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INICIAÇÃO CIENTÍFICA Maurício Lamano Ferreira Natália Cristina de Oliveira 1ª Edição, 2021 Fundado em 1915 — www.unasp.br Missão Educar no contexto dos valores bíblicos para um viver pleno e para a excelência no serviço a Deus e à humanidade. Visão Ser uma instituição educacional reconhecida pela excelência nos serviços prestados, pelos seus elevados padrões éticos e pela qualidade pessoal e profissional de seus egressos. Administração da Entidade Mantenedora (IAE) Diretor-Presidente: Maurício Lima Diretor Administrativo: Edson Medeiros Diretor-Secretário: Emmanuel Oliveira Guimarães Diretor Depto. de Educação: Ivan Góes Administração Geral do Unasp Reitor: Martin Kuhn Vice-Reitor Executivo Campus EC: Antônio Marcos da Silva Alves Vice-Reitor Executivo Campus HT: Afonso Ligório Cardoso Vice-Reitor Executivo Campus SP: Douglas Jeferson Menslin Pró-Reitor Administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-Reitor Acadêmico: Afonso Ligório Cardoso Pró-Reitor de Educação à Distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-Reitor de Pesquisa e Desenvolvimento Institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-Reitor de Desenvolvimento Espiritual, Comunitário e Estudantil: Martin Kuhn Secretário-Geral: Marcelo Franca Alves Faculdade Adventista de Teologia Diretor: Reinaldo Wenceslau Siqueira Coordenador de Pós-Graduação: Vanderlei Dorneles da Silva Coordenador de Graduação: Adriani Milli Rodrigues Órgãos Executivos Campus Engenheiro Coelho Pró-Reitor Administrativo Associado: Murilo Marques Bezerra Pró-Reitor Acadêmico Associado: Everson Muckenberger Pró-Reitor de Desenvolvimento Estudantil Associado: Bruno de Moura Fortes Pró-Reitor de Desenvolvimento Espiritual e Comunitário Associado: Ebenézer do Vale Oliveira Órgãos Executivos Campus Hortolândia Pró-Reitor Administrativo Associado: Claudio Valdir Knoener Pró-Reitora Acadêmica Associada: Suzete Araújo Águas Maia Pró-Reitor de Desenvolvimento Estudantil Associado: Daniel Fioramonte Costa Pró-Reitor de Desenvolvimento Espiritual e Comunitário Associado: Wanderson Paiva Órgãos Executivos Campus São Paulo Pró-Reitor Administrativo Associado: Flavio Knöner Pró-Reitora Acadêmica Associada: Silvia Cristina de Oliveira Quadros Pró-Reitor de Desenvolvimento Estudantil Associado: Ricardo Bertazzo Pró-Reitor de Desenvolvimento Espiritual e Comunitário Associado: Robson Aleixo de Souza Editor-chefe Rodrigo Follis Gerente de projetos Bruno Sales Ferreira Editor associado Alysson Huf Supervisor administrativo Werter Gouveia Gerente de vendas Francileide Santos Editores Adriane Ferrari, Gabriel Pilon Galvani, Jônathas Sant’Ana e Thamires Mattos Designers gráficos Felipe Rocha e Kenny Zukowski Imprensa Universitária Adventista 1ª Edição, 2021 INICIAÇÃO CIENTÍFICA Imprensa Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Maurício Lamano Ferreira Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo (Cena/USP) Natália Cristina de Oliveira Vargas e Silva Doutora em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da USP Ferreira, Maurício Lamano / e Silva, Natália Cristina de Oliveira Iniciação científica [livro eletrônico] / Maurício Lamano Ferreira. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2020. 1 Mb ; PDF ISBN 978-85-8463-172-8 1. Carreira profissional 2. Contabilidade 3. Contabilidade como profissão 4. Contabilidade como profissão - Leis e legislação 5. Formação profissional 6. Negócios I. Título. 20-33026 CDD-370.113 Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Contabilidade : Educação profissional 370.113 Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964 Formação da identidade do contador 1ª edição – 2021 e-book (PDF) OP 00123_078 Editoração: Gabriel Pilon Preparação: Matheus Cardoso Revisão: Giovanna Sinco, Júlia Galvani Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa: Jonathas Sant’Ana Diagramação: Enny Weber Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Imprensa Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Naomi Vidal Ferreira Doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP (Instituto do Coração - HC/FMUSP), com ênfase em Neuropsicologia, subárea de avaliação neuropsicológica relacionada à doença cardiovascular e ao estilo de vida. Conselho editorial e artístico: Dr. Martin Kuhn, Esp. Telson Vargas, Me. Antônio Marcos, Dr. Afonso Cardoso, Dr. Douglas Menslin, Dr. Rodrigo Follis, Dr. Lélio Lellis, Dr. Allan Novaes, Esp. Jael Enéas, Esp. José Júnior, Dr. Reinaldo Siqueira, Dr. Fábio Alfieri, Dra. Gildene Lopes, Me. Edilson Valiante, Me. Diogo Cavalcante, Dr. Adolfo Suárez Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Imprensa Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO BASES DA PESQUISA CIENTÍFICA ........................... 13 Introdução ........................................................................................14 O universo da produção científica ...................................................15 Por que existe a ciência? .........................................................23 Onde se faz ciência? ................................................................25 Eventos e publicações científicas .....................................................28 A ciência e a sociedade: a importância de um diálogo claro entre ambas ...........................................29 Divulgação científica ...............................................................32 Ética em pesquisa básica e aplicada................................................40 O conceito de ética ..................................................................40 E o que diz a legislação brasileira sobre o plágio? .................42 Quando começou a ser discutida a ética em pesquisa? ...............................................................44 VO CÊ ES TÁ A QU I Consequências da má conduta científica: maus exemplos ......................................................48 Aplicação: problema de pesquisa....................................................54 Degradação da Floresta Amazônica .......................................56 A formulação do problema .....................................................58 A definição dos objetivos ........................................................63 Considerações finais.........................................................................66 PRODUÇÃO DE PESQUISA CIENTÍFICA ................... 71 Introdução ........................................................................................72 Pesquisa quantitativa, qualitativa e mista ...........................................................................73 Pesquisa quantitativa ..............................................................75 Pesquisa qualitativa .........................................................................81 Pesquisa mista .................................................................................85 Desenhos experimentais .................................................................87 Avaliação da qualidadedas publicações científicas .......................101 Revistas científicas / periódicos .....................................................104 Quanto custa para publicar um artigo científico? ..........................104 VO CÊ ES TÁ A QU I Mas afinal, quem pode publicar um artigo? .................................106 Fontes de indexação e a busca por periódicos ...............................106 Scielo - Scientific Electronic Library Online ........................107 Web of Science .......................................................................107Scopus ...................................................................................108 Google Acadêmico .................................................................108 PubMed ..................................................................................109 Periódico CAPES .....................................................................109 O que é fator de impacto em produção científica? ........................110 A qualidade da spublicações científicas .........................................113 O processo de revisão/avaliação de artigos científicos .......................................................................115 Estrutura de projeto de pesquisa e redação científica. ....................................................117 Introdução ..............................................................................123 Justificativa .............................................................................124 Hipóteses ................................................................................125 Objetivos ................................................................................125 Metodologia ...........................................................................126 Dicas para a sua redação científica .................................................130 Considerações finais .......................................................................131 Referências ......................................................................................134 EMENTA Introdução ao universo da produção científica, sua epistemologia e áreas do conhecimento. Reflexões sobre ética em pesquisa. Eventos e publicações científicas, grupos de pesquisa e fontes de financiamento. Problemática de pesquisa. Pesquisa