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GABARITO AD2 2023 2 LITERATURA CEDERJ

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1 
 
QUESTÃO 1. (2,0) 
Análise do conto de Machado de Assis, “Um bilhete” gravado por 
Othon Bastos, postado na sala de Literatura na plataforma, cujo 
texto está copiado abaixo, na prova. 
Diz-se que se deve ler poesia em voz alta para se apreciar mais o ritmo. Este é 
um texto em prosa, mas ganha muito na prosódia deste ator experiente. 
[Sabemos que Prosódia é parte da gramática tradicional que se dedica às 
características da emissão dos sons da fala, como o acento e a entonação.] 
Um bilhete 
 Antes mesmo que acabasse o baile, Maria Adelaide dizia à mãe 
que não queria ficar um minuto mais que fosse. 
 — Que é isso? disse-lhe a mãe. Deu uma hora agora mesmo. 
 — Não quero saber. Vamo-nos embora. 
 — Ora, meu Deus! 
 — Vamos, vamos. 
 Não havia que dizer, a mãe era governada pela filha, e perderia o 
lugar no céu, se tanto fosse preciso, para não desgostá-la. Note-se que 
não cedia pouco desta vez; cedia a ceia, que era excelente, e a boa viúva 
professava esta filosofia: — que as ceias excelentes são preferíveis às 
boas, as boas às más e as más às que não têm existência. Sacrificava a 
melhor parte do baile; mas, enfim, contanto que a filha não padecesse. 
 Padecer, padecia. No carro, logo que as duas entraram, Maria 
Adelaide começou a ralhar com tudo, com o carro, com a capa, com o 
calor, com o pó, com a mãe e consigo mesma. A mãe entendeu logo: era 
algum desgosto que o Chico Alves lhe dera. Realmente, lembrou-se que 
o Chico Alves, indo despedir-se delas, nem alcançou que Maria Adelaide 
olhasse para ele. A moça deu-lhe os dedos, a pontinha apenas, e falou-
lhe de costas; naturalmente estavam brigados. 
 A viagem foi atribulada. Nunca o mau humor da moça foi tamanho 
nem tão explosivo. A mãe pagou pelo namorado, mas como era prudente 
e estava com fome, preferiu não dizer nada. 
 Em casa, continuou o mau humor. A pobre criada da moça 
padeceu como nunca. Maria Adelaide entrou para os seus aposentos, 
furiosa, despiu-se às tontas, dizendo coisas duras, rasgando uma das 
mangas do vestido, atirando as flores ao chão, raivosa e indignada sem 
causa aparente. No fim, disse à criada que se fosse embora, e ficando só 
rebentaram-lhe as lágrimas. Assim mesmo sozinha, ia falando, mordendo 
os lábios, dando punhadas nos joelhos. Depois arrancou da cadeira, foi à 
secretária e escreveu este bilhete: 
"Nunca pensei que o senhor fosse tão pérfido. Nunca imaginei que 
pudesse proceder como fez no baile; creia que não manifestei o meu 
desgosto, por dois motivos: — o primeiro, porque ainda tive força de me 
dominar; segundo, porque depois do que o senhor me fez, nada pode 
2 
 
haver mais entre nós. Case-se com a viúva, se quer. Mande as minhas 
cartas e adeus. Esta determinação é irrevogável. Qualquer tentativa de 
reconciliação obrigar-me-á ao que não quero". 
Tinha dado expansão à cólera, deitou-se para dormir. O sono não 
veio logo; a raiva agitou a pobre moça, e só quando começou a 
madrugada foi que ela pôde dormir um pouco. No dia seguinte, o Chico 
Alves recebia este bilhete: 
 "Desculpa algumas palavras que te disse ontem no baile. Estava 
muito zangada. Vem hoje tomar chá, e eu te explico tudo". 
1.1 Repare o comportamento do narrador. Conforme a classificação 
apresentada na Aula 4, em que categoria se enquadraria melhor? 
Copie a definição e explique com exemplos retirados do texto 
literário. 
 
