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SOI 3 - APG1 - S5 - Febre Reumática

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SOI 3 – APG1S5 – FEBRE REUMÁTICA 
 
1. DEFINIÇÃO DA FEBRE REUMÁTICA. 1 
1) A febre reumática (FR) e a cardiopatia reumática crônica (CRC) são compli-
cações não supurativas (não formam pus) da faringoamigdalite causada pelo 
estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBGA) e decorrem de resposta 
imune tardia a esta infecção em populações geneticamente predispostas. 
 
2) Doença que está frequentemente associada à pobreza e às más condições de 
vida. 
 
3) A febre reumática afeta especialmente crianças e adultos jovens e a mais te-
mível manifestação é a cardite. 
 
2. EPIDEMIOLOGIA. 1 
1) A faringoamigdalite e o impetigo (infecção de pele superficial) são as infec-
ções mais frequentemente causadas pelo estreptococo beta-hemolítico do 
grupo A (EBGA). No entanto, somente a faringoamigdalite está associada ao 
surgimento da febre reumática. 
 
2) A faringoamigdalite estreptocócica acomete preferencialmente indivíduos 
de 5 a 18 anos. 
 
3) Principal causa de cardiopatia adquirida em crianças e adultos jovens nos paí-
ses em desenvolvimento. 
 
3. FISIOPATOLOGIA. 2,3 
1) Doença reumática é uma afecção inflamatória sistêmica, de natureza imunitá-
ria e caráter recorrente, secundária a uma infecção estreptocócica da orofa-
ringe. 
 
2) Majoritariamente a primeira manifestação clínica surge na infância, entre 5 e 
15 anos de idade. No entanto, a doença tem evolução longa e suas principais 
repercussões aparecem em indivíduos jovens ou adultos → O coração é atin-
gido. 
 
3) A doença reumática é uma complicação tardia mediada por anticorpos, de in-
fecções das vias respiratórias superiores (faringite e amigdalite) causadas por 
estreptococos β-hemolíticos do grupo A de Lancefield. 
 
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4) Na história natural da doença, o indivíduo inicialmente tem uma infecção da 
orofaringe seguida de episódio agudo da doença reumática, 2 a 4 semanas de-
pois. 
 
5) Nem todos os indivíduos que têm faringite desenvolvem doença reumática 
(cerca de 3% deles adquirem a enfermidade → Pré-disposição genética); 
 
6) Evidências indicam haver reação imunitária cruzada com moléculas de partes 
do próprio organismo (coração e as articulações) devido a mimetismo mole-
cular entre proteínas bacterianas e do hospedeiro. 
 
7) A proteína M (componente antigênico dos estreptococos) possui sequências 
polipeptídicas semelhantes às proteínas humanas. Anticorpos antiestrepto-
cocos e linfócitos T CD4+ reagem tanto com essa proteína quanto com molé-
culas existentes no coração. A formação de imunocomplexos e a liberação de 
citocinas por tais linfócitos iniciam a resposta inflamatória que caracteriza a 
doença reumática 
 
8) Outras frações dos estreptococos têm comportamento semelhante: Antí-
genos estreptocócicos mimetizam componentes do sarcolema de miocélulas 
cardíacas, e o ácido hialurônico da bactéria é semelhante a compostos glicídi-
cos valvares. 
 
9) A suscetibilidade individual à doença é demonstrada pela análise de antíge-
nos leucocitários humanos (HLA). Pacientes reumáticos têm frequência 
maior de determinados HLA. No Brasil, HLA DR7 e HLA DR53 são os haplótipos 
mais encontrados. 
 
10) Nas lesões reumáticas participam linfócitos T CD4+ e CD8+, ocorrendo reação 
de hipersensibilidade tardia. Na fase aguda, há formação de granulomas* 
com macrófagos. Diversas citocinas são também encontradas nessas lesões. 
 
* Resposta inflamatória crônica. Ocorre a agregação de células, encapsulando 
os antígenos. 
 
11) No coração, a inflamação pode comprometer o pericárdio, o miocárdio e o 
endocárdio. 
 
