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─ Urgência emergência e saúde mental – Tratamento das síndromes coronarianas agudas N1 e N2 Data: 18/05/23 Robbson Haugusto Dambros 1 ANATOMIA CORONARIANA 1.1 ORIGEM AÓRTICA DAS ARTÉRIAS CORONARIANAS: • Artérias coronárias são primeiros ramos da aorta • Originam nos seios de Valsalva (3), localizados na porção inicial da raiz da aorta. • Seios de Valsalva originam 2 artérias coronárias: tronco da coronária esquerda (TCE) e coronária direita (CD) 1.2 TRONCO DA CORONÁRIA ESQUERDA • Origem: valsalva esquerda e se bifurca em artéria coronária descendente anterior (DA) e circunflexa (CX) 1.2.1 Artéria descendente anterior • Estende-se até o ápice do coração • Seu trajeto emite ramos diagonais, suprimindo a parede anterior do ventrículo esquerdo (VE) e ramos septais, nutrindo 2/3 superior do septo interventricular e sistema de condução atrioventricular 1.2.2 Artéria circunflexa • Atinge sulco atrioventricular esquerdo • Emite 1 ou + artérias marginais, suprem a parede lateral do VE. • Emite ramos ventriculares posteriores que irrigam a parede posterolateral do VE e ramos que nutrem o músculo papilar anterolateral. 1.3 ARTÉRIA CORONÁRIA DIREITA (CD) • Origina-se no seio de valsalva direito • Primeiro ramo: artéria do cone ou ramo infundibular • Segundo ramo é artéria do nó sinusal. • Origina 2 ou 3 ramos marginais agudos, suprindo a parede livre do VD 2 DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA ESTÁVEL • <Causa uma obstrução de 1 ou mais coronárias por placas ateroscleróticas=. • Pacientes apresentar dor precipitada pela mesma intensidade de atividade física, caráter crônico (> 2 meses de duração e não muda padrão. • ECG geralmente normal e marcadores de necrose miocárdica negativos. 2.1 HX CLÍNICA E EXAME FÍSICO • Apresentação clínica variável • Angina típica é um desconforto torácico (constrição, aperto, peso, queimação), podendo irradiar para região cervical, mandíbula, dorso, epigástrio e membros superiores. • Duração < 10 minutos • Desencadeada/agravada por atividade física • Aliviada com repouso ou uso de nitratos. • Classificação da dor torácica: o Localização e tipo o Irradiação ou sintomas associados (dispneia, sudorese, palidez) o Fatores desencadeantes • Angina típica – tipo A e B • Angina atípica – C e D. • Sinal de Levine o Paciente coloca o punho cerrado sobre o peito • Dor acima da mandíbula, abaixo do epigástrio ou localizada em região pontual do tórax, raramente é anginosa. • Durante episódio de angina: o B3 ou galope, B4 o Sopro de insuficiência mitral, desdobramento de B2 e crepitações pulmonar bibasal o Pulsos em membros inferiores diminuídos, endurecimento arterial e aneurisma de aorta abdominal, aumentando a probabilidade de DAC. 2.2 EXAMES COMPLEMENTARES • Perfil lipídico, glicemia de jejum e função renal • Troponina ultrassensível 2.2.1 ECG • Indicado para todos os pacientes • Alterações inespecíficas do segmento ST, onda T e onda Q patológicas. • Depressão do segmento ST é mais comum. • ECG de repouso normal sugere presença de função do VE preservada 2.2.2 Radiografia de tórax • Determinação de diagnósticos diferenciais de angina o Pneumotórax, dissecção de aorta o Tromboembolismo pulmonar o Pneumomediastino o Fraturas de costela e infecções aguda 2.2.3 Ecocardiograma • Achados de alto risco no ECO estresse: o FE < 35% o Queda da FE >= 10% o Dilatação do VE no estresse o Alterações da contratilidade em 3/+ segmentos o Alteração da contratilidade com baixas doses de dobutamina 2.2.4 Teste ergométrico • Indicações: o Avaliar prognóstico de DAC conhecida o Suspeita de angina vasoespástica o Avaliar assintomático o HX familiar de doença cardiovascular 2.2.5 Cateterismo