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CRIMES CONTRA A VIDA E O

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10/04/24, 19:38 Crimes em Espécie
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CRIMES	EM	ESPÉCIE
UNIDADE 1 - CRIMES CONTRA A VIDA E O
TRIBUNAL DO JU� RI
Ronaldo Félix Moreira Júnior
10/04/24, 19:38 Crimes em Espécie
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Introdução
O atual Código Penal inaugura sua parte especial ao tratar dos crimes contra a pessoa, porém, abordando
especi�icamente os crimes contra a vida. Tendo em vista que o direito penal, ao buscar proteger os bens
jurı́dicos mais relevantes à sociedade, demonstra claramente que a vida é um dos bens jurı́dicos mais
importantes, ou até mesmo o bem jurı́dico mais importante a ser tutelado.
O presente capı́tulo é fundamental para que o aluno possa compreender não apenas como o direito penal
organiza sistematicamente os eventuais delitos a serem punidos, mas também para entender quais são as
consequências processuais de uma conduta delituosa.
O presente estudo é essencial para que se possa responder à relevantes indagações, como essa: quais
elementos diferenciam o homicı́dio em sua forma padrão do feminicı́dio?
Além disso, o capı́tulo também é responsável por abordar questões processuais, principalmente aquelas
relacionadas ao tribunal do júri, para que se possa deixar claro suas hipóteses de funcionamento, respondendo
outras questões, como, por exemplo: toda forma de homicı́dio acarretará necessariamente um julgamento pelo
tribunal do júri?
Curioso para saber? As respostas e outros pontos muito importantes estão na sequência do conteúdo.
Portanto, leia com atenção. Boa leitura!
1.1 Crimes contra a vida e feminicídio
O primeiro delito apresentado ao operador do direito no Código Penal, a conduta do homicı́dio, apresenta-se
de forma simples no art. 121 de nosso Código Penal: “Art. 121. Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte
anos”. E� necessário a�irmar, contudo, que o delito em questão apresenta inúmeras situações que podem alterar
de forma drástica a pena aplicada, ou mesmo fazer com que ela deixe de ser aplicada. O feminicı́dio, objeto
central de nosso estudo, trata-se de uma modalidade de homicı́dio, conforme demonstrado.
O homicı́dio simples é o primeiro a ser tratado nesse capı́tulo, uma vez que será por meio de suas
caracterı́sticas que surgirá a possibilidade de melhor compreender as demais espécies e diferenciá-las
conforme o caso concreto.
Quadro 1 - As espécies gerais de homicı́dios apresentadas pelo atual Código Penal, bem como o parágrafo
que trata de cada um desses elementos. Cada um desses elementos, por sua vez, possui suas próprias
espécies.
Fonte: GONÇALVES, 2018, p. 99.
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1.1.1 Homicídio simples
Conforme previsto no caput do art. 121 do Código Penal, o homicı́dio simples possui como pena a reclusão do
indivı́duo por um perı́odo entre seis a vinte anos. Conforme Gonçalves (2018), o delito pode ser de�inido
como a eliminação da vida extrauterina de um ser humano, desde que essa eliminação tenha sido causada por
outra pessoa. E� necessário que a morte tenha ocorrido em decorrência da atuação do sujeito ativo do delito.
Clique nas abas a seguir e conheça mais sobre este tipo de homicı́dio.
Requisito
Importa dizer que não é um requisito para o crime, a ação direta do agente, tendo em
vista que ele pode ser praticado de forma indireta, como no caso em que o agente se
utiliza de uma outra pessoa (ao pedir, por exemplo, que alguém entregue uma bebida
envenenada ao sujeito passivo do delito).
Objeto
jurídico
Conforme mencionado, trata-se da vida extrauterina de um ser humano. Esse
elemento é essencial para que se possa diferenciar o crime de homicı́dio do crime de
aborto. Uma vez que a vida é o único bem jurı́dico da conduta estudada, pode-se
classi�icar o homicı́dio como um crime simples. Gonçalves (2018) nos lembra que
até mesmo um homicı́dio quali�icado constitui um crime simples, tendo em vista
que o bem jurı́dico afetado é uno (a vida). Não se pode, portanto, confundir as
expressões “homicı́dio simples” e “crime simples”.
Crime	de
dano
Também é importante ressaltar que se trata de crime de dano, uma vez que para
poder ser efetivamente con�igurado é necessária lesão real ao bem jurı́dico tutelado.
O desfecho morte é, assim, um requisito para sua consumação.
Ação	livre
Quanto ao meio de execução, não há um rol taxativo de formas pelo qual o delito
pode ser praticado. Estefam (2016) aponta para o fato de que é admitido qualquer
meio capaz de causar o evento morte (seja por disparos de arma de fogo,
atropelamento, envenenamento etc.). Essa ampla possibilidade de execuções torna o
homicı́dio um delito de ação livre, que pode ser praticado por uma ação ou por
omissão.
Crime
comum
O homicı́dio está enquadrado dentro do conceito de crime comum, uma vez que pode
ser praticado por qualquer indivı́duo, não havendo requisitos legais de caráter
subjetivo para sua realização.
Sujeito
passivo
No que diz respeito ao sujeito passivo, qualquer indivı́duo (desde que tenha nascido
com vida, requisito essencial) poderá ser vı́tima do crime de homicı́dio. Importa
dizer que para o Direito Penal, considera-se a gravidez iniciada com a nidação,
motivo pelo qual não será possı́vel a ocorrência de aborto antes desse perı́odo.
