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Pintura_Abstrata_e_Poesia_Concreta

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Pintura Abstrata e Poesia Concreta
Entre o ponto e as linhas 
Pedro Henrique C. Guimarães
Por esta relação cravada em minha pele, nestes dois polos do indizível, que operacionalizam o transbordo da linguagem para além do significado imediato. A pintura e a poesia inscritas como arte do pontual. Tudo começa num ponto – de uma qual linha que os une?
A arte abstrata que constrói sobre a desconstrução do olhar, a poesia concreta que se constrói sobre a desconstrução da palavra. A pintura e a poesia como arte do instantâneo forçada a ser a arte da demora – a demora sobre a forma. 
A poesia concreta que é a pintura da palavra, a pintura abstrata que é a palavra da pintura. A poesia concreta reivindica a palavra enquanto forma, enquanto desenho. A pintura abstrata reivindica a pintura enquanto forma, enquanto conceito. 
Elas se declaram como um manifesto. Elas são feitas para ser um manifesto, tal qual um manifesto. Haroldo e Augusto de Campos[footnoteRef:1], além de poetas concretos, são [ou foram] grandes ensaístas, grandes teóricos de uma nova forma de fazer poesia. Wassily Kandinsky[footnoteRef:2] e Piet Mondrian[footnoteRef:3], além de grandes pintores abstratos, foram teóricos de uma nova forma de apresentação de imagens. [1: V.gTeoria da poesia concreta (com Décio Pignatari e Haroldo de Campos), 1965; Poesia antipoesia antropofagia, 1978; A arte no horizonte do provável (1972). ] [2: V.g Do espiritual na arte (1911); Ponto e linha sobre o plano (1926)] [3: V.g Neoplasticismo na pintura e na arquitetura] 
Pois, toda transformação é um contínuo movimento entre o fazer e o dizer, como extravasamento entre teoria e práxis. A teoria se torna uma práxis. 
A pintura é o movimento do ponto, tal qual o poema é o movimento da letra. É um movimento que é uma dobra, um corte. 
Pintura abstrata e arte concreta que estabelecem com área aberta a um diálogo com outras formas de arte. A pintura com música em Kandisky, a poesia como escultura nos poemóbiles de Augusto de Campos. Tensões internas que projetam conexões, em busca da arte total. Arte total não como totalidade das artes, não como redução da arte a um único projeto, mas arte total enquanto a totalidade das formas que a arte, ela mesma, reivindica.
Porque, ao fundo, sabemos que toda pintura é abstrata. É abstrata porque é uma composição de ângulos, cores, paisagens, pessoas, formas. E ao fundo, toda poesia é concreta, porque ela é corpo, ela é ritmo, ela é a forma brutalista da linguagem dita por si. 
E, aqui, não poderia dizer sem paralelismo, o paralelismo poético, o paralelismo visual. As paralelas que só encontram no infinito do moto-contínuo da vida.

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