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SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 1. DEFINIÇÃO DA FEBRE REUMÁTICA. 1 1) A febre reumática (FR) e a cardiopatia reumática crônica (CRC) são compli- cações não supurativas (não formam pus) da faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBGA) e decorrem de resposta imune tardia a esta infecção em populações geneticamente predispostas. 2) Doença que está frequentemente associada à pobreza e às más condições de vida. 3) A febre reumática afeta especialmente crianças e adultos jovens e a mais te- mível manifestação é a cardite. 2. EPIDEMIOLOGIA. 1 1) A faringoamigdalite e o impetigo (infecção de pele superficial) são as infec- ções mais frequentemente causadas pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBGA). No entanto, somente a faringoamigdalite está associada ao surgimento da febre reumática. 2) A faringoamigdalite estreptocócica acomete preferencialmente indivíduos de 5 a 18 anos. 3) Principal causa de cardiopatia adquirida em crianças e adultos jovens nos paí- ses em desenvolvimento. 3. FISIOPATOLOGIA. 2,3 1) Doença reumática é uma afecção inflamatória sistêmica, de natureza imunitá- ria e caráter recorrente, secundária a uma infecção estreptocócica da orofa- ringe. 2) Majoritariamente a primeira manifestação clínica surge na infância, entre 5 e 15 anos de idade. No entanto, a doença tem evolução longa e suas principais repercussões aparecem em indivíduos jovens ou adultos → O coração é atin- gido. 3) A doença reumática é uma complicação tardia mediada por anticorpos, de in- fecções das vias respiratórias superiores (faringite e amigdalite) causadas por estreptococos β-hemolíticos do grupo A de Lancefield. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 4) Na história natural da doença, o indivíduo inicialmente tem uma infecção da orofaringe seguida de episódio agudo da doença reumática, 2 a 4 semanas de- pois. 5) Nem todos os indivíduos que têm faringite desenvolvem doença reumática (cerca de 3% deles adquirem a enfermidade → Pré-disposição genética); 6) Evidências indicam haver reação imunitária cruzada com moléculas de partes do próprio organismo (coração e as articulações) devido a mimetismo mole- cular entre proteínas bacterianas e do hospedeiro. 7) A proteína M (componente antigênico dos estreptococos) possui sequências polipeptídicas semelhantes às proteínas humanas. Anticorpos antiestrepto- cocos e linfócitos T CD4+ reagem tanto com essa proteína quanto com molé- culas existentes no coração. A formação de imunocomplexos e a liberação de citocinas por tais linfócitos iniciam a resposta inflamatória que caracteriza a doença reumática 8) Outras frações dos estreptococos têm comportamento semelhante: Antí- genos estreptocócicos mimetizam componentes do sarcolema de miocélulas cardíacas, e o ácido hialurônico da bactéria é semelhante a compostos glicídi- cos valvares. 9) A suscetibilidade individual à doença é demonstrada pela análise de antíge- nos leucocitários humanos (HLA). Pacientes reumáticos têm frequência maior de determinados HLA. No Brasil, HLA DR7 e HLA DR53 são os haplótipos mais encontrados. 10) Nas lesões reumáticas participam linfócitos T CD4+ e CD8+, ocorrendo reação de hipersensibilidade tardia. Na fase aguda, há formação de granulomas* com macrófagos. Diversas citocinas são também encontradas nessas lesões. * Resposta inflamatória crônica. Ocorre a agregação de células, encapsulando os antígenos. 11) No coração, a inflamação pode comprometer o pericárdio, o miocárdio e o endocárdio. 12) As lesões principais surgem nas valvas (endocárdio valvar). A valva mais aco- metida é a mitral. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA Fase Aguda. 1) Diagnóstico baseia-se principalmente no encontro dos nódulos de Aschoff, patognomônicos da doença (característica da doença). 