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GABARITO AD2 2023 - LITERATURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR - CEDERJ

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GABARITO AD2 2023.2 
QUESTÃO 1.(2,0) 
Análise do conto de Machado de Assis,“Um bilhete” gravado por Othon Bastos, 
postado na sala de Literatura na plataforma, cujo texto está copiado abaixo, na prova. 
Diz-se que se deve ler poesia em voz alta para se apreciar mais o ritmo. Este é um texto em 
prosa, mas ganha muito na prosódia deste ator experiente. 
[Sabemos que Prosódia é parte da gramática tradicional que se dedica às 
características da emissão dos sons da fala, como o acento e a entonação.] 
Um bilhete 
 Antes mesmo que acabasse o baile, Maria Adelaide dizia à mãe que não queria 
ficar um minuto mais que fosse. 
 — Que é isso? disse-lhe a mãe. Deu uma hora agora mesmo. 
 — Não quero saber. Vamo-nos embora. 
 — Ora, meu Deus! 
 — Vamos, vamos. 
 Não havia que dizer, a mãe era governada pela filha, e perderia o lugar no céu, 
se tanto fosse preciso, para não desgostá-la. Note-se que não cedia pouco desta vez; 
cedia a ceia, que era excelente, e a boa viúva professava esta filosofia: — que as ceias 
excelentes são preferíveis às boas, as boas às más e as más às que não têm existência. 
Sacrificava a melhor parte do baile; mas, enfim, contanto que a filha não padecesse. 
 Padecer, padecia. No carro, logo que as duas entraram, Maria Adelaide 
começou a ralhar com tudo, com o carro, com a capa, com o calor, com o pó, com a mãe 
e consigo mesma. A mãe entendeu logo: era algum desgosto que o Chico Alves lhe dera. 
Realmente, lembrou-se que o Chico Alves, indo despedir-se delas, nem alcançou que 
Maria Adelaide olhasse para ele. A moça deu-lhe os dedos, a pontinha apenas, e falou-
lhe de costas; naturalmente estavam brigados. 
 A viagem foi atribulada. Nunca o mau humor da moça foi tamanho nem tão 
explosivo. A mãe pagou pelo namorado, mas como era prudente e estava com fome, 
preferiu não dizer nada. 
 Em casa, continuou o mau humor. A pobre criada da moça padeceu como 
nunca. Maria Adelaide entrou para os seus aposentos, furiosa, despiu-se às tontas, 
dizendo coisas duras, rasgando uma das mangas do vestido, atirando as flores ao chão, 
raivosa e indignada sem causa aparente. No fim, disse à criada que se fosse embora, e 
ficando só rebentaram-lhe as lágrimas. Assim mesmo sozinha, ia falando, mordendo os 
lábios, dando punhadas nos joelhos. Depois arrancou da cadeira, foi à secretária e 
escreveu este bilhete: 
"Nunca pensei que o senhor fosse tão pérfido. Nunca imaginei que pudesse 
proceder como fez no baile; creia que não manifestei o meu desgosto, por dois motivos: 
— o primeiro, porque ainda tive força de me dominar; segundo, porque depois do que o 
senhor me fez, nada pode haver mais entre nós. Case-se com a viúva, se quer. Mande as 
minhas cartas e adeus. Esta determinação é irrevogável. Qualquer tentativa de 
reconciliação obrigar-me-á ao que não quero". 
Tinha dado expansão à cólera, deitou-se para dormir. O sono não veio logo; a 
raiva agitou a pobre moça, e só quando começou a madrugada foi que ela pôde dormir 
um pouco. No dia seguinte, o Chico Alves recebia este bilhete: 
 "Desculpa algumas palavras que te disse ontem no baile. Estava muito zangada. 
Vem hoje tomar chá, e eu te explico tudo". 
1.1 Repare o comportamento do narrador. Conforme a classificação apresentada na 
Aula 4, em que categoria se enquadraria melhor? Copie a definição e explique 
com exemplos retirados do texto literário. 
 
Narrador onisciente intruso - Um narrador que assume sua voz de contador de 
história não é neutro porque se intromete, com opinião própria no que vai ser dito, 
e dirige-se diretamente ao leitor. Onisciente, porque conhece tudo aquilo que vai 
ser contado, se mete na história que conta e portanto passa a ser um narrador 
onisciente intruso. Faz questão de dizer que está escolhendo, o modo como deve 
contar e por quê. 
No trecho do texto abaixo, pode-se verificar a opinião do narrador, ele não apenas 
conta o ocorrido, mas deixa claro seu julgamento em relação à atitude da mãe para 
com a filha. 
“Não havia quê dizer, a mãe era governada pela filha, e perderia o lugar no céu, se 
tanto fosse preciso, para não desgostá-la. Note-se que não cedia pouco desta vez; 
cedia a ceia, que era excelente, e a boa viúva professava esta filosofia: — que as 
ceias excelentes são preferíveis às boas, as boas às más e as más às que não têm 
existência. Sacrificava a melhor parte do baile; mas, enfim, contanto que a filha não 
padecesse.” 
 