Dolo	e
tentativa
Ressalta-se ainda que, no que diz respeito ao tipo subjetivo, o homicı́dio requer a
presença de dolo (seja ele direito ou eventual) ou incorrerá na hipótese de homicı́dio
culposo (art. 121, §3º, CP). Já no tocante à tentativa, ela é plenamente possı́vel
(quando o crime não puder ser consumado devido a circunstâncias alheias à vontade
do agente), sendo que o crime restará consumado apenas com a morte do agente. 
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1.1.2 Homicídio privilegiado
O primeiro parágrafo do art. 121 do Código Penal, estipula que o juiz poderá reduzir a pena de um sexto a um
terço, caso o agente tenha cometido o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou
quando o �izer sob o domı́nio de violenta emoção, logo após a injusta provocação da vı́tima. Trata-se de
hipótese chamada de “homicı́dio privilegiado”, pela doutrina penal.
A natureza jurı́dica da hipótese mencionada é de causa	 de	 diminuição	 de	 pena (uma vez que não há
cominação de nova pena menor que a prevista pelo caput, mas a previsão de redução de um determinado
montante).
Vale lembrar que, conforme Busato (2017), apesar de a lei prever que o juiz poderá diminuir a pena, essa
redução é obrigatória, caso haja o reconhecimento do privilégio pelo júri, em conformidade com o art. 483, IV,
do Código de Processo Penal. O artigo em questão menciona que as causas de diminuição de pena devem ser
apreciadas pelos jurados e, no caso de votação favorável, a redução deverá ser aplicada pelo juiz, em
obediência ao princı́pio da soberania dos vereditos (previsto no art. 5º, XXXVIII, c, da Constituição Federal).
Importante mencionar que o que é colocado como “injusta provocação da vı́tima”, se diferencia
completamente da legı́tima defesa, que pressupõe uso de meios moderados e necessários para repelir uma
agressão injusta. Esses requisitos não se encontram no caso da injusta provocação que pode ocorrer, por
exemplo, na hipótese em que um indivı́duo desa�ia e ameaça outro, responsável por matá-lo posteriormente.
Ressalta-se que o ato homicida deve ocorrer, em conformidade com o §1º, do art. 121, logo após tal
provocação.
CASO
A doutrina diferenciao relevante valor social (quando a motivação do agente, de
certa forma, bene�icia uma coletividade), do relevante valor moral (ligado ao
sentimento pessoal do agente).
Um caso de homicıd́io por relevante valor social, pode ocorrer quando um indivıd́uo
acaba por assassinar um verdadeiro “assassino serial”, que se preparava para
cometer mais crimes na proximidade de uma cidade.
Já em relação ao homicıd́io por relevante valor moral, é possıv́el utilizar como exemplo
a eutanásia, que ocorre quando o agente tira a vida da vıt́ima para acabar com grave
sofrimento que possa decorrer de alguma enfermidade. Nesse caso, é plenamente
possıv́el que os jurados reconheçam o relevante valor moral na situação em que uma
pessoa desligue os aparelhos que mantém vivo um segundo indivıd́uo, que se
encontre em estado vegetativo ou grave, sem qualquer hipótese de recuperação
futura.
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1.1.3 Homicídio qualificado
O crime de homicı́dio terá pena de doze a trinta anos nas hipóteses elencadas no §2º do art. 121 (incisos I a
VII). E� importante lembrar que, além de quali�icado, tais hipóteses fazem com que o crime tenha natureza
hedionda, alterando, assim, o regime de cumprimento de pena (Gonçalves, 2018).
Diferente da causa de aumento de pena, a quali�icadora estipula um quantum maior do que a pena prevista no
caput. Não se trata, portanto, de um mero aumento da pena aplicada ao caso concreto, mas de uma estipulação
nova em abstrato.
Quadro 2 - Os incisos que descrevem as �iguras quali�icadas do homicı́dio estão agrupados conforme suas
caracterı́sticas em comum.
Fonte: GONÇALVES, 2018, p. 117.
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Muito tem se discutido a respeito do tema feminicı́dio, contudo, apesar do senso comum ainda enxergar essa
hipótese como delito autônomo, ela está, em verdade, elencada como uma das modalidades de homicı́dio
quali�icado, conforme o art. 121, §2º, VI, CP. 
Vamos conhecer mais sobre esse tema clicando a seguir.
Figura 1 - Conforme o art. 121, §2º, III, CP, a utilização de veneno con�igura homicı́dio quali�icado, com pena
entre doze a trinta anos de reclusão.
Fonte: kanusommer, Shutterstock, 2019.
Homicídio	quali�icado	
Estipula o sexto inciso do segundo parágrafo do art. 121, que o homicı́dio será quali�icado, caso
cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
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A de�inição de violência doméstica e familiar, entretanto, não se encontra no Código Penal, mas na Lei
11.340/06 (Lei Maria da Penha) em seu art. 5º, que de�ine tal violência como qualquer ação, ou mesmo
omissão baseada no gênero, causando “morte, lesão, sofrimento fı́sico, sexual ou psicológico e dano moral e
patrimonial”, desde que seja em âmbito de unidade doméstica familiar ou em qualquer outra relação ı́ntima de
afeto.
Motivação	como	condição
Essa modalidade está prevista no atual código desde a Lei 13.104/2015 e se trata de uma
verdadeira quali�icadora de caráter subjetivo, tendo em vista que não basta a condição de mulher
no polo passivo, há também a necessidade que o delito, conforme Busato (2017), seja realizado
por motivação relacionada à condição do sexo feminino da vı́tima.
