Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Padrão de resposta esperado Adm Line Infográfico No infográfico a seguir, ilustram-se, de forma objetiva, a sequência do processo e onde se pode aplicar o fenômeno de autodepuração dos recursos hídricos. _2.2_ elm = ilustração bem melhor copiado de: https://leaoeomeioambiente.wordpress.com/tag/corpos-hidricos/ Conteúdo do livro No livro Meio ambiente e sustentabilidade, no capítulo 2, há mais detalhes sobre o processo de autodepuração. Inicie a leitura no item "O ambiente aquático - autodepuração e eutrofização" e finalize-a no item das "Considerações finais". _2.2_ elm = parte do livro usado em Aula 1.2 ; 2.2 ; 3.1 ; C.3 Adm Line Adm Line Adm Highlight Adm Polygon Sumário Prefácio ....................................................................................................................................... ix ARLINDO PHILIPPI Jr. Apresentação ............................................................................................................................ xiii ANDRÉ HENRIQUE ROSA, LEONARDO FERNANDES FRACETO e VIVIANE MOSCHIN I-CARLOS 1 Poluição aquática ...................................................................................................................... 17 SONIA DOS SANTOS, LUCIANA CAMARGO DE OLIVEIRA, AD EMIR DOS SANTOS, JULIO CÉSAR ROCHA e ANDRÉ HENRIQUE ROSA 2 O abastecimento de água e o esgotamento sanitário: propostas para minimizar os problemas no Brasil .................................................................................. 47 MARCELO LUIZ MARTINS POMPÊO e VIVIANE MOSCHJNI-CARLOS 3 Contaminação do solo: aspectos gerais e contextualização na química ambiental .............. 67 WILSON TADEU LOPES DA SILVA, LJLIAN FERNANDA DE ALMEIDA MARTELLI, TÂNIA LEME DE ALMEIDA, DÉBORA M. B. P. MILORI e LADISLAU MARTIN NETO 4 Atmosfera e química no planeta Terra .................................................................................... 88 L ARNALDO ALVES CARDOSO 5 Recursos hídricos e indicadores hidrológicos ...................................................................... 103 MANUEL ENRIQUE GAMERO GUANDIQUE e LEANDRO CARDOSO DE MORAIS 6 Recursos energéticos e meio ambiente .................................................................................. 126 SANDRO DONNINI MANCINI e NILSON CRISTINO DA CRUZ 7 Saúdeemeioambiente ........................................................................................................... 155 MARCELA PELLEGRINI PEÇANHA, NOBEL PENTEADO DE FREITAS, ROBERTO WAGNER LOURENÇO, MARIA RITA DONALISIO CORDEIRO, RICARDO CARLOS CORDEIRO e MARIA APARECIDA VEDOVATO 8 Modelagem ambiental ............................................................................................................ 177 SANDRA REGINA MONTEIRO MASALSKIENE ROVEDA, LEONARDO FERNANDES FRACETO e JOSÉ ARNALDO FRUTUOSO ROVEDA 9 Análise espacial de dados geográficos .................................................................................... 198 10 l 11 12 13 L ROBERTO WAGNER LOURENÇO, ANTONIO CESAR GERMANO MARTINS, SANDRA REGINA MONTEIRO MASALSKIENE ROVEDA, JOSE ARNALDO FRUTUOSO ROVEDA e PAULO MILTON BARBOSA LANDIM Análise de impactos e riscos ambientais ............................................................................... 219 FLÁVIO HENRIQUE MINGANTE SCHLITILER Manejo de solos degradados por ação antrópica .................................................................. 238 WANDERLEY JOSÉ DE MELO, GABRIEL MAURÍCIO PERUCA DE MELO, VALÉRIA PERUCA DE MELO, REGINA MÁRCIA LONGO, ADMILSON ÍRIO RIBEIRO e LIANDRA MARIA ABAKER BERTIPAGLIA Restauração de áreas degradadas ........................................................................................... 283 OSMAR CAVASSAN Tratamento de emissões gasosas ............................................................................................ 301 LEANDRO CARDOSO DE MORAIS, VALQUÍRIA DE CAMPOS, JO DWECK, MANUEL ENRIQUE GAMERO GUANDIQUE e PEDRO MAURÍCIO BÜCHLER 1 Adm Pencil Adm Rectangle Adm Rectangle Adm Pencil Adm Pencil Adm Pencil l 14 Tratamento de água e efluentes líquidos ............................................................................... 322 1 JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES e MILENA GUEDES MANIERO 1 5 Resíduos sólidos ..................................................................................................................... 346 16 l SANDRO DONNINI MANCINI, JOSÉ LÁZARO FERRAZ e WALDIR ANTÔNIO BIZZO Gestão ambiental ................................................................................................................... 375 GERSON ARAUJO DE MEDEIROS, LUCILIA DO CARMO GIORDANO e FABIO AUGUSTO GOMES VIEIRA REIS Índice ....................................................................................................................................... 407 1 Adm Rectangle Adm Pencil 2 O abastecimento de água . , . e o esgotamento san1tar10: propostas para minimizar os problemas no Brasil MARCELO LUIZ MARTINS POMPÊO e VIVIANE MOSCHINl-CARLOS Objetivos do capítulo Grande parcela da população mundial não tem acesso à água potável e sofre com problemas sanitários. Como consequência da falta de acesso à água potável e da inadequação do esgotamento sanitário, um número a larmante de pessoas morre ou vive em níveis inadmissíveis de qualidade de vida. Na cidade de São Paulo (Brasil), esse fato não é diferente, cerca de 50% do esgoto gerado é lançado sem tratamen to. Este capítulo visa disrntir a situação do saneamento básico no Brasil, em parti cular sobre a oferta de água potável e o esgotamento sanitário nas grandes metró- poles, e contribuir com sugestões visando minimizar o problema. _J !INTRODUÇÃO O volume total de água na Terra é estimado em 1.386 Mkm1, sendo 2,5% ou cerca de 35,0 l 06 km 3 constituídos de água doce e, destes, apenas 0,3% representa a água doce contida nos rios e lagos (Shiklomanov, 1998 citado em Rebouças, 1999). Além do restrito volume de água doce disponível, sua distri buição é desigual do ponto de vista espacial e temporal (Rebouças, 1999). A água é fundamental para a manu tenção da vida, e, desde os primórdios, o homem a utiliza como recurso para múlti plas finalidades. No entanto, apesar de sua importância, mesmo no século XXI, não está acessível a todos. É estimada em 20% a população mun dial atual que não tem acesso à água potá vel, em 50% da população que sofre com problemas sanitários e, conforme relatório da ONU, 2,5 bilhões de pessoas do mundo vivem em regiões completamente desprovi das de saneam ento básico (Suguio, 2006). Segundo esse autor, 8% da população urba na e 22% da população rural no Brasil não dispõem de água tratada para seu consumo. Já a FIESP (2008) apresenta que 110 mi lhões de brasileiros não têm esgoto tratado, 70 milhões não têm esgoto coletado e 22 í4s Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (O rgs.) milhões de habitantes não têm água trata da. Suguio (2006) complementa que a ca rência de saneamento atinge 22% da popu lação urbana e 50% dos moradores rurais na América Latina, onde 117 milhões de pessoas nã.o têm acesso aos serviços essen ciais de saneamento. No mundo, mais de 125 milhões de crianças de menos de 5 anos vivem em casas sem acesso a uma fonte de água potável, e mais de 280 mi lhões vivem sem acesso a facilidades de es gotamento sanit ário (UNICEF, 2006). Já na América Latina e Caribe, em 2004, cerca de 50 milhões e 127 milhões de pessoas, respectivamente, não tinham acesso à água ! _potável e cobertura de saneamento. Em T 2002, 83% da população mundial, aproxi madamente 5,2 bilhões de pessoas, foi aten dida com água potável, no entanto, l , l bi lhã.o de pessoas não tinha fontes saudáveis de água potável, sendo que destes quase dois terços viviam na Ásia (WHO/UNICEF, 2004). Como consequência da falta de aces so à água potável e da inexistência de qual quer forma de esgotamento sanitário,mor rem por volta de 8 milhões de pessoas por ano no mundo (Camdessus et al., 2005). Países como Bahamas, Malta e Singa pura têm restrita oferta de água, com um volume potencial de menos de 500 m 3/ha bitante/ano. Já os EUA (Baixo e Alto Colo