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dos crimes contra a dignidade sexual, dos crimes contra a honra e violência doméstica

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10/04/24, 19:42 Crimes em Espécie
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CRIMES	EM	ESPÉCIE
UNIDADE 3 – PRINCIPAIS CRIMES EM
ESPE� CIE: DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE
SEXUAL, DOS CRIMES CONTRA A HONRA E
VIOLE� NCIA DOME� STICA
Ronaldo Félix Moreira Júnior
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Introdução
O presente capı́tulo trata de delitos de grande relevância para o estudo do Direito Penal, principalmente no que
diz respeito aos delitos contra a dignidade sexual. Após diversas alterações, principalmente devido às Leis
12.015/09 e 13.718/18, é comum que diversas dúvidas possam surgir sobre temas de relevância para a lei,
tais como: existe o delito de atentado violento ao pudor? O que diferencia o estupro do estupro de
vulnerabilidade? Existe alguma informação constante na lei a respeito do que é vulnerabilidade?
Com o objetivo de responder a essas indagações, o texto terá inı́cio com a análise dos crimes contra a
dignidade sexual: o capı́tulo I do Código Penal (crimes contra a liberdade sexual) e Capı́tulo II (crimes sexuais
contra vulnerável).
Importante mencionar que, juntamente a tais delitos, é preciso compreender alguns aspectos da violência
doméstica e familiar, especialmente em sua relação com os delitos apresentados.
Além dos pontos mencionados, o presente capı́tulo também traz informações a respeito dos crimes contra a
honra (calúnia, injúria e difamação), de modo que serão apresentadas as diferenças entre esses tipos penais,
bem como suas principais modalidades delituosas.
O conteúdo está bem atraente, tenho certeza de que você vai aprender muito. Continue lendo!
3.1 A diferenciação entre os delitos de estupro e estupro de
vulnerável
Quando se fala em liberdade sexual, fala-se em uma liberdade de escolha do parceiro sexual e até a liberdade
em exercer a atividade sexual em si (PRADO, 2015). Contudo, de algumas maneiras, essa liberdade pode ser
viciada, principalmente devido à: 1) violência ou grave ameaça (estupro); 2) fraude (violação sexual mediante
fraude). Alguns indivı́duos, entretanto, não possuem a plena capacidade de exercer essa liberdade. Tratam-se
dos vulneráveis.
3.1.1 O delito de estupro
O delito em questão encontra-se previsto no art. 213, CP, que prevê: “Constranger alguém, mediante violência
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena – reclusão, de seis a dez anos”.
Algumas caracterı́sticas do delito podem ser facilmente identi�icadas. Nos termos de Gonçalves (2018), a
objetividade jurı́dica se trata da livre possibilidade de escolha do parceiro sexual ou, como mencionado, a
liberdade de escolher realizar o ato sexual em si. 
A seguir, clique e conheça mais sobre o delito de estupro:
Necessidade	de	coação
Quanto ao tipo objetivo, é preciso que a vı́tima seja coagida à realização do ato sexual, sendo
necessário, para tanto, o emprego da violência ou grave ameaça.
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Antes	da	Lei	n.	12.015/09
O Código Penal, antes da Lei n. 12.015/09, previa o delito de atentado violento ao pudor, de
modo que estupro se con�iguraria com a prática de conjunção carnal (penetração vaginal) e o
atentado violento ao pudor estava vinculado à pratica de qualquer outro ato libidinoso. 
Atual	legislação
O estupro estará con�igurado tanto nas hipóteses de conjunção carnal quanto nas de prática de
qualquer ato libidinoso diverso. Não é exigido contato fı́sico entre o autor do delito e a própria
vı́tima (no caso, por exemplo, da vı́tima ser compelida a realizar algum ato em terceiro ou em si
própria). 
Constrangimento	ilegal
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Em relação aos meios de execução que podem ser utilizados no delito, sabe-se que o estupro pressupõe a
existência de violência ou grave ameaça. E� plenamente possı́vel que ocorra o crime por meio de omissão,
como no caso da mãe que se omite em evitar que seu companheiro mantenha relações sexuais violentas com a
�ilha (GONÇALVES, 2018). Admite-se tal hipótese, pois há, por parte da mãe, o dever jurı́dico de proteção.
Dessa maneira, o delito de estupro (pós Lei 12.015/09) tornou-se crime comum, de modo que pode ser
praticado por qualquer pessoa, seja homem ou mulher, admitindo-se facilmente a coautoria ou participação.
Em relação ao sujeito passivo do delito, é claro que qualquer ser humano pode ser vı́tima do delito, mas
existem algumas especi�icidades. Estupro em maior de 14 e menor de 18 anos é quali�icado pela idade da
vı́tima (§1º, do art. 213). Na hipótese de a vı́tima ser menor de 14 anos ou se encontrar em outro estado de
vulnerabilidade, será hipótese de estupro de vulnerável (art. 217-A).
Ainda quanto ao sujeito passivo, é importante mencionar a Lei n. 11.106/05, que acrescentou ao art. 226, II, CP,
a previsão de aumento de pena (da metade) nos crimes sexuais cometidos por cônjuge ou companheiro.
Consuma-se o delito com a prática do ato libidinoso ou com a conjunção carnal, ainda que parcial. Admite-se,
além disso, a tentativa, uma vez que se trata de crime plurissubsistente. 
Quanto ao elemento subjetivo do delito, sabe-se que não há qualquer exigência em satisfazer a própria libido,
uma vez que é claramente possı́vel a con�iguração do delito do estupro se a intenção do agente era, por
exemplo, de se vingar da vı́tima ou humilha-la com a prática de um ato sexual ou similar (ESTEFAM, 2016).
