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Ano 02 || Edição 08 || Junho 2015 Profa. Dra. Solange Maria Gennari CRMV-SP 1.387 Professora Titular do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP). Principais helmintos intestinais em cães no Brasil A s parasitoses causadas por helmintos em cães são infecções de alta prevalência em todas as partes do mundo, podendo ser especialmente graves em animais jovens ou imunocomprometidos. Alguns desses parasitos, além de causarem problemas sé- rios nos cães, podem infectar humanos, sendo responsáveis por importantes zoonoses, que também são mais prevalentes e graves em crianças e em pacientes com imunossupressão. Assim, o conhecimento de aspectos da biologia dos nematoides é importante e permite ao clínico veterinário introduzir controles eficazes das infecções nos animais e fazer um trabalho de saúde pública, impedindo a infecção dos humanos. Há estudos realizados em países altamente desenvolvidos, como a Holanda, que mostram que o médico veterinário é o profissio- nal que possui mais conhecimentos e oportunidades para, em suas atividades rotineiras, passar informações sobre as zoonoses trans- mitidas por cães e gatos para as famílias de seus pacientes. Essa importante função, muitas vezes, não é feita por desconhecimento de pontos básicos da biologia dos parasitos ou por acharem que essas informações não sejam de interesse das famílias que frequentam suas clínicas. Em estudo realizado nos Estados Unidos, no qual 450 clínicos veterinários de pequenos animais foram entrevistados, constatou-se que 60% não se preocupavam com infecções sobre helmintos gastrintestinais e somente 33% discutiam com as famílias sobre o potencial zoonótico das infecções.1 Não temos um estudo semelhante realizado no Brasil, entretanto provavelmente teríamos índices semelhantes ou até maiores no país. Katagiri & Oliveira-Sequeira (2008)2 realizaram um estudo em Botucatu, interior de São Paulo, no qual um questionário foi feito a proprietários de cães sobre zoonoses transmitidas por helmintos de cães, mecanismos de transmissão, fatores de risco para a in- fecção e mecanismos de controle e observaram que a maioria dos entrevistados não tinha nenhum conhecimento sobre os pontos analisados, mesmo tendo o estudo sido realizado em um município do estado mais rico e desenvolvido do Brasil. Dentre as zoonoses de importância transmitidas pelos helmintos de cães estão a larva migrans visceral (LMV) e larva migrans ocular (LMO), transmitidas por Toxocara spp.; a larva migrans cutânea ou bicho geográfico, transmitida pelo Ancylostoma spp., além de infecções por Dipylidium caninum. Dessas infecções, a LMV e a LMO, também chamadas em humanos de toxocaríase, são as mais patogênicas. Segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a toxocaríase é responsável pela perda de visão de aproximadamente 70 pessoas por ano, somente naquele país, a maioria constituída por crianças. Infecções por D. caninum em hu- manos ocorrem com mais frequência em crianças quando estas ingerem, acidentalmente, pulgas infectadas com o parasito, todavia são de simples tratamento e pouca patogenicidade. No Brasil, ainda não há um grande estudo abrangendo todas as suas regiões sobre a prevalência de helmintos em cães. No Quadro 1, são listados alguns estudos realizados nos últimos 15 anos, e neles se pode observar que algumas regiões não foram contempladas, o que é um alerta aos pesquisadores para que um grande e abrangente estudo seja feito no país. Como no ciclo de vida dos nematoides gastrintestinais há uma parte do desenvolvimento dos parasitos que acontece fora do hos- pedeiro, as condições ambientais, em especial temperatura e umidade, são de extrema importância e podem favorecer ou prejudicar a manutenção do parasito no meio externo e fazer que alguns vermes sejam altamente prevalentes em algumas regiões e pouco encontrados em outras. De modo geral, os helmintos de maior importância