2) As lesões evoluem em três fases: (1) Inicial. Surge com 2 a 3 semanas de doença e caracteriza-se por tumefa- ção*, fragmentação e aumento da eosinofilia* das fibras colágenas, em asso- ciação com alguns linfócitos e plasmócitos. * Eosinofilia = ↑ Eosinófilos → Células de defesa. * Tumefação = ↑ volume (2) proliferativa ou granulomatosa (nódulo de Aschoff). Forma-se 3 a 4 se- manas após o início da doença e é representada pelo acúmulo de macrófagos, linfócitos e fibroblastos ao redor das áreas de alterações do colágeno. (3) cicatricial. Se desenvolve após 4 a 6 meses. Quando o infiltrado inflamató- rio regride, surgem fibroblastos e depositam fibras colágenas, formando uma zona perivascular de fibrose. 3) Os nódulos de Aschoff: São focos inflamatórios discretos. Esses nódulos consistem em acúmulos de linfócitos T, plasmócitos dispersos e macrófagos volumosos ativados (células de Anitschkow) associados a zonas de necrose fibrinoide. 4) Os corpos de Aschoff podem ser encontrados em qualquer uma das três ca- madas do coração: pericárdio, miocárdio ou endocárdio (inclusive nas valvas). É por isso que se diz que a febre reumática causa uma pancardite. 5) A miocardite reumática caracteriza-se ainda por edema do tecido conjuntivo e infiltrado inflamatório com linfócitos T e B, plasmócitos, macrófagos, neutrófi- los e ocasionais eosinófilos. Fase Crônica. 1) Caracterizada pela organização da inflamação aguda e pela subsequente ci- catrização. 2) Os corpos de Aschoff são substituídos por cicatrizes fibrosas, de modo que essas lesões raramente são vistas na doença crônica. As válvulas das valvas tornam-se espessadas e retraídas de modo permanente. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 3) Classicamente acomete a valva mitral, exibindo espessamento das válvulas, fusão e encurtamento das comissuras e espessamento e fusão das cordas tendíneas. 4) As pontes fibrosas e as calcificações dão origem às estenoses “em boca de peixe” nas valvas. 5) A consequência funcional mais importante da doença reumática cardíaca é a estenose e a regurgitação valvares; a estenose tende a predominar. 4. DIAGNÓSTICO. 1 1) O diagnóstico da febre reumática é clínico, não existindo sinal patognomônico ou exame específico. 2) Os exames laboratoriais, apesar de inespecíficos, sustentam o diagnóstico do processo inflamatório e da infecção estreptocócica. 3) Os critérios de Jones são considerados o “padrão ouro” para o diagnóstico do primeiro surto da febre reumática. 4) A probabilidade de Febre Reumática é alta quando há evidência de infecção estreptocócica anterior. 5) O diagnóstico é determinado por: a) Elevação dos títulos da antiestreptolisina O (ASLO)* e presença de pelo me- nos dois critérios maiores ou um critério maior e dois menores. * Antiestreptolisina O → Anticorpo contra o estreptococo. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 6) Os critérios de Jones (AHA) de 1992 devem ser utilizados para o diagnóstico do primeiro surto da doença. 7) Os critérios de Jones revistos pela OMS em 2004 destinam-se ao diagnóstico das recorrências da Febre Reumática em pacientes com Cardiopatia Reumá- tica Crônica estabelecida. * Febre reumática provável: Pacientes podem apresentar poliartrite ou mo- noartrite + três ou mais sinais menores + evidência infecção estreptocócica prévia. Pacientes devem ser orientados a realizar profilaxia secundária. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 8) Exceções dos critérios de Jones (OMS): a) Coreia*. Sua presença implica no diagnóstico de Febre Reumática, mesmo na ausência dos outros critérios. * Coreia caracteriza-se por movimentos involuntários repetitivos, breves e rá- pidos. b) Cardite indolente. Manifestações clínicas iniciais são pouco expressivas e, quando o paciente procura o médico, as alterações cardíacas podem ser a única manifestação. c) Paciente com história de surto agudo prévio ou de cardiopatia crô- nica comprovada. Diagnóstico de recorrência pode ser baseado em apenas um sinal maior ou em dois sinais menores pelocritério da OMS. Diagnóstico da faringoamigdalite. 1) O isolamento do estreptococo do grupo A em vias aéreas superiores pode re- presentar uma infecção ou a condição de portador são. Ressalte-se que ape- nas nos casos de infecção ocorre elevação de anticorpos e, consequente- mente, risco de desenvolver Febre Reumática. 2) O diagnóstico da faringoamigdalite estreptocócica permite o adequado trata- mento antimicrobiano e, consequentemente, a prevenção primária da Febre Reumática. 