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Principais_Helmintos_Intestinais_Caes_Brasil

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Ano 02 || Edição 08 || Junho 2015
Profa. Dra. Solange Maria Gennari
CRMV-SP 1.387
Professora Titular do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade 
de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP).
 Principais helmintos intestinais em cães no Brasil
A s parasitoses causadas por helmintos em cães são infecções de alta prevalência em todas as partes do mundo, podendo ser 
especialmente graves em animais jovens ou imunocomprometidos. Alguns desses parasitos, além de causarem problemas sé-
rios nos cães, podem infectar humanos, sendo responsáveis por importantes zoonoses, que também são mais prevalentes e graves 
em crianças e em pacientes com imunossupressão. Assim, o conhecimento de aspectos da biologia dos nematoides é importante e 
permite ao clínico veterinário introduzir controles eficazes das infecções nos animais e fazer um trabalho de saúde pública, impedindo 
a infecção dos humanos.
Há estudos realizados em países altamente desenvolvidos, como a Holanda, que mostram que o médico veterinário é o profissio-
nal que possui mais conhecimentos e oportunidades para, em suas atividades rotineiras, passar informações sobre as zoonoses trans-
mitidas por cães e gatos para as famílias de seus pacientes. Essa importante função, muitas vezes, não é feita por desconhecimento de 
pontos básicos da biologia dos parasitos ou por acharem que essas informações não sejam de interesse das famílias que frequentam 
suas clínicas. Em estudo realizado nos Estados Unidos, no qual 450 clínicos veterinários de pequenos animais foram entrevistados, 
constatou-se que 60% não se preocupavam com infecções sobre helmintos gastrintestinais e somente 33% discutiam com as famílias 
sobre o potencial zoonótico das infecções.1 Não temos um estudo semelhante realizado no Brasil, entretanto provavelmente teríamos 
índices semelhantes ou até maiores no país. 
Katagiri & Oliveira-Sequeira (2008)2 realizaram um estudo em Botucatu, interior de São Paulo, no qual um questionário foi feito 
a proprietários de cães sobre zoonoses transmitidas por helmintos de cães, mecanismos de transmissão, fatores de risco para a in-
fecção e mecanismos de controle e observaram que a maioria dos entrevistados não tinha nenhum conhecimento sobre os pontos 
analisados, mesmo tendo o estudo sido realizado em um município do estado mais rico e desenvolvido do Brasil.
Dentre as zoonoses de importância transmitidas pelos helmintos de cães estão a larva migrans visceral (LMV) e larva migrans 
ocular (LMO), transmitidas por Toxocara spp.; a larva migrans cutânea ou bicho geográfico, transmitida pelo Ancylostoma spp., além 
de infecções por Dipylidium caninum. Dessas infecções, a LMV e a LMO, também chamadas em humanos de toxocaríase, são as mais 
patogênicas. Segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a toxocaríase é responsável pela perda de visão 
de aproximadamente 70 pessoas por ano, somente naquele país, a maioria constituída por crianças. Infecções por D. caninum em hu-
manos ocorrem com mais frequência em crianças quando estas ingerem, acidentalmente, pulgas infectadas com o parasito, todavia 
são de simples tratamento e pouca patogenicidade.
No Brasil, ainda não há um grande estudo abrangendo todas as suas regiões sobre a prevalência de helmintos em cães. No Quadro 1, são 
listados alguns estudos realizados nos últimos 15 anos, e neles se pode observar que algumas regiões não foram contempladas, o que é um 
alerta aos pesquisadores para que um grande e abrangente estudo seja feito no país. Como no ciclo de vida dos nematoides gastrintestinais 
há uma parte do desenvolvimento dos parasitos que acontece fora do hos-
pedeiro, as condições ambientais, em especial temperatura e umidade, são 
de extrema importância e podem favorecer ou prejudicar a manutenção 
do parasito no meio externo e fazer que alguns vermes sejam altamente 
prevalentes em algumas regiões e pouco encontrados em outras.
