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Deficiência Intelectual e Física Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Magda Marly Fernandes Revisão Textual: Profa. Ms. Rosemary Toffoli. 5 Un id ad e Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. Nesta Unidade estudaremos os processos de intervenção pedagógica facilitadoras do desenvolvimento e escolarização de pessoas com deficiência intelectual. Sabemos como a sociedade brasileira em geral sofre para suprir suas necessidades essenciais, conquistar trabalho e levar uma vida melhor. Sabemos, também, que existe uma relação estreita entre a qualidade de escolarização e a superação de desafios da vida. Deixar a pessoa com deficiência intelectual fora da escola é, no mínimo, deixá-la viver num círculo restrito, segregado, sem direito a opinar, decidir seus caminhos. Entendamos que todas as possibilidades de práticas e propostas inclusivas requerem atenção e discernimento, porque as leis tentam garantir direitos, mas quem faz o direito tomar forma são as ações concretas dos cidadãos em seu ato político de humanizar-se, humanizando. Criar, organizar, programar propostas pedagógicas dependem do ato político e amoroso dos educadores. Precisamos educar para emancipar, ajudar os alunos a tornarem-se independentes, responsáveis a exercerem sua cidadania, usufruindo direitos, lutando para que esses direitos sejam justos para TODOS na escola, na comunidade, no trabalho e no mundo. Para isso, a educação deve começar cedo, preparando professores e profissionais, agindo na prevenção, na estimulação essencial para os que correm risco ou já nasceram com deficiências, incentivando as propostas inclusivas, intervindo na comunidade, no trabalho, no direito ao exercício da cidadania e vida independente das pessoas com deficiências. Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução • A formação do professor • O desenvolvimento cognitivo da pessoa com deficiência intelectual • As propostas pedagógicas e os recursos para as pessoas com deficiência intelectual • Organização do trabalho pedagógico e os alunos com deficiência intelectual no ensino comum • Atividades da vida independente Fonte:T hinkstock / G etty Im ages 6 Unidade: Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. A necessária compreensão dos pressupostos epistemológicos e paradigmas voltados à pessoa com deficiência intelectual determinaram o posicionamento político da pedagogia voltada aos direitos humanos e à progressão de acesso aos conhecimentos como conquista indissociável da construção da cidadania. Nesta unidade, você terá contato com as propostas pedagógicas e os recursos para as pessoas com deficiência intelectual e a relação com o desenvolvimento cognitivo desses alunos. No decorrer dos estudos, daremos ênfase à Prevenção das deficiências e à Estimulação Precoce e como aplicá-la no ambiente pedagógico na escola infantil. Alguns vídeos serão esclarecedores e você deve acessá-los para melhor compreender o assunto. Abordaremos o papel do educador na organização do trabalho pedagógico na escola, a organização dos recursos e a atuação na sala de recursos com várias imagens e referências sobre materiais concretos. A organização de atividades culturais, saídas com visitas a exposições e diferentes espaços de enriquecimento do conhecimento têm contribuído para a inclusão e o acesso aos conhecimentos, com aproximação afetiva e interações sociais saudáveis. As atividades escolares e de enriquecimento à cultura dos alunos com deficiência, somados ao ambiente acolhedor e uma pedagogia participativa e democrática promovem práticas de cidadania e a progressão para uma Vida mais independente com inclusão econômica, ou seja, a inclusão no mercado de trabalho. Contextualização 7 Introdução A necessária compreensão dos pressupostos epistemológicos e paradigmas voltados à pessoa com deficiência intelectual determinaram o posicionamento político da pedagogia voltada aos direitos humanos e à progressão de acesso aos conhecimentos como conquista indissociável da construção da cidadania. O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que exige dos educadores, funcionários, alunos e pais a definição clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins. Assim, todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de cidadão que pretendem formar. As ações específicas para a obtenção desses fins são os meios de intervenção, a prática docente alicerçada na intencionalidade política. O que se espera da educação das pessoas com deficiência intelectual é que não as classifiquem mais como doentes ou incapazes, nem