3) O diagnóstico de faringoamigdalite estreptocócica pode ser sugerido pela presença dos critérios clínicos, os quais incluem: mal-estar geral, vômitos, febre elevada, hiperemia, edema de orofaringe, bem como petéquias e exsu- dato purulento*, além de gânglios cervicais palpáveis e dolorosos. * Exsudato = Líquido que drena de feridas. Petéquia = Manchas marrons-arro- xeadas. 4) Recomenda-se a comprovação laboratorial da infecção pelo EBGA. A cultura de orofaringe é o “padrão ouro” para o diagnóstico e tem sensibilidade entre 90%-95%. 5) O teste rápido para a detecção de antígeno pode ser usado e tem a vantagem da rapidez do resultado e, também, apresenta sensibilidade de 80%. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA a) Diante de quadro clínico sugestivo de faringoamigdalite estreptocócica e teste rápido negativo, recomenda-se a realização de cultura de orofaringe. 6) Exames sorológicos traduzem uma infecção pregressa e não têm valor para o diagnóstico do quadro agudo da faringoamigdalite estreptocócica. O teste mais comumente utilizado é o de antiestreptolisina O (ASLO). 7) Recomenda-se a realização de duas dosagens de ASLO com intervalo de 15 dias. 5. CRITÉRIOS MAIORES. 1 Artrite. 1) Inflamação de uma ou mais articulações, causando dor e rigidez. 2) A artrite é a manifestação mais comum da Febre Reumática com evolução au- tolimitada e sem sequelas. 3) A diferenciação entre artrite (critério maior) e artralgia (critério menor) é feita em bases clínicas. Artralgia significa apenas dor articular, enquanto a Artrite é definida como a presença de edema na articulação ou, na falta deste, asso- ciação da dor com a limitação de movimentos. 4) A artrite típica da FR evolui de forma assimétrica e migratória, ou seja, quando os sintomas melhoram em uma articulação, aparecem em outra. O quadro ar- ticular afeta preferencialmente membros inferiores. 5) A duração do processo inflamatório em cada articulação raramente ultra- passa uma semana e o quadro total cessa em menos de um mês. Cardite. 1) Manifestação mais grave da FR, pois é a única que pode deixar sequelas e acarretar óbito. 2) A cardite tende a aparecer em fase precoce e, mais frequentemente, é diag- nosticada nas três primeiras semanas da fase aguda. O acometimento car- díaco é caracterizado pela pancardite, entretanto são as lesões valvares as responsáveis pelo quadro clínico e pelo prognóstico. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 3) O acometimento pericárdico não é comum. A pericardite está sempre associ- ada à lesão valvar e é diagnosticada pela presença de derrame pericárdico, abafamento de bulhas e dor precordial. 4) A miocardite tem sido diagnosticada com base no abafamento da primeira bulha, na cardiomegalia e na insuficiência cardíaca congestiva. A insuficiência cardíaca é causada pela lesão valvar (valvite) e não pelo acometimento mio- cárdico. 5) O acometimento do endocárdio constitui a marca diagnóstica da cardite, en- volvendo com maior frequência as valvas mitral e aórtica. a) Na fase aguda, a lesão mais frequente é a regurgitação. b) As estenoses valvares ocorrem mais tardiamente, na fase crônica. 6) Três sopros são característicos do primeiro episódio e podem não representar disfunção valvar definitiva. Coreia de Sydenham. 1) Ocorre predominantemente em crianças e adolescentes do sexo feminino, sendo rara após os 20 anos de idade. 2) Desordem neurológica caracterizada por movimentos rápidos involuntários in- coordenados, que desaparecem durante o sono e são acentuados em situa- ções de estresse e esforço. 3) Movimentos podem acometer músculos da face e são, com frequência, gene- ralizados. 4) Disartria (perda da capacidade de articular as palavras de forma normal) e di- ficuldades na escrita também podem ocorrer. O surto da coreia dura, em mé- dia, de dois a três meses. Eritema marginatum. 1) Manifestação rara. Caracteriza-se por eritema com bordas nítidas, centro claro, contornos arredondados ou irregulares. 2) As lesões são múltiplas, indolores, não pruriginosas, podendo haver fusão, re- sultando em aspecto serpiginoso. 3) Lesões não ocorrem na face. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 4) Manifestação está associada à cardite. Nódulos subcutâneos. 