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ARQUEOLOGIA
AULA 2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Ana Luíza Berredo
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CONVERSA INICIAL
Arqueologia é uma ciência que estuda a cultura material e o contexto envolvido na produção
desses objetos. Nesse sentido, é necessário estudar a origem dessa disciplina que teve como
ambiente a Europa do século XVIII, período das revoluções, com os colecionistas que acumulavam os
objetos encontrados em sítios antigos identificados como parte de uma arqueologia clássica
referente a Grécia e Roma, além da arqueologia egípcia. Posteriormente, surge a arqueologia norte-
americana e depois a implementação dos métodos arqueológicos que foram trazidos para solo
brasileiro.
O objetivo desta aula é apresentar as origens da arqueologia e as principais escolas teóricas que
auxiliaram as pesquisas nesse campo do saber.
TEMA 1 – ORIGEM
A origem dos estudos da arqueologia remete a um momento da vida pelo qual muitos de nós já
passamos: a vontade de colecionar objetos. É comum que esse seja um movimento infanto-juvenil
em que nos apegamos a determinados objetos, os selecionamos com base em um prisma (gosto, cor,
tamanho) e os guardamos montando nossa coleção. O chamado “colecionismo” foi a primeira forma
de se pensar arqueologia, que foi registrada por autores como Bruce Trigger (2004), em História do
pensamento arqueológico, e Nuno Bicho (2012) em Manual da arqueologia pré-histórica, que
produziram os materiais didáticos que baseiam as principais discussões sobre a história da
arqueologia e suas origens. Por isso, são utilizados como referência para mostrar como esse campo
de estudo foi se desenvolvendo à medida que as pesquisas e teorias foram avançando.
1.1 RELAÇÃO ENTRE ARQUEOLOGIA E BURGUESIA
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De acordo com Pereira (2017), apoiado em Trigger (2004), há uma relação entre a emergência da
arqueologia e a burguesia europeia. O surgimento da burguesia, que remete ao final da Idade Média
e sua ascensão na Idade Moderna, exigiu que os burgueses buscassem algo para se legitimar, já que
esse período histórico foi da Era dos Grandes Reis e Rainhas, que tinham um cabedal numeroso de
objetos para lhes representar. Nesse sentido, a legitimação da burguesia se deu por meio da busca
por objetos e símbolos que essa categoria pudesse utilizar como forma de mostrar prestígio perante
a nobreza europeia.
Para contextualizar, ao analisarmos a pesquisa de Norbert Elias (1987), em A sociedade de corte,
sobre a corte francesa de Luís XIV, o Rei-Sol, é possível identificar por meio da narrativa do autor os
aparatos materiais sustentados pela nobreza que incluíam tipos de habitação, peças de roupas com
tecidos de seda, adornos para serem colocados no corpo, tronos, camas, tapeçarias, entre outros
objetos que se tornaram símbolos de uma cultura material que remete a um modo de vida do nobre
europeu. Desse modo, os objetos identificavam as pessoas e suas classes sociais.
Figura 1 - Rei Louis XIV retratado com indumentária luxuosa
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Créditos: Everett Collection/Shutterstock.
Nota: O Rei Louis XIV retratado com indumentária luxuosa que remete à nobreza, com a cores
branca e azul, além da peruca volumosa e, acima desta, um dossel de seda vermelho com detalhes
dourados. Os objetos em destaque nas mãos do monarca são o cetro na mão direita e a espada
disposta na cintura, bem como a coroa disposta em cima de um móvel, todos símbolos do poder de
um rei absolutista.
A burguesia almejava ter o mesmo reconhecimento que a nobreza e, por isso, buscou no
período histórico clássico, mais especificamente o greco-romano, a fonte para obter esse
reconhecimento e possível construção de suas identidades. Inspirados pela estética, artes, padrões e
formas da Antiguidade, os burgueses queriam ser representados por símbolos surgidos antes da
formação da nobreza europeia, o que acarretou no início da fase do colecionismo (Pereira, 2017).