subestimem suas inteligências, impedindo-as de projetar sonhos e alcançar os mais altos níveis de realização humana. A educação deve ser democrática e se preocupar em ensinar a todos sem distinção, trabalhando a diversidade das crianças e suas necessidades com programas, recursos e práticas inclusivas. “Há no mundo cerca de 30 casos documentados de mulheres com a síndrome que deram à luz. Uma delas é Maria Gabriela, mulher de Fábio e mãe da pequena Valentina”. A formação do professor A formação de educadores para o atendimento educacional de pessoas com deficiência esteve ligada aos cursos de formação do magistério em nível secundário. A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB de 1971, surgem habilitações em nível superior, nas diferentes áreas da Educação Especial. Essa oferta de cursos esteve concentrada na região sudeste do país e o currículo focalizava os procedimentos especiais de ensino e a prática pedagógica geralmente realizada em Escolas Especiais. As décadas de 1970 e 1980 foram marcadas pelos movimentos sociais de reivindicação e luta pela democratização do ensino, acesso à escola gratuita e inserção das minorias marginalizadas e excluídas do sistema educacional. O movimento das pessoas com deficiência surge junto com os demais movimentos na década de 1970. Até a década de 1990, os professores que desejavam atuar junto aos alunos com deficiências teriam que buscar uma formação geral básica (Curso de Pedagogia), e uma habilitação com formação específica para atendê-lo em sua deficiência. Formavam-se professores habilitados em Educação Especial numa das modalidades Deficiência Mental (Intelectual), Deficiência Física, Deficiência Visual, Deficiência Auditiva. 8 Unidade: Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. Atualmente os currículos do Curso de Docência, em sua maioria, oferecem conhecimentos sobre a inclusão de alunos com deficiência. Logicamente, a formação superior não comporta tudo, mas deve articular-se com a realidade escolar e social, para perceber o que deixa para a formação continuada dos professores. A Educação Continuada depende de recursos próprios da escola, da visão dos gestores, das parcerias com profissionais e dos apoios de órgãos superiores. Tomemos, enfim, um professor que não se sinta seguro para atuar com alunos com deficiência intelectual. Embora ele não tenha conhecimentos específicos sobre a deficiência, espera-se que ele tenha o necessário para atender a qualquer criança em sua aprendizagem. Mesmo que ele saia da faculdade com uma formação mais teórica, o profissional deve saber e entender sobre desenvolvimento infantil, as necessidades dos jovens e adultos, os processos mentais da cognição, a importância da construção das identidades, alfabetização e letramento, trabalhar com grupos, conhecer processos alternativos de aprendizagem, criar estratégias, estruturar avaliações processuais, ensinar a fazer uso da web, promover vivências de enriquecimento cultural, respeitar a diversidade de aprendizagem. Explore Importância da inclusão: trechos do filme “Do luto a luta” https://www.youtube.com/watch?v=YP1fsEgL710 www O desenvolvimento cognitivo da pessoacom deficiência intelectual Bärber Inhelder (1968), uma das maiores colaboradoras de Jean Piaget, utilizando-se do método clínico piagetiano como forma de análise do desenvolvimento cognitivo, examinou inúmeras crianças com deficiência intelectual e concluiu que a sequência do desenvolvimento cognitivo (sensório-motor – pré-operatório – operatório concreto e formal), em comparação com as crianças tidas como normais, eram idênticas, mas com diferentes ritmos de passagem de uma fase para outra, mais demora, com pontos de “estrangulamento”, e uma flutuação de uma passagem para outra, e impossibilidade de atingir as fases finais de desenvolvimento cognitivo que seria a fase das operações formais próprias dos adultos. Em termos de desenvolvimento da cognição, a pessoa que tem uma deficiência intelectual pode não chegar ao nível do pensamento formal, característico do pensamento adulto. Seu desenvolvimento cognitivo ficaria fixado, pelo menos, no nível das operações concretas. A verificação também mostrou a existência de uma constante flutuação entre níveis de funcionamento: os níveis pré-operatório, operatório concreto e até mesmo sensório-motor sobrepõem-se e entrecruzam-se quando a criança é confrontada com um problema. (2005:16) Assim, as atividades pedagógicas devem proporcionar atividades e vivenciar práticas, uma vez que o conhecimento abstrato pode ser de difícil assimilação. 