De modo geral, os helmintos de maior importância nos cães, 
e que serão enfocados neste artigo, são: Toxocara canis e 
2
Toxascaris leonina, Ancylostoma caninum 
e Ancylostoma braziliense, Trichuris vulpis 
e Dipylidium caninum. Juntamente com 
esses helmintos, é bastante comum o en-
contro de infecções associadas a protozo-
ários como Giardia duodenalis, Cystoisos-
pora spp. e Cryptosporidium spp., que não 
serão abordados neste artigo. 
O Quadro 1 mostra que os nematoi-
des mais frequentemente encontrados 
em exame de fezes de cães no país são 
Ancylostoma spp. e T. canis. É importante 
ressaltar que, com exceção do estudo fei-
to por Klimpel et al. (2010),12 que obteve 
resultados de exames coproparasitológi-
cos e de necrópsia e pesquisa do parasito 
adulto nos cães, todos os outros se base-
aram somente em pesquisa de formas pa-
rasitárias nas fezes dos animais. Assim, al-
guns parasitas, como Toxocara spp., estão 
subavaliados, uma vez que forte imunida-
de ocorre nos cães com a idade, sendo o 
encontro do Toxocara spp. mais comum 
em animais jovens, até o sexto mês; nesses 
estudos, foram avaliados animais de todas 
as faixas etárias. Dipylidium caninum tam-
bém é subavaliado em exame de fezes, já 
que as cápsulas ovígeras (formas presen-
tes dentro das proglotes) dificilmente são 
encontradas durante o exame. 
Ancylostoma caninum
Este parasito pertence à família An-
cylostomidae e, como todos os membros 
dessa família, é hematófago e responsável 
por quadros de anemia, que podem ser 
bastante severos e mesmo fatais, especial-
mente quando altas infecções acometem 
cães jovens. Habita o intestino delgado, 
onde é facilmente reconhecido, uma vez 
que atinge 1 a 2 cm de comprimento e 
tem aspecto de gancho, razão pela qual, 
em inglês, recebe o nome de hookworm 
(verme-gancho). Possui cápsula bucal 
grande, bastante característica, e, para se 
fixar, durante a alimentação, possui pares 
de dentes. Desenvolve-se bem em solos 
úmidos e em temperatura de 18 a 30°C. 
O cão pode apresentar duas espécies de 
É importante ressaltar que, 
com exceção do estudo feito 
por Klimpel et al. (2010), que 
obteve resultados de exames 
coproparasitológicos e de 
necrópsia e pesquisa do parasito 
adulto nos cães, todos os 
outros se basearam somente em 
pesquisa de formas parasitárias 
nas fezes dos animais.
Locais Nº de amostras 
examinadas
Ancylostoma 
spp.
Toxocara 
spp.
Trichuris 
vulpis
Dipylidium 
caninum Referências (ano)
São Paulo-SP 871 13,5 5,5 2,4 0,3 Gennari et al. (2001)3
São Paulo-SP* 41 39 39 7 zero Muradian et al. (2005)4
São Paulo-SP 223 12,7 2,6 1,8 1,0 Funada et al. (2007)5
Botucatu-SP 254 37,8 8,7 7,1 2,4 Katagiri & Sequeira (2008)2
Rio de Janeiro-RJ 500 15,2 7,4 5 0,2 Balassiano et al. (2009)6
Monte Negro-RO 95 73,7 18,9 9,5 zero Labruna et al. (2006)7
Itapema-SC 158 70,9 14,5 13,9 1,9 Blazius et al. (2005)8
Porto Alegre-RS 1.473 9,2 4,1 0,9 1,6 Lorenzini et al. (2007)9
Curitiba-PR 264 29,2 1,9 3,3 0,8 Leite et al. (2004)10
Pinhais-PR** 171 66,7 (44,8) 10,5 (58,6) 14,1 (6,9) zero (6,9) Martins et al. (2012)11
Fortaleza-CE*** 46 82,6 (95,7) zero (8,7) zero (4,3) zero (45,7) Klimpel et al. (2010)12
*Cães com até 10 meses de idade; ** 1º ano de coleta (2º ano de coleta); *** Positivos no exame de fezes (positivos na necrópsia parasitológica)
Quadro 1 - Ocorrência (%) de helmintos gastrintestinais em amostras de fezes de cães de diferentes localidades brasileiras (estudos 
realizados nos últimos 15 anos)
3
Ancylostoma, A. caninum e A. braziliense; 
a primeira é a mais patogênica. Os ovos 
dessas espécies são muito semelhantes; 
assim, pelo exame de fezes, o diagnóstico, 
baseado no encontro dos ovos do parasi-
to, não os difere por espécie.
