Prévia do material em texto
AULA 3 GESTÃO DO CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL TEMA 1 – CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO NA ORGANIZAÇÃO Já falamos em nossos estudos sobre conhecimento organizacional e seus benefícios como fonte de vantagem competitiva. Também já caracterizamos aqui as organizações como entidades vivas, que nascem, crescem, permanecem em permanente evolução e, nesse processo, criam conhecimento. E por que criar conhecimento? Não há uma única razão, pois cada organização valoriza o conhecimento à sua própria maneira, mas sem dúvida a principal é manter seus produtos e serviços competitivos. De acordo com Nonaka e Takeuchi (2008), “a criação do conhecimento é um processo sintetizador, através do qual as organizações interagem com os indivíduos e o ambiente para transcender aos paradoxos emergentes”. A organização que cria conhecimento estimula o indivíduo para que ele entenda sua parte dentro de todo o processo. Então, ele compartilha seu conhecimento com o todo, contribuindo para que o processo melhore. As organizações encaminham suas estratégias de criação de conhecimento com base em duas visões: a visão de posicionamento e a visão baseada em recursos, conforme sintetizam Nonaka e Takeuchi. Na visão de posicionamento, a organização aponta a criação do conhecimento na direção do ambiente – categoria, indústria ou grupo econômico – no qual se posiciona e no qual tenta construir sua vantagem competitiva. Na visão baseada em recursos, a organização olha para seu interior e intenta melhorar seus conhecimentos por meio dos recursos que possui, buscando sua vantagem competitiva mediante recursos superiores aos da concorrência. Defendem, com isso, que o conhecimento ideal é criado pela síntese entre a visão de posicionamento e a visão baseada em recursos. Dados precisam ser organizados para que se transformem em informação. Esta precisa ser interpretada para se transformar em conhecimento. A criação do conhecimento na organização não segue, evidentemente, um curso natural. A liderança da organização precisa gerir o processo, incentivando-o e estruturando- o. A organização deve empregar recursos financeiros para custear estudos e treinamentos, no todo ou em parte. Deve também disponibilizar equipamentos, como computadores e aparatos de comunicação e disponibilizar locais virtuais e 2 físicos para que as pessoas encontrem suporte para absorver conhecimento e, posteriormente, compartilhá-lo com a organização. A entrada do conhecimento na organização sempre se dará por meio do indivíduo. Se mantido nesse âmbito, entretanto, o conhecimento se perde. A organização, portanto, deve fomentar a ampliação do conhecimento por meio daquilo que Nonaka e Takeuchi chamam de processo em espiral: o conhecimento transita e cruza os níveis das seções, departamentos, divisões e organizações. Antes de explorar o processo em espiral, vamos falar rapidamente sobre conhecimento tácito e conhecimento explícito. Digo rapidamente, pois iremos explorar esses conceitos com mais profundidade à frente. Conhecimento tácito é aquele advindo das experiências profissionais, das vivências pessoais e da visão de mundo de um determinado indivíduo. É um conhecimento adquirido e, usualmente, não formalizado, contido na cabeça dessa pessoa. Sua transmissão, portanto, não é uma tarefa fácil. Conhecimento explícito é aquele conhecimento declarado, ou seja, formalizado pelos recursos, textos, imagens, infográficos, vídeos etc. Como é registrado, permite o adequado armazenamento e transmissão. Voltando ao processo em espiral, a ampliação do conhecimento na organização ocorre por meio de quatro processos sociais, praticados entre os indivíduos. a. Socialização: o conhecimento tácito é transmitido pela convivência profissional direta e de trabalhos em equipe. É um conhecimento compartilhado. b. Externalização: o conhecimento tácito é convertido em conhecimento explícito. Um indivíduo ou um grupo detentor de conhecimento organiza suas ideias e as transforma em material para transmissão a outros indivíduos e grupos. Cria-se um conhecimento conceitual. c. Combinação: o conhecimento explícito é sistematizado, permanecendo no formato explícito. Organiza-se o material existente em bancos de dados, softwares ou outros tipos de registros, permitindo armazenamento e acesso. Cria-se assim o conhecimento sistêmico. d. Internalização: o conhecimento explícito é convertido em conhecimento tácito, naquele momento de sair do teórico para o prático, quando se ensina alguém a fazer algo baseado num ensinamento escrito. Cria-se, desta forma, o conhecimento operacional. 