nos cães, e que serão enfocados neste artigo, são: Toxocara canis e 2 Toxascaris leonina, Ancylostoma caninum e Ancylostoma braziliense, Trichuris vulpis e Dipylidium caninum. Juntamente com esses helmintos, é bastante comum o en- contro de infecções associadas a protozo- ários como Giardia duodenalis, Cystoisos- pora spp. e Cryptosporidium spp., que não serão abordados neste artigo. O Quadro 1 mostra que os nematoi- des mais frequentemente encontrados em exame de fezes de cães no país são Ancylostoma spp. e T. canis. É importante ressaltar que, com exceção do estudo fei- to por Klimpel et al. (2010),12 que obteve resultados de exames coproparasitológi- cos e de necrópsia e pesquisa do parasito adulto nos cães, todos os outros se base- aram somente em pesquisa de formas pa- rasitárias nas fezes dos animais. Assim, al- guns parasitas, como Toxocara spp., estão subavaliados, uma vez que forte imunida- de ocorre nos cães com a idade, sendo o encontro do Toxocara spp. mais comum em animais jovens, até o sexto mês; nesses estudos, foram avaliados animais de todas as faixas etárias. Dipylidium caninum tam- bém é subavaliado em exame de fezes, já que as cápsulas ovígeras (formas presen- tes dentro das proglotes) dificilmente são encontradas durante o exame. Ancylostoma caninum Este parasito pertence à família An- cylostomidae e, como todos os membros dessa família, é hematófago e responsável por quadros de anemia, que podem ser bastante severos e mesmo fatais, especial- mente quando altas infecções acometem cães jovens. Habita o intestino delgado, onde é facilmente reconhecido, uma vez que atinge 1 a 2 cm de comprimento e tem aspecto de gancho, razão pela qual, em inglês, recebe o nome de hookworm (verme-gancho). Possui cápsula bucal grande, bastante característica, e, para se fixar, durante a alimentação, possui pares de dentes. Desenvolve-se bem em solos úmidos e em temperatura de 18 a 30°C. O cão pode apresentar duas espécies de É importante ressaltar que, com exceção do estudo feito por Klimpel et al. (2010), que obteve resultados de exames coproparasitológicos e de necrópsia e pesquisa do parasito adulto nos cães, todos os outros se basearam somente em pesquisa de formas parasitárias nas fezes dos animais. Locais Nº de amostras examinadas Ancylostoma spp. Toxocara spp. Trichuris vulpis Dipylidium caninum Referências (ano) São Paulo-SP 871 13,5 5,5 2,4 0,3 Gennari et al. (2001)3 São Paulo-SP* 41 39 39 7 zero Muradian et al. (2005)4 São Paulo-SP 223 12,7 2,6 1,8 1,0 Funada et al. (2007)5 Botucatu-SP 254 37,8 8,7 7,1 2,4 Katagiri & Sequeira (2008)2 Rio de Janeiro-RJ 500 15,2 7,4 5 0,2 Balassiano et al. (2009)6 Monte Negro-RO 95 73,7 18,9 9,5 zero Labruna et al. (2006)7 Itapema-SC 158 70,9 14,5 13,9 1,9 Blazius et al. (2005)8 Porto Alegre-RS 1.473 9,2 4,1 0,9 1,6 Lorenzini et al. (2007)9 Curitiba-PR 264 29,2 1,9 3,3 0,8 Leite et al. (2004)10 Pinhais-PR** 171 66,7 (44,8) 10,5 (58,6) 14,1 (6,9) zero (6,9) Martins et al. (2012)11 Fortaleza-CE*** 46 82,6 (95,7) zero (8,7) zero (4,3) zero (45,7) Klimpel et al. (2010)12 *Cães com até 10 meses de idade; ** 1º ano de coleta (2º ano de coleta); *** Positivos no exame de fezes (positivos na necrópsia parasitológica) Quadro 1 - Ocorrência (%) de helmintos gastrintestinais em amostras de fezes de cães de diferentes localidades brasileiras (estudos realizados nos últimos 15 anos) 3 Ancylostoma, A. caninum e A. braziliense; a primeira é a mais patogênica. Os ovos dessas espécies são muito semelhantes; assim, pelo exame de fezes, o diagnóstico, baseado no encontro dos ovos do parasi- to, não os difere por espécie. Ancylostoma caninum tem um ciclo direto. Os ovos chegam ao meio ambien- te pelas fezes de um cão infectado e aí se desenvolvem para a forma infectante, a larva de terceiro estágio (L3). Essa fase ocorre muito rapidamente, em apenas cinco a sete dias, conforme as condições de umidade e temperatura. AsL3 atin- gem um hospedeiro que as