1. Vou dizer por que aceitei as respostas que falavam do narrador 
onisciente testemunha – porque a diferença dele para o intruso é 
sutil. 
Na aula 4, sobre o narrador testemunha digo: “Estevão 
Soares teve de ir à casa de um ministro de Estado para saber de uns 
papéis relativos a um parente da província, e aí encontrou o deputado 
Meneses, que acabava de ter uma conferência política. Houve sincero 
prazer em ambos encontrando-se pela segunda vez; e Meneses arrancou 
de Estevão a promessa de que iria à casa dele daí a poucos dias [...]. 
Este é o narrador que observa, testemunha o ocorrido, e vai narrando ao 
leitor, apenas dá as entradas das falas das personagens, aponta os semitons da 
história, sobretudo pelo uso dos advérbios e dos adjetivos (Só dois meses 
depois...sincero prazer em ambos...) 
No texto de Um bilhete, no entanto, o que o narrador diz vai além da 
observação da superfície de gestos e conversas, como no exemplo acima. 
O narrador em Um bilhete, reparem, ele entra na casa, vai para 
dentro do quarto: Em casa, continuou o mau humor. A pobre criada da 
moça padeceu como nunca. Maria Adelaide entrou para os seus 
aposentos, furiosa, despiu-se às tontas, dizendo coisas duras, rasgando 
uma das mangas do vestido, atirando as flores ao chão, raivosa e 
indignada sem causa aparente. No fim, disse à criada que se fosse 
embora, e ficando só rebentaram-lhe as lágrimas. Assim mesmo sozinha, 
ia falando, mordendo os lábios, dando punhadas nos joelhos. Depois 
arrancou da cadeira, foi à secretária e escreveu este bilhete: 
E é ele, nesse mesmo tom de segredo de espionagem, que oferece ao leitor 
o bilhete que o Chico Alves realmente recebe... 
Digamos que no exemplo oferecido pela aula, Miss Dollar, houvesse 
também uma inclinação metalinguística do narrador que fala sobre estar 
contando uma história: “Para algumas pessoas a qualidade da heroína fará perder 
o interesse do romance. Erro manifesto. Miss Dollar, apesar de não ser mais que uma 
3 
 
cadelinha galga, teve a honra de ver o seu nome nos papéis públicos, antes de entrar 
para este livro”... 
O problema, de qualquer maneira, é que a decisão final cabe ao leitor. Cabe ao 
leitor decidir, depois de ler, qual foi o ponto de vista sobre a história que observou 
no narrador. 
Por isso aceitei quem disse testemunha – entendendo que para alguns o 
narrador testemunha observa para além das aparências. Mas entendam uma 
coisa: o narrador-testemunha em geral fala em primeira pessoa, conta o que 
testemunhou. 
Porém, há escritores que conseguem fazer um narrador testemunhar em terceira 
pessoa: Vejam o que faz a escritora Margarida Fahel, na abertura de seu livro A 
casa da esperança não era verde: 
O menino chega à frente da casa. Que casa seria aquela? Ele caminhara ao 
longo de toda rua. Quem seria aquele menino anos, não mais que isso. Moreno, 
embora de um tom pálido, lábios corados, narizinho afilado e incríveis, incríveis 
e grandes olhos de um castanho incógnito ou pouco visto. Castanho esmaecido? 
Castanho amarelado? Ou teria nuances de verde clarinho? Cabelos quase 
pretos como convinha à pele trigueira. Bonito! Como era belo aquele garoto! 
Parecia dele sair um halo de esperança. Esperança no riso quase escondido e 
no cintilante daquele olhar. Que casa seria aquela? seria mesmo a casa 
buscada? (2021, p19) 
E no nosso conto: Note-se que não cedia pouco desta vez; cedia a ceia, que 
era excelente, e a boa viúva professava esta filosofia: — que as ceias excelentes 
são preferíveis às ...... etc. 
De todo modo, o mais importante é ver: 
 Que é onisciente, porque sendo a voz do escritor na narrativa, sabe tanto 
quanto ele sabe, naquele momento, da história. Como se nunca soubesse 
tudo, ficasse alguma coisa que a própria história ensinasse ao narrador à 
medida que a história fosse sendo contada. 
 Vejam que só pode saber de tudo sobre si e sobre os outros o narrador 
que volta dos mortos.... quer dizer, rompe o espaço da ficção, como faz, 
no mesmo romance citado, a narradora de Margarida Fahel: 
“Decidi eu mesma contar este capítulo. Aliás nem sei se será mesmo 
o último, pois afinal não sou a dona desta escrita. Pedi licença, 
apenas. Tão pouco sou a personagem central. A personagem central, 
o protagonista, é mesmo o meu filho, Olavo. Ao lado dele, sua irmã, 
minha filha Laura. E todos em torno dele, o menino perguntador. Mas 
voltando ao assunto. De onde contarei este capítulo? Estarei 
contando de onde me encontro agora? [...] Não sei. Não tenho 
certeza. Posso estarnaquela cama de hospital, bem fraca já [...] 
Penso que talvez ali uma fresta larga de futuro tenha se aberto à 
minha frente e este capítulo tenha se desenhado diante de mim, 
colorido, sonoro, como teria que ser, como terá sido e como mesmo 
foi.” (p.257). 
4 
 
 Esse é um tópico interessante de busca na pesquisa sobre narrador. Vá 
à seção de literatura brasileira, numa biblioteca ou livraria, procure 
contos... e especule. É divertido. 
 