3 Vamos explorar mais um pouco de conceito para que possamos entender o gráfico que virá a seguir. O conhecimento possui duas dimensões: a epistemológica e a ontológica. Nonaka e Takeuchi definem a Dimensão Epistemológica como sendo aquela na qual os conhecimentos tácito e explícito se distinguem e se transformam. Já a Dimensão Ontológica é aquela na qual os níveis de conhecimento se distinguem: individual, grupal, organizacional e interorganizacional. Figura 1 – Processo do conhecimento em espiral Fonte: Baseado em Nonaka e Takeuchi, 2008. Crédito: AKS/Adobe Stock; fotomek/Adobe stock. Na Socialização, o conhecimento transita de tácito para tácito, na dimensão individual. Na Externalização, ele transita de tácito para explícito, da dimensão individual para a grupal. Na Combinação, ele transita de explícito para explícito, da dimensão grupal para a organizacional. Na Internalização, ele transita de explícito para tácito, da dimensão individual para a grupal e para a organizacional. O conjunto, por fim, pode transitar para uma colaboração de conhecimentos interorganizacional. 4 TEMA 2 – CONHECIMENTO TÁTICO E EXPLÍCITO Quando se fala em gestão do conhecimento, uma das principais obras referenciais é Nonaka e Takeuchi (2008). Em sua obra, eles classificaram o conhecimento em dois tipos: o tácito e o explícito e exploram como, dentro da organização, um se converte no outro. Conforme Michaelis (2021), tácito quer dizer “não expresso por palavras, implícito”; já explícito quer dizer “explicado coerentemente, sem deixar dúvidas”. O conhecimento tácito não costuma ser visível. É o conhecimento advindo da prática. Por isso mesmo, é pessoal e não formalizado, formando lado a lado com a subjetividade. Enraíza-se no indivíduo e impregna-se de seus ideais, emoções e valores. É impreciso e difícil de compartilhar. O conhecimento tácito tem duas dimensões: a técnica e a cognitiva. A dimensão técnica engloba as habilidades do indivíduo em sua profissão, o know-how. O costureiro talentoso, o chef de cozinha estrelado e o piloto de Fórmula 1 intrépido possuem nativamente esse conhecimento tácito, aperfeiçoado após anos de experiência. A dimensão cognitiva é mais subjetiva. São valores, conceitos, percepções e modelos mentais adquiridos ao longo da vida e que se enraízam de tal forma que parecem naturais. Essa dimensão do conhecimento tácito influencia nossa forma de enxergar o mundo. O conhecimento tácito tem transmissão difícil, mas não impossível. Quando se ensina uma criança a andar de bicicleta, por exemplo, transmite-se conhecimento tácito por tentativa e erro. O conhecimento explícito pode ser expressado em palavras, números ou sons e pode ser dividido na forma de dados, fórmulas, textos, áudios, vídeos etc. Ou seja, é o conhecimento externalizado. Pode ser transmitido formal e sistematicamente e pode ser armazenado e publicado. Treinamentos corporativos e capacitações em determinados equipamentos ou serviços são bons exemplos de como o conhecimento explícito pode ser transmitido. Então, se numa empresa petrolífera existe a necessidade de capacitar operadores de torre, o primeiro passo do treinamento será lhes dar uma base teórica que lhes permita entender como a torre funciona e quais são suas capacidades e limites. Os conhecimentos tácitoe explícito não são opostos, e sim complementares. De forma cíclica, dentro da aprendizagem organizacional, o explícito se converte em tácito que novamente se converte em explícito. 