1.2 Por este perfil, em relação ao conjunto de elementos singularizantes da prosa, de 
que elementos o narrador dá conta, e de que modo? 
 
O narrador onisciente intruso conhece a história e descreve inclusive os 
sentimentos da personagem, como a raiva, além de emitir sua opinião, que fica 
ainda mais claro com o uso do ”note-se” durante a narração. 
O narrador fala sobre quatro personagens: a mãe, a filha (Maria Adelaide), o 
namorado (Chico Alves) e a criada. 
O tempo pode ser percebido quando Maria Adelaide diz à mãe que não queria ficar 
um minuto mais que fosse no baile e a mãe responde que havia dado apenas uma 
hora que ali estavam. Outro momento que se verifica o tempo é quando a filha 
decide deitar-se para dormir e por conta da raiva não consegue, apenas quando 
começou a madrugada dormiu. Verifica-se o tempo também quando o narrador 
comenta que no dia seguinte Chico Alves recebe o bilhete em que Maria Adelaide 
pede desculpas pelas palavras de “ontem”. 
O lugar inicialmente no baile, depois o carro e por último o quarto de Maria 
Adelaide 
O motivo da narração foi relatar de forma sucinta um desentendimento do casal e 
as atitudes de Maria Adelaide após o fato. O que provocou a briga não ficou bem 
claro, mas Maria Adelaide ficou com ciúmes de Chico Alves em relação à viúva. 
Como consequência percebe-se através do bilhete entregue que Maria Adelaide 
arrependeu-se de brigar com o namorado. 
QUESTÃO 2. (2,0) 
Imagine-se na pele do Chico Alves. Crie um bilhete que ele teria enviado a Maria Adelaide, 
logo após o baile, pedindo-lhe explicações para seu estranho comportamento. 
( Sugestão)Querida Maria Adelaide, 
Não compreendi seu comportamento ontem; em momento algum faltei-lhe com o respeito para 
receber tal tratamento, sequer se despediu direito, espero suas explicações o mais rápido 
possível. 
Até breve, 
Chico Alves. 
QUESTÃO 3.(4,0) 
Para estudar o maravilhoso, na Aula 5, usamos um conto de Machado de Assis. Agora vamos 
explorar um texto muito especial, escrito pela não menos especial escritora Marina Colasanti. 
É “A moça tecelã”, que reproduzimos a seguir: 
A Moça Tecelã 
 
 
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. 
E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor de luz, que ela ia 
passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o 
horizonte. Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que 
nunca acabava. 
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira 
grossos fios cinzentos de algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, 
escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha 
cumprimentá-la à janela. 
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, 
bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a 
natureza. 
Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para 
frente e para trás, a moça passava os seus dias. 
http://4.bp.blogspot.com/_0N4d4ynYN3M/R8dzmWYxf0I/AAAAAAAAALQ/pF5XNWDc5PA/s1600-h/Bordado.JPG
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o 
peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que 
entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. 
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira 
vez pensou como seria bom ter um marido ao seu lado. 
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, 
começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu 
desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato 
engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, 
quando bateram à porta. 
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi 
entrando na sua vida. 
Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para 
aumentar ainda mais a sua felicidade. 
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. 
Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele 
poderia lhe dar. 
- Uma casa melhor é necessária, -- disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. 
Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para 
a casa acontecer. 
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. 
– Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou. Sem querer resposta, 
imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata. 
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e 
salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e 
ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os 
pentes acompanhando o ritmo da lançadeira. 
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o 
mais alto quarto da mais alta torre. 
- É para que ninguém saiba do tapete, -- disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: 
-- Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! 
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres 
de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. 
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio 
com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de 
novo. 
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas 
exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao 
tear. 
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-
a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o seu tecido. Desteceu os cavalos, as 
carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as 
maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além 
da janela. 
A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em 
volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu 
seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o 
peito aprumado, o emplumado chapéu. 
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a 
devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte. 
[de Marina Colasanti. Ilustração: bordado das irmãs Dumont] 
 
