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GESTÃO LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL A U L A 1 . 1 - O R I G E M D O C O N C E I T O L E A N A n a P a u l a G e s s i P a c h e c o e M a r i a d o C a r m o D u a r t e F r e i t a s GESTÃO LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL O S I S T E M A T O Y O T A D E P R O D U Ç Ã O Os principais elementos do Sistema Toyota de Produção (STP); Os desperdícios encontrados na produção industrial; e Os métodos, ferramentas e técnicas para implantação de processos enxutos. O conceito Lean, ou enxuto, ficou bastante conhecido nos ambientes profissionais devido às vantagens que sua aplicação oferece aos produtos e serviços entregues aos clientes. Assim, os assuntos que serão abordados nesta unidade são: 0 1 Conhecer a história e a origem dos princípios Lean; Saber as ferramentas e técnicas do STP; Identificar em um processo os elementos que geram valor; Identificar oportunidades de aplicação das técnicas e/ou ferramentas do Lean; Comunicar sua experiência de aprendizagem sobre o assunto; e Espírito crítico e investigativo. Após a leitura desta apostila, você terá as seguintes competências: Para iniciar, os processos enxutos têm sua origem no Sistema Toyota de Produção (STP): um sistema aplicado na indústria automobilística. Sendo assim, a origem desse sistema foi no Japão, na Toyota Motors Company, em 1974. GESTÃO LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL 0 2 O ano de 1974 sofria as consequenciais da crise do petróleo. Dessa forma o cenário econômico no Japão não estava lá essas coisas: muitas empresas estavam enfrentando problemas e a economia estava em recessão. Isso significava escassez de matérias-primas, peças, equipamentos e mão de obra. Porém, a Toyota apresentava um comportamento atípico das demais empresas entre os anos de 1975 e 1977, pois mesmo em um período de crise, apresentava crescimento econômico. Mas, como o STP foi criado exatamente nessa época, esse sistema foi totalmente pensado para o ambiente em que estava inserido e utilizou da criatividade japonesa para colocá-lo em prática. Por isso apresentou um comportamento anormal, pois o STP foi criado exatamente para se adequar ao período de escassez. Agora reflita: por que a implantação do STP obteve sucesso nessa época tão crítica? Qual o diferencial desse sistema? Primeiramente, vamos compreender os dois principais pilares do Toyotismo: o just-in-time e a autonomação. J U S T - I N - T I M E O just-in-time é uma técnica Lean que possibilita, quando implementado corretamente em uma empresa, estoque zero. Estoque zero: materiais ficam disponíveis no momento certo, na hora exata e na quantidade necessária, sem armazenamento excessivo de materiais É importante ressaltar que para aplicar o just-in-time, cada um dos processos de produção precisa estar conectado e sincronizado com os demais. GESTÃO LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL 0 3 Dessa forma, o just-in-time influenciou a forma como as informações eram transmitidas, pois essa conexão entre os processos era feita a partir da sua transmissão. No entanto, dentro da realidade da Toyota, o conceito do just-in-time não se limitou apenas aos processos produtivos, ou seja, era aplicado em todos os processos da empresa. Dessa forma, a ideia do estoque zero também era aplicada nessa transmissão de informações. Assim, as informações eram repassadas no momento programado e para o destinatário correto. Para isso, foi utilizada uma ferramenta chamada Kanban. Kanban: ferramenta de gestão e controle visual, que utiliza cartões coloridos, luzes etc., indicando a situação atual da produção transmitir informações sobre apanhar ou transportar um objeto; fornecer informações atualizadas da produção; impedir a superprodução e o transporte excessivo; fornecer a ordem de fabricação; revelar problemas existentes; e manter controle dos estoques. Alguns dos objetivos da aplicação da ferramenta Kanban na linha de produção são: O ferramenta funciona da seguinte forma: na produção, um determinado processo só inicia sua tarefa quando o próximo estágio estiver pronto para receber a atividade recém- executada. Como a própria fábrica era a principal fonte de informação da manufatura, o controle visual foi um elemento essencial no