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REvisão para a prova de Português[1]

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LINGUAGEM E LÍNGUA
- Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais etc. (verbal/ não verbal)
- Língua é a linguagem verbal (oral/escrita) utilizada por um grupo de indivíduos que constituem uma comunidade.
- Ela é uma construção humana e histórica;
- É organizadora da identidade dos seus usuários;
- Ela também dá unidade a uma cultura, a uma nação;
- Uma língua viva é dinâmica e, por isso, está sujeita a variações.
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
Variações linguísticas são diferenças que uma mesma língua apresenta quando é 
utilizada, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas.
Tipos de Variação Linguística
Variação histórica - Estágios de desenvolvimento de uma língua ao longo da História. 
 Exemplo: o português arcaico x o português contemporâneo.
Variação social - Às formas da língua empregadas pelas diferentes classes ou grupos sociais.
 Norma culta: variedade de prestígio, que deve ser adquirida na vida escolar e cujo domínio é solicitado como forma de ascensão social e profissional.
 Linguagem técnica: usada no exercício de certas atividades profissionais.
 Modos de falar masculino e feminino: marcas na língua que expressam modos próprios da fala masculina ou feminina, como as marcas de gênero, o uso de adjetivos e diminutivos, etc.
 Gíria: formas de língua que certos grupos desenvolvem como um código, para a comunicação entre si e para evitar a compreensão por parte daqueles que não pertencem ao grupo.
Variação geográfica - Variedade que a língua portuguesa assume nos diferentes lugares onde é falada.
Variação situacional - É a capacidade que tem um mesmo indivíduo de empregar as diferentes formas da língua em situações comunicativas diversas, procurando adequar a forma e o vocabulário em cada situação:
No trabalho;
Na escola;
Com os amigos;
Com a família;
Em solenidades;
No mundo virtual etc.
Todas as variações estão presentes tanto na língua falada quanto na língua escrita. Podemos, inclusive, encontrar (e usar) as variações linguísticas em diferentes contextos de produção escrita.
Existe uma variedade de língua padrão, que é a variedade linguística de maior prestígio social. Aprendemos a valorizar a variedade padrão porque socialmente ela representa o poder econômico e simbólico dos grupos sociais que a elegeram como padrão.
É importante compreender as variações linguísticas para melhor usar a língua em diferentes situações. Utilizar a língua como meio de expressão, informação e comunicação requer, também, o domínio dos diferentes contextos de aplicação da língua.
O idioma pode ser um instrumento de dominação e discriminação social. Devemos, por isso, respeitar as linguagens utilizadas pelos diferentes grupos sociais.
ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO:
Emissor: é aquele que envia a mensagem (pode ser uma única pessoa ou um grupo de pessoas). 
Mensagem - é o conteúdo (assunto) das informações transmitidas. 
Receptor: é aquele a quem a mensagem é endereçada (um indivíduo ou um grupo), também conhecido como destinatário. 
Canal de comunicação: é o meio pelo qual a mensagem é transmitida. 
Código: é o conjunto de signos e de regras de combinação desses signos utilizado para elaborar a mensagem: o emissor codifica aquilo que o receptor irá descodificar. 
Contexto: é o objeto ou a situação a que a mensagem se refere.
FUNÇÃO EMOTIVA ou EXPRESSIVA - (ÊNFASE NO EMISSOR)
SUBJETIVIDADE 
VISÃO INTIMISTA
UNILATERALIDADE
PREOCUPAÇÃO COM O “EU”
OPINIÕES E RELATOS PESSOAIS
FUNÇÃO REFERENCIAL/INFORMATIVA/COGNITIVA
OBJETIVIDADE
ÊNFASE NA INFORMAÇÃO
CONHECIMENTO E ESCLARECIMENTO
LINGUAGEM DENOTATIVA
VISÃO UNIVERSAL 
PREFERÊNCIA PELA 3ª PESSOA 
TESES, TEXTOS JORNALÍSTICOS, CIENTÍFICOS
FUNÇÃO CONATIVA/ APELATIVA
MUDAR HÁBITOS
INFLUENCIAR
CONVENCER / PERSUADIR
ORDENAR
CONVIDAR
APELAR
SUGESTIONAR
 
FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
Código abordando o próprio código
Poema que fala de poema
Música que fala de música
Teatro que fala de teatro
FUNÇÃO FÁTICA
Testar o canal de comunicação
Avaliar o nível de entendimento
LINGUAGEM POÉTICA
Preocupação estética 
Linguagem repleta de figuras
Combinações sonoras, visuais 
Provoca impacto quer seja visual, emotivo ou mesmo sonoro
Jogo de palavras 
Pode agir conjuntamente em quase todas as outras funções
TIPOS TEXTUAIS
DESCRITIVO: 
Descrever é criar uma imagem, seja de um espaço, objeto ou personagem;
Há neste tipo de texto o predomínio de substantivos, adjetivos e verbos de ligação;
 Existem duas formas de descrição: 
 Descrição objetiva: acontece quando o que é descrito apresenta-se de forma direta, simples, concreta, como realmente é.