Ancylostoma caninum tem um ciclo 
direto. Os ovos chegam ao meio ambien-
te pelas fezes de um cão infectado e aí 
se desenvolvem para a forma infectante, 
a larva de terceiro estágio (L3). Essa fase 
ocorre muito rapidamente, em apenas 
cinco a sete dias, conforme as condições 
de umidade e temperatura. AsL3 atin-
gem um hospedeiro que as ingere, via 
oral, ou penetram ativamente na pele dos 
cães, mesmo sem nenhuma solução de 
continuidade. Nos cães, caminham por 
diferentes órgãos e continuam seu de-
senvolvimento até atingir o intestino del-
gado como larva de quinto estágio (L5), e 
terminam seu desenvolvimento transfor-
mando-se em machos e fêmeas em ape-
nas duas a três semanas após a infecção. 
O tempo entre esta e o aparecimento dos 
ovos nas fezes é chamado de período de 
pré-patência.
Uma proporção das larvas, durante a 
migração, antes de atingir o intestino del-
gado, percorre a musculatura esquelética 
dos cães e permanece como que “dormen-
te” na musculatura. Entretanto, quando a 
fêmea atinge o período final da gestação, 
essas larvas, que estavam na musculatura, 
retomam a migração e chegam ao intestino 
delgado, tornando-se adultas. Uma parte 
delas também atinge os recém-nascidos 
pela via galactógena (colostro e leite). As-
sim, a mãe torna-se a fonte de infecção da 
ninhada, e elas podem estar presentes no 
leite por até três semanas.
As larvas infectantes no meio ambiente 
podem infectar outros hospedeiros, ma-
míferos e aves, inclusive o homem. Nesses 
hospedeiros, as larvas migram pelos teci-
dos, mas não se desenvolvem em adultos. 
Caso um cão se alimente com tecidos des-
ses hospedeiros, chamados paratênicos, as 
larvas contidas nos tecidos continuarão seu 
desenvolvimento nos cães, até atingir o in-
testino delgado, tornando-se adultas. Essa é 
mais uma forma de transmissão da infecção.
Uma fêmea infectada uma única vez 
tem reservas de larvas na musculatura 
que a torna capaz de infectar mais de 
uma ninhada pela via transmamária. 
As fêmeas do parasito são prolíferas, isto 
é, capazes de eliminar milhares de ovos 
por dia, por várias semanas, contaminan-
do o ambiente e possibilitando a manu-
tenção da infecção entre os animais.
A anemia é o mais importante sinal 
clínico nas infecções por Ancylostoma spp. 
Ninhadas com alta infecção podem apre-
sentar os primeiros sinais de anemia ao 
redor do 10º dia de vida. Nessa fase ainda 
não se encontram ovos nas fezes, pois os 
adultos ainda estão imaturos, entretanto já 
apresentam aparelho bucal completo e são 
capazes de sugar sangue dos hospedeiros. 