1) Fortemente associados à presença de cardite grave. 2) São múltiplos, arredondados, firmes, móveis, indolores e recobertos por pele normal, sem características inflamatórias. 3) Ocorrem preferencialmente em cotovelos, punhos, joelhos, tornozelos, região occipital e coluna vertebral. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 6. CRITÉRIOS MENORES. 1 Artralgia. 1) A presença de artralgia com padrão poliarticular migratório e assimétrico en- volvendo grandes articulações é altamente sugestiva de febre reumática e fre- quentemente é associada à cardite. Febre. 1) Frequente no início do surto agudo e ocorre em quase todos os surtos de ar- trite. Intervalo PR. 1) O intervalo PR no ECG pode estar aumentado em pacientes com febre reu- mática, mesmo na ausência de cardite. Deve-se solicitar a repetição do exame a fim de avaliar o retorno do intervalo. Reagentes de fase aguda. 1) Não são específicas da FR, porém auxiliam no monitoramento da presença de processo inflamatório. 2) A velocidade de hemossedimentação (VHS)* se eleva nas primeiras sema- nas de doença. * Exame de sangue para avaliar inflamação. 3) A proteína C reativa (PCR) se eleva no início da fase aguda e seus valores di- minuem no final da segunda ou da terceira semana. 4) A alfa-1-glicoproteína ácida apresenta títulos elevados na fase aguda da do- ença, mantendo-se elevada por tempo mais prolongado. Deve ser utilizada para monitorar a atividade da FR. 7. EXAMES COMPLEMENTARES. 1 Radiografia e ECG. 1) Recomenda-se a realização do exame radiológico do tórax para investigação de cardiomegalia e de sinais de congestão pulmonar. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 2) O aumento da área cardíaca fala a favor de atividade reumática, e a presença de congestão pulmonar caracteriza a cardite grave. Ecocardiograma. 1) Recomenda-se a utilização da ecocardiografia para diagnosticar cardite sub- clínica. (I-B) 2) Na fase aguda da doença, a regurgitação mitral é a alteração mais frequente. A regurgitação aórtica é a segunda lesão mais frequente. 3) Espessamento valvar é frequente, e têm sido observados nódulos valvares fo- cais que desaparecem durante a evolução. 4) Derrame pericárdico, em geral pequeno, ocorre com frequência. 8. PROFILAXIA. 1,4 1) O controle da doença em países desenvolvidos está mais relacionado à me- lhoria das condições socioeconômicas. 8-1. PROFILAXIA PRIMÁRIA. 1) A profilaxia primária é baseada no reconhecimento e tratamento das infec- ções estreptocócicas, com a finalidade de prevenir o primeiro surto de FR. 2) O tratamento da faringoamigdalite é baseado na administração de antibió- tico bactericida, com manutenção de nível sérico por 10 dias. 3) Recomenda-se, em casos de faringoamigdalite estreptocócica que esses pa- cientes sejam prontamente tratados, a fim de se evitar desenvolvimento de novos casos da doença, já que o estreptococo pode ser transmitido. Ressalta- se que, 24 horas após o início do tratamento com penicilina, o indivíduo torna- se minimamente contagiante. 4) A penicilina benzatina é a droga de escolha para o tratamento dessespacien- tes. 5) A fenoximetilpenicilina (penicilina V) é a droga de escolha para uso oral. 6) Nos pacientes que apresentam comprovada alergia à penicilina, eritromicina é a droga de primeira escolha. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA Mecanismo de ação da penicilina. 1) As penicilinas, à semelhança de todos os antibióticos betalactâmicos, ini- bem o crescimento das bactérias ao interferir na reação de transpeptida- ção da síntese da parede celular bacteriana. 2) A parede celular mantém a integridade da célula e impede a sua lise em decor- rência de pressão osmótica elevada. 3) A parede celular é composta por um polímero de polissacarídeos e peptídeos, denominado peptidoglicano. O polissacarídeo contém aminoaçúcares alter- nados, N-acetilglicosamina e ácido N-acetilmurâmico. 4) Existe um peptídeo ligado ácido N-acetilmurâmico. Esse peptídeo termina em D-alanil-D-alanina. A proteína em que a penicilina se liga (PBP) (Transpepti- dase) é uma enzima e remove a alanina terminal para formar uma ligação cru- zada com um peptídeo adjacente. 5) As ligações cruzadas conferem rigidez à parede celular. 