básica, aplicada, qualitativa, quantitativa e mista. Apresentação de diretrizes em desenho e estruturação de projetos de pesquisa. Redação científica. Introdução à avaliação da qualidade da publicação científica. CONHEÇA O CONTEÚDO Caro(a) estudante, Seja bem-vindo(a) ao livro que abordará o assunto da disciplina “Iniciação Científica”. Nas próximas páginas você encontrará assun- tos que te levarão ao universo da pesquisa. A ciência é feita por homens e mulheres que buscam o aprimoramento dos feitos huma- nos, a melhor qualidade de vida e a busca da saúde planetária. Embora exista a carica- tura de cientistas serem pessoas que vestem jalecos brancos e se trancam em laboratórios cheios de vidrarias, neste livro você perce- berá que os seus professores são cientistas, independente se eles vestem ou não jalecos diariamente. Além disso, você notará que os alunos universitários, em geral, são aprendi- zes de cientistas e, ao longo da sua trajetória acadêmica, realizam atividades em prol da ciência de seu país. Este livro está dividido em duas unidades, a saber: i) Bases da Pesquisa Científica; e ii) Produção de Pesquisa Científica. A Unidade 1 apresenta quatro assuntos distintos, sendo o primeiro sobre o “Universo da produção científica”; o segundo sobre “Eventos e pu- blicações científicas”; o terceiro sobre “Ética em pesquisa básica e aplicada” e o quarto assunto sobre “Problema de pesquisa”. Nes- ta parte do livro, você conhecerá a produção de ciência no Brasil e no mundo, refletirá sobre a importância da ciência na construção da sociedade e entenderá como funciona a troca de informações científicas no mundo. Nesta parte, você aprenderá a utilizar o pensamento crítico como ferramenta para a discussão de resultados científicos por meio de exemplos e práticas. A Unidade 2 também apresenta quatro assuntos de extrema importância para você conhecer o mundo científico. O primeiro as- sunto é destinado a “Pesquisa quantitativa, qualitativa e mista”; o segundo aborda os “Desenhos experimentais” e suas variantes; o terceiro assunto apresenta uma “Avaliação da qualidade das publicações científicas; e o quarto apresenta como deve ser a “Estrutura de projetos de pesquisa e redação científica”. Esta é uma parte mais prática do curso, a qual se propõe a mostrar as particularidades que pode ocorrer nas diversas produções científicas, pois existem pesquisadores da área de exatas que se apropriam mais co- mumente de métodos estatísticos, enquanto profissionais da área de humanas utilizam mais a metodologia qualitativa. Nesta parte do curso você conhecerá essas encantadoras particularidades. Por fim, este livro lhe trará um excelente res- paldo teórico-acadêmico que o ajudará em sua formação profissional e, caso você de- seje, este material o tornará um(a) ótimo(a) aprendiz de cientista. UNIDADE 1 BASES DA PESQUISA CIENTÍFICA - Conhecer o processo de produção do conhecimento científico; - Avaliar condutas éticas relacionadas à pesquisa científica; - Refletir sobre a importância e a utilidade do conhecimento científico na vida acadêmica e profissional; - Aprender a utilizar o pensamento crítico como ferramenta para a discussão de resultados científicos; - Desenvolver uma postura ético-cristã nas atividades relacionadas à pesquisa e no relacionamento com o grupo de trabalho; - Ampliar a capacidade de leitura e interpretação da literatura científica. OB JE TI VO S 14 INICIAÇÃO CIENTÍFICA INTRODUÇÃO O conhecimento científico está inserido no nosso dia a dia, muito embora, às vezes, não notemos isso. A pesquisa científica norteia a ação das pessoas e profissionais de todas as áreas e é responsável pelos avanços e descobertas que trazem melhor qualidade de vida para as pessoas. Esse tipo de conhecimento é essencial para sua atuação e te ajudará a ser um profissional de excelência, que sabe aplicar na prática o que tem de mais atual nas pesquisas relacionadas à sua profissão. Ao longo desta unidade, falaremos sobre o universo da pesquisa científica, eventos e publicações, ética na pesquisa básica e aplicada e também sobre a definição dos problemas de pesquisa. Ao final desta unidade, esperamos que você: • conheça o processo de produção do conhecimento científico; • conheça as condutas éticas relacionadas à pesquisa científica; • reflita sobre a importância e a utilidade do conhecimento científico na vida acadêmica e profissional; 15 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA • utilize o pensamento crítico como ferramenta para a discussão de pesquisas científicas; • desenvolva uma postura ético-cristã nas atividades relacionadas à pesquisa e no relacionamento com o grupo de trabalho; • amplie sua capacidade de leitura e interpretação da literatura científica. Bom estudo! O UNIVERSO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA Basicamente, a ciência está em quase todos os momentos de nossa vida. Quando nos deparamos com uma tarde chuvosa com raios e tempestades, por trás disso existem explicações técnicas para este fenômeno. Ao vermos uma planta crescendo e florescendo, deparamo-nos com fenômenos que botânicos ,,explicam perfeitamente à luz da ciência. Ao subir de elevador em um prédio com mais de cem andares, sabemos que muita ciência foi aplicada para sustentar uma edificação desse tamanho. 16 INICIAÇÃO CIENTÍFICA Curiosamente, há um estereótipo de que cientistas apenas trabalham em laboratórios, com jalecos e diversas vidrarias em cima de uma bancada. No entanto, essa imagem deve ser ampliada para profissionais que vestem roupas normais e trabalham em salas de universidades, centros de pesquisas ou até mesmo nos escritórios domiciliares (em caso de trabalhos remotos). No Brasil, cientistas de diversas áreas do saber se identificam como “pesquisadores”, pois em muitos contratos de trabalho, sejam públicos ou privados, esse é o termo que aparece na carteira profissional. Inclusive, quando assistimos a um telejornal ou a uma entrevista em algum canal do YouTube, com a participação de um cientista, os apresentadores normalmente os apresentam como pesquisadores. De fato, essa denominação não interfere na qualidade e na quantidade de informação gerada e/ouaprimorada pelos profissionais que se dedicam à promoção da ciência no nosso país. Diversos pesquisadores brasileiros e de outras partes do mundo contribuíram significativamente para o progresso da ciência, no entanto, deve-se considerar que alguns foram fundamentais para o status da pesquisa científica contemporânea. Dentre eles, podemos destacar alguns nomes: 17 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA • Galileu Galilei (1564-1642): Matemático de Pádua, Itália, Galileu foi também físico, astrônomo e filósofo. Dentre diversos legados, o que mais se destacou foi a proposição da teoria heliocêntrica, a qual dizia que o planeta Terra não era o centro do universo. Embora outros cientistas da época já tivessem mostrado evidências de que o Sol era a estrela posicionada no centro do Sistema Solar, Galileu foi bastante questionado por tirar a Terra dessa posição central. • Isaac Newton (1643- 1727): Cientista inglês que estabeleceu uma série de teorias e leis físicas aplicadas até hoje. Sir Isaac Newton elucidou a composição da luz, as leis do movimento, a teoria da gravitação, dentre Galileu Galilei deixou o grande legado da teoria heliocêntrica, a qual dizia que o planeta Terra não era o centro do Universo. Fonte: Shutterstock (http://shutr.bz/3t5lJcG) Isaac Newton estabeleceu uma série de teorias e leis físicas estudadas até os dias atuais. Fonte: Shutterstock (http://shutr.bz/36mcSK1) 18 INICIAÇÃO CIENTÍFICA outros legados. A física moderna e a compreensão de diversos fenômenos na Terra se devem às contribuições desse importante cientista. • Daniel Gabriel Fahrenheit (1686-1736): Físico alemão que inventou o termômetro por dilatação de mercúrio e a escala térmica “Fahrenheit”. A transição entre condições relativas de medição de temperatura (ex.: quente ou frio) para uma precisão gradual na questão térmica propiciou grandes avanços em estudos físicos e químicos, servindo como base para novas descobertas revolucionárias anos mais tarde. • Louis Pasteur (1822-1895): Químico e bacteriologista francês, mostrou que microrganismos do ar infectavam a matéria, contrapondo a teoria da geração espontânea. Seu legado se tornou fundamental para o combate a doenças bacterianas infecciosas, pois grande parte dos seus estudos foi sobre a relação reprodutiva dos microrganismos e seus efeitos infecciosos em outros corpos. Além disso, Pasteur criou a vacina contra a raiva em um período que se tinha pouca informação sobre o sistema imunológico 19 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA humano, comparado ao que se sabe atualmente. • Max Planck (1858-1947): Físico alemão com muito talento para a música. Durante grande parte da sua vida, Max se dedicou ao estudo das radiações eletromagnéticas e aos estudos dos quanta, que anos mais tarde serviriam como base para os achados de outros cientistas renomados, como Niels Bohr e Albert Einstein. • Marie Curie (1867-1934): Cientista polonesa, deixou importantes contribuições na área da radioatividade. Duas vezes laureada com o prêmio Nobel, a cientista foi uma das poucas mulheres com tamanho prestígio ao longo da história. Dentre outras contribuições, Marie descobriu, com o marido, Max Planck estudou as ra- diações eletromagnéticas que serviram como base para estudos de outros cientistas igualmente importantes. Fonte: Shutterstock Marie Curie foi uma das poucas mulheres cientistas de seu tempo. Fonte: Shutterstock 20 INICIAÇÃO CIENTÍFICA dois elementos químicos, a saber: o polônio e o rádio. • Albert Einstein (1879-1955): Físico e matemático alemão, Einstein foi um dos mais importantes cientistas do século 20. Dentre os seus principais legados, destacam-se a Teoria da Relatividade e a prova da existência do átomo, da qual derivou a Lei do Efeito Fotoelétrico, amplamente utilizada na atualidade. A relação entre espaço e tempo foi um “divisor de águas” na história da ciência e serviu de base para o delineamento da física moderna. • Stephen Hawking (1942- 2018): Físico inglês que deixou um importante legado no conhecimento moderno. Mesmo acometido DIVISOR DE ÁGUAS Segundo o site Dicio, a expres- são se refere a uma “situação, evento, fato que representa uma mudança importante no rumo dos acontecimentos [...]”