1.2 Por este perfil, em relação ao conjunto de elementos 
singularizantes da prosa, de que elementos o narrador dá conta, 
e de que modo? 
As respostas à segunda parte da questão 1 foram em geral boas, 
dizendo sobre tudo o que o narrador apresentou sobre o enredo, a 
ação, os personagens, o tempo e o espaço. 
QUESTÃO 2. (2,0) 
Imagine-se na pele do Chico Alves. Crie um bilhete que ele teria enviado a 
Maria Adelaide, logo após o baile, pedindo-lhe explicações para seu 
estranho comportamento. 
As respostas a esta questão foram adoráveis, algumas belas, outras 
engraçadas... Só perdeu ponto quem esqueceu que o Chico Alves, pela 
manhã, teria recebido o convite para o chá e fala, no outro dia, como se 
não tivesse recebido nada. Houve quem apenas dissesse que seria bom 
conversar, então considerei. 
QUESTÃO 3.(4,0) 
Para estudar o maravilhoso, na Aula 5, usamos um conto de Machado de 
Assis. Agora vamos explorar um texto muito especial, escrito pela não 
menos especial escritora Marina Colassanti. É “A moça tecelã”, que 
reproduzimos a seguir: 
A Moça Tecelã 
 
 
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das 
beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. 
Delicado traço cor de luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, 
enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. Depois lãs mais 
vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca 
http://4.bp.blogspot.com/_0N4d4ynYN3M/R8dzmWYxf0I/AAAAAAAAALQ/pF5XNWDc5PA/s1600-h/Bordado.JPG
5 
 
acabava. 
 Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça 
colocava na lançadeira grossos fios cinzentos de algodão mais felpudo. Em 
breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em 
pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à 
janela. 
 Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas 
e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios 
dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. 
 Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os 
grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias. 
 Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado 
de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se 
sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, 
depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila. 
 Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. 
 Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu 
sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao seu 
lado. 
 Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa 
nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe 
dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu 
emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava 
justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando 
bateram à porta. 
 Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu 
de pluma, e foi entrando na sua vida. 
 Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos 
filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade. 
 E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em 
filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais 
pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar. 
 - Uma casa melhor é necessária, -- disse para a mulher. E parecia 
justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de 
tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer. 
 Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. 
– Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou. Sem querer 
resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata. 
 Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e 
portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha 
tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para 
arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes 
6 
 
acompanhando o ritmo da lançadeira. 
 Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido 
escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre. 
 - É para que ninguém saiba do tapete, -- disse. E antes de trancar a 
porta à chave, advertiu: 
 -- Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! 
 Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o 
palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o 
que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer. 
 E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu 
maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou 
como seria bom estar sozinha de novo. 
 Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia 
sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a 
longa escada da torre, sentou-se ao tear. 
 Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira 
ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o 
seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. 
Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E 
novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela. 
 A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou 
e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o 
desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as 
pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o 
emplumado chapéu. 
 Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha 
clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a 
manhã repetiu na linha do horizonte. 
 [de Marina Colassanti. 
Ilustração: bordado das irmãs Dumont] 
 
3.1 O que você diria do maravilhoso deste conto. Explique e dê 
exemplos com frases do texto. 
 O único problema nas respostas equivocadas, que eu considero sério, 
foi tomar “maravilhoso” no sentido adjetivo corrente, quase denotativo, 
tipo vi um filme maravilhoso, meu amigo é maravilhoso etc. O 
“maravilhoso” a que refere a questão é uma categoria literária, que 
supõe características, como está dito na Aula 3, referentes à Literatura 
infantil. Aí está bem clara a diferença do maravilhoso para o fantástico, 
por exemplo. Então, indo para a questão (3.4), se a narrativa que enfoca 
as competências da tecelã para fazer o extraordinário, que alguns 
chamam erroneamente de sobrenatural, e cria em seu tear um mundo 
imaginado que ela torna real, estes gestos pertencem ao maravilhoso no 
7 
 
