	preocupar,	pois,	com	a	desmobilização	das	FARC,	outras	milı́cias,	de	paramilitares	e	narcotra�icantes,
passaram	a	disputar	o	poder	e	as	principais	vı́timas	são	lı́deres	comunitários	e	ativistas	de	direitos	humanos.	
Ampliação	das	FARC
E� 	nesse	momento	que	as	FARC	se	ampliam	consideravelmente,	se	tornado	um	grupo	de
guerrilheiros	com	uma	grande	expressão	na	Colômbia.	O	envolvimento	das	FARC	com	o	trá�ico	de
drogas	fornece	investimentos	para	as	guerrilhas,	proporcionando	maior	acesso	a	materiais
bélicos.	
4.4 A globalização e a América Latina
Após	o	�im	da	Guerra	Fria,	que	dividia	o	mundo	entre	duas	superpotências	bélicas,	os	Estados	Unidos	e	a	União
Soviética,	vemos	a	ascensão	de	uma	nova	ordem	mundial,	pautada	nos	múltiplos	espaços	de	poder	e	também	na
conexão	e	ligação	entre	as	mais	diversas	partes	do	globo.	
E� 	 assim	 que	 o	 fenômeno	 da	 globalização	 começa	 a	 ganhar	 força,	 com	 a	 contribuição	 das	 tecnologias	 de
informação	e	outros	avanços	tecnológicos	con�igurou	o	encurtamento	das	distancias	e	possibilitou	a	formação
de	uma	sociedade	em	rede,	que	também	irá	incidir	na	América	Latina.
4.4.1 O conceito de globalização
Com	o	�im	da	Guerra	Fria,	a	partir	da	década	de	1980,	houve	uma	série	de	modi�icações	nas	relações	que	regiam
o	mundo.	A	destruição	do	Muro	de	Berlim	em	1989,	que	separava	a	Alemanha,	foi	o	marco	da	desintegração	da
antiga	ondem	mundial	baseada	na	bipolaridade,	houve	a	 emergência	de	organizações	 internacionais,	 como	os
blocos	 econômicos	 e	 outras	 cooperaçõesentre	 os	 paı́ses,	 os	 Estados	 Unidos	 surgem	 como	 grande	 potência
mundial	e	as	relações	entre	o	Estados	e	a	sociedade	se	modi�icam.	Nesse	contexto,	a	globalização	representou	as
transformações	nas	relações	sociais,	alterando	as	distâncias	entre	as	comunidades	e	a	ampliação	das	relações	de
poder	 em	 escala	 mundial.	 O	 Estado-nação	 passa	 a	 ganhar	 novas	 direções	 e	 passa	 a	 se	 abrir	 às	 cooperações
internacionais	(CASTELLS,	1999).
Existem	 diversos	 debates	 acerca	 do	 que	 seria	 a	 globalização,	 a	 vertente	 mais	 utilizada	 seria	 um	 fenômeno
revolucionário,	 resultado	 do	 desenvolvimento	 tecnológico	 dos	 últimos	 20	 ou	 30	 anos,	 que	 desencadearam
mudanças	em	toda	a	sociedade.	Manuel	Castells	 (1999),	um	dos	 teóricos	mais	relevantes	sobre	o	conceito	de
globalização,	a�irma	que,	entre	essas	mudanças,	estão:	a	revolução	tecnológica,	que	proporcionou	as	tecnologias
Figura	9	-	Muro	de	Berlim,	que	foi	derrubado	em	1989,	sendo	um	sı́mbolo	da	antiga	ordem	mundial,	pautada
na	bipolaridade	do	poder.
Fonte:	Everett	Historical,	Shutterstock,	2018.
de	informação,	de	telecomunicação	e	transporte;	a	interdependência	das	economias,	introduzindo	novas	formas
de	 relações	 entre	 economia,	 Estado	 e	 sociedade;	 as	mudanças	 nas	 sociedades	 de	 regime	 socialista;	 o	 �im	 da
Guerra	Fria;	e	uma	rearticulação	do	capitalismo.