STP. GESTÃO LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL 0 4 Por isso, além do Kanban, outra ferramenta de controle visual foi aplicada nas fábricas da Toyota: o Andon. Andon: ferramenta de controle visual, que indica facilmente o local e a natureza do problema. A apresentação desses elementos a todos envolvidos no processo; e o comprometimento das pessoas com a aplicação, tornando-se assim os próprios agentes de mudança. Resumindo, o controle visual possibilita que qualquer funcionário entenda a situação da produção instantaneamente, pois a informação é verificada de forma simples e rápida. Entretanto, existem dois fatores que devem ser levados em consideração para o sucesso da aplicação desses elementos em uma linha de produção: A U T O N O M A Ç Ã O Autonomação: toque ou inteligência humana nas máquinas que visa a detecção imediata de problemas na linha de produção para solucioná-los na sua raíz. A autonomação é uma ferramenta que tem como objetivo evitar que erros sejam acumulados e levados adiante na linha de produção. Por exemplo, quando um problema ocorre no início do processo de produção, este é levado adiante, resultando em um conjunto de erros até o fim da produção. Dessa forma, essa ferramenta do STP evita o acúmulo de falhas ao longo de um processo, pois quando um erro ocorre em uma etapa de produção, o problema é resolvido na hora. GESTÃO LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL 0 5 Ainda, para auxiliar nessa gestão, a técnica utilizada é o controle visual da produção. Nesse contexto, são utilizados dispositivos de parada automática, que são acoplados nas máquinas. Também existem outros dispositivos à prova de erros, como o bakayoke. Bakayoke: dispositivo à prova de erros, impedindo a produção defeituosa. Além dos dispositivos, a prática de manutenção, ou "medicina preventiva", das máquinas também era aplicada. Assim, problemas que ocorriam nas máquinas e que não eram previstos eram mais difíceis de acontecer. D I F E R E N C I A I S D O S T P A organização do STP era realizada de maneira diferente dos demais sistemas de produção. A produção era organizada por equipes e de forma que cada trabalhador era responsável por mais de um processo. Essa organização do chão de fábrica visava que toda a equipe ficasse responsável pela produção, não importando onde foi o erro e em qual processo isso ocorreu. Para isso, era necessário motivar seus funcionários. Dessa forma, a Toyota motivava seus empregados a serem pró- -ativos e a buscar oportunidades de melhorias nos processos. Essa estratégia fazia com que seus funcionários se sentissem realmente parte da empresa e se tornassem membros de uma comunidade. Os membros dessa comunidade de funcionários da Toyota possuíam um conjunto de direitos, completamente diferente do que era praticado em outros sistemas, como: a garantia de emprego vitalício e acesso aos benefícios de moradia e lazer. GESTÃO LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL 0 6 Além da importância dos funcionários da empresa para o progresso da produção, a Toyota também mostrava aos seus fornecedores seu valor para a empresa. Assim, a troca de informações era um fator importante para o STP. Dessa forma, os fornecedores compartilham seu processo de produção com a Toyota e vice-versa. Por exemplo, o desenvolvimento de um novo produto da Toyota e a determinação do preço final desse produto contavam com uma equipe formada com seus fornecedores. Além disso, o sistema Kanban também era utilizado em ambas as partes. Essa prática permitia a eliminação de estoques e previa problemas para que as falhas fossem eliminadas. Assim como a relação com os próprios funcionários, a Toyota buscava manter um relacionamento duradouro com seus fornecedores. Dessa forma, era garantida a qualidade, a confiabilidade e o preço dos produtos entregues pelos seus fornecedores. Além do bom relacionamento daToyota com seus funcionários e seus fornecedores, a empresa também procurava manter um bom relacionamento com seus clientes. Para isso, o cliente ou o proprietário do produto também fazia parte da empresa. Que benefícios você acha que essa comunidade de funcionários traz para a empresa? Dentro dessa realidade, o relacionamento empresa- -empregado incentivou que os funcionários trabalhassem a vida toda na mesma