Sabe-se que cada fêmea adulta é capaz de 
remover 0,1 mL de sangue por dia, assim 
infecções maciças levam os cães rapida-
mente ao quadro de anemia severa. Os 
animais jovens alimentam-se de leite, que 
é pobre em ferro, pois não é de extrema 
importância nessa fase da vida dos cães, 
assim as reservas de ferro esgotam-se rapi-
damente e a medula óssea não tem como 
responder à anemia nessa fase precoce da 
vida. Além da anemia, ocorrem frequente-
mente emagrecimento, perda de apetite e 
diarreia com muco e sanguinolenta.
Toxocara canis
Toxocara canis e Toxascaris leonina são 
os ascarídeos que infectam os cães. Per-
tencem à superfamília Ascaridoidea, são 
vermes grandes, de aproximadamente 10 
cm, esbranquiçados e com ciclo de vida 
direto, enquanto os adultos se estabele-
cem no intestino delgado. T. canis é o mais 
patogênico. Os ovos são bastante típicos, 
de parede grossa e rugosa, escuros e bas-
tante resistentes no meio ambiente.
No meio ambiente, os ovos elimina-
dos nas fezes dos cães infectados se de-
senvolvem, com a formação de duas fa-
ses larvais, dentro dos ovos. Assim, o ovo 
com L2 (larva de segundo estágio) é a 
forma infectante do parasito. Os ovos se 
desenvolvem bem em temperaturas que 
variam de 10 a 45°C, com boa umidade 
e aeração, e são altamente resistentes no 
meio ambiente, podendo sobreviver por 
anos. Também essas fêmeas são altamen-
te prolíferas, e milhares de ovos são eli-
minados no ambiente a cada dia.
Os ovos infectantes, quando inge-
ridos, chegam ao estômago e sofrem a 
ação de enzimas digestivas e liberam as 
L2, que logo atingem o intestino delgado 
do cão. As L2 iniciam, então, uma migra-
ção e chegam aos pulmões. A partir daí, o 
ciclo varia com a idade do animal. Em ani-
mais jovens, até aproximadamente os seis 
meses de vida, uma parte das larvas chega 
ao intestino delgado e se transforma em 
adulta, e parte dela faz migração somática 
e pelo sangue atinge vários órgãos, como 
fígado, músculos, glândula mamária etc. 
Nesses locais, permanecem viáveis, em 
“dormência”. Após o sexto mês, devido à 
imunidade adquirida pelos animais, so-
mente a migração somática ocorre nos 
cães e raramente adultos de T. canis 
estão presentes. 
Da mesma forma que co-
mentado para a infecção 
por Ancylostoma spp., nas 
cadelas prenhes no final 
da gestação (ao redor do 
42º dia), pela queda da 
imunidade e pelo efeito 
hormonal, essas larvas 
teciduais retomam o ci-
clo de desenvolvimento. 
Entretanto, neste caso, as 
larvas de T. canis também 
conseguem atingir os fetos 
pela veia umbilical, e por 
isso os cães já nascem 
em animais jovens, atÉ apro-
ximadamente os seis meses de 
vida, uma parte das larvas 
chega ao intestino delgado e se 
transforma em adulta, e parte 
dela faz migração somática 
e pelo sangue atinge vários 
órgãos, como fígado, músculos, 
glândula mamária etc.
4
infectados por T. canis. Vinte dias após o nas-
cimento, os filhotes já têm formas adultas 
no intestino delgado e podem contaminar o 
ambiente. As larvas também são eliminadas 
pelo colostro e leite. No ciclo evolutivo de 
T. canis, também pode haver a participação 
dos hospedeiros paratênicos. Os ovos larva-
dos, quando ingeridos por vários mamíferos, 
se desenvolvem até a fase de L2 e ficam reti-
dos nos tecidos, podendo infectar o cão que 
se alimentar desses tecidos. Assim, o perío-
do de pré-patência varia de duas a quatro 
semanas, conforme a via de infecção.
