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PROCESSO DE CONHECIMENTO PROCESSO DE CONHECIMENTO Rafaela Lacerda Assis Iniciar OLÁ! Você está na unidade Processo do Conhecimento. Conheça aqui o modo como o processo se forma, seu meio de formação e os requisitos necessários para que ele se constitua de forma válida por meio da petição inicial, possibilitando o desencadeamento dos atos processuais subsequentes, que culminarão na prolação de uma sentença nos termos e limites estabelecidos na peça inaugural do processo. Para tanto, é necessário tratar da formação do processo e da petição inicial, bem como do pedido que constituirá a pretensão jurídica do autor da causa. Bons estudos! 1.0 Formação do processo e petição inicial Neste tópico, abordaremos o ato inicial de instauração do processo representado pelo protocolo da petição inicial. Trata-se da peça de ingresso que expõe do que se trata a demanda sobre a qual versará o processo. É a petição que fundamenta juridicamente o direito pleiteado e expõe qual o direito que a parte pretende que seja satisfeito com aquela demanda. No Código de Processo Civil (CPC), Lei nº 13.105/2015, a formação do processo é tratada no artigo 312, enquanto a petição inicial é tratada nos artigos 319 a 331. 1.1 Petição inicial e demanda O processo é, sinteticamente, um conjunto de normas aplicáveis a procedimentos judiciais. Estas normas têm o objetivo de dirimir conflitos gerados no âmbito de uma relação jurídica entre sujeitos. O processo se inicia com o protocolo da petição inicial, que representa a propositura da demanda naquela data específica, conforme artigo 312 do CPC, que diz: “Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada. Todavia, a propositura da ação só produz os efeitos mencionados quanto ao réu no art. 240 depois que for validamente citado”. A propositura da demanda inaugura uma série de atos processuais que se seguirão, formando a relação processual entre as partes do processo, bem como entre estas e aquela jurisdição. https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/PROCESSO%20DE%20CONHECIMENTO/UNIDADE%201/index.html#section_1 Assista aí A petição inicial não se confunde com a demanda, mas é a forma pela qual a demanda se materializa no mundo jurídico, como se a petição inicial fosse um recipiente e a demanda o líquido que o preenche. A partir da propositura da ação, o processo passa a produzir efeitos para o autor, gerando litispendência. No entanto, ele só passa a produzir efeitos para o réu a partir da citação. A propositura da demanda induz litispendência e torna litigiosa a coisa em relação ao autor, enquanto que os efeitos do artigo 240 do CPC, que incluem também a constituição de mora do devedor, apenas fazem efeito em relação ao réu depois da citação válida. Desses efeitos é muito importante destacar a litispendência, que é o efeito verificado quando se repete ou reproduz uma ação que esteja em curso ou que foi anteriormente ajuizada. Nesse caso, nos termos do § 2º do artigo 337 do CPC, consideram-se idênticas as ações que possuírem mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido. Sendo assim, ao inaugurar uma demanda judicialmente, é importante verificar se a ação idêntica está – ou já esteve – em curso, uma vez que a propositura da demanda é o momento em que se verifica se há litispendência ou não. Nos dizeres de Fredie Didier Jr. (2015, p. 548): A demanda é o conteúdo da petição inicial. Forma é o meio pelo qual a vontade se expressa, se exterioriza. Ao tempo em que serve para exteriorizar à vontade, a forma serve de prova para o ato jurídico. Para maior segurança, a lei às vezes impõe que determinados atos jurídicos se revistam de determinada forma. A demanda é deles. O estudo dos requisitos da petição inicial (...) não passa de estudo dos requisitos formais do ato jurídico demanda. Como a demanda tem a função de bitolar a atividade jurisdicional [...] costuma-se dizer que a petição inicial é um projeto de sentença: contém aquilo que o demandante almeja ser o conteúdo da decisão que vier a acolher seu pedido. Desse modo verifica-se que a demanda expressa por meio da petição inicial é a delimitação daquilo que poderá ser objeto da tutela jurisdicional. Desta forma, a decisão proferida futuramente só poderá alcançar os limites daquele direito que foi contemplado na petição inicial, sem poder aumentar ou reduzir o seu alcance. 1.2 Requisitos da petição inicial Conforme dito, a petição inicial é a forma que a demanda toma, o que significa que o conteúdo deve ser expresso conforme determinados requisitos para que seja considerado juridicamente válido. Tais requisitos encontram-se expressos nos artigos 319 a 321 do CPC e indicam as informações básicas que a petição inicial deve conter, bem como as medidas tomadas pelo autor ou pelo magistrado caso não se verifique o cumprimento de tais regras. É importante ressaltar que a petição deve ser apresentada de forma escrita, com sua autoria identificada e data de assinatura, sendo a postulação oral medida de exceção prevista em legislação específica. Conforme o artigo 319, são pressupostos básicos da petição inicial: • (i) o juízo a que a petição é dirigida • (ii) a qualificação das partes, composta pelos nomes, prenomes, estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no CPF ou no CNPJ, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu • (iii) o fato e os fundamentos jurídicos do pedido • (iv) o pedido com suas especificações • (v) o valor da causa • (vi) as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados • (vii) a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou mediação O juízo a que a petição é dirigida é o foro identificado como competente para julgar aquela demanda, e deve ser indicado no cabeçalho da petição inicial designando-se a unidade territorial (comarca ou seção judiciária), bem como a qualidade do magistrado que receberá originariamente a demanda. Como exemplo: Exmo. Sr. Juiz de Direito da __ Vara da Fazenda Pública da Comarca de Florianópolis/SC; ou Exmo. Sr. Juiz Federal da Vara Cível da Seção Judiciária de São Paulo/SP. As regras para determinar qual foro é o competente para julgar determinada demanda estão insculpidas nos artigos 42 a 66 do CPC, e estabelecem qual juízo poderá julgar aquela demanda específica em razão do território, da matéria a ser julgada, da qualidade das partes envolvidas no processo ou do valor da causa. A qualificação das partes é o simples preenchimento das informações pessoais das partes, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas. Conforme o § 1º do artigo 319 do CPC, caso o autor não possua tais informações, poderá requerer ao juiz as diligências judiciais necessárias para a obtenção dos dados do réu. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando o réu tem moradia incerta ou seu nome é desconhecido. Como tratado acima, o objetivo da qualificação das partes é a adequada citação do réu de modo que, conforme o § 2º do artigo 319 CPC, mesmo que alguma das informações não esteja presente, a petição inicial não será indeferida caso as informações ali contidas sejam suficientes para o sucesso na citação do réu. A terceira exceção é aquela prevista no § 3º do artigo 319 do CPC, a qual determina que a inicial será aceita, mesmo sem os dados necessários, quando a obtenção das informações se tornar impossível ou excessivamente custosa. Um exemplo para esse caso é quando o réu é indeterminado ou numeroso, como nos casos de ocupação irregular de uma aglomeração de pessoas, em ações possessórias, em que pode ser impossível para o autor precisar quantas e quais pessoas deveriam compor o polo passivo da ação. O fato e os fundamentos jurídicos são também conhecidos como causa de pedir. Conforme define Didier (2015, p. 551), A causade pedir é o fato ou o conjunto de fatos jurídicos (fato(s) da vida judicializado(s) pela incidência da hipótese normativa) e a relação jurídica, efeito daquele fato jurídico, trazidos pelo demandante como fundamento do seu pedido.[...] Tem, assim, o autor de, em sua petição inicial, expor todo o quadro fático necessário à obtenção do efeito jurídico perseguido, bem como demonstrar como os fatos narrados autorizam a produção desse mesmo efeito (deverá o autor demonstrar a incidência da hipótese normativa no suporte fático concreto). O art. 282, III do CPC diz que a causa de pedir é composta dos fatos e do fundamento jurídico, distinguindo a os fatos como a causa de pedir remota e o fundamento jurídico como a causa de pedir próxima. Isso significa que o autor deverá narrar o fato e descrever qual a consequência jurídica dele que gerou o direito que se está postulando por meio da demanda, ou seja: qual fato e qual a relação jurídica consequente. Desse modo não poderá haver demanda genérica, mas apenas uma demanda que se amolde a uma situação, ou a uma pluralidade de situações concretas fáticas vividas pelo autor de modo concreto e individualizado. Situação essa que produziu efeitos no mundo jurídico e que gerou o litígio objeto da proposição judicial. Importante destacar que todo os fatos alegados deverão ser passíveis de prova, seja já constituída na petição inicial por meio de documentos, ou por meio de outras provas admitidas que serão produzidas ao longo do processo como oitiva de testemunhas ou perícia técnica. É interessante citar a reprodução de esquema gráfico elaborado por Didier (2015, p. 554), por meio da qual são descritas as etapas que levarão à formação da causa de pedir, que culminará no pedido: #PraCegoVer: Tabela com organograma: o primeiro quadrado possui a palavra "Incidência". Dele sai uma seta que passa por dois quadrados um ao lado do outro: "Fato ou conjunto de fatos" e "Hipótese normativa". A seta passa por eles e chega ao quadrado com o dizer: "Fato jurídico (causa de pedir)". Deste, uma seta liga ao quadrado com "Relação jurídica substancial deduzida", do qual saem duas setas. A da esquerda vai até o quadrado "Situação jurídica passiva (dever jurídico legal, obrigação, etc.). A seta da direita vai para o quadrado "Situação jurídica ativa (direitos subjetivos, interesses juridicamente tutelados etc.). Destes dois quadrados da esquerda e direita, saem setas que se unem e vão ao final, que indica "Pedido (efeito jurídico pretendido)". Seguindo os requisitos da petição inicial, após delineada a causa de pedir, conforme descrito acima, é necessário que se realize o pedido que é a delimitação do que se quer por fim. Ainda, conforme os artigos 291 a 293 do CPC, é necessário que se indique o valor da causa em número certo e expresso em moeda nacional, o qual deverá exprimir o real proveito econômico envolvido em discussão, ou evidenciar tal impossibilidade caso não haja conteúdo econômico imediatamente aferível, conforme parâmetros estimativos previstos no artigo 292 do CPC. O valor da causa será importante fator para o cálculo de despesas judiciais e honorários sucumbenciais, motivo pelo qual se faz importante que seja preciso, podendo inclusive ser impugnado pelo réu em preliminar de contestação, conforme artigo 293 do CPC. O inciso V do artigo 292 determina que, na ação indenizatória, o valor da causa corresponderá ao valor pretendido. Isso não significa, contudo, que o autor da causa não possa fazer pedido genérico, requerendo que o juiz arbitre o valor da indenização. Conforme entendimento do STJ (REsp 693.172/MG, 12/9/2005 e REsp 1321219 de 04/05/2017) o pedido de indenização pode ser genérico. Apenas quando o valor pretendido for expressamente indicado pelo autor, ele deverá ser idêntico e vinculado ao valor da causa. O próximo requisito trata da indicação das provas que se pretende produzir. Entretanto, essa não é a indicação definitiva das provas que serão de fato produzidas no processo, tendo em vista que o juiz pode determinar a produção de provas nos termos do artigo 370 do CPC. Desta forma, é na fase de saneamento do processo que as partes serão intimadas a indicar as provas que pretendem produzir. Por fim, a petição inicial deverá conter a opção por realizar ou não a audiência de conciliação ou mediação. Sendo facultativa, ela ocorrerá caso o autor assim opte, antes da oportunidade de defesa por parte do réu, com o objetivo oportunizar que o litígio se finalize em uma composição amigável. Caso o autor não indique sua vontade, ela será presumida e o juiz agendará a audiência, independentemente de emenda à inicial. Além dos requisitos inerentes ao conteúdo da petição inicial, o artigo 320 do CPC determina que esta deverá ser instruída com os seguintes documentos indispensáveis à propositura da ação: os documentos que comprovam a qualificação da parte autora, conforme indicado na inicial; a procuração que outorga poderes ao advogado do autor (art. 287 do CPC), que a lei expressamente exige; e documentos que sejam aptos a provar o direito, já que o momento para produção de prova documental é, em regra, no momento da propositura. A produção documental deve provar, quando suficiente, todos os fatos alegados, já que o ônus de provar o que alega, em regra, é do autor da demanda. Entretanto, é importante observar que a petição inicial não é o único momento de produção de prova no processo, já que é possível ao autor: (i) produção de prova documental posterior, após a fase de saneamento do processo; (ii) requerer que o juiz diligencie para a obtenção de documentos necessários a provar o direito; e (iii) requisitar que o réu exiba documentos dos quais tem posse, e que são necessários ao deslinde da demanda. 1.3 Emenda da petição inicial Vimos, portanto, o que uma petição inicial deve conter para que seja deferida pelo juiz e para que se dê prosseguimento à demanda. Entretanto, pode acontecer de algum dos requisitos formais não ser observado pela parte autora, mas se tratar de algo que possa ser corrigido ou sanado, não justificando que o juiz cancele todo o processo por este motivo, já que ele pode ser consertado pelo autor. Diante de tal situação, o artigo 321 do CPC determina que quando o juiz verificar que algum dos requisitos dos artigos 319 e 320 está faltando ou apresenta irregularidades capazes de prejudicar o julgamento futuro da demanda, deverá determinar que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, emende ou complete a petição. Neste caso, o juiz deverá indicar e descrever de modo pormenorizado qual requisito entende estar omisso ou incompleto na petição inicial, demonstrando objetivamente ao autor o que deve ser corrigido para que a petição seja deferida. Emendar a inicial é, portanto, corrigir um vício apontado pelo juiz como essencial para a solução da lide. Essa determinação pode ser feita quantas vezes o juiz entender necessário, sempre que entender que o defeito é sanável, com o objetivo de evitar que o processo se perca em razão de requisitos formais, os quais são importantes para o processo mas não podem prejudicar a solução de conflitos. Caso o autor não cumpra a diligência requerida pelo juiz, a petição inicial será indeferida, conforme prescreve o parágrafo único do artigo 321 do CPC. 1.4 Indeferimento da petição inicial: considerações gerais e hipóteses Conforme já tratado, a petição inicial deve obedecer a uma determinada forma. A demanda deve possuir pertinência e determinados documentos deverão compor a petição. Caso não sejam cumpridas tais premissas, a petição inicial será indeferida, conforme autoriza o artigo 321 do CPC, impedindo de modo liminar o prosseguimento da causa, antes que o réu seja ouvido. O momento do indeferimento da inicial é muito importante, pois mata a causa antes mesmo que ela exista e produza efeitos no mundo jurídico. Após a praticar outros atos processuais, como a citação do réu,já não é mais possível que se indefira a inicial, pois a demanda já terá iniciado a produção de efeitos no mundo jurídico. Isso não significa que o juiz não possa extinguir posteriormente o processo por outros motivos processuais verificados após o prosseguimento válido do feito (conforme art. 485 do CPC). Significa apenas que esse é o único momento que o feito poderá ter fim com fundamento no indeferimento da petição inicial. Conforme lição de Didier (2015, p. 558): É o indeferimento [da petição inicial] uma hipótese especial de extinção do processo por falta de um “pressuposto processual”. A petição inicial válida é um requisito processual de validade, que, se não preenchido, implica extinção do processo sem exame do mérito. Se o defeito se revelar macroscopicamente, é o caso de indeferimento; se o magistrado tiver ouvido o réu para acolher a alegação de invalidade, não é mais o caso de indeferimento, mas sim de extinção com base no art. 485, IV do CPC. A distinção é importante, pois o regramento do art. 331 do CPC somente se aplica à decisão que indefira a petição inicial, bem como, sendo liminar a sentença, não se condenará o autor ao pagamento de honorários advocatícios em favor do réu ainda não citado. Ou seja, é justamente pelo fato de a petição inicial não produzir qualquer efeito jurídico em relação a qualquer pessoa que ela pode ser indeferida sem quaisquer ônus à parte autora, como se o processo não houvesse sido iniciado para o mundo jurídico. Isso não acontece quando outros atos processuais são praticados, o que envolve o réu na demanda e passa a produzir efeitos, gerando consequências processuais, como é o caso do pagamento de honorários advocatícios conforme exemplo supracitado pelo doutrinador. Observe-se que o indeferimento da inicial não resolve o mérito, possibilitando que a demanda seja novamente proposta caso corrigidos os vícios que motivaram o indeferimento, quando possível. A decisão que indefere a petição inicial apenas declara que aquela demanda, do modo como foi apresentada, não poderá nem mesmo ser apreciada pelo juízo, tendo em vista o fato jurídico que impede o prosseguimento do feito. Outro efeito do modo de indeferimento da petição inicial é o recurso cabível diante da decisão proferida. Quando a demanda versar sobre diversas causas de pedir, o indeferimento da inicial pode ser parcial, ou seja, em relação a apenas parte da pretensão jurídica, seguindo o feito em relação à parte que o juiz entende como apta de prosseguimento, cabendo agravo (nos termos do art. 1015 do CPC) face à decisão, que será interlocutória. Quando se tratar de uma causa de pedir indivisível, o indeferimento da inicial implicará na prolação de uma sentença que extinguirá o feito sem resolução de mérito, contra a qual poderá ser interposto o recurso de apelação. Caso a decisão seja proferida em tribunal, monocraticamente ou em instância colegiada, a decisão também terá características diferentes, cabendo outros recursos. Conforme lição de Didier (2015, p. 560): Com base nisso, pode-se estabelecer o sistema recursal da decisão que indefere a petição inicial: a) se se tratar de um indeferimento parcial feito por juízo singular (decisão interlocutória), o recurso cabível é o agravo de instrumento (art. 354, par. Ún, CPC;); b) se se tratar de indeferimento total do feito por juízo singular, será apelação; c) contra indeferimento total ou parcial feito por decisão do relator, caberá agravo interno; d) contra indeferimento total ou parcial feito por acórdão, caberão, conforme o caso, recurso ordinário constitucional, recurso especial ou recurso extraordinário. As hipóteses de indeferimento da petição inicial estão contidas no artigo 330 do CPC, e seus efeitos no artigo 331 do CPC. Conforme o Código de Processo Civil a petição inicial será indeferida quando: (i) for inepta; (ii) a parte for manifestamente ilegítima; (iii) o autor carecer de interesse processual; (iv) não forem atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321. O Artigo 331 trata dos efeitos jurídicos do indeferimento da petição inicial que são: (i) o cabimento do recurso de apelação; (ii) a possibilidade de que o juiz se retrate no prazo de 5 (cinco) dias contados da apelação. O réu deverá ser citado para responder à apelação, caso não haja retratação por parte do juiz, ou intimado do trânsito em julgado quando não houver interposição de apelação. Caso, em sede de recurso, o tribunal reforme a decisão, o novo prazo para contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos à primeira instância. Para a compreensão das hipóteses elencadas no artigo 330 é necessário o entendimento de determinados conceitos que não se encontram explícitos no texto da lei, exceto pela petição inepta, que é definida no § 1º do citado artigo. 