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MECANISMOS DE DEFESA AULA 5 Profª Juliana Lourenço 2 2 CONVERSA INICIAL Assim como Sigmund Freud deu ênfase ao id inconsciente, sua filha Anna Freud deu destaque ao ego. Distanciou-se tanto do pai em termos de direção do tratamento que atualmente ela é reconhecida como uma das responsáveis por fortalecer o que se conhece por psicologia do ego. Muitos psicanalistas consideram que a “escola do ego” não é do campo da psicanálise e sim do campo da psicologia, pois tem sustentação em processos mentais conscientes e não inconscientes. Para Anna Freud, a psicanálise deve ir além do foco de estudo exclusivo no id. É preciso abranger também com igual importância os processos do ego e do superego. Estes são também objeto de pesquisa e tratamento do método psicanalítico. Anna Freud coloca em evidência a função dos mecanismos de defesa sustentando que a análise desses mecanismos possibilita o acesso a conteúdos que ainda não haviam sido analisados. Para ela, por meio da investigação das deformações que o ego aplica aos conteúdos do id, na construção dos mecanismos de defesa, obtêm-se um processo analítico mais amplo. O propósito do trabalho de análise é possibilitar que os representantes das pulsões do id ingressem e sejam reconhecidos na consciência. Para isso, o analista conta com sua influência pessoal (transferência) para assegurar que se pratique em análise a regra fundamental (associação livre). A resistência à análise e a oposição à pessoa do analista nos indicam a ação defensiva do ego, cujo intuito é evitar as incursões do id na consciência. TEMA 1 – A PSICANÁLISE SEGUNDO ANNA FREUD Anna Freud era a filha caçula de Sigmund Freud e tinha muita admiração pela profissão do pai, mas não podia cursar medicina porque, na época, o acesso de mulheres nas universidades ainda era muito restrito. Anna estudou pedagogia, foi professora primária e sua participação na psicanálise foi pelo tema do tratamento infantil, tornando-se uma importante psicanalista, mesmo sem ter formação médica anterior. Pela especificidade da sua prática clínica, com crianças, Anna Freud considerava que era diferente analisar crianças, pois elas não faziam associação livre tal qual os adultos. Em seu livro O ego e os mecanismos de defesa, Anna 3 3 Freud descreve vários casos de pacientes que atendeu, descrevendo desde o motivo da queixa: agressividade ou angustia que chegava a impedir de frequentar a escola, por exemplo, e relacionava com a maneira como as crianças se mostravam na análise, muitas vezes aparentando não terem conflitos, quando, na verdade, estavam evitando entrar em contato com os afetos. Anna Freud justificava que, por vezes, era necessário “começar pela análise da defesa contra seus afetos e passar depois à elucidação de suas resistências na transferência. Então, e só então, seria possível proceder à análise da sua angústia, propriamente dita, bem como de seus antecedentes” (Freud, 2006 p. 32). Anna Freud chamou a atenção para os processos defensivos realizados pelo ego, realizando uma crítica aos trabalhos desenvolvidos até então, que priorizavam apenas os processos ocorridos no id. Entendia que os processos no id concorrem para um mesmo fim: a correção das anormalidades e a recuperação do ego em sua integralidade. Atualmente, definiríamos a tarefa da análise da seguinte maneira: adquirir o máximo conhecimento possível de todas as três instâncias que acreditamos constituírem a personalidade psíquica e aprender quais são as suas relações mútuas com o mundo externo. (Freud, 2006, p. 10) A estudiosa ressaltava ainda que a observação dos processos em que o id ou o superego são protagonistas só é possível a partir do ego, justificando, assim, a necessidade do esclarecimento dos processos psíquicos nessa instância. Ou seja, a investigação sobre o ego (e o consciente) é tão importante quanto a investigação sobre id (e o inconsciente). Para a pesquisadora, a psicanálise deve ir além do foco de estudo exclusivo no id. É preciso abranger também com igual importância os processos do ego e do superego. Estes são também objetos de pesquisa e tratamento do método psicanalítico. Na análise do ego, é preciso: • conhecer seu conteúdo. • conhecer e compreender suas fronteiras e funções. • conhecer e compreender as influências