. Disponível em: <http://bit. ly/39rHMTa>. Acesso em: 28 jan. 2021. 21 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA por uma trágica doença – Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) –, Hawking elaborou a Teoria da Singularidade, a qual explica a relação entre buracos negros e força gravitacional. Não foi por acaso que esses cientistas apareceram na relação citada acima. Em qualquer livro de história da ciência ou “sites de internet confiáveis” que você procurar informações sobre os maiores nomes da história da ciência, certamente se deparará com esses personagens e seus legados. No entanto, embora essas pessoas tenham sido fundamentais para a construção da ciência moderna, elas não foram as únicas. Diversos pesquisadores brasileiros também deixaram importantes legados para a humanidade, por exemplo, Cesar Lattes (físico e matemático), Oswaldo Cruz (médico sanitarista), Carlos Chagas (médico sanitarista), Adolfo Lutz (médico), ou ainda atuam em prol da ciência, como a Dra. Duilia de Mello (astrônoma). Neste momento, seria interessante fazermos uma reflexão sobre os personagens científicos mais importantes da história (MARCONDES, 2016): • a maioria deles é composta de físicos ou matemáticos. Isso mostra claramente a importância de um tópico que será discutido 22 INICIAÇÃO CIENTÍFICA posteriormente, tratando especificamente da relação entre ciência básica e ciência aplicada. O desenvolvimento da matemática pode parecer pouco útil para a aplicação e resolução de problemas atuais. No entanto, o seu aprimoramento é fundamental para o desenvolvimento científico moderno de diversas áreas do saber, dentre elas a biologia, química, medicina, arquitetura e outras; • outro fator importante é que quase todos os cientistas eram homens. Notamos que, ao longo da história, as mulheres tiveram poucas oportunidades e consequentemente pouco prestígio, quando comparadas aos homens. Embora Marie Curie tenha sido uma exceção, em muitos lugares da Europa as mulheres eram proibidas de frequentar as universidades. Felizmente esse cenário tem mudado e existe atualmente uma série de mulheres que protagonizam grandes descobertas científicas, sendo assim reconhecidas pelo mérito acadêmico, como a pesquisadora Dra. Duilia de Mello. 23 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA POR QUE EXISTE A CIÊNCIA? A busca por respostas para perguntas essenciais motiva a produção do conhecimento científico. Mas quais perguntas seriam essenciais? Essenciais para quem? Ou essenciais em qual período? A nossa vida é rodeada por processos e produtos derivados de importantes avanços tecnológicos. Um determinado produto científico poderia ser muito útil no início do século 19, porém, hoje essa informação pode ser obsoleta. Além disso, entende-se que, desde uma embalagem que conserva o alimento por mais dias fora da geladeira até o aperfeiçoamento de um motor de carro que passa a consumir menos combustível, a nossa vida é repleta de inovações que, a cada aperfeiçoamento, buscam melhorar a qualidade da vida humana, seja pela menor emissão de poluentes atmosféricos, pela maior A busca por respostas motiva a produção do conhecimento científico. Fonte: Shutterstock 24 INICIAÇÃO CIENTÍFICA economia de energia ou recursos financeiros, por processos que fazem com que os produtos sejam mais duradouros e a lista de maneiras para se fazer isso continua crescendo. Com isso, podemos entender que a ciência serve a humanidade e os processos inerentes a ela. Além disso, entendemos que as inovações científicas contribuem para a organização sistemática das ações profissionais como um todo e traz novos olhares para as necessidades contemporâneas. Para que haja amplacompreensão e aceitação da ciência pela população leiga é importante que a divulgação científica seja eficiente e que os meios de propagação da informação técnica sejam idôneos e não distorçam a legitimidade do conteúdo a ser divulgado. Além disso, é importante salientar que há uma nítida separação entre assuntos que envolvem arte, filosofia e ciência. Ao se discutir arte ou debater algo no âmbito filosófico, o teor científico perde o sentido, pois a ciência é feita de testes de hipóteses e essa premissa não se aplica a essas outras duas áreas. Portanto, não cabe a ciência debater a beleza de uma obra de Picasso ou, no âmbito filosófico, o conceito de lealdade, por exemplo. 25 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA ONDE SE FAZ CIÊNCIA? A ciência é praticada principalmente em Instituições de Ensino Superior (IES) (ex.: universidades), institutos de pesquisas (ex.: Instituto de Botânica, Instituto Butantã, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e também em empresas (ex.: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa), sejam elas públicas ou privadas. Nas IES, os docentes normalmente são pesquisadores em uma determinada área do saber, o que leva a entender que o professor de determinada matéria seja especialista no assunto. Por exemplo, o professor de zoologia em um curso de ciências biológicas é, provavelmente, especialista em algum grupo de animais, o qual ele provavelmente estudou a fundo em sua especialização (ex.: mestrado ou doutorado). No curso de arquitetura e urbanismo, o professor ou professora que leciona a disciplina de paisagismo é, provavelmente, especialista na área e pode ser que faça pesquisas nesse assunto, seja em toda a cidade na qual ela mora, seja apenas em partes específicas. No curso de medicina, o docente que leciona a disciplina práticas operatórias é, provavelmente, especialista nessa área e talvez trabalhe em projetos de pesquisas que visam o aprimoramento de práticas em cirurgias ou procedimentos análogos. 26 INICIAÇÃO CIENTÍFICA Com isso, entendemos que os professores de faculdade são, grande parte das vezes, pesquisadores em um determinado assunto, portanto, muitos deles são cientistas. Nas rotinas diárias de uma IES, os docentes desenvolvem pesquisas científicas que abrangem alunos de diversos estágios. Um determinado professor pode ter um grupo de pesquisa que desenvolve atividades acadêmicas, como leitura e discussões de trabalhos científicos, além de desenvolverem trabalhos em campo. Uma vez dentro de um grupo de pesquisa, o(a) discente pode iniciar uma modalidade de estudo e desenvolver um trabalho denominado Iniciação Científica (IC). Trata-se de um projeto de pesquisa científica na qual o(a) aluno(a) se responsabiliza em executá-lo sob a tutela de um professor ou professora. Juntos, discentes e docentes discutem um determinado problema de pesquisa, elaboram hipóteses a serem testadas, delineiam uma metodologia eficaz e exequível e executam o projeto. Após obter resultados, o(a) discente descreve os achados e os explica à luz da literatura científica. Todo esse processo acontece com a supervisão de um(a) professor(a). Essa modalidade de pesquisa denominada IC pode durar um ou mais anos, porém, é interessante que, ao longo da vida estudantil, o(a) aluno(a) faça iniciações científicas em diferentes áreas dentro do curso escolhido, para que possa conhecer o 27 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA universo da pesquisa e, ao final da graduação, o novo profissional possa seguir em uma determinada subárea, dado que cursos de graduação universitária têm uma grande abrangência. AGORA É COM VOCÊ Procure se informar sobre os grupos de pesquisa mantidos pelos docentes do seu curso. Frequente as reuniões e converse com os professores e demais colegas sobre o que eles pesquisam. Há de se considerar que alguns cursos oferecem, no último ano, uma disciplina chamada trabalho de conclusão de curso (TCC). Nessa disciplina o estudante é condicionado a elaborar um projeto científico desde a concepção da ideia de pesquisa até a divulgação dos resultados. Nesse processo, o(a) aluno(a) deve passar por todas as etapas de um trabalho científico e, ao final do processo, apresentar os resultados para um grupo de professores que que julgarão a pesquisa. Essa prática é similar à que acontece em níveis superiores de estudo, como na obtenção dos títulos de mestre ou doutor. Cabe ressaltar que muitos alunos podem aproveitar o seu projeto de iniciação científica na disciplina de TCC, o que serve de incentivo para que os discentes busquem grupos de pesquisa 28 INICIAÇÃO CIENTÍFICA e programas de iniciação científica nas suas respectivas instituições de ensino. Alguns TCCs podem ser realizados na modalidade