1.5 Inépcia da inicial Conforme o § 1º do artigo 330 do CPC, a inicial será considerada inepta quando faltar pedido ou causa de pedir; quando apresentar pedido indeterminado não albergado pelas hipóteses legais que permitirem pedido genérico; quando a narração dos fatos não levar logicamente à conclusão ou contiver pedidos incompatíveis entre si. Observe que os defeitos elencados pelo CPC estão todos ligados a vícios que impedem ou obstaculizam o julgamento do feito, tendo em vista que não é possível que se julgue uma demanda que não explicite o que se pretende, ou que não haja fatos e fundamentos que justifiquem o pedido, ou que formule pedidos que se anulem ou que sejam contraditórios. A inépcia da inicial decorre da ausência da identificação dos limites e fundamentos da demanda, impossibilitando ao magistrado delimitar a respeito do que, de fato, versa a demanda. Desta forma, torna-se impossível alcançar o mérito da questão, que não pode ser identificado naquela petição inicial inepta. A inépcia é, portanto, uma ausência de possibilidade de identificação e de reconhecimento do que deve ser julgado. A ausência de pedido ou de causa de pedir impede a delimitação da demanda. O juiz não consegue verificar até onde pode julgar, tendo em vista que diversas informações essenciais estão ausentes ou incompletas, tratando-se de uma demanda obscura. O pedido e seus requisitos serão melhor abordados no tópico seguinte, mesmo assim é importante destacar que o pedido deverá ser certo e determinado, sendo que o pedido indeterminado, quando a lei não autorizar pedido genérico, é outra das causas de inépcia da inicial. Isso se justifica porque a decisão de mérito oferta uma resposta a um pedido. Se não é possível identificar precisamente qual é o pedido, não é possível também conferir-lhe uma resposta adequada. A terceira hipótese de inépcia da inicial trata do pedido, abordando a coerência da demanda. Não é possível que a narração dos fatos e fundamentos verse sobre um determinado tema enquanto o pedido seja a respeito de outro. Por exemplo: em uma ação possessória em que se discute a desocupação de determinado imóvel, o pedido não pode versar sobre demarcação de terras. Outro exemplo é quando a demanda versa sobre descumprimento contratual e o autor requer anulação do contrato, enquanto deveria pedir resolução do contrato. Por fim, também a respeito do pedido, a quarta hipótese legal é a de que, quando há mais de um pedido cumulativamente, estes não podem ser incompatíveis entre si, pois um pedido anula o que é pretendido no outro. É importante lembrar que nesse caso os pedidos são válidos, mas não poderiam estar na mesma petição inicial por se tratar de pedidos contraditórios, o que leva à conclusão de que, nesse caso, é adequado que o juiz intime a parte a optar por um dos dois pedidos e não simplesmente indefira a inicial de plano. Além das hipóteses dos incisos do artigo 330, o CPC traz outra hipótese de inépcia da inicial em seu § 2º, que elenca requisitos específicos para ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou alienaçãode bens. Nesse caso, o autor deverá descrever quais das obrigações contratuais está contestando especificamente, além de demonstrar e quantificar qual valor discutido é incontroverso e qual está sendo objeto de discussão. Assim como no caso anterior, trata-se de vício sanável, em que é mais adequado que o juiz intime a parte a completar o pedido do que indefira a inicial. O § 3º apenas determina que, nas hipóteses do § 2º, o autor deverá permanecer adimplindo as eventuais parcelas incontroversas, regra de direito material. Assista aí 1.6 Ilegitimidade da parte A ilegitimidade da parte, nos termos do inciso II do artigo 330, verifica-se quando o sujeito indicado como parte na petição inicial não é o titular daquela relação jurídica que está sendo discutida na demanda, seja como autor ou como réu. É o caso, por exemplo, de uma pessoa pleitear em nome próprio o direito de outrem, ou quando indica-se um réu que não praticou nenhuma ação contra o autor, o que acontece muito quando, na existência de grupo econômico de conhecimento notório, indica-se empresa do grupo que não foi exatamente aquela que estabeleceu a relação jurídica com o autor. Nesse caso, por se tratar de vício sanável, o ideal é que o juiz determine a emenda da petição inicial, intimando o autor para que indique corretamente a parte que compôs a relação jurídica que está sendo discutida. 1.7 Ausência de interesse processual por parte do autor O interesse processual diz respeito à relação entre o autor da demanda e o objeto da demanda: o bem pretendido. É a definição entre o que está sendo pedido e o direito e necessidade que o autor tem de pedir aquele bem jurídico. Também diz respeito à relação da parte com o processo. Não há interesse processual, nos termos do inciso III do artigo 330, quando o processo não seria necessário para a obtenção do pedido ou quando o procedimento adotado não é o meio adequado para fazer aquele pedido. 1.8 Não atendimento das prescrições dos artigos 106 e 321 Por fim, o último motivo de indeferimento da petição inicial, previsto no inciso IV do artigo 330, é o descumprimento dos requisitos insculpidos nos artigos 106 e 321 do CPC. O artigo 106 trata dos requisitos para que advogados postulem em causa própria. No caso, além de observar todos os requisitos dos artigos 319 e 320, o advogado deverá também indicar seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o nome da sociedade de advogados da qual participa, ou outro endereço para recebimento de intimações. Conforme o § 1º do artigo 116, caso o advogado não cumpra os requisitos do inciso I, deverá ser intimado para completar as informações no prazo de 5 (cinco) dias. As prescrições do artigo 321, conforme já tratadas, dizem respeito à possibilidade de que o juiz determine a emenda da inicial de modo que, caso o autor não cumpra as determinações contidas na decisão, a petição inicial deverá ser indeferida. 2.0 Pedido As regras relativas ao pedido, tais como requisitos, possibilidades, vedações e exceções estão previstas na Seção II, do Capítulo II, Livro I, do CPC, compreendendo os artigos 322 a 329. Por ser um dos requisitos da petição inicial, conteúdo este apresentado no tópico acima, o pedido deve estar em total consonância com o quanto foi previsto no CPC, sob risco de indeferimento da petição inicial (art. 330, § 1º, incisos I, II e IV, CPC). 2.1 Conceito O pedido é a pretensão objetivada pelo autor. É o bem jurídico ao qual se busca a proteção, ou seja, é o objeto final da ação e, consequentemente, guia a atuação jurisdicional ao limitar os parâmetros da sentença a ser proferida. Ainda, é com base no pedido formulado pelo autor que o réu exercerá o seu contraditório. Nos dizeres de Roque (2016, p. 22-23): O pedido é um dos elementos da demanda e revela o que o autor veio buscar em juízo. Como visto em comentários ao art. 319, item 7, classifica-se em imediato (espécie de providência jurisdicional postulada) e mediato (bem da vida que o autor pleiteia). A razão de ser do processo é justamente sobre o qual recairá a atividade jurisdicional, acolhendo-o ou rejeitando-o. Sob a perspectiva do réu, será exercido o contraditório tendo por parâmetro especialmente o que foi pedido pelo autor. O pedido, em regra, bitola, a atividade jurisdicional, que não deve ser exercida além de seus limites, pela exigência de congruência entre o pedido e a sentença (arts. 141 e 492). Apesar disso, em determinadas situações, expressamente reguladas em lei, o órgão jurisdicional pode conceder tutela diversa da pedida, de maneira a assegurar a efetividade da prestação jurisdicional (por exemplo, arts. 497, 536 e 537, que se referem à tutela específica ou à obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente ou, ainda, a conversão superveniente em perdas e danos, na forma do art. 499). O pedido pode ter natureza declaratória, constitutiva/desconstitutiva ou condenatória. O pedido declaratório é aquele em que se pretende o reconhecimento de forma declarada de algo, como por exemplo o pedido para que seja reconhecida a paternidade. O pedido constitutivo/desconstitutivo é aquele que pretende a criação, extinção ou alteração de uma relação jurídica. Como exemplo tem-se a invalidação de uma cláusula contratual. Por sua vez, o pedido condenatório consiste na imputação de uma obrigação, pecuniária ou não, ao réu, como por exemplo o pagamento de alimentos. Como será abordado em tópico específico, é possível a cumulação de pedidos, inclusive a