rado), Azerbaijão e Suriname, são muito ricos, com mais de 100.000 m 3 /habitante/ 1 ~~o. A oferta de menos de 500 m 3/habitan ftdano implica escassez de água (Falkenma rk, 1986 citado em Rebouças, 1999). Além da pouca oferta de água, segundo Rebouças (1999), muitos países têm excessiva depen dência da água gerada fora de seus territó rios. Há também que se preocupar com a má qualidade da água. Embora muitas regi ões tenham água em quantidade suficiente para o abastecimento, esta não é de boa qualidade para os usos desejados. Além disso, há necessidade de se investir em siste mas de tratamento de água cada vez mais 1 sofisticados induzindo a cobrança pelo uso da água tratada em níveis impraticáveis pela maioria da população. O saneamento básico constitui-se de um conjunto de ações que visam propor cionar níveis crescentes de salubridade am biental em determinado espaço geográfico, em beneficio da população que habita esse espaço. Essas ações, se adequadamente im plantadas, produzem efeitos positivos sobre o bem-estar e a saúde das populações bene ficiadas. Em consequência dos benefícios que proporciona, o saneamento básico ade quado é considerado parte constituinte do modo moderno de viver e um dos direitos fundamentais dos cidadãos das sociedades contemporâneas (Brasil, 2004). O bem-es-1 1 tardas populações - apreendido pelos md1- cadores sociais e de saúde - nos diversos pa íses, bem como no território brasileiro, é mais bem retratado pela abrangência dos serviços de água e de esgotamento sanitário, do que propriamente pelo potencial hídrico ou pela disponibilidade de água per capita (Libânio et al., 2005). Sã.o efeitos positivos do saneamento básico (Esgoto é vida - Dossiê do sanea mento, 2006): melhoria da saúde da popu lação e redução dos recursos aplicados no tratamento de doenças; diminuição dos custos de tratamento da água para abaste cimento; melhoria do potencial produtivo das pessoas; dinamização da economia e geração de empregos; eliminação da po lui ão estético-visual e desenvolvimento do 1 turismo; eliminação de barreiras não tari fárias para os produtos exportáveis das em presas locais; conservação ambiental; me lhoria da imagem institucional; reconhe cimento dos eleitores. Além disso, o investimento em esgoto sanitário tem um forte impacto positivo sobre a economia dos municípios com valorização dos imó veis residenciais e comerciais; viabilização a instalação de novos negócios nos bairros beneficiados e o crescimento dos já insta lados; crescimento da atividade de cons trução civil para atender o aumento da 1 procura por imóveis residenciais e comer ciais; criação de novos empregos a partir da dinamização da construção civil, da abert ura de novos negócios ou do cresci m ento daqueles já existentes; aumento da arrecadação municipal de tributos. Há tempos não é mais possível utilizar a água seguindo o modelo histórico, bas tando recorrer a novo manancial quando se quer mais água, seja pelo atual uso excessivo da água ou por redução da qualidade de corrente do uso dos mananciais como di luidores de esgotos, principalmente próxi mo aos grandes centros urbanos. O uso da água deve estar inserido no conceito de sus tentabilidade (a manutenção de um ecossis- 1 tema saudável, produtivo, com sua biodi ~rsidade e processos ecológicos intactos, que gere emprego e renda compatíveis ao ecossistema explorado, garantindo a vida com qualidade para as gerações presentes e futuras, sempre). Portanto, esses fatos sugerem que o planejamento e a implantação de sistemas de uso de água e o esgotamento sanitário envolvem uma complexidade de interesses e atores e que infelizmente não atingiu a uni versalidade desejada. Este capítulo visa discutir a situação do saneamento ambiental no Brasil, em particular sobre a oferta de água potável e o esgotamento sanitário na Região Metropo- Llli'ana de São Paulo (RMSP), e contribuir fCom sugestões visando minimizar os im pactos negativos sobre o meio e a saúde hu mana. 1 Os sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário A implantação de sistema de abastecimento de água e do sistema de esgotamento sanitá rio, em municípios e localidades urbanas e rurais, constitui-se em importantes ações 1 de saneamento ambiental. O fornecimento Me;o amb;ente e sustentab;l;dade 49 1 de água em quantidade e qualidade, neces sária aos diversos usos propostos pelo homem, há muito tempo é um dos grandes desafios dos administradores públicos. O acesso restrito não só constitui entrave ao crescimento económico, como gera desi gualdades e se torna barreira ao rápido pro gresso (PNUD, 2006). Da m esma forma, a não coleta e tratamento sistemático dos es gotos gerados e o seu contínuo e indiscri minado lançamento nos corpos de água também constituem entrave ao desenvolvi mento e à melhoria da saúde da população, comprometendo ações futuras. Há que se levar em consideração, que o planejamento e o investimento em abasteci mento de água e esgotamento sanitário, devi- 1 do à abrangência de tais propostas, por si só é tarefa árdua. No presente momento, iniciati vas em saneamento básico se tornam parti cularmente desafiadoras para algumas regi ões, por exemplo, como nas regiões costeiras da Baixada Santista (Estado de São Paulo) e na costa catarinense (Estado de Santa Catari na), ambos no Brasil, com os grandes afluxos de turistas que ocorrem em feriados prolon gados, em festas de final de ano e no Carna val, trazendo transtorno de toda sorte tanto para a população local quanto aos próprios turistas, em particular incluindo restrições ao acesso à água e ampliando a geração de es goto e os problemas decorrentes do seu lan çamento sem tratamento. Saúde pública Há duas posturas, em alguns casos antagó nicas, sobre as verdadeiras causas associa das à mortalidade em geral e à infantil, em particular: os "modelos sociais" e os "mode los m édicos" (Simões, 2002). Os modelos sociais enfatizam o poder das variáveis so ciais na determinação da sobrevivência in fantil e a importância das mudanças estru turais na superação dos elevados índices de mortalidade, tais como o status ocupacio- 1 50 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) nal e o nível educacional da mã.e, a desigual dade na distribuição social e regional dos recursos, entre outros. Já os modelos m édi cos enfatizam o caráter fisiológico da doen ça e seu potencial de interrupção por inter médio de intervenções clínicas, tais como maior abrangência dos exames pré-natal. Também no contexto médico, a contamina ção do ambiente é uma das variáveis inter mediárias da mortalidade na infância. A água contaminada seria a porta de entrada de agentes infecciosos no organismo afe tando a qualidade de vida. Simões (2002) enfatiza ainda, que a nã.o disponibilidade de água e de esgoto adequado está associada a lEienores valores de esperança de vida ao ~scer, independentem ente de renda fami liar. Segundo dados da Fundação Nacional de Saúde, para o período compreendido entre os anos de 1995 a 1999, 3,4 milhões de brasileiros foram internados em hospitais por doenças transmitidas pela água (Costa e Silva, 2007). Para Magnoni (2007), a falta de saneamento básico é a principal causa da mortalidade na infância por doenças para sitárias (dengue, malária, cólera, febre ama rela, teníase, cisticercose, esquistossomose, diarreia, etc.), e doenças infecciosas (hepa tite A, amebíase, [eptospirose, etc.), males que proliferam em áreas sem coleta e trata mento de esgoto, o que também é sugerido por Teixeira e Guilhermino (2006). Para Ghosh (2004), a falta de acesso à água e ao esgotamento sanitário são algumasdas principais causas do ciclo da pobreza. Os pobres nao sao contemplados por serem pobres e, por não terem acesso, continuam sendo pobres, refletindo a péssima qualida de de vida, com mais enfermidades, menos educação para seus filhos e vivendo em condições anti-higiênicas e ambientalmen te degradantes. Segundo a UNESCO (2003 ), o simples ato de lavar as mãos mefüoraria a saúde e aumentaria a taxa de sobrevivência de crianças, reduzindo a mortalidade rela cionada à diarreia, pneumonia e outras 1 doenças contagiosas. Além do meio aquático veicular eleva do número de enfermidades, a