Importa que a liberdade sexual da vı́tima seja prejudicada pelo emprego da violência ou grave ameaça,
desnecessário saber, nesse ponto, qual a motivação real do criminoso. Um claro exemplo é o que dispõe o art.
226, IV, b, CP, ao trazer o aumento de pena de um terço a dois terços quando o estupro é utilizado para
controlar o comportamento social ou sexual da vı́tima (estupro	corretivo), conforme foi disposto pela Lei
13.718/18.
Ainda é importante ressaltar, quanto ao delito, que, por se tratar de tipo misto alternativo, caso sejam
realizados contra a mesma vı́tima diversos atos libidinosos ou atos de conjunção carnal (dentro de um
mesmo contexto fático), o agente responderá por um único crime. A pluralidade dos atos, porém, não deve ser
ignorada pelo magistrado, sendo analisada no momento de �ixação da pena.
Caso a vı́tima seja obrigada a assistir um ato sexual envolvendo outras pessoas, o crime não será
de estupro, mas constrangimento ilegal, na forma do art. 146, CP.
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Nota-se que no caso de diversos estupros contra a mesma vı́tima, mas em momentos distintos, será hipótese
de crime	continuado, não havendo qualquer possibilidade, nesse caso, de se reconhecer um único crime.
Apesar disso, é plenamente possı́vel que ocorra concurso	 de	 crimes (formal) entre estupro e perigo de
contágio de moléstia venérea (art. 130, CP), desde que o estuprador saiba ou (deva saber) que está
contaminado com doença venérea e ainda assim obrigue a vı́tima a manter com ele relação sexual, expondo-a
ao risco de transmissão.
3.1.2 Formas qualificadas do delito de estupro
Mencionou-se a hipótese em que o delito é praticado com vı́tima menor de 18, mas maior de 14 anos, hipótese
quali�icadora do §1º, do art. 213. No entanto, o mesmo parágrafo também dispõe que será quali�icado o delito
se da mesma conduta resultar lesão corporal de naturezagrave. Para ambos os casos, a pena será de reclusão
de oito a doze anos.
Para conhecer o que estipula o artigo, navegue no recurso abaixo:
VOCÊ QUER LER?
O livro “Crimes Sexuais”, de Israel Domingos Jório (2018), trata de uma atual análise
dos delitos praticados contra a dignidade sexual, com pertinentes comentários acerca
das mais recentes alterações legislativas, como o lenocıńio e o trá�ico de pessoa para o
�im de prostituição ou outra forma de exploração sexual. Vale a pena você conferir!
E� preciso que a lesão seja grave (tal como prevista no delito de lesão corporal), uma vez que leves
escoriações ou pequenos ferimentos decorrentes da violência empregada pelo estuprador são
absorvidas pelo crime-�im (o delito de estupro).
Essa hipótese de quali�icadora é exclusivamente preterdolosa, de modo que a lesão grave deve
ocorrer em razão do estupro, não como motivo real do agente (o que poderia ensejar, por
exemplo, a existência de um concurso material nos casos em que o agente deseja lesionar a vı́tima
e posteriormente estuprá-la, ou lesioná-la, após o estupro para que ela não possa correr para
pedir socorro).
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Nos termos do §2º, o estupro também pode ser quali�icado pelo resultado morte, com pena prevista de doze a
trinta anos. Também se trata de hipótese exclusivamente preterdolosa, de modo que é necessária culpa quanto
à morte. Diferentemente, é o caso do indivı́duo que, após realizar o estupro, mata a vı́tima para que ela não
possa divulgar o ocorrido. Nesse caso, ocorreu a prática do delito de estupro em concurso material com o
delito de homicı́dio. Há, assim, julgamento pelo tribunal do júri (crime de homicı́dio). (TOURINH FILHO,
2018). O estupro quali�icado pela morte é, entretanto, julgado pelo juı́zo singular. Mais uma vez, importa dizer
que a forma quali�icada exige que a morte decorre da conduta, seja ela da violência empregada ou da grave
ameaça utilizada pelo criminoso.
A lei 8.072/90 (também chamada de Lei dos crimes hediondos) estabelece, em seu art. 1º, V, que o estupro
(seja tentado ou consumado), nas hipóteses do caput e parágrafos 1º e 2º, é considerado crime hediondo (ou
seja, tanto na modalidade simples, quanto os delitos em suas formas quali�icadas).
3.1.3 Causas de aumento de pena do delito de estupro
A lei 12.015/09 trouxe novas disposições gerais aos delitos sexuais, contudo, tal alteração fez com que
houvesse dois capı́tulos relacionados a disposições gerais (capı́tulos IV e VII). E� preciso mencionar que,
enquanto um desses capı́tulos (art. 226) diz respeito a causas de aumento de pena aos arts. 213 a 218, as
outras causas se relacionam a todos os crimes contra a dignidade sexual (art. 234-A).
Vamos conhecer mais sobre o aumento de pena aplicadas a este delito clicando a seguir:
E� de extrema importância ressaltar que, conforme Estefam (2016), a Lei 12.015/09 alterou
drasticamente também esse ponto da legislação, de forma que a quali�icadora da lesão grave não
mais deva ocorrer da violência empregada, mas da conduta do agente. Assim, torna-se possı́vel a
hipótese quali�icada quando a lesão grave decorra até mesmo da grave ameaça (quando o
psicológico da vı́tima for abalado e isso trouxer sequelas duradouras).