1.2 ARQUEOLOGIA COMO CIÊNCIA
A arqueologia em seu início esteve ligada à História e à Antropologia e somente foi
compreendida enquanto ciência anos depois, quando foi possível realizar pesquisas utilizando
metodologias próprias que a fez se distanciar dessas disciplinas para que fosse possível trilhar
caminhos próprios. Para Bicho (2012), a definição da arqueologia enquanto ciência se deu por meio
da definição do ser humano no tempo, quando foi constatado que existiram povos sem escrita que
estavam ligados aos primeiros grupamentos humanos, como os caçadores-coletores-pescadores,
identificados dentro do campo da “pré-história” .
Pereira (2017), apoiado em Bicho (2012), ressalta ainda que o outro aspecto para a definição da
arqueologia foi o surgimento da escrita, da agricultura e da sedentarização, do período do Homo
sapiens: “A elaboração de técnicas de estudo arqueológicos – como as seriações temporais e de
materiais, as tipologias de peças e a construção de padrões de cultura, deram o tom científico à
arqueologia” (Pereira, 2017, p. 35).
A criação de escolas teóricas faz parte da cientificidade atribuída aos campos de estudos,
conforme nos elucida Reis (2002), apoiado em Almeida e Pinto (1986):
Teoria é um agregado de ideias no corpo de uma ciência contendo uma ou diversas hipóteses
como partes integrantes; condiciona ou propicia a observação dos fenômenos, além de suas partes
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hipotéticas, um aparato que permite sua verificação, confirmação ou impossibilidade […] uma teoria
não é necessariamente uma explicação do domínio dos feitos aos quais se refere, porém constitui
um instrumento de ordenação, conceituação e previsão (Reis, 2002, p. 177)
A arqueologia, como qualquer outra ciência, também é pautada por escolas teóricas que foram
responsáveis pelo desenvolvimento desse campo de estudos: histórico-culturalismo, processualismo
e pós-processualismo. No entanto, antes de nos aprofundarmos na teoria, é necessário entender o
que foi o colecionismo.
TEMA 2 – COLECIONISMO
A primeira forma de se pensar a arqueologia foi por intermédio do colecionismo, que consiste
na coleção de objetos que eram selecionados e acumulados, sendo utilizados nas coleções que
originaram os museus de história natural. Segundo Trigger (2004) e Bahn (1996), esse tipo de coleta e
formação de coleções é característico do antiquarianismo do século XVIII.
Figura 2 – Coleção de vasos de cerâmica originárias da cultura grega
Créditos: Shipfactory/Shutterstock.
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2.1 ANTIQUARIANISMO
Partindo da leitura de Soltys (2010), o antiquarianismo surge para atender a uma ordem
cronológica da classificação dos objetos dentro da arqueologia e também para relacioná-los com a
história da criação dos museus, em que o arqueólogo buscava envolver um público-alvo e inserir
ideologias por meio de propostas teóricas e metodológicas que foram somadas a um interesse pelo
passado, surgindo um tipo de arqueologia denominada evolucionista.
De acordo com Soltys (2010), o antiquarianismo levou a uma nova forma de ver os artefatos
arqueológicos que teve início na Inglaterra do século XVI, “quando foi fundada a Sociedade dos
Antiquários, uma associação londrina para a preservação e o estudo das antiguidades nacionais. Eles
fizeram pouquíssimas tentativas de escavação, de forma deliberada e a cronologia não era uma
preocupação” (Soltys, 2010, p. 14).
Trigger (2004) informa que, por causa da dependência dos escritos, os antiquários achavam
improvável saber sobre períodos anteriores e continuaram acreditando que a datação do mundo
estava em torno de 3500 anosa. C., época aproximada do surgimento da escrita. Nesse sentido, o
antiquarianismo foi responsável por reunir os objetos dentro de salas, reduzindo e miniaturalizando a
cultura dos povos (Soltys, 2010, p. 16).
2.2 ARQUEOLOGIA EVOLUCIONISTA
De acordo com Trigger (2004, p. 92), a teoria evolucionista dizia que o corpo humano e sua
cultura tornaram-se mais complexos com o passar do tempo, levando os arqueólogos a colocar os
sítios em ordem cronológica, com vistas a identificar estágios de desenvolvimento. O tom
evolucionista dessas classificações foi muito influenciado pelos estudos de Charles Darwin (1859),
vinculado a um evolucionismo social muito presente em discussões científicas do século XIX.