quantidade insuficiente de água gera hábitos higiênicos insatisfatórios e doenças relacionadas à ina dequada higiene dos utensílios de cozinha, do corpo e do ambiente domiciliar. Outro mecanismo compreende a situação da água no ambiente físico, proporcionando condi ções propícias à vida e à reprodução de ve tores ou reservatórios de doenças, como exemplo a água é hábitat de larvas de mos quitos vetores de doenças, como o mosquito Aedes aegypti transmissor da dengue (Brasil, 2006b). Oferecer água em quantidade e quali dade adequadas é condição sine qua non \ tanto para garantir m elhores condições de vida como para garantir a própria manu tenção da vida. Assim, visando contribuir para a melhoria das condições de vida e da saúde da população, deveriam ser empre endidos esforços tanto para melhorar os indicadores sociais, bem como para am pliar os serviços de saúde ofertados à po pulação. O saneamento no Brasil Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamen to Básico 2000 (IBGE, 2000), quase todos os municípios brasileiros têm rede de abas tecimento de água. Em 2000, o serviço de abastecimento alcançou uma proporção de 97,9% dos municípios do pais, enquanto 1 em 1989 abrangia 95,9%. A pesquisa reve lou que 116 municípios brasileiros, ou 2% do total, nã.o têm abastecimento de água por rede geral; a maior parte deles situada nas regiões Norte e Nordeste. No que se re fere aos domicílios brasileiros, a cobertura é mais restrita, de 63,9%, e se caracteriza por um desequilíbrio regional. Na região Sudes te, a proporção de domicílios atendidos é de 70,5%, nas regiões Norte e Nordeste, o ser viço alcança 44,3% e 52,9% dos domicílios, respectivamente. A abrangência do abaste- 1 1 Meio ambiente e sustentabilidade s1 I 1------------- cimento de água também varia de acordo com o tamanho populacional dos municí pios: quanto mais populosos forem, m aio res as proporções de domicílios abastecidos. Os m enores municípios apresentam maior deficiência nos serviços e apenas 46% dos domicílios situados em municípios com até 20.000 habitantes contam com abasteci m ento de água po r rede geral. O esgotamento sanitário é o serviço de saneam ento básico com menor cobert u ra no Brasil (IBGE, 2000). Em 2000, dos 5.507 municípios, 52,2% tinham esgota m ento sanitário, portanto, 2.630 (47,8%) municípios não eram atendidos por rede coletora, utilizando soluções alternativas 1 (fossas sépticas e sumidouros, fossas secas, ~as abertas e lançamentos em cursos d'água) . Em relação aos domicílios, a situa ção é mais crítica, apenas 33,5% são atendi dos por rede geral de esgoto, chegando ao nível mais baixo na região Norte (2,4%), se guidos da região nordeste (14,7%), Centro -Oeste (28,1 %), Sul (22,5%) e Sudeste (53,0%). Nos municípios, a desigualdade dos serviços prestados se repete: quanto maior a população do município, maior a proporção de domicílios com serviço de es goto. O Norte é a região com a maior pro porção de municípios sem coleta (92,9%), seguido do Centro-Oeste (82, l %), do Sul (61,l %), do Nordeste (57, l %) e do Sudeste (7,1 %). Nesses casos, os principais recepto- I res do esgoto in natura não tratado são os os e mares. No Brasil, dos 52,2% municí- 1 pios que têm esgotamento sanitário, 32,0% têm serviço de coleta e 20,2% coletam e tra tam o esgoto. Em volume, no país, diaria mente, 14,5 milhões m3 de esgoto são coleta dos, sendo que 5,1 milhões m3 são tratados. O Sudeste é a região que tem a maior pro porção de municípios com esgoto coletado e tratado (33,l %), seguida do Sul (21,7%), Nordeste (13,3%), Centro-Oeste (12,3%) e Norte (3,6%). Cerca de l milhão de m3 de esgoto sã.o tratados diariam ente na Região 1 Metropolitana de São Paulo (RMSP) (Brasil) ( www.sabesp.com.br, acessado em fevereiro de 2009). IBGE (2000) considerou que o muni cípio tivesse rede geral de distribuição de água quando este atendesse pelo menos um distrito, ou parte dele, independentem ente da extensã.o de rede, número de ligações ou de economias abastecidas. Relativo à rede coletora, considerou que tivesse rede cole tara quando atendesse pelo menos um dis trito, ou parte dele, independentem ente da extensã.o da rede, número de ligações ou de economias esgotadas. É relevante constatar que, além das es tatísticas relacionadas ao abastecimento de água e à coleta e tratamento dos esgotos apresentadas p. elo !GBE (2000) !BGE (2004), 1 de um total de 5560 municípios brasileiros, existiam 1. 791 municípios sem órgão de meio ambiente na estrutura da prefeitura em 2002 e 1.607 municípios em 2004. Isso implica que, apesar do avanço, em 2004 ainda havia muitos municípios sem estru tura formal em gestão ambiental, aí consi derados os que têm secretaria municipal - exclusivamente tratando da gestão ambien tal ou dela cuidando de forma conjugada à outra área da administração do município - e os que possuem algum órgão de m eio ambiente na estrutura da prefeitura, ainda que subordinado à secretaria de outra área. Essa falta de preocupação local de ter na prefeitura setor responsável pelo m eio am biente, em parte reflete a carência de sanea- 1 mente básico no Brasil. Também são preocupantes algumas 1 constatações de Rezende e colaboradores (2007). Segundo esses pesquisadores, no Brasil, chefes de domicílios do sexo mascu lino, com idades superiores a 35 anos, de cor branca ou amarela, casados e com alta escolaridade, levam vantagem na cobertura de rede de abastecimento de água e de esgo tamento sanitário; essa vantagem é ainda maior se o domicílio possuir renda agrega da superior a cinco salários mínimos (para o ano de 2007, o salário mínimo foi de R$ I Adm Pencil Adm Pencil l 52 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) 380,00 - http:l lwww.portalbrasil.netlsala riominimo.htm, acessado em fevereiro de 2009) e for habitado por até três moradores. No que diz respeito à cor, negros e pardos estã.o mais sujeitos à exclusã.o sanitária, por que sã.o, em média, mais pobres e menos es colarizados do que brancos e amarelos. Os sistemas de abastecimento de água de todo o conjunto de prestadores de servi ços participantes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS, do Ministério das Cidades (Brasil), que inclui 4.516 municípios, para o ano de 2006 apre senta como 34,l milhões de ligações ativas, representando 443,l mil quilómetros de rede e um volume de 13,9 bilhões de m3 de água tratada (Brasil, 2006a). Com base na Pesquisa Naciúnal por Amostra de Domicí lios de 2006 (http:l lwww.ipea.gov.brlsitesl OOOl21pdf_releasel l 9SaneamentoeHabitacao. pdf, acessado em 12 de fevereiro de 2009), apesar do avanço ao acesso a serviços desa neamento enttre os anos de 200 l e 2006, 34,5 milhões de pessoas nas áreas urbanas do Brasil estão desprovidas da coleta de es goto. O saneamento na Região Metropolitana de São Paulo Com base nas informações disponibilizadas pela SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (www.sa besp.com.br, acessada em fevereiro de 12009), pode-se verificar que na RMSP há joito estações de tratamento de água (ETA) (Quadro 2.1). Essas ETAs em conjunto ofertam 67,8 m3/s de água potável para um total de 18,7 milhões de habitantes. Consi derando que cerca de 30% dessa água potá vel é perdida no trajeto até as residências (ISA, 2007), culminaem 47,46 m3 Is de água potável efetivamente ofertada. Consideran do ainda que, nos diversos usos residen ciais, cerca de 10m3 /s de água saem do siste- 1 ma, restam 37,46 m3/s descartados como água servida. Em contrapartida, as cinco es tações de tratamento de esgoto (fase líquida e sólida) (ETE) da RMSP, apresentam 18 m3/s de vazão média de projeto como capa cidade máxima de tratamento de esgotos, mas atualmente operandú no tratamento de 11 m3 Is de esgoto (Quadro 2.2). Portan to, pode-se concluir que são lançados indis criminadamente nos corpos de água da RMSP por volta de 26,46 m3/s de águas ser vidas. Ou seja, sã.o descartados na forma de esgoto não tratado quase 71 o/o da água po tável que chega às residências da RMSP. Considerando que 18,7 milhões de habitan tes são contemplados com água tratada e que a população equivalente à quantidade de esgoto tratado seja de 8,44 milhões de li habitantes (Quadros 2.1 e 2.2), em