Os ascarídeos alimentam-se de ami-
noácidos, vitaminas e oligoelementos dos 
hospedeiros, motivo do baixo desenvolvi-
mento dos animais infectados. Em infecções 
moderadas, a migração do parasito não é 
acompanhada de sintomas respiratórios, 
entretanto, quando altas doses de ovos atin-
gem os hospedeiros, pode haver problemas 
respiratórios com pneumonia e edema pul-
monar. Na fase intestinal, os vermes adultos 
podem causar enterite catarral e obstrução 
intestinal devido ao grande tamanho do 
parasito e do pequeno volume das alças in-
testinais de animais jovens, com o risco de 
ocorrer perfuração do intestino com peri-
tonite e morte de cães. É comum, naqueles 
com altas infecções, o abdome apresentar-
se distendido, os pelos sem brilho, e a mor-
talidade de ninhadas inteiras pode ocorrer 
em poucos dias após o nascimento.
Trichuris vulpis
Este parasito geralmente acomete 
os cães após o desmame, uma vez que 
não é transmitido pela mãe, e apresenta 
a forma fecal-oral de infecção. O T. vulpis 
é um verme grande, que, quando adulto, 
mede de 4,5 a 7,5 cm e habita o intestino 
grosso. Os ovos, no ambiente, se desen-
volvem e tornam-se infectantes, com a 
L3 dentro do ovo. Os ovos são ingeridos 
pelos cães, e as L3 penetram no lume do 
intestino delgado, e aí continuam seu 
desenvolvimento. Alguns dias depois, 
deixam o lume como L4 e migram para 
o ceco e o intestino grosso, onde se tor-
nam adultos. Os vermes, então, enterram 
a parte anterior de seus corpos na mu-
cosa, deixam a posterior no lume e vão 
eliminando os ovos que atingiram o meio 
ambiente por meio das fezes. O período 
de pré-patência é de 90 dias.
Os ovos de T. vulpis são bioperculados 
e facilmente diagnosticados em exames 
de fezes. São bastante resistentes no meio 
ambiente, podendo sobreviver por anos 
em local com boa umidade e proteção di-
reta de radiação solar. Em baixas infecções, 
não há sintomas, entretanto infecções se-
veras podem causar diarreia, geralmente 
com muco e sangue.
Dipylidium caninum
Trata-se do cestoide mais prevalente 
em cães. O adulto pode atingir até 50 cm 
de comprimento e habita o intestino del-
gado. Como todos os cestoides, possui 
um hospedeiro intermediário (HI) em seu 
ciclo evolutivo, isto é, uma das fases do 
desenvolvimento do parasito necessita 
de um hospedeiro invertebradono qual 
o parasito se torna infectante. No caso de 
D. caninum, as pulgas do gênero Cteno-
cephalides felis e os piolhos do gênero 
Trichodectes canis são os HIs.
Os cães eliminam proglotes, que são 
móveis e que contêm, em seu interior, as 
cápsulas ovígeras. No mesmo ambiente, 
encontram-se as larvas das pulgas ou 
adultos dos piolhos. Ambos têm, nessa 
fase evolutiva, aparelho bucal mastiga-
dor que permite a ingestão das cápsu-
las ovígeras do cestoide. Nas pulgas e/
ou nos piolhos, os ovos das cápsulas 
desenvolvem-se para a chamada forma 
cisticercoide, que é a infectante. A larva 
de pulga transforma-se em adulta e man-
tém a forma cisticercoide viável. Quando 
um cão ingere uma pulga infectada, essa 
forma infectante é liberada pela ação de 
enzimas digestivas e atinge o intestino 
delgado, onde o protoescólex se fixa na 
mucosa e inicia seu desenvolvimento, 
produzindo escólex que se desenvolve, 
liberando os proglotes grávidos elimina-
dos pelas fezes. 