6) Os antibióticos betalactâmicos ligam-se de modo covalente ao sítio ativo das PBP. Essa ligação inibe a reação de transpeptidação e interrompe a sín- tese de peptidoglicano, levando à morte da célula. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 8-2. PROFILAXIA SECUNDÁRIO. 1) A profilaxia secundária consiste na administração contínua de antibiótico es- pecífico ao paciente portador de FR prévia ou cardiopatia reumática compro- vada, com o objetivo de prevenir colonização ou infecção de via aérea superior pelo EBGA, com consequente desenvolvimento de novos episódios da do- ença. 2) Após o diagnóstico de FR ser realizado, a profilaxia secundária deve ser pron- tamente instituída, permanecendo a penicilina benzatina como a droga de escolha. 3) A duração da profilaxia depende da idade do paciente, do intervalo do último surto, da presença de cardite no surto inicial, do número de recidivas, da con- dição social e da gravidade da cardiopatia reumática residual. 9. TRATAMENTO. 1,4 1) O objetivo do tratamento da FR aguda é suprimir o processo inflamatório, mi- nimizando as repercussões clínicas sobre o coração, articulações e sistema nervoso central. Outro objetivo é erradicar o EBGA da orofaringe e promover o alívio dos principais sintomas. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 9-1. ERRADICAR ESTREPTOCOCO. 1) O tratamento da faringoamigdalite e a erradicação do estreptococo da oro- faringe devem ser feitos na suspeita clínica da FR, independentemente do re- sultado da cultura de orofaringe. 2) O objetivo é reduzir a exposição do paciente aos antígenos dos estreptococos e impedir a propagação de cepas reumatogênicas. 9-2. ARTRITE. 1) O uso dos anti-inflamatórios não esteroides (AINE) apresenta bons resulta- dos no controle da artrite, levando ao desaparecimento dos sinais e sintomas entre 24-48 horas. 2) O ácido acetilsalicílico (AAS) se mantém como a primeira opção para o trata- mento do comprometimento articular. 3) O naproxeno é considerado uma boa alternativa ao AAS. Mecanismo de ação dos AINE - AAS. 1) A atividade anti-inflamatória dos AINEs é mediada principalmente pela inibi- ção da biossíntese de prostaglandinas. 2) O ácido acetilsalicílico inibe irreversivelmente a COX plaquetária. 3) Cascata da inflamação. a) Ocorre lesão ou estímulo celular → Ativação de fosfolipase A2 → Fosforila- ção e liberação do ácido araquidônico nas membranas celulares. b) Ácido araquidônico é substrato na via da enzima cicloxigenase (COX). c) COX atua no ácido araquidônico e produz prostaglandinas e tromboxano A2. d) Prostaglandinas favorecem a vasodilatação e o edema → Aumento de per- meabilidade tecidual. e) Tromboxano A2 aumenta a agregação plaquetária. Mecanismo de ação dos AINE – Inibidores não seletivos da COX (Naproxeno). 1) O naproxeno é um inibidor não seletivo da COX. 2) Existe COX 1 e COX 2 SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 9-3. CARDITE. 1) O tratamento da cardite é baseado no controle do processo inflamatório, dos sinais de insuficiência cardíaca e das arritmias. Controle do processo inflamatório. 1) O uso de corticoide na cardite moderada e grave, assim como naqueles que cursam com pericardite, tem por objetivo a redução do tempo de evolução do quadro de cardite, bem como uma melhora do processo inflamatório. 2) Indica-se o tratamento da cardite com corticoide nos casos de cardite mode- rada e grave. 3) O corticoide utilizado é a prednisona. Controle da insuficiência cardíaca. 1) Nos casos de IC leve ou moderada, o tratamento deve ser feito com uso de diuréticos e restrição hídrica. 2) Indica-se o uso de furosemida e espironolactona. Mecanismo de ação anti-inflamatório dos corticoides.5 1) Estes fármacos inibem a habilidade dos leucócitos e dos macrófagos de res- ponder a mitógenos* e antígenos. * Mitógenos = Substâncias que estimulam a mitose 2) Os glicocorticoides também diminuem a produção e a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Eles inibem a fosfolipase A2, que bloqueia a liberação de ácido araquidônico dos fosfolipídeos ligados à membrana. 