seu sentido positivo, de trazer o conforto, o bem-estar, a alegria. Quando 
ela ultrapassa este limite, e cria um homem, ela adentra o território do 
estranho – nesse ponto a resposta (3.3) deveria considerar que: 
 a) o maravilhoso é visto no horizonte da “normalidade”,naquele universo 
das coisas mágicas: criar sol, céu, lua, estrelas, comida, confortos; 
participar do maravilhoso voltava como paz e alegria para a tecelã; 
 b) até o momento em que ela cria um outro ser, como ela, para ser seu 
companheiro, um homem – ela é responsável por introduzir o 
estranhamento no mundo de harmonia, criando um homem que, 
diferente dela, vê aquela maravilha com outros olhos, com os da 
ambição; 
 c) aí a narrativa traz os elementos do fantástico (3.4), que 
desestabilizam a paz, rebocam a exploração, a tirania, o trabalho 
excessivo para benefício financeiro apenas, sem contrapartida humana, 
de bem-estar, de companheirismo e amor, como acontecia antes. 
É neste momento, quando ela cai em si que ela mesma a estava 
fazendo perder-se do seu ideal, que ela toma consciência da perda do 
maravilhoso e, num gesto fantástico, conduzido por raiva, infelicidade e 
desgosto, ela destece. A cena em que ele acorda e se vê pela metade é 
terrível, na verdade, ao descriar o homem ela o mata, como já tinha feito 
com criados e animais de serviço. A imagem é forte. 
Releiam as perguntas agora e vejam como o conjunto das forças do 
conto é poderoso. 
3.3 Você diria que o estranho neste conto se confunde com o 
maravilhoso? Por quê?/3.4 Você considera que o maravilhoso se 
transforma em fantástico, neste conto? Como? Em que momento? 
3.2 Lido como fábula, qual seria a moral? 
Essa reposta era sutil. Todos sabem o que é a moral da história: uma 
frase que resume a lição que a fábula ou a história infantil quer trazer. 
A maioria acertou e fez frases ótimas. 
QUESTÃO 4 (2,0) Vamos pensar nas possíveis mudanças de costumes e 
linguagem para versões do Chapeuzinho Vermelho. 
 Leia uma das traduções do original de Perrault: 
 Era uma vez uma menina que vivia numa aldeia e ela era a coisa mais 
linda que se podia imaginar! Sua mãe era louca por ela e, a avó, mais louca 
ainda. 
A boa velhinha mandou fazer para ela um chapeuzinho vermelho. Esse 
chapéu assentou-lhe tão bem que a menina passou a ser chamada por todos de 
Chapeuzinho Vermelho. 
Um dia, tendo feito alguns bolos, sua mãe disse-lhe: 
— Vá ver como está passando a sua avó, pois fiquei sabendo que ela está 
um pouco adoentada. Leve-lhe um bolo e este potinho de manteiga. 
8 
 
Chapeuzinho Vermelho partiu logo para a casa da avó, que morava numa 
aldeia vizinha. Ao atravessar a floresta, ela encontrou o senhor Lobo, que ficou 
louco de vontade de comê-la. Mas não ousou fazer isso, só por causa da 
presença de alguns lenhadores na floresta. Perguntou a ela aonde ia, e a pobre 
menina, que ignorava ser perigoso parar para conversar com um lobo, 
respondeu: 
— Vou à casa da minha avó, para levar-lhe um bolo e um potinho de 
manteiga que mamãe mandou.[...] 
O Lobo saiu correndo a toda velocidade pelo caminho mais curto, 
enquanto a menina seguia pelo mais longo, distraindo-se a colher avelãs, a 
correr atrás das borboletas e a fazer um buquê com as florzinhas que ia 
encontrando. 
O Lobo não levou muito tempo para chegar à casa da avó. Ele bate: toc, 
toc, toc. 
— Quem é? — pergunta a avó. 
— É a sua neta, Chapeuzinho Vermelho — falou o Lobo, disfarçando a 
voz. 
— Trouxe para a senhora um bolo e um potinho de manteiga que minha 
mãe mandou. 
A boa avozinha, que estava acamada porque não se sentia muito bem, 
gritou-lhe: 
— Levante a aldraba, que o ferrolho sobe. 
O Lobo fez isso e a porta se abriu. Ele lançou-se sobre a boa mulher e a 
devorou num segundo, pois fazia mais de três dias que não comia. Em seguida, 
fechou a porta e se deitou na cama da avó, à espera de Chapeuzinho Vermelho. 
Passado algum tempo ela bateu à porta: toc, toc, toc. 
— Quem é? 
Chapeuzinho Vermelho, ao ouvir a voz grossa do Lobo, a princípio, ficou 
com medo; mas, supondo que a avó estivesse rouca, respondeu: 
— É sua neta, Chapeuzinho Vermelho, que traz para a senhora um bolo 
e um potinho de manteiga, que minha mamãe mandou. 
O Lobo gritou-lhe, adoçando um pouco a voz: 
— Levante a aldraba, que o ferrolho sobe. Chapeuzinho Vermelho fez isso 
e a porta se abriu. 
O Lobo, vendo-a entrar, disse-lhe, escondido sob as cobertas: 
— Ponha o bolo e o potinho de manteiga sobre a mesa e venha deitar 
aqui comigo. 
Chapeuzinho Vermelho despiu-se e se meteu na cama, onde ficou muito 
admirada ao ver como a avó estava esquisita, em seu traje de dormir. Disse, 
então, a ela: 
— Vovó, como são grandes os seus braços. 
— É para melhor te abraçar, minha filha. 
— Vovó, como são grandes as suas pernas. 
— É para poder correr melhor, minha netinha. 
— Vovó, como são grandes as suas orelhas. 
9 
 