Condições	para	o	crime
O próprio Código Penal, por meio da Lei 13.104/15, inseriu um novo parágrafo (§2º-A), no qual
há explicações sobre o que são razões de condição do sexo feminino. Conforme o parágrafo,
essas condições existirão quando o crime envolver: I – violência doméstica e familiar; II –
menosprezo ou discriminação à condição da mulher.
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Não se pode esquecer que a modalidade em questão dessa quali�icadora do crime de homicı́dio, não diz
respeito à vı́tima próxima ao agente, mas a qualquer mulher, por força do inciso II, ao trazer a expressão
“menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.
Dessa forma, também é importante ressaltar, conforme o entendimento de Gonçalves (2018), que somente
mulheres podem ser sujeito passivo do crime em questão. O autor salienta que homens, homossexuais ou até
travestis, não podem �igurar no polo passivo, podendo, entretanto, haver a quali�icação por motivo torpe
(como no caso da morte de um travesti, devido a sua própria condição).
Por �im, é necessário mencionar as causas de aumento de pena previstas no sétimo parágrafo do art. 121,
todas relacionadas ao feminicı́dio. Conforme o parágrafo em questão, há três hipóteses de aumento de pena
(de um terço até a metade). Clique nos ı́cones abaixo para conhecê-las.
1) Crime cometido durante a gestação ou nos três
meses posteriores ao parto.
2) Contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60
anos ou com qualquer tipo de de�iciência fıśica ou
mental.
3) Na presença de descendente ou de ascendente
da vıt́ima.
VOCÊ QUER LER?
O livro “Feminicıd́io – Uma análise sociojurıd́ica da violência contra a mulher no Brasil”,
escrito por Adriana Ramos de Mello, discute a problemática mundial no feminicıd́io,
com foco em casos brasileiros. Além de abordar questões jurıd́icas relevantes a
respeito do tema, a obra também conta com importante estudo sociológico e análise de
casos reais de mulheres vıt́imas de violência.
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Vale ressaltar, de maneira geral, sobre as quali�icadoras, que caso os jurados reconheçam duas ou mais delas
na mesma situação, no momento da aplicação da pena, o juiz deverá utilizar a primeira delas para �ixar a pena
base (dentro dos limites estabelecidos pelo código: doze a trinta anos) e, posteriormente, utilizar as demais
como circunstancias agravantes, em conformidade com o art. 61, II, alı́neas a até d, do Código Penal
(ESTEFAM, 2016).
1.1.4 Demais crimes contra a vida: induzimento, instigação ou auxílio ao
suicídio e infanticídio
E� de extrema importância salientar que o delito de homicı́dio (art. 121, CP) é seguido das hipóteses delitivas
previstas nos arts. 122 (induzimento, instigação ou auxı́lio ao suicı́dio) e 123 (infanticı́dio), também
inseridos no rol de crimes contra a vida, julgados necessariamente pelo tribunal do júri.
Como previsto no art. 122, também conhecido como participação em suicı́dio, o ato de induzir, instigar ou
prestar auxı́lio para que alguém se suicide pode ser punido com reclusão, de dois a seis anos, caso ocorra
efetivamente o suicı́dio, ou de um a três anos, se da tentativa ocorre lesão corporal de natureza grave.
Ressalta-se que o ato de induzir diz respeito a fazer surgir a ideia do suicı́dio na vı́tima, algo não antes
existente. A instigação, por outro lado, trata-se do reforço de uma ideia já existente. O auxı́lio, por sua vez, é a
colaboração de alguma forma no suicı́dio, como no caso da pessoa que empresta veneno a outra para que ela
dê �im à própria vida (ESTEFAM, 2016).
Nos termos da classi�icação doutrinária (GONÇALVES, 2018), trata-se de um delito simples e de dano, tendo
em vista que requer a ocorrência de um resultado naturalı́stico (a morte ou lesão grave) para que possa ser
consumado. Apesar disso, também é hipótese de crime comum, tendo em vista que não há qualquer
requerimento especial quanto ao sujeito ativo. Admite-se, portanto, concurso eventual quanto ao sujeito ativo.
Também se trata de crime de ação livre e múltipla, de modo que a realização de uma ou mais condutas
previstas no caput ensejaram na ocorrência de crime único. Assim, umindivı́duo que instiga e também auxilia
outrem à prática do suicı́dio responderá apenas por um delito.
Por �im, vale lembrar que se trata de um crime doloso (quanto ao elemento subjetivo) e que não admite
tentativa (GONÇALVES, 2018), uma vez que será o fato atı́pico nos casos em que não ocorrer o resultado morte
ou lesão grave.
O parágrafo único do mesmo dispositivo traz hipóteses em que a pena é duplicada. Clique nos ı́cones a seguir.
I – Nos casos em que o delito for praticado por
motivo egoıśtico.
II – Quando a vıt́ima for menor ou ter diminuıd́a
sua capacidade de resistência por qualquer causa.
O delito de infanticı́dio está previsto no art. 123 e consiste em matar, sob a in�luência do estado puerperal, o
próprio �ilho durante ou logo após o parto. A pena prevista é a de detenção de dois a seis anos.
Trata-se de uma hipótese especial de assassı́nio, prevista em delito próprio, tendo em vista suas
especi�icidades. O estado puerperal se trata, em verdade, de um fenômeno no parto ocorrido em razão de uma
intensa dor que é provocada, além da perda de sangue e do esforço necessário à gestante, o que favorece a
ocorrência de uma grande alteração hormonal capaz de levar a uma alteração psı́quica, acarretando, em
determinadas vezes, em uma forte rejeição pela mãe do produto da gestação.