Em relação ao estupro praticado contra vı́tima menor de 18 anos, mas maior de 14 anos, também
importa dizer que a Lei 12.650/12 estabelece que o lapso prescricional começará a correr apenas
quando a vı́tima completar 18 anos de idade, exceto nos casos em que a ação penal já houver sido
proposta. Se a vı́tima já possuı́a 18 anos no momento da consumação do delito, o prazo
prescricional passa a correr a partir dessa consumação nos termos do art. 111, I, CP.
Quanto ao art. 226, a primeira causa de aumento de pena diz respeito ao crime cometido com o
concurso de duas ou mais pessoas (a pena será aumentada de quarta parte). Compreende Prado
(2015), que tal causa de aumento é aplicada a casos de coautoria e participação.
•
•
Crime	cometido	com	o	concurso	de	duas	ou	mais	pessoas
Hipóteses	relacionadas	ao	fato	de	o	agente	ser	ascendente
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Importante mencionar que uma pessoa contaminada por AIDS (sı́ndrome da imunode�iciência adquirida) que
comete crime de estupro e transmite efetivamente a doença, responde pelo estupro e também por lesão
corporal gravı́ssima pela transmissão de moléstia incurável (nos termos do art. 129, §2º, II, CP).
Menciona-se, consoante ao art. 225, CP, alterado pela Lei 13.718/18, que todos os delitos nos Capı́tulos I e II
do Tı́tulo relacionado aos crimes contra a dignidade sexual, são processados mediante ação pública
incondicionada.
E� de extrema importância mencionar que a violência sexual também se enquadra no que a Lei Maria da Penha
(Lei 11.340/05) considera como violência doméstica e familiar contra a mulher, conforme dispõe em seu art.
5º. 
Nesse sentido, além dos rigores do Código Penal, a lei mencionada traz medidas que o juiz pode decretar de
maneira provisória contra o agressor, entre elas (art. 22): suspensão da posse ou restrição do porte de armas;
afastamento do lar, domicı́lio ou local de convivência com a ofendida; proibição de determinadas condutas,
O inciso II do art. 226 já trata do aumento de pena da metade nas hipóteses relacionadas não apenas
à violência doméstica, mas ao fato de o agente ser ascendente, padrasto, madrasta, tio, irmão,
cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vı́tima (que tenha sobre ela
qualquer outro tı́tulo de autoridade).
Pode-se dizer, portanto, que se trata de toda e qualquer relação de fato ou de direito que demonstra a
clara existência de uma autoridade do autor do delito sobre a vı́tima. Certamente, uma vez existente
essa causa de aumento de pena, não poderá ser aplicada a agravante genérica presente no art. 61,
inciso II, alı́nea e, do Código Penal.
A tı́tulo de curiosidade, a mesma lei que instituiu as presentes causas de aumento de pena no art.
226 (Lei 11.106/05), revogou o inciso III do mesmo artigo, que dispunha de causa de aumento de
pena pelo fato de o autor do delito ser casado com uma terceira pessoa.
A Lei 13.718/18, porém, trouxe nova hipótese de aumento de pena de um terço a dois terços, nas
hipóteses em que o estupro ocorrer 1) mediante o concurso de dois ou mais agentes (não se trata,
nesse ponto, de dupla penalidade, uma vez que o inciso art. 226, IV, a, CP diz respeito apenas ao
delito de estupro e estupro de vulnerável e não aos demais); 2) para controlar o comportamento
social ou sexual da vı́tima.
Quanto às causas de aumento do art. 234-A, os incisos III e IV foram trazidos pela Lei 13.718/18,
enquanto os incisos I e II foram revogados pela lei 12.015/09.
O terceiro inciso trata do aumento de pena (de metade) nas hipóteses em que o estupro resulte de
gravidez, devendo ser necessariamente demonstrado que a concepção se resultou do delito. O
quarto inciso trata de um aumento de um sexto até a metade, se ocorrer a efetiva transmissão à
vı́tima de doença sexualmente transmissı́vel (que o agente sabe que tem ou deveria saber).
•
•
Outras	hipóteses	para	aumento	de	pena
Estupro	que	resulte	de	gravidez	e	com	transmissão	de	doença	sexualmente	transmissível
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como a aproximação da ofendida e de seus familiares; restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
menores; e prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
3.2 A noção de vulnerabilidade e as Leis 12.015/09 e
13.718/18
Uma vez que foi analisado o delito de estupro e tendo sido estabelecidas algumas diferenças entre esse delitoe
o chamado estupro de vulnerável, é preciso analisar o conceito trazido pela legislação de vulnerabilidade. Para
tanto, é necessário que se tenha noção completa das principais caracterı́sticas do delito de estupro de
vulnerável, previsto no art. 217-A. Entretanto, é importante mencionar que esse não é o único delito que trata
da situação do vulnerável no contexto dos crimes sexuais. O capı́tulo II trata dos crimes sexuais contra
vulnerável e tipi�ica as seguintes condutas: 1) Estupro de vulnerável (art. 217-A); 2) Corrupção de menores
(art. 218); 3) Satisfação da lascı́via mediante presença de criança ou adolescente (art. 218-A); 4)
Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de
vulnerável (art. 218-B); e 5) Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de
sexo ou de pornogra�ia (art. 218-C). 
3.2.1 Estupro de vulnerável
Trata-se de crime compreendido no art. 217-A, ao tipi�icar a conduta de ter conjunção carnal ou praticar
qualquer outro ato libidinoso com menor de 14 anos. A pena prevista é de reclusão de oito a quinze anos.