ingere, via oral, ou penetram ativamente na pele dos cães, mesmo sem nenhuma solução de continuidade. Nos cães, caminham por diferentes órgãos e continuam seu de- senvolvimento até atingir o intestino del- gado como larva de quinto estágio (L5), e terminam seu desenvolvimento transfor- mando-se em machos e fêmeas em ape- nas duas a três semanas após a infecção. O tempo entre esta e o aparecimento dos ovos nas fezes é chamado de período de pré-patência. Uma proporção das larvas, durante a migração, antes de atingir o intestino del- gado, percorre a musculatura esquelética dos cães e permanece como que “dormen- te” na musculatura. Entretanto, quando a fêmea atinge o período final da gestação, essas larvas, que estavam na musculatura, retomam a migração e chegam ao intestino delgado, tornando-se adultas. Uma parte delas também atinge os recém-nascidos pela via galactógena (colostro e leite). As- sim, a mãe torna-se a fonte de infecção da ninhada, e elas podem estar presentes no leite por até três semanas. As larvas infectantes no meio ambiente podem infectar outros hospedeiros, ma- míferos e aves, inclusive o homem. Nesses hospedeiros, as larvas migram pelos teci- dos, mas não se desenvolvem em adultos. Caso um cão se alimente com tecidos des- ses hospedeiros, chamados paratênicos, as larvas contidas nos tecidos continuarão seu desenvolvimento nos cães, até atingir o in- testino delgado, tornando-se adultas. Essa é mais uma forma de transmissão da infecção. Uma fêmea infectada uma única vez tem reservas de larvas na musculatura que a torna capaz de infectar mais de uma ninhada pela via transmamária. As fêmeas do parasito são prolíferas, isto é, capazes de eliminar milhares de ovos por dia, por várias semanas, contaminan- do o ambiente e possibilitando a manu- tenção da infecção entre os animais. A anemia é o mais importante sinal clínico nas infecções por Ancylostoma spp. Ninhadas com alta infecção podem apre- sentar os primeiros sinais de anemia ao redor do 10º dia de vida. Nessa fase ainda não se encontram ovos nas fezes, pois os adultos ainda estão imaturos, entretanto já apresentam aparelho bucal completo e são capazes de sugar sangue dos hospedeiros. Sabe-se que cada fêmea adulta é capaz de remover 0,1 mL de sangue por dia, assim infecções maciças levam os cães rapida- mente ao quadro de anemia severa. Os animais jovens alimentam-se de leite, que é pobre em ferro, pois não é de extrema importância nessa fase da vida dos cães, assim as reservas de ferro esgotam-se rapi- damente e a medula óssea não tem como responder à anemia nessa fase precoce da vida. Além da anemia, ocorrem frequente- mente emagrecimento, perda de apetite e diarreia com muco e sanguinolenta. Toxocara canis Toxocara canis e Toxascaris leonina são os ascarídeos que infectam os cães. Per- tencem à superfamília Ascaridoidea, são vermes grandes, de aproximadamente 10 cm, esbranquiçados e com ciclo de vida direto, enquanto os adultos se estabele- cem no intestino delgado. T. canis é o mais patogênico. Os ovos são bastante típicos, de parede grossa e rugosa, escuros e bas- tante resistentes no meio ambiente. No meio ambiente, os ovos elimina- dos nas fezes dos cães infectados se de- senvolvem, com a formação de duas fa- ses larvais, dentro dos ovos. Assim, o ovo com L2 (larva de segundo estágio) é a forma infectante do parasito. Os ovos se desenvolvem bem em temperaturas que variam de 10 a 45°C, com boa umidade e aeração, e são altamente resistentes no meio ambiente, podendo sobreviver por anos. Também essas fêmeas são altamen- te prolíferas, e milhares de ovos são eli- minados no ambiente a cada dia. Os ovos infectantes, quando inge- ridos, chegam ao estômago e sofrem a ação de enzimas digestivas e liberam as L2, que logo atingem o intestino delgado do cão. As L2 iniciam, então, uma migra- ção e chegam aos pulmões. A partir daí, o ciclo varia com a idade do animal. Em ani- mais jovens, até aproximadamente os seis meses