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No que diz respeito a sua classi�icação doutrinária, trata-se de um crime simples e de dano (quanto à
objetividade jurı́dica), havendo a necessidade do resultado morte. E� também crime próprio e de concurso
eventual quanto ao sujeito ativo. Importante lembrar, quanto a esse aspecto da classi�icação, que o delito
admite coautoria, uma hipótese em que tanto a mãe da criança quanto o coautor responderão pelo mesmo por
força do art. 30, do Código Penal, que estabelece que as circunstâncias de caráter pessoal apenas se
comunicarão entre os agentes quando forem elementares de um delito (GONÇALVES, 2018).
Ainda quanto à classi�icação, é um delito de ação livre (podendo ser praticado tanto por ação ou omissão),
material e instantâneo, quanto ao momento da consumação, além de ser doloso quanto ao seu elemento
subjetivo.
1.2 Crime de aborto e hipóteses permissivas
O aborto nada mais é que a interrupção da gravidez que resulta na morte do feto, produto da concepção. O
delito pode ser praticado a partir do momento em que a gravidez se inicia. Controvertida, contudo, é a questão
a respeito de quando se inicia a gravidez.
Gonçalves (2018) menciona que parte da doutrina entende que o inı́cio da gravidez ocorre com a fecundação,
enquanto outros estipulam que a nidação (implantação do óvulo fecundado no útero) é o marco inicial.
Prevalece, entretanto, o entendimento de que é com a nidação que ocorre o inı́cio da gravidez (o que torna
atı́pico, por exemplo, o uso da pı́lula do dia seguinte, que impede a ocorrência da nidação).
Importante ressaltar que se trata de um crime cujo tipo subjetivo é o dolo, não havendo a possibilidade de
responsabilização penal, se o aborto decorre de causas naturais ou de acidentes.
O aborto pode ocorrer, portanto, de forma natural, acidental, criminosa ou até legal. Importa para o presente
estudo apenas as formas criminosas ou legais, analisadas a seguir.
1.2.1 Hipóteses criminosas de aborto 
E� preciso que se analise com cuidado os elementos base das formas criminosas de aborto, haja visto que,
apesar das similaridades, as consequências para o agente (ou os agentes) são diversas.
A primeira hipótese se encontra prevista no art. 124, consistente na provocação em si mesma ou do
consentimento para que outrem provoque o ato. A pena prevista é de detenção de um a três anos.
O artigo traz duas modalidades distintas. Vamos conhecer todas as modalidades de aborto clicando a seguir.
Quadro 3 - As formas punı́veis de aborto, conforme estipuladas pelo atual Código Penal, sejam elas
provocadas pela própria gestante ou mesmo por terceiro – com ou sem sua anuência.
Fonte: GONÇALVES, 2018, p. 180.
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A primeira, o autoaborto, pode ser encontrada na primeira parte do delito, pela provocação em si
mesma, do aborto. Nesse caso, é a gestante a responsável pelas manobras abortivas. Como um
delito de ação livre, pode ocorrer pelas mais diversas formas, como por ingestão de remédios ou
até esforços excessivos. 
No autoaborto, é certo que a qualidade de gestante é indispensável para sua prática, tratando-se de
crime próprio. Essa, porém, não é a única caracterı́stica relevante desse delito, que também pode
ser considerado de mão própria, por não admitir coautoria. Uma outra pessoa que auxiliar a
gestante a provocar aborto em si mesma, não responderá, portanto, pelo caput do art. 124, mas por
provocação de aborto com o consentimento da gestante, conforme será demonstrado.
Entende-se que a participação é possı́vel, por exemplo, nos casos dos que incentivam verbalmente
a ingestão pela gestante de medicamento abortivo. (ESTEFAM, 2016)
O produto da concepção é o sujeito passivo da conduta estudada. Autores como Júlio Mirabete,
compreendem que o feto não é o verdadeiro titular do bem jurı́dico, sendo o Estado e a comunidade
os verdadeiros sujeitos passivos do crime. Nesse caso, não seria sequer hipótese de crime contra a
pessoa. 
A segunda modalidade criminosa ainda se encontra no art. 124, na parte em que estipula “consentir
que outrem lhe provoque”. Nesse caso, não há prática do ato pela gestante, mas apenas sua anuência
para que outra pessoa nela realize o procedimento abortivo. Um caso comum é o da gestante que vai
até uma clı́nica abortiva.
Trata-se aqui de uma verdadeira exceção à teoria monista do crime (pela qual autor e coautor
respondem pelo mesmo delito), já que a gestante responde pelo crime na forma do art. 124,
enquanto o responsável pelo aborto responde pelo delito insculpido no art. 126, CP.
Tal delito também admite a �igura da participação, conforme mencionado por Gonçalves (2018).
Exemplo comum é o da pessoa que fornece dinheiro para a gestante procurar alguém para nela
realizar a conduta abortiva.
A terceira modalidade diz respeito à provocação do aborto com o consentimento da gestante,
conforme previsão do art. 126: “Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena – reclusão
de um a quatro anos”. O artigo também prevê, em seu parágrafo único que: “aplica-se a pena do
artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o
consentimento é obtido com emprego de fraude, grave ameaça ou violência”.
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O	autoaborto
Aborto	provocado	por	outro	de	maneira	consentida
Aborto	com	consentimento	da	gestante
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Menciona-se que há um tema comum para todas as modalidades de aborto criminoso: todos os crimes
possuem como objeto jurı́dico a vida humana intrauterina e se consumam com a efetiva morte do feto,
tratando-se, portanto, de crime	material.