popula ção equivalente, o esgoto lançado sem tra tamento representa 10 milhões de habitan tes, ou aproximadamente 53% dos habitan tes da RMSP. Esses fatos demonstram que o sistema de tratamento de esgoto da RMSP, trabalhando com a vazão máxima de proje to, ao m enos deve ser duplicado, unicamen te permitindo atender a atual demanda. Particularmente para a RMSP, a uni versalidade do serviço de coleta e t ratamen to de esgoto, em médio prazo, melhorará a qualidade das águas dos rios. Esse fato tam bém permitirá seguir com o empreendi mento idealizado pelo Engenheiro Asa Billings, a transposição das águas do rio Pi nheiros para a represa Billings, através da estação de recalque de Pedreira, passando suas água' posteriormente pelo Summit 1 Control e seguindo para a represa Rio das Pedras. Dessa represa, construída no topo da escarpa da Serra do Mar, a água segue em desnível de cerca de 750m até a Usina Henry Boarden, em Cubatã.o. Na atualidade, essa usina hidrelétrica gera no horário de pico no máximo 150 MW, quando poderia inte grar a rede elétrica nacional produzindo continuamente na potência máxima de 880 MW. Como benefício excepcional e com plementar da melhoria da qualidade da 1 Adm Pencil Adm Pencil Meio ambiente e sustentabilidade 53 água, a ampliação na oferta de energia elé- trica de uma instalação subutilizada gerará recurso financeiro que abaterá parte do in- vestimento da ampliação da rede coletora e das novas e necessárias estações de trata- mento de esgoto e de descarte de lodo. O ambiente aquático – autodepuração e eutrofização O emprego das massas de água como dilui- doras de águas residuárias doméstica e in- dustrial, isto é, o deliberado descarte de es- QUADRO 2.1 Estação de tratamento de água (ETA) para abastecimento integrado na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), produção de água tratada e população atendida POPULAÇÃO PRODUÇÃO ATENDIDA LOCAIS ETA (M3/S) (MILHÕES) ATENDIDOS Alto Cotia 1 0,40 Cotia, Embu, Itapecerica da Serra, Embu-Guaçu e Vargem Grande Baixo Cotia 0,9 0,46 zona Oeste da RMSP (Barueri, Jandira e Itapevi) Alto Tietê 10 3,10 zona leste da capital e Arujá, Itaquaquecetuba, Poá, Ferraz de Vasconcelos e Suzano. Mauá, Santo André (parte), Mogi das Cruzes e Guarulhos (bairro dos Pimentas e Bonsucesso) abastecem suas regiões e compram água do Sistema Alto Tietê Cantareira 33 8,10 zonas Norte, Central e parte das zonas Leste e Oeste da capital e os municípios de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Guarulhos (parte), Osasco, Carapicuíba, e parte de Barueri, Taboão da Serra, Santo André e São Caetano do Sul Guarapiranga 14 3,80 zona sul e sudoeste da Capital Ribeirão da Estiva 0,1 0,04 Rio Grande da Serra Rio Claro 4 1,20 Sapopemba (parte), na Capital e parte de Ribeirão Pires, Mauá e Santo André Rio Grande 4,8 1,60 Diadema, São Bernardo do Campo e parte de Santo André Total 67,8 18,7(**) * No site da Sabesp, há também outros números, de 65 mil litros de água por segundo e ** 18,6 milhões de habitantes atendidos. Fonte: www.sabesp.com.br, acessado em fevereiro de 2009. Adm Rectangle 54 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) goto bruto nos rios, é procedimento clássi- co e amplamente utilizado em diversas partes do mundo. De fato, o ambiente aquá- tico demonstra ter condições de receber e de decompor a matéria orgânica, mas car- gas orgânicas acima de determinado nível causam alterações no ecossistema local e circunvizinho (Campos, 2000). Dependen- do da carga orgânica lançada, o processo de autodepuração (o fenômeno da aparente capacidade de recuperação das condições anteriores à poluição – Schafer, 1984) é pre- judicado, consequentemente, as condições ambientais não serão adequadas à reprodu- ção e ao crescimento de organismos que de- compõem a matéria orgânica (Campos, 2000). Com isso, pode haver a degradação do ambiente. O lançamento de elevada carga de esgoto em um corpo de água, indi- retamente consome oxigênio dissolvido, devido aos processos de estabilização da matéria orgânica realizados pelas bactérias decompositoras, que empregam o oxigênio disponível no meio líquido para a sua respi- ração (von Sperling, 2005). Assim, após o ponto de lançamento do esgoto, há drástica redução do teor de oxigênio dissolvido. O decréscimo da concentração de oxigênio dissolvido tem diversas implicações do ponto de vista ambiental, constituindo-se, em um dos principais problemas de polui- ção das águas em nosso meio. A degradação de material biodegradável é acompanhada pela rápida evolução do número de bacté- rias, fungos, etc., no meio, provocando, em muitos casos, a morte de peixes, por exem- plo, pela queda da concentração de oxigê- nio até níveis muito baixos, geralmente in- feriores a 2 mg/l (Campos, 2000). A favor da elevação da concentração de oxigênio em função da fotossíntese, têm-se a ação das algas, liberando oxigênio, e também a pró- pria turbulência na superfície da água ace- lerando a troca de oxigênio com a atmosfe- ra. Como discutido em Campos (2000), após determinado percurso (ou tempo), as águas do rio recuperam melhores níveis de oxigênio, decorrente da predominância das ações favoráveis (algas e turbulência) sobre as desfavoráveis (degradação biológica), QUADRO 2.2 Estações de tratamento de esgoto (fase líquida e sólida) (ETE) da Região Metropolitana de São Paulo, vazão média de projeto (VMP), vazão atual (VA), população equivalente e corpo de água receptor. POPULAÇÃO CORPO VMP VA EQUIVALENTE DE ÁGUA ETE (m3/s) (m3/s) (MILHÕES) RECEPTOR ABC 3 1,3 1,4 Córrego dos Meninos Barueri 9,5 7 4,4 Rio Tietê Parque Novo Mundo 2,5 1,2 1,2 Rio Tietê São Miguel 1,5 0,5 0,72 Rio Tietê Suzano 1,5 1,0 0,72 Rio Tietê Total 18 11 8,44 Fonte: www.sabesp.com.br, acessado em fevereiro de 2009. Meio ambiente e sustentabilidade 55 quando já ocorreu a mineralização de gran- de parte da matéria orgânica. Assim, com base no perfil da concentração de oxigênio dissolvido, pode-se dividir um rio em zonas de autodepuração (Branco, 1984): a) zona de degradação: locais de despejos orgâni- cos, a DBO atinge concentração máxima devido ao processo de decomposição; b) zona de decomposição ativa: locais com águas escuras devido à atividade aeróbica e anaeróbica intensa realizada por organis- mos bentônicos; c) zona de recuperação: a DBO ainda é baixa, mas a maior parte do material biodegradável foi consumido; as águas estão mais transparentes e ocorre um aumento gradual da oxigenação; d) zonas de águas limpas: a água foi totalmente recu- perada e suas condições são semelhantes àquelas anteriores à poluição. Na prática, o trecho de rio necessário para ocorrer essa recuperação pode ser de algumas dezenas ou centenas de quilômetros que, somados aos inúmeros despejos de efluentes ao longo do trajeto das águas, potencializa os problemas decorrentes do excesso de maté- ria orgânica. Além da presença de compos- tos orgânicos biodegradáveis, há a possibili- dade de contaminantes,como organismos patogênicos, metais pesados, agrotóxicos e compostos radioativos, por exemplo, com- prometendo mais ainda a qualidade da água e seus usos potenciais. O simples fato de elevar a carga orgânica da massa de água, mediante o despejo de esgotos, também acarreta o aumento dos teores de nutrien- tes, em especial do nitrogênio e do fósforo, provocando os efeitos nocivos do aporte ex- cessivo de nutrientes, o processo de eutrofi- zação. O processo de eutrofização é um dos mais graves problemas associado à redução da qualidade das águas superficiais. A falta de ações e medidas concretas em curto prazo visando conter e reduzir a eutrofiza- ção contribuirá para o agravamento da de- terioração da qualidade das águas, particu- larmente em regiões metropolitanas das grandes cidades (Pompêo et al., 2005), es- tendido para os grandes centros da América Latina. A eutrofização não se resume ao en- riquecimento por nitrogênio e fósforo. Par- tindo-se de uma situação de baixa trofia (ultraoligotrófico) a elevados níveis de nu- trientes (hipereutrófico), podem ocorrer inúmeras mudanças no corpo de água: au- mento da biomassa dos produtores primá- rios; diminuição na concentração de oxigê- nio no hipolímnio; aumento da