cumulação de um pedido declaratório com um condenatório. Por exemplo: declaração do reconhecimento da paternidade com a condenação em pagamento de pensão alimentícia. Existem duas subdivisões do pedido: o pedido mediato e o pedido imediato. Nos dizeres de Alvim (2017, p. 749): O pedido imediato (...) é aquele que, desde logo, diretamente se deseja; é o pedido dirigido ao Poder Judiciário, no sentido de que outorgue a tutela jurisdicional especificamente solicitada. Já o chamado pedido mediato representa o bem jurídico material (bem da vida) subjacente ao pedido imediato. O pedido mediato, portanto, representa o que o autor deseja (interesse do autor), em detrimento do interesse do réu e o imediato “como” o autor deseja. O pedido mediato evidencia o objeto litigioso, ou a lide (terminologia do Código), ou ainda, o mérito. A título de exemplo, o pedido imediato é a condenação no pagamento de um determinado valor, enquanto que o pedido mediato é o reconhecimento da dívida. Assista aí 2.2 Requisitos Os requisitos estão previstos nos artigos 322 e 324 do CPC, que estabelecem que o pedido deve ser certo e determinado. Por certo, tem-se a ideia de expresso, claro e definido. À exceção das regras previstas no § 1º do artigo 322 do CPC, o ordenamento jurídico não admite pedido implícito (o pedido implícito será estudado no subtópico correspondente). Nos dizeres de Roque (2016, p. 23) “tal exigência serve para que o juiz possa delimitar o âmbito de sua atuação”. Ainda, o pedido deve ser determinado, traduzindo-se em liquidez, qualidade e/ou quantidade. Tal como ocorre com a certeza do pedido, o artigo 324, § 1º, CPC, traz as hipóteses legais em que o pedido pode ser genérico (que será abordado em tópico específico). O pedido deve estar expresso na petição inicial e definido quanto à quantidade e à qualidade, ou seja, deve ser uma pretensão precisa, porém isso não determina a necessidade de uma expressão econômica definida. 2.3 Cumulação de Pedidos Como narrado anteriormente, é lícito ao autor cumular os pedidos, desde que eles sejam compatíveis entre si, o juiz da causa seja competente para julgar todos os pedidos formulados, e o procedimento escolhido seja compatível para todos os pedidos formulados. Essa autorização está prevista no artigo 327 do CPC. Nessa esteira, a compatibilidade entre os pedidos implica necessariamente que eles sejam coexistentes no mundo jurídico, ou seja, que nãose excluam nem se anulem (com exceção do pedido alternativo que será analisado mais à frente). Podemos citar como exemplo uma ação revisional de aluguel cumulada com ação de despejo, em que o autor busca a revisão do valor do aluguel e, ao mesmo tempo, quer despejar o inquilino. Neste caso, ou o autor pretende a revisão do aluguel ou o despejo do inquilino: as duas situações juntas não se mostram cabíveis. Caso os pedidos sejam incompatíveis, o juiz não deve indeferir a petição inicial de plano, mas deve determinar a intimação do autor para que opte por um dos pedidos, em nome da economia processual. Ainda, o juiz deve ser competente para apreciar todos os pedidos. Isso significa que um pedido de competência estadual não pode ser cumulado com um pedido de competência federal. Ou, ainda, um pedido cível não pode estar junto de um pedido criminal. No entendimento da súmula 170/STJ quando o juízo for competente apenas para apreciar alguns dos pedidos formulados, ele deverá decidir a causa no limite da sua jurisdição, sem prejuízo do ajuizamento de uma nova ação, no juízo competente, para apreciação dos demais pedidos. Por fim, o fato de um procedimento ser compatível com os pedidos implica em dizer que uma ação de rito especial somente pode conter pedidos pertinentes ao seu rito. Caso o autor busque cumulação de pedidos que possuem ritos incompatíveis, deve optar pela ação de rito ordinário. Por exemplo: uma ação declaratória de paternidade não pode ser cumulada com uma ação de despejo, na qual o autor pretende que seja declarada a paternidade do réu e ao mesmo tempo que este também desocupe um imóvel que pertence ao autor. Atendidos os requisitos da cumulação de pedidos, cumpre analisar as espécies de cumulação, que são divididas em: simples; sucessiva; subsidiária/eventual; e alternativa. • Clique para ver As cumulações simples e sucessivas são consideradas cumulações próprias, pois exigem a compatibilidade entre os pedidos. Por sua vez, as cumulações subsidiárias/eventuais, bem como as alternativas, são classificadas como impróprias, pois permitem a cumulação de pedidos incompatíveis uma vez que apenas um deles será acolhido. • Clique para ver A cumulação simples de pedido é a formulação de tanto pedidos quanto o autor desejar (desde que atendidos os requisitos para tal cumulação), sendo que um é independe do outro, ou seja, é possível deferir apenas um deles, todos eles, ou alguns deles, sem que um afete o outro. Por exemplo: requerer a condenação do autor em danos morais, materiais e estéticos. • Clique para ver Na cumulação sucessiva, o deferimento de um pedido depende do acolhimento do anterior. Por exemplo: o pagamento de pensão alimentícia depende do reconhecimento da paternidade. • Clique para ver A cumulação subsidiária/eventual, como seu próprio nome define, trata da formulação de dois ou mais pedidos que podem ser incompatíveis entre si, ou seja, quando o autor pleiteia um pedido principal, e na remota hipótese de indeferimento desse, um segundo pedido é apresentado. No presente caso aplica-se o exemplo dado por Roque (2016) em que o autor busca a revisão de cláusulas contratuais e, na sua impossibilidade, a anulação do contrato. • Clique para ver Por fim, na cumulação alternativa o autor apresenta dois ou mais pedidos, sem indicar qual deles tem preferência. Neste caso, o autor pode pedir a revisão do aluguel ou requerer o despejo do inquilino, se qualquer uma das opções lhe deixar satisfeito. Ainda que se mostrem semelhantes, a cumulação subsidiária/eventual diferencia da cumulação alternativa quanto ao direito de recorrer em face do pedido que foi rejeitado. Na cumulação subsidiária/eventual, como autor apresenta uma preferência em relação aos pedidos, caso o principal seja rejeitado, é possível recorrer buscando o deferimento do pedido principal. Por sua vez, na cumulação alternativa, como ambos os pedidos lhe satisfazem, o autor não pode recorrer buscando o deferimento do pedido que foi rejeitado. 3.0 Espécies de Pedido A doutrina e a jurisprudência classificam os pedidos em 3 espécies: (i) pedido genérico; (ii) pedido alternativo; e (iii) pedido relativo à obrigação indivisível. Vejamos cada um deles. 3.1 Pedido Genérico Nos termos do parágrafo 1º do artigo 324 do CPC, a formulação de pedido genérico pode acontecer em 3 hipóteses: (i) “nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados” (ii) “quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato” (iii) “quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu” Na primeira hipótese, trata-se da situação em que o autor desconhece a totalidade do bem pretendido, como por exemplo a herança. O autor não tem conhecimento da integralidade do patrimônio, mas tem direito à sua cota da herança. Se tiver conhecimento da integralidade de bens a serem inventariados, deve formular pedido certo. Na segunda hipótese, o autor desconhece a totalidade das consequências do bem jurídico tutelado, como por exemplo o pagamento de um tratamento. O autor requer que o Estado custeie um determinado tratamento, porém não possui elementos para mensurar quanto tempo este durará, e nem mesmo as providências necessárias para tanto, ou seja, não conhece os detalhes do tratamento nem o seu custo total. Por fim, na terceira hipótese, a determinação do objeto ou da condenação depende de ato a ser praticado pelo réu. Por exemplo: requerer a condenação do réu nos valores em que recebeu indevidamente por um serviço parcialmente prestado. Será apurado o quanto foi executado do serviço, e o réu deverá devolver ao autor o valor pago a mais. 3.2 Pedido alternativo Com previsão no artigo 325 do CPC, o pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação a ser cumprida, poderá o devedor cumpri-la de mais de uma forma, ou seja: a obrigação poderá ser extinta de diversas maneiras sem que se altere o resultado. O parágrafo único do mesmo dispositivo legal traz a possibilidade de o juiz assegurar ao devedor o direito de escolha na forma de cumprimento da obrigação, ainda que não formulado o pedido alternativo pelo credor, quando tratar-se de previsão legal ou contratual. Importante mencionar que o pedido alternativo não se confunde com a cumulação alternativa. Nos dizeres de Roque (2016, p. 31): Essa hipótese não se confunde com a prevista no art. 326, parágrafo único, em que o autor formula mais de um pedido para que o juiz acolha um deles, sem estabelecer qualquer preferência (cumulação alternativa de pedidos). Aqui, a origem da alternatividade está no próprio direito material, que admite o adimplemento da obrigação de mais de um modo. É exemplo de pedido alternativo a hipótese do art. 500 do Código Civil, em que se admite que, não sendo possível o complemento da área na venda de imóvel cujo preço foi estipulado por medida de extensão, o comprador exija do vendedor a resolução do contrato ou o abatimento proporcional do preço. 3.3 Pedido relativo à obrigação indivisível O pedido relativo à obrigação indivisível está expresso no artigo 328, CPC, que assim preceitua: “na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que não participou do processo receberá sua parte, deduzidas as despesas na proporção de seu crédito”. Nesse tipo de pedido, o credor de parte de um todo pode ajuizar a demanda sozinho, mas somente poderá levantar a parte que lhe couber. Os demais credores que não participaram da demanda podem levantar a sua parte, mesmo não tendo participado do processo, em decorrência da natureza da obrigação. 