empresa. D E S P E R D Í C I O S Como falamos anteriormente, o STP foi criado em um ambiente que sofria as consequências da crise do petróleo. GESTÃO LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL 0 7 trabalho com valor adicionado (atividades de processamento, por exemplo, quando a matéria-prima é transformada no produto); e trabalho sem valor adicionado (atividades que utilizam recursos, porém não criam valor). Dessa forma, a escassez provocada pela crise não permitia o uso descontrolado de recursos, e, consequentemente, a geração de desperdícios. Logo, o desperdício no STP era visto como tudo aquilo que não fosse trabalho real. No STP, "produção defeituosa" vai além de produtos defeituosos, pois também inclui o trabalho defeituoso. Por isso, o sistema Toyota objetivava a padronização e a racionalização da produção. Assim, a Toyota classificava as atividades realizadas pelos empregados em duas categorias: Como os trabalhos sem valor adicionado apenas utilizam recursos, mas não criam valor, eles devem ser eliminados da produção, a partir de modificações nos processos. Posteriormente, com a evolução do sistema de produção da Toytota, foi identificado mais um tipo de atividade nos processos: o trabalho que não agrega valor, mas é essencial ao processo, por exemplo, a inspeção da qualidade dos produtos. Essa evolução do STP é o que futuramente veio a se chamar de filosofia Lean. Essa filosofia foi criada a partir do sucesso do STP em uma época escassa, pois várias outras empresas copiaram e aplicaram esse sistema de produção. Para empregar um sistema que visa o controle dos recursos, o primeiro passo dos funcionários da Toyota foi identificar os desperdícios encontrados na fabricação de carros. GESTÃO LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL 0 8 Estoque: quando a produção é excessiva e não há demanda para os produtos finalizados, criando estoque; Espera: quando uma atividade está aguardando a finalização da atividade anterior para dar prosseguimento à produção; Transporte: transporte de mercadorias de um lugar a outro sem propósito; Processamento: etapas do processamento que não são realmente necessárias; Superprodução: esse tipo de desperdício não inclui apenas a produção excessiva de materiais. A superprodução de informações também era considerada um desperdício, pois causava a produção antecipada de mercadorias, resultando em mais desperdícios, como os estoques; Movimento: movimentação excessiva de funcionários dentro da fábrica; e Produção defeituosa: quando a produção é defeituosa e é necessário retrabalho ou o bem/produto não atende a necessidade do cliente. Sendo assim, os desperdícios são exemplificados em seguida. E nas atividades que você executa? Consegue identificar esses desperdícios? Existem outros desperdícios além dos que foram descritos? Chegamos ao fim desta aula e agora já conseguimos compreender o cenário no qual a filosofia Lean se originou. GESTÃO LEAN NA CONSTRUÇÃO CIVIL 0 9 R E F E R Ê N C I A S BERTÃO, R. A.; Lean Thinking e Design Thinking: aproximações teóricas. Dissertação (Mestrado em Gestão da Informação). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, p. 222. 2015. ODORCZYK, R. S. Relacionamento dos conceitos de lean thinking e design thinking: um estudo teórico. Dissertação (Mestrado em Gestão da Informação). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, p. 118. 2018. OHNO, T. O sistema Toyota de produção além da produção. Bookman, 1997. WOMACK, J. P.; JONES, D. T. A mentalidade enxuta nas empresas: elimine o desperdício e crie riqueza. Rio de Janeiro, Elsevier, 1998. WOMACK, J. P.; JONES, D. T.; ROSS, D. A máquina que mudou o mundo. Rio de Janeiro, Campus, 1992. Para saber mais sobre a filosofia Lean, suas características e suas ferramentas, que tal continuar o Módulo 1 do curso, assistindo o vídeo e lendo a apostila da aula 2? Este curso é um produto resultante do projeto de pesquisa ''Modelo de Educação Aberta para o Ensino Superior: Disseminação de Pesquisa sobre Sustentabilidade" que possui apoio da Fundação Araucária. Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Não comercial 2.0 Brasil. Para ver uma cópia da licença, visite este site. https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0/br/
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