3) Influenciam a resposta inflamatória estabilizando membranas de mastócitos e basófilos, o que resulta em menor liberação de histamina*. *Histamina. Mensageiro químico, responsável por respostas inflamatórias e alérgicas → Ela estimula liberação NO pelo endotélio + Aumenta a permeabili- dade dos capilares + Estimula secreção de citocinas (proteína sinalizadora) in- flamatórias em tecidos. SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 9-4. COREIA. 1) A coreia é uma manifestação tardia da FR, de evolução benigna e autolimitada na maior parte dos casos. 2) Na coreia leve e moderada, estão indicados repouso e a permanência do paci- ente em ambiente calmo, evitando-se estímulos externos. 3) Os benzodiazepínicos e fenobarbital (classe dos barbitúricos) também podem ser utilizados → Ambos são sedativos-hipnóticos. 4) Os fármacos mais utilizados são o ácido valpróico, carbamazepina → Trata- mento bipolar. 5) Outro muito utilizado é o haloperidol → Antipsicótico. Mecanismo de ação dos sedativos-hipnóticos. 1) Esses fármacos ligam-se a componentes moleculares do receptor GABAA pre- sente nas membranas neuronais do SNC. Esse receptor, que atua como canal iônico de cloreto, é ativado pelo neurotransmissor inibitório GABA. 2) Em sua maioria, esses fármacos facilitam ou simulam a ação do GABA. 3) Os benzodiazepínicos potencializam a inibição GABAérgica e seus efeitos de modo alostérico (alterando estrutura), sem ativar diretamente os receptores GABAA. 4) O aumento da condutância dos íons cloreto, induzida pela interação dos ben- zodiazepínicos com o GABA, assume a forma de um aumento da frequência de eventos de abertura dos canais. 5) Os barbitúricos também facilitam as ações do GABA, todavia, diferentemente dos benzodiazepínicos, parecem aumentar a duração de abertura dos canais de cloreto regulados pelo GABA. Em altas concentrações, os barbitúricos tam- bém podem ser GABAmiméticos, ativando diretamente os canais de cloreto. 6) Efeitos. a) Sedação. Os benzodiazepínicos, os barbitúricos exercem efeitos calman- tes, com redução concomitante da ansiedade em doses relativamente baixas. Todavia, na maioria dos casos, as ações ansiolíticas dos sedativo-hipnóticos são acompanhadas de alguns efeitos depressores sobre as funções SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA psicomotoras e cognitivas. b) Relaxamento muscular. Os benzodiazepínicos, em altas doses, podem de- primir a transmissão na junção neuromuscular esquelética. Ações desse tipo que levam ao relaxamento muscular. Efetivo no tratamento de tremor e espas- mos. Mecanismo de ação dos antipsicóticos. 1) A eficácia desses fármacos seja principalmenteimpulsionada pelo bloqueio do receptor D2. 2) A dopamina, neurotransmissor, exerce efeitos sobre a atividade elétrica nas sinapses centrais e sobre a produção do segundo mensageiro monofosfato de adenosina cíclico (AMPc) sintetizado pela adenililciclase, que podem ser blo- queados por fármacos antipsicóticos. 3) Esses fármacos são considerados como antagonistas dos receptores de do- pamina. Acredita-se que a ação antipsicótica seja produzida (pelo menos em parte) por sua capacidade de bloquear a dopamina (os receptores D2, que ini- bem a atividade da adenililciclase no sistema mesolímbico). Mecanismo de ação da carbamazepina. 1) Atua bloqueando os canais de sódio dependentes de voltagem (Nav1) res- ponsáveis pela fase ascendente dos potenciais de ação neuronal. OBS: ácido valpróico não possui mecanismo conhecido. REFERÊNCIAS 1) https://diretrizes.cardiol.online/tmp/diretriz_febrereumatica_93supl04%20- %20portugues%20(1).pdf 2) Filho GB. Bogliolo - Patologia. (10th edição). [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN; 2021. 3) Kumar V. Robbins Patologia Básica. (10th edição). [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN; 2018. 4) Katzung BG, Vanderah TW. Farmacologia básica e clínica. (15th edição). [Digite o Local da Editora]: Grupo A; 2023. 5) Whalen K, Finkell R, Panavelil TA. Farmacologia ilustrada. (6th edição). [Digite o Local da Editora]: Grupo A; 2016. https://diretrizes.cardiol.online/tmp/diretriz_febrereumatica_93supl04%20-%20portugues%20(1).pdf https://diretrizes.cardiol.online/tmp/diretriz_febrereumatica_93supl04%20-%20portugues%20(1).pdf
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