concentra- ção de nutrientes; produção de odores; progressão de uma população de diatomá- ceas para cianobactérias e clorofíceas; dimi- nuição da penetração de luz; liberação de toxinas por cianobactérias; mudanças na produtividade, biomassa e composição de espécie; perda dos aspectos estéticos da água como cor e odor; problemas para os sistemas de tratamento da água como a fil- tração; danos à saúde; alterações no pH e redução na concentração de CO2; aumento da mortandade e na composição de peixes no ecossistema (Henderson-Sellers e Mark- land, 1987; Vezjak et al., 1998; Smith et al., 1999 citado em Pompêo et al.). Não só os rios, mas também os reserva- tórios, por estarem associados aos usos pelo homem, como depositários dos eventos pre- sentes e passados de sua bacia de drenagem, e com sua dinâmica, estrutura, funciona- mento e caracterização, em parte, sob a in- fluência externa (Calijuri e Oliveira, 2000; Henry, 1990), sofrem as influências perversas do processo de eutrofização, como observa- do nos reservatórios Billings e Guarapiranga na RMSP (Brasil). Não só os nutrientes e organismos pa- togênicos são prejudiciais à saúde. Os con- taminantes químicos da água potável, mui- tas vezes considerados menos prioritários, pois seus efeitos adversos na saúde se asso- ciam geralmente com exposições de longo prazo, quando comparados com os efeitos mais imediatos de contaminantes micro- biais, podem causar problemas de saúde muito sérios (Thompson et al., 2007). 56 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) Na RMSP, os estratégicos reservató- rios Billings e Guarapiranga, abastecem cerca de 5,4 milhões de pessoas. No presen- te momento, a SABESP (Companhia de Sa- neamento Básico do Estado de São Paulo) considera que o reservatório Paiva Castro (Sistema Cantareira), que abastece cerca de 8,1 milhões de habitantes, apresenta ótima qualidade da água. Porém, caso não seja al- terado o processo de uso e ocupação de suas áreas de captação, inevitavelmente o Siste- ma Cantareira passará pelo mesmo proces- so de degradação vivenciado pelos reserva- tórios Guarapiranga e Billings. A aplicação de sulfato de cobre, como procedimento de controle do indesejável crescimento de algas potencialmente tóxicas, as cianobac- térias, que já ocorre no reservatório Paiva Castro nos meses mais quentes do ano, de- monstra o agravamento do processo de eu- trofização no sistema Cantareira. A contí- nua deterioração da qualidade da água desse importante manancial, a possibilida- de de redução dos usos e o aumento no custo do tratamento da água bruta, causa- ram incontáveis transtornos a todo proces- so produtivo, à qualidade de vida da popu- lação em geral e da população ribeirinha em particular, que tem nesse corpo de água importante fonte de emprego e renda. A responsabilidade pela manutenção do uso com qualidade desses mananciais e de seu entorno é do poder público constituído. No entanto, a sociedade, o cidadão consciente, a escola participativa, as associações de bairro e profissionais, entre outros grupos organizados, não podem permitir que o poder público aplique unicamente seus in- teresses no controle dos usos desses manan- ciais. Segundo a Constituição Federal do Brasil (CF, 1988, Art. 225), todos têm direi- to ao meio ambiente ecologicamente equili- brado, bem de uso comum do povo e essen- cial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e as futuras. Assim, também é dever do cidadão, e não cabe unicamente à SABESP, à Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A. (EMAE), à Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CE- TESB) e às secretarias estaduais e munici- pais de meio ambiente e de saneamento, no caso da RMSP, a responsabilidade pelo ge- renciamento, monitoramento, fiscalização e manejo das massas de água. A participação ativa da sociedade, fiscalizando, sugerindo, monitorando e cobrando transparência nas ações do poder público é fundamental para garantir usos mais nobres dos espaços e seus produtos, em particular dos ambientes aquáticos, garantindo água em quantidade e de melhor qualidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS O sistema de gerenciamento de serviços pú- blicos de saneamento é formado pelo con- junto de agentes institucionais, governa- mentais e entidades privadas, que têm o ob- jetivo de executar a política de saneamento, tendo como principal instrumento o plano de saneamento (Moraes, 1997 citado em Brasil, 2004). Para esse autor, a gestão dos serviços de saneamento deve estar respalda- da em uma política de saneamento, na qual estejam explicitadas a diretriz geral, o mo- delo de gerenciamento, a organização legal e institucional e o sistema de gerenciamento que reúna os instrumentos para o planeja- mento, a execução, a operação e a avaliação das obras e serviços de saneamento, segun- do princípios de uma política pública de sa- neamento. Considera também que as ações governamentais estão refletidas em leis, de- cretos, normas e regulamentos vigentes. Moraes (2004) ressalta a importância de se manter a população como usuária dos recursos hídricos e não consumidora de uma mercadoria. Comenta que na iniciati- va privada o objetivo é a lucratividade, o que não garante o abastecimento igualitário para a população de baixa renda. Adm Pencil É óbvio que os serviços de saneamen to básico existem para satisfazer as necessi dades vitais dos moradores das cidades, es tados ou países (Yassuda e Iuni, 2000). Por tanto, o saneamento deve ser assumido como um direito humano essencial próprio da conquista da cidadania, contrapondo-se à visão do saneamentto como um bem de m ercado, sujeito às suas regras. As políticas públicas de saneamento devem se nortear por princípios, relacionados aos seus fins, à universalidade, à equidade, à integralidade, à qualidade, ao acesso e à sustentabilidade ambiental (Heller e Castro, 2007). No en tanto, para os usuários nã.o importa se a gestão é municipal ou estadual, se é pública lou até m esmo se há participação da iniciati- 1 va privada; interessa, sim, se essa gestão possibilita água com qualidade, quantidade e universalidade. Importa, sim, se essa ges tã.o possibilita que seu esgoto seja coletado, afastado e tratado, garantindo saúde am biental e humana. Importa também, e prin cipalmente, se essa gestão oferece serviços capazes de atender às necessidades básicas da comunidade, em forma sustentável e de modo a impulsionar o processo de desen volvimento económico-social (Orega e Phi lippi Jr., 2005) para todos. O atendimento a esses pontos somente é possível se os servi ços de abastecimento de água e de esgota m ento sanitário não forem pautados pelolucro, se geridos por entidade pública e com transparência. Os desembolsos financeiros devem ser entendidos como investimento e 1 nunca como desp esa. 1 Devemos ainda levar em consideração o espaço como definido por Santos (2008) ("espaçotemporal" ), o que implica que as ações relacionadas ao abastecimento de água e esgotamento sanitário devam sem pre ser revistas e ter sua tecnologia atualiza da, para atender às novas demandas e in corporar os novos conhecimentos à luz da ciência. Portanto, são necessárias revisões e ações continuadas, o que implica necessário 1 planejamento. Meio ambiente e sustentabilidade s7l Apenas com políticas públicas efica zes, voltadas ao bem público, com sólidos programas de educação ambiental e com a participação ativa da sociedade em fóruns de discussões e decisões, será possível atin gir m etas de m elhoria da qualidade de vida e restaurar a qualidadle das águas dos rios Tietê, Pinheiros e represas Billings e Guara piranga e preservar a qualidade da água do reservatório Paiva Castro, em processo de eutrofização, no caso da RMSP. É impres cindível que o poder público aplique os ins trumentos legais disponíveis e que a conti nuidade de projetos e ações de melhoria do meio ambiente seja garantida (Kakinami et al., 2004, citado em Pompêo et al., 2005). Deve-se levar em consideração o efeti- 1 vo controle dos usos e ocupações dos espa- 1 ços na bacia de captação. Os usos vigentes e propostos devem evitar a degradação da qualidade da água para o abastecimento público. A falta de água para abastecimento