9 O potencial intelectual pode estar reduzido, apresentando graus de gravidade. Porém, esses graus podem ser reduzidos e até mesmo superados se a criança participar, em tempo hábil, de um processo educativo que atenda às suas necessidades. (...) quanto mais precoce o diagnóstico e a intervenção adequados, melhores serão os efeitos obtidos. Dessa forma, as descobertas realizadas recentemente a partir da epistemologia genética são essenciais para uma educação inclusiva, visto que diversas pesquisas têm indicado que muitas crianças consideradas como intelectualmente deficientes, se tivessem sido identificadas precocemente e recebido uma educação apropriada, teriam melhores possibilidades de conhecer e interpretar o mundo. De fato, talvez, elas nunca chegassem a ser classificadas como pessoas com deficiência intelectual. As propostas pedagógicas e os recursos para as pessoas com deficiência intelectual Educação Infantil e a estimulação precoce ou essencial Na especificidade da educação infantil, o professor deve rever as concepções sobre a infância, sobre famílias e escola infantil, porque irá se posicionar a respeito de práticas paternalistas internas, trabalhar em parceria com os pais e aprimorar a qualidade de ensino no sentido de estimular áreas de desenvolvimento, valorizando a cultura infantil e a construção positiva da identidade. A independência e autonomia das crianças dependem de conquistas junto aos seus pares. Executando atividades com os colegas, dividindo e compartilhando desafios, a aprendizagem pode ganhar mais “significado” e utilizando o que sabem e o que aprendem com o outro como recursos. Segundo os referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (1998) As crianças vão, gradualmente, percebendo-se e percebendo os outros como diferentes, permitindo que possam acionar seus próprios recursos, o que representa uma condição essencial para o desenvolvimento da autonomia. A autonomia, definida como a capacidade de se conduzir e tomar decisões por si próprio, levando em conta regras, valores, sua perspectiva pessoal, bem como a perspectiva do outro, é, nessa faixa etária, mais do que um objetivo a ser alcançado com as crianças, mas um princípio das ações educativas. Conceber uma educação em direção à autonomia significa considerar as crianças como seres com vontade própria, capazes e competentes para construir conhecimentos, e, dentro de suas possibilidades, interferir no meio em que vivem. Exercitando o autogoverno em questões situadas no plano das ações concretas, poderão gradualmente fazê-lo no plano das ideias e dos valores. (RCNEI, vol 2,1998:15). A criança pequena com deficiência intelectual deve ser estimulada nas diferentes áreas do desenvolvimento. Não podemos esquecer que a sua diferença pode ser “agravada” pela não estimulação e pela segregação social. 10 Unidade: Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. A importância da estimulação essencial nos primeiros anos Qualquer criança que receber estimulação nos primeiros anos de vida terá um desenvolvimento melhor, às vezes, até acima do esperado. Outras crianças que ficam muitas horas na escola ou em casa recebendo apenas cuidados físicos, sem a estimulação devida em todas as áreas de desenvolvimento, poderão ter atrasos mesmo sem ter uma deficiência. É importante sabermos que os seres humanos só aprendem o que lhes é oferecido, ensinado, como locomover-se, expressar-se, pensar e brincar. Nada no ser humano é natural, a não ser o uso de reflexos e do choro como defesa. Em casos de crianças com deficiência intelectual, elas, geralmente, apresentam atrasos no desenvolvimento. Demoram mais para andar, falar, controlar esfíncteres etc. Outras crianças que não têm uma deficiência detectada, em determinadas circunstâncias, correm riscos de a terem. O atraso no desenvolvimento ocorre por várias causas e não só como consequência de problemas genéticos ou síndromes. Elas correm riscos em outras situações como prematuridade, abalos na saúde, situação ambiental ou social precárias, traumatismos, sofrimentos de violências, exposições a tóxicos, drogas etc. Importante A Estimulação Essencial é um recurso de educação integrada ao currículo escolar ou complementar, usada como Prevenção das deficiências e como melhoria da performance do desenvolvimento da criança. Fonte: Thinkstock / Getty Images Devido à plasticidade neuronal intensa nos primeiros anos de vida, muitas das deficiências instaladas podem ser amenizadas e até superadas. A Estimulação Essencial é o nome científico da intervenção, pois tem aspectos didáticos em sua aplicação. Trata-se de um “um conjunto dinâmico de atividades e de recursos humanos e ambientais incentivadores que são destinados a proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas para alcançar o desenvolvimento no seu processo evolutivo” – Estimulação Precoce – BRASIL/UNESCO. 