de vida, uma parte das larvas chega ao intestino delgado e se transforma em adulta, e parte dela faz migração somática e pelo sangue atinge vários órgãos, como fígado, músculos, glândula mamária etc. Nesses locais, permanecem viáveis, em “dormência”. Após o sexto mês, devido à imunidade adquirida pelos animais, so- mente a migração somática ocorre nos cães e raramente adultos de T. canis estão presentes. Da mesma forma que co- mentado para a infecção por Ancylostoma spp., nas cadelas prenhes no final da gestação (ao redor do 42º dia), pela queda da imunidade e pelo efeito hormonal, essas larvas teciduais retomam o ci- clo de desenvolvimento. Entretanto, neste caso, as larvas de T. canis também conseguem atingir os fetos pela veia umbilical, e por isso os cães já nascem em animais jovens, atÉ apro- ximadamente os seis meses de vida, uma parte das larvas chega ao intestino delgado e se transforma em adulta, e parte dela faz migração somática e pelo sangue atinge vários órgãos, como fígado, músculos, glândula mamária etc. 4 infectados por T. canis. Vinte dias após o nas- cimento, os filhotes já têm formas adultas no intestino delgado e podem contaminar o ambiente. As larvas também são eliminadas pelo colostro e leite. No ciclo evolutivo de T. canis, também pode haver a participação dos hospedeiros paratênicos. Os ovos larva- dos, quando ingeridos por vários mamíferos, se desenvolvem até a fase de L2 e ficam reti- dos nos tecidos, podendo infectar o cão que se alimentar desses tecidos. Assim, o perío- do de pré-patência varia de duas a quatro semanas, conforme a via de infecção. Os ascarídeos alimentam-se de ami- noácidos, vitaminas e oligoelementos dos hospedeiros, motivo do baixo desenvolvi- mento dos animais infectados. Em infecções moderadas, a migração do parasito não é acompanhada de sintomas respiratórios, entretanto, quando altas doses de ovos atin- gem os hospedeiros, pode haver problemas respiratórios com pneumonia e edema pul- monar. Na fase intestinal, os vermes adultos podem causar enterite catarral e obstrução intestinal devido ao grande tamanho do parasito e do pequeno volume das alças in- testinais de animais jovens, com o risco de ocorrer perfuração do intestino com peri- tonite e morte de cães. É comum, naqueles com altas infecções, o abdome apresentar- se distendido, os pelos sem brilho, e a mor- talidade de ninhadas inteiras pode ocorrer em poucos dias após o nascimento. Trichuris vulpis Este parasito geralmente acomete os cães após o desmame, uma vez que não é transmitido pela mãe, e apresenta a forma fecal-oral de infecção. O T. vulpis é um verme grande, que, quando adulto, mede de 4,5 a 7,5 cm e habita o intestino grosso. Os ovos, no ambiente, se desen- volvem e tornam-se infectantes, com a L3 dentro do ovo. Os ovos são ingeridos pelos cães, e as L3 penetram no lume do intestino delgado, e aí continuam seu desenvolvimento. Alguns dias depois, deixam o lume como L4 e migram para o ceco e o intestino grosso, onde se tor- nam adultos. Os vermes, então, enterram a parte anterior de seus corpos na mu- cosa, deixam a posterior no lume e vão eliminando os ovos que atingiram o meio ambiente por meio das fezes. O período de pré-patência é de 90 dias. Os ovos de T. vulpis são bioperculados e facilmente diagnosticados em exames de fezes. São bastante resistentes no meio ambiente, podendo sobreviver por anos em local com boa umidade e proteção di- reta de radiação solar. Em baixas infecções, não há sintomas, entretanto infecções se- veras podem causar diarreia, geralmente com muco e sangue. Dipylidium caninum Trata-se do cestoide mais prevalente em cães. O adulto pode atingir até 50 cm de comprimento e habita o intestino del- gado. Como todos os cestoides, possui um hospedeiro intermediário (HI) em seu ciclo evolutivo, isto é, uma das fases do desenvolvimento do parasito necessita de um hospedeiro invertebradono qual o parasito se torna infectante. No caso de D. caninum, as