O artigo em questão não pode ser analisado isoladamente, de modo que o §1º estipula que irá incorrer nas
mesmas penas aquele que pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou de�iciência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência.
Entende-se, deste modo, que vulnerabilidade não é um aspecto vinculado apenas à idade da vı́tima, mas à sua
capacidade de compreender o contexto das ações.
Logo, pode-se compreender, conforme Busato (2017), que a dignidade sexual das pessoas consideradas
vulneráveis é o objeto jurı́dico de proteção da lei penal nesse caso. Deve-se relembrar que se trata de crime
hediondo, seja na forma simples ou quali�icada (conforme o art. 1º, VI, Lei 8.072/90).
Quanto ao tipo objetivo, a Lei 12.015/09 estabeleceu objetivamente a caracterização do delito com o ato de
manter relacionamento sexual com qualquer pessoa que se enquadre na condição de vulnerável. Nesse caso,
conforme Estefam (2016), presume-se a violência, não importando se a pessoa em questão (como no caso de
alguém menor de 14 anos) já possua uma vida sexual ativa.
E� claro que o indivı́duo deve estar ciente da condição de vulnerabilidade da pessoa, uma vez que o erro de tipo
é a única condição que poderá afastar o delito, nesse caso. O autor deverá, contudo, provar que não havia
condições de saber da real condição da vı́tima.
Apesar disso, o disposto pela Lei 13.718/18 determinou que as penas relacionadas ao delito (§§1º, 3º e 4º)
serão aplicadas, independente do consentimento da vı́tima ou mesmo do fato de ela ter mantido relações
sexuais anteriores ao fato delituoso.
Deve-se explicar claramente o que a lei quer dizer com pessoas que, por qualquer outra causa, não podem
oferecer resistência. Trata-se, conforme Gonçalves (2018), de qualquer fator incapacidade, como doença,
paralisia corporal, idade avançada, desmaio etc. 
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Muito embora esteja-se falando de crime no qual o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, o sujeito ativo deve
ser necessariamente pessoa vulnerável, seja pela idade ou por outra condição. Ambas hipóteses derivam da
Lei 12.015/09.
3.2.2 Formas qualificadas do estupro de vulnerável e demais características
A primeira hipótese quali�icadora para o delito se encontra no art. 217-A, em seu parágrafo terceiro. Trata-se da
lesão corporal de natureza grave, como conduta resultante do delito primário. A pena, nesse caso, é de dez a
vinte anos de reclusão. O quarto parágrafo trata da morte como resultado do delito, com pena de reclusão de
doze a trinta anos.
As duas hipóteses previstas são preterdolosas, em que há uma necessidade de dolo na primeira conduta
(estupro) e culpa no resultado previsto (lesão grave ou morte). Havendo o desejo em realizar qualquer dos
resultados previstos, ou mesmo a assunção do risco (dolo eventual), o indivı́duo deverá responder pelo delito
de estupro de vulnerável em seu caráter simples, mas em concurso material com o crime de lesão corporal
grave ou homicı́dio doloso.
Quanto às causas de aumento de pena, é preciso a�irmar que se aplicam ao delito de estupro de vulnerável,
aquelas mencionadas tanto no art. 226 (I, II e IV), quanto aquelas do art. 234-A (III e IV).
Não há mais o que se discutir em relação à ação penal para tal delito. Da mesma forma que no delito de
estupro (art. 213, CP), a ação penal para o estupro de vulnerável (art. 217-A) será pública incondicionada, nos
termos do art. 225, CP, alterado pela Lei 13.718/18.
Importante destacar ainda que o processo relacionado ao delito em questão (bem como todos os relacionados
ao Tı́tulo) correrá em segredo de justiça, nos termos do art. 234-B, CP.
Apesar disso, conforme o art. 111, V, do CP, alterado pela Lei n. 12.650/12, o inı́cio do lapso prescricional no
que diz respeito aos crimes contra a dignidade sexual de criança ou adolescente (estejam eles previstos no CP
ou em lei especial), ocorre no momento em que a vı́tima completar 18 anos, a não ser que a ação penal já
tenha tido inı́cio em momento anterior.
CASO
Um indivıd́uo que, em uma festa, encontra uma garota com quem havia
combinado previamente, percebe que ela já se encontrava em um estado de
completa embriaguez. Ainda assim, o indivıd́uo a leva para casa e, sabendo de seu
estado de inconsciência, mesmo não tendo dado causa a ele, acaba por praticar
conjunções carnais com a garota.
Trata-se de um claro exemplo de estupro de vulnerável, levando em consideração
que a vulnerabilidade, nesse caso, decorre da incapacidade da vıt́ima em
compreender o fato ocorrido ou de oferecer resistência, sendo desnecessária a
violência ou grave ameaça.
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3.3 Análise dos crimes contra a honra e principais aspectos
dos delitos de calúnia, injúria e difamação
No que pese a existência de recentes alterações no Código em relação aos delitos contra a dignidade sexual,
contemporaneamente outros delitos têm sido discutidos e presenciados de forma muito evidente pela mı́dia
(JO� RIO, 2018). Dessa forma, devido à atualidade de tais delitos, é preciso que se tenha um aprofundado
conhecimento em relação às suas caracterı́sticas.
O capı́tulo também será responsável por tecer algumas informações a respeito dos crimes contra a
administração pública, explicando os delitos cometidos por servidores públicos – chamados por autores,
como Gonçalves (2018) de crimes funcionais – e aqueles cometidos por particulares. 