5 Permanecendo no exemplo do treinamento para operação da torre, o primeiro passo seria dar uma base teórica para os treinandos. Consolidada a base teórica, passar-se-ia à fase da prática. Essa é a fase do aprender fazendo, pois o aprendizado somente estará completo quando o operador de fato souber operar a torre, ou seja, tiver adquirido conhecimento tácito. Conforme comentamos, o conhecimento explícito se transformou em conhecimento tácito, e essas conversões ocorrem o tempo todo no processo de aprendizagem organizacional. Elas ocorrem por meio de quatro processos: a Socialização, a Externalização, a Combinação e a Internalização. Esse ciclo é chamado de modelo ou espiral SECI. No processo de criação do conhecimento organizacional, conhecimentos tácito e explícito são transmitidos e multiplicados em termos de qualidade e quantidade e migram do indivíduo para o grupo e para a organização: a. Socialização: de tácito para tácito I, de indivíduo para indivíduo: conhecimento compartilhado por meio da experiência direta. b. Externalização: de tácito para explícito I, do indivíduo para o grupo: conhecimento compartilhado por meio do diálogo e da reflexão. c. Combinação: de explícito para explícito I, do grupo para a organização: o conhecimento explícito é sistematizado e aplicado. d. Internalização: de explícito para tácito I, do indivíduo para o grupo e para a organização: o conhecimento migra da teoria para prática, aprende-se fazendo. O ciclo SECI está ilustrado na Figura 2. 6 Figura 2 – Ciclo SECI do Conhecimento Crédito: Rogerio Meirelles. Tácito e explícito são dois tipos de conhecimentos presentes em todas as organizações. O saber nascido da prática e o saber nascido da teoria migram de um para outro e interagem, gerando o portfólio de conhecimentos necessários à operação e à estratégia da organização. O ciclo SECI ilustra esse dinamismo, que deve ser compreendido e utilizado pelas organizações para otimizar a valorização de seu capital intelectual. TEMA 3 – TRANSFERÊNCIA DO CONHECIMENTO NA ORGANIZAÇÃO É necessário criar conhecimento e transferir conhecimento. Houve um tempo em que o conhecimento era poder e, por isso, era restrito. Saber ler foi uma vantagem competitiva imensa na Idade Média. Saber construir também. As pessoas que possuíam conhecimentos se destacavam das demais e repassavam seus conhecimentos a poucas pessoas. Hoje, o conhecimento ainda é fonte de poder, mas é senso comum que deve ser compartilhado e não restringido. Compartilhar conduz a um aumento do 7 conhecimento. E, ainda que permaneça sendo visto como poder, especialmente desde os anos 1990, passou a fazer parte do capital das organizações, como uma parte intangível de seus ativos. As organizações competem em seus mercados, buscam melhorar sua competitividade por meio de incrementos em qualidade, melhorias em produtos e mudanças tecnológicas. O capital imaterial, formado pelo conhecimento de seus funcionários, figura como mais uma arma nessa luta pela competitividade. Investir em pesquisa para treinamento está na pauta de qualquer organização séria. Nesse provimento de treinamentos para ampliar o conhecimento, alguns fatores devem ser levados em consideração. a. Tempo: a organização deve fazer uma avaliação transparente a respeito da carga de trabalho dos colaboradores. Na maioria delas, a resposta dos colaboradores deverá ser a de que falta tempo para as tarefas diárias. Um investimento importante na criação do conhecimento é, portanto, um treinamento que os habilite a gerenciar melhor esse recurso escasso. b. Idioma: é importantíssimo no momento da transferência do conhecimento. Se a organização tem o idioma inglês, por exemplo, como sua língua nativa, e, no Brasil, contrata a maioria dos funcionários sabendo falar essa língua, pode conduzir treinamentos nesse idioma. Entretanto, se isso não for verdade, é fundamental que o treinamento e todo o material sejam traduzidos para o português. Caso contrário, o risco de uma gigantesca falha de comunicação passa a ter alta probabilidade de ocorrer. c.Empoderamento: como dissemos, conhecimento é poder. O empoderamento por meio da aquisição do conhecimento é uma realidade, já que destaca o indivíduo nas esferas em que circula. A transferência de conhecimento pode diminuir esse empoderamento. Uma pessoa com forte conhecimento tácito pode hesitar em transferir esse conhecimento por medo de perder o emprego. Cabe à organização garantir que a transferência de conhecimento também seja fonte de empoderamento, trazendo recompensa e destaque ao profissional que decidir compartilhar aquilo que sabe. d. Credibilidade: as relações de indivíduo para grupo e para organização, em qualquer direção, precisam contar com credibilidade. O emissor precisa contar com a credibilidade do receptor e vice-versa. O ministrante de um treinamento precisa ter uma experiência respeitável e habilidade para 8 