do mundo externo, do Id e do superego às quais o moldaram. Estudar as defesas que o ego emprega para que seja possível conhecer as distorções geradas nos conteúdos do id. 4 4 Na fase considerada pré-psicanalítica, quando se empregava a técnica da hipnose, o ego era considerado totalmente negativo, pois o objetivo era chegar ao conteúdo inconsciente. Buscava-se introduzir o conteúdo inconsciente na consciência sob o efeito da hipnose. A hipnose conseguia isso fazendo uma suspensão do ego. Contudo, o conflito passou a ser os elementos impostos ao ego que foram introduzidos durante a hipnose sob a neutralização da ação do ego. A livre associação foi a técnica aplicada em substituição à hipnose. Com o objetivo de suspender a vigilância do ego, porém sem neutralizá-lo. Na livre associação, o ego também realiza interferências, chamadas de resistências. A função do analista consiste também em analisar o modo de defesa empregado pelo ego diante da associação livre. Na interpretação de sonhos é a situação semelhante à associação livre. Porém, a suspensão da censura é realizada automaticamente durante o sonho. Dito de outra maneira, o ego e suas forças de controle sempre foram um empecilho para a análise do conteúdo inconsciente. O ego age como um guardião do conteúdo do id e regula tanto a entrada quanto a saída do material que está guardado lá. Por hipnose e por associação livre, o analista tenta despistar o ego para acessar o id. Por isso Anna Freud achou que seria mais importante analisar o ego do que tentar chegar direto ao id. Para isso, propôs observar os mecanismos de defesa utilizados pelo ego. Em síntese, Anna Freud faz uma espécie de alerta à comunidade analítica que, no seu entender, privilegiou a análise em apenas uma direção e, portanto, resgata a potencialidade do processo analítico advertindo para a direção de “mão dupla” do processo. TEMA 2 – MOTIVOS PARA A DEFESA CONTRA AS PULSÕES Anna Freud classificou em três categorias os motivos para a defesa contra as pulsões: 1. angústia do superego nas neuroses de adultos: quando não é o ego que censura a pulsão vinda do id, mas sim o superego. O ponto característico, nesse processo, é o ego, propriamente, não considerar perigoso o impulso contra o qual está lutando. O motivo que o instiga à defesa não é originalmente seu. A pulsão é considerada perigosa, porque o superego proíbe a sua gratificação e, se alcançar seu objetivo, certamente provocará grandes problemas entre o ego e o superego. Logo, o ego do neurótico adulto teme as pulsões porque teme 5 5 o seu superego. Sua defesa é motivada pela angústia do superego. (Freud, 2006, p. 45) 2. angústia objetiva na neurose infantil: as crianças buscam não transgredir os seus pais ou educadores. O conflito não é tanto com o seu supergego, que, nessa fase da vida, ainda não foi introjetado a ponto de ser tão severo quanto é nos adultos. “A angústia de castração produz nas crianças o mesmo resultado que a angústia da consciência provoca nos neuróticos adultos. O ego infantil teme as pulsões porque teme o mundo exterior. Sua defesa contra elas é motivada pelo medo do mundo exterior, isto é, pela angústia objetiva” (Freud, 2006 p. 47). 3. angústia pulsional (medo da força das pulsões): nesse caso, é o próprio ego que exerce a defesa por medo de ser invadido e destruído pelas pulsões do id. Na medida em que o ego se diferencia do id, saindo da fase infantil em que predominava o princípio do prazer, e vai adquirindo maturidade,de acordo com o princípio da realidade, o ego passa a ter sempre certa desconfiança das demandas pulsionais do id, exercendo, então, uma regulação, uma censura, o que que chamamos de mecanismos de defesa do ego. Anna Freud (2006) nos explica que, se não fosse a intervenção do ego ou daquelas forças externas que ele representa, todas as pulsões conheceriam um único destino: o da gratificação. Se a pulsão pudesse obter a gratificação, apesar da oposição pelo superego ou pelo mundo exterior, o resultado seria, em primeiro lugar, prazer, de fato; mas, secundariamente, “dor”, quer em consequência do sentimento de culpa emanando do inconsciente, quer pela punição infligida pelo mundo exterior. Logo, quando a gratificação pulsional é rechaçada, por um ou outro desses motivos, a defesa é levada a cabo, de acordo com o princípio de