3.4 Interpretação do Pedido e Pedido Implícito Além das espécies de pedidos narradas, há situações em que o julgador não deve se ater apenas àquilo que foi expressamente pedido pelo autor, encontrando respaldo legal para essa interpretação ampliativa. 3.5 Interpretação do Pedido O CPC prevêsituações em que, ainda que não esteja expresso no capítulo dos pedidos, há pedidos implícitos que devem ser considerados, além da hipótese de interpretação do pedido. No antigo Código de Processo Civil, o legislador vedava a interpretação ampliativa do pedido, atendo-se ao pedido de forma restritiva. Em outras palavras, apenas o pedido expresso poderia ser considerado. No atual CPC, o legislador inovou por entender que essa interpretação ampliativa do pedido confere maior efetividade ao processo. Nessa linha, o artigo 322, § 2º, CPC, dispõe que se deve interpretar o pedido em consonância com os fatos e direito narrados na exordial e em atendimento ao princípio da boa-fé. Em suma, implica em dizer que os pedidos não devem ser analisados de forma isolada, mas sob o contexto da petição inicial. Esse entendimento advém do entendimento sedimentado do Superior Tribunal de Justiça que assim defendia: (...) o pedido não deve ser extraído apenas do capítulo da petição especificamente reservado aos requerimentos, mas da interpretação lógico- sistemática das questões apresentadas pela parte ao longo da petição” (STJ, REsp 967.375, 2.ª T., rel. Min. Eliana Calmon, j. 02.09.2010, v.u., DJ 20.09.2010). 3.6 Pedido implícito Por pedido implícito, entende-se aquele que não conste expressamente na inicial, mas que estará presente por expressa previsão legal, como é o caso dos honorários advocatícios, correção monetária e juros leais. Eis os ensinamentos de Roque (2016, p. 23): Como temperamento à regra geral de que o pedido deve ser expressamente formulado, são estabelecidas algumas hipóteses de pedidos implícitos, os quais, sob pena de omissão, devem ser apreciados mesmo não tendo sido pleiteados pelo autor na petição inicial. O pedido que envolva prestações de trato sucessivo entende como implícito as prestações vincendas, conforme expressa previsão legal (artigo 323, CPC). 3.7 Ampliação da Demanda O CPC, em seu artigo 329, inciso I, prevê a possibilidade de o autor emendar a inicial antes da citação do réu. Essa previsão autoriza que o autor amplie os pedidos, formule novos ou os exclua, bem como amplie ou reduza o objeto da lide, respeitados os requisitos de cumulação de pedidos já estudados. Por sua vez, o inciso II do mesmo dispositivo legal autoriza a alteração do pedido após a citação, desde que o réu concorde com tal alteração. Em caso de concordância, deverá ser concedido novo prazo para o réu se defender de tal aditamento. Didier (2015) defende que, quando se tratar de um novo pedido conexo ao originário ou de fato constitutivo superveniente, deve ser autorizada a ampliação da lide em qualquer estágio do processo, sob pena de tornar inócuas diversas outras previsões do próprio CPC, e que não estão limitadas à ampliação da lide trazida pelo artigo 329. Nessa toada, percebe-se que há possibilidade de ampliação da demanda para além daquelas expressamente previstas no artigo 329, CPC. 3.8 Alteração Objetiva da Demanda De acordo com o já mencionado artigo 329 do CPC, as alterações objetivas da demanda somente podem ser feitas até o saneamento do processo. Por alterações objetivas entende-se o pedido e a causa de pedir. Nessa linha, não pode haver alteração da demanda em fase recursal, pois implicaria em supressão de instância. Essa vedação decorre da necessidade de se estabilizar a demanda e garantir o contraditório e ampla defesa do réu. Não pode o autor, a qualquer tempo, alterar a demanda. No entanto, como o CPC traz uma postura mais mediadora, incentivadora de acordos, há entendimentos na doutrina de que, em caso de autocomposição, pode haver a ampliação objetiva da demanda, pois autor e réu estarão transigindo sobre seus direitos de forma espontânea e a solucionar a lide. É ISSO AÍ! Ao final desta unidade, você deverá ter a capacidade de: Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • Entender que a petição inicial é o meio pelo qual a demanda se expressa, sendo que o processo é inaugurado pelo protocolo da peça inaugural, a qual deverá obedecer aos requisitos dos artigos 319 e 320 do CPC. • Compreender que caso o autor não observe tais requisitos, o juiz poderá determinar a emenda da petição inicial. Caso o vício seja insanável ou o autor não se manifeste no prazo concedido, a petição inicial será indeferida liminarmente, sem a citação do réu, fundamentando-se o magistrado nas causas elencadas no artigo 330 do CPC. • Diferenciar os requisitos da petição inicial. O principal deles é o pedido, o qual expressa claramente o bem jurídico ao qual se pretende a tutela jurisdicional. Além disso, é ele que definirá os limites e o objeto da decisão final de mérito que será proferida pelo juiz, após instaurado o contraditório. • Entender que a formulação dos pedidos deve obedecer aos requisitos dos artigos 322 e 324 do CPC. Os pedidos podem ser cumulados de modo simples, sucessivamente, subsidiariamente e alternativamente, desde que os pedidos não sejam contraditórios entre si. • Conhecer os pedidos e suas classificações. Devem ser certos, mas podem ser genéricos, tanto nos termos do artigo 324 do CPC, alternativos, quanto nos termos do artigo 325 do CPC, relativos à obrigação indivisível; nos termos do artigo 328 do CPC; ou implícito, nos termos do artigo 322 do CPC. O processo para que produza uma decisão válida deve ser desenvolvido em contraditório, o que significa que às partes deve ser dada a oportunidade de participar do processo e de influenciar na decisão final que será produzida pelo juiz. Nesta presente unidade, estudaremos o desenvolvimento do contraditório, caracterizado pelos seguintes fatores: (i) a forma e o modo de comunicação dos atos processuais às partes; (ii) as formas e efeitos da comunicação da instauração do processo ao réu, (iii) a realização de audiência preliminar de conciliação e mediação e; (iv) as possíveis respostas do réu e o efeito da ausência de resposta. Bons estudos! 1.0 ATOS PROCESSUAIS E A COMUNICAÇÃO DE ATOS PROCESSUAIS O artigo 188 do CPC dispõe que “os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial”. Em consonância com os artigos 189 a 192, CPC, há regras gerais a serem respeitadas, tais como a utilização da língua portuguesa, a publicidade dos atos e o atendimento aos prazos legais. Porém, o CPC prestigia o princípio da instrumentalidade das formas. Nesse sentido, tem-se que a instrumentalidade dos atos deve ser respeitada, porém, não deve haver um excesso de formalismo que obstaculize a efetividade e celeridade processual. Assim, mesmo que um ato não tenha sido realizado na forma estipulada pela lei, ele poderá ser aceito desde que atinja a sua finalidade. Também há situações em que as partes podem, de comum acordo, estabelecer a forma, o tempo e a comunicação dos atos processuais. Sobre o tema, destaca-se importante lição de Wambier (2015, p. 347-348): O art. 188 do NCPC reitera o conteúdo do consagrado art. 154 do CPC/73 e prestigia o princípio da instrumentalidade das formas. É consagrada no direito processual civil a ideia de que processo é instrumento, não um fim em si mesmo. O processo judicial, como método destinado à prestação da tutela jurisdicional, não existe por si só, exaurindo-se de maneira autossuficiente; o processo é acessório, no sentido de servir à aplicação do direito material: o processo é veículo, conduto, instrumento de incidência do direito material a determinada situação concreta da vida. E esta é precisamente a beleza do processo: ser instrumento do direito material, relevando a finalidade (resolução da controvérsia no campo do direito material, em regra). Esta é a ratio essendi do direito processual: instrumentalidade. Nenhum demérito decorre desta afirmação: o direitomaterial ganha efetividade porque existe o processo! Não obstante, o princípio da instrumentalidade insculpido no art. 188 do NCPC não pode ser entendido como autorizador do desapego à forma. Não se trata, com efeito, de interpretar o art. 188 em análise como desprestigiador da forma processual: esta é relevante (relevantíssima, aliás), dado que sinônimo de o processo se desenvolverá de maneira segura. O que o art. 188 quer dizer é que sempre haverá se observar alguma forma na prática dos atos e termos processuais, preferencialmente a forma preconizada em lei, porém se darão por válidos e úteis os atos e termos processuais que, ainda que praticados de forma distinta daquela prevista, atinjam sua finalidade essencial. A essência do princípio da instrumentalidade emanado do art. 188 do NCPC admite a seguinte síntese: em regra não é relevante, para fins de validade do ato processual, se foi estritamente observada a forma específica estabelecida em lei; ainda que seja levado a cabo de outra forma (portanto, de alguma forma), o ato e o termo processual serão considerados válidos desde que atingida sua finalidade. Os atos e termos processuais, portanto, independem de forma determinada, em regra, desde que se realizem de alguma forma e atinjam o fim que deles se espera. Em relação à prática eletrônica de atos processuais, o CPC traz uma regulamentação genérica nos artigos 193 a 199, cabendo a cada tribunal adotar as regras específicas, dentre elas o sistema a