transmitir seu conhecimento. Também precisa acreditar que os receptores estão qualificados para recebê-lo. O receptor do treinamento precisa estar seguro de que haverá algum tipo de progresso após o treinamento, e essa segurança precisa ser assegurada pela organização. Não se fala necessariamente em promoção, embora seja sempre importante, mas pelo menos em melhoria na rotina de trabalho ou na possibilidade de implementar mudanças. e. Comunicação: a organização deve mapear onde está o seu conhecimento e qual a melhor forma de permeá-lo pela empresa. A organização também deve comunicar seus esforços de transferência de conhecimento e deve incentivar que todos os transmissores e receptores participem das iniciativas. Além disso, a organização, por meio da comunicação, também deve criar um ambiente seguro para que as pessoas expressem diferentes ideias e opiniões. f. Sistemas de recompensa: para estabelecer uma cultura honesta de transferência do conhecimento, não são suficientes somente palavras. A organização precisa criar um sistema de aumentos de salários, promoções, prêmios, ou seja, representações efetivas do apreço pelo esforço empreendido. Isso leva as pessoas a empreenderem novos esforços. g. Ferramentas de treinamento: a velha lousa e velho giz há muito tempo se aposentaram. Os treinamentos precisam ser respaldados por recursos audiovisuais a serem utilizados em aulas e palestras, suportes para treinamentos à distância, apostilas, manuais, plantas-piloto, simuladores e outras soluções personalizadas. h. Transmissão de conhecimento: as estratégias de transmissão podem ser focadas no contato pessoal (tácito I tácito) e na transferência do conhecimento codificado (tácito I explícito ou explícito I explícito). Apesar de o contato pessoal ser mais dependente dos indivíduos que da tecnologia, e o conhecimento codificado depender mais da tecnologia do que dos indivíduos, deve se destacar que a tecnologia não funciona sem que os indivíduos se envolvam com ela. i. Armazenagem do conhecimento: o conhecimento explícito, e o tácito, quando possível, precisam ser armazenados. A organização precisa investir em registros impressos (cada vez menos utilizados, mas ainda necessários, especialmente para operações em campo com procedimentos 9 e manuais) e tecnologia da informação, para garantir o armazenamento e o acesso ao conhecimento. O conhecimento ainda é fonte de poder, mas é senso comum de que, contemporaneamente, ele não seja restrito, e sim compartilhado. Até porque compartilhar conduz ao aumento generalizado do conhecimento. Ainda, o conhecimento é o ativo primordial na composição do capital intelectual das organizações. TEMA 4 – CONCEITUANDO COMPETÊNCIA Quando se fala em conhecimento organizacional, certamente também se fala no incrementodas competências das pessoas da organização por meio do conhecimento. E o que é competência? Fleury e Fleury (2000) definem competência como “um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. Nesse raciocínio, a empresa seria, portanto, um portfólio de competências. As competências essenciais a um negócio variarão muito, a depender de sua natureza. Na literatura, porém, encontram-se algumas enumeradas em senso comum: • Competência em processos: agrega os conhecimentos sobre os processos de trabalho pertinentes à atividade da organização. • Competência técnica: agrega conhecimentos específicos sobre o trabalho a ser realizado, mais relacionados às especificidades do produto do que do processo. • Competência de organização: agrega conhecimentos sobre a companhia e sobre a estruturação e organização dos fluxos de trabalho. • Competência de serviço: avalia o impacto que o produto ou serviço provoca ou provocará sobre o cliente ou consumidor final. • Competência social: focada na qualidade do relacionamento entre os membros da organização e na avaliação comportamental das pessoas. Para aplicarem de forma maximizada suas competências e, com isso, ganharem em competitividade, as organizações, segundo Fleury e Oliveira (2001), 10 podem focar estrategicamente em: • Excelência operacional: competição baseada na otimização dos custos, produtos de qualidade aceitável, bons preços e bom atendimento. • Inovação no produto: oferta de produtos inovadores, revolucionários e de alto preço, resultado de investimento em pesquisa e