12) As lesões principais surgem nas valvas (endocárdio valvar). A valva mais aco-
metida é a mitral. 
 
 
 
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Fase Aguda. 
1) Diagnóstico baseia-se principalmente no encontro dos nódulos de Aschoff, 
patognomônicos da doença (característica da doença). 
 
2) As lesões evoluem em três fases: 
 
(1) Inicial. Surge com 2 a 3 semanas de doença e caracteriza-se por tumefa-
ção*, fragmentação e aumento da eosinofilia* das fibras colágenas, em asso-
ciação com alguns linfócitos e plasmócitos. 
 
* Eosinofilia = ↑ Eosinófilos → Células de defesa. 
* Tumefação = ↑ volume 
 
(2) proliferativa ou granulomatosa (nódulo de Aschoff). Forma-se 3 a 4 se-
manas após o início da doença e é representada pelo acúmulo de macrófagos, 
linfócitos e fibroblastos ao redor das áreas de alterações do colágeno. 
 
(3) cicatricial. Se desenvolve após 4 a 6 meses. Quando o infiltrado inflamató-
rio regride, surgem fibroblastos e depositam fibras colágenas, formando uma 
zona perivascular de fibrose. 
 
3) Os nódulos de Aschoff: São focos inflamatórios discretos. Esses nódulos 
consistem em acúmulos de linfócitos T, plasmócitos dispersos e macrófagos 
volumosos ativados (células de Anitschkow) associados a zonas de necrose 
fibrinoide. 
 
4) Os corpos de Aschoff podem ser encontrados em qualquer uma das três ca-
madas do coração: pericárdio, miocárdio ou endocárdio (inclusive nas valvas). 
É por isso que se diz que a febre reumática causa uma pancardite. 
 
5) A miocardite reumática caracteriza-se ainda por edema do tecido conjuntivo e 
infiltrado inflamatório com linfócitos T e B, plasmócitos, macrófagos, neutrófi-
los e ocasionais eosinófilos. 
 
Fase Crônica. 
1) Caracterizada pela organização da inflamação aguda e pela subsequente ci-
catrização. 
 
2) Os corpos de Aschoff são substituídos por cicatrizes fibrosas, de modo que 
essas lesões raramente são vistas na doença crônica. As válvulas das valvas 
tornam-se espessadas e retraídas de modo permanente. 
 
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3) Classicamente acomete a valva mitral, exibindo espessamento das válvulas, 
fusão e encurtamento das comissuras e espessamento e fusão das cordas 
tendíneas. 
 
4) As pontes fibrosas e as calcificações dão origem às estenoses “em boca de 
peixe” nas valvas. 
 
5) A consequência funcional mais importante da doença reumática cardíaca é a 
estenose e a regurgitação valvares; a estenose tende a predominar. 
 
4. DIAGNÓSTICO. 1 
1) O diagnóstico da febre reumática é clínico, não existindo sinal patognomônico 
ou exame específico. 
 
2) Os exames laboratoriais, apesar de inespecíficos, sustentam o diagnóstico do 
processo inflamatório e da infecção estreptocócica. 
 
3) Os critérios de Jones são considerados o “padrão ouro” para o diagnóstico do 
primeiro surto da febre reumática. 
 
4) A probabilidade de Febre Reumática é alta quando há evidência de infecção 
estreptocócica anterior. 
 
5) O diagnóstico é determinado por: 
 
a) Elevação dos títulos da antiestreptolisina O (ASLO)* e presença de pelo me-
nos dois critérios maiores ou um critério maior e dois menores. 
 
* Antiestreptolisina O → Anticorpo contra o estreptococo. 
 
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6) Os critérios de Jones (AHA) de 1992 devem ser utilizados para o diagnóstico 
do primeiro surto da doença. 
 
 
 
7) Os critérios de Jones revistos pela OMS em 2004 destinam-se ao diagnóstico 
das recorrências da Febre Reumática em pacientes com Cardiopatia Reumá-
tica Crônica estabelecida. 
 
* Febre reumática provável: Pacientes podem apresentar poliartrite ou mo-
noartrite + três ou mais sinais menores + evidência infecção estreptocócica 
prévia. Pacientes devem ser orientados a realizar profilaxia secundária. 
 