3.1 O que você diria do maravilhoso deste conto. Explique e dê exemplos com frases 
do texto. 
O maravilhoso ocorre desde o início do texto, visto que a moça tece tudo que deseja, o 
clima, seu almoço, sua bebida... 
“Delicado traço cor de luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá 
fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.” 
Tecer era a sua vida, porém um dia ela se sentiu triste e cansada de viver só” 
E o maravilhoso fica ainda mais claro quando resolve tecer, no tapete, seu sonho, um 
companheiro, que bate à sua porta quando entremeava o último fio. 
“Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no 
tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi 
aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. 
Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando 
bateram à porta.” 
Em seguida, vários foram os tapetes tecidos para agradar ao marido, uma casa maior, 
um palácio, criados ... 
“Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e 
escadas, e salas e poços.” 
Por fim, o maravilhoso ocorre quando, cansada de tecer atendendo às ordens do 
companheiro e completamente infeliz, pensou como seria bom ficar sozinha e então 
ao anoitecer começou a destecer, pondo fim a tudo que havia tecido, incluindo o 
marido. 
“Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, 
jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o seu tecido. Desteceu 
os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o 
palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e 
sorriu para o jardim além da janela. 
A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, 
olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos 
sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-
lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.” 
3.2 Lido como fábula, qual seria a moral? 
Quem sabe faz a hora. (Ela, a tecelã, soube). 
3.3 Você diria que o estranho neste conto se confunde com o maravilhoso? Por quê? 
Sim, porque o estranhamento é uma característica da Literatura. Neste caso, se 
confunde com o maravilhoso por trazer a história de uma mulher com poderes mágicos. 
3.4 Você considera que o maravilhoso se transforma em fantástico, neste conto? 
Como? Em que momento? 
A história começa com o maravilhoso, com eventos mágicos, como “tecer” o clima, os 
alimentos, objetos e tudo o que ela, a tecelã, deseje. Tudo parece natural. Até que o 
marido se transforma numa pessoa tão ambiciosa, que tira dela toda vontade de gostar 
do que faz. Este clima vai transformando o mágico no perverso. E o fantástico aparece. 
Destecer já é da ordem do fantástico. 
QUESTÃO 4 (2,0) Vamos pensar nas possíveis mudanças de costumes e linguagem para versões 
do Chapeuzinho Vermelho. 
Leia uma das traduções do original de Perrault: 
 Era uma vez uma menina que vivia numa aldeia e ela era a coisa mais linda que se 
podia imaginar! Sua mãe era louca por ela e, a avó, mais louca ainda. 
A boa velhinha mandou fazer para ela um chapeuzinho vermelho. Esse chapéu assentou-
lhe tão bem que a menina passou a ser chamada por todos de Chapeuzinho Vermelho. 
Um dia, tendo feito alguns bolos, sua mãe disse-lhe: 
— Vá ver como está passando a sua avó, pois fiquei sabendo que ela está um pouco 
adoentada. Leve-lhe um bolo e este potinho de manteiga. 
Chapeuzinho Vermelho partiu logo para a casa da avó, que morava numa aldeia vizinha. 
Ao atravessar a floresta, ela encontrou o senhor Lobo, que ficou louco de vontade de comê-la. 
Mas não ousou fazer isso, só por causa da presença de alguns lenhadores na floresta. Perguntou 
a ela aonde ia, e a pobre menina, que ignorava ser perigoso parar para conversar com um lobo, 
respondeu: 
— Vou à casa da minha avó, para levar-lhe um bolo e um potinho de manteiga que 
mamãe mandou.[...] 
O Lobo saiu correndo a toda velocidade pelo caminho mais curto, enquanto a menina 
seguia pelo mais longo, distraindo-se a colher avelãs, a correr atrás das borboletas e a fazer um 
buque ̂ com as florzinhas que ia encontrando. 
O Lobo não levou muito tempo para chegar à casa da avó. Ele bate: toc, toc, toc.— Quem é? — pergunta a avó. 
— É a sua neta, Chapeuzinho Vermelho — falou o Lobo, disfarçando a voz. 
— Trouxe para a senhora um bolo e um potinho de manteiga que minha mãe mandou. 
A boa avozinha, que estava acamada porque não se sentia muito bem, gritou-lhe: 
— Levante a aldraba, que o ferrolho sobe. 
O Lobo fez isso e a porta se abriu. Ele lançou-se sobre a boa mulher e a devorou num 
segundo, pois fazia mais de três dias que não comia. Em seguida, fechou a porta e se deitou na 
cama da avó, à espera de Chapeuzinho Vermelho. 
Passado algum tempo ela bateu à porta: toc, toc, toc. 
— Quem é? 
Chapeuzinho Vermelho, ao ouvir a voz grossa do Lobo, a princípio, ficou com medo; mas, 
supondo que a avó estivesse rouca, respondeu: 
— É sua neta, Chapeuzinho Vermelho, que traz para a senhora um bolo e um potinho 
de manteiga, que minha mamãe mandou. 
O Lobo gritou-lhe, adoçando um pouco a voz: 
— Levante a aldraba, que o ferrolho sobe. Chapeuzinho Vermelho fez isso e a porta se 
abriu. 
O Lobo, vendo-a entrar, disse-lhe, escondido sob as cobertas: 
— Ponha o bolo e o potinho de manteiga sobre a mesa e venha deitar aqui comigo. 
Chapeuzinho Vermelho despiu-se e se meteu na cama, onde ficou muito admirada ao 
ver como a avó estava esquisita, em seu traje de dormir. Disse, então, a ela: 
— Vovó, como são grandes os seus braços. 
— É para melhor te abraçar, minha filha. 
— Vovó, como são grandes as suas pernas. 
— É para poder correr melhor, minha netinha. 
— Vovó, como são grandes as suas orelhas. 
— É para ouvir melhor, netinha. 
— Vovó, como são grandes os seus dentes. 
— É para te comer! 
E assim dizendo, o malvado lobo se atirou sobre Chapeuzinho Vermelho e a devorou. 
Agora uma versão contemporânea: Chapeuzinho Vermelho de Raiva, de Mário Prata 
 – Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho da vovó, fica. 
 – Mas vovó, que olho vermelho… E grandão… Que que houve? 
 – Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. Aliás, está queimada, 
hein? 
 - Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva a mal, não, mas a 
senhora está com um nariz tão grande, mas tão grande! Tátão esquisito, vovó. 
 – Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização do bosque que é um 
Deus nos acuda. Fico o dia todo respirando este ar horrível. Chegue mais perto, minha netinha, 
chegue. 
– Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir de casa até aqui e 
agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos chego aqui com a minha moto. 
 – Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme? 
 – Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a senhora. Olha aí: 
margarina, Hellman, Danone de frutas e até uns pacotinhos de Knorr, mas é para a senhora 
comer um só por dia, viu? Lembra da indigestão do carnaval? 
 – Se lembro, se lembro… 
 – Vovó, sem querer ser chata. 
 – Ora, diga. 
 – As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E ainda por cima, peluda. Credo, vovó! 
 – Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. Onde se viu fazer 
música deste tipo? Um horror! Você me desculpe porque foi você que me deu, mas estas 
guitarras, é guitarra que diz, não é? Pois é; estas guitarras são muito barulhentas. Não há ouvido 
que aguente, minha filha. Música é a do meu tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô, dançando 
valsas… Ah, esta juventude está perdida mesmo. 
– Por falar em juventude o cabelo da senhora está um barato, hein? Todo desfiado, pra 
cima, encaracolado. Que qué isso? 
 – Também tenho que entrar na moda, não é, minha filha? Ou você queria que eu fosse 
domingo ao programa do Chacrinha de coque e com vestido preto com bolinhas brancas? 
 Chapeuzinho pula para trás: 
 – E esta boca imensa???!!! 
 A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava: 
 – Escuta aqui, queridinha: você veio aqui hoje para me criticar é?! 
 