No entanto, Baco, Faccio e Luz (2009) destacam que essa é uma concepção antropológica
preconceituosa de progresso humano, uma vez que não levaram em consideração as particularidades
culturais regionalmente estabelecidas nos assentamentos de diferentes sociedades.
A nova área de estudos buscava novos indícios que comprovassem a antiguidade do ser
humano e suas origens, culminando com o crescimento do nacionalismo, o surgimento dos museus e
a necessidade de definir e classificar culturas e povos. De acordo com Soltys (2010, p. 14), o
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surgimento de uma arqueologia nacionalista levou ao desenvolvimento da primeira escola teórica, a
Arqueologia Histórico Cultural.
TEMA 3 – HISTÓRICO-CULTURALISMO
As influências provenientes do evolucionismo cultural afetaram o modo como foram feitos o
enquadramento dos achados arqueológicos nos esquemas e etapas formalizados pelo
evolucionismo. Além disso, havia uma preocupação dos arqueólogos no estudo da distribuição
geográfica dos artefatos e suas relações com grupos históricos, enfocando principalmente no estudo
das sequências regionais dos artefatos (Reis, 2002, p. 177).
De acordo com Pereira (2017, p. 76), o ponto central do histórico-culturalismo é a definição de
padrões de cultura em regiões geograficamente determinadas, levando-se em conta que processos
de migração e de difusão da tecnologia teriam contribuído para o desenvolvimento dos povos por
meio da observação de formas cerâmicas, tipos de pontas de flechas e padrões de pinturas rupestres,
por exemplo.
Quadro 1 – Migração e difusão
Migração Difusão
Corresponde ao movimento de povos e trânsito da
cultura material do grupo e entre grupos.
Ocorre quando um grupo aprendia com outro grupo a elaborar
ou utilizar um aspecto da cultura material.  
Fonte: Pereira, 2017, p. 76.
3.1 HISTÓRICO CULTURALISMO COMO CIÊNCIA
De acordo com Pereira (2017), os três principais fatores que originaram a escola histórico-
culturalista foram: o aprofundamento da percepção da diferenciação entre grupos humanos, o que
refutou o evolucionismo; o desenvolvimento de métodos de escavação mais profissionais e a
introdução da arqueologia nas universidades da Europa e dos Estados-Unidos.
Na Europa, a arqueologia surge vinculada à História, Artes e Literatura, em que os primeiros
estudos se deram com os grupos pré-romanos, greco-romanos, pré-históricos e com a possibilidade
de consulta a fontes escritas, escavações arqueológicas e dados bibliográficos produzidos. Nos
Estados Unidos da América (EUA), a arqueologia está ligada à figura de Franz Boas (1858-1942), tido
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como o fundador da antropologia desse país, que criou o campo científico dessa disciplina apoiado
no chamado Four Fields: Antropologia Cultural; Bioantropologia; Linguística e Arqueologia. A ideia
era explicar a origem dos povos do continente americano com o estudo dos grupos ainda vivos no
continente e também perpetuar a necessidade de vinculação entre a arqueologia e a antropologia
com ciências-irmãs (Pereira, 2017, p. 76).
3.2 PRINCIPAIS AUTORES DO HISTÓRICO CULTURALISMO
Partindo das reflexões de Trigger (2004), apesar de estar vinculado a preceitos nacionalistas de
unidade cultural, o histórico-culturalismo resultou em um significativo aperfeiçoamento de métodos
arqueológicos, como a seriação, a estratigrafia, a classificação e o aumento da compreensão do
modo como se vivia no passado. Os principais autores dessa escola teórica foram sintetizados no
Quadro 2 a seguir.
Quadro 2 – Principais autores dessa escola teórica
Gordon Childe (1892-1957) Grahame Clarck (1907-1995)
Propôs a sistematização da arqueologia como ciência, alargamento das
técnicas de escavação e compreensão do registro arqueológico. O autor
afirmava que era possível determinar uma ordenação à cultura material dentro
das sociedades passadas, possibilitando a determinação das “culturas
arqueológicas”. Além disso, dizia que o contexto em que o objeto foi
encontrado possibilitaria inferir dados sobre o grupo (Trigger, 2004).  
