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FISIOLOGIA DA ATIVIDADE MOTORA Oséias Guimarães de Castro Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Descrever as etapas que formam o ciclo cardíaco. � Identificar as particularidades do sistema elétrico do coração. � Explicar as diferentes formas de regulação cardíaca pelo sistema ner- voso autônomo (SNA). Introdução O coração precisa garantir a circulação do sangue, permitindo a distri- buição de oxigênio e nutrientes para cada célula do corpo, bem como a eliminação de resíduos e toxinas. O ciclo cardíaco compreende todas essas atividades do coração por meio de um batimento cardíaco completo – isto é, por meio de uma contração e um relaxamento de ambos os átrios e ventrículos. O órgão precisa relaxar para receber o sangue e contrair para ejetá-lo de suas cavidades. Esse movimento vital ocorre desde o começo dum batimento até o início do próximo, sequencialmente. Um ciclo cardíaco corresponde ao tempo entre dois batimentos cardíacos e tem a duração aproximada de 0,8 segundos quando a frequência cardíaca é de 75 batimentos ou ciclos por minuto. Neste capítulo, você vai estudar sobre as diferentes etapas que com- põem o ciclo cardíaco, além de compreender todas as estruturas e par- ticularidades responsáveis pelo estímulo elétrico ao coração e, por fim, aprender sobre os dois diferentes sistemas que regulam e controlam as atividades cardíacas. O ciclo cardíaco O ciclo cardíaco envolve uma série de mudanças de pressão que ocorrem nas estruturas internas do coração para promover o fluxo sanguíneo. O coração é um órgão muscular composto por quatro cavidades internas. As duas cavida- des superiores do coração são chamadas átrios, enquanto as duas cavidades inferiores são chamadas de ventrículos. O coração também é dividido em duas partes: a direita (coração direito) e a esquerda (coração esquerdo). Cada um inclui um átrio e um ventrículo. A parede que separa os átrios e os ventrículos no coração direito e no coração esquerdo é chamada de septo. O átrio direito coleta o sangue que percorreu todo o corpo e o envia para o ventrículo direito, de modo que é ejetado para os pulmões para nova oxi- genação. Da mesma forma, o átrio esquerdo coleta passivamente o sangue que passou pelos pulmões e o alimenta para o ventrículo esquerdo, que ejeta sangue recém-oxigenado por todo o corpo. O sangue ainda circula no coração na mesma direção, graças às quatro válvulas cardíacas, chamadas válvulas tricúspide, pulmonar, mitral e aórtica, respectivamente. O sangue entra no coração pelas veias basais inferior e superior, passa pelo átrio direito e é ejetado pelo ventrículo direito. Da mesma forma, o sangue atinge o coração esquerdo por meio das quatro veias pulmonares, transita para o átrio esquerdo e é ejetado para o corpo através do ventrículo esquerdo. A válvula tricúspide previne o refluxo sanguíneo do ventrículo direito para o átrio direito e a válvula pulmonar impede o refluxo da artéria pulmonar para o ventrículo direito. A válvula mitral impede o refluxo sanguíneo do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo e a válvula aórtica previne o refluxo da aorta para o ventrículo esquerdo. A valva mitral consiste em duas camadas (ou cúspides), enquanto as outras três valvas normalmente compreendem três camadas. O ciclo cardíaco é composto pelos movimentos do músculo cardíaco de contração (sístole) e relaxamento (diástole). Então, cada cardíaco, corresponde a uma sístole e uma diástole, ações que acabam promovendo as variações regulares de pressão e volume sanguíneo, por meio de pulsos elétricos con- trolados pelo SNA (SILVERTHORN, 2017). O enchimento e contração ventricular pode ser traduzido em uma curva de pressão-volume com a pressão no eixo Y e o volume no eixo X. Frequen- temente, isso representa apenas o ventrículo esquerdo, mas, novamente, um processo análogo está ocorrendo no ventrículo direito, embora com pressões muito mais baixas. Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração2 Na função ventricular, a pressão aumenta, mas o sangue não sai do ven- trículo. Eventualmente, a pressão dentro do ventrículo excede a pressão nas artérias e a válvula aórtica se abre, marcando o início da ejeção ventricular rápida. Um ventrículo saudável ejetará mais de 60% de seu volume e, após o fechamento da válvula aórtica, o ciclo recomeça. Etapas que formam o ciclo cardíaco Átrios e ventrículos alternam fases de relaxamento, nas quais são preenchidos com sangue e fases de contração durante as quais são esvaziados, empurrando o sangue para os dois circuitos. Essas fases afetam simultaneamente os dois lados do coração e se alternam, de modo que o fluxo sanguíneo é sempre unidirecional: os átrios recebem o sangue que sai das grandes veias, lançando-o para dentro dos ventrículos. Estes, por sua vez, contraem e bombeiam o sangue para as artérias principais. As etapas detalhadas do circuito acima descrito podem ser verificadas a seguir. Primeira etapa — contração atrial: cerca de 80% do enchimento ventri- cular é realizado passivamente, mesmo antes do início da contração atrial, e os 20% restantes do enchimento ventricular são devidos à contração atrial. Esse preenchimento ativo dos ventrículos é fundamental durante a atividade física. Quando a pressão no átrio aumenta, o sangue entra nos ventrículos pela válvula mitral aberta. Durante a contração do átrio esquerdo, a pressão e o volume é transferido para o ventrículo esquerdo pela válvula mitral aberta. A válvula aórtica está fechada porque a pressão na aorta é maior que a pressão no ventrículo esquerdo nesse momento. Segunda etapa — contração isovolumétrica: é o estágio da contração ven- tricular quando as válvulas atrioventriculares estão fechadas, mas as válvulas avançadas ainda não são abertas. O ventrículo está se contraindo como uma câmara fechada, sem qualquer alteração no volume e no tamanho do ventrículo. Chamamos de contração isovolumétrica a parte inicial da sístole ventricular. A pressão intraventricular aumenta progressivamente até 80 mmHg, mas não é o suficiente para abrir a válvula aórtica. Enquanto isso, a pressão intra-atrial está aumentando gradualmente em razão do acúmulo de sangue que retorna dos pulmões para o átrio esquerdo e de todo o organismo para o átrio direito. Durante a mesma fase, a aorta bombeia o sangue que contém na parte mais periférica da árvore arterial em razão da sua natureza elástica. 3Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração Terceira etapa — ejeção ventricular rápida: quando a pressão atinge 81 mmHg, a válvula aórtica se abre. A terceira fase do ciclo cardíaco começou. Os ventrículos continuam contraindo e há um aumento progressivo da pressão intraventricular de até 120 mmHg. Durante essa fase, a válvula aórtica se abre e o sangue é ejetado rapidamente na aorta. Agora, ventrículo esquerdo e aorta se comportam como uma única câmara. As mudanças de pressão ocorridas nos ventrículos resultam em uma transmissão idêntica da pressão para a aorta. Enquanto isso, os átrios ainda recebem sangue. Quarta etapa — ejeção ventricular lenta: nesta fase, o átrio ainda está se comportando como reservatório de sangue. A valva mitral está fechada. Os ventrículos ainda estão se contraindo, mas, em razão da ejeção da pressão intraventricular do sangue, começa a cair. Assim, a pressão na aorta também começa a cair, mas a pressão intraventricular ainda é maior do que a pressão aórtica. A válvula aórtica permanece aberta, levando à ejeção lenta do sangue na aorta. A aorta elástica continua comprimindo o sangue e bombeando-o para a árvore arterial periférica. Quinta etapa — relaxamento isovolumétrico: nesta fase, os ventrículos começam a relaxar. A pressão intraventricular cai rapidamente. No começo, assim que a pressão ventricular se torna menor que a pressão na aorta, a valva aórtica se fecha. Mesmo que a pressão no ventrículo esteja caindo,ainda é alta o suficiente em comparação com a pressão no átrio. Portanto, o ventrí- culo está relaxando com válvulas fechadas e é conhecido como relaxamento isovolumétrico. Durante essa fase, o átrio ainda está se comportando como reservatório de sangue. Sexta etapa — enchimento ventricular rápido passivo: quando o ventrículo esquerdo começa a relaxar, a pressão no ventrículo esquerdo começa a cair rapidamente até atingir o ponto em que a pressão no ventrículo se torna menor que a pressão no átrio, levando à abertura da válvula mitral. Sangue que antes era acumulado no átrio se apressará no ventrículo. Sétima etapa — enchimento ventricular passivo lento: quando a válvula atrioventricular se abre, o sangue que chega ao átrio se precipita diretamente no ventrículo. Aqui o átrio não está atuando como reservatório. Veja a seguir a Figura 1. Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração4 Figura 1. Ciclo cardíaco. Fonte: Adaptada de Alila Medical Media/Shutterstock.com. Como você viu, o ciclo cardíaco é um processo extremamente ordenado para que tenha seu funcionamento ideal. Para tal, o músculo cardíaco ventri- cular começa a contrair alguns milissegundos após o início do potencial de ação elétrica e continua a contrair por alguns milissegundos após o término do potencial de ação elétrica. Portanto, a duração da contração do músculo cardíaco é principalmente uma função da duração do potencial de ação elétrica. Na relação entre tempo de contração (intervalo sistólico) e relaxamento, o tempo (intervalo diastólico) aumenta à medida que a frequência cardíaca aumenta. No próximo tópico, você vai entender como funciona a regulação destas contrações no miocárdio por meio do sistema elétrico cardíaco. Particularidades do sistema elétrico cardíaco O coração é regulado pelo controle neural e endócrino, mas é capaz de iniciar seu próprio potencial de ação seguido de contração muscular. 5Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração As células condutoras dentro do coração estabelecem a frequência cardí- aca e transmitem o impulso elétrico por meio do miocárdio, suas células se contraem e impulsionam o sangue. O caminho normal de transmissão para as células condutivas é o nódulo sinoatrial (SA), as vias internodais, o nódulo atrioventricular (AV), o feixe atrioventricular (AV) de His, os ramos do feixe e as fibras de Purkinje. Veja a Figura 2 a seguir. Figura 2. Marcadores da atividade elétrica do coração. Fonte: Conceição (2009). Nódulo sinoatrial Nódulo atrioventricular Feixe de His O SA está localizado perto da junção da veia cava superior com o átrio direito, e está orientado longitudinalmente ao eixo na superfície, revestido no lado endocárdico por uma camada de miofibras atrial; abundante é o tecido conjuntivo. As células são distribuídas centralmente de maneira concêntrica em torno da artéria para o nódulo sinoatrial, sua principal função é a capacidade de se despolarizar espontaneamente com frequência e modalidade que lhe permitam conduzir a atividade elétrica de todo o coração. Essa complexidade tem como função básica regular a frequência cardíaca. Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração6 A capacidade de despolarização se espalha pelos átrios, depois pelo nódulo atrioventricular e do sistema His-Purkinje para os ventrículos. A velocidade de despolarização é preservada quando acionada pelo poten- cial de ação. Além da ação do nódulo sinoatrial (AS), o AV atua especialmente em sua porção inferior por meio das células (N e NH), com frequência de des- carga intrínseca de 40-55 bpm, provocando distalmente as células His-Purkinje, que são estimuladas espontaneamente com uma frequência de 20-40 bpm. Essa condução elétrica se dá por meio das membranas celulares, e é conhe- cida como gradiente eletroquímico da bicamada fosfolipídica da membrana. Esse gradiente é mantido por “ejetores” de proteínas embutidas na membrana que movem alguns tipos de íons (partículas carregadas) por meio da membrana em uma direção, enquanto estruturas similares movem outros tipos de íons na direção oposta. O potencial de ação para as células condutivas consiste em uma fase pre- potencial com um influxo lento de sódio (Na+) seguido por um influxo rápido de cálcio (Ca2+) e fluxo de saída de potássio (K+) evocando a contração do tecido