A infecção muitas vezes é assintomá-
tica, mas o cão arrasta a região anal, indi-
cando incômodo e prurido no local, po-
dendo algumas vezes haver irritação anal. 
O período de pré-patência é de semanas.
Ancylostoma caninum
Forma infectante: 
L3
Vias de transmissão: 
oral, percutânea, transmamária, 
ingestão de hospedeiro paratênico
Período de pré-patência: 
2 a 3 semanas
Toxocara canis
Forma infectante: 
ovo com L2
Vias de transmissão: 
oral, transmamária, transplacentária, 
ingestão de hospedeiro paratênico
Período de pré-patência: 
2 a 4 semanas
Figura 1 - Ancylostoma caninum e Toxocara canis: detalhes do ciclo evolutivo dos parasitos
A
rq
u
iv
o
 p
es
so
al
 d
a 
au
to
ra
5
Diagnóstico
Com exceção de D. caninum, que rara-
mente aparece nas fezes e tem o diagnós-
tico feito pela descrição do proprietário do 
comportamento do cão e a visualização 
das proglotes, que se assemelham a grãos 
de arroz ou sementes de pepino, em fezes 
frescas, o diagnóstico dessas infecções para-
sitárias é feito por meio de exame de fezes.
As fezes devem ser examinadas de 
preferência frescas ou coletadas em, no 
máximo, 12 a 24 horas, mantidas refrige-
radas, logo após o animal as eliminar, de-
vidamente identificadas e enviadas a um 
laboratório de confiança do veterinário. 
Muitos clínicos têm condições de re-
alizar esses exames na própria clínica, e, 
para a pesquisa de ovos desses helmin-
tos, as técnicas podem ser bem simples. 
Entretanto, um exame coproparasitológi-
co completo deve buscar o diagnóstico 
não só de verminoses, mas também de 
protozoários, geralmente presentes em 
infecções combinadas. Muito mais devido 
aos protozoários do que aos helmintos, 
o chamado exame direto, com coleta de 
um pouco de fezes acrescida de algumas 
gotas de solução fisiológica e pesquisa de 
formas parasitárias em microscópio, é um 
método muito pouco sensível. Se os exa-
mes forem feitos no próprio consultório, 
deverão seguir um padrão de qualidade e 
contemplar técnicas mais sensíveis e espe-
cíficas. Assim, técnicas de flutuação e sedi-
mentação devem ser utilizadas, pois per-
mitem o diagnóstico de ovos de helmintos 
e das formas evolutivas dos protozoários, 
como cistos de Giardia, oocistos de Cystoi-
sospora etc. Esses técnicas baseiam-se no 
Figura 2 - (A) Ovos de Ancylostoma caninum, (B) ovo de Toxocara canis e (C) ovo de Trichuris vulpis
A
rq
u
iv
o
 p
es
so
al
 d
a 
au
to
ra
 
A B C
princípio de flutuação ou sedimentação 
de ovos, leves ou pesados, em soluções de 
densidades conhecidas. São, em seguida, 
examinadas em microscópio, e o diagnós-
tico é feito, o que exige experiência, consi-
derando-se, em especial, os protozoários.
A Figura 2 ilustra ovos de Ancylostoma 
caninum, Toxocara canis e Trichuris vulpis, 
como observados em exame de fezes. 
Controle
O controle da infecção por helmin-
tos depende de ações sobre o hospedei-
ro e o ambiente. Como 
foi comentado, é no 
ambiente que se encon-
tram as formas infectantes desses para-
sitos. Assim, a limpeza dos canis e locais 
frequentados pelos cães são fundamen-
tais para o sucesso. Muitos ovos são bas-
tante resistentes a certos desinfetantes, 
por isso é necessário um tempo mínimo 
de contato entre o princípio ativo dos 
desinfetantes e os ovos ou larvas. Mui-
tas vezes, produtos eficazes são utiliza-
dos, mas subdosados ou por um tempo 
muito curto de contato, não permitindo 
que possam agir na camada externa e 
protetora dos ovos de helmintos. Alguns 
bons desinfetantes também podem cau-
sar irritação na pele de alguns animais. 