revisão bibliográfica, o que significa que o(a) discente aprofundará o conhecimento de uma determinada área do saber e, para tanto, fará uma profunda pesquisa no referencial teórico, buscando informações em artigos, livros e outras fontes acadêmicas. A partir daí, cabe ao estudante fazer uma compilação, com profunda reflexão e contextualização, do material levantado, mostrando as lacunas do conhecimento que ainda não foram esclarecidas pela comunidade científica e também as oportunidades para futuras pesquisas. EVENTOS E PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS Neste tópico, trataremos da função social da ciência e de suas formas de divulgação, bem como da importância de atualização. Você já parou para pensar que a maior parte das descobertas científicas ocorrem em prol da sociedade, mas há aquelas que são indevidamente utilizadas pelo ser humano? Pois é, infelizmente isso ocorre. O uso de tecnologia nuclear para a produção de bombas é um exemplo clássico. Em decorrência disso, muitas pessoas são radicalmente contra o uso da energia nuclear, porém, o que 29 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA elas não sabem é que esta energia é utilizada na medicina para salvar vidas e também no aprimoramento de técnicas agrícolas, ajudando na erradicação da fome no planeta. Diante disso, torna-se essencial que cientistas façam a divulgação de suas pesquisas entre os seus pares e também entre o grande público, o qual é formado por pessoas não cientistas. A CIÊNCIA E A SOCIEDADE: A IMPORTÂNCIA DE UM DIÁLOGO CLARO ENTRE AMBAS Um ponto fundamental na ciência é garantir que os cientistas não se distanciem dos assuntos públicos. A resolução de problemas e as respostas para as mais diversas perguntas que uma sociedade tem, devem ocorrer por métodos científicos confiáveis, eficazes e transparentes. Assim, a ciência e os anseios de um país caminham juntos. Porém, deve-se também garantir que práticas científicas não se tornem um instrumento de política partidária, ou seja, declinem a favor de uma ou outra ideologia de partido político, e sim da coletividade. Isso se torna particularmente importante quando grandes decisões podem influenciar a opinião pública de uma nação inteira. Um exemplo recente foi a questão da vacina contra o 30 INICIAÇÃO CIENTÍFICA novo coronavírus. Enquanto milhares de pessoas morriam pela COVID-19 em todo o mundo, em 2020, no Brasil havia um debate político sobre aspectos éticos da obrigatoriedade da vacina contra a doença. Embora os meios de comunicação estivessem divulgando, em massa, os aspectos técnicos da vacinação, políticos pertencentes a diferentes ideologias debatiam a obrigatoriedade e liberação das vacinas nos diversos estados brasileiros. No início do século 20, a população brasileira passou por uma situação parecida, a qual foi denominada “Revolta da Vacina”. Esse movimento tornava obrigatória a vacinação da população que em alguns casos se recusou a tomar. Independentemente do posicionamento ideológico do cidadão, a maioria dos cientistas da área concordava que toda a população (sem exceção) deveria ser vacinada, pois o vírus não é um agente patológico que se limita ao corpo de um hospedeiro (um ser humano), mas ele pode ser distribuído por muitaspessoas em diversos locais. Com a imunização coletiva, o risco é minimizado e/ou até mesmo eliminado. Esse exemplo mostra claramente que não basta cientistas promoverem descobertas que beneficiam a população. Eles devem também informar a sociedade sobre os aspectos inerentes a tais achados. 31 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA Ainda na perspectiva de divulgação científica, vamos sair da área da saúde e migrar para a astronomia. Muitas pessoas podem se questionar sobre o uso da verba pública na ciência. Podemos considerar legítimo uma pessoa se indagar sobre o porquê de o governo gastar tanto dinheiro com projetos que buscam informações espaciais ou investir verba pública no envio de sondas espaciais, a fim de conhecer as características de habitabilidade de outros planetas. A princípio, isso pode parecer inútil para os problemas sociais, econômicos e ambientais que enfrentamos no dia a dia. No entanto, é graças a este tipo de ciência que atualmente contamos com tecnologia de geoprocessamento, que consegue predizer eventos climáticos que potencialmente devastariam cidades, comprometendo assim a vida de muitas pessoas, e alertar a população para que tome medidas preventivas. Além disso, os métodos de sensoriamento remoto promovem diretamente o aumento da produtividade agrícola e a conservação da natureza como um todo. Outro benefício advindo de estudos espaciais, que parece não trazer nenhum benefício aplicado (ou social), é o uso da internet. Graças à necessidade de comunicação com sondas espaciais, as tecnologias de comunicação revolucionaram a forma de se fazer negócios, estudar e entreter em todo o planeta Terra. 32 INICIAÇÃO CIENTÍFICA A velocidade da informação, até meados dos anos 1990, dependia em grande parte do transporte movido à base de combustível fóssil (cartas transportadas por veículos automotores ou avião); mas, atualmente, qualquer um de nós pode conversar com pessoas em qualquer lugar do planeta com um simples clique em um aparelho de celular moderno. DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA A troca de informações científicas é essencial para o aprimoramento da ciência. Essa troca, no entanto, era mais complicada antigamente. Quando algum cientista descobria algo, ele publicava as suas informações no formato de um artigo. Esse trabalho era impresso e distribuído para instituições e bibliotecas ao redor do mundo. No entanto, não eram todos os pesquisadores que tinham acesso a tais informações. Imagine o impacto negativo que isso trazia à ciência. Um pesquisador na América poderia levar anos para saber os resultados de uma pesquisa realizada na Europa com uma planta medicinal nativa do seu continente. Isso impossibilitava que ele desse continuidade a essa pesquisa mesmo tendo a espécie plantada no seu próprio quintal. Atualmente, existem diversos meios para a divulgação dos resultados científicos. Uma das mais comuns e praticada 33 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA é a divulgação por meio de artigo científico publicado em revistas (ou periódicos) destinadas a cientistas. Essas revistas não são compradas em bancas de jornais nem são encontradas em livrarias. Os periódicos científicos pertencem a grupos específicos, como as sociedades científicas de cada área do saber. A Sociedade Brasileira de Ecologia é um órgão que representa os ecólogos brasileiros e, por ser uma entidade de representação de classe, organiza a Revista Brasileira de Ecologia. Essa revista pode publicar um, dois ou mais volumes por ano, de forma que, quanto mais ela publicar, melhor será a sua reputação no meio científico. Os cientistas da área de ecologia credenciados à Sociedade de Ecologia do Brasil recebem a revista em casa ou por e-mail. Mas qualquer pessoa pode publicar qualquer assunto nestas revistas? Não! Apenas as pessoas que elaboraram um estudo científico e desejam divulgar seus resultados. Via de regra, o trabalho submetido à uma revista passa por um processo chamado de revisão por pares. Ele é avaliado por dois (ou mais) cientistas anônimos (chamados de revisores) com formação condizente com o assunto do trabalho, os quais frequentemente não sabem de quem é o trabalho em questão (revisão às cegas). Após a leitura e crítica dos revisores, o trabalho é enviado ao editor da revista científica, que decide se o trabalho é aceito ou não para publicação. Na maioria das vezes, o trabalho volta ao 34 INICIAÇÃO CIENTÍFICA autor do estudo para eventuais correções. Por fim, se for aceito, o trabalho é publicado na revista e a comunidade científica pode ter acesso aos resultados do estudo. Esse rigor metodológico é importante para manter a qualidade da informação e evitar a publicação de trabalhos espúrios e/ou de pouca relevância científica. Revistas científicas que atualmente não se encontram no formato on-line são indesejadas pela dificuldade de acesso e consequentemente da informação técnica. Outra forma de divulgar os resultados é por meio de livros. Esse recurso didático é muito eficiente e comporta textos mais extensos; porém, traz em sua formatação informações que, via de regra, devido ao processo que a publicação de um livro exige, correm o risco de ficar desatualizadas quando comparadas aos artigos, cuja dinâmica de publicação permite atualização constante. Como os cientistas decidem se publicarão artigos científicos ou livros? Caso algum cientista tenha feito uma grande descoberta e queira publicar os resultados sobre um novo fármaco que cura uma doença que mata muitos seres humanos, o livro não é o melhor lugar para isso. Porém, se ele quiser detalhar muito o procedimento que ele fez, os aspectos 35 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA econômicos, sociais e ambientais por trás do novo fármaco, bem como a situação geográfica na distribuição do material, o livro seria o local ideal para esse tipo de publicação, pois permite informações extensas e detalhadas. Cabe ressaltar que, a depender da área do conhecimento, a informação publicada em livro não tem o mesmo peso da informação publicada em uma revista científica de muito prestígio; no entanto, isso não tira a credibilidade deste meio de divulgação da informação científica. Além disso, os livros não passam por avaliação de revisores com o mesmo rigor científico pelo qual passam os artigos. Outra forma usada entre os cientistas para se comunicarem e se atualizarem sobre o “estado da arte” nas diferentes áreas do saber é por meio de reuniões científicas. Elas podem ser organizadas em forma de congressos científicos, simpósios, ESTADO DA ARTE Segundo o site Núcleo do conhe- cimento, “é o mapeamento que possibilitará o conhecimento e/ ou reconhecimento de estudos que estão sendo, ou já foram, realizados [...]”