cardíaco • Indicações: o Angina refrataria o Achado de alto risco nos testes não invasivos o Hx de morte súbita o Presença de arritmia ventricular significativa 2.3 TRATAMENTO • Objetivo é prevenir IAM, reduzir sintomas e ocorrência de isquemia, com melhora na qualidade de vida. 2.3.1 Mudança do estilo de vida (MEV) • Manter PA < 130x80 • Manter nível HbA1c < 7% • Atividade física, controlar peso e hábitos alimentares • Cessar tabagismo 2.3.2 Tratamento farmacológico • Antiagregantes plaquetários, hipolipemiantes (Estatinas), betabloqueadores e IESCA são fármacos que reduzem incidência de infarto e aumentam a sobrevida. DROGAS ANTI-ISQUÊMICAS • Betabloqueadores: o 1ª linha o Diminuem a FC, contratilidade miocárdica (efeito inotrópico), condução atrioventricular e atividade ectópica ventricular o Atenolol, bisoprolol, metoprolol. • Bloqueadores dos canais de cálcio o Agentes de 2ª linha o Provocam vasodilatação coronariana e sistêmica – arterial e arteriolar. o Nifedipina, amlodipina (Di-hidropiridínicos) – vasodilatadores arteriais, não modificam a velocidade de condução AV. o Não-di-hidropiridínicos (verapamil e diltiazem) – reduzem a FC, não precisa associar betabloqueador • Nitratos de ação rápida o Isordil (dinitrato de isossorbida sublingual) o 1ª linha – tto agudo de crise anginosa o Exerce efeito em 1 a 3 min, duração de 30 - 45 • Nitratos de ação prolongada o Monocordil o Venodilatação periférica e vasodilatação coronariana • Trimetazinida (Vastarel) o Efeito metabólico e anti-isquêmico o Não altera PA e FC, melhora eficiência metabólica do miocárdio isquêmico, tolerância a atividade física. Drogas que previnem eventos cardiovasculares • IECA o Captopril, enalapril, ramipril o Melhora perfil hemodinâmico, perfusão subendocárdica e estabiliza placa ateroscleróticas. • Estatinas o Estabiliza placa aterosclerótica, reduzindo seu tamanho • AAS o Prevenção primária está associado a maior risco de sangramento gastrointestinal e intracerebral. o Usado como profilaxia secundária o Dose 75 – 162 mg/dia 3 SD CORONARIANA AGUDA SEM SUPRA ST Fisiopatologia nas SCASSST ➢ Aterotrombose → principal; lesão na placa de ateroma, formação de trombo suboclusivo de plaquetas. ➢ Aterosclerose acelerada → aumento rapidamente progressivo no volume da placa, sem ruptura ➢ Disfunção endotelial, perdendo fatores vasodilatadores como o óxido nítrico ➢ Inflamação → edema na parede coronariana, reduzindo o fluxo sanguíneo e isquemia por redução no aporte de O2. 3.1 ANGINA INSTÁVEL ➢ Desconforto torácico, inicio recente, caráter intermitente ➢ não há necrose dos miócitos ➢ Características: o surge em repouso ou mínimos esforços o duração prolongada > 10-20 min o inicio recente em geral nas últimas 4-6 semanas o dor progressivamente mais intensa, frequente e duradoura do que antes 3.2 MINOCA ➢ IAM sem presença de doença coronariana obstrutiva ➢ 2/3 dos pacientes apresentam clínica de IAMSSST ➢ Diagnóstico de MINOCA: o Presença de IAM o Documentação angiográfica de DAC não obstrutiva o Sem outra causa evidente não coronariana que justifica a apresentação ➢ Desequilíbrio entre oferta e consumo de oxigênio e disfunção endotelial coronariana 3.3 TINOCA ➢ Elevação isolada de troponina na ausência de obstrução coronariana e manifestações clínicas de infarto ➢ Contempla paciente com lesão isquêmica (MINOCA) e outras etiologias de lesão miocárdica não isquêmica 3.4 IAMSSST ➢ Principal etiologia – Aterotrombose ➢ Trombo geralmente é branco, não oclusivo e rico em plaquetas, fibrina ou ambos 3.4.1 Avaliação inicial ➢ Sinais de gravidade: dor persistente, dispneia, palpitações secundárias a arritmias graves como taquicardia ventricular. ➢ Verificação sinais vitais – FC, PA e FR e condições