 Descrição subjetiva: ocorre quando há emoção por parte de quem descreve.
NARRATIVO: 
Narrar é relatar um fato, dando-lhe movimento, ação.
No texto narrativo há predomínio de verbos nocionais (ação), que dão movimento, como em um filme.
Os textos narrativos podem ser simplesmente um relato, ou conter conflito e caracterizar-se como a narração propriamente dita.
DISSERTATIVO: 
Argumentar é defender uma ideia, persuadir o leitor sobre uma posição (tese).
Nesta modalidade discursiva prevalecem palavras que transmitem uma ideia (preposições e principalmente conjunções).
O texto argumentativo pode aparecer nos mais variados gêneros textuais.
INFORMATIVO:
É uma produção textual com informação sobre um determinado assunto, que tem como objetivo esclarecer uma pessoa ou conjunto de pessoas sobre algo. Normalmente em prosa, o texto informativo elucida e esclarece o leitor sobre o tema em questão.
INJUNTIVO OU INSTRUCIONAL:
Está pautado na explicação e no método para a concretização de uma ação, ou seja, indicam o procedimento para realizar algo, por exemplo, uma receita de bolo, bula de remédio, manual de instruções, editais e propagandas.
GÊNEROS TEXTUAIS
Toda e qualquer forma de expressão através da linguagem constitui um gênero textual.
Por estarem inseridos na sociedade, os gêneros pressupõem uma INTERLOCUÇÃO (linguagem adequada ao diálogo: locutor e interlocutor)
Quando produzimos um gênero precisamos pensar em um PROPÓSITO e em um ambiente discursivo no qual nossa mensagem será propagada.
Gêneros textuais jurídicos
Petição (contém texto narrativo ao contar os fatos, descritivo na qualificação das partes, dissertativo nos argumentos jurídicos e injuntivo nos pedidos)
 Inicial
 Contestação
 Juntada
 Requerimento
Decisão (contém texto dissertativo, descritivo e injuntivo)
 Interlucutória
 Sentença
 Colegiada
Contratos (contém texto descritivo e, principalmente injuntivo)
Pareceres (contém texto dissertativo, descritivo e eventualmente narrativo)
Procuração (contém texto descritivo e injuntivo)
ORTOGRAFIA
Conjunto de regras estabelecidas pela gramática normativa que ensina a grafia correta das palavras, o uso de sinais gráficos que destacam vogais tônicas, abertas ou fechadas, processos fonológicos como a crase, os sinais de pontuação esclarecedores de funções sintáticas da língua e motivados por tais funções etc.
SEMÂNTICA
Parte da linguística que se ocupa do sistema linguístico, o componente do sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados.
 
HÁ / A – Na indicação de tempo
HÁ – Indica tempo passado (= fazer). 
 Ex.: Há anos que nos encontramos.
 Ele cometeu o crime há dez anos
A – Preposição, usada para indicar tempo futuro. 
 Ex.: Viajarei daqui a dois meses.
AFIM / A FIM
 AFIM – É adjetivo (igual/semelhante); relaciona-se com a ideia de afinidade. 
 Ex.: Eles possuem comportamentos afins.
A FIM – Surge na locução prepositiva “a fim de”, que significa “para” e indica ideia de finalidade. 
 Ex.: Todos estudam a fim de fazer boas provas.
AO ENCONTRO / DE ENCONTRO
AO ENCONTRO (rege a preposição de) significa a favor de: 
 Ex.: Aquelas atitudes vão ao encontro do que eles pregavam. 
 
DE ENCONTRO (rege a preposição a) significa ir contra algumacoisa, em direção oposta:
 Ex.: Sua atitude veio de encontro ao que eu esperava.
AO INVÉS DE / EM VEZ DE
AO INVÉS DE – “inverso/contrário de”. 
 Ex.: Ao invés de subir, desceu rapidamente.
EM VEZ DE – “no lugar de”. 
 Ex.: Em vez de jogar tênis, preferimos futebol.