cardíaco. Essas células contráteis têm um potencial de ação prologando que resulta em um período refratário igualmente prolongado para permitir a contração completa, permitindo o fluxo sanguíneo eficaz. Um potencial de ação é uma mudança reversível desse potencial de mem- brana resultante de um “efeito cascata” — uma ativação de correntes gerada pela súbita difusão de íons através da membrana reduz o gradiente eletroquímico. A regulação celular provoca excitação e contração cardíaca resultante diretamente nas mudanças de pressão e volume. Um íon de cálcio tem uma carga líquida positiva de duas unidades, o dobro do íon sódio ou do íon po- tássio. Como a membrana geralmente carrega um gradiente de carga, ela é considerada polarizada, ou seja, caracterizada por diferentes extremos (mais carregada negativamente em um lado, mais positivamente carregada no outro). Um potencial de ação é desencadeado pela despolarização, que se traduz livremente em um cancelamento temporário do desequilíbrio de carga normal, ou uma restauração do equilíbrio. A iniciação do “batimento” do coração é controlada por miócitos cardíacos especiais, ou células do músculo cardíaco, chamadas células marcapasso. Essas células controlam o ritmo do batimento cardíaco, mesmo na ausência de estímulo nervoso externo, uma propriedade chamada de autorritmicidade. Isso significa que, mesmo na ausência de ativação do sistema nervoso, o co- ração poderia, em teoria, continuar a bater enquanto os eletrólitos (minerais de carga elétrica) estivessem presentes. 7Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração Todas essas etapas elétricas que ocorrem no ciclo cardíaco podem ser observadas ao analisar um eletrocardiograma (ECG). Para melhor compreensão do ciclo cardíaco, é necessário identificar uma combinação das ondas Q, R e S, o complexo QRS, que representa a despola- rização ventricular. A duração normal (intervalo) do complexo QRS é entre 0,08 e 0,10 segun- dos — ou seja, 80 e 100 milissegundos. Quando a duração é entre 0,10 e 0,12 segundos, é intermediária ou ligeiramente prolongada. A duração do QRS superior a 0,12 segundos é considerada anormal. Esta sequência rítmica provoca alterações na pressão e no volume que são frequentemente vistos graficamente (gráfico de Wiggers). Uma compreensão dessa informação é vital para a compreensão do ciclo cardíaco em estado adequado (SILVERTHORN, 2017). Os pontos reconhecíveis no ECG incluem a onda P que corresponde à despolarização atrial, o complexo QRS que corresponde à despolarização ventricular e a onda T que corresponde à repolarização ventricular (FEHER, 2016). Veja a seguir a Figura 3. A duração do QRS aumentará quando a atividade elétrica demorar muito para percorrer todo o miocárdio ventricular. O sistema de condução normal nos ventrículos é chamado de sistema His-Purkinje e consiste de células que podem conduzir eletricidade muito rapidamente. Assim, a condução normal de um impulso elétrico através do nódulo atrioventricular, depois para os ventrículos através do sistema His-Purkinje, é rápida e resulta em uma duração normal do QRS (GUYTON; HALL, 2017). Evidentemente, o ritmo do batimento cardíaco — também conhecido como taxa de pulsação — varia consideravelmente, e isso ocorre graças à ativação diferencial de várias fontes, incluindo o sistema nervoso simpático (SNS), o sistema nervoso parassimpático (SNP) e os hormônios. O músculo cardíaco também é chamado de miocárdio. Vem em dois tipos: células contráteis do miocárdio e células condutoras do miocárdio. As células contráteis fazem o trabalho de bombear sangue sob a influência das células condutoras que fornecem o sinalpara se contrair. 99% das células miocárdicas são da variedade contrátil e apenas 1% são dedicadas à condução. As células condutoras são geralmente muito menores que as células con- tráteis, porque não precisam das várias proteínas envolvidas na contração; eles só precisam estar envolvidos na execução fiel do potencial de ação do músculo cardíaco. Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração8 Figura 3. O ciclo cardíaco se assemelha a um mapa esquemático das ações do coração. Fonte: Adaptada de udaix/Shutterstock.com. Onda P Onda Q Onda R Onda S Onda T Intervalo QT Intervalo PR Segmento PR Segmento ST Complexo QRS O potencial da célula do músculo cardíaco é chamada de intervalo diastólico, porque esse período corresponde à diástole, ou intervalo entre as contrações do músculo cardíaco. Toda vez que você ouve ou sente o baque de seu batimento cardíaco, este é o fim da contração do coração, que é chamada de sístole (MCARDLE; KATCH, F.; KATCH, L., 2011). Veja a Figura 4. Leitores do material impresso, para visualizar esta figura em cores, acessem o link ou o código QR a seguir: https://goo.gl/ZyR3pf 9Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração Figura 4. Inserir potencial de ação – estimulação elétrica do músculo cardíaco. Fonte: Adaptada de Anya Ku/Shutterstock.com. D es po la riz aç ão Repolarização Período refratário Quanto mais rápido seu coração bate, mais alta é uma fração de seu ciclo de contração-relaxamento que gasta na sístole, mas mesmo quando você está exercitando tudo e empurrando sua pulsação para a faixa de 200, o coração ainda está na diástole a maior parte do tempo, tornando-se uma fase mais longa do potencial de ação cardíaco. Enquanto um potencial de ação está em progresso, nenhum outro potencial de ação pode ser iniciado na mesma porção da membrana celular cardíaca, o que faz sentido — uma vez iniciado, um potencial deve ser capaz de terminar seu trabalho de estimular uma contração miocárdica. Essas contrações vêm após um ligeiro “atraso” em relação à condução elétrica que as torna possíveis. Esse atraso é devido a um intervalo de tempo entre a condução elétrica e a aplicação real da força miocárdica. A pressão interna para regulação da energia total que o coração dispende para ejetar o sangue deve incluir a energia transferida do coração para a cir- culação que deriva da soma da energia de pressão, energia cinética, energia ligada à pulsatilidade, fluxo e energia dispersos no atrito entre os fluidos ao longo das paredes dos vasos (GUYTON; HALL, 2017). Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração10 Assim se pode compreender como o funcionamento cardíaco se completa, a partir da eficiência do ventrículo esquerdo por meio da relação entre a massa ventricular e a potência máxima do ventrículo que pode ser recrutado durante o mecanismo de circulação do fluxo sanguíneo. A atividade elétrica do coração é registrada no eletrocardiograma (ECG), no qual cada onda registrada representa a transmissão de um impulso que estimula a contração de uma porção específica do coração: a onda P reflete a despolarização dos ventrículos e a onda T resulta da repolarização, ou seja, da recuperação do potencial de repouso dos ventrículos. Em um ECG normal, a repolarização das aurículas não aparece de forma evidente porque acontece ao mesmo tempo que o complexo QRS. Todas as particularidades das etapas do funcionamento cardíaco podem ser consideradas essenciais, sendo assim, necessitam de um centro de controle de respostas fisiológicas, sem esforço consciente e imediato, sendo essa a função primordial do SNA. Regulação cardíaca pelo SNA O SNA é uma rede de nervos e gânglios que controla as ações fisiológicas invo- luntárias e mantém a homeostase interna e as respostas orgânicas ao estresse. O SNA controla as funções do sistema cardiovascular, incluindo coração e vasos sanguíneos das vísceras internas em todo o corpo, exceto o músculo estriado que é voluntariamente controlado. Sua finalidade é ajustar esses órgãos para que suas atividades sejam mais favoráveis às suas próprias funções e ao equilíbrio de atividades de todo o corpo. O SNA é dividido em duas partes: o SNS e o SNP. Quando estimulados, os efeitos do SNS são generalizados em todo o corpo. Em contraste, a estimulação do SNP tende a produzir efeitos discretos e localizados (FEHER, 2016). 11Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração O estímulo simpático acontece por meio das fibras pós-ganglionares do tronco simpático. As fibras pós-ganglionares liberam a noradrenalina, que atua nos adrenorreceptores para aumentar a inclinação do potencial do marcapasso. A estimulação simpática acelera a frequência cardíaca, aumenta a força da contração, aumenta a frequência cardíaca, aumenta a pressão arterial e provoca desvio do fluxo sanguíneo da pele e dos vasos esplâncnicos (viscerais) para aqueles que fornecem energia para a ação esquelética e muscular, dilatação bronquiolar e declínio na atividade metabólica. O SNS desencadeia uma série de respostas fisiológicas para situações emergenciais conhecidas como mecanismo de “luta ou fuga”, liberando os hormônios epinefrina (adrenalina) e norepinefrina (noradrenalina). Os efeitos desencadeados são: pulso rápido e respiração aumentada (au- mento da demanda de oxigênio). A pressão sanguínea sobe e oxigênio extra é enviado para o cérebro, aumentando o estado de alerta. A visão, a audição e os outros sentidos se tornam mais nítidos. O organismo utiliza a reserva de glicose e gorduras para liberação de energia na corrente sanguínea para possibilitar a resposta à situação inesperada ou estressante. A temperatura da pele sobe e a transpiração aumenta. A digestão é retardada e toda a energia é mobilizada para “manter-se vivo”. Quando o organismo reconhece uma situação de alerta, envia instanta- neamente um sinal de socorro ao hipotálamo. Essa área do cérebro funciona como um centro de comando, comunicando-se com o resto do corpo por meio do sistema nervoso, para que o organismo tenha energia para lutar ou fugir. O hipotálamo funciona como um centro de comando. Essa área do cérebro se comunica com o resto do corpo por meio do SNA, que controla funções corporais involuntárias como respiração, pressão sanguínea, batimentos car- díacos e dilatação ou constrição dos principais vasos sanguíneos e pequenas vias aéreas nos pulmões, chamadas bronquíolos. O SNA tem dois componentes, o SNS e o SNP. O SNP aciona a resposta de luta ou fuga, fornecendo ao corpo uma explosão de energia para que ele possa responder aos perigos percebidos. O SNP, em oposição, promove a resposta “descansar e digerir” que possibilita a volta à calma. Os barorreceptores são mecanorreceptores localizados tanto no seio carotí- deo como no arco aórtico. Sua função é detectar mudanças na pressão arterial e comunicá-las à medula oblonga no tronco encefálico. Veja a seguir a Figura 5. Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração12 Figura 5. Mecanismo de controle autonômico. Fonte: Guimarães et al. (2011). Quimioceptores Barorreceptores Barorrreceptores cardiopulmonares Ergorreceptores musculares Sistema Nevoso Central Frequência Cardíaca Aumento em: – Pressão arterial – Ventilação – Resistência vascular renal – Resistência vascular periférica Parassimpático Simpático Efeito parassimpático sobre sistema cardiovascular O fluxo pré-ganglionar do sistema parassimpático surge do caule cerebral e é conhecido como o fluxo craniossacral. O nervo vago carrega as fibras para o coração e os pulmões (bem como outros órgãos). O SNA utiliza as informações alimentadas pelos barorreceptores para coordenar uma resposta fisiológica. O SNP permite que o coração reduza a atividade a níveis basais, no momento em que o nível alterado do débito cardíaco não seja necessário, reduzindo a força das contrações e sua frequência. A atividade parassimpática produz efeitos que são, em geral, opostos àqueles da ativação simpática. No entanto, em contrastecom a atividade simpática, o SNP tem pouco efeito sobre a contratilidade miocárdica. � Efeito cronotrópico negativo (diminuição da frequência cardíaca): o nervo vago inerva diretamente o nódulo sinoatrial; quando ativado, serve para diminuir a frequência cardíaca, exibindo um efeito crono- trópico negativo. 13Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração � Efeito inotrópico negativo (diminuição da contratilidade miocár- dica): a estimulação parassimpática pode apresentar efeitos inotrópicos negativos, uma vez que o nervo vago não inerva diretamente os cardio- miócitos que não os dos nódulos sinoatrial e atrioventricular. � Efeito dromotrópico negativo (diminuição da velocidade de con- dução): a estimulação do sistema parassimpático serve para inibir a velocidade de condução do AV. As funções simpáticas e parassimpáticas de certa forma são antagônicas, a primeira proporcionando a excitação do sistema e a segunda regulando-o para a volta à calma. Sendo assim, pode-se pensar que a ação simultânea de ambos anularia os efeitos de sua função. A ativação forte e simultânea de ambos os ramos do SNA, do SNS e do SNP é conhecido como “conflito autonômico”. O sistema simpático aciona o sistema de “luta ou fuga”, enquanto o parassimpático inibe a ação química e neural. Por exemplo, pela ação simpática, os vasos sanguíneos vão se contrair e o coração começa a bater mais rápido e mais forte, reagindo rapidamente a estímulos de perigo ou ameaça (fuga), comunicando-se com o corpo por meio do SNA. Isso pode acontecer sem necessariamente envolver as estruturas superiores, mas se o estímulo ambiental for particularmente intenso, ele também será processado por outras estruturas cerebrais, depois pelo sistema límbico (ativação emocional) e no nível cortical (ativação cogni- tiva e avaliação da periculosidade do evento). A ativação é predominantemente da parte parassimpática do sistema nervoso (excitação interna). As respostas a situações estressantes ocorrem pela transição repentina da ativação do componente simpático, liberando altos níveis de cortisol plasmático (alta frequência cardíaca, reações de alarme intenso ou imobilidade, estados de transe espontâneos, apatia e insensibilidade). Para controlar os estados de excitação, a tendência para a amplificação de componente simpático do SNA. O ciclo cardíaco envolve a integração de padrões relacionados à pressão, ao volume e aos movimentos mecânicos estimulados eletricamente. Compreender o funcionamento cardíaco possibilita relacionar o desempenho do coração e se pode monitora quando há suspeita de algum problema ou distúrbio cardiovascular. Por exemplo, um batimento cardíaco anormal ou batimentos por minuto é característico de uma doença relacionada ao coração. Isso ocorre porque um batimento cardíaco é uma manifestação do processo de recarga de oxigênio no coração, composto de duas fases, a sístole e a diástole. Ciclo cardíaco e sistema elétrico do coração14 A relação sístole-diástole é a referência na medição da pressão arterial. Outras formas de determinar fisicamente o funcionamento regular do coração é examinando a frequência cardíaca, o volume de sangue ejetado e o consumo máximo de oxigênio durante a sobrecarga imposta ao sistema cardiovascular. Por ser a parte central do sistema circulatório, o coração é o principal res- ponsável por bombear sangue e distribuir oxigênio e nutrientes por todo o corpo. Por causa dessa tarefa, o coração pode ser considerado um dos órgãos mais importantes do corpo, de tal forma que mesmo pequenas disfunções ou anor- malidades podem causar mudanças ou efeitos drásticos no organismo humano. CONCEIÇÃO. A atividade elétrica do coração. 2009. Disponível em: <http://enfermagemitu. blogspot.com/2009/12/a-atividade-eletrica-do-coracao.html>. Acesso em: 6 dez. 2018. FEHER, J. Quantitative human physiology: an introduction. 2. ed. Chicago: Academic Press, 2016. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. GUIMARÃES, G. V. et al. Behavior of central and peripheral chemoreflexes in heart failure. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 96, n. 2, fev. 2011. MCARDLE, W. D.; KATCH, F. L.; KATCH, L. V. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Leituras recomendadas AIRES, M. M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. FARINATI, P. T. V.; ASSIS, B. F. C. B. Estudo da frequência cardíaca, pressão arterial e duplo produto em exercícios contra resistência e aeróbio contínuo. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 5, n. 2, p. 5-16, 2000. Disponível em: <http://rbafs.org.br/ RBAFS/article/view/994/1146>. Acesso em: 6 dez. 2018. GARBER, C. E. et al. 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