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8) Exceções dos critérios de Jones (OMS): 
 
a) Coreia*. Sua presença implica no diagnóstico de Febre Reumática, mesmo 
na ausência dos outros critérios. 
 
* Coreia caracteriza-se por movimentos involuntários repetitivos, breves e rá-
pidos. 
 
b) Cardite indolente. Manifestações clínicas iniciais são pouco expressivas 
e, quando o paciente procura o médico, as alterações cardíacas podem ser a 
única manifestação. 
 
c) Paciente com história de surto agudo prévio ou de cardiopatia crô-
nica comprovada. Diagnóstico de recorrência pode ser baseado em apenas 
um sinal maior ou em dois sinais menores pelocritério da OMS. 
 
Diagnóstico da faringoamigdalite. 
1) O isolamento do estreptococo do grupo A em vias aéreas superiores pode re-
presentar uma infecção ou a condição de portador são. Ressalte-se que ape-
nas nos casos de infecção ocorre elevação de anticorpos e, consequente-
mente, risco de desenvolver Febre Reumática. 
 
2) O diagnóstico da faringoamigdalite estreptocócica permite o adequado trata-
mento antimicrobiano e, consequentemente, a prevenção primária da Febre 
Reumática. 
 
3) O diagnóstico de faringoamigdalite estreptocócica pode ser sugerido pela 
presença dos critérios clínicos, os quais incluem: mal-estar geral, vômitos, 
febre elevada, hiperemia, edema de orofaringe, bem como petéquias e exsu-
dato purulento*, além de gânglios cervicais palpáveis e dolorosos. 
 
* Exsudato = Líquido que drena de feridas. Petéquia = Manchas marrons-arro-
xeadas. 
 
4) Recomenda-se a comprovação laboratorial da infecção pelo EBGA. A cultura 
de orofaringe é o “padrão ouro” para o diagnóstico e tem sensibilidade entre 
90%-95%. 
 
5) O teste rápido para a detecção de antígeno pode ser usado e tem a vantagem 
da rapidez do resultado e, também, apresenta sensibilidade de 80%. 
 
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a) Diante de quadro clínico sugestivo de faringoamigdalite estreptocócica e 
teste rápido negativo, recomenda-se a realização de cultura de orofaringe. 
 
6) Exames sorológicos traduzem uma infecção pregressa e não têm valor para o 
diagnóstico do quadro agudo da faringoamigdalite estreptocócica. O teste 
mais comumente utilizado é o de antiestreptolisina O (ASLO). 
 
7) Recomenda-se a realização de duas dosagens de ASLO com intervalo de 15 
dias. 
 
5. CRITÉRIOS MAIORES. 1 
Artrite. 
1) Inflamação de uma ou mais articulações, causando dor e rigidez. 
 
2) A artrite é a manifestação mais comum da Febre Reumática com evolução au-
tolimitada e sem sequelas. 
 
3) A diferenciação entre artrite (critério maior) e artralgia (critério menor) é feita 
em bases clínicas. Artralgia significa apenas dor articular, enquanto a Artrite 
é definida como a presença de edema na articulação ou, na falta deste, asso-
ciação da dor com a limitação de movimentos. 
 
4) A artrite típica da FR evolui de forma assimétrica e migratória, ou seja, quando 
os sintomas melhoram em uma articulação, aparecem em outra. O quadro ar-
ticular afeta preferencialmente membros inferiores. 
 
5) A duração do processo inflamatório em cada articulação raramente ultra-
passa uma semana e o quadro total cessa em menos de um mês. 
 
Cardite. 
1) Manifestação mais grave da FR, pois é a única que pode deixar sequelas e 
acarretar óbito. 
 
2) A cardite tende a aparecer em fase precoce e, mais frequentemente, é diag-
nosticada nas três primeiras semanas da fase aguda. O acometimento car-
díaco é caracterizado pela pancardite, entretanto são as lesões valvares as 
responsáveis pelo quadro clínico e pelo prognóstico. 
 