realidade. Sua principal finalidade é evitar essa dor secundária (Freud, 2006, p. 49). A pesquisadora fez um compilado dos 10 mecanismos de defesa, que, até o momento, haviam sido considerados pela psicanálise: 1. regressão; 2. recalcamento; 3. formação reativa; 4. isolamento; 5. anulação; 6 6 6. projeção; 7. introjeção; 8. inversão contra o ego; 9. reversão; 10. sublimação. O ego se defende dos afetos. O que afeta, e aqui estamos falando de emoções (ciúme, amor e ódio, por exemplo), pode causar constrangimento, culpa, vergonha, insegurança e outros sentimentos. Para evitar esses desconfortos, o ego se defende de emoções que o perturbam. Imagine alguém que foi ofendido por alguém e acaba relevando por entender que “é o jeito dele, ele não disse por mal”. Essa pessoa pode estar isolando o afeto ao racionalizar a situação. Você já pode ter conhecido alguém assim, que parece estar “blindado” para emoções. O paciente fala da situação, mas mantém o afeto separado, por isso esse mecanismo de defesa é chamado de isolamento afetivo, muito comum entre pacientes com neurose obsessiva, cuja fixação está no controle, típico da fase anal do desenvolvimento psicossexual infantil. Anna Freud também recomendou que é tarefa do analista praticante descobrir até que ponto esses mecanismos de defesa provam ser eficazes nos processos de resistência do ego e de formação de sintomas. Lembrando sempre que esse funcionamento mental precisa ser considerado saudável, de acordo com a fase de desenvolvimento do bebê e da criança até a adolescência, sendo considerado patológico quando um tipo de defesa que é saudável e esperado na criança é usado maciçamente ou quando por um adulto. A finalidade do método psicanalítico é viabilizar o acesso de conteúdo inconsciente na consciência. Tornar consciente e conhecido o que foi reprimido. Perceba, então, que o psicanalista e o ego estão em lados opostos: • psicanalista: atua para que os conteúdos inconscientes possam ser tolerados pela consciência. • ego: atua para que os conteúdos inconscientes não tenham acesso à consciência. O que é consenso entre todos os psicanalistas é que, apesar das forças que o ego tem para exercer controle e regulação do conteúdo inconsciente, ele sempre falha. Quando a vigilância do ego se afrouxa, uma moção pulsional é reforçada e tem expressão na consciência. Nesse caso, também o ego e suas 7 7 defesas ficam em segundo plano. Vamos ver alguns exemplos: • ato falho: são deslizes que, quando acontecem, um conteúdo latente (reprimido) se torna manifesto. Pode ser na fala ou na escrita, ocorre quando a intenção era dizer ou escrever alguma coisa e a pessoa acaba por falar outra, causando surpresa, reconhecimento do “engano” ou constrangimento. Engano está entre aspas, pois, para a consciência, a expressão deveria ser outra, mas, para o inconsciente, é justamente esta que liberta um desejo reprimido. • esquecimentos: algo em um acontecimento que, ao ser relatado, observam-se partes que são esquecidas e que, mesmo que o paciente se esforce para lembrar, é difícil ou ele não consegue. “Não me lembro bem dessa parte”, enquanto consegue lembrar de outras sobre o mesmo assunto. • omissões: sem perceber, a pessoa omite um ponto importante sobre o tema em questão. É necessária uma análise das defesas do ego para conhecer as transformações que as pulsões sofreram e, então, no estudo do funcionamento do mecanismo, será possível: • conhecer a necessidade (objetivo) da transformação; • o modo como é realizada; • os efeitos que ocasiona. Quando se trata de análise infantil, o analista não deve se abster de trabalhar com a associação livre, a interpretação de símbolos e a interpretação da transferência, pois são vias importantes de acesso a conteúdos do id. Ao se colocar em posição de promover e estimular a expressão dos conteúdos do id, a própria continuidade da análise poderá estar ameaçada, pela resistência que o paciente poderá dirigir em relação ao analista, devido à resistência que o ego pode impor aos conteúdos do id, de forma que a resistência nos processos de análise é esperada, pois faz parte do que já conhecemos do funcionamento dos processos mentais, ou seja: o ego tentará manter inconsciente aquilo que o analista quer tornar consciente. Esse jogo de forças precisa ser cuidadosamente mobilizado pelo analista, para que o processo de análise continue. 