Nesse	sentido,	Castells	(2009)	de�ine	as	principais	caracterı́sticas	do	fenômeno	da	globalização,	assim	como	as
suas	 consequências,	 como	 a	 integração	 das	 diversas	 partes	 do	 mundo	 por	 meios	 das	 redes	 globais	 de
tecnologias	de	informação	e	a	formação	de	comunidades	virtuais,	a	busca	incessante	por	identidade	coletiva	e
individual	 em	 meios	 à	 aceleração	 dos	 �luxos	 globais	 de	 riqueza,	 poder,	 imagem	 e	 representação	 que
proporcionam	um	mundo	multicultural.	
VOCÊ QUER LER?
A	 obra	 “A	 sociedade	 de	 rede”	 da	Manuel	 Castells	 (1999),	 é	 o	 primeiro	 livro	 de	 uma
trilogia	que	tem	como	objetivo	abordar	os	impactos	da	globalização	e	da	tecnologia	de
informação	 na	 contemporaneidade	 entre	 a	 América	 Latina,	 Estados	 Unidos,	 Europa,
A� sia	 e	 Europa.	 Dessa	 forma,	 o	 livro	 é	 uma	 importante	 contribuição	 para	 entender	 o
conceito	de	globalização	e	seus	impactos	na	atualidade.
O	 ressurgimento	 do	 Estado	 como	 peça	 fundamental	 no	 controle	 das	 tecnologias	 nas	 suas	 relações	 com	 a
sociedade.	 E� 	 nesse	 contexto	 que	 emerge	 uma	 nova	 economia	 informatizada,	 organizada	 em	 torno	 de	 grandes
potências	de	comando	interdependentes	e	formadas	por	redes	e	polos	e	de	inovação	global	(CASTELLS,	1999).
4.4.2 A América Latina e o fenômeno da globalização
A	América	Latina	 também	se	 insere	nas	novas	relações	 inauguradas	com	a	globalização,	sobretudo	a	partir	de
1970,	 quando	 as	 polı́ticas	 dos	 paı́ses	 latino-americanos	 passam	 a	 ser	 questionadas,	 devido	 à	 ausência	 de
democracia	 e	 às	polı́ticas	 econômicas	que	 contrastavam	com	a	 realidade	 interdependente	da	 globalização.	Na
década	de	1990,	veremos	as	pressões	exercidas	pela	globalização,	in�luenciarem	na	democratização	dos	regimes
nos	 paı́ses	 da	 América	 Latina,	 somadas	 às	 reorganizações	 do	 Estado,	 voltado	 às	 relações	 internacionais	 e	 as
demandas	dos	grupos	organizados	(PRADO;	PELLEGRINO,	2014;	RINKE,	2017).
O	 fenômeno	 da	 globalização	 desencadeou	 novas	 restruturações	 territoriais	 e	 estatais,	 acentuadas	 pelas	 inter-
relações	 transfronteiriças	 dos	Estados,	 isto	 é,	 vemos	novos	 arranjos	 de	 fronteiras	 e	 novas	demandas	 e	 atores
nesse	processo.	Clique	nas	abas	a	seguir	para	conhecê-los.	
Figura	10	-	Exemplo	de	uma	das	tecnologias	da	informação	que	surgiram	com	o	advento	da	globalização.
Fonte:	dotshock,	Shutterstock,	2018.
América	Latina
As	 primeiras	 experiências	 neoliberais	 serão	 implementadas	 no	 Chile,	 no	 governo	 de	 Pinochet	 e	 também	 na
Inglaterra,	 efetivadas	 por	Margaret	 Thatcher,	 que	 servirão	 de	modelo	 para	 as	 demais	 experiências	 neoliberais
que	surgiram	depois,	na	América	Latina.
A	polı́tica	econômica	neoliberal	foi	uma	resposta	à	crise	econômica	dos	anos	1970/80,	provocada,	segundo	os
estudiosos	 do	 liberalismo,	 pelo	 nacional	 desenvolvimentismo	 propagado	 pela	 Comissão	 Econômica	 para	 a
América	Latina	e	o	Caribe	(Cepal).	O	principal	objetivo	do	neoliberalismo	é	estabelecer	obstáculos	às	polı́ticas
protecionistas	e	de	bem-estar	social	do	Estado,	a	�im	de	enxugar	os	gastos	estatais	e	promover	a	livre	circulação
de	capital.	