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3) O acometimento pericárdico não é comum. A pericardite está sempre associ-
ada à lesão valvar e é diagnosticada pela presença de derrame pericárdico, 
abafamento de bulhas e dor precordial. 
 
4) A miocardite tem sido diagnosticada com base no abafamento da primeira 
bulha, na cardiomegalia e na insuficiência cardíaca congestiva. A insuficiência 
cardíaca é causada pela lesão valvar (valvite) e não pelo acometimento mio-
cárdico. 
 
5) O acometimento do endocárdio constitui a marca diagnóstica da cardite, en-
volvendo com maior frequência as valvas mitral e aórtica. 
 
a) Na fase aguda, a lesão mais frequente é a regurgitação. 
b) As estenoses valvares ocorrem mais tardiamente, na fase crônica. 
 
6) Três sopros são característicos do primeiro episódio e podem não representar 
disfunção valvar definitiva. 
 
Coreia de Sydenham. 
1) Ocorre predominantemente em crianças e adolescentes do sexo feminino, 
sendo rara após os 20 anos de idade. 
 
2) Desordem neurológica caracterizada por movimentos rápidos involuntários in-
coordenados, que desaparecem durante o sono e são acentuados em situa-
ções de estresse e esforço. 
 
3) Movimentos podem acometer músculos da face e são, com frequência, gene-
ralizados. 
 
4) Disartria (perda da capacidade de articular as palavras de forma normal) e di-
ficuldades na escrita também podem ocorrer. O surto da coreia dura, em mé-
dia, de dois a três meses. 
 
Eritema marginatum. 
1) Manifestação rara. Caracteriza-se por eritema com bordas nítidas, centro 
claro, contornos arredondados ou irregulares. 
 
2) As lesões são múltiplas, indolores, não pruriginosas, podendo haver fusão, re-
sultando em aspecto serpiginoso. 
 
3) Lesões não ocorrem na face. 
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4) Manifestação está associada à cardite. 
 
 
Nódulos subcutâneos. 
1) Fortemente associados à presença de cardite grave. 
 
2) São múltiplos, arredondados, firmes, móveis, indolores e recobertos por pele 
normal, sem características inflamatórias. 
 
3) Ocorrem preferencialmente em cotovelos, punhos, joelhos, tornozelos, região 
occipital e coluna vertebral. 
 
 
 
 
 
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6. CRITÉRIOS MENORES. 1 
Artralgia. 
1) A presença de artralgia com padrão poliarticular migratório e assimétrico en-
volvendo grandes articulações é altamente sugestiva de febre reumática e fre-
quentemente é associada à cardite. 
 
Febre. 
1) Frequente no início do surto agudo e ocorre em quase todos os surtos de ar-
trite. 
 
Intervalo PR. 
1) O intervalo PR no ECG pode estar aumentado em pacientes com febre reu-
mática, mesmo na ausência de cardite. Deve-se solicitar a repetição do exame 
a fim de avaliar o retorno do intervalo. 
 
Reagentes de fase aguda. 
1) Não são específicas da FR, porém auxiliam no monitoramento da presença de 
processo inflamatório. 
 
2) A velocidade de hemossedimentação (VHS)* se eleva nas primeiras sema-
nas de doença. 
 
* Exame de sangue para avaliar inflamação. 
 
3) A proteína C reativa (PCR) se eleva no início da fase aguda e seus valores di-
minuem no final da segunda ou da terceira semana. 
 
4) A alfa-1-glicoproteína ácida apresenta títulos elevados na fase aguda da do-
ença, mantendo-se elevada por tempo mais prolongado. Deve ser utilizada 
para monitorar a atividade da FR. 
 
7. EXAMES COMPLEMENTARES. 1 
Radiografia e ECG. 
1) Recomenda-se a realização do exame radiológico do tórax para investigação 
de cardiomegalia e de sinais de congestão pulmonar. 
 
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2) O aumento da área cardíaca fala a favor de atividade reumática, e a presença 
de congestão pulmonar caracteriza a cardite grave. 
 