. Disponível em: <https://bit. ly/2KYeWjP>. Acesso em: 28 jan. 2021. 36 INICIAÇÃO CIENTÍFICA workshops ou seminários. Vamos entender as diferenças entre cada uma dessas modalidades: • os congressos são momentos nos quais diversos especialistas de uma área do conhecimento se reúnem (ex.: Hematologia) para expor e debater resultados levantados nas respectivas pesquisas. Nos congressos existem momentos de apresentação dos resultados/conclusões das pesquisas científicas e momentos de palestras apresentadas por profissionais convidados (normalmente cientistas de renome na área); • os simpósios servem para que a comunidade científica se reúna para debater um determinado tema. Nos simpósios, não há momentos para apresentações de resultados científicos, porém, alguns cientistas discutem um determinado assunto e a plateia participa com perguntas e sugestões de temas a serem apresentados com mais profundidade. Diferente dos momentos de “mesa-redonda”, os quais permitem debates e ocorrem com frequência em congressos, os simpósios não abrem momentos para discussões; 37 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA • os workshops são momentos de intensa participação do público em geral. Nessa modalidade de evento científico, há umaprofundamento de assuntos que estão “em alta”, ou seja, são de grande interesse da sociedade, e busca- se maior objetividade no debate científico; • os seminários são reuniões que visam o debate de assuntos pouco esclarecidos ou estudados. Normalmente, há uma pessoa que apresenta um determinado tema e uma plateia que faz perguntas e sugestões. Por fim, chega-se a uma conclusão sobre o estado da arte. Os seminários podem acontecer concomitantemente a um determinado congresso, dado que os congressos científicos reúnem uma série de importantes pesquisadores. Os eventos científicos que permitem apresentações de resultados (parciais ou conclusivos) normalmente organizam seus anais (documentos contendo as publicações de todos os expositores). Esses anais podem conter resumos simples ou trabalhos completos; caso sejam organizados somente com resumo simples, cada expositor de trabalho científico terá o seu resumo (geralmente 500 palavras no máximo) publicado. Porém, os anais podem ser organizados a partir de trabalhos 38 INICIAÇÃO CIENTÍFICA completos, os quais são formas mais extensas de texto (geralmente algo em torno de seis mil palavras). Os eventos científicos podem ser locais, regionais, nacionais ou internacionais. Quanto mais abrangente for o alcance do evento, mais prestígio ele terá, afinal de contas, o debate científico é feito de aceitações e refutações de informações publicadas. Por causa da pandemia do novo coronavírus, em 2020, muitos eventos científicos foram organizados de forma remota, quebrando um paradigma e trazendo uma nova tendência para as próximas reuniões, a de também serem conduzidas em formato virtual. O sucesso, a facilidade e o custo de se promover eventos dessa natureza viabiliza os encontros entre cientistas, estudantes e curiosos sobre um determinado tema. Atualmente, a sociedade civil também participa de eventos científicos, inclusive na qualidade de palestrante. Esse é o caso de organizações internacionais, como o Local Governments for Sustainability (ICLEI) que leva a experiência de sustentabilidade a cidades de diversas partes do mundo, a fim de promover o debate científico. Essa união entre ciência e sociedade civil é fundamental para a resolução de muitos problemas enfrentados atualmente. 39 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA O debate para além das universidades e institutos de pesquisa é essencial para que ações de transformação social, econômica e/ou ambiental ocorram na prática. Junto à essa dupla (cientistas e sociedade civil), caberia ainda unir a classe política e os tomadores de decisão, uma vez que os reais problemas da sociedade são encarados por estes três players sob diferentes perspectivas. Por fim, cabe destacar que representantes de instituições políticas também organizam congressos e reuniões. Nessas ocasiões, alguns cientistas são convidados a expor sua visão técnica sobre determinados problemas inerentes a um setor da sociedade. Um exemplo seria o Congresso do Ministério Público Brasileiro, o qual teve sua edição virtual em 2020, em decorrência do distanciamento social instalado pela pandemia do novo coronavírus. AGORA É COM VOCÊ Informe-se sobre os principais eventos científicos da sua futura área de atuação profissional. Enquanto aluno, você já pode frequentá-los e ficar por dentro das pesquisas mais recentes. 40 INICIAÇÃO CIENTÍFICA ÉTICA EM PESQUISA BÁSICA E APLICADA Neste tópico, discutiremos alguns assuntos de grande relevância para o desenvolvimento da ciência no Brasil e no mundo. Além de aprofundar o conceito de ética na pesquisa científica, também trabalharemos os conceitos de ciência básica e aplicada. Como resultado, entenderemos melhor a importância daquela ciência que muitas vezes pode parecer inútil para alguns, como o desenvolvimento de teoremas em matemática, mas que na verdade é de extrema importância para o desenvolvimento da ciência. O CONCEITO DE ÉTICA Ética = Ethos: significa costume, forma de agir, modo de ser. Podemos definir a ética como um braço da filosofia que busca a forma ideal para o comportamento humano, o que é certo e errado e moralmente bom ou mau. Pode-se conceituar ética como o conjunto de normas que determina e/ou regula a conduta dos indivíduos na sociedade. Porém, a ética pode assumir vários significados, podendo utilizá-la de acordo com os interesses e o contexto que os indivíduos se inserem. 41 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA Tal como a ética atua na sociedade e tem por objeto o comportamento humano, que se dá por meio dos valores adquiridos por cada indivíduo em suas relações sociais, ela é de extrema importância quando se trata da pesquisa científica. Com o advento da internet e o grande volume de dados e trabalhos disponíveis para consulta (Era da Informação), as questões éticas devem fazer parte da estrutura das pesquisas como um todo. Assim, todo o trabalho elaborado, seja por um aluno ou por um pesquisador, deve ser permeado pela ética, que poderá influenciar desde a metodologia aplicada até a divulgação dos resultados alcançados. Como já foi visto, o conhecimento científico e os avanços nas diversas áreas do conhecimento contribuem muito para a melhoria da nossa vida no dia a dia. Para a elaboração de uma pesquisa científica, usualmente, diversos trabalhos publicados e textos servem como base bibliográfica (base teórica) e podem nortear novos trabalhos e pesquisas acadêmicas na busca pela expansão do conhecimento sobre determinado tema. Como destacamos acima, a “Era da Informação” nos trouxe algumas facilidades na busca por qualquer assunto de interesse, bastando apenas fazer uma simples pesquisa/busca em sites da internet. Então, com essa “facilidade de obter informação”, é imprescindível que haja 42 INICIAÇÃO CIENTÍFICA discussão sobre a apropriação indevida de autoria, ou seja, o plágio. E O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO BRA- SILEIRA SOBRE O PLÁGIO? O crime de plágio possui pena que pode variar de 3 meses a 4 anos, com aplicação de multas e sanções administrativas (Crime de Violação aos Direitos Autorais no Art. 184 – Código Penal). Desse modo, o uso do conteúdo do trabalho de outrem como se fosse seu configura plágio e foge totalmente da ética na pesquisa científica. Imagine vários trabalhos plagiados sobre determinado assunto formando uma rede de trabalhos errôneos. Essas informações trazem diversas complicações para o meio acadêmico, que não contribuem para a difusão do conhecimento, a qual deve ser rigorosa e bem planejada. PLÁGIO De acordo com o site Educa mais Brasil, plágio é “a cópia parcial, integral ou conceitual de uma obra sem a apresentação da fonte original, ou quando os créditos do trabalho são dados a outra pessoa sem a permissão explícita do autor(a) inicial”. Disponível em: <http://bit. ly/2YpXWGk>. Acesso em: 28 jan. 2021. 