AONDE / ONDE
AONDE – Dá ideia de movimento ou aproximação. Opõe-se a donde (de+onde) que exprime afastamento. 
 Ex.: Aonde você vai? 
ONDE – Indica lugar onde se está ou se passa algo. 
 Ex.: Onde fica a sua casa?
CESSÃO / SESSÃO / SECÇÃO / SEÇÃO 
 CESSÃO (= ceder, dar). 
 Ex.: O escritor fez a cessão dos seus direitos autorais. 
SESSÃO (= intervalo de tempo, encontro/evento).
 Ex.: O casal assistiu à sessão das oito.
SECÇÃO ou SEÇÃO (= parte/segmento/subdivisão). 
 Ex.: Aquela é a seção de esportes.
EM PRINCÍPIO / A PRINCÍPIO
EM PRINCÍPIO – “De um modo geral”. 
 Ex.: Em princípio, concordo com tudo.
A PRINCÍPIO – “Primeiramente, inicialmente”. 
 Ex.: A princípio, construiremos a base. Depois, o resto.
MAS / MÁS / MAIS
MAS – Conjunção coordenativa adversativa. Indica oposição. 
 Ex.: Correu muito, mas chegou atrasado. 
MÁS – Adjetivo feminino (= malvadas) 
 Ex.: Aquelas pessoas são más.
MAIS – Indicativo de intensidade. 
 Ex.: Hoje os alunos estudam muito mais.
MAU / MAL
MAU – É adjetivo (contrário de BOM). 
 Ex.: Ele não é mau aluno. 
MAL – Pode ser advérbio (= oposto de BEM), conjunção (= “assim que”/“quando”) ou substantivo (= “doença”, “moléstia”). 
 Ex.: Nosso time jogou mal. / Mal chegou, a chuva caiu. / A aids é um mal que pode ser evitado.
1. POR QUE 
Nas interrogativas diretas, vem anteposto. 
 Ex.: Por que você não estuda com mais empenho? 
 Quando equivale a “pelo(a)(s) qual(is)” e flexões. 
 Ex.: São muitas as dificuldades por que passamos. 
Quando, depois dele, vier subentendida ou expressa a palavra razão (ou motivo) nas frases interrogativas indiretas. 
 Ex.: Não sei por que você se foi tão depressa. (por que motivo/razão)
2. POR QUÊ 
É usado em fim de frase interrogativa ou de oração. 
 Ex.: Você não estuda com mais empenho por quê? 
3. PORQUE
Conjunção coordenativa explicativa.
(= pois ou como) ou subordinativa causal. 
 Ex.: Passou, porque estudou muito. (explicação)
 Porque estava doente, faltou ao trabalho. (causal)
4. PORQUÊ
Usado como substantivo, sinônimo de motivo, razão. Vem sempre precedido por uma palavra determinante = artigo, pronome etc.) 
 Ex.: Não sei o porquê de tanta complicação. (= o motivo / a razão)
5. REGRAS DE ACENTUAÇÃO DAS PALAVRAS OXÍTONAS: As palavras são oxítonas quando a última sílaba da palavra é a sílaba tônica, como: jacaré, cipó, cantar, anzol
5.1 Regra para escrita sem acento: Não são acentuadas as palavras oxítonas terminadas em: r, l, z, x, i(s), u(s), im(ns), um(ns), om(ns). São naturalmente oxítonas, não necessitando de acentuação gráfica.
5.2 Regra para escrita com acento: São escritas com acento gráfico as palavras oxítonas terminadas nas vogais tônicas a(s), e(s), o(s); nos ditongos nasais em(s); nos ditongos abertos ói(s), éu(s), éi(s).
6. REGRAS DE ACENTUAÇÃO DAS PALAVRAS PAROXÍTONAS: As palavras são paroxítonas quando a penúltima sílaba da palavra é a sílaba tônica, como: adorável, órgão, perfume, mesa. Representam a maioria das palavras da língua portuguesa.
6.1 Regra para escrita sem acento:
As palavras paroxítonas maioritariamente não são acentuadas.
6.2 Regra para escrita com acento:
São escritas com acento gráfico as palavras paroxítonas terminadas em r, l, n, x, ps, ã(s), ão(s), um(ns), om(ns), us, i(s), ei(s).
7. REGRA DE ACENTUAÇÃO DAS PALAVRAS PROPAROXÍTONAS: As palavras são proparoxítonas quando a antepenúltima sílaba da palavra é a sílaba tônica, como: pássaro, cantássemos, gráfico, pêssego.