A tentativa é possı́vel em todas as �iguras do aborto criminoso, bastando que a conduta direcionada à
provocação do aborto seja interrompida por motivos alheios à vontade do agente.
Não se pode deixar de ressaltar as causas de aumento de pena previstas no art. 127, CP. Consta que: “as penas
cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos
meios empregados para provoca-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por
qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte”.
Nota-se que tais hipóteses são aplicadas ao terceiro, que realiza oaborto com ou sem o consentimento da
gestante (tendo em vista que o art. 127 refere-se exclusivamente aos arts. 125 e 126). Certamente, não há
sentido em haver uma causa de aumento de pena à gestante que, por sua própria ação, causa lesão grave a si
mesmo durante o processo de abortamento. Tratam-se também de casos necessariamente preterdolosos –
dolo no delito de aborto e culpa no resultado, diz Busato (2017) – que podem ser reconhecidos quando a
morte ou a lesão grave forem consequências culposas do aborto.
1.2.2 Hipóteses de aborto legal
Não se pode estudar o delito de aborto sem compreender as hipóteses legais de aborto. Isso quer dizer que
existem casos em que o direito se exime de punir o abortamento praticado sob determinadas circunstâncias.
Conforme o art. 128, CP, o aborto não será punido quando: a) não houver outro meio para salvar a vida da
gestante; b) se a gravidez resultar de estupro e o aborto subsequente for precedido de consentimento da
gestante, ou de seu representante legal, quando ela for incapaz.
Nota-se que o principal fator diferenciador das duas últimas modalidades será justamente a
existência, ou não, do consentimento da gestante. No primeiro caso (art. 126), deve ocorrer de
forma livre e espontânea, motivo pelo qual o parágrafo único estipula pena mais grave para
situações em que esse consentimento ocorre de maneira viciada.
A presente hipótese se trata de crime comum, uma vez que qualquer pessoa poderá realizar a
conduta (não é necessário que o indivı́duo seja médico ou enfermeiro). E� plenamente possı́vel, para
esse caso, a associação de três ou mais pessoas para a montagem clandestina de clı́nica de aborto,
caracterizando também o delito de associação criminosa do art. 288, CP.
A última modalidade de aborto criminoso consta no art. 125: “Provocar aborto, sem o
consentimento da gestante: Pena – reclusão, de três a dez anos”. (GONÇALVES, 2018)
Trata-se da modalidade mais grave do delito de aborto, podendo ocorrer em duas diferentes
hipóteses: a) quando não há qualquer autorização por parte da gestante. Ocorre em situações como
em agressão fı́sica com o objetivo de fazer uma mulher grávida abortar; b) quando ocorre a
autorização, mas ela não possui qualquer valor jurı́dico em razão do que dispõe o parágrafo único
do art. 126, CP.
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Aborto	sem	consentimento	da	gestante
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O primeiro caso diz respeito ao chamado aborto	necessário	ou	terapêutico, conforme estipulado no inciso
I. Ocorre quando não há outra maneira de salvar a vida da gestante (já em risco), a não ser por meio da
realização do aborto, como nos casos da gravidez tubária (em que o óvulo fecundado não se implanta no
útero, mas em uma das trompas, acarretando possı́vel hemorragia interna).
Conforme Gonçalves (2018), não é necessário que haja risco atual ou iminente para a gestante (nesses casos,
existe a excludente de ilicitude do estado de necessidade), basta que se constate nos primeiros meses de
gestação, que poderá ocorrer risco com a continuidade da gravidez.
Importante dizer que, em qualquer das hipóteses permissivas, é imperativo que o aborto seja praticado por
médico.
Nos casos em que a gravidez resulta de estupro, trata-se do que se chama de aborto sentimental ou
humanitário, tendo em vista que uma gravidez indesejada ocorreu decorrente de ato sexual forçado.
Busato (2017) menciona que qualquer que seja a hipótese, também é importante que haja o consentimento da
gestante, ou de seu representante legal, no caso de comprovada incapacidade da gestora. Contudo, não há
necessidade de autorização judicial, nem mesmo prévia condenação do estuprador (no caso do aborto
humanitário). Basta que o médico se convença da ocorrência de uma violência sexual (não é necessário,
inclusive, a existência de boletim de ocorrência).
VOCÊ SABIA?
Há o aborto nos casos de anencefalia, con�igurada pela constatação médica da
ausência dos hemisférios cerebrais e do cerebelo no feto, tornando impossıv́el sua
vida extrauterina. O Plenário do STF, em 2012, julgou procedente a Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (n. 54), que foi ajuizada pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), declarando, por �im,
a constitucionalidade da interrupção da gravidez nos casos de gestação de feto
anencefálico. Conforme a Resolução 1.989/12 do Conselho Federal de Medicina,
em seu art. 1º, no caso de constatação inequıv́oca de anencefalia, o médico pode
realizar o aborto, desde que a pedido da gestante, sendo desnecessária qualquer
autorização estatal.
1.3 Hipóteses de condutas para o julgamento pelo tribunal
do júri e seu procedimento
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O júri é reconhecido pela nossa Constituição Federal como uma garantia do indivı́duo, presente no art. 5º,
XXXVIII. Atribui-se a esse tribunal a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
Constitui cláusula pétrea (art. 60, §4º, IV, CF) e não pode essa competência ser suprimida nem mesmo por
emenda constitucional.
E� possı́vel conceituar, conforme Gonçalves e Reis (2018), o tribunal do júri como um órgão jurisdicional de
primeiro grau da Justiça Comum Estadual e Federal, formado exclusivamente por cidadãos escolhidos por
meio de sorteio, temporariamente investidos de jurisdição, acompanhados de um juiz de direito.