Afirmava que a cultura era um sistema
adaptativo no qual seria necessário
reconstruir tanto a história quanto os
sistemas econômicos, políticos, simbólicos
e religiosos do grupo que se estudava
(Pereira, 2017).  
Fonte: Trigger, 2004; Pereira, 2017.
O histórico-culturalismo trouxe muitas inovações para o campo de pesquisa arqueológico,
porém mostrou um maior interesse pelas peças acumuladas do que pelo conhecimento dos grupos
que as criaram, considerando que a cultura material seria o reflexo passivo da sociedade ou do grupo
estruturado.
No século XX, a arqueologia sofre algumas mudanças e anda em direção a uma ciência com
maior apreço às metodologias e um aprofundamento interpretativo.
TEMA 4 – PROCESSUALISMO
O desenvolvimento de uma arqueologia mais científica, com a aplicação de metodologias
robustas para a verificação de dados e hipóteses cientificamente formuladas, influenciou o
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surgimento do processualismo, também conhecido como “Nova Arqueologia”.
O processualismo surge em solo estadunidense após a Segunda Guerra Mundial e tem como um
dos primeiros pesquisadores Joseph Caldwell (1959), que estabeleceu uma perspectiva
neoevolucionista em que a percepção do registro arqueológico seria decorrente de um processo
cultural. Além disso, essa escola baseia-se na teoria geral dos sistemas e no positivismo lógico, pois
os pesquisadores identificaram que os sistemas integrados como economia e política eram os fatores
que movimentavam a sociedade (Reis, 2002; Pereira, 2017).
4.1 PRINCIPAIS AUTORES DO PROCESSUALISMO
Lewis Binford foi um dos principais pesquisadores da escola processualista e afirmava que “o
registro arqueológico seria as padronizações da cultura por sua funcionalidade” (Binford, 1983).
Nesse sentido, o autor buscou mostrar que os aspectos tecnológicos é que fazem a cultura material
modificar-se e ter usos sociais, pois o que realmente importaria seria a funcionalidade de um objeto
e não sua estética. Binford advoga que a arqueologia deixe de lado o tom histórico e assuma a
cientificidade da antropologia com métodos, modelos e interpretações realizadas por meio da análise
do grupo e não por deduções do pesquisador.
Michel Schiffer é outro autor que se tornou referência do processualismo, uma vez que afirma a
necessidade de se conhecer os contextos sistêmicos e arqueológicos para entender como ocorre a
cultura em funcionamento. Schiffer (1972) apresenta um modelo de circulação no qual a história de
vida ou os processos sistêmicos correlatos a um objeto podem ser percebidos. Por contexto
sistêmico, leia-se a formação do Registro Arqueológico que seria decorrente de cinco passos:
aquisição do material, manufatura, uso, manutenção e descarte, que acarretaria um sistema
comportamental (Pereira, 2017, p. 85).
Schiffer (1995, p. 14-16) também propôs a Teoria do Médio Alcance, que tinha como objetivo
produzir um aporte teórico que possibilitava o material arqueológico ser ligado tanto ao seu passado
(em perspectiva dinâmica) quanto ao seu presente (visto sob uma forma dinâmica no registroarqueológico).
Para o autor, existiriam os transformadores C e N que modificariam a cultura material de acordo
com fatores culturais e naturais. Os transformadores C corresponderiam às leis que relacionam
variáveis de um sistema cultural em existência a variáveis que descrevem a deposição ou não
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deposição cultural de seus elementos. Já os transformadores N corresponderiam a processos naturais
como erosão, chuva, intemperismo, responsáveis por transformar ou alterar a forma da cultura
material de maneira natural (Pereira, 2017).
4.2 CRÍTICAS
O processualismo trouxe muitas inovações do ponto de vista da aplicação metodológica na
arqueologia e se firmou enquanto ciência com aporte teórico, dados robustos a serem analisados e
hipóteses a serem testadas. No entanto, ignora aspectos ideacionais e simbólicos, empreendendo
uma visão estática da cultura material.