ser utilizado. Clique para abrir a imagem no tamanho original Fonte: iStock, 2020 Assista aí #PraCegoVer: juiz em imagem desfocada. Ele está sentado e segurando o martelo. Ao fundo, duas pessoas estão de pé. 1.1 Do tempo e do lugar dos atos processuais O tempo e o lugar dos atos processuais estão regulamentos pelos artigos 212 a 217 do CPC. De acordo com tais regras, os atos processuais somente podem ser realizados em dias úteis, das 06h às 20h. Caso o ato processual tenha início antes das 20h, seu término pode ocorrer após tal horário. Quando o ato processual tiver que ser praticado por meio de petição, se o processo for físico, o protocolo deverá ser feito de acordo com o expediente estabelecido por cada fórum ou tribunal. Caso o processo seja eletrônico, poderá ser feito em qualquer horário, até as 24h do último dia do prazo (art. 212, § 3º, e art. 213, CPC). Durante as férias forenses e nos feriados, não serão praticados os atos processuais, a exceção das regras previstas nos artigos 212, § 2º, 214 e 215, CPC. Entende-se por feriado, além dos expressamente previstos em lei, os sábados, domingos e dias em que não houver expediente forense. Estabelecendo uma regra territorial, o artigo 217 determina que “os atos processuais realizar-se-ão ordinariamente na sede do juízo, ou, excepcionalmente, em outro lugar em razão de deferência, de interesse da justiça, da natureza do ato ou de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz”. Cada Tribunal possui um regulamento próprio que autoriza o protocolo integrado. Em outras palavras, permitem que o protocolo de petições de primeiro grau seja feito em fórum ou comarca distinto da sede do juízo da demanda, desde que sob a mesma jurisdição do Tribunal. Ainda, alguns Tribunais possuem postos autorizados espalhados pelo Estado, permitindo que os protocolos direcionados à segunda instância sejam feitos fora do Tribunal em cidades do interior. 1.2 Comunicação dos atos processuais: citação, intimação e cartas A forma de comunicação dos atos processuais está prevista nos artigos 236 a 275, CPC, sendo possível a comunicação através de citação, intimação e carta. Nos termos do CPC, as comunicações serão feitas por: • a) Citação: é exclusiva para a convocação do réu, do executado ou do interessado para integrar a relação processual. É com a citação que se forma a triangulação processual (autor, juízo, réu) • b) Intimação: “é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos termos do processo (art. 269, CPC) • c) Carta: é a forma em que o ato será praticado fora dos limites territoriais do tribunal, da comarca, da seção ou subseção judiciárias. Pela sua complexidade e importância, a citação será abordada em tópico apartado. Merecem atenção especial as cartas que podem ser de ordem, rogatória ou precatória (arts. 260 a 268, CPC), sendo assim definidas por WAMBIER (2015, p 444). As cartas precatórias consistem na requisição da prática de determinado ato processual (atos instrutórios, decisões concessivas de tutelas de urgência etc.) de um juízo a outro, sendo ambos do mesmo grau de jurisdição, porém com distintas competências territoriais. As cartas de ordem consistem em requisição da prática de determinado ato processual remetida por um juízo de instância superior a um juízo de instância inferior. Em geral, as cartas de ordem são provenientes do tribunal, no qual tramita determinado recurso ou determinada ação de sua competência originária, e destinadas ao juízo de primeiro grau subordinado a este tribunal, para que se dê o cumprimento de determinado ato processual. As cartas rogatórias, por sua vez, destinam-se à requisição, pelo órgão jurisdicional brasileiro, da prática de atos processuais à Justiça de outro país. Ainda, há alguns requisitos a serem preenchidos para que as cartas possuam validade, conforme preceitua o artigo 260, CPC: “I - a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do ato; II - o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instrumento do mandato conferido ao advogado; III - a menção do ato processual que lhe constitui o objeto; IV - o encerramento com a assinatura do juiz.” Em relação à intimação, a lei preceitua casos em que a intimação deve ser pessoal, sendo a regra geral a intimação eletrônica, ou seja, através do sistema eletrônico, utilizado pelo Tribunal. Quando não for pessoal ou na forma eletrônica, a intimação se dará por meio de órgão oficial, por exemplo, publicação em diário oficial. A intimação é importante pois é a partir dela que as partes tomam ciência dos atos processuais praticados e a serem praticados, dando início aos prazos processuais. Citação Depois de tratar dos meios de comunicação dos atos processuais vamos estudar o mais importante deles: a citação. A citação é o ato que inaugura o contraditório, convidando o réu a integrar a lide e apresentar sua resposta à pretensão do autor, iniciando o diálogo processual manifesto pela garantia constitucional da ampla defesa. Conforme veremos a seguir a citação – tema tratado entre os artigos 238 e 259 do CPC – é requisito de validade processual, pode ocorrer por diferentes modalidades e produz diversos efeitos processuais. Noções Gerais e Pessoalidade da Citação A citação é, conforme o artigo 238 do CPC, “o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação processual”, constituindo condição de validade do processo, ressalvadas as hipóteses em que o contraditório nem chega a ser instaurado, conforme já estudamos (indeferimento da petição inicial e improcedência liminar do pedido). O fato é que, por se tratar de um ato formal, este pode ser substituído por outro ato que tenha o mesmo efeito, como é o caso do comparecimento espontâneo do réu (§1º, artigo 239), sendo que em sua resposta o réu poderá alegar nulidade da citação. Caso a preliminar de nulidade não seja acolhida e o réu tenha perdido o prazo de resposta, ele será considerado revel no processo de conhecimento (§2º do artigo 239). Não obstante a citação inaugure o contraditório e possibilite ao réu participar do processo como parte, não é condição de existência do processo, pois o processo existe mesmo sem que o réu tenha conhecimento. Nos termos do art. 239 a citação é condição de validade do processoe de eficácia perante ao réu. Nos dizeres de DIDIER (2015, p. 608): Se há processo antes da citação – que, a propósito dá-se em seu bojo –, não se pode considerar como pressuposto de existência fato que está, na linha do tempo, em momento posterior à existência daquilo que se pretende condicionar.[...] Não é por acaso que o artigo 238 do CPC conceitua a citação como ato que convoca alguém para integrar a relação jurídica processual que, obviamente, preexiste à convocação. Como condição de validade do processo, para que a citação seja considerada eficaz ela deverá ser pessoal, feita na pessoa do réu, executado, interessado, representante legal ou procurador que possua poderes para recebê-la (art. 242, CPC). Quanto à pessoalidade da citação, os parágrafos do artigo 242 apresentam exceções à regra, sendo as seguintes: (i) no caso de ausência do citando, quando possível, nos termos do §1º do artigo 242, a citação será feita na pessoa de seu mandatário, administrador, preposto ou gerente; (ii) no caso de locador que se ausentar do Brasil, a representação legal é presumida, caso em que o administrador do imóvel poderá ser citado no lugar do locador ausente (§2º); (iii) a citação dos entes federativos, suas autarquias e fundações de direito público serão citados perante o órgão de advocacia pública responsável pela representação judicial (§3º). Quando o citando estiver incapacitado de receber a citação, nos termos do artigo 245 e seus parágrafos, o juiz procederá aos procedimentos dos §§ 1º a 3º e nomeará em seguida um curador ao citando, observando a preferência estabelecida em lei, de modo que a citação será feita na pessoa do curador nomeado (§5º do atigo 245). Efeitos da Citação Nos termos já tratados, a citação inaugura o contraditório. Isso que quer dizer que o réu passa a integrar a causa em litígio, integrando a relação jurídico-processual. Neste caso, para o réu, consideram-se os termos do artigo 240: (i) os efeitos da litispendência passam a produzir efeitos para o réu, ainda que o juízo seja incompetente; (ii) o direito discutido passa a ser litigioso; (iii) o autor não pode mais alterar a demanda sem consentimento do réu; (iv) o devedor é constituído em mora. É importante destacar que, no caso da constituição do devedor em mora, trata-se de um efeito processual no âmbito do direito material. Conforme lição de DIDIER (2015, p. 613): A constituição em mora, pela citação, se dá no caso de cobrança de dívidas negociais sem termo certo para pagamento, em relação às quais o devedor não tenha sido constituído em mora pela prática de outro ato anterior. Mora é o retardamento ou imperfeito cumprimento da obrigação. Desse modo verifica-se que a citação não só constitui a relação jurídico- processual como apresenta diversos efeitos processuais e de direito material. A citação e a interrupção da prescrição pelo despacho citatório Além dos efeitos tratados, a citação também tem o condão de interromper a prescrição, a qual retroagirá à data de propositura da ação. A redação do § 1º do artigo 240 significa que o ato que determina a citação, ou seja, o despacho citatório, caso ocorra após verificação dos pressupostos processuais e considere a causa válida, interrompe a prescrição, a decadência e os demais prazos extintivos (§4º), os quais retroagirão à data de propositura da demanda. Essa distinção é importante, pois outros despachos anteriores à admissibilidade da ação, como é o caso de determinação