43 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA Cabe salientar que, mesmo para as informações obtidas na internet que não forem de cunho científico, ou seja, independente do conteúdo acessado, deve sempre ser citada a fonte, dando os respectivos créditos ao autor do texto e/ou trabalho. Como exemplo de plágio, podemos destacar: • copiar um trabalho de pesquisa e publicá-lo; • usar palavras de outro autor em seu trabalho sem referenciá-lo; • citar frases de outro autor sem dar os devidos créditos; • fazer citações dando a impressão de que a ideia é sua quando na verdade ela pertence a outra pessoa. A ciência e a ética caminham sempre juntas, mostrando a utilidade do conteúdo investigado para a finalidade a que ele se propõe. Assim, Spink (2012, p.41) argumenta que: a ética na pesquisa científica não se reduz ao como fazer, como comunicar e aos limites do que dizer. Antes de mais nada, refere-se ao que foi investigado e para quem – eis a 44 INICIAÇÃO CIENTÍFICA “questão” que precisamos aprender a desembrulhar. Se não, corremos o risco de ter uma ciência corretíssima – com procedimentos auditados, códigos depublicação e manuais de melhores práticas –, mas moralmente irresponsável. QUANDO COMEÇOU A SER DISCUTIDA A ÉTICA EM PESQUISA? O primeiro documento redigido sobre ética em pesquisa foi elaborado após a segunda guerra mundial, por volta de 1947. O chamado Código de Nuremberg foi criado em decorrência das atrocidades cometidas por médicos alemães nos campos de concentração, revelando ao mundo imagens abusivas. No código, publicado internacionalmente, havia recomendações norteadoras para pesquisas que envolviam testes em seres humanos. Um ponto importante destacado na época e inserido no documento foi que a participação de um indivíduo em pesquisa deve se dar de forma voluntária e com consentimento. Entretanto, devido ao aumento significativo da atividade científica ao redor do mundo, houve a necessidade de atualizar os conceitos publicados na época, a fim de estabelecer normas mais eficazes e completas. Assim, em 1964, surgiu a Declaração de Helsinque, que veio a substituir o Código de Nuremberg. A 45 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA declaração foi redigida pelo grupo de pesquisa da Associação Médica Mundial e ainda é utilizada atualmente. Ela já passou por sete revisões, sendo que a 64ª assembleia ocorreu em Fortaleza, Brasil, em outubro de 2013. Cada país possui suas normas éticas próprias, de acordo com seus conceitos e necessidades, porém, elas são sempre baseadas na Declaração de Helsinque. No Brasil, possuímos um sistema de avaliação de ética em pesquisas vinculado ao Sistema Nacional de Saúde (CNS), constituído pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pelos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) distribuídos pelas instituições de ensino e pesquisa por todas as regiões do país. O sistema CEP-Conep foi criado pela Resolução CNS nº 196/96, sendo substituído pela Resolução nº 466/12. Em 2016, foi publicada a Resolução CNS nº 510, que trouxe mudanças em relação à publicação anterior, principalmente em pesquisas que não tenham intervenção direta no corpo humano. Em relação aos CEP, estes são formados por profissionais de várias áreas e têm como objetivo proteger os participantes das pesquisas. Assim, todo e qualquer projeto que envolva pesquisas relativas a seres humanos deve ser submetido e avaliado por um CEP. 46 INICIAÇÃO CIENTÍFICA A submissão de projeto ao CEP deve ser realizada em dois passos, a saber: 1. cadastro dos pesquisadores na plataforma; 2. submissão do projeto de pesquisa. Na submissão do projeto de pesquisa ao CEP, vários itens devem ser observados, que podem ser obrigatórios ou não, dependendo do tipo de pesquisa realizada. De modo geral, ao fazer a submissão do projeto de pesquisa, devem ser também submetidos: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), Termo de Assentimento (no caso de pesquisas que envolvam menores de idade (12 a 17 anos) ou legalmente incapazes), questionário, roteiro de entrevistas, autorização prévia do local onde será realizada a pesquisa, Termo de Sigilo e Confidencialidade e cronograma, entre outros, a depender do método utilizado na pesquisa. SAIBA MAIS Para saber mais sobre projetos de pesquisa com seres humanos você pode acessar a Plataforma Brasil. Disponível em: <http://bit.ly/3ci86kt>. Acesso em: 29 jan. 2021. 47 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA De acordo com o Conselho Nacional de Saúde – CNS, existem 844 CEP ativos no país, sendo a maioria na região Sudeste. No entanto, as questões éticas não se limitam a seres humanos e se estendem também aos animais. As pesquisas com utilização de animais em atividades de ensino e pesquisa científica também possuem regras que devem ser adotadas, conforme o disposto na Lei 11.794/2008 (Lei Arouca), que estabelece procedimentos para o uso científico de animais e no Decreto 6.899/2009, que dispõe sobre o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea). Diferentemente da experimentação em humanos, os comitês de ética em pesquisas com animais, denominados Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua), vinculam-se às instituições que possuem atividades de ensino e pesquisa com animais. Assim, todo projeto de pesquisa deve ser submetido para análise A plataforma foi criada pelo governo federal para receber os projetos de pesquisa que envolvam seres humanos. Fonte: Plataforma Brasil 48 INICIAÇÃO CIENTÍFICA da comissão responsável, seguindo as regras dispostas na legislação. SAIBA MAIS Para entender mais sobre as pesquisas com animais e a comissão de ética, acesse: - Instituto de Ciências Biomédicas (ICB USP). Disponível em: <http://bit.ly/3ptStdx>. Acesso em: 29 jan. 2021. - Comissão de Ética no Uso de Animais – Ceua. Disponível em: <http://bit.ly/3clG6MT>. Acesso em: 29 jan. 2021. - Instituto de Biologia (IB). Disponível em: <http://bit.ly/3iVyKAK>. Acesso em: 29 jan. 2021. CONSEQUÊNCIAS DA MÁ CONDUTA CIENTÍFICA: MAUS EXEMPLOS A má conduta científica pode levar à “despublicação” de artigos, sanção da comunidade científica e até à suspensão do registro profissional. Isso pode trazer prejuízos incalculáveis à 49 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA sociedade. Vamos mostrar abaixo alguns casos de pesquisas ou pesquisadores que desrespeitaram a conduta ética. O FAMOSO CASO TUSKEGEE Entre as décadas de 1932 e 1972, foi conduzido um estudo com o objetivo de analisar o desenvolvimento de sífilis em negros. Para a realização do experimento, foram selecionados negros de uma comunidade pobre e rural de Macon, no estado do Alabama, Estados Unidos. Como as pessoas não dispunham de condições financeiras para pagar por uma consulta, foi-lhes ofertado, como contrapartida pela participação no projeto, acompanhamento médico, alimentação no dia do exame e auxílio funeral. No total, participaram 399 homens com sífilis e 201 sem a doença, e nenhum deles foi informado que tinha sífilis e nem dos efeitos dessa patologia. Após 40 anos do estudo, e 13 artigos publicados, havia somente 74 sobreviventes. Durante o período do experimento, na verdade desde 1945, já havia tratamento para a doença, através do uso da penicilina. Porém, os indivíduos incluídos no estudo continuaram sem receber nenhum tratamento, e essa omissão teve o consentimento dos pesquisadores. Esse é um caso típico da falta de ética na pesquisa cientifica, visto que os 50 INICIAÇÃO CIENTÍFICA responsáveis pelo estudo eram pesquisadores preparados e receberam o respaldo do governo estadunidense. O CASO DO PSICÓLOGO STANLEY MILGRAM Stanley Milgram desenvolveu um trabalho com objetivo de estudar a obediência, que foi apresentado aos voluntários como “pesquisa de estudo e aprendizagem”. O psicólogo queria saber até que ponto as pessoas obedeciam a instrução, mesmo ferindo outra pessoa. Em uma sala ficavam dois participantes separados por uma parede transparente. O primeiro possuía um interruptor em sua mão capaz de liberar correntes elétricas de 15 a 450 volts no outro participante, que era cúmplice do psicólogo. Assim, quando o primeiro participante formulava perguntas ao cúmplice e este errava a resposta, o cúmplice era “punido” (o participante que dava o choque não sabia que a punição não era real), contorcendo-se na cadeira a cada suposto choque e a cada suposto aumento da intensidade. Participaram do experimento quarenta homens com idade entre 20 e 50 anos. Na maioria das vezes, o experimento só foi interrompido quando os choques atingiram a voltagem mais alta. Ao final do experimento, o participante que dava o choque era interrogado sempre com as mesmas questões, sendo uma delas sobre o porquê de ele não interromper os choques ao ouvir a dor do outro. 51 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA Frente a isso, é de extrema importância que a ética exista na pesquisa científica, para que sejam resguardados tanto o pesquisador quanto os participantes. A ética deve fundamentar as ações dos pesquisadores, para o bem deles mesmos, dos participantes e da ciência. Ainda assim, mesmo diante detodos os esforços para regulamentação do tema, ainda são encontrados trabalhos de pesquisa com severas falhas éticas. Agora que já abordamos os aspectos éticos da pesquisa científica, vamos entender como pode ser feita a ciência propriamente dita. Diferente da religião, que prega uma crença inquestionável (dogma), a ciência busca responder perguntas e necessita ser testada. Então, podemos dizer que a ciência tenta explicar, por meio de estudos, observações e experimentações, diversas hipóteses formuladas sobre algo a ser estudado. Buscando a etimologia da palavra, “ciência” vem do latim “scientia”, que significa “conhecimento”. Em se tratando de pesquisa científica, precisamos conhecer a sua natureza para poder distingui-la de outros tipos de pesquisa. Esta parte poderá quebrar uma série de paradigmas da sua vida escolar. Você se lembra que, nas complexas aulas de matemática, alguns alunos questionavam os professores com a seguinte 52 INICIAÇÃO CIENTÍFICA pergunta: “Professor(a), eu não entendo qual é a utilidade deste conhecimento, por que temos que aprender isso?”