que apresentam risco imediato de morte como insuficiência respiratória aguda e instabilidade hemodinâmica ➢ MOVE (monitorização; oximetria de pulso, veia – acesso venoso calibroso e exames. ➢ 5 condições potencialmente fatais: o Síndrome coronariana aguda o Emboliapulmonar o Dissecção de aorta o Pneumotórax hipertensivo o Ruptura de esôfago 3.4.2 ECG ➢ Define se estamos em uma SCA sem supra ou com supra do segmento ST ➢ Anormalidades: o Onda T simétrica e apiculada com segmento ST retificado o Inversão onda T o Infradesnivelamento do segmento ST Para medir o infra desnivelamento, devemos traçar uma linha reta a partir do final da onda P até o início do complexo QRS (junção PQ) e medir o ponto J (junção do final do QRS e o início do segmento ST). No exemplo, o infra desnível tem 2mm. SCA sem supra de ST: observe o infra desnivelamento do segmento ST nas derivações V3 a V6 (isquemia de parede anterior). **derivações V3R, V4R (direita), V7 e V9 (posteriores) são realizadas em pacientes com ECG não diagnóstico e que permanece sintomáticos, pois o ECG pode ser normal ou não diagnóstico quando apresenta acometimento das artérias circunflexa ou coronária direita. 3.4.3 Marcadores de necrose miocárdica ➢ Elevação dos MNM caracteriza diagnóstico de IAMSSST, se normal em todas as dosagens, diagnóstico é angina instável. ➢ Necrose no músculo cardíaco: o Mioglobina – não tem mais utilidade no dx de IAM – marcador precoce, alta sensibilidade, porém é pouco especifico e alta taxa de falso- positivo elevando-se em outras situações como insuficiência renal, convulsões e trauma muscular. o Creatinoquinase isoenzima MB (CK-MB) o Troponinas T e I o Troponina ultrassensível – padrão ouro ➢ CK-MB o Pode elevar em outras situações que não isquemia miocárdica, como em cirurgia cardíaca, miocardite aguda, pericardite aguda, hipertermia maligna, trauma torácico, reanimação cardíaca o Útil no diagnóstico de reinfarto e infarto periprocedimento ➢ Troponinas o T e I são especificas do miocárdio o Elevam-se 3 a 12 horas após o inicio do evento isquêmico, pico em 24h e duração de 5 a 14 dias. o Miocardite, pericardite, cardiopatia de Takotsubo, IC, embolia pulmonar e choque séptico elevam a troponina. 3.4.4 Estratificação de Risco Classificação de Braunwald modificada ➢ Classificação clínica para AI/IAMSSST ➢ Classificação tradicional, estratifica os pacientes em risco alto, baixo e intermediário, baseando em critérios clínicos, ECG e marcadores de necrose miocárdica. Escore HEART ➢ Risco refere-se à probabilidade de óbito ou eventos cardíacos maiores como IAM. ➢ Alto risco se beneficia de internação em unidade coronariana ➢ baixo risco - estratégia conservadora ➢ fatores para estratificar o risco: ECG, laboratoriais ou derivados de métodos especiais de estratificação. ➢ mais habilidade em distinguir pacientes de baixo risco para eventos cardíacos maiores comparado a escores mais tradicionais ➢ Escore ≤ 3, associado a troponina negativa, ECG sem alterações isquêmica, ausência de DAC permite alta segura do serviço de emergia p/ avaliar ambulatorialmente. Escore TIMI risk ➢ Avalia risco de morte, IAM ou de angina recorrente, requerendo revascularização nos próximos 14 dias 3.4.5 Condutas Cateterismo de urgência - Realizar em até 2 horas ➢ Instabilidade hemodinâmica ou choque cardiogênico ➢ Dor torácica refratária ao tratamento medicamentoso ➢ Arritmias malignas ou parada cardiorrespiratória ➢ Complicações mecânicas do infarto ➢ ICA ➢ Alterações do segmento ST com elevação intermitente. Oxigenoterapia ➢ Risco intermediário e alto ou por tempo maior na saturação < 90% ➢ Cuidado com paciente com DPOC ➢ 2 – 4 l/min em cateter. Analgesia e sedação ➢ Morfina – analgesia e ansiolítica, provoca