11 Os benefícios da estimulação serão efetivos quando organizado e aplicado de forma gradual, variada e motivadora, seguindo o desenrolar do progresso da criança que vai alcançando níveis mais complexos durante seu desenvolvimento. Quando a intervenção da estimulação essencial deve ser aplicada? Poderá ser aplicada em qualquer criança até três anos, principalmente quando fatores de risco fazem parte da história da criança. Os fatores de risco geram deficiências. São eles: • Fatores Pré-natais - quando observados e detectados na história da gestação. » Alteração de genes ou cromossomos (Down) » Fatores ambientais ligados à saúde da gestante » Erros inatos do metabolismo (fenilcetonúria, hipotiroidismo congênito) » Microcefalia, hidrocefalia » Infecções na gravidez (rubéola, toxoplasmose, sífilis, AIDS) » Desnutrição, alcoolismo, fumo, uso de remédios, exposição à radiação. • Fatores Peri-natais - observados durante o nascimento » Prematuridade » Baixo peso ao nascer » Problemas de parto (partos demorados, circular de cordão, parto pélvico) » Icterícias graves por incompatibilidade sanguínea » Infecções » Hemorragia cerebral » Uso de fórceps » Anóxia (falta de oxigênio). • Fatores Pós-natais – observados após o nascimento » Prematuridade » Deficiência alimentar (desnutrição) » Infecções agudas » Parasitoses intestinais » Doenças metabólicas » Problemas emocionais (privação de afeto e de estímulos) » Violência e traumas de violências. Procure pesquisar e registrar cada um dos fatores de risco pré-natais, perinatais e pós-natais. Faça um portfóliosobre as causas estudando-as, ilustrando cada uma delas, organizando didaticamente as consequências que trazem essas doenças e como preveni-las. Compartilhe com outros profissionais da área da educação e desenvolva um projeto de esclarecimento aos pais. 12 Unidade: Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. Onde esta intervenção deve ser aplicada e por quem? A estimulação deve ser aplicada por um profissional ou vários profissionais (equipe multidisciplinar) nas instituições que atendam bebês, a partir de um programa organizado de estimulação. Pode ser planejado e aplicado também em ambientes escolares, na Educação Infantil, por educadores, sendo importante o trabalho diário. Nesse caso, a intervenção deve fazer parte do Projeto Político Pedagógico da escola, vinculado ao currículo para ser estudado pelos professores, compartilhado com os pais e tenha um plano com tempo, material, local, recursos financeiros a ele destinados. Reforçamos que a intervenção precoce ou essencial no ambiente escolar pode ser aplicada em todas as crianças, de forma sequencial, ordenada, com anotações de desempenho. O benefício do programa é incontestável para o desenvolvimento. Em espaços terapêuticos ou mesmo nas escolas, as atividades educativas para o desenvolvimento das áreas: motora, cognitiva, sensorial, comunicativa e emocional têm feito verdadeiros milagres devido à plasticidade cerebral das crianças pequenas. Locais de aplicação » Em unidades hospitalares, onde as crianças são filhos de mães de risco » Em unidades hospitalares em crianças prematuras, desnutridas, que nasceram com saúde precária » Creches (de 0 a 3 anos) e Pré-escolas (de 4 a 6 anos) » Organizações que atendam crianças pequenas » Centros universitários de atendimento à comunidade infantil. » Em casa. Os pais devem ser orientados a dar continuidade às atividades como parte das interações familiares. Propiciar aos pais conhecimentos sobre os avanços da criança a partir da intervenção em casa e na escola. Metodologia » Observar a criança e avaliar seu estágio de desenvolvimento em diferentes áreas. » Buscar conhecimentos nas famílias na forma de entrevista (que já é feito na escola, mas com detalhes dos períodos pré - peri e pós natais. » Criar um instrumento de observação das áreas de desenvolvimento. » Inteirar-se sobre as áreas através de leituras. » Estudar e rever diferentes aspectos de desenvolvimento esperados para a idade. » Organizar um espaço com materiais de estimulação como tapete, espelho, brinquedos sonoros, brinquedos que movimentam, de montar, empilhar etc e classificá-los para usar no momento da estimulação. » Aplicar em situações lúdicas, como forma de jogos e brincadeiras. 