4.1 O que chama mais atenção do leitor nesta versão atual? 
A versão traz uma releitura moderna, a vovó é realmente a vovó e não o lobo e, portanto, não 
iria devorar a Chapéu. Suas características físicas foram modificadas por motivos diversos como 
circunstâncias da vida contemporânea. A poluição e a industrialização são mencionadas, sendo 
criticados pela avó e exaltados pela neta. Chapéu, que dirigi uma moto já é crescida e não mais 
uma criancinha e a avó uma senhora ativa que procura ficar na moda e frequenta programas de 
televisão. 
4.2 Quais são os elementos que mais caracterizam o tempo em que cada história foi escrita? 
Na primeira história de Chapeuzinho encontra-se no texto frases como “Era uma vez...”, “Um 
dia...”, o que demonstra que não é possível discernir o momento dos acontecimentos. Não há 
vestígios de uma época determinada, os eventos podem se passar em qualquer tempo, portanto 
não há como caracterizá-lo. 
Na segunda história existem evidências de um tempo atual, como quando mencionado a 
industrialização do bosque, a poluição gerada e a estrada asfaltada. O uso de produtos 
alimentícios atuais, também industrializados, como margarina, Hellman, Danone de frutas e 
pacotinhos de Knorr. A presença de instrumentos musicais e músicas recentes são citados e 
comparados com as mais antigas, deixando claro que fazem parte da juventude atual. A menção 
a programa de televisão da época é outro indicativo de tempo. 
O tempo também pode ser percebido na frase “passei o final de semana lá”, na qual o leitor 
reconhece como atual.

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