venodilatação e aumento do tônus vagal, reduzindo pré carga e demanda de O2. ➢ Contraindicação se hipotensão arterial sistêmica e hipersensibilidade ao medicamento. ➢ Sulfato de morfina 1 – 5 mg IV, podendo repetir em 5 a 30 minutos Controle glicêmico ➢ Mensurar na admissão os níveis glicêmicos ➢ Níveis de glicemia devem ser mantidos entre 70 e 180 mg/dl Terapia anti-isquêmica Objetivo reduzir o consumo de O2 e aumentar sua oferta ➢ NITRATOS o Vasodilatadores o Usado p/ alivio da angina o Não usar em infarto de VD, hipotensão arterial, uso prévio de sildenafil nas últimas 24h ou tadalafila nas últimas 48h o Nitrato sublingual 5mg a cada 5 minutos, no máximo 3 vezes. o Se não melhorou, administrar nitroglicerina (Tridil) IV. o NÃO ALTERA MORTALIDADE ➢ BETABLOQUEADORES (BB) o Diminui FC, PA e contratilidade miocardica o Contraindicacoes: ICC, choque cardiogênico, idade > 70 anos, FC > 110 ou PAS < 120, BAV 2 ou 3º grau, hipotensão persistente, asma e DPOC. o ALTERA MORTALIDADE ➢ BLOQUEADORES DOS CANAIS DE CÁLCIO (BCC) o Indica quando persiste a dor, apesar da terapia antianginosa ou quando há alguma contraindicação aos betabloqueadores o Nifedipina o Não altera mortalidade Terapia antitrombótica ➢ ANTIPLAQUETÁRIOS – AAS o Reduz agregação plaquetária no local do trombo o Indicação para TODOS OS PACIENTES o AAS 160mg a 325mg mastigável (dose de ataque) o Manutenção – 100mg/dia ➢ ANTAGONISTAS DO RECEPTOR P2Y12 DO ADP o Antagonista da ativação plaquetária o Clopidogrel, prasugrel e ticagrelor o Clopidogrel – 300 a 600 mg VO – dose ataque o Prasugrel – 60mg VO o Ticagrelor - + potente que clopidogrel, dose ataque 180mg VO Anticoagulantes ➢ HEPARINA NÃO FRACIONADA (HNF) o Ação da inibição indireta da trombina (fator IIa) e fator Xa o Indicação – pacientes com disfunção renal grave e cateterismo imediato o Dose 5.000 IV, seguido de 1000 UI/h ➢ HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR o Enoxaparina o Usar até revasc, durante 8 dias ou até alta hospitalar o 1 mg/kg SC, 12/12h Estatinas ➢ Atorvastatina 40-80mg/dia ➢ Rosuvastatina 20-40 mg/dia Revascularização miocárdica ➢ Angioplastia o Lesão uniarterial ➢ Cirurgia o Lesão de tronco de coronária esquerda o Lesão de DA proximal ➢ Antiagregantes e anticoagulantes o AAS – suspender o Clopidogrel e ticagrelor – suspende 5 dias antes o Prasugrel – suspende pelo menos 7 dias antes o Enoxaparina – suspende 24h antes o HNF – suspende 4 – 6 horas antes 4 IAM COM SUPRA DE ST ➔ Trombo é oclusivo e vermelho, rico em hemácias, fibrina, plaquetas e leucócitos. ➔ Classificação de Killip – prognóstico do IAM com base em sinais e sintomas. ➔ Causas de supra do ST o IAM o Pericardite e miocardite o BRE o Sobrecarga VE o Síndrome de Brugada o Angina de Prinzmetal – some após tratamento o Síndrome de Takotsubo o Aneurisma de VE. ➔ Diagnóstico da parede do infarto – ECG o Definir final segmento PR o Passa uma linha horizontal imaginaria que toque o final do segmento PR o Definir ponto J o Passa linha imaginaria que toque o ponto J o Se homem >= 40 anos: supra >= 2mm em V2 e V3 ou >= 1mm demais derivações o Se homem < 40 anos, supra ST >= 2,5 mm em V2 e V3 ou >=1mm demais. o Se mulher, supra >= 1,5mm em V2 e V3 ou >= 1mm nas demais. 4.1.1 Tratamento ➔ Angioplastia primária o Tratamento de escolha sempre que possível o Intervalo de até 120 minutos – diagnóstico e realização do procedimento o Aceitável em hospital com serviço de hemodinâmica – intervalo de até 90 minutos. ➔ Fibrinolíticos o Quando não tem possibilidade de angioplastia primaria em tempo adequado o Tempo porta-agulha – no máximo 30 minutos o Tenecteplase – fibrinolítico de escolha o Alteplase – infusão dividida em 3 etapas e duração total de 90 minutos