Continue a sua leitura!
3.3.1 Dos crimes contra a honra
A proteção à honra, como bem jurı́dico, decorre do próprio texto constitucional, conforme disposto no art. 5º,
X, ao estabelecer que a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas são caracterı́sticas
invioláveis. São delitos contra a honra: a calúnia, a injúria e a difamação, cada qual com suas próprias
caracterı́sticas, conforme demonstrado a seguir.
3.3.2 Calúnia
Trata-se de crime estabelecido no art. 138, do Código Penal. Consta no tipo penal: “Caluniar alguém,
imputando-lhe falsamente fato de�inido como crime: Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa”.
Também responderá pelo delito aquele que divulgar a informação, sabendo da falsa imputação (nos termos no
parágrafo primeiro do artigo em questão).
Sabe-se que a honra	objetiva	é o bem protegido pela tipi�icação. Essa honra objetiva é traduzida na reputação
das pessoas perante o meio social em que vivem.
Conforme bem menciona Gonçalves (2018), é preciso que haja no crime de calúnia, uma imputação defato
determinado que seja de�inido como crime. Também é requisito ao delito, que essa informação seja falsa, uma
vez que será fato atı́pico a situação em que a imputação for verdadeira.
Gonçalves (2018) menciona ainda, que a falsidade da imputação pode se referir a duas diferentes questões: 1)
A existência em si de um fato criminoso; 2) A falsidade quanto à autoria do crime. Nesse caso, sabe-se que o
delito existiu, mas o agente tem ciência de que a pessoa relacionada não pode ter sido seu autor, mas, mesmo
assim, a ele atribui tal responsabilidade.
Nota-se, portanto, que a falsidade da imputação é o elemento	normativo do delito em questão. Uma vez que
o agente acredite que a informação é verdadeira, não responderá pelo delito por ocorrer, nesse caso, o erro de
tipo (que deve ser claramente demonstrado).
Quanto ao elemento	subjetivo	do delito, trata-se do dolo de ofender a honra objetiva da vı́tima, seja por dolo
direto (quando o agente sabe da falsidade da imputação) ou por dolo eventual (quando demonstra não ter
certeza).
Importa dizer, nos termos de Estefam (2016), que o delito de calúnia se diferencia da denunciação caluniosa
(art. 339, CP), outro delito estabelecido pelo Código Penal (nos crimes contra a administração da justiça), nos
pontos que você conhece clicando a seguir:
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1) Enquanto a calúnia pressupõe uma intenção de
afetar a honra objetiva da vıt́ima, no delito de
denunciação caluniosa a intenção é de causar um
prejuıźo à vıt́ima diante das autoridades.
2) O primeiro delito trata de imputação falsa de
crime, já o segundo admite a imputação falsa de
crime ou até mesmo contravenção penal.
3) A calúnia é um delito de ação penal privada, já
a denunciação caluniosa é de ação penal pública
incondicionada.
Quanto à consumação do delito, só poderá dizer que existe a calúnia no momento em que uma �igura alheia
(terceira pessoa) toma conhecimento da falsa imputação. Trata-se, assim, de crime	formal.
Quanto à tentativa, é possı́vel apenas na forma escrita, quando a mensagem é interceptada por alguém, mas,
critica-se essa alternativa, tendo em vista que se trata de improvável hipótese.
Não se pode estudar a calúnia sem que se saiba quais são seus prováveis sujeitos. No polo ativo, qualquer
pessoa pode �igurar, exceto os indivı́duos com imunidade, conforme o art. 53, CF, que confere aos deputados e
senadores a inviolabilidade por suas palavras, votos e opiniões, desde que no exercı́cio de suas atividades.
Também são imunes, por suas ações no contexto de suas atividades, os deputados estaduais, nos termos do
art. 27, §1º, CF, e os vereadores (art. 29, VIII, CF).
Qualquer pessoa pode �igurar no polo passivo, inclusive pessoa já morta, nos termos do art. 138, §2º, CP.
Nessa situação, entretanto, o morto não é considerado sujeito passivo, mas seus familiares são considerados
vı́timas, pois a eles interessa a manutenção da honra do morto.
Quanto à pessoa jurı́dica, Gonçalves (2018) entende ser possı́vel a calúnia quando se tratar de crime contra o
meio ambiente, tendo em vista que a Lei n. 9.605/98 estipula delitos ambientais que podem ser praticados por
pessoa jurı́dica.
Importante ressaltar que existe a possibilidade do acusado (ofensor da honra) provar, por meio de exceção da
verdade, no mesmo processo, o fato de que sua imputação é verdadeira, sendo absolvido nesses casos. Nesses
casos, nos termos do art. 40, do CPP, os autos devem ser remetidos ao Ministério Público para que tome as
devidas providências (LOPES JU� NIOR, 2015). Também é preciso destacar que o §3º, do art. 138, estipula
hipóteses em que não será possı́vel a exceção da verdade:
I – Nos casos em que o fato imputado como crime é de ação penal privada e o ofendido não foi condenado por
sentença irrecorrı́vel;
II – Nos casos em que o crime é imputado ao Presidente da República, ou chefe de governo estrangeiro;
III – Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrı́vel.
3.3.3 Difamação
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Encontra-se o delito de difamação previsto no art. 139, CP, que dispõe: “Difamar alguém, imputando-lhe fato
ofensivo à sua reputação: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa”.
Também se trata de delito contra a honra objetiva do indivı́duo, mas relacionado à imputação de fato
determinado, mas não tipi�icado como crime. 