Neoliberalismo
Cooperações	econômicas
ALCA
Na	América	 Latina	 veremos	 a	 introdução	 de	 uma	 nova	 estratégia	 de
polı́tica	econômica,	o	surgimento	do	neoliberalismo	como	um	modo
de	sair	da	crise	mundial	e	integralizar	as	economias	no	novo	sistema
internacional.	
Após	 os	 impactos	 da	 globalização	 que	 rearticulam	 o	 capitalismo
mundial	 perante	 as	 crises	 econômicos	da	década	de	1970	 e	 1980,	 o
neoliberalismo	emerge	como	uma	nova	forma	polı́tica	econômica.
No	 viés	 da	 integralização	 e	 dos	 novos	 regionalismos	 pautados	 nas
relações	Norte-Sul,	 a	partir	de	1980,	 surgem	as	primeiras	 iniciativas
de	 integração	 sub-regionais,	 isto	 é,	 as	 cooperações	 econômicas	 com
propostas	de	livre	comércio	continental,	como	a	formação	da	A� rea	de
Livre	Comércio	das	Américas	(ALCA).	
A	 ALCA	 foi	 fundada	 com	 o	 desı́gnio	 de	 facilitar	 as	 transações
comerciais	 entre	 os	 seus	 membros.	 Posteriormente,	 em	 1991,
teremos	 a	 formação	 do	 Mercado	 Comum	 do	 Sul	 (MERCOSUL),
também	 como	 objetivo	 de	 proporcionar	 a	 integração	 econômica	 e
polı́tica	dos	paı́ses	da	América	do	Sul.
Síntese
Você	 concluiu	 os	 estudos	 sobre	 as	 principais	 caracterı́sticas	 que	 envolvem	 a	 Revolução	 Cubana,	 Revolução
Guatemalteca,	 a	 formação	 da	 FARC	 e	 os	 impactos	 da	 globalização	 da	 América	 Latina.	 Nesse	 viés,	 re�letimos
sobre	as	especi�icidades	de	cada	contexto	e	sobre	a	circulação	das	ideias	socialistas,	que	aparecem	em	ambas	as
revoluções	e	o	rompimento	na	antiga	ordem	mundial.	
Neste	capı́tulo,	você	teve	a	oportunidade	de:
identificar os impactos da globalização na América Latina; 
identificar os principais processos da Revolução Cubana;
apreender as relações entre Estados Unidos, Cuba e Guatemala;
refletir sobre como se deu o processo de formação das FARC.
•
•
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Bibliografia
CASTELLS,	M.	A	sociedade	em	rede.	São	Paulo:	Paz	e	Terra,	1999.
CEARA� ,	D.	B.	FARC-EP:	o	mais	longo	processo	de	luta	revolucionária	da	América	Latina.	História	Social,	n.	17,
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GRANDIN,	Greg.	A	Revolução	Guatemalteca.	São	Paulo:	UNESP,	2005.
GUEVARA,	K.	Z.	As	Forças	Armadas	revolucionárias	da	Colômbia	(FARC)	e	sua	atuação	no	cenário	internacional.
Revista	Eletrônica	de	Direito	Internacional,	vol.	6,	2010.
MARTINS,	 L.	 C.	 P.;	 LIEBEL,	 V.	 A	 Revolução	 Cubana	 e	 sua	 Recepções:	 Imprensa	 e	 Academia.	 Revista
Contemporâneaea	–	Dossiê	Guerras	e	Revoluções	no	século	XX.	Ano	5,	n.	8,	vl.	2,	2015.		
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PRADO,	M.	L.;	PELLEGRINO,	G.	História	da	América	Latina.	São	Paulo:	Contexto,	2014.	
RINKE,	 S.	 História	 da	 América	 Latina:	 das	 culturas	 pré-colombianas	 até	 o	 presente.	 Tradução:	 Matias	 da
Rocha.	Porto	Alegre:	EDIPUCRS,	2017.	
RIVERA,	J.;	GRANADO,	A.	Diários	de	Motocicleta.	Direção:	Walter	Salles.	Produção:	Edgard	Tenenbaum;	Michael
Nozik;	 Karen	 Tenkoff;	 FilmFour/	 South	 Fork	 Pictures/	 Tu	 Vas	 Voir	 Productions.	 cor,	 126	 min.	 Alemanha;
Argentina;	Brasil;	Chile;	Peru;	EUA;	França,	2004.

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