São considerados crimes dolosos contra a vida aqueles previstos no Capı́tulo I, do Tı́tulo I da Parte Especial do
Código Penal. Admite-se o julgamento de suas formas consumadas ou tentadas (art. 74, §1º, CPP). Estão,
portanto, excluı́dos da apreciação pelo tribunal do júri, os delitos que incluem o resultado morte de forma
dolosa, mas que não estão listados no tı́tulo mencionado (como o latrocı́nio, julgado por juiz singular,
conforme estipulação da Súmula 603, STF).
Figura 2 - Diferente do direito consuetudinário norte-americano, onde o tribunal do júri é presente na
maioria dos julgamentos, o direito brasileiro admite sua competência apenas nos casos de crimes dolosos
contra a vida e crimes conexos no caso concreto (como ocultação de cadáver).
Fonte: Shutterstock, 2019.
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Importante ressaltar, conforme Lopes Júnior (2015), que a prerrogativa por foro será observada em detrimento
do próprio tribunal do júri, mas apenas caso tal prerrogativa estiver prevista na Constituição Federal, em
consonância com a Súmula Vinculante n. 45 do STF, que dispõe que a competência do tribunal do júri
prevalece sobre o foro por prerrogativa que for estabelecido apenas em constituição estadual.
1.3.1 Primeira fase do júri
Também chamada de iuditio	acusationis, ou mesmo de juı́zo de acusação, a primeira fase do júri tem inı́cio
com o oferecimento da denúncia ou da queixa-crime (apenas nos casos de ação penal privada subsidiária da
pública nos termos do art. 29, CPP). A denúncia, conforme Oliveira (2016), pode ser rejeitada ou recebida pelo
juiz, sendo que da decisão proferida que receba a denúncia, não é cabı́vel qualquer tipo de recurso. O que não
impede, entretanto, habeas	corpus (uma vez que não se trata de um recurso, mas um remédio constitucional).
Após a denúncia, o réu deverá ser citado para apresentar resposta	à	acusação em 10 dias.
Havendo rejeição da denúncia pelo magistrado, é cabı́vel a interposição de recurso	em	sentido	estrito pelo
Ministério Público. Essa possibilidade decorre do próprio Código de Processo ao dispor no art. 581, I: “Caberá
recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: I – que não receber a denúncia ou a queixa”.Uma vez que a defesa foi apresentada, deverá também o Ministério Público se manifestar sobre os documentos
apresentados no prazo de cinco dias.
Indaga-se, nesse momento, a respeito de ser ou não possı́vel a absolvição sumária (prevista no art. 397, CPP)
no âmbito da competência do júri – nas hipóteses legais de: I) existência manifesta de causa excludente de
ilicitude; II) existência manifesta de excludente de culpabilidade; III) não constituição de delito (o fato
narrado); ou IV) extinção de punibilidade.
Dispõe o art. 394, §4º, CPP que as disposições dos arts. 395 a 398 (enquadrando-se aı́ o art. 397) são
aplicadas a todos os procedimentos penais de primeiro grau, de modo que é possı́vel, portanto, a absolvição
sumária na primeira fase do júri. E� importante destacar que a doutrina não é pacı́�ica nesse ponto. Reis e
Gonçalves (2018) compreendem não haver lugar no procedimento do júri para a aplicação do art. 297, tendo
VOCÊ O CONHECE?
Aury Lopes Júnior é um processualista brasileiro graduado pela Fundação
Universidade Federal do Rio Grande, no ano de 1991 Especializou-se e doutorou-se em
Direito Processual Penal pela Universidade Complutense de Madrid, no ano de 1999.
Atualmente, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais na
Pontifıćia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, estuda e escreve a respeito de
importantes questões referentes ao direito processual penal, como seu manual de
Direito Processual Penal (2015).
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em vista que a lei prevê oportunidade diversa para a absolvição sumária nos processos de competência do
júri. Também decidiu pela negação da aplicação do artigo em questão, uma decisão da Quinta Turma do STJ no
Recurso Ordinário Constitucional no HC n. 52.086/MG, de relatoria do Ministro Jorge Mussi. Havendo,
contudo, absolvição sumária do réu, nada impedirá eventual apelação por parte do Ministério Público.
Não havendo absolvição sumária, deverá ser designada a audiência de instrução e julgamento, onde serão
ouvidas as testemunhas de acusação e defesa, não sendo permitido mais que oito testemunhas para cada parte.
Também ocorre nesse momento os esclarecimentos de peritos e assistentes técnicos. O réu será, ao �inal,
interrogado.
Conforme Oliveira (2016), as razões �inais são feitas normalmente de forma oral, havendo prazo máximo de
vinte minutos para cada parte (prorrogáveis apenas por mais dez minutos). Menciona-se, entretanto, o art.
394, §5º, do CPP, em sua previsão sobre a possibilidade de aplicação subsidiária das disposições do rito
comum ordinário em rito especial. Cabe, assim, a possibilidade de apresentação de razões �inais por escrito
no prazo máximo de cinco dias.
Tourinho Filho (2018) bem menciona as quatro possı́veis decisões que podem ser tomadas pelo juiz após a
apresentação das razões �inais. Clique a seguir para conhecê-las.
VOCÊ QUER VER?