pulgas do gênero Cteno- cephalides felis e os piolhos do gênero Trichodectes canis são os HIs. Os cães eliminam proglotes, que são móveis e que contêm, em seu interior, as cápsulas ovígeras. No mesmo ambiente, encontram-se as larvas das pulgas ou adultos dos piolhos. Ambos têm, nessa fase evolutiva, aparelho bucal mastiga- dor que permite a ingestão das cápsu- las ovígeras do cestoide. Nas pulgas e/ ou nos piolhos, os ovos das cápsulas desenvolvem-se para a chamada forma cisticercoide, que é a infectante. A larva de pulga transforma-se em adulta e man- tém a forma cisticercoide viável. Quando um cão ingere uma pulga infectada, essa forma infectante é liberada pela ação de enzimas digestivas e atinge o intestino delgado, onde o protoescólex se fixa na mucosa e inicia seu desenvolvimento, produzindo escólex que se desenvolve, liberando os proglotes grávidos elimina- dos pelas fezes. A infecção muitas vezes é assintomá- tica, mas o cão arrasta a região anal, indi- cando incômodo e prurido no local, po- dendo algumas vezes haver irritação anal. O período de pré-patência é de semanas. Ancylostoma caninum Forma infectante: L3 Vias de transmissão: oral, percutânea, transmamária, ingestão de hospedeiro paratênico Período de pré-patência: 2 a 3 semanas Toxocara canis Forma infectante: ovo com L2 Vias de transmissão: oral, transmamária, transplacentária, ingestão de hospedeiro paratênico Período de pré-patência: 2 a 4 semanas Figura 1 - Ancylostoma caninum e Toxocara canis: detalhes do ciclo evolutivo dos parasitos A rq u iv o p es so al d a au to ra 5 Diagnóstico Com exceção de D. caninum, que rara- mente aparece nas fezes e tem o diagnós- tico feito pela descrição do proprietário do comportamento do cão e a visualização das proglotes, que se assemelham a grãos de arroz ou sementes de pepino, em fezes frescas, o diagnóstico dessas infecções para- sitárias é feito por meio de exame de fezes. As fezes devem ser examinadas de preferência frescas ou coletadas em, no máximo, 12 a 24 horas, mantidas refrige- radas, logo após o animal as eliminar, de- vidamente identificadas e enviadas a um laboratório de confiança do veterinário. Muitos clínicos têm condições de re- alizar esses exames na própria clínica, e, para a pesquisa de ovos desses helmin- tos, as técnicas podem ser bem simples. Entretanto, um exame coproparasitológi- co completo deve buscar o diagnóstico não só de verminoses, mas também de protozoários, geralmente presentes em infecções combinadas. Muito mais devido aos protozoários do que aos helmintos, o chamado exame direto, com coleta de um pouco de fezes acrescida de algumas gotas de solução fisiológica e pesquisa de formas parasitárias em microscópio, é um método muito pouco sensível. Se os exa- mes forem feitos no próprio consultório, deverão seguir um padrão de qualidade e contemplar técnicas mais sensíveis e espe- cíficas. Assim, técnicas de flutuação e sedi- mentação devem ser utilizadas, pois per- mitem o diagnóstico de ovos de helmintos e das formas evolutivas dos protozoários, como cistos de Giardia, oocistos de Cystoi- sospora etc. Esses técnicas baseiam-se no Figura 2 - (A) Ovos de Ancylostoma caninum, (B) ovo de Toxocara canis e (C) ovo de Trichuris vulpis A rq u iv o p es so al d a au to ra A B C princípio de flutuação ou sedimentação de ovos, leves ou pesados, em soluções de densidades conhecidas. São, em seguida, examinadas em microscópio, e o diagnós- tico é feito, o que exige experiência, consi- derando-se, em especial, os protozoários. A Figura 2 ilustra ovos de Ancylostoma caninum, Toxocara canis e Trichuris vulpis, como observados em exame de fezes. Controle O controle da infecção por helmin- tos depende de ações sobre o hospedei- ro e o ambiente. Como foi comentado, é no ambiente que se encon- tram as formas infectantes desses para- sitos. Assim, a limpeza dos canis e locais frequentados pelos cães são fundamen- tais para o sucesso. Muitos ovos são bas- tante