Recomenda-se a limpeza sem a presen-
ça deles; depois do uso de desinfetante, 
6
muito mais devido aos proto-
zoários do que aos helmintos, 
o chamado exame direto, com 
coleta de um pouco de fezes 
acrescida de algumas gotas de 
solução fisiológica e pesquisa 
de formas parasitárias em 
microscópio, É um mÉtodo 
muito pouco sensível.
este deve ser removido enxaguando o 
ambiente com água. 
Equipamentos de lavagem com água 
sob pressão de vapor ou a quente são 
altamente recomendados. As formas de 
vida livre dos parasitos não suportam as 
altas temperaturas. Recomenda-se a re-
moção das fezes e limpeza do canil e, em 
seguida, o uso de desinfetantes ou equi-
pamentos de limpeza com água quente. 
Os canis devem receber sol durante um 
período do dia, o que mantém o ambien-
te mais seco e inviabiliza os ovos e as lar-
vas no ambiente.
No caso do D. caninum, o controle de-
pende totalmente do controle dos HIs, das 
pulgas e dos piolhos. As pulgas em seu 
desenvolvimento passam por quatro fases: 
ovos, larvas, ninfas e adultos, e o controle 
desse inseto é bastante difícil, o que exige 
o uso de aspiradores de pó no local onde 
os cães dormem, limpeza e remoção dos 
cobertores e travesseiros dos animais, la-
vagem do ambiente onde os cães vivem 
etc. Todas as fases evolutivas devem ser 
enfocadas num controle para que este seja 
eficaz. Sem o controle das pulgas, as infec-
ções pelo cestoide se repetirão muitas ve-
zes, mesmo com o uso de medicamentos 
com eficácia sobre as pulgas adultas que 
se encontram nos cães.
Tratamento
O uso de vermífugos pode ser feito 
de forma preventiva e curativa. O mais 
acertado seria o uso somente após o 
diagnóstico coproparasitológico positi-
vo, entretanto são poucos os proprietá-
rios que mantêm de forma constante, a 
cada quatro a seis meses, o envio das 
fezes para exame. 
De modo geral, nos dias atuais, a 
maioria dos vermífugos disponíveis para 
cães é bastante segura, de amplo espec-
tro, e alguns agem contra vermes, pul-
gas, carrapatos, sarnas e piolhos. É im-
portante saber que essas formulações, 
chamadas endectocidas, pelo amplo 
espectro de ação, auxiliam no controle 
e no tratamento dos mais importantes 
parasitos dos cães num único medica-
mento, entretanto o veterinário deve ter 
sempre em mente que, no ambiente, se 
encontra a maior parte das formas pa-
rasitárias, e um controle eficaz deve ser 
sempre feito em associação.
Alguns dos princípios ativos dos me-
dicamentos, inicialmente recomendados 
para helmintos, provaram ter boa eficá-
cia também contra alguns protozoários, 
como o fenbendazole, e seu uso no tra-
tamento de Giardia duodenalis em cães. 
Muitos medicamentos utilizados em cães 
são compostos por mais de um princípio 
ativo, de forma a abrangerem com eficá-
cia os helmintos mais comuns. O verme 
do coração, Dirofilaria immitis, está inclu-
so no espectro de ação de medicamentos. 
A maioria dos vermífugos é recomendada 
de forma preventiva para esse verme.
Outro grande avanço desses medica-
mentos está na forma de uso, com aplica-
ções sobre a pele (pour-on, spot-on), com 
boas absorção e eficácia e longo período 
residual, tornando o uso de antiparasitá-
rios uma forma de controle bastante se-
gura, fácil e muito importante.