13 Áreas de desenvolvimento na estimulação Para verificar áreas mais afetadas, deve-se acompanhar a criança, e analisar o seu desenvolvimento em vários aspectos, comparando-o com um parâmetro esperado para a idade sabendo que este parâmetro é apenas aproximado. As áreas a serem observadas são: • Motora – destreza, coordenação para encaixe, preensão, empilhamento, equilíbrio e locomoção, subir com ou sem ajuda, descer com ou sem ajuda, andar, empurrar, rolar, arrastar, trepar, parar, segurar, riscar, levantar e outros próprios esperados para a idade. • Fala - Desenvolvimento da comunicação desde o choro, manifestação de expressão, primeiras palavras, pronúncia, frases, manter curso de conversa com adultos e outras crianças, e outros relacionados ao esperado para a idade. • Tato e olfato – Reconhecimento de texturas, áspero, macio, mole, duro, ondulado, liso /temperaturas morno, frio, gelado/ gostos azedo, salgado, doce, cheiros... • Audição - Desenvolvimento da audição, reações a diferentes estímulos ao longe, de perto, fora do alcance da visão, identificação do som com objeto (pode ser gravações de porta batendo, vento soprando, cachorro latindo, carro freando, campainha, chaves, sinos, telefone... • Visão - Desenvolvimento da visão, acompanhamento com o olhar ao estímulo oferecido, fixar num alvo, identificar algo em meio a outros semelhantes sempre em comparação ao esperado para a idade. • Cognição – reconhecimento de objetos e sua função social, sua utilidade; identificação de objetos pelo nome, seus atributos essenciais, uso da memória, organização de ações para alcançar um objetivo, por exemplo, subir em uma caixa para alcançar um brinquedo; classificar, comparar, seriar, encadeamento do grande para o pequeno e vice-versa, analisar e sintetizar, incluir classes. Explore Vídeo – O que é estimulação precoce - 7’55’’ » https://www.youtube.com/watch?v=m0RCZwgtes4 ASIN – Associação Síndrome de Down Programa de estimulação precoce de 0 a 5 anos http://www.asin.org.br/ desenvolvimento/12-a-24-meses?start=2 www 14 Unidade: Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. Fonte: Thinkstock / Getty Images Organização do trabalho pedagógico e os alunos com deficiência intelectual no ensino comum Não existe uma prática diferente, nem uma educação diferente para crianças com deficiência intelectual. O que existe são organizações de trabalhos pedagógicos que facilitam o acesso ao conhecimento, enriquecimento cultural e relacional para a superação de impedimentos que possam ocorrer durante a trajetória escolar e da vida. Concordamos com Veiga (1998), quando afirma que devemos compreender a organização do trabalho pedagógico, no sentido de se gestar uma nova organização que reduza os efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmentação e do controle hierárquico. Nessa perspectiva, a construção do projeto político pedagógico é um instrumento de luta, é uma forma de contrapor- se à fragmentação do trabalho pedagógico e sua rotinização, à dependência e aos efeitos negativos do poder autoritário e centralizador dos órgãos da administração central (p.6). As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de luta, de correlações de força – às vezes favoráveis, às vezes, desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”, com apoio dos professores e pesquisadores. Não poderão ser inventadas por alguém, longe da escola e da luta da escola. (Freitas 1991, p. 23 In Veiga, 1998). Para o atendimento das pessoas com deficiência intelectual na escola, devemos primeiramente nos livrar de mitos e seguir recomendações de profissionais que transformaram suas práticas em registros comprováveis de sucesso. Os tópicos a seguir foram extraídos pela Rede Saci. Mitos sobre deficiência intelectual e a escola » Toda pessoa com deficiência mental é doente » Pessoas com deficiência intelectual morrem cedo, devido a “graves” e “incontornáveis” problemas de saúde » Pessoas com deficiência intelectual precisam usar remédios controlados 15 » Pessoas com deficiência intelectual são agressivas e perigosas, ou dóceis e cordatas » Pessoas com deficiência intelectual são generalizadamente incompetentes » Existe um culpado pela condição de deficiência » Meio ambiente pouco pode fazer pelas pessoas com deficiência » Pessoas com deficiência intelectual só estão “bem” com seus “iguais” » Para o aluno com deficiência intelectual, a escola é apenas um lugar para exercer alguma ocupação fora de casa. Recomendações para atendimento educacional » Não subestime a inteligência das pessoas com deficiência intelectual! Encoraje as perguntas e a expressão de suas opiniões. » Não superproteja as pessoas com deficiência intelectual. Deixe que ela faça ou tente fazer sozinha tudo o que puder. Ajude