8 8 TEMA 3 – A TRANSFERÊNCIA COMO DEFESA É correto dizer que as defesas do ego podem acarretar uma resistência ao processo psicanalítico. Mas nem toda resistência na análise é uma defesa do ego. A resistência pode ser decorrente da relação transferencial com o analista. “Impulsos experimentados pelo paciente em sua relação com o analista que não são uma criação nova ou recente da situação analítica objetiva, mas têm sua origem em relações remotas e são agora meramente revividos sob a influência da compulsão à repetição” (Freud, 2006, p. 19). Entre os instrumentos (técnicas) utilizados em uma análise, a transferência e a sua interpretação é o mais valioso no manejo pelo analista. São destacados três tipos de transferência, de acordo com o grau de complexidade: 1. transferência de impulsos libidinais: amor, ódio, ciúme. É a do tipo mais simples, o paciente sente-se perturbado diante destas moções passionais que surgem na sua relação com o analista; 2. transferência de defesa: compulsão de repetição que se apresenta na análise, reforçando defesas do ego aplicadas aos impulsos do id. De modo geral, podem incidir na relação transferencial ou como evasão/fuga, ou submissão masoquista. 3. representação na transferência: de acordo com o tipo de transferência que se estabelecerá entre paciente e psicanalista, o paciente pode vir a representar no comportamento, isto é, colocando em ato, atuando, segundo as moções pulsionais e/ou as defesas do ego, sem que o paciente se perceba repetindo em sua própria atuação. TEMA 4 – DA PSICOLOGIA DO EGO AO RETORNO A FREUD Anna Freud se diferencia de Sigmund Freud na questão da análise das defesas empregadas pelo ego. Para ela, é tão importante quanto a análise do id. Para análise do ego, adverte que pode ser necessário um considerável esforço, pois o ego trabalhará para sustentar suas defesas. Realmente, o ego é muito ativo na análise. Mas não vamos culpá-lo, pois a sua missão é justamente manter uma harmonia no aparelho psíquico, com vistas ao bem-estar do indivíduo. Uma das maiores críticas que recebe o teor das construções teóricas de Anna Freud é o fato de dar ênfase demais ao fortalecimento do ego em detrimento do id. Um de seus livros mais conhecidos e citados é exatamente O 9 9 ego e os mecanismos de defesa, publicado em 1936, que ressalta a importância dos mecanismos de defesa do ego em relação aos ataques do id. Anna defendia e acreditava que o papel da análise deveria ser mais voltado para o fortalecimento do ego do que para a escuta de conteúdos inconscientes, sendo acusada,assim, de deixar de lado o pilar mais fundamental sobre o qual se ampara a teoria psicanalítica (Silva; Santo, 2015, p. 155). As contribuições de Anna Freud tiveram o efeito de fortalecer uma tendência chamada psicologia do ego, que encontrou adeptos em Nova York na década de 1940. A tendência era levar a psicanálise para uma linguagem mais próxima do conhecimento científico positivista, aproximando-a da neurologia, da psiquiatria e da psicologia. Um artigo de Ernst Kris, recentemente traduzido para o português, aborda o tema da psicologia do ego e a interpretação na terapia psicanalítica, em que pode ser compreendida a posição dos psicanalistas considerados de segunda geração, pós-freudianos, para a mudança de rumo que a psicanálise tomou até ser redirecionada por Jacques Lacan (Kris, 2021). Entre 1930 e 1950, Jacques Lacan percebeu o quanto o inconsciente já não estava mais sendo o objeto da clínica psicanalítica e, com o inicio de seu ensino na Sociedade Francesa de Psicanálise, ele passou a ganhar grande notoriedade, vigorando um energético movimento de retorno a Freud. E entre os anos de 1955 e 1956, dedicou-se a dar um seminário para abordar a clínica da psicose, uma das suas maiores contribuições, pois, a partir daí, o mecanismo próprio da psicose foi desvelado. TEMA 5 – FORACLUSÃO: DEFESA DESCRITA POR LACAN Lacan partiu da ideia de que, nas psicoses, algo que deveria ter sido inscrito, simbolicamente, não se inscrevia, visto que se trata de uma representação insuportável; assim, o sujeito se defenderia desse conteúdo por um mecanismo que ele nomeou de foraclusão. O conceito da foraclusão foi elaborado por Lacan a partir da releitura do texto freudiano, conhecido como o Caso Schreber (1911). Nele, Freud descreveu a formação do delírio a partir do mecanismo de projeção e, concluiu que não seria correto afirmar que o sentimento recalcado dentro havia sido projetado para fora, pois, na verdade, o que é abolido internamente retorna desde fora (Freud, 1911, p. 78). Nesse sentido, Lacan retomaria essa elaboração freudiana ao inserir a 10 10 dimensão do registro simbólico, e declarou: “O que é recusado na ordem simbólica ressurge no real” (Lacan, 1955/56, p. 22). Assim, a questão da recusa foi abordada por Lacan para fundamentar a sua tese a respeito do mecanismo da psicose. 