desenvolvimento. • Orientação para serviço: oferta de produtos ou serviços customizados, de acordo com o desejo ou a necessidade do cliente. Desenvolvem soluções estando em proximidade com o cliente, estudando in loco suas necessidades. Focamos nas competências da organização. Vamos falar um pouco agora sobre as competências do indivíduo. Fleury e Oliveira (2001) as categorizaram em três blocos: • Competências técnicas profissionais: são específicas para uma operação, ocupação ou tarefa, como desenho técnico, especificações de produto, finanças ou operações. • Competências sociais: são direcionadas à interação com as pessoas, como comunicação, negociação, gestão de mudança, sensibilidade e trabalho em equipe. • Competências de negócio: são direcionadas à compreensão do negócio, seu mercado, seus objetivos, clientes e concorrência, assim como o ambiente externo em que se inserem. No processo de desenvolvimento de competências, em algum momento, será necessário definir ou restringir o foco. Não será possível se desenvolver em tudo o tempo todo. Existem habilidades que podem ser facilmente transmitidas e aprendidas e outras nem tanto. Umas e outras, de qualquer maneira, cumprirão o propósito de desenvolver competências. São as hard skills e as soft skills. Hard Skills são habilidades que podem ser mais facilmente aprendidas e quantificadas. Podem também ser qualificadas como habilidades técnicas. Salas de aula, livros, apostilas, manuais e conteúdos online estruturados são recursos que podem dar suporte a esse tipo de aprendizado. São avaliáveis e podem ter seus resultados comparados. Alguns exemplos de hard skills são engenharia, finanças, operação de máquina, programação, ensino. O caminho mais simples 11 para aprendê-las é o caminho do estudo, seja por meio da educação formal, de cursos livres, de cursos de especialização ou do autodidatismo. Soft Skills são habilidades subjetivas, mais difíceis de transmitir e aprender e de avaliar. Podem ser qualificadas como habilidades comportamentais e estão relacionadas à forma de interagir e de se relacionar com as pessoas. São características da personalidade e interferem, positiva ou negativamente, nos relacionamentos corporativo e na produtividade da equipe. Podem ser avaliadas por meio de conversas com profissionais especializados, testes de personalidade ou dinâmicas específicas. Alguns exemplos de soft skills são comunicação, resolução de conflitos, liderança, solução de problemas, trabalho em equipe, automotivação. Apesar de serem subjetivas e parecerem ter nascido conosco, podem e devem ser desenvolvidas. Autodidatismo, busca por autoconhecimento, sessões de terapia se aplicável, coaching, cursos online, palestras e treinamentos direcionados a desenvolver soft skills (como treinamentos de negociação, por exemplo) e graduação em cursos como comunicação. As hard skills sempre serão necessárias, pois são a qualificação técnica para uma atividade. Houve um tempo em que eram tudo o que importava. Hoje, qualquer profissional que queira se desenvolver na carreira escolhida precisará agregar aos seus conhecimentos técnicos uma carga de soft skills, que lhe permita se relacionar adequadamente com as pessoas. Na Figura 3, temos exemplos de hard e soft skills e como elas contribuem respectivamente com aprendizado e desenvolvimento. 12 Figura 3 – Hard Skills e Soft Skills Crédito: Rogerio Meirelles. No campo da aprendizagem organizacional, o desenvolvimento de competências é essencial para alavancar os resultados dos negócios. A literatura auxilia na organização dos programas de desenvolvimento, enumerando competências básicas à organização, orientando os programas quanto aos seus focos estratégicos e, ainda, auxiliando na preparação do indivíduo para que acolha o desenvolvimento de competências da forma mais aberta possível. TEMA 5 – GESTÃO DO CONHECIMENTO: ABORDAGEM CONCEITUAL Fleury e Oliveira (2001) reúnem os diferentes focos que encontraram na literatura revisada para conceituar Gestão do Conhecimento: • Aprendizado individual e organizacional (cultura organizacional). • Relações entre as pessoas, as diferentes áreas da empresa, as diferentes empresas e o ambiente. • Desenvolvimento de competências individuais e organizacionais. • Mapeamento, codificação e compartilhamento do conhecimento organizacional. • Conectividade