resistentes a certos desinfetantes, por isso é necessário um tempo mínimo de contato entre o princípio ativo dos desinfetantes e os ovos ou larvas. Mui- tas vezes, produtos eficazes são utiliza- dos, mas subdosados ou por um tempo muito curto de contato, não permitindo que possam agir na camada externa e protetora dos ovos de helmintos. Alguns bons desinfetantes também podem cau- sar irritação na pele de alguns animais. Recomenda-se a limpeza sem a presen- ça deles; depois do uso de desinfetante, 6 muito mais devido aos proto- zoários do que aos helmintos, o chamado exame direto, com coleta de um pouco de fezes acrescida de algumas gotas de solução fisiológica e pesquisa de formas parasitárias em microscópio, É um mÉtodo muito pouco sensível. este deve ser removido enxaguando o ambiente com água. Equipamentos de lavagem com água sob pressão de vapor ou a quente são altamente recomendados. As formas de vida livre dos parasitos não suportam as altas temperaturas. Recomenda-se a re- moção das fezes e limpeza do canil e, em seguida, o uso de desinfetantes ou equi- pamentos de limpeza com água quente. Os canis devem receber sol durante um período do dia, o que mantém o ambien- te mais seco e inviabiliza os ovos e as lar- vas no ambiente. No caso do D. caninum, o controle de- pende totalmente do controle dos HIs, das pulgas e dos piolhos. As pulgas em seu desenvolvimento passam por quatro fases: ovos, larvas, ninfas e adultos, e o controle desse inseto é bastante difícil, o que exige o uso de aspiradores de pó no local onde os cães dormem, limpeza e remoção dos cobertores e travesseiros dos animais, la- vagem do ambiente onde os cães vivem etc. Todas as fases evolutivas devem ser enfocadas num controle para que este seja eficaz. Sem o controle das pulgas, as infec- ções pelo cestoide se repetirão muitas ve- zes, mesmo com o uso de medicamentos com eficácia sobre as pulgas adultas que se encontram nos cães. Tratamento O uso de vermífugos pode ser feito de forma preventiva e curativa. O mais acertado seria o uso somente após o diagnóstico coproparasitológico positi- vo, entretanto são poucos os proprietá- rios que mantêm de forma constante, a cada quatro a seis meses, o envio das fezes para exame. De modo geral, nos dias atuais, a maioria dos vermífugos disponíveis para cães é bastante segura, de amplo espec- tro, e alguns agem contra vermes, pul- gas, carrapatos, sarnas e piolhos. É im- portante saber que essas formulações, chamadas endectocidas, pelo amplo espectro de ação, auxiliam no controle e no tratamento dos mais importantes parasitos dos cães num único medica- mento, entretanto o veterinário deve ter sempre em mente que, no ambiente, se encontra a maior parte das formas pa- rasitárias, e um controle eficaz deve ser sempre feito em associação. Alguns dos princípios ativos dos me- dicamentos, inicialmente recomendados para helmintos, provaram ter boa eficá- cia também contra alguns protozoários, como o fenbendazole, e seu uso no tra- tamento de Giardia duodenalis em cães. Muitos medicamentos utilizados em cães são compostos por mais de um princípio ativo, de forma a abrangerem com eficá- cia os helmintos mais comuns. O verme do coração, Dirofilaria immitis, está inclu- so no espectro de ação de medicamentos. A maioria dos vermífugos é recomendada de forma preventiva para esse verme. Outro grande avanço desses medica- mentos está na forma de uso, com aplica- ções sobre a pele (pour-on, spot-on), com boas absorção e eficácia e longo período residual, tornando o uso de antiparasitá- rios uma forma de controle bastante se- gura, fácil e muito importante. Uma das grandes falhas no que diz respeito a esses medicamentos até os dias atuais é o seu uso em ninhadas. Grande parte dos produtos para uso em cães jo- vens é segura para seu início a partir da segunda ou terceira semana devida dos filhotes. Como foi colocado na descrição do ciclo de vida dos parasitos, o período de pré-patência desses helmintos varia de duas a quatro semanas, e no caso de 7 Referências: 1. Harvey. Journal of the American Veterinary Medical Association, 179: 702-707, 1991. 