público, a inadequação do planejamento e a restrita implantação do sistema de esgota mento sanitário contribuem para a rápida deterioração da qualidade de água nos ma nanciais e ampliam os custos de tratamento da água bruta, além de agravarem os inú meros problemas de saúde pública. Há ten dência dos políticos e de muitos técnicos de atender prioritariamente a demanda por água potável e restrita preocupação em co letar e tratar todo esgoto gerado. A popula ção, em contrapartida, mobiliza-se princi palmente para exigir água potável, mas se 1 esquece do complemento, a água servid~ em grande pairte lançada como esgoto in natura nos corpos de água mais próximos. As estatísticas nacionais corroboram essas afirmações. Deve haver equacionamento entre a oferta de água potável à população e a cole ta e o tratamento de esgoto e do lodo gera do. Isto é, todos os habitantes deveriam ter água em quantidade e qualidade necessá rias, quantidade estimada pela ONU em 1 l ss Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) 110 litros/dia e, posterior ao uso, toda água servida deveria obrigatoriamente ser cole tada e tratada, adequando o efluente aos pa drões de lançamento, garantindo manan ciais mais saudáveis e, consequentemente, melhor qualidade de vida em todos os ní veis. No entanto, há claro descompasso po lítico na relação quantidade/qualidade de água potável e de água servida, não sendo compreendida pelos governantes e muitos de seus técnicos como um sistema único e integrado, que deve ser planejado e implan tado de forma conjunta, compondo uma única política pública de saneamento. É senso comum no Brasil a frase "obra enter rada nã.o ganha voto", referindo-se ao siste- ~a coletor de esgotos. Por princípio, o em jPfego dos corpos de água como diluidor de esgoto in natura, inclusive o uso de emissá rios submarinos, deveria ser abolido. As discussões das inúmeras questões relacionadas à implantação do saneamento básico, em particular no Brasil, dizem res peito principalmente aos aspectos políticos e não técnicos. É possível coletar e tratar água bruta através de diversos procedimen tos (Di Bernardo e Di Bernardo Dantas, 1993) e há inúmeras maneiras de tratar o esgoto, desde as tradicionais lagoas de esta bilização e lodo ativado, passando por mé todos alternativos como as terras úmidas construídas (os constructed wetlands) ou leito de macrófitas aquáticas ( von Sperling, 1996; EPA, 2000a, 2000b; Sousa et al., 2004). Portanto, atualmente existem as competên cias necessárias para solucionar os diversos aspectos da crise da gestão de recursos hí dricos, porém, a inércia dos líderes e a au sência de clara consciência sobre a magni tude do problema por parte da população, muitas vezes não suficientemente autóno ma para raciocinar, resulta em um vazio de medidas corretivas, necessárias e urgentes (UNESCO, 2003). As perspectivas futuras 1 sã.o desanimadoras. O uso da água deve ser respaldado por estudos multidisciplinares, incluindo propostas de d escarte da água servida, com sugestões de cenários futuros, com deci sões tomadas em fórum de discussã.o que envolva representantes de todos os setores interessados. A universalidade do sanea mento ambiental, com abast ecimento pú blico mínimo de água com qualidade, e de total coleta e tratamento dos esgotos gera dos, devem ser posições basilares, incorpo rando sua aplicação "espaçotemporal". Os sistemas de abastecimento de água devem ser dimensionados para atender às necessidades de água da região beneficiada. É importante que as projeções das necessi dades e as disponibilidades dos recursos hí dricos, em função do aquecimento da eco nomia e do crescimento demográfico, sejam calculadas com antecipação. Os sistemas devem ser planejados, arquitetados e cons truídos, para funcionarem durante muito tempo sem riscos de deterioração. Apesar disso, as atividades de monitoramento do sistema, buscando detectar, no mais curto espaço de tempo, possíveis problemas ou defeitos, são de importância capital, para garantir a retroalimentação sistêmica, rela cionada com as atividades de manutenção (Brasil, 2003). Resolver a crise da água, porém, é ape nas um dos desafios que enfrenta a humani dade. A crise da água se situa em uma pers pectiva mais ampla de solução de problemas e resolução de conflitos. Tal como indicou a Commission for Sustainable Development em 2002, erradicar a pobreza, modificar os padrões de produção e consumo insustentá veis e proteger e administrar os recursos na turais do desenvolvimento social e econó mico constituem objetivos primordiais e a exigência essencial de um desenvolvimento sustentável (UNESCO, 2003). Há também necessidade de leis mais sólidas e claras, com definições de sanções 1 Í Me;o amb;ente e sustentab;l;dade 591 1-------- quando do seu não cumprimento. Nã.o é conveniente pensar o saneamento com base no lucro financeiro. O maior lucro é manter os serviços e potencialidades do meio am biente por tempo indefinido. Sendo urgente despender esforços para equacionar questões relativas à manu tenção da qualidade e quantidade da água dos mananciais e visando minimizar os problemas relacionados ao abastecimento público e esgotamento sanitário nos gran des centros urbanos e garantir mananciais mais saudáveis para gerações futuras, são propostas: ~nenhuma entidade federal, estadual, mu nicipal ou privada poderá captar qualquer quantidade de água bruta sem a aprova ção prévia dos órgãos competentes; b) toda entidade federal, estadual, munici pal ou privada terá o prazo máximo de cinco anos para regularizar e cadastrar seu sistema de captação de água bruta em operaçã.o, atendendo normas estabe lecidas pelas diferentes esferas de gover no, no caso de descumprimento ficará definido multa diária; c) definir em lei a quantidade máxima de água bruta que poderá ser captada, com base na quantidade - vazão e carga reti radas, levando em consideração a vazã.o e carga do manancial (rio) e a recarga de lagos e reservatórios, discriminando res- 1 ponsabilidades e sansões quando do seu descumprimento; d) o não cumprimento das normativas apresentadas nos itens anteriores impli cará não ter analisadas novas solicita ções de captação até a regularizaçã.o da atual situação; e) a obrigatoriedade definida em lei que para cada metro cúbico de águapotável l ofertada à população sejam definidos em projeto a respectiva coleta e trata m ento da água servida. A oferta de água potável e a coleta e o tratamento do es goto gerado devem ser entendidos como um sistema único, integrado e indissoci ável, implicando que sejam considera dos conjuntamente no planejamento, na implantação e na solicitação de recur sos, com pena de não ter aprovada a proposta de captação de água bruta; f) definir em lei o limite máximo de l 0% para a fuga de água, implicando multas e sanções quando do seu não cumpri mento; para tanto será obrigatória a im plantação de sólido programa de moni toramento de perdas e controle da água 1 ofertada; g) a obrigatoriedade definida em lei para que, no prazo máximo de dez anos, todo esgoto gerado seja efetivamente coleta do e tratado (descarte zero), definindo graves sanções às diferentes esferas de governo e seus dirigentes quando da não observância da lei; h) empreendimentos já instalados têm o prazo de dez anos para se integrarem à rede coletora de esgotos, após esse prazo serão integrados compulsoriamente, ar cando com os custos de instalação so mados às despesas de multas e custos processuais; i) definir em lei que novos empreendi mentos somente serã.o aprovados para uso após serem definitivamente integra- I dos à rede coletora de esgoto; j) definir em lei prazos para a instalação de 1 sistemas de tratamento e descarte de lodo, provenientes das ETAs e ETEs, com defini ções de responsabilidades, sanções e mul tas quando do seu não cumprimento; k) definir em lei que novos empreendi mentos (condomínios, museus, clubes, estádios, escolas, shopping centers, par ques temáticos, indústrias, hospitais, hotéis, motéis, restaurantes, casas de es petáculos e de exposições e outros esta belecim entos comerciais e empreendi- 1 1 60 Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (Orgs.) mentos de grande