5.1 Do Édipo a foraclusão Em Freud, podemos verificar que o mito do Édipo é tomado para aludir ao modo como o sujeito se estrutura psiquicamente. Pois, como nos ensina Freud, é por intermédio da vivência edipiana que a criança internaliza a lei que vem do pai, interditando o desejo pela mãe; portanto, para se defender contra esse desejo proibido, ele recalca. Para essa função simbólica do pai, Lacan nomeou de Nome-do-Pai, significante que interdita a mãe para a criança. Na psicose, diferentemente do que ocorre na neurose, a lei que interdita o sujeito, ou seja, que castra, não se inscreve, pois, como nos ensina Lacan, ela é foracluída. Portanto, na psicose, o mecanismo defensivo frente à castração é a foraclusão (verwerfung). O termo foraclusão deriva da palavra em francês forclusion, que tem uma conotação jurídica, de algo que perdeu a validade ou prescreveu. Assim, Lacan se utiliza desse termo para conceitualizar o mecanismo da psicose que se defende contra as representações insuportáveis foracluindo a lei que tenta incidir sobre o seu gozo. Contudo, apesar de a defesa na psicose parecer eficiente, ela lança a pessoa em um estado grave de confusão alucinatória, pois a representação repudiada ou abolida retornará inevitavelmente do exterior para o eu, acarretando diversas manifestações clínicas e sintomáticas próprias da psicose. Nesse sentido, podemos entender que a foraclusão não se reduz apenas ao ato de rejeição, mas, como sublinha Eduardo Vidal (2005), ao ato de aparição no real. NA PRÁTICA O analista deve estar atento tanto aos conteúdos do id que se apresentam à consciência quanto às transformações e obstáculos que o eu utiliza diante desses conteúdos Na fala do paciente, o analista investiga quais os mecanismos de defesa que utiliza, sob quais condições utiliza e quais as consequências que daí surgem. Comunica ao analisante as ações desses mecanismos com objetivo de obter sua 11 11 concordância e contribuição para o “desmonte” desses mecanismos FINALIZANDO Anna Freud fez um alerta à comunidade analítica, para que considerassem com igual importância a análise do ego e dos mecanismos que este utiliza. Entendia que era necessário esse alerta, pois as análises, em geral, buscavam trazer à consciência. Por meio das técnicas analíticas (interpretação dos sonhos, associação livre e transferência), analisar também as distorções e barreiras utilizadas pelo ego diante dos conteúdos do id. A partir da análise dos mecanismos de defesa, obtem-se uma análise mais ampla dos conteúdos do analisante. Busca-se, assim, uma análise que interpreta os conteúdos do id, bem como a ação e a função dos mecanismos de defesa do ego. 12 12 REFERÊNCIAS FREUD, A. O ego e os mecanismos de defesa. Tradução: Francisco Settíneri. Porto Alegre: Artmed, 2006. FREUD, S. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ______. O caso Schreber. In: FREUD, S. Obras completas, Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XII KRIS, E. Psicologia do ego e a interpretação na terapia psicanalítica. Revista Lacuna, São Paulo, n. 12, p. 2, 2021. Disponível em: <https://revistalacuna.com/2021/12/12/n-12-02>. Acesso em: 11 jul. 2022. LACAN, J.. O seminário. Livro 3: as psicoses. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. LAPLANCHE, J.; e PONTALIS, J. B. L. Vocabulário de psicanálise. 4. ed. Tradução: Pedro Tamen. São Paulo: Martins Fontes, 2001.SILVA, M. V. N.; SANTO, E. S. E. A história das primeiras mulheres psicanalistas do início do século XX. História, Histórias, Brasília, v. 3, n. 6, 2015. ISSN: 2318-1729. VIDAL, E. Verwerfung e/ou foraclusão. In: Psicoses. Escola Letra Freudiana, n. 36, Rio de Janeiro, 2005.
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