Ecocardiograma. 
1) Recomenda-se a utilização da ecocardiografia para diagnosticar cardite sub-
clínica. (I-B) 
 
2) Na fase aguda da doença, a regurgitação mitral é a alteração mais frequente. 
A regurgitação aórtica é a segunda lesão mais frequente. 
 
3) Espessamento valvar é frequente, e têm sido observados nódulos valvares fo-
cais que desaparecem durante a evolução. 
 
4) Derrame pericárdico, em geral pequeno, ocorre com frequência. 
 
8. PROFILAXIA. 1,4 
1) O controle da doença em países desenvolvidos está mais relacionado à me-
lhoria das condições socioeconômicas. 
 
8-1. PROFILAXIA PRIMÁRIA. 
1) A profilaxia primária é baseada no reconhecimento e tratamento das infec-
ções estreptocócicas, com a finalidade de prevenir o primeiro surto de FR. 
 
2) O tratamento da faringoamigdalite é baseado na administração de antibió-
tico bactericida, com manutenção de nível sérico por 10 dias. 
 
3) Recomenda-se, em casos de faringoamigdalite estreptocócica que esses pa-
cientes sejam prontamente tratados, a fim de se evitar desenvolvimento de 
novos casos da doença, já que o estreptococo pode ser transmitido. Ressalta-
se que, 24 horas após o início do tratamento com penicilina, o indivíduo torna-
se minimamente contagiante. 
 
4) A penicilina benzatina é a droga de escolha para o tratamento dessespacien-
tes. 
 
5) A fenoximetilpenicilina (penicilina V) é a droga de escolha para uso oral. 
 
6) Nos pacientes que apresentam comprovada alergia à penicilina, eritromicina 
é a droga de primeira escolha. 
 
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Mecanismo de ação da penicilina. 
1) As penicilinas, à semelhança de todos os antibióticos betalactâmicos, ini-
bem o crescimento das bactérias ao interferir na reação de transpeptida-
ção da síntese da parede celular bacteriana. 
 
2) A parede celular mantém a integridade da célula e impede a sua lise em decor-
rência de pressão osmótica elevada. 
 
3) A parede celular é composta por um polímero de polissacarídeos e peptídeos, 
denominado peptidoglicano. O polissacarídeo contém aminoaçúcares alter-
nados, N-acetilglicosamina e ácido N-acetilmurâmico. 
 
4) Existe um peptídeo ligado ácido N-acetilmurâmico. Esse peptídeo termina em 
D-alanil-D-alanina. A proteína em que a penicilina se liga (PBP) (Transpepti-
dase) é uma enzima e remove a alanina terminal para formar uma ligação cru-
zada com um peptídeo adjacente. 
 
5) As ligações cruzadas conferem rigidez à parede celular. 
 
 
6) Os antibióticos betalactâmicos ligam-se de modo covalente ao sítio ativo 
das PBP. Essa ligação inibe a reação de transpeptidação e interrompe a sín-
tese de peptidoglicano, levando à morte da célula. 
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8-2. PROFILAXIA SECUNDÁRIO. 
1) A profilaxia secundária consiste na administração contínua de antibiótico es-
pecífico ao paciente portador de FR prévia ou cardiopatia reumática compro-
vada, com o objetivo de prevenir colonização ou infecção de via aérea superior 
pelo EBGA, com consequente desenvolvimento de novos episódios da do-
ença. 
 
2) Após o diagnóstico de FR ser realizado, a profilaxia secundária deve ser pron-
tamente instituída, permanecendo a penicilina benzatina como a droga de 
escolha. 
 
3) A duração da profilaxia depende da idade do paciente, do intervalo do último 
surto, da presença de cardite no surto inicial, do número de recidivas, da con-
dição social e da gravidade da cardiopatia reumática residual. 
 
9. TRATAMENTO. 1,4 
1) O objetivo do tratamento da FR aguda é suprimir o processo inflamatório, mi-
nimizando as repercussões clínicas sobre o coração, articulações e sistema 
nervoso central. Outro objetivo é erradicar o EBGA da orofaringe e promover o 
alívio dos principais sintomas. 
 