apenas quando for realmente necessário. » Valorize mais o processo do que o resultado. Mas não ignore os resultados, eles também devem ser esperados e cobrados do aluno com deficiência intelectual. » Promova a participação em atividades estimulantes e diversificadas. » Respeite as preferências, os gostos e as decisões da pessoa. Lembramos que a deficiência existe e, em determinadasatividades, o professor poderá criar algum recurso para facilitar o acesso ao conhecimento. As pessoas com deficiência intelectual podem apresentar dificuldades em processar a comunicação oral ou a linguagem escrita e, assim, não assimilar conhecimentos apresentados de forma abstrata. As informações, ao serem dadas pelo professor, devem ser explicadas com calma, acompanhadas durante o desempenho e problematizadas. Deve ser solicitada expressão de compreensão e criadas atividades para serem vivenciadas, pois a elaboração abstrata (pensamento formal) é difícil de ser alcançada e, por vezes, fixa-se, no máximo, no operatório concreto. Fonte: Thinkstock / Getty Images Criar um ambiente de aprendizagem organizado, com materiais concretos disponíveis ou elaborados é um cuidado que o professor deve ter para com todos os seus alunos, principalmente, quando tem um aluno com deficiência intelectual. A problematização deve ser organizada de tal maneira que o aluno alcance as respostas com esforço, porém, acessível, recorrendo a elementos 16 Unidade: Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. que dispõe no repertório cultural e no ambiente, nas trocas com os demais e intervenção do professor. Muitas vezes, parece que a criança não aprendeu, não assimilou ou esqueceu. Nesse caso, provoque uma atuação prática diferenciada para verificar se sua execução corresponde. Sala de Recurso Há uma grande variedade de materiais e recursos pedagógicos que podem ser utilizados para o trabalho na sala de aula e na sala de recursos. A Sala de recursos é uma sala onde os alunos que apresentam dificuldades concretas de aprendizagem podem frequentar em contra turno, para receberem apoio pedagógico. Destacam-se: os jogos pedagógicos que valorizam os aspectos lúdicos, a criatividade e o desenvolvimento de estratégias de lógica. Fonte: Thinkstock / Getty Images É importante lembrar que o atendimento proporcionado pelo professor de Sala de recursos não pode ser confundido com reforço escolar ou mera repetição dos conteúdos programáticos desenvolvidos na sala de aula regular. Esta sala constitui, conforme a legislação, um dos atendimentos educacionais especializados, caso o aluno venha necessitar, com um professor especializado que o auxilie preparando recursos, auxiliando, consequentemente, o professor da sala comum. Pode ainda orientar os pais e demais professores da escola dependendo da dimensão a ser trabalhada. Fonte: Thinkstock / Getty Images 17 Papel do professor de Sala de Recurso Os professores devem construir um conjunto de procedimentos específicos mediadores do processo de apropriação e produção de conhecimentos, a saber: • Atuar de forma colaborativa com o professor da classe comum para definir estratégias pedagógicas que favoreçam o acesso do aluno com necessidades educacionais especiais ao currículo e a sua interação no grupo. • Promover as condições desses alunos em todas as atividades da escola. • Orientar as famílias para o seu envolvimento e sua participação no processo educacional. • Informar a comunidade escolar sobre a legislação e normas educacionais vigentes que asseguram a inclusão educacional. • Participar do processo de identificação e tomadas de decisão acerca do atendimento às necessidades especiais dos alunos. • Preparar material específicos para o uso dos alunos na sala de recursos e orientar a elaboração de material didático - pedagógico que possam ser utilizados pelos alunos nas classes comuns do ensino regular e, ainda, • Articular, com gestores e professores, para que o projeto pedagógico da instituição de ensino se organize coletivamente, numa perspectiva de educação inclusiva. Avaliação As avaliações podem ter um diferencial sem provocar uma situação constrangedora desnecessária e inibidora de desempenho. Daí a importância da flexibilidade na organização pedagógica nos processos de aprendizagem e na estrutura da avaliação. Ao perceber que seu aluno não assimilou, mude a organização do trabalho pedagógico. Os processos grupais heterogêneos ajudam muito as crianças com deficiência intelectual, pois elas prestam atenção na execução de colegas, e os colegas a ajudam na execução. Só não permita que os outros executem por elas. A pedagogia do elogio