Uma vez que na difamação não há afastamento da tipicidade com a veracidade da a�irmação, não há razão para
a existência de exceção da verdade, exceto no disposto no art. 139, parágrafo único, que estabelece que se o
fato imputado for a funcionário público e for a respeito do exercı́cio de suas funções, será cabı́vel, haja a
necessidade e interesse público em permitir que se demonstre a atuação irregular.
Quanto às demais caracterı́sticas do delito, a difamação se assemelha à calúnia. Contudo, existe previsão
expressa apenas de calúnia para fatos imputados contra pessoas mortas (art. 138, §2º, CP). O Supremo
Tribunal Federal também vem admitindo a difamação contra pessoa jurı́dica, apesar de autores como
Magalhães Noronha e Nélson Hungria, entenderem não ser possı́vel (NORONHA; HUNGRIA apud GONÇALVES,
2018).
3.3.4 Injúria
Prevê (com detenção de um a seis meses, ou multa) o art. 140, CP, o delito de injúria, ligado ao fato de alguém
injuriar outrem, com ofensa à sua dignidade ou decoro. Diferente dos demais delitos contra a honra, a injúria
está vinculada à honra subjetiva de alguém e ao sentimento que cada pessoa possui em relação à própria vida.
Trata-se da autoestima da vı́tima (GONÇALVES, 2018).
Também se difere dos demais delitos pelo fato de que a injúria não depende de atribuição a fato determinado.
Não existe uma narrativa nesse delito, mas a atribuição de uma qualidade negativa a alguém. Exemplo clássico
é o xingamento a uma pessoa, ou uso de alguma expressão vexatória.
No que diz respeito ao elemento subjetivo do delito, é preciso que haja animus injuriandi, não bastando que,
para con�iguração do delito, ocorra um xingamento em tom jocoso, como aquele feito entre dois amigos.
O crime estará consumado quando a ofensa proferida chegar ao conhecimento da vı́tima. Caso proferida na
ausência da vı́tima, o crime estará con�igurado quando o fato chegar a seu conhecimento.
Na hipótese de injúria contra funcionário público, ela será possı́vel apenas quando ocorrer na ausência da
vı́tima, tendo em vista que tal ato em sua presença constitui crime mais grave, desacato, nos termos do art.
331, CP (PRADO, 2015).
Quanto aos sujeitos do delito, especi�icamente os menores e doentes mentais, poderão ser vı́timas de injúria,
desde que possam entender o signi�icado da ofensa. Caso não possam ter tal discernimento, haverá crime
impossı́vel, já que, tendo o delito a honra subjetiva como objetivo, esta não se transfere aos pais ou
responsável pela pessoa ofendida. Entende-se, além disso, que pessoas jurı́dicas, uma vez que são entes
�ictı́cios, não possuem honra subjetiva e não podem ser sujeitos passivos do delito em questão (GONÇALVES,
2018).
O art. 140, em seu parágrafo primeiro, estabelece que o juiz poderá deixar de aplicar a pena, nesses casos,
quando: 1) o ofendido, de maneira reprovável, provocou diretamente a injúria; 2) no caso de retorsão imediata,
que consistia em outra injúria.
O parágrafo segundo trata da injúria real, consistente em violência ou vias de fato empregadas também à
vı́tima. A punição para tal fato é a detenção, de três meses a um ano, além de multa e pena correspondente à
violência.
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O parágrafo terceiro do art. 140, CP, trata de importante tema na atualidade, a injúria racial ou preconceituosa.
Estabelece que se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou
à condição de pessoa idosa ou portadora de de�iciência, a pena será de reclusão de um a três anos, além de
multa. Importa dizer que o delito em questão se diferencia do delito de racismo (art. 20, Lei 7.716/89 e Lei
9.459/97). A diferença está no ponto em que a injúria pressupõe que a ofensa seja endereçada à pessoa
determinada (ou grupo de pessoas determinadas). 
VOCÊ QUER VER?
O documentário Raça	e	Racismo	no	Brasil,	produzido pela TV Cultura em parceira com
o Instituto CPFL e com direção e roteiro de Marta Maia, traz uma importante análise
contemporânea dos atos preconceituosos em relação à raça. O documentário mostra
como a escravidão é considerada hoje um ato repulsivo, mas aponta vestıǵios deixados
por esse fenômeno até os dias de hoje. Clique no link a seguir e assista o documentário,
vale muito a pena. <https://www.youtube.com/watch?v=RFYQ6axQSho
(https://www.youtube.com/watch?v=RFYQ6axQSho)>. 
https://www.youtube.com/watch?v=RFYQ6axQSho
https://www.youtube.com/watch?v=RFYQ6axQSho
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Quando, por meio da manifestação de opinião, houver a referência preconceituosa a todos os integrantes de
certa raça, cor, religião, etc., haverá o delito de racismo. Também é importante ressaltar que há outros delitos
relacionados ao preconceito por meio de atos discriminatórios, como a não permissão de permanência de
uma pessoa em determinado ambiente em decorrência de sua raça ou cor.
3.3.5 Questões gerais sobre os delitos contra a honra
Algumas outras questões sobre os delitos merecem destaque: o art. 141 trata das causas de aumento de pena
(de um terço) nas seguintes hipóteses:
I – crime cometido contra o presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II – crime contra funcionário público, em razão de suas funções;
III – crime na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, difamação ou
injúria;
IV – delito contra pessoa maior de 60 anos, ou portadora de de�iciência, exceto nos casos de injúria.