Uma das grandes falhas no que diz 
respeito a esses medicamentos até os dias 
atuais é o seu uso em ninhadas. Grande 
parte dos produtos para uso em cães jo-
vens é segura para seu início a partir da 
segunda ou terceira semana devida dos 
filhotes. Como foi colocado na descrição 
do ciclo de vida dos parasitos, o período 
de pré-patência desses helmintos varia 
de duas a quatro semanas, e no caso de 
7
Referências:
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179: 702-707, 1991. 
2. Katagiri & Oliveira-Sequeira. Zoonoses and Public Health, 55: 406-
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8. Blazius et al. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 
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9. Lorenzini et al. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal 
Science, 44: 137-145, 2007.
10. Leite et al. Archives of Veterinary Science, 9: 95-99, 2004. 
11. Martins et al. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, 21: 
101-106, 2012.
12. Klimpel et al. Parasitology Research, 107: 713-719, 2010. 
“As opiniões aqui refletidas são de 
responsabilidade dos autores e não refletem 
necessariamente a opinião da Bayer.”
alguns dos princípios ativos 
dos medicamentos, inicialmente 
recomendados para helmintos, 
provaram ter boa eficácia 
tambÉm contra alguns proto-
zoários, como o fenbenda-
zole, e seu uso no tratamento 
de giardia duodenalis em cães. 
Ancylostoma spp. e de Toxocara spp. sin-
tomas já podem estar presentes antes 
da segunda semana de vida, uma vez 
que os animais podem adquirir a infec-
ção mesmo antes do nascimento e, logo 
após, quando da ingestão do colostro e 
do leite. Ou seja, o primeiro tratamento 
pode ser iniciado já na segunda semana 
de vida, entretanto a grande maioria dos 
cães só recebe a primeira vermifugação 
quando vai à clínica veterinária para as 
primeiras vacinas, isto é, ao redor da sex-
ta ou sétima semana de vida.
A ninhada deve ser vermifugada na 
segunda semana de vida, e pelo menos 
mais duas doses devem ser ministradas 
até o sexto mês; isso porque, por meio 
do leite, as larvas vão infectar os filho-
tes por pelo menos três semanas, e, pela 
mãe ter tido uma queda da imunidade 
no período periparto, o ambiente esta-
rá mais contaminado, com maior pos-
sibilidade de infecção dos filhotes. A 
mãe deve ser tratada juntamente com 
a ninhada. É importante ressaltar que, 
quanto mais larvas e ovos estiverem 
contaminando o ambiente, maior será a 
quantidade que conseguirá tornar-se in-
fectante e maior a quantidade de larvas 
que ficarão retidas nos órgãos e tecidos 
dos cães para se tornarem adultas nas 
próximas gestações.
Os vermífugos não agem 
sobre as larvas que estão nos 
tecidos; lá elas estão protegi-
das da ação dos medicamen-
tos. Assim, o uso de vermífugos 
em fêmeas prenhes deve acontecer 
próximo ao parto, na última sema-
na da gestação, quando as larvas já 
estão deixando os tecidos e estarão 
suscetíveis à ação dos vermífugos. 
Para cães adultos, estudos euro-
peus têm recomendado o uso de vermí-
fugos a intervalos de dois a três meses. 
Cães que têm contato com áreas jardi-
nadas, ruas, outras espécies animais, 
que vivam em canis com outros cães e 
animais do meio rural têm mais chances 
de se infectarem, por isso necessitam de 
medicamentos a intervalos mais curtos, 
com pelo menos quatro ou seis vermi-
fugações anuais, a critério do médico 
veterinário. Cães de apartamento, com 
pouco contato com as ruas e outros 
cães, podem ter essas dosagens mais es-
paçadas. O veterinário deve fazer as reco-
mendações conhecendo o estilo de vida e 
os fatores de risco para essas infecções a 
que os cães estarão expostos.
O uso preventivo de vermífugos não só 
protege os animais como reduz a contami-
nação ambiental e os riscos de infecções 
para os humanos.
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