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9-1. ERRADICAR ESTREPTOCOCO. 
1) O tratamento da faringoamigdalite e a erradicação do estreptococo da oro-
faringe devem ser feitos na suspeita clínica da FR, independentemente do re-
sultado da cultura de orofaringe. 
 
2) O objetivo é reduzir a exposição do paciente aos antígenos dos estreptococos 
e impedir a propagação de cepas reumatogênicas. 
 
9-2. ARTRITE. 
1) O uso dos anti-inflamatórios não esteroides (AINE) apresenta bons resulta-
dos no controle da artrite, levando ao desaparecimento dos sinais e sintomas 
entre 24-48 horas. 
 
2) O ácido acetilsalicílico (AAS) se mantém como a primeira opção para o trata-
mento do comprometimento articular. 
 
3) O naproxeno é considerado uma boa alternativa ao AAS. 
 
Mecanismo de ação dos AINE - AAS. 
1) A atividade anti-inflamatória dos AINEs é mediada principalmente pela inibi-
ção da biossíntese de prostaglandinas. 
 
2) O ácido acetilsalicílico inibe irreversivelmente a COX plaquetária. 
 
3) Cascata da inflamação. 
 
a) Ocorre lesão ou estímulo celular → Ativação de fosfolipase A2 → Fosforila-
ção e liberação do ácido araquidônico nas membranas celulares. 
b) Ácido araquidônico é substrato na via da enzima cicloxigenase (COX). 
c) COX atua no ácido araquidônico e produz prostaglandinas e tromboxano A2. 
d) Prostaglandinas favorecem a vasodilatação e o edema → Aumento de per-
meabilidade tecidual. 
e) Tromboxano A2 aumenta a agregação plaquetária. 
 
Mecanismo de ação dos AINE – Inibidores não seletivos da COX 
(Naproxeno). 
1) O naproxeno é um inibidor não seletivo da COX. 
 
2) Existe COX 1 e COX 2 
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9-3. CARDITE. 
1) O tratamento da cardite é baseado no controle do processo inflamatório, dos 
sinais de insuficiência cardíaca e das arritmias. 
 
Controle do processo inflamatório. 
1) O uso de corticoide na cardite moderada e grave, assim como naqueles que 
cursam com pericardite, tem por objetivo a redução do tempo de evolução do 
quadro de cardite, bem como uma melhora do processo inflamatório. 
 
2) Indica-se o tratamento da cardite com corticoide nos casos de cardite mode-
rada e grave. 
 
3) O corticoide utilizado é a prednisona. 
 
Controle da insuficiência cardíaca. 
1) Nos casos de IC leve ou moderada, o tratamento deve ser feito com uso de 
diuréticos e restrição hídrica. 
 
2) Indica-se o uso de furosemida e espironolactona. 
 
Mecanismo de ação anti-inflamatório dos corticoides.5 
1) Estes fármacos inibem a habilidade dos leucócitos e dos macrófagos de res-
ponder a mitógenos* e antígenos. 
 
* Mitógenos = Substâncias que estimulam a mitose 
 
2) Os glicocorticoides também diminuem a produção e a liberação de citocinas 
pró-inflamatórias. Eles inibem a fosfolipase A2, que bloqueia a liberação de 
ácido araquidônico dos fosfolipídeos ligados à membrana. 
 
3) Influenciam a resposta inflamatória estabilizando membranas de mastócitos e 
basófilos, o que resulta em menor liberação de histamina*. 
 
*Histamina. Mensageiro químico, responsável por respostas inflamatórias e 
alérgicas → Ela estimula liberação NO pelo endotélio + Aumenta a permeabili-
dade dos capilares + Estimula secreção de citocinas (proteína sinalizadora) in-
flamatórias em tecidos. 
 
 
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9-4. COREIA. 
1) A coreia é uma manifestação tardia da FR, de evolução benigna e autolimitada 
na maior parte dos casos. 
 
2) Na coreia leve e moderada, estão indicados repouso e a permanência do paci-
ente em ambiente calmo, evitando-se estímulos externos. 
 