O artigo também menciona (em seu parágrafo único) que a pena será dobrada caso seja feito mediante paga ou
promessa de recompensa.
Além das causas de aumento de pena, há excludentes estabelecidas de ilicitude, não constituindo injúria ou
difamação punı́vel:
I – a ofensa irrogada em juı́zo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II – a opinião desfavorável da crı́tica literária, artı́stica ou cientı́�ica, salvo quando inequı́voca intenção de
injuriar ou difamar;
III – o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever de ofı́cio.
Figura 1 - A injúria racial possui pena maior (reclusão de um a três anos, além de multa) em decorrência da
necessidade do combate às todas as formas de preconceito.
Fonte: Federica Milella, Shutterstock, 2019.
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Além desses fatores, importa dizer que o querelado, caso antes da sentença se retrate cabalmente da calúnia ou
difamação, �icará isento de pena, sendo causa extintiva de punibilidade, conforme o art. 143 e o art. 107, VI, CP.
Figura 2 - A crı́tica literária, por mais incisiva que seja, não constitui, em regra, crime contra a honra.
Fonte: sheff, Shutterstock, 2019.
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Por �im, o art. 145 trata da ação penal, estabelecendo que os crimes analisados somente terão procedência
mediante queixa. Essa regra (ação	penal	privada) possui exceções previstas em seu parágrafo único: 1) A
ofensa contra Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro (caso em que a ação é pública
condicionada à requisição do Ministro da Justiça); 2) Ofensa contra o funcionário público em razão de suas
funções (pública condicionada à representação); 3) Crime de injúria racial ou preconceituosa (pública
condicionada à representação); 4) Crime de injúria real do qual se resulta lesão corporal (ação pública
incondicionada).
3.3.6 Crimes contra a Administração Pública
O tı́tulo XI, do Código Penal, trata dos crimes contra a administração pública, sendo que tipi�ica, em seus
capı́tulos I e II, os seguintes grupos de delitos:
I. Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração pública em geral:
II. Dos crimes praticados por particular contra a administração em geral.
Os delitos previstos no primeiro capı́tulo requerem a prática direta por funcionário público. São, portanto,
chamados de crimes funcionais. Esses crimes funcionais estão inseridos na mesma categoria dos crimes
próprios, uma vez que a lei exige uma caracterı́stica especı́�ica no sujeito ativo (BUSATO, 2017).
Ainda assim, é preciso diferenciar os delitos funcionais. Clique nas abas abaixo e conheça essa diferenciação. 
Figura 3 - Delitos contra a honra de chefe de governo estrangeiro são casos de ação pública condicionada à
requisição do Ministro da Justiça. Na imagem, Barack Obama, que foi presidente dos Estados Unidos entre
2009 a 2017.
Fonte: Alan Freed, Shutterstock, 2019.
Crimes	funcionais	próprios
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Não se pode esquecer que em todos os funcionais a condição de funcionário público é elementar. Isso
signi�ica que o particular, consciente da condição de funcionário de seu comparsa, responde também pela
infração penal, nos termos do art. 30 do CP (ESTEFAM, 2016). E� importante mencionar que um efeito da
condenação pela prática de tais delitos é justamente a perda do cargo ou função pública.
Crimes	funcionais	impróprios
A ausência qualidade de funcionário público torna o fato atı́pico.
Clássico exemplo é o crime de prevaricação, demonstrado que o
sujeito não é funcionário público não poderá haver crime.
Caso seja excluı́da a qualidade de funcionário público haverá a
desclassi�icação para crime de outra natureza. Na prática do delito
de peculato, se provado que a pessoa não era funcionário público, o
delito, em verdade, será de furto ou apropriação indébita.
VOCÊ O CONHECE?
Edwin Hardin Sutherland foi um sociólogo estadunidense responsável por realizar
análises do fenômeno criminal, desenvolvendo a teoria da associação diferencial e pela
criação do termo “crime de colarinho branco”. Graças às suas contribuições, hoje muito
se discute a respeito dos crimes praticados pelos “poderosos”, pessoas pertencentes às
camadas mais privilegiadas economicamente, como grandes empresários e polıt́icos
(SUTHERLAND, 1956). Pesquise mais sobre ele, isso só vai enriquecer o seu
conhecimento!
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Ainda quanto à condenação, no ano de 2018, a Sexta Turma do STJ afastou a incidência da Súmula 599 (que
determinada a inaplicabilidade do princı́pio da insigni�icância aos crimes contra a Administração Pública),
aplicando o princı́pio da insigni�icância em crime praticado por funcionário público (RHC 85.272).
Quem, entretanto, pode ser considerado funcionário público para �ins de responsabilização pelos crimes
enunciados no Código Penal? O art. 327 estabelece que será considerado funcionário público (para efeitos
penais) qualquer um que exerça, ainda quetransitoriamente e sem remuneração, cargo, emprego ou função
pública.
Clique a seguir e conheça esses conceitos:
Nos termos do parágrafo primeiro do artigo mencionado, também será equiparado a funcionário público
aquele que exerce cargo ou função em entidade paraestatal, bem como aquele que trabalha para empresa
prestadora de serviço contratada ou conveniada para executar atividades tı́picas da Administração Pública.
Adota-se, para �ins de conceituar uma entidade paraestatal, a corrente ampliativa que determina como
funcionário público por equiparação aquele que exerce atividade em: 1) autarquias; 2) sociedades de
economia mista; 3) empresas públicas; 4) fundações instituı́das pelo Poder Público.