de emenda da inicial, não produzem o mesmo efeito. Conforme o §2º, para que a interrupção da prescrição retroaja, o réu deverá providenciar, no prazo de 10 (dez) dias, condições de viabilizar a citação, que são, conforme DIDIER (2015, p. 614), “juntar cópia da petição inicial para ser encaminhada ao réu, adiantar as despesas com citação e indicar o endereço do réu”. Entende-se que, cumpridas todas as determinações, a parte autora não poderá ser prejudicada pela demora do serviço judiciário (§3º). Assista aí 1.3 Modalidades O despacho que determina a citação induz à expedição de um mandado que poderá ser encaminhado ao citando por meio de correio, oficial de justiça ou meio eletrônico. Também pode ser certificada a citação por hora certa, pelo escrivão ou chefe de secretaria, ou por edital. Conforme o artigo 246 do CPC, a citação será efetivada: “I - pelo correio; II - pelo oficial de justiça; III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em cartório; IV - por edital e V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei”. Correio A citação por meio de correio é a regra geral, nos termos do artigo 247 do CPC, sendo que sua efetivação concreta depende da entrega da carta ao citando, com aposição de sua assinatura no Aviso de Recebimento, o qual será juntado aos autos para certificar a citação. Essa espécie de citação independe de emissão de carta precatória e poderá ser feita para qualquer comarca do país, exceto nas hipóteses elencadas nos incisos do artigo 247 do CPC, que são: (i) as ações de estado, exceto ações de família; (ii) ações cujo citando é manifestamente incapaz; (iii) quando o citando for pessoa de direito público; (iv) quando o local de domicílio do citando não for atendido pelo serviço postal; (v) quando o autor requerer que o réu seja citado por outro meio. Conforme já tratado, o autor deverá providenciar meios para que a citação se efetive. Por isso, o réu deverá receber, junto com a carta de citação, a qual deverá ser registrada, a cópia da petição inicial fornecida pelo autor, a cópia do despacho de citação ou de eventual decisão que tenha deferido a liminar, bem como as informações discriminadas no artigo 250 do CPC, além das já mencionadas. O artigo 250 do CPC trata dos requisitos formais de conteúdo da carta de citação, que deverá conter: (i) os nomes das partes envolvidas no litígio, com os respectivos endereços de domicílio; (ii) a finalidade da citação, conforme petição inicial, com menção do prazo para contestar ou embargar no caso de execução; (iii) a sanção cabível para o caso de descumprimento de ordem judicial quando, por exemplo, o juiz houver deferido pedido liminar que impute ao réu esta obrigação; (iv) intimação para que o réu compareça na audiência de conciliação nos casos em que houver designação; (v) assinatura do escrivão ou chefe de secretaria que declarará a ordem do juiz para o ato. Consoante já apontado, por se tratar de citação real, deverá ser feita na pessoa do citando, que deverá assinar o aviso de recebimento. No caso de recusa de recebimento ou de assinatura, a diligência será considerada não cumprida (§1º, art. 248, CPC). Caso o citando seja pessoa jurídica, conforme já tratado, a citação poderá ser recebida por pessoa com poderes de gerência ou administração geral, ou ainda outro funcionário responsável por receber correspondências (§2º, art. 248). Para que se considere efetivada a citação por carta e se inicie o prazo de resposta do réu, não basta que o réu receba a carta e assine o Aviso de Recebimento (AR): o ato só será considerado completo quando o AR for juntado aos autos (inciso I do artigo 231). Oficial de justiça A citação por Oficial de justiça é um dos casos de exceção à regra e só ocorrerá nos casos em que não couber citação por carta, conforme já tratado no tópico anterior, ou quando, tentada a citação por carta, a diligência restar frustrada, nos termos do artigo 249 do CPC. O mandado que o Oficial de Justiça deverá cumprir precisa atender aos mesmos requisitos já citados para o caso de citação por correio, elencados no artigo 250. É papel do Oficial de Justiça procurar o citando, buscando meios e informações necessárias para encontrá-lo, e diligenciando de modo mais incisivo que o oficial dos correios faria. Ao encontraro citando, o Oficial de Justiça deverá cumprir as formalidades do artigo 251 do CPC, o qual determina a incumbência de: (i) ler o mandado ao citando e entregar-lhe a cópia da inicial; (ii) atestar se o citando recebeu ou recusou o recebimento da cópia da inicial; (iii) recolher a assinatura do citando no mandado, ou certificar caso o citando se recuse a assinar o mandado. Mesmo que a citação por Oficial não possa ocorrer em qualquer comarca sem a emissão de carta precatória, como seria no caso do envio pelo correio, o CPC permite em seu artigo 255 que o Oficial de Justiça cumpra a citação, intimação, notificações, penhoras ou quaisquer outros atos em comarcas contíguas e de fácil acesso, como é o caso de regiões metropolitanas, dispensando a emissão de carta precatória. Hora certa A citação por hora certa é tratada nos artigos 252 a 254 do CPC e ocorrerá quando o Oficial de Justiça comparecer à residência do citando por duas vezes, em dias e horários distintos, confirmar que o endereço está correto e suspeitar que ele está se ocultando para não receber a citação. Nesse caso, o Oficial de Justiça deverá preencher a verificação dos pressupostos no mandado e estará autorizado a intimar quaisquer das pessoas que estiverem presentes (familiar, vizinho, funcionário da portaria), desde que capaz, que no dia útil imediato voltará em hora especialmente designada para proceder à citação (art. 252, CPC). Nos termos do artigo 253 e seus parágrafos, o Oficial de Justiça comparecerá na hora marcada e, mesmo que não encontre o citando ou outra pessoa que por ele responda, dará por realizada a citação, certificando a ausência do citando e indicando pessoa a quem entregou a cópia da inicial, além de apontar no mandado que, caso o citando não responda ao processo, será indicado curador especial. Realizada a citação por hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria enviará ao citando, no prazo de 10 (dez) dias, uma carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe ciência de tudo quanto foi registrado pelo Oficial de Justiça (art. 254). Entretanto, conforme lição de DIDIER (2015, p. 618), não obstante o envio da correspondência seja obrigatória – e caso não ocorra acarrete a nulidade da citação – ela não será o marco para o início do prazo de resposta do réu. O prazo começará a transcorrer a partir da juntada dos autos do mandado de citação certificado pelo Oficial de Justiça. Escrivão ou chefe da secretaria Esse meio de citação existe com o objetivo de simplificar o procedimento de ciência do réu. Nos termos dos artigos 152, II e 246, III do CPC, caso o citando compareça ao cartório, o escrivão ou chefe de secretaria certificará a citação, cientificando-o do processo e do início do prazo para resposta, fornecendo cópia do processo. Edital A citação por Edital é uma forma de citação ficta, o que significa que o mandado de citação não será entregue diretamente ao citando, mas será praticado um ato processual que mitiga a pessoalidade da citação. Do mesmo modo que a citação por hora certa, caso haja revelia, será indicado curador especial para promover a defesa do revel, conforme inciso II do artigo 72 do CPC. O artigo 256 determina que a citação por edital, a qual é excepcional, será realizada quando: (i) o réu for desconhecido ou incerto; (ii) o lugar em que se encontrar o citando for ignorado, incerto ou inacessível; (iii) ou nos casos expressos em lei, conforme artigo 259 do CPC. Por sua vez, o artigo determina as hipóteses legais de citação por edital, que são: (i) ação por usucapião de imóvel; (ii) ação de recuperação e substituição de título ao portador e; (iii) qualquer ação que seja necessária, por determinação legal, a provocação, para participação no processo, de interessados incertos ou desconhecidos. O Edital deverá seguir os requisitos apontados pelo artigo 257 do CPC e será publicado na internet, no site do tribunal, na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça e, caso determinado pelo juiz, em jornal local de ampla circulação, conforme peculiaridades da comarca. No caso de edital, o prazo para resposta do réu será determinado pelo juiz, ente 20 (vinte) e 60 (sessenta) dias e começará a fluir da data de publicação do edital (inciso III do artigo 257). Meio eletrônico A citação por meio eletrônico foi instituída pela Lei nº 11.419/2006, a qual dispõe sobre a informatização do processo judicial e determina que, caso os autos estejam integralmente disponíveis para o citando, a citação poderá ser eletrônica, inclusive para a Fazenda Pública (artigo 6º da Lei nº 11.419/2006). Nesse sentido, o CPC de 2015, na tendência da informatização dos processos, instituiu hipóteses em que o meio eletrônico será o meio preferencial de citação que são: (i) empresas públicas e privadas, com exceção das microempresas e empresas de pequeno porte; (ii) a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as entidades da administração indireta. É importante pontuar que, não obstante a obrigação esteja prevista no CPC, o modo de citação deverá observar os requisitos do artigo 5º da Lei nº11.419/2006, que são: Art. 5º As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem na forma do art. 2º desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico. § 1º Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação, certificando-se nos autos a sua realização. § 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, nos