. Pois é, foi graças à matemática pura que hoje criamos tecnologia em hospitais que salvam vidas. Esse tipo de ciência, que, para o senso comum, não tem um resultado prático perceptível e imediato, é chamada de ciência básica: • Ciência básica: aquisição de novos conhecimentos em diferentes áreas (fenômenos naturais, matemática e as humanidades), buscando enriquecer e fornecer base científica para as atividades humanas. É imprescindível que haja aplicação prática prevista no curto prazo, sendo ela a fonte essencial de novos conhecimentos para lidar com questões simples. Na ciência básica, ocorre o avanço do conhecimento teórico, que pode ser medido por artigos publicados e citações do autor. Por outro lado, muitos achados ou áreas do saber fornecem resultados que são sentidos ou percebidos pelo senso comum, fomentando assim a chamada ciência aplicada: • Ciência aplicada: busca formas de valer-se dos conhecimentos já existentes para solução de problemas práticos da humanidade. Os 53 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA resultados obtidos através da ciência aplicada podem ser utilizados na indústria e na sociedade. É desenvolvida para que os conhecimentos adquiridos sejam aplicados de forma que solucionem problemas do dia a dia das pessoas e dos profissionais, tendo como foco potencial a geração de novos produtos e serviços. Cabe destacar que as duas ciências andam juntas. Não existe ciência aplicada sem a ciência básica. Enquanto uma gera conhecimento, a outra interpreta e aplica o conhecimento. Para suprir as necessidades humanas, muitos conhecimentos teóricos e práticos foram desenvolvidos com o passar do tempo. Vamos aos exemplos (alguns já debatidos anteriormente): • Niels Bohr (1885-1962): através da ciência básica, estudou os conceitos para compreender a estrutura dos átomos e da física quântica, publicando a teoria básica sobre a estrutura do átomo. O conceito lhe rendeu o Prêmio Nobel de Física em 1922. • Louis Pasteur (1822-1895): dedicou-se aos estudos microbiológicos, como a prevenção e deterioração de produtos. Foi o criador da primeira vacina contra 54 INICIAÇÃO CIENTÍFICA a raiva. As pesquisas do francês tinham impactos práticos, sendo denominadas de ciência aplicada. • Albert Einstein (1879-1955): desenvolveu, através da ciência básica, o conceito de emissão estimulada relacionado com propriedades intrínsecas da matéria, algo fundamental para a física quântica. Décadas mais tarde, em 1960, ocorreu a criação do laser (Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation), pelo físico estadunidense Theodore Harold Maiman (1927-2007), baseada nos conceitos de Einstein. APLICAÇÃO: PROBLEMA DE PESQUISA Neste tópico, discutiremos o caminho inicial para elaborar um projeto de pesquisa; veremos quais são os primeiros passos para formular a peça fundamental de um projeto, o problema de pesquisa. Essa parte do projeto de pesquisa determina qual será o objeto de estudo e o que se espera dele. À primeira vista, parece ser um processo simples, mas você entenderá quão trabalhosa e complexa é a delimitação do problema de pesquisa. Ainda neste tópico, debateremos a importância da escolha de um tema para o projeto, bem como os objetivos dele, elementos fundamentais para o bom andamento da pesquisa. 55 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA Embora o senso comum indique que um problema é algo ruim, em pesquisa científica a palavra pode ter outro significado, mais voltado para uma situação em particular. Nesse caso, vamos recorrer às definições propriamente ditas encontradas no dicionário Houaiss da língua portuguesa, o qual define problema como um assunto controverso, que pode ser objeto de pesquisas científicas ou discussões acadêmicas; questão social que traz transtornos e que exige grande esforço e determinação para ser solucionado; tudo aquilo cuja resolução é difícil ou complicada. Nota-se que há várias definições para a palavra problema. Porém, o foco será o problema relacionado às pesquisas científicas, pois nem todo problema é de caráter técnico. No entanto, para encontrar um problema que seja objeto de um estudo, nós precisamos, necessariamente, de um tema. Esse é o ponto inicial para o desenvolvimento de um projeto. Portanto, vamos falar sobre ele primeiro. Algumas definições de tema, segundo o dicionário online de português, tratam a palavra como proposição, assunto que se quer desenvolver ou provar; Assunto, matéria: dissertou sobre um tema difícil. Como mencionado, o primeiro passo para o desenvolvimento de uma pesquisa científica é a definição do tema a ser estudado. Essa tarefa é de fundamental 56 INICIAÇÃO CIENTÍFICA importância e está atrelada ao sucesso do trabalho. O tema deve se relacionar à área de interesse, e será problematizado na sequência. A escolha do tema necessita de precisão para que, posteriormente, possa gerar um problema. Em relação ao tema, Rudio (1986, p. 72) afirma: para termos os conhecimentos necessários, a fim de transformar um assunto geral (ainda não convenientemente especificado) num tema de pesquisa, é necessário observarmos a realidade, de maneira cuidadosa e persistente, no âmbito do assunto que pretendemos pesquisar. Dando continuidade à definição de tema, partiremos para alguns exemplos que poderão lhe ajudar a compreender melhor essa importante parte de um trabalho científico. DEGRADAÇÃO DA FLORESTA AMAZÔNICA Note que esse exemplo pode ser um tema de interesse, porém, deve-se ter cuidado, pois o assunto é muito amplo e envolve diversas perspectivas de estudo. A degradação da floresta amazônica está relacionada a questões econômicas, sociais, ambientais e culturais. Nesse caso, é necessário “afunilar” o escopo da sua pesquisa, para que ela seja 57 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA mais precisa. Assim, cabe fazer as seguintes perguntas: O que nos interessa neste tema? A degradação da floresta amazônica pelos madeireiros ilegais? A degradação da floresta amazônica pelo fogo? Os prejuízos econômicos da degradação da floresta? A falta de políticas públicas e fiscalização voltadas à degradação da floresta amazônica? Veja que são vários os assuntos que podem ser estudados dentro do tema proposto. É imprescindível partir de questionamentos para que possa chegar ao tema que será objeto de investigação. Normalmente, os seus professores já fazem pesquisas dentro de uma determinada área do conhecimento, fato que facilita a escolha de um tema para ser o seu projeto de iniciação científica. Alguns autores dão dicas de como escolher o tema do seu trabalho. Por exemplo, Preti (2009, p. 37) destaca alguns pontos importantes sobre a delimitação do tema: - Escolha um assunto de seu interesse, pelo qual sente paixão, entusiasmo e motivação, pois isso é fator decisivo no sucesso do trabalho! Não o escolha por achá- lo “fácil”, mas, sim, por despertar seu interesse.- Verifique a disponibilidade de tempo para dar conta do assunto no tempo previsto, segundo as exigências formais 58 INICIAÇÃO CIENTÍFICA (tipo de trabalho, quantidade de páginas) e materiais (prazos, custos) impostos. Senão será surpreendida! - Verifique suas condições intelectuais. Você deve propor um assunto que esteja ao alcance de sua capacidade e ao nível de seus conhecimentos. Não se aventure em águas “nunca dantes navegadas”. O perigo de naufrágio é grande! - Verifique se você tem acesso à bibliografia referente ao assunto escolhido. Para tal, consulte obras de referência, catálogos bibliográficos ou a bibliografia indicada, sugerida pelos autores das obras, por professores, orientadores, etc. caso não encontre bibliografia suficiente à sua mão, escolha outro assunto. Uma vez definido o tema do seu trabalho (ou apresentado pelo seu orientador), você pode partir para o problema de pesquisa propriamente dito. A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA Podemos dizer, na área científica, que o problema de pesquisa é uma pergunta que ainda não tem resposta definida. É algo que deverá ser estudado e deve ser entendido como qualquer situação não resolvida pela sociedade. Para que seja formulado o problema de pesquisa, você precisará de muita informação inicial, ou seja, conhecimento sobre o assunto que será estudado. Então, por onde começar? 