porte público e priva do, com base na área física instalada e no número de pessoas atendidas) implan tem sistema de reuso de água, compra zos de instalação e projetos aprovados por órgãos competentes; 1) definir que esses mesmos empreendi mentos também implantem sistema de captação de água de chuva, com prazos de instalação e projetos aprovados por órgãos competentes; m) definir em lei o prazo de dez anos para que empreendimentos já instalados (ver item k) implantem sistema de captação de água de chuva, com prazos de instalação e pro jetos aprovados por órgãos competentes; n) cobrar de modo diferenciado e escalo nado, segundo o consumo de água - quanto mais consome mais paga, garan tindo uma tarifa social mínima de ao menos 11 O litros/habitante/ dia; o) instalar medidores de consumo de água individuais - em caida casa um medidor de consumo; p) empreender esforços visando ampliar o controle e a vigilância da qualidade da água pelos órgãos responsáveis pelo abastecimento e por órgãos de saúde pública, da água bruta à torneira para o L consumidor final; q) implantar sólidos programas de contro le de perdas; r) empreender esforços em todos os níveis com campanhas educacionais sobre a im portância da água, seu uso racional, apre servação de sua qualidade e quantidade; s) empreender esforços em campanhas edu cacionais relacionadas à saúde pública, re forçando a importância de hábitos sim ples como lavar as mãos com sabão após usar o banheiro e antes das refeições; t ) estabelecer que esta.do e prefeitura obri gatoriamente implantem secretaria de meio ambiente e de saneamento; u) definir que toda secretaria de m eio am biente e de saneamento (federal, esta- duais e municipais) deva manter site atua lizado com as ações empreendidas e metas para o sistema de abastecimento de água e esgotamento sanitário. AGRADECIMENTOS Agradeço à Profa. Dra. Sandra Tédde San taella (Universidade Federal do Ceará, Ins tituto de Ciências do Mar, Fortaleza, Ceará, Brasil) pela leitura crítica do manuscrito e a Fapesp (02/13376-4 e 06/5 1705-0) e CNPq (471184/2006-3 e 470443/2008-1). _J níveis de trofia e ao mesmo tempo simplificar a co municação aos tomadores de decisão e a popula ção, neste caso incluindo o emprego de diferentes cores para cada classificação do estado trófico, como proposto. O IET adotado neste exercício será o clássico índice introduzido por Carlson (1977) e modificado por Lamparelli (2004), atualmente utilizado pela CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamen to Ambiental) na avaliação da qualidade das águas superficiais do Estado de São Paulo. Este índice utiliza seis categorias de estado trófico (Tabelas 2.1 e 2.2) em função dos valores obtidos para as variá veis clorofila-a e fósforo total. Além disso, pro põem uma cor característica para cada estado tró fico. O valor da transparência da água não será empregado já que muitas vezes não é representa tivo do estado de trofia, pois o IET com base no disco de Secchi pode ser afetado pela elevada tur bidez decorrente de material mineral em suspen são. Elevados teores da fração inorgânica na água contribui na redução da penetração da luz, medida pelo disco de Secchi, mas não correspondente aos teores de nutrientes dissolvidos, em particular o fósforo, e da concentração de clorofila-a medida. Este fato permite que o IET calculado seja superes timado e em consequência disso também a classi ficação do estado trófico. No IET, os resultados correspondentes ao fósfo ro total (IETCPn), devem ser entendidos como uma medida do potencial de eutrofização, já que o fósfo ro atua como o agente causador do processo. A avaliação correspondente à clorofil~ (IET(CL)), por 1TABELA2.1 Meio ambiente e sustentabilidade • sua vez, deve ser considerada como uma medida da resposta do corpo hídrico ao agente causador, indi cando de forma adequada o nível de crescimento de algas que tem lugar em suas águas (CETESB, 2006). Assim, o índice médio engloba, de forma sa tisfatória, a causa e o efeito do processo. Deve-se ter em conta que em um dado corpo hídrico com o processo de eutrofização plenamen te estabelecido, é de se esperar que o estado tró fico determinado pelo índice da clorofila-a coinci da com o estado trófico determinado pelo índice do fósforo (Lamparelli, 2004). Já nos corpos hídri cos em que o processo esteja limitado por fatores ambientais, como a temperatura da água ou a baixa transparência, o índice relativo à clorofila-a refletirá esse fato, classificando o estado trófico em um nível inferior àquele determinado pelo índi ce do fósforo. Isto é, caso cesse a ação desses fa tores ambientais seria de se esperar que ocorresse e levação na concentração de clorofila-a correspon dente aos teores de fósforo e, em consequência disso, melhor correspondência do IET(PT) e IET(CL). Além disso, outro fator que pode interferir no cál culo do IET(CL) é a aplicação de algicidas. O uso de algicidas (sulfato de cobre e peróxido de hidro gênio, comumente empregados nas represas da Região Metropolitana de São Paulo) tem por obje tivo conter o crescimento de algas, principalmente cianobactérias potencialmente tóxicas. Como con sequência, apesar do potencial de crescimento algal decorrente de elevados teores de nutrientes, em especial o fósforo, artificialmente são mantidas baixas concentrações de clorofila-a decorrente do Classificação do estado trófico segundo Lamparelli (2004), com base no Índice do Estado Trófico (IEn e sua respectiva representação cromática. CATEGORIA ESTADO TRÓFICO PONDERAÇÃO Ultraoligotrófico IET ~ 47 Oligotrófico 47 < IET ~ 52 Mesotrófico 52 < IET :::; 59 Eutrófico 59 < IET ~ 63 Supertrófico 63 < IET :s; 67 1 Hipereutrófico IET > 67 162 Rosa, Fraceto e Mosch ini-Carlos (Orgs.) 1 -----------d - -- TABELA 2.2 Classificação do e stado trófico segundo Lamparell i (2004), com base no Índice do Estad o Trófico (IET) ESTADO TRÓFICO ESPECIFICAÇÃO Ultraoligotrófico Corpos de água limpos, de produtividademuito baixa e concentrações insignificantes de nutrientes que não acarretam prejuízos aos usos da água. Oligot rtófico Corpos de água limpos, de baixa produtividade, em que não ocorrem interferências indesejáveis sobre os usos da água, decorrentes da pre- sença de nutrientes. Mesot rófico Corpos de água com produtividade intermediária, com possíveis implica- ções sobre a qualidade da água, mas em níveis aceitáveis, na maioria dos casos. Eutrófico Corpos de água com alta produtividade em relação às condições natu- rais, com redução da transparência, em geral afetados por atividades antrópicas, nos quais ocorrem alterações indesejáveis na qual idade da água decorrentes do aumento da concentração de nutrientes e interfe- ,.... rências nos seus múltiplos usos. Supereut rófico Corpos de água com alta produtividade em relação às condições natu- rais, de baixa transparência, em geral afetados por atividades antrópi- cas, nos quais ocorrem com frequência alterações indesejáveis na quali- dade da água, como a ocorrência de episódios de flo rações de algas e interferências nos seus múltiplos usos. Hipe re utrófico Corpos de água afetados sig nificativamente pelas elevadas concentra- ções de matéria orgânica e nutrientes, com comprometimento acentu- ado nos seus usos, associado a episódios de florações de algas ou mor- tandades de peixes, com consequências indesejáveis para seus múltiplos usos, inclusive sobre as atividades pecuárias nas regiões ribeirinhas. uso do algicida resultando em uma redução tam bém artificial do IET(CL). mento (Cardoso da Silva, 2008; Mariani e Pompêo, 2008; Padial, 2008; Meirinho, 2010), às vezes refle tindo em diferentes níveis de trofia nos respectivos compartimentos. Assim, com base em uma prová vel heterogeneidade espacial e temporal, a deter minação do grau de eutrofização médio anual de um corpo hídrico pode não representar claramente as variações que ocorreram ao longo do período anual ou mesmo em dada porção do reservatório. Dessa forma, é importante também apresentar os resultados mensais para cada estação de coleta. Em virtude da variabilidade sazonal dos pro cessos ambientais que têm influência sobre o grau de eutrofização de um corpo hídrico, esse proces so pode apresentar