E� preciso destacar que o art. 327, em seu parágrafo segundo, determina que haverá uma causa de aumento de
pena (de terça parte) quando os autores dos delitos estudados forem ocupantes de cargos em comissão ou de
função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista,
empresa pública ou fundação instituı́da pelo poder público.
Cargos
públicos
São aqueles criados por lei com denominação certa, em número determinado e pagos
pelos cofres públicos (Lei n. 8.112/90, art. 3º, parágrafo único).
Emprego
público
Diz respeito ao servidor contratado em regime especial, ou da CLT, usualmente para
serviço temporário para a Administração.
Função
pública
Trata de qualquer conjunto de atribuições públicas não correspondentes a cargo ou
emprego público (como no caso de mesários).
Figura 4 - São chamados crimes funcionais aqueles cometidos por funcionário público contra a
Administração Pública.
Fonte: FrameStockFootages, Shutterstock, 2019.
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Quanto aos crimes em espécie, alguns merecem destaques, como o delito de corrupção passiva. Conheça-o
navegando no recurso a seguir.
A corrupção passiva poderá ainda ser própria ou imprópria. Será imprópria quando o agente se valer da prática
de um ato lı́cito (esperado dentro de suas atribuições). E� o caso do funcionário público que solicita quantia
em dinheiro para a expedição de um alvará (atribuição sua). O crime será próprio, por sua vez, quando o ato
praticado pelo funcionário for ilı́cito. Exemplo clássico é o do funcionário que solicita quantia em dinheiro
para destruir ou desaparecer com um documento público.
O crime de corrupção passiva, estabelecido no art. 317, CP, traz uma pena de reclusão de dois a
doze anos (além de multa) ao indivı́duo que solicitar ou receber, para si ou outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em sua razão, vantagem
indevida, ou mesmo aceitar promessa de vantagem.
Possui como objeto jurı́dico a moralidade da Administração Pública, bem como seu bom
funcionamento. No que diz respeito ao seu tipo objetivo, o ilı́cito elenca três condutas distintas:
A) solicitar (pedir vantagem); B) receber (entrar na posse); e C) aceitar promessa (concordar com
determinada proposta).
Nesse caso, conforme Prado (2015), ocorrendo o recebimento ou aceitação da promessa, haverá a
conduta do corruptor (particular), que responderá por corrupção ativa, enquanto o funcionário
público responderá por corrupção passiva.
Quanto à vantagem, ela deve ser completamente indevida, em razão do cargo, como no caso do
�iscal que recebe dinheiro para não multar alguém. Diferente do delito de concussão, no qual a
vı́tima entrega a vantagem em razão de uma ameaça.
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O sujeito passivo do delito é o Estado e a ação penal para o delito em questão será pública incondicionada e
poderá ter uma pena reduzida na chamada corrupção privilegiada, que é aquela (conforme o art. 317, §2º) em
que o funcionário deixa de praticar ou retarda ato de ofı́cio, com infração de dever funcional, cedendo a pedido
ou in�luência de outrem.
VOCÊ SABIA?
Muito embora tenha sido mencionado o funcionário público como possıv́el sujeito
ativo, é importante lembrar que se o crime for cometido por policial militar,
con�igurar-se-á o delito de corrupção passiva militar, conforme o art. 308, CPM
(reclusão de dois a oito anos) (BRASIL, 1969). Não esqueça disso, combinado?
Síntese
Chegamos ao �im, com o aprofundamento em relação a importantes e muito debatidos delitos constantes no
Código Penal. A compreensão dos detalhes sobre os delitos mencionados é fundamental para o aprendizado do
jurista.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
compreender os delitos contra a dignidade sexual;
entender como as Leis 12.015/09 e 13.718/18 alteraram o Código
Penal;
analisar o conceito de vulnerabilidade para fins penais;
apreender as principais características dos crimes contra a honra;
estudar as diferenças entre o delito de racismo e a injúria racial;
observar a importância dos estudos dos crimes funcionais.
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Bibliografia
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lei/del1001.htm (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del1001.htm)>. Acesso em: 02/07/2019.
BRASIL, Decreto-Lei	 nº,	 2,848,	 de	 07	 de	 dezembro	 de	 1940.
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm)>. Acesso em: 08/07/2019.
BUSATO, P. C.	Direito	Penal: Parte	especial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
ESTEFAM, André [et. al.] Direito	Penal	Aplicado:	Parte	Especial	do	Código	Penal. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2016. 
GONÇALVES, V. E. R.	Direito	Penal	Esquematizado. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
JO� RIO, I. D.	Crimes	sexuais. Salvador: Juspodvm, 2018.
RAÇA E RACISMO NO BRASIL. Produção TV Cultura e Instituto CPFL. Direção Marta Maia. 47.17min.	Canal Café
Filosó�ico CPFL, 2016. Disponı́vel em: <https://www.youtube.com/watch?v=RFYQ6axQSho
(https://www.youtube.com/watch?v=RFYQ6axQSho)>. Acesso em: 08/07/2019.
LOPES, A. J. Direito	processual	penal.	13. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 
PRADO, Luiz Regis. Curso	de	Direito	Penal	brasileiro.	14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
SUTHERLAND, Edwin Hardin. A Criminalidade de Colarinho Branco. Revista	Eletrônica	de	Direito	Penal	e
Política	 Criminal,	 [S.l.], v. 2, n. 2, fev. 2015. Disponı́vel em:
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Acesso em: 08/07/2019.
TOURINHO, F. C. F. Manual	de	Processo	Penal.	18. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
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