3) Os benzodiazepínicos e fenobarbital (classe dos barbitúricos) também podem 
ser utilizados → Ambos são sedativos-hipnóticos. 
 
4) Os fármacos mais utilizados são o ácido valpróico, carbamazepina → Trata-
mento bipolar. 
 
5) Outro muito utilizado é o haloperidol → Antipsicótico. 
 
Mecanismo de ação dos sedativos-hipnóticos. 
1) Esses fármacos ligam-se a componentes moleculares do receptor GABAA pre-
sente nas membranas neuronais do SNC. Esse receptor, que atua como canal 
iônico de cloreto, é ativado pelo neurotransmissor inibitório GABA. 
 
2) Em sua maioria, esses fármacos facilitam ou simulam a ação do GABA. 
 
3) Os benzodiazepínicos potencializam a inibição GABAérgica e seus efeitos de 
modo alostérico (alterando estrutura), sem ativar diretamente os receptores 
GABAA. 
 
4) O aumento da condutância dos íons cloreto, induzida pela interação dos ben-
zodiazepínicos com o GABA, assume a forma de um aumento da frequência 
de eventos de abertura dos canais. 
 
5) Os barbitúricos também facilitam as ações do GABA, todavia, diferentemente 
dos benzodiazepínicos, parecem aumentar a duração de abertura dos canais 
de cloreto regulados pelo GABA. Em altas concentrações, os barbitúricos tam-
bém podem ser GABAmiméticos, ativando diretamente os canais de cloreto. 
 
6) Efeitos. 
 
a) Sedação. Os benzodiazepínicos, os barbitúricos exercem efeitos calman-
tes, com redução concomitante da ansiedade em doses relativamente baixas. 
Todavia, na maioria dos casos, as ações ansiolíticas dos sedativo-hipnóticos 
são acompanhadas de alguns efeitos depressores sobre as funções 
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psicomotoras e cognitivas. 
 
b) Relaxamento muscular. Os benzodiazepínicos, em altas doses, podem de-
primir a transmissão na junção neuromuscular esquelética. Ações desse tipo 
que levam ao relaxamento muscular. Efetivo no tratamento de tremor e espas-
mos. 
 
Mecanismo de ação dos antipsicóticos. 
1) A eficácia desses fármacos seja principalmenteimpulsionada pelo bloqueio 
do receptor D2. 
 
2) A dopamina, neurotransmissor, exerce efeitos sobre a atividade elétrica nas 
sinapses centrais e sobre a produção do segundo mensageiro monofosfato de 
adenosina cíclico (AMPc) sintetizado pela adenililciclase, que podem ser blo-
queados por fármacos antipsicóticos. 
 
3) Esses fármacos são considerados como antagonistas dos receptores de do-
pamina. Acredita-se que a ação antipsicótica seja produzida (pelo menos em 
parte) por sua capacidade de bloquear a dopamina (os receptores D2, que ini-
bem a atividade da adenililciclase no sistema mesolímbico). 
 
Mecanismo de ação da carbamazepina. 
1) Atua bloqueando os canais de sódio dependentes de voltagem (Nav1) res-
ponsáveis pela fase ascendente dos potenciais de ação neuronal. 
 
OBS: ácido valpróico não possui mecanismo conhecido. 
 
REFERÊNCIAS 
1) https://diretrizes.cardiol.online/tmp/diretriz_febrereumatica_93supl04%20-
%20portugues%20(1).pdf 
2) Filho GB. Bogliolo - Patologia. (10th edição). [Digite o Local da Editora]: Grupo 
GEN; 2021. 
3) Kumar V. Robbins Patologia Básica. (10th edição). [Digite o Local da Editora]: 
Grupo GEN; 2018. 
4) Katzung BG, Vanderah TW. Farmacologia básica e clínica. (15th edição). [Digite 
o Local da Editora]: Grupo A; 2023. 
5) Whalen K, Finkell R, Panavelil TA. Farmacologia ilustrada. (6th edição). [Digite 
o Local da Editora]: Grupo A; 2016. 
https://diretrizes.cardiol.online/tmp/diretriz_febrereumatica_93supl04%20-%20portugues%20(1).pdf
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