variações no decorrer do ano, havendo épocas em que se desenvolve de forma mais intensa e outras em que pode ser mais limita do. Em geral, no início da primavera, com o au mento da temperatura da água, maior disponibili dade de nutrientes e condições propícias de pene tração de luz na água, é comum ocorrer um incremento do processo, após o período de inver no, em que ele se mostrava menos intenso. Além disso, é comum observar reservatórios comparti mentados horizontalmente. Isto é, podem ser ob servadas zonas no reservatório com distintas carac terísticas físicas, químicas e biológicas, observadas não só na massa de água, mas também no sedi- As considerações apresentadas acima sugerem que apesar do uso quase universal do IET, ele é um mero índice e seu valor deve ser relativizado. O mais conveniente é utilizá-lo em conjunto com as demais variáveis analisadas e incorporando o amplo conhecimento do ambiente em estudo e seu entorno. No entanto, é bem adequado para comparar diferentes massas de água e, baseado 1 Meio ambiente e sustentabilidade 63 1 b ------------ em série histórica de dados, avaliar alterações nos níveis de trofia. O cálculo do Índice do Estado Trófico (IEl) Através de método estatístico baseado em regres são linear, visando o cálculo do IET, Lamparelli (2004) alterou as expressões originais propostas em Carlson (1977). Esse procedimento permitiu adequar as equações aos ambientes subtropicais, discriminando rios e reservatórios. Para uso exclu sivo em reservatórios as equações propostas por Lamparelli (2004) são as seguintes: IET(PT) = 1 O x { 6 - [ (1,77 - 0,42 x (ln PT))/ ln 2 ] }; IET(CL) = 10 x { 6-[ (0,92- 0,34 x (ln CL)) /ln 2] }; onde: PT = concentração de fósforo total medida à super fície da água, em µg.L-1; CL =concentração de clorofila-a medida à superfí cie da água, em µg.L-1; ln = logaritmo natural. TABELA 2.3 Quando ambas as variáveis são levantadas para uma mesma estação de coleta, Lamparelli (2004) re comenda que o resultado apresentado nas tabelas do IET seja a média aritmética simples dos índices relativos ao fósforo total e a clorofila-a, como segue: IET = [ IET(PT) + IET(CL) ] / 2 Na eventualidade da inexistência de dados de concentração de fósforo total ou mesmo de cloro fila-a, o índice será calculado com o parâmetro dis ponível e considerado equivalente ao IET pondera do, devendo apenas constar uma observação junto ao resultado, informando qual dos parâmetros foi utilizado. Exercício proposto Abaixo são apresentados valores de concentrações de fósforo total (PT) e clorofila-a (CL) para três reser vatórios localizados na região metropolitana de São Paulo (Tabela 2.3). Através dos dados apresentados: a) Calcular o Índice do Estado Trófico de Carlson modificado por Lamparelli (2004); Concentrações de fósforo total (PT) e clorofila-a (CL) para t rês reservatórios da reg ião metropolitana de São Paulo PT CL LOCAIS µg.L-1 µg.L:-1 reservatório Rio das Pedras <1> março 2004 * 11,6 outubro 2004 * 17,2 reservatório Billings - braço Rio Grande (2) fevereiro 2007 40,1 5,6 iulho 2007 36.6 47 reservatório Billings - braço Taquacetuba C2l fevereiro 2007 54,6 33,2 julho 2007 402,2 867,0 reservatório Guarapiranga <3> ** setembro 2006 24,2 5,2 abril 2007 25,9 12,9 1 Padial e colaboradores (2009), 2 Moschini-Carlos e colaboradores {2010). 3 Cardoso da Silva (2008), . abaixo do limite de detecção do método -1 O µg.L-1. tt valores médios. 1 64~~~R_o_s_a_, _F_ra_c_e_to~e_M~o_s_c_hi_n_i-_C_a_rl_o_s_(_O_r=g_s._) ~~~~~~~~~~~~~~~~J b) Definir a respectiva categoria para cada reser vatório e período (estado trófico); c) Discutir os IETs obtidos para cada reservatório, em relação à sazonalidade; d) Comparar os reservatórios quanto ao IET; e) Discutir os resultados utilizando o IET para PT, CL e médio. Há diferenças, por quê? Observações O Complexo Billings e o Sistema Guarapiranga são reservatórios urbanos eutrofizados que tem impor tância estratégica para a cidade de São Paulo e as cidades do ABCD paulista, pois suas águas entre outras finalidades, são utilizadas para o abasteci mento público. O Sistema Rio Grande (Complexo !REFERÊNCIAS BRANCO, S. M. Limnología sanitaria: estudio de la polu ción de aguas continentales. Washington: OEA, 1984. (OEA Serie de Biología, monografia 28.). BRASIL. Constituição ( 1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial [da] República Federa tiva do Brasil, Brasilia, DF, 5 out. 1988. BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Desastres humanos de natureza tecnológica. ln: BRASIL. Ministério da Integração Nacio nal. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Manual de desas tres humanos. Brasília: MI, 2003. v. 2, parte 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância e controle da qualidade da água para consumo humano. Brasília: MS, 2006. (Série B. Textos Básicos de Saúde) . BRASIL. Ministério da Saúde; Organização Pan-Ameri cana da Saúde. Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceituai e estratégia metodológica. Brasília: MS OPAS 2004. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambienta.!. Sistema Nacional de Informa ções sobre Saneamento. Diagnóstico dos serviços de água e esgotos - 2006. Brasília: SNIS, 2006. 12., partes 1 e 2. CALIJURI, M. C.; OLIVEIRA, H. T. Manejo da qualidade de água: uma abordagem metodológica. ln: CATELLANO, E. G.; CHAUDHRY, F. H. {Org.). Desenvolvimento susten tado: problemas e estratégias. São Carlos: USP, EESC, 2000. p. 39-58. CAMDESSUS, M . et ai. Água: oito milhões de mortos por ano: um escândalomundial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. CAMPOS, J. R. Alternativas para tratamento de esgotos. ln: CATELLANO, E. G.; CHAUDHRY, F. H. (Org.). Billings) produz 4,7 mil litros de água por segundo e abastece 1,6 milhões de pessoas em Diadema, São Bernardo e parte de Santo André. O Sistema Guarapiranga produz 14 mil litros de água por se gundo e abastece 3,8 milhões de pessoas da zona sul e sudoeste da capital. Já o reservatório Rio das Pedras recebe águas da represa Billings. Essa água posteriormente desce a escarpa da Serra do Mar produzindo energia elétrica na Usina Henry Boar den e posteriormente parte das águas é captada pela SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), tratada e ofertada à po pulação da Baixada Santista. Nas Referências e Lei tura complementar podem ser obtidas outras in formações sobre esses reservatórios e sobre o pro cesso de eutrofização. Desenvolvimento sustentado: problemas e estratégias. São 1 Carlos: USP, EESC, 2000. p 87- 106. COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. SABESP [Portal] . Disponível em: <www.sabesp.com.br>. Acesso em: 4 mai. 2008. COSTA lE SILVA, A. C. Polêmica: saneamento com novas regras. Revista do Conselho Federal de Engenharia, Arqui tetura e Agronomia, v. 5, n. 7. 2001. DI BERNARDO, L.; DANTAS, A. D. B. Métodos e técnicas de tratamento de água. São Carlos: RiMa, 1993. ESGOTO É VIDA, Efeitos positivos do saneamento básico, 2006. Disponível em: <http://www.esgotoevida.org.br/ efeitos_positivos.php>. Acesso em: 2 maio 2012. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Visão e desafios ambientais. São Paulo: FIESP, 2008. Semana FIESP/CIESP de Meio Ambiente, 2008. GHOSH, G. Metas do milénio. Revista do Conselho Fede ral de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Disponível em: <http://www.confea.org.br/revista!materias/edi cao_ l 9/editorial/editor ial.asp>. Acesso em: 7 fev. 2009. HELLER, L.; CASTRO, J. E. Poütica pública de sanea mento: apontamentos teórico-conceituais. Revista Enge nharia Sanitária e Ambienta/, v. 12, n. 3, p. 284-295, 2007. HENRY, R. Estrutura espacial e temporal do ambiente físico e químico e análise de alguns processos ecológicos na Represa de Jurumirim (Rio Paranapanema, SP) e na sua Bacia Hidrográfica. 1990. Tese (Livre Docência) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Botucatu, UNESP, 1990. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTA Tf STICA. Perfil dos munidpios brasileiros: gestão pública 2004. Rio de Janeiro: IBGE, 2005. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTA TÍSTICA. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000.
Compartilhar