O documentário A	 in�luência	da	mídia	no	 tribunal	do	 júri	 (2016), é uma interessante
obra, que conta com entrevistas e análises do papel midiático na sociedade,
demonstrando como o tribunal do júri pode sofrer in�luências externas. O vıd́eo parte
da entrevista de diversos operadores do direito (como defensores públicos e juıźes) e
também com jornalistas e jurados. Clique no link <https://www.youtube.com/watch?
v=y9zouXAc6FU (https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU)> para ter mais
informações. Você vai gostar!
Impronúncia
Conforme previsão do art. 414, CPP, ocorrerá a impronúncia quando
não houver qualquer comprovação de materialidade ou indı́cios de
autoria do investigado. Importante lembrar que o fato de ter ocorrido
https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU
https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU
https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU
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Entendendo o juiz que se trata de caso de pronúncia, ocorrerá, �inalmente, a segunda fase do júri.
1.3.2 Segunda fase do júri
A segunda fase do tribunal do júri também recebe o nome de judicium causae. Ocorre apenas com o trânsito
em julgado da decisão de pronúncia. Inicia-se com a intimação do réu nos termos do art. 420, CPP. Apesar da
regra da intimação pessoal, será possı́vel a intimação por edital nas hipóteses em que o réu não for
encontrado.
Navegue no recurso abaixo e conheça como acontece essa segunda fase.
Absolvição sumária
Desclassi�icação
a impronúncia não gera coisa julgada, de modo que é possı́vel haver
o oferecimento nessa denúncia em momento posterior. Da decisão
de impronúncia cabe apelação nos termos do art. 416, CPP.
Ocorre quando houver provas da inexistência do crime ou de que o
réu não o praticou. Também ocorre quando se prova que o fato
investigado não for crime ou caso haja qualquer excludente de
culpabilidade ou ilicitude, em consonância com o art. 415, CPP.
Também é possı́vel a apelação nos ditamos do art. 416, CPP.
Acontece nas hipóteses em que o magistrado compreende que há
crime no caso contrato, mas tal crime investigado não é de
competência do júri, devendo o processo ser remetido ao juı́zo
competente nos termos do art. 419, CPP. Um clássico exemplo,
mencionado por TOURINHO FILHO (2018), é da veri�icação da
prática de homicı́dio culposo (saindo, portanto, da seara dos crimes
dolosos contra a vida).
Da desclassi�icação não cabe apelação, mas recurso em sentido
estrito, conforme o art. 581, II, CPP.
Após a intimação, as partes (réu e Ministério Público) terão cada uma o prazo de cinco dias para
apresentar a lista de testemunhas para depor em plenário. O número máximo de testemunha é de
cinco e, nesse momento, poderão ainda ser juntados documentos ou requerida qualquer
diligência.
E� na deliberação judicial (art. 423, CPP) que o magistrado fará o relatório processual, deferindo
provas e marcando a data do plenário. Importante mencionar que poderá ocorrer o
desaforamento, deslocando-se a competência territorial do júri para a comarca mais próxima.
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Ele pode ocorrer nos casos de interesse de ordem pública, dúvida sobre a imparcialidade do
próprio júri ou mesmo em questões relacionadas à segurança do réu, em conformidade com o ar.
427, CPP. Para Lopes Júnior (2015), o desaforamento é uma medida extrema, representando até
mesmo uma violação da competência em razão do lugar, existindo apenas sua possibilidade na
segunda fase do júri. E� necessário, para o desaforamento, uma audiência da defesa, em
consonância com a Súmula 712, do STF.
Não havendo hipótese para desaforamento, serão convocados vinte e cinco jurados para o
momento do julgamento. Um mı́nimo de 15 jurados deve comparecer sob pena de nulidade do
procedimento (art. 564, III, i, CPP). Serão sorteados, dos jurados que comparecerem, um total de
sete para compor o conselho de sentença. 
Ressalta-se dois pontos relevantes: 1) tanto a defesa quanto a acusação, pode recusar até três
jurados, conforme critérios técnicos ou até mesmo ı́ntimos; 2) os atos da sessão plenária
seguirão a mesma ordem da audiência de instrução anterior, com a oitiva da vı́tima, inquirição de
testemunhas de acusação e posteriormente de defesa, peritos, assistentes técnicos e eventuais
requerimentos e, ao �inal, o interrogatório).
Ocorrem, posteriormente, os debates orais, fase em que a acusação e defesa tentarão persuadir os
jurados, cada qual com seus argumentos (art. 476, CPP).
O prazo para cada parte, conforme lembra Reis e Gonçalves (2018), é de meia hora. Caso o
Ministério Público opte pela réplica, haverá um prazo de maisuma hora para fazê-lo
(possibilitando, assim, a tréplica pela defesa por igual perı́odo de tempo).
Indaga-se: o prazo é o mesmo em casos em que há mais de um réu sendo acusado? Nessa
hipótese, será acrescida uma hora para cada um de tais prazos.
Os jurados (caso não haja nenhuma dúvida por parte deles a ser sanada) serão, então, chamados
para a sala secreta, não podendo haver a presença de nenhuma pessoa além deles, do juiz de
direito, do Ministério Público e da defesa. Trata-se do momento da votação, previsto nos arts. 482
a 491, CPP.
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Uma vez sendo encerrada a votação e tendo sido assinado o termo referente às respostas dos quesitos, deverá
o juiz proferir a sentença. Menciona Tourinho Filho (2018) que no caso de absolvição, o juiz deverá colocar o
réu imediatamente em liberdade (exceto nos casos de prisão por outro motivo). Na hipótese de condenação, o
juiz �ixará a pena-base levando em consideração as circunstâncias agravantes e atenuantes, bem como causas
de aumento e diminuição de pena, enviando o réu à prisão em que se encontra, havendo requisitos para a
prisão preventiva.