As pesquisas dos autores processualistas tentaram criar leis gerais em que a cultura material
fosse uma resposta adaptativa do grupo ao meio, reduzindo a participação e o gosto do indivíduo
criador dos objetos. Conforme nos elucida Tânia Andrade Lima (2011, p. 16), “essa perspectiva
reduziu o indivíduo a um autômato controlado pelo sistema”.
A Nova Arqueologia foi questionada e constatou-se a importância de reinserir o indivíduo e suas
ações nos estudos da cultura material, sendo necessário trazer a agência humana de volta à relação
com a materialidade, de modo que fosse realizado um foco analítico no sujeito (Pereira, 2017).
TEMA 5 – PÓS-PROCESSUALISMO
O pós-processualismo surge no início da década de 1980 em virtude de um descontentamento
com o processualismo. Cabe destacar que tal insatisfação não estava ligada ao campo metodológico,
mas ao distanciamento em relação às teorias sociais vigente na época, o que acarretou críticas ao
funcionalismo de Lewis Binford, que postulava que a criação dos objetos era feita em decorrência da
sua funcionalidade em um grupo, deixando de lado os aspectos estéticos ou rituais. Nesse sentido,
havia a necessidade de reinserção dos indivíduos como agentes transformadores da sociedade e o
estudo dos aspectos ideacionais como pinturas rupestres e sistemas religiosos, por exemplo.
5.1 PRINCIPAIS AUTORES DO PÓS-PROCESSUALISMO
Ian Hodder (1995) é o principal autor dessa escola teórica e pretendeu refletir sobre como, por
que, e em que sentidos, os indivíduos utilizaram a cultura material para expressar suas formas de
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pensar as ideias e seus conceitos sobre o mundo e, sobretudo, como isso pode ser lido na atualidade
tanto pelo viés político como pelo social em que muitas pesquisas estão inseridas.
Para isso, Hodder se inspirou no estruturalismo de Levi-Strauss (1958), no pós-estruturalismo de
Pierre Bourdieu (1972) e Michel Foucault (1969) e na teoria de agência de Anthony Giddens (1986), e
que o foco do estudo são os indivíduos, vistos como sujeitos ativos na sociedade.
De acordo com Pereira (2017), apoiado em Michael Shanks e Ian Hodder (1998):
O material arqueológico deveria não apenas ser considerado e interpretado como aspecto do
comportamento pretérito, mas também ser inserido em uma pauta política e social em que passaria
a ter uma função legitimadora ou de empoderamento de determinados grupos excluídos do
registro arqueológico (Pereira, 2017, p. 90)
Essa reflexão faria parte do que os pesquisadores chamam de “arqueologia contextual”, em que
o contexto social influenciaria a confecção e interpretação da cultura material.
5.2 ARQUEOLOGIA: PESQUISA SOCIAL E POLÍTICA
A arqueologia pós-processual dá ênfase à dimensão dos significados simbólicos presentes em
diferentes contextos culturais e propõe a reflexão de que os arqueólogos desenvolvem suas
pesquisas com base em sua classe social, ideologia, cultura e gênero, os quais podem ser fatores
utilizados como ponto de partida para as perguntas formuladas às evidências arqueológicas (Reis,
2002).
A cultura material não tem sentido por si mesma, como defende o histórico-culturalismo, mas
encontra sua significância de interpretação na relação que o arqueólogo estabelece com o passado
que é interpretado conforme as pautas políticas da atualidade. Assim, não existe uma
“reconstrução” do passado, mas a interpretação e a elaboração de uma leitura deste. O passado é
lido e interpretado e não reconstituído (Pereira, 2017, p. 59)
A arqueologia pós-processualista advoga que essa área de estudos pode ser utilizada como
ferramenta para sensibilização da população sobre os desafios e compromissos políticos com a
preservação da memória e pluralidade cultural. Nesse sentido, é fundamental estabelecer um diálogo
com outras ciências como a história, a antropologia, a sociologia, a biologia, a geologia etc.,
possibilitando construções teóricas e práticas a respeito dos problemas e das questões do presente
(Pereira, 2017).