7.1 Regra para escrita com acento:
Todas as palavras proparoxítonas são acentuadas graficamente.
MITO 3 “Português é muito difícil”
Essa afirmação preconceituosa é prima-irmã da idéia que acabamos de derrubar, a de que “brasileiro não sabe português”. Como o nosso ensino da língua sempre se baseou na norma gramatical de Portugal, as regras que aprendemos na escola em boa parte não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil. Por isso achamos que “português é uma língua difícil”: porque temos de decorar conceitos e fixar regras que não significam nada para nós. No dia em que nosso ensino de português se concentrar no uso real, vivo e verdadeiro da língua portuguesa do Brasil é bem provável que ninguém mais continue a repetir essa bobagem. 
Todo falante nativo de uma língua sabe essa língua. Saber uma língua, no sentido científico do verbo saber, significa conhecer intuitivamente e empregar com naturalidade as regras básicas de funcionamento dela.
Está provado e comprovado que uma criança entre os 3 e 4 anos de idade já domina perfeitamente as regras gramaticais de sua língua! O que ela não conhece são sutilezas, sofisticações e irregularidades no uso dessas regras, coisas que só a leitura e o estudo podem lhe dar. Mas nenhuma criança brasileira dessa idade vai dizer, por exemplo: “Uma meninos chegou aqui amanhã”. Um estrangeiro, porém, que esteja começando a aprender português, poderá se confundir e falar assim. Por isso aquela piadinha que muita gente solta quando vê uma criancinha estrangeira falando — “Tão pequeno e já fala tão bem [pg. 35] inglês [ou outra língua]” —tem seu fundo de verdade: muito pouca gente conseguirá falar uma língua estrangeira com tanta desenvoltura quanto uma criança de cinco anos que tem nela sua língua materna! Por quê? Porque toda e qualquer língua é “fácil” para quem nasceu e cresceu rodeado por ela! Se existisse língua “difícil”, ninguém no mundo falaria húngaro, chinês ou guarani, e no entanto essas línguas são faladas por milhões de pessoas, inclusive criancinhas analfabetas!
Se tanta gente continua a repetir que “português é difícil” é porque o ensino tradicional da língua no Brasil não leva em conta o uso brasileiro do português. Um caso típico é o da regência verbal. O professor pode mandar o aluno copiar quinhentas mil vezes a frase: “Assisti ao filme”. Quando esse mesmo aluno puser o pé fora da sala de aula, ele vai dizer ao colega: “Ainda não assisti o filme do Zorro!” Porque a gramática brasileira não sente a necessidade daquela preposição a, que era exigida na norma clássica literária, cem anos atrás, e que ainda está em vigor no português falado em Portugal, a dez mil quilômetros daqui! É um esforço árduo e inútil, um verdadeiro trabalho de Sísifo, tentar impor uma regra que não encontra justificativa na gramática intuitiva do falante.
A prova mais visível disso é que aquelas mesmas pessoas que, por causa da pressão policialesca da escola e da gramática tradicional, usam a preposição a depois do verbo assistir, também dizem que “o jogo foi assistido por vinte mil pessoas”. Ora, se o verbo assistir pede uma preposição é porque ele não é transitivo direto, e só os verbos transitivos diretos podem, segundo as gramáticas, assumir a voz passiva. Desse modo, quem diz “assisti ao [pg. 36] jogo” não poderia, teoricamente, dizer “o jogo foi assistido”. Só que essa esquizofrenia gramatical acontece o tempo todo. Basta ler jornais como a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo, cujos manuais de redação decretam que o verbo assistir tem que vir obrigatoriamente seguido da preposição a. Na voz ativa, a preposição aparece: “Vinte mil pagantes assistiram ao jogo”, porque assim manda o manual da redação. Mas na hora de usar a voz passiva, a gramática intuitiva brasileira do redator se manifesta, e a gente encontra milhares de exemplos do tipo “o jogo foi assistido por vinte mil pagantes”. Essas pessoas, então, ficam em cima do muro: “acertam” na voz ativa, por causa do patrulhamento lingüístico, mas “erram” na passiva, porque se deixam levar pelo uso normal do português brasileiro. Tudo isso por causa da cobrança indevida, por parte do ensino tradicional, de umanorma gramatical que não corresponde à realidade da língua falada no Brasil. O professor Sirio Possenti, da UNICAMP, em seu excelente livro Por que (não) ensinar gramática na escola, classifica a regência “assistir a” como um arcaísmo, uma forma sintática que já caiu em desuso, mas continua sendo cobrada injustificadamente pelo ensino tradicionalista, que se recusa a admitir a extinção desse e de muitos outros dinossauros lingüísticos.