Cada um dos jurados receberá uma cédula com os dizer “sim” e outra com o dizer “não”, para a
votação em cada um dos seguintes quesitos legais e nesta determinada sequência: 1)
Materialidade; 2) Autoria; 3) Absolvição do réu; 4) Análise da tese de defesa; 5) Análise da tese de
acusação.
1.4 Os princípios da plenitude de defesa; sigilo das
votações; e soberania dos vereditos
Embora seja atribuição do Código de Processo Penal, regulamentar a organização do júri, a Constituição
Federal estabeleceu importantes diretrizes para sua boa instituição e funcionamento. Tais diretrizes são
expressas por meio dos princı́pios básicos que você conhece clicando a seguir. 
No júri é cabı́vel a utilização de argumentos de cunho moral, ou até mesmo religioso. para a ı́ntima
convicção do julgador. A plenitude de defesa, conforme Tourinho Filho (2018), trata-se da
possibilidade do réu se bene�iciar dessa forma de julgamento. Assim, é plenamente possı́vel que
informações que não constem nos autos, podem in�luenciar a decisão de um jurado. Importante
ressaltar que essa defesa não substituiu o contraditório e nem funciona como uma carta branca às
provas ilegais para o réu, mas um modo para garantir a paridade de armas na relação processual.
Também diz respeito à plenitude de defesa, o fato de que o juiz pode declarar o réu indefeso e
dissolver o Conselho de Sentença, caso entenda que o desempenho de seu defensor é insu�iciente
(conforme o art. 487, V, CPP).
Tem como objetivo principal a manutenção dos jurados a salvo de qualquer forma de ameaça ou
constrangimento. Reis e Gonçalves (2018) mencionam que não há qualquer forma de
incompatibilidade entre o princı́pio do sigilo das votações e a publicidade dos julgamentos
(previstos, respectivamente, nos arts. 5º, XXXVIII e 93, IX, CF). O art. 487, do Código de Processo
penal foi alterado pela Lei 11.689/08, de modo que não é mais necessário constar o número de
votos que foram dados na forma negativa ou a�irmativa aos quesitos, sendo assim respeitado o
sigilo das votações e a soberania dos vereditos.
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Plenitude	de	defesa
Sigilo	das	votações
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Antes que se possa discutir o funcionamento do tribunal do júri, é importante mencionar suas principais
caracterı́sticas expostas pela doutrina (GONÇALVES; REIS, 2018). São elas:
Temporariedade: O tribunal do júri é um órgão jurisdicional, mas
sem caráter permanente, sendo constituído apenas em
determinados momentos para a apreciação de causas de sua
competência, sendo dissolvido posteriormente.
Colegiado: Trata-se de órgão integrado por diversos membros,
não apenas um juiz singular.
Heterogeneidade: O tribunal é composto por diferentes
membros, quais sejam: um juiz de direito (juiz presidente) e vinte e
cinco jurados (juízes leigos). Dentro dos jurados, sete são
sorteados a cada julgamento para a formação do conselho de
sentença.
Decisão majoritária: As decisões do júri são tomadas apenas por
meio da maioria simples dos votos proferidos.
Trata-se de impossibilidade de a decisão proferida pelo tribunal do júri ser substituı́da por órgãos
jurisdicionais de instância superior em relação à improcedência ou procedência da pretensão
punitiva. Esse princı́pio, porém, não diz respeito aos casos em que os tribunais de segundo grau ou
superiores anulam um veredito devido à ocorrência de vı́cio processual. Também não impede,
conforme mencionado por OLIVEIRA (2016), que um veredito seja cassado por ser manifestamente
contrário à prova dos autos. Nesse caso, deve o julgador determinar que o acusado seja submetido a
novo julgamento pelo júri, conforme entendimento já consolidado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF, HC 134.412, 2ª Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 07/06/16, publicado em:
16/06/16).
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Síntese
O capı́tulo chega ao seu �im, tendo sido abordados os principais temas relacionados aos crimes dolosos
contra a vida, incluindo o procedimento do julgamento de tais delitos pelo tribunal do júri.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
compreender os crimes contra a vida (dolosos e culposos) e seu
processamento;
distinguir as diferentes formas de homicídio (simples, qualificado
e privilegiado);
reconhecer as hipóteses legais do crime de aborto;
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Soberania	dos	vereditos
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analisar os princípios fundamentais do júri;
estudar as diferentes fases presentes no tribunal do júri, nas
hipóteses possíveis de sua competência.
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Bibliografia
BRITO, D. V. [et. al.] A in�luência da Mı́dia no Tribunal do júri. 2016. Disponı́vel em:
<https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU (https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU)>.
Acesso em: 05/07/2019.
BUSATO, P. C. Direito Penal: Parte especial: 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
ESTEFAM, A. [et. al.] Direito Penal Aplicado: Parte Especial do Código Penal. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 
GONÇALVES, V. E. R. Direito Penal Esquematizado: 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
GONÇALVES, V. E. R; REIS, A. C. A. Direito processual penal esquematizado: 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
LOPES, J. A. Direito processual penal: 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
MIRABETE, J. F. Manual de direito penal: parte especial. Rio de Janeiro: Atlas, 2018.
MELLO, A. R. Feminicı́dio: uma análise sociojurı́dica da violência contra a mulher no Brasil. São Paulo: Editora
GZ, 2016.
OLIVEIRA, E. P. Curso de processo penal. 20. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2016. 
TOURINHO, F. C. F. Manual de Processo Penal: 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU
https://www.youtube.com/watch?v=y9zouXAc6FU

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