é ótima, mas não falsa. Deve exigir mais dos alunos (qualquer um) quando sabe que poderá se esforçar mais. Atividades de enriquecimento científico cultural As situações de enriquecimento cultural favorecem a assimilação de conteúdos. A escola deve transformar passeios de puro entretenimento, em atividades culturais como complemento de estudos, que é o papel da escola. Nem por isso, às vezes proporcionar um passeio como entretenimento, confraternização ou comemoração, desde que seja inclusivo, direito de todos, sem divisão de classe econômica, no sentido de quem vai é aquele que pode pagar pela atividade etc. 18 Unidade: Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. Fonte: iStock / Getty Images Quanto às atividades com uso da web, as pessoas com deficiência intelectual, durante a sua aprendizagem, podem necessitar num determinado momento de recursos como: sintetizador de voz, quando não adquiriram a leitura, acompanhamento próximo até dominar uma ferramenta, ou simulação virtual para compreender o comando. Mas o melhor mesmo é receber instrução do professor e colocá-lo próximo a um colega. Atividades da vida independente As atividades têm como objetivo criar hábitos de cuidados pessoais, ser participante nos meios social e familiar com menos dependência. As atividades devem ser programadas em meio natural da vida rotineira focalizando ações de autocuidado, locomoção, adaptação a diferentes meios sociais, execução de tarefas simples, noções de segurança, noções básicas de tempo relacionado a tarefas, programações, atividades, deslocamento fora de casa, estímulo de responsabilidade, organização e planejamento. A aplicação dessas atividades deve ser introduzida na vida cotidiana, Algumas podem ser trabalhadas na escola, dentro do currículo, outras serão realizadas com ajuda da família, ou de um educador tutor, uma vez que o ambiente escolar mostra-se restrito. Quaisquer das atividades devem ser programadas em GRAUS de dificuldades – do simples ao complexo, considerando as limitações e potencialidades das crianças. Fazem parte do rol de atividades – podendo ser ampliado As atividades de autocuidado – atividades de higiene pessoal - tomar banho de forma independente ou pouca ajuda; escovar dentes, trocar de roupas, pentear-se, fazer barba, usar absorventes, usar adequadamente o banheiro e tudo o mais relacionado ao cuidado com o corpo, beleza e estética. 19 As atividades de segurança – subir e descer escadas, usar eletrodomésticos como máquina de lavar, liquidificador, equilibrar bandejas, uso de objetos cortantes, usar fogão, micro-ondas, andar na calçada, atravessar ruas, usar transportes, saber identificar-se, saber onde mora, andar documentado e com agenda, medicar-se. As atividades práticas – comer com colher, com garfo e faca, descascar, cortar alimentos, preparar alimentos como lanches, sucos, servir-se à mesa, servir sucos sem derramar, lavar pratos, enxugar e guardar, arrumar a cama, arrumar a casa, organizar armários e gavetas, varrer, lavar e estender roupas, fazer pequenas compras, comprar as próprias roupas, pagar contas, usar cartão, trancar e destrancar portas e portões, cuidar de animais de estimação, reciclar lixo, limpar o que sujou organizar correspondências. Atividades que envolvem a comunicação – conversar com as pessoas fazendo-se entender, escutar as pessoas com atenção, perguntar, pedir informação, pedir ajuda, usar telefone público, ler e escrever (vários níveis), usar a web, fazer uso de e-mails e redes sociais, prática de esporte, teatro e lazer (participação de diferentes meios sociais). Atividades que envolvem o cálculo– noções básicas do tempo (manhã, tarde, noite, hoje, ontem, amanhã); cálculos simples, usar calculadora, saber horas, intervalo de tempo, dias da semana, meses do ano, uso de dinheiro, contar cédulas. Trabalho doméstico - fazer concertos simples com uso de martelo, prego, amarrações, uso de colas. Executar tarefas em grupo - colaborar, envolver-se em atividades cooperativas, realizar sua parte com responsabilidade. O importante é verificar se cumpre tarefas até o fim, como as executa (com ou sem ajuda) e se a execução é adequada para a idade. Preparação para o trabalho – organização de documentos, conhecimentos específicos sobre direitos, ética e práticas colaborativas, comunicação oral, leitura de documentos e uma série de atividades envolvendo deslocamento físico, uso de transporte público, uso de agendas, celular etc. Inserção no mercado de trabalho - realizado por instituições ou centros de integração ao trabalhador com supervisão no início e acompanhamento de treinamento em