— É para ouvir melhor, netinha. 
— Vovó, como são grandes os seus dentes. 
— É para te comer! 
E assim dizendo, o malvado lobo se atirou sobre Chapeuzinho Vermelho 
e a devorou. 
Agora uma versão contemporânea: Chapeuzinho Vermelho de Raiva, 
de Mário Prata 
 – Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho da vovó, 
fica. 
 – Mas vovó, que olho vermelho… E grandão… Que que houve? 
 – Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. 
Aliás, está queimada, hein? 
 - Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva a mal, 
não, mas a senhora está com um nariz tão grande, mas tão grande! Tá tão 
esquisito, vovó. 
 – Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização do 
bosque que é um Deus nos acuda. Fico o dia todo respirando este ar horrível. 
Chegue mais perto, minha netinha, chegue. 
– Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir de 
casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos 
chego aqui com a minha moto. 
 – Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme? 
 – Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a 
senhora. Olha aí: margarina, Hellman, Danone de frutas e até uns pacotinhos de 
Knorr, mas é para a senhora comer um só por dia, viu? Lembra da indigestão do 
carnaval? 
 – Se lembro, se lembro… 
 – Vovó, sem querer ser chata. 
 – Ora, diga. 
 – As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E ainda por cima, 
peluda. Credo, vovó! 
 – Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. 
Onde se viu fazer música deste tipo? Um horror! Você me desculpe porque foi 
você que me deu, mas estas guitarras, é guitarra que diz, não é? Pois é; estas 
guitarras são muito barulhentas. Não há ouvido que aguente, minha filha. Música 
é a do meu tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô, dançando valsas… Ah, esta 
juventude está perdida mesmo. 
– Por falar em juventude o cabelo da senhora está um barato, hein? Todo 
desfiado, pra cima, encaracolado. Que qué isso? 
 – Também tenho que entrar na moda, não é, minha filha? Ou você queria 
que eu fosse domingo ao programa do Chacrinha de coque e com vestido preto 
com bolinhas brancas? 
 Chapeuzinho pula para trás: 
 – E esta boca imensa???!!! 
 A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava: 
 – Escuta aqui, queridinha: você veio aqui hoje para me criticar é?! 
 
10 
 
4.1 O que chama mais atenção do leitor nesta versão atual? 
A maioria chamou atenção para os novos elementos, pertencentes às culturas 
urbanas contemporâneas, incluindo a linguagem, que aparecem na história de 
Mário Prata como o que chama mais atenção. Ponto favorável. 
4.2 Quais são os elementos que mais caracterizam o tempo em que cada 
história foi escrita? 
Também houve um grande acerto ao falar que a principal diferença entre as 
histórias sob o ponto de vista da caracterização de temporalidade estava ligada 
ao cenário: de floresta, com distâncias a serem percorridas a pé num ambiente 
rústico com portas com aldraba, passou à conglomerado urbano, cidade 
barulhenta e poluída, onde o deslocamento devia ser feito de moto, para ser mais 
rápido. 
A única ambiguidade literária,uma verdadeira pegadinha a que pouquíssimos 
atinaram foi a esquisitice da avó: avó? Ou lobo disfarçado, como todas 
malandrices que um “lobo” de verdade num ambiente urbano teria; uma avó com 
orelhas, dentes e boca de lobo, mas que não admite, como bom malandro, ser 
criticado, nem quando está no papel de avó. Houve quem acertasse ao dizer que 
se tratava de uma fábula contemporânea, maliciosa e satírica. Mário Prata é, 
antes de tudo um gozador...

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