2. Katagiri & Oliveira-Sequeira. Zoonoses and Public Health, 55: 406- 413, 2008. 3. Gennari et al. Veterinary News, 52: 10-12, 2001. 4. Muradian et al. Veterinary Parasitology, 134: 93-97, 2005. 5. Funada et al. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootec- nia, 59: 1338-1340, 2007. 6. Balassiano et al. Preventive Veterinary Medicine, 91: 234-240, 2009. 7. Labruna et al. Arquivo do Instituto Biológico, 73: 183-193, 2006. 8. Blazius et al. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 38: 73-74, 2005. 9. Lorenzini et al. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, 44: 137-145, 2007. 10. Leite et al. Archives of Veterinary Science, 9: 95-99, 2004. 11. Martins et al. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 21: 101-106, 2012. 12. Klimpel et al. Parasitology Research, 107: 713-719, 2010. “As opiniões aqui refletidas são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da Bayer.” alguns dos princípios ativos dos medicamentos, inicialmente recomendados para helmintos, provaram ter boa eficácia tambÉm contra alguns proto- zoários, como o fenbenda- zole, e seu uso no tratamento de giardia duodenalis em cães. Ancylostoma spp. e de Toxocara spp. sin- tomas já podem estar presentes antes da segunda semana de vida, uma vez que os animais podem adquirir a infec- ção mesmo antes do nascimento e, logo após, quando da ingestão do colostro e do leite. Ou seja, o primeiro tratamento pode ser iniciado já na segunda semana de vida, entretanto a grande maioria dos cães só recebe a primeira vermifugação quando vai à clínica veterinária para as primeiras vacinas, isto é, ao redor da sex- ta ou sétima semana de vida. A ninhada deve ser vermifugada na segunda semana de vida, e pelo menos mais duas doses devem ser ministradas até o sexto mês; isso porque, por meio do leite, as larvas vão infectar os filho- tes por pelo menos três semanas, e, pela mãe ter tido uma queda da imunidade no período periparto, o ambiente esta- rá mais contaminado, com maior pos- sibilidade de infecção dos filhotes. A mãe deve ser tratada juntamente com a ninhada. É importante ressaltar que, quanto mais larvas e ovos estiverem contaminando o ambiente, maior será a quantidade que conseguirá tornar-se in- fectante e maior a quantidade de larvas que ficarão retidas nos órgãos e tecidos dos cães para se tornarem adultas nas próximas gestações. Os vermífugos não agem sobre as larvas que estão nos tecidos; lá elas estão protegi- das da ação dos medicamen- tos. Assim, o uso de vermífugos em fêmeas prenhes deve acontecer próximo ao parto, na última sema- na da gestação, quando as larvas já estão deixando os tecidos e estarão suscetíveis à ação dos vermífugos. Para cães adultos, estudos euro- peus têm recomendado o uso de vermí- fugos a intervalos de dois a três meses. Cães que têm contato com áreas jardi- nadas, ruas, outras espécies animais, que vivam em canis com outros cães e animais do meio rural têm mais chances de se infectarem, por isso necessitam de medicamentos a intervalos mais curtos, com pelo menos quatro ou seis vermi- fugações anuais, a critério do médico veterinário. Cães de apartamento, com pouco contato com as ruas e outros cães, podem ter essas dosagens mais es- paçadas. O veterinário deve fazer as reco- mendações conhecendo o estilo de vida e os fatores de risco para essas infecções a que os cães estarão expostos. O uso preventivo de vermífugos não só protege os animais como reduz a contami- nação ambiental e os riscos de infecções para os humanos. Proximo!‘ Advocate® também é indicado para o tratamento e prevenção de sarnas e para a prevenção da dirofilariose. MULTIPROTEÇÃO, POR DENTRO E POR FORA Acabe com o dilema. Contra pulgas e vermes. Ou vermes e pulgas. L. 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