serviço. A Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, prevê cotas para portadores de deficiência no mercado de trabalho. Dispõe referida lei que as empresas que têm de 100 a 200 empregados devem reservar, obrigatoriamente, 2% de suas vagas para pessoas com deficiência, que pode ser visual, auditiva, física ou intelectual. Para as empresas que têm de 201 a 500 empregados, a cota reservada aos portadores de deficiência é de 3%. Para as que têm de 501 a mil empregados, de 4%. Participação em atividades de lazer, esporte e turismo – geralmente proporcionado por educadores ligado ao esporte adaptado, agências de turismo e pessoal disponível para acomodar e acompanhar pessoas com deficiências no esporte e no lazer. As atividades começam na escola que já se integram em olímpíadas de esporte adaptado. 20 Unidade: Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. A estimulação, a escolarização, as atividades de saúde e lazer e da vida diária contribuem para a vida independente. Explore Vídeo – Profissão Repórter - 03/12/2013 - Sobre deficiência intelectual » https://www.youtube.com/watch?v=F5fk1Dnvk8M www 21 Material Complementar Sinopse: Kathleen Turner (A Guerra dos Roses e Tudo Por uma Esmeralda) e Tommy Lee Jones (O Fugitivo e JFK – A Pergunta Que Não Quer Calar) estrelam essa história forte sobre a devoção de uma mãe, que vai abrir sua mente e tocará seu coração. Quando Ruth Matthews (Kathleen) descobre que sua filha, Sally, vive fora da realidade, ela e um médico de boa índole (Jones) lutam para tentar curar a criança. Mas quando a ciência convencional parece incapaz de ajudar a pequena garota, Ruth embarca em uma viagem dentro de si para desvendar os mistérios que mantêm sua filha reclusa. Conto apaixonado e angustiante sobre o amor de uma mãe – e a busca de uma família por uma cura. Texto - o que é deficiência intelectual De forma simples e objetiva discorre sobre a deficiência intelectual » http://www.apaesp.org.br/SobreADeficienciaIntelectual/Paginas/O-que-e.aspx Referencial sobre Avaliação da Aprendizagem na Área da Deficiência Intelectual. O “Referencial sobre Avaliação da Aprendizagem na área da Deficiência Intelectual” foi elaborado pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, pela Diretoria de Orientação Técnica– Educação Especial e especialistas em Deficiência Intelectual dos Centros de Formação e Acompanhamento à Inclusão – CEFAI, das Diretorias Regionais de Educação. A proposta de avaliação apresentada neste documento, a ser realizada pelos professores, está organizada com instrumentos que visam a identificar os processos de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos com deficiência intelectual. » http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Documentos/BibliPed/EdEspecial/Referencial_ AvaliacaoAprendizagem_DeficienciaIntelectual.pdf Formas criativas de estimular as mentes de crianças com deficiências – Revista Escola Algumas propostas para estimular a leitura, escrita e a aprendizagem geral. » http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formas-criativas-estimular-mente-deficientes- intelectuais-476406.shtml http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Documentos/BibliPed/EdEspecial/Referencial_AvaliacaoAprendizagem_DeficienciaIntelectual.pdf 22 Unidade: Intervenção pedagógica em pessoas com deficiência intelectual e vida independente. Referências Rede Saci - Educação Inclusiva: Componente da Formação de Educadores. Comentário SACI: Artigo publicado na Revista Benjamin Constant de Dezembro de 2007 Ano 13 Número 38. Fonte: http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=21054 - Acessado em 28 de setembro de 2014. BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Documento subsidiário à política de inclusão. Simone Mainieri Paulon, Lia Beatriz de Lucca Freitas, Gerson Smiech Pinho. –Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2005. 48 p. BRASIL, UNESCO. Estimulação Precoce. - Fonte -http://unesdoc.unesco.org/ images/0013/001344/134413porb.pdf - Acessado em 28 de setembro de 2014. MANTOAN, M. T. E. Compreendendo a deficiência mental: novos caminhos educacionais. São Paulo: Scipione, 2005. VEIGA, Ilma Passos da. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva. In: VEIGA, Ilma Passos da (org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 1998. p.11-35. GIL, Martha (coord). Educação Inclusiva, o que o professor tem a ver com isso? USP – Imprensa Oficial. - Fonte - http://saci.org.br/pub/livro_educ_incl/redesaci_educ_incl.pdf - Acessado em 28 de setembro de 2014 23 Anotações
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