casos em que a consulta se dê em dia não útil, a intimação será considerada como realizada no primeiro dia útil seguinte. § 3º A consulta referida nos §§ 1º e 2º deste artigo deverá ser feita em até 10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente realizada na data do término desse prazo. § 4º Em caráter informativo, poderá ser efetivada remessa de correspondência eletrônica, comunicando o envio da intimação e a abertura automática do prazo processual nos termos do § 3º deste artigo, aos que manifestarem interesse por esse serviço. § 5º Nos casos urgentes em que a intimação feita na forma deste artigo possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema, o ato processual deverá ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade, conforme determinado pelo juiz. § 6º As intimações feitas na forma deste artigo, inclusive da Fazenda Pública, serão consideradas pessoais para todos os efeitos legais. Apenas os cadastrados no sistema poderão ser citados eletronicamente, motivo pelo qual o §1º do artigo 246 do CPC obriga que as pessoas jurídicas mantenham seu cadastro atualizado perante os tribunais. Procedida a citação eletrônica, nos termos do artigo 231 do CPC, o prazo para a resposta começará a fluir do dia útil seguinte à consulta ao teor da citação, ou do dia útil seguinte ao término do prazo para que a consulta se dê. Assista aí 1.4 AUDIÊNCIA PRELIMINAR DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO A audiência de conciliação e de mediação está prevista no CPC no artigo 334, que trata da designação da audiência, as formas de intimação, hipóteses em que não ocorrerá a audiência, a possibilidade de que ocorra por meio eletrônico, os efeitos do não comparecimento injustificado do autor e do réu, a obrigatoriedade de comparecimento de advogado, o modo de autocomposição e a organização da pauta de audiências. A diferença entre audiência de conciliação e mediação diz respeito ao tipo de técnica que será utilizada, em relação ao tipo de conflito, nos termos do artigo 165 do CPC. Consoante §§2º e 3º do artigo 165 do CPC, o conciliador “atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anteriorentre as partes” e poderá sugerir soluções para o litígio, enquanto o mediador “atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará os interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos”. Ou seja, a conciliação trata de uma solução puramente jurídica para a lide, enquanto a mediação visa restabelecer vínculos de comunicação quebrados que levaram ao litígio. A ideia da realização da audiência antes mesmo da apresentação de defesa é justamente evitar o litígio, caso ainda seja possível, provocando as partes a se mobilizarem pela autocomposição, em um cenário institucional que facilite o debate, que poderia não ocorrer caso a ação não houvesse sido proposta. Conforme já tratado na unidade anterior, o autor deverá indicar na petição inicial se deseja ou não que seja realizada a audiência preliminar de conciliação, sendo que as partes podem optar por expressamente manifestarem-se no sentido de dispensar a audiência. O artigo 334 do CPC estabelece que, deferida a petição inicial, o juiz designará a audiência de conciliação ou mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, mesmo que o autor tenha se manifestado pela dispensa da audiência, devendo o réu ser citado com, no mínimo, 20 (vinte) dias de antecedência. Isso porque, conforme o §4º, a audiência só não acontecerá caso ambas as partes, mesmo no caso de litisconsórcio (§6º, art. 334) manifestem expressamente o desinteresse na autocomposição, sendo que caso o autor dispense a audiência, o réu tem até 10 (dez) dias de antecedência para manifestar a discordância com a realização da audiência de conciliação ou mediação. Conforme lição de DIDIER (2015, p. 624): O legislador preferiu não impor a audiência em caso em que ambas as partes manifestem expressamente o seu desinteresse. A solução parece boa: elimina a possibilidade de a audiência não se realizar porque apenas uma parte não a deseja, mas ao mesmo tempo respeita a vontade das partes no sentido de não querer autocomposição, o que está em conformidade com o princípio do respeito ao autorregramento da vontade e com o princípio da cooperação. Repita-se o que já se disse neste Curso: a vontade das partes não pode ser nem é um dado irrelevante para o processo. Importante efeito da manifestação de discordância do réu na realização da audiência é que, conforme o inciso II do artigo 335 do CPC, a partir do protocolo da manifestação de desinteresse começará a correr o prazo para sua resposta. Outra hipótese de não ocorrência da audiência será quando a lide, por sua natureza, não admitir autocomposição, como é o caso de ações que envolvam o Poder Público, o qual só pode realizar transações quando expressamente autorizado por lei. Nesse caso, o reú só será citado para apresentar resposta, sem ser intimado para realização de audiência (art. 335, III). Conforme o artigo165 do CPC, a audiência deverá ocorrer em centros judiciários de solução consensual de conflitos, espaço criado exclusivamente para a realização de audiências de conciliação e mediação, as quais também poderão ocorrer por meio eletrônico em videoconferência (§7º, art. 334). A respeito da realização da audiência, o §2º do artigo 334 determina que poderá acontecer mais de uma sessão, no intervalo máximo de 2 (dois) meses, sendo necessária a figura do conciliador ou mediador, conforme o caso (§1º). Ademais, a pauta das audiências deverá ser organizada de tal modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vinte) minutos entre o início de uma e o início da seguinte (§12). Faz-se importante pontuar que é obrigatória a presença dos advogados das partes. Entretanto, as próprias poderão indicar representantes com poderes para transigir, por meio de procuração específica (§10, art. 334), caso em que as partes não precisarão comparecer. Importante é o lembrete de DIDIER (2015, p.626) a esse respeito: Há proibição de atuação de advogado como preposto (art. 23 do Código de Ética da OAB). Parece, no entanto, que essa proibição não se aplica à representação processual, porquanto a participação de advogado, aqui, na qualidade de representante negocial, restringir-se-á à negociação e à assinatura do termo de acordo – atividades típicas do exercício da advocacia. A restrição do Código de Ética refere-se à preposição em causas trabalhistas, nas quais a figura do preposto assume outras funções – depor pela parte, por exemplo. As partes são obrigadas a comparecer à audiência, sendo que nos termos do § 8º, o não comparecimento injustificado “é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado”, conforme o tribunal que estiver processando a demanda. A autocomposição deverá ser homologada por sentença (§11) e, caso não ocorra, o prazo para resposta do réu começa a contar da data de realização da audiência (art. 335, I). 2.0 RESPOSTAS DO RÉU E REVELIA Conforme já tratado, após a citação válida do réu, caso não haja audiência de conciliação ou caso a conciliação reste frustrada, inicia-se o prazo para a resposta do réu. Resposta do réu é o termo genérico para todas as possíveis reações processuais cabíveis ao réu, não se confundindo simplesmente com a defesa, que é apenas uma espécie de resposta. O réu poderá responder à pretensão do autor das seguintes formas: • (i) reconhecimento do pedido do autor (art.487, III, a), que deverá ser homologado por sentença • (ii) apresentação de contestação, nos termos dos artigos 335 a 342 • (iii) reconvenção (art. 343) • (iv) arguição de impedimento ou suspeição (arts. 144 a 148) • (v) revelia, que é a ausência de resposta 2.1 Espécies de Defesa Em prol da concentração da defesa (que será estudada em tópico próprio), todos os argumentos de defesa devem ser apresentados em contestação. Inicialmente, a defesa é dividida em dois tipos: de admissibilidade e de mérito. As defesas de admissibilidade são traduzidas nas preliminares de contestação, indicadas no artigo 337 do CPC. As matérias de admissibilidade devem ser alegadas em primeiro lugar. Isso deve ocorrer porque são elas que discutem os pressupostos processuais, as condições da ação, além de todos os requisitos necessários para a propositura da demanda e instauração do processo, como por exemplo a ilegitimidade das partes, inépcia da petição inicial, coisa julgada etc. Nos dizeres de Wambier (2015, p. 580): No que se refere à defesa processual, o art. 337 elenca as preliminares, que abrangem matérias cuja análise, sob o ponto de vista lógico, deve anteceder a defesa de mérito, uma vez que, se acatadas, levam à extinção do processo ou à necessidade de que sejam tomadas providências prévias à apreciação da procedência ou não do pedido do autor. As defesas de admissibilidade são divididas em peremptórias (que podem levar à extinção da demanda) e dilatórias (que adiam a análise o mérito da demanda). De acordo com a WAMBIER (2015, p. 583): O art. 337 do NCPC elenca as defesas processuais, relacionadas à falta das condições da ação e dos pressupostos processuais. São as preliminares que, se acatadas, podem levar à extinção da ação sem análise do mérito – defesa processual própria ou peremptória – ou ao adiamento da análise do mérito, em razão da necessidade de que seja adotada, antes, alguma providência – defesa processual imprópria ou dilatória. São defesas processuais peremptórias: a inépcia da petição inicial, perempção, litispendência e coisa julgada, convenção de arbitragem, ausência de legitimidade ou de interesse processual. São, por sua vez, defesas
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