Por isso tantas pessoas terminam seus estudos, depois de onze anos de ensino fundamental e médio, sentindo-se incompetentes para redigir o que quer que seja. E não é à toa: se durante todos esses anos os professores tivessem chamado a atenção dos alunos para o que é realmente interessante e importante, se tivessem desenvolvido [pg. 37] as habilidades de expressão dos alunos, em vez de entupir suas aulas com regras ilógicas e nomenclaturas incoerentes, as pessoas sentiriam muito mais confiança e prazer no momento de usar os recursos de seu idioma, que afinal é um instrumento maravilhoso e que pertence a todos! Falaremos disso na terceira parte deste livro.
Se tantas pessoas inteligentes e cultas continuam achando que “não sabem português” ou que “português é muito difícil” é porque esta disciplina fascinante foi transformada numa “ciência esotérica”, numa “doutrina cabalística” que somente alguns “iluminados” (os gramáticos tradicionalistas!) conseguem dominar completamente. Eles continuam insistindo em nos fazer decorar coisas que ninguém mais usa (fósseis gramaticais!), e a nos convencer de que só eles podem salvar a língua portuguesa da “decadência” e da “corrupção”. Hoje em dia, aliás, alguns deles estão até fazendo sucesso na televisão, no rádio e em outros meios de comunicação, transformando essa suposta “dificuldade” do português num produto com boa saída comercial. Para o já citado Arnaldo Niskier, trata-se de uma “saudável epidemia que tomou conta da imprensa brasileira”. Que é epidemia, concordo, mas quanto a ser “saudável”, tenho muitas e sérias dúvidas... É livro, é curso em vídeo-cassete, é CD-ROM, é “Manual de Redação do Jornal Tal”, é “consultório gramatical” por telefone... Eles juram que quem não souber conjugar o verbo apropinquar-se vai direto para o inferno! Na segunda parte deste livro tratarei de explicar por que não considero “saudável” essa “epidemia”. [pg. 38]
No fundo, a idéia de que “português é muito difícil” serve como mais um dos instrumentos de manutenção do status quo das classes sociais privilegiadas. Essa entidade mística e sobrenatural chamada “português” só se revela aos poucos “iniciados”, aos que sabem as palavras mágicas exatas para fazê-la manifestar-se. Tal como na Índia antiga, o conhecimento da “gramática” é reservado a uma casta sacerdotal, encarregada de preservá-la “pura” e “intacta”, longe do contato infeccioso dos párias.
A propaganda da suposta “dificuldade” da língua é, como diz Gnerre no livro já citado,”o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder” (p. 6). Sustentar que “português é muito difícil” é cavar uma profunda trincheira entre os poucos que “sabem a língua” e a massa enorme de “asnos” (termo usado por Luiz Antonio Sacconi em seu livro Não erre mais!) que necessitam, assim, do “auxílio” indispensável daqueles “mestres” para saltar com segurança por sobre o abismo da ignorância.
Em termos mais brandos, a embalagem do CD-ROM Nossa língua portuguesa oferece o produto como uma ajuda a evitar as “armadilhas” da língua. Ora, não é a “língua” que tem armadilhas, mas sim a gramática normativa tradicional, que as inventa precisamente para justificar sua existência e para nos convencer de que ela é indispensável. Não seria a hora de acionar a Lei de Defesa do Consumidor contra essa “reserva de mercado”? [pg. 39]
No mito três é abordado sobre a língua portuguesa ser muito difícil. Inicialmente o autor começa trazendo pontuações sobre como as regras que aprendemos na escola são diferentes da língua que realmente falamos no nosso cotidiano. 
Está provado e comprovado que uma criança entre os 3 e 4 anos de idade já domina perfeitamente as regras gramaticais de sua língua
Porque toda e qualquer língua é “fácil” para quem nasceu e cresceu rodeado por ela! Se existisse língua “difícil”, ninguém no mundo falaria húngaro, chinês
professores tivessem chamado a atenção dos alunos para o que é realmente interessante e importante, se tivessem desenvolvido [pg. 37] as habilidades de expressão dos alunos, em vez de entupir suas aulas com regras ilógicas e nomenclaturas incoerentes
No fundo, a idéia de que “português é muito difícil” serve como mais um dos instrumentos de manutenção do status quo das classes sociais privilegiadas.
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