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O objetivo do pós-processualismo é dar visibilidade a outras culturas materiais para a criação de
novas narrativas, que podem ser até mesmo em primeira pessoa, que faz parte da virada
epistemológica que essa escola trouxe para a arqueologia.
NA PRÁTICA
A arqueologia se perpetuou no campo científico desde o século XIX e galgou espaços cada vez
mais embasados e fortalecidos por escolas teóricas que proporcionaram o desenvolvimento dessa
ciência no Brasil e no mundo. Na prática, o estudo das escolas teóricas contribui para entendermos a
história da ciência arqueológica e de que modo se deu sua cronologia.
As teorias são utilizadas para guiar as pesquisas arqueológicas e podem ser escolhidas pelo
pesquisador de acordo com a que melhor se adapta ao seu objeto de estudos. Nesse sentido, assim
que se escolhe o objeto de estudo dentro da arqueologia, é necessário se perguntar qual das escolas
teóricas é possível vincular à pesquisa que se quer desenvolver.
Cabe destacar que as teorias processualistas e pós-processualistas não se anulam, sendo
possível realizar uma pesquisa predominantemente baseada em autores pós-processualistas e utilizar
autores processualistas que apresentem metodologias aplicáveis à cultura material escolhida, e vice-
versa.
Na prática, sugerimos imaginar-se como um arqueólogo que está estudando os sepultamentos
encontrados em um sambaqui. Qual(is) escola(s) teórica(s) escolheríamos para basear a análise? É
interessante completar esse exercício de reflexão por meio da escrita de um pequeno texto
justificando essa escolha.
FINALIZANDO
Nesta aula, foram apresentadas as escolas teóricas que fazem parte da história da arqueologia. A
primeira forma de se entender arqueologia foi por meio do colecionismo de objetos e do
antiquarianismo, no século XVIII, movimentos que fizeram parte da criação das coleções de objetos
que possibilitaram o surgimento dos museus.
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No século XIX, surgiu o histórico-culturalismo, que foi fortemente influenciado pelo
evolucionismo cultural adaptado dos estudos de Charles Darwin e que tinham como objetivo definir
padrões de cultura baseados na questão territorial e geográfica. De acordo com os autores dessa
escola teórica, isso poderia acontecer por meio da migração e da difusão. O histórico-culturalismo
representou, ainda, mesmo que incipiente, o início da Era cientificista da arqueologia.
O processualismo é a escola teórica que determinou a permanência definitiva da arqueologia
enquanto uma ciência que era composta por teoria e metodologias, em que foi possível realizar o
levantamento de dados e testar hipóteses. Os principais expoentes desse estudo foram Lewis Binford
e Michael Schiffer que, em seus estudos, propuseram que a cultura material dependia da
funcionalidade dos objetos, deixando de lado o aspecto social e de ação dos indivíduos, oque lhes
gerou as maiores críticas que desencadearam a formação de uma nova escola: o pós-processualismo.
A inserção do sujeito na arqueologia, prezando pelo aspecto político e social, é o pilar do pós-
processualismo. Essa escola teórica, que tem como principais autores Ian Hodder e Michael Shanks,
aborda a necessidade de não se apagar o sujeito construtor dos objetos. Nesse sentido, mesmo que
o objeto tenha sido criado com uma funcionalidade, os arqueólogos não podem afirmar o motivo
que o levou à confecção de determinada cultura material, mas apenas estudar o contexto em que os
objetos foram encontrados, bem como seus materiais de confecção, e propor hipóteses que
pudessem explicar o modo de vida dos indivíduos do passado. De modo que os arqueólogos não
podem reconstituir o passado, ele é lido e interpretado por meio das escolas teóricas escolhidas e
das experiências do pesquisador.
Para melhor entender a cronologia envolvendo as escolas teóricas, na Figura 3 a seguir dispomos
o quadro-síntese desenvolvido por Pereira (2017).
Figura 3 – Principais escolas teóricas da arqueologia
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Fonte: Pereira, 2017, p. 36.
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 As aspas colocadas no termo “pré-história” se referem à pertinência do seu uso nas atuais
discussões didáticas referentes a povos sem escritas como se fossem povos sem história.
[1]
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