entre as pessoas. • Alavancagem do avanço em informática e em telecomunicações. • Mensuração do capital intelectual da empresa. A Gestão do Conhecimento está ligada à capacidade das empresas em utilizar e combinar as várias fontes e tipos de conhecimento organizacional (Nonaka; Takeuchi, 2008) para desenvolverem competências específicas e capacidade inovadora, que se traduzem, permanentemente, em novos produtos, 13 processos, sistemas gerenciais e liderança de mercado. As organizações precisam estar atentas, no momento de direcionar seus esforços de Desenvolvimento Organizacional (DO), ao ambiente competitivo. Criar produtos, processos, serviços e sistemas gerenciais são fundamentais para a perenidade do negócio e da própria organização. Esse ambiente complexo não permite direcionar os esforços de DO a poucos indivíduos ou áreas. A organização deve ser muito efetiva em envolver todas as pessoas necessárias e desenvolvê-las no sentido de alcançar seus objetivos. Uma organização deve, em seus esforços de gestão do conhecimento, adotar políticas gerenciais que englobem os planos organizacional e individual, estratégico e operacional e que inclua normas formais e informais. Fleury e Oliveira (2001) demonstram na figura a seguir como esses planos se relacionam com os diversos níveis de uma organização. Figura 4 – Gestão do conhecimento: planos e dimensões Fonte: baseado em Fleury e Oliveira, 2001. a) <1> Visão e Estratégia da Organização: Alta Administração; tem um papel fundamental de definir a estratégia da organização, as metas a serem alcançadas e para quais campos do conhecimento os colaboradores devem direcionar seus esforços de aprendizado. 14 • b) <2> Cultura Organizacional: deve ser estimulada pela Alta Administração a se desenvolver no sentidoda inovação, experimentação, aprendizado contínuo, comprometimento com a estratégia da organização e suas metas. • c) <3> Estrutura Organizacional: as estruturas organizacionais continuam em constante mudança nas organizações, favorecendo à inovação, ao aprendizado e à geração de novos conhecimentos, em oposição às antigas estruturas hierárquicas. As novas equipes são multidisciplinares e autônomas. • d) <4> Políticas de RH: as políticas de RH devem ser associadas à aquisição, geração e armazenamento de conhecimentos na organização. Destacam- se as seguintes iniciativas: • Retenção de talentos que começa no processo seletivo, levando em consideração as habilidades e conhecimentos pregressos, a capacidade de absorção e a diversidade na composição do quadro. • Plano de carreira alinhado com os requisitos dos processos de geração de conhecimentos individuais e organizacionais. • Remuneração associada também à aquisição de competências. • e) <5> Sistemas de Informação: o processo de geração, transmissão e armazenamento de conhecimento é diretamente afetado pelos sistemas de informação. A tecnologia é, sem dúvida, um elemento fundamental, mas o contato pessoal e a transmissão tácito I tácito ainda são considerados elementos essenciais. Da mesma forma, independentemente do avanço tecnológico, todos os sistemas dependem de inputs individuais, ou seja, não há como prescindir das pessoas. • f) <6> Mensuração de Resultados: a mensuração dos resultados atingidos em relação às metas de DO deve ser comunicada para toda a organização como iniciativas bem-sucedidas. • g) <7> Organização x Ambiente Externo: o DO deve se estender ao ambiente no qual a organização se insere, por meio da relação com a comunidade, fornecedores, clientes e, se o ambiente permitir, concorrentes. Fleury e Oliveira (2001) finalizam dizendo que “o capital humano, formado pelos valores e normas individuais e organizacionais, bem como pelas competências, habilidades e atitudes de cada funcionário, é a mola propulsora da geração de conhecimento e da geração de valor nas empresas”. 15 REFERÊNCIAS FLEURY, A. C. C.; FLEURY, M. T. L. Estratégias empresariais e formação de competências. São Paulo: Atlas, 2000. FLEURY, M. T.; OLIVEIRA, M. M. Jr. Organizadores: gestão estratégica do conhecimento – integrando aprendizagem, conhecimento e competências. São Paulo: Atlas, 2001. MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2021. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Gestão do conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008. 16