59 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA Uma dica é iniciar o trabalho através de leituras sobre o tema em artigos e livros publicados por grupos de pesquisas da área em questão. Caso você já tenha a vivência na área, esta será muito útil no decorrer da sua pesquisa. Assim, a sua decisão para a problematização de um determinado tema deve ser bem fundamentada. Para continuarmos a exemplificar, vamos continuar com uma variação do tema sugerido anteriormente, sendo ele: “A degradação da floresta amazônica pelos madeireiros ilegais”. Para que seja formulado o problema, é importante destacar a operacionalização, de modo que seja possível (exequível) alcançar a resposta e, principalmente, não falte recursos para a pesquisa. Rudio (1986, p. 76) descreve a complexidade de elaborar um problema de pesquisa: “Formular um problema consiste em dizer, de maneira explícita, compreensível e operacional, qual a dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos resolver.” Na formulação do problema o(a) pesquisador(a) aponta eventuais lacunas do conhecimento na área e conduz a uma parte muito importante da pesquisa, que é a pergunta científica. Neste momento, o leitor passa a ter clareza do que você quer fazer com o seu trabalho e qual é a necessidade de realizá-lo. A seguir, descreveremos mais algumas 60 INICIAÇÃO CIENTÍFICA características que podem ser consideradas para facilitar a formulação do problema de pesquisa: • Busque a resposta concreta para um problema: este deve ter definição precisa e clara, facilitando a tomada de decisão futura. • Evite termos como “grande parte, às vezes, maioria” e termos semelhantes: esses termos possuem características muito genéricas e dão a impressão de que o problema é algo impreciso. Também deve-se tomar cuidado com termos que possam dar a impressão de dupla interpretação. • Procure apresentar algo inédito: o problema de pesquisa não deve ter sido resolvido anteriormente. O que pode ser feito é a continuidade de uma pesquisa buscando abranger um maior número de respostas para o problema em questão. • Encontre e apresente relativa importância para o tema: à primeira vista o problema formulado pode parecer importante, porém é comum ter muitas ideias e acabar formulando algo que não tem relevância para a ciência. 61 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA A experiência de outros pesquisadores sobre o tema pode ser fundamental neste caso. • O pesquisador deve conhecer a metodologia utilizada para a solução do problema: essa é uma característica que dirá se o problema de pesquisa é exequível, levando em consideração não só os recursos financeiros necessários, mas também a questão do espaço e tempo (dimensão) da pesquisa que podem torná-lo inviável. • Apresente a base empírica: isso se deve a fim de evitar considerações subjetivas tornando o objeto da pesquisa invalidado. Assim, não podem ser submetidos os valores e percepções pessoais dos pesquisadores ou participantes para não influenciar no trabalho de pesquisa. • Busque expressar a real intenção do proponente além de ser estudado como fato ou como coisas. • Insira na formulação do problema todas as variáveis que fazem parte da pesquisa e que pretende investigar. 62 INICIAÇÃO CIENTÍFICA Como vimos anteriormente, a formulação do problema de pesquisa não é algo tão simples e demanda muita dedicação e observação. O ideal no início de um projeto de pesquisa é formular um problema “provisório” e aprofundar no tema através de estudos bibliográficos e pesquisa exploratória, para que posteriormente se desencadeie todo o processo de investigação. Ressalta-se que a ciência não deve ser feita de forma engessada, então, a criatividade e a imaginação devem ajudar na elaboração do problema de pesquisa. Dada essa breve explicação, analisaremos como ficariam algumas perguntas de pesquisas derivadas do tema que escolhemos (“A degradação da floresta amazônica pelos madeireiros ilegais”). Possíveis problemas: • como rastrear a madeira retirada da floresta que é vendida ilegalmente? • qual época do ano ocorre maior degradação da floresta amazônica? 63 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA • quais são as consequências do estoque de carbono relacionadas à degradação da floresta amazônica? • quais são os fatores e quais os impactos da retirada de madeira ilegal da floresta amazônica? Diante do que foi exposto na formulação do problema, também existem várias perguntas que buscam respostas. Então, é importante, neste caso, delimitar a área de abrangência do problema para uma atuação viável, de acordo com os meios que você dispõe para que a pesquisa seja realizada. A DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS Após definir do problema de pesquisa, o próximo passo é a definição dos objetivos do seu trabalho. É importante delimitar a área de abrangência do problema para uma atuação viável. Fonte: Shutterstock 64 INICIAÇÃO CIENTÍFICA Normalmente, os objetivos são apresentados em um projeto de pesquisa, diferentemente das hipóteses, que é apresentada em algumas áreas de estudo e não em outras. O objetivo de um trabalho deve ser apresentado de forma precisa e coerente de acordo com o tema estudado e deve ser apresentado sempre na forma infinitiva do verbo (discutir, avaliar, comparar). Rodrigues (2007, p. 26) descreve de forma sucinta o que são os objetivos de um trabalho: constituem-se em declarações claras e explicitas do “para que se deseja estudar o fenômeno ou assunto”, ou seja, o que se pretende alcançar com a realização da pesquisa. Assim os objetivos devem ser iniciados com verbos que exprimam ação, tais como, verificar, analisar, descobrir e determinar, entre outros. Os objetivos de um trabalho científico podem ainda ser definidos em duas partes: objetivo geral e objetivos específicos: 1. Objetivo geral: possui uma visão mais abrangente e vincula-se diretamente ao tema escolhido. Deve ser descrito de forma sucinta, além de apresentar a finalidade para a qual você escolheu realizar o estudo e a meta a ser atingida. 65 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA 2. Objetivos específicos: é o detalhamento do objetivo geral e mostra as ações que serão executadas, bem como os processos necessá- rios para realização do objetivo geral. Portanto, de acordo com essas informações, uma sugestão para o objetivo geral e o objetivo específico do tema que nós escolhemos seria: • Objetivo geral: verificar os fatores que levam a extração da madeira ilegal da floresta amazônica. • Objetivos específicos: • levantar as informações para onde são enviadas a madeira ilegal extraída da floresta amazônica;• identificar os fatores que levam à extração ilegal da madeira da floresta amazônica; • detalhar possíveis falhas na fiscalização dos órgãos fiscalizadores na região; • avaliar as épocas com maior incidência de degradação ambiental. 66 INICIAÇÃO CIENTÍFICA Como vimos, a definição do tema, a formulação do problema de pesquisa e dos objetivos fazem parte da construção de um projeto de pesquisa. A elaboração dessas etapas é difícil e exige certo conhecimento por parte do(a) pesquisador(a). Portanto, uma dica fundamental é que você sempre converse com professores experientes antes de escolher o tema e elaborar o problema de pesquisa, pois profissionais com mais experiência saberão se o assunto que você pretende estudar já foi extensivamente pesquisado pela comunidade científica ou se ele tem potencial inovador para a sua área de atuação. Reflita como formular um bom problema de pesquisa, com uma pergunta clara e concisa que inclua algo relevante para pesquisar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, conhecemos as características e o processo de produção do conhecimento científico, as condutas éticas relacionadas à pesquisa científica, bem como os tipos de pesquisa. Discutimos também sobre a importância e a utilidade do conhecimento científico na vida acadêmica e profissional das pessoas, e ampliamos nossa capacidade de leitura e interpretação da literatura científica. Todas essas competências são muito importantes para que você seja inserido no processo 67 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA de produção do conhecimento, participe dele ativamente e que saiba analisá-lo e aplicá-lo na sua área de atuação. A pesquisa científica está presente no dia a dia das pessoas e dos profissionais de todas as áreas do conhecimento e é através dela que produzimos avanços e descobertas capazes de proporcionar uma vida melhor para as pessoas em todos os aspectos. Além disso, o conhecimento científico é um dos pilares para o desenvolvimento das comunidades, cidades e países e é também essencial para o crescimento econômico e social de todas as nações. Assim, conhecer um pouco mais sobre as bases da pesquisa científica lhe ajudará a compreender o papel da produção de conhecimento na sua profissão. A participação ativa no processo de produção do conhecimento científico contribuirá para que você se torne uma pessoa mais crítica, inquieta e questionadora, características muito desejáveis na formação de bons profissionais. Esse é o primeiro passo para que você saiba aplicar o conhecimento científico na sua atuação, algo muito importante para que você se destaque como um profissional ético e competente. Sigamos em frente para aprendermos mais sobre essa temática tão importante. O conhecimento científico lhe 68 INICIAÇÃO CIENTÍFICA instrumentaliza a mudar a sua vida, a sua profissão, o seu contexto de atuação e a sua comunidade. RESUMO Nesta unidade aprendemos que: • a produção do conhecimento científico segue regras próprias e requer condutas éticas relacionadas à pesquisa científica; • as pesquisas podem ter os mais variados delineamentos; • o conhecimento científico é importante e extremamente útil em todas as áreas de atuação de um profissional; • a pesquisa científica está presente no dia a dia das pessoas e dos profissionais e é através dela que produzimos avanços e descobertas capazes de proporcionar uma vida melhor para as pessoas em todos os aspectos; • o conhecimento científico é um dos pilares para o desenvolvimento das comunidades, cidades e países, e é também essencial para o crescimento econômico e social de todas as nações. 69 BASES DA PESQUISA CIENTíFICA Conhecer e participar da produção do conhecimento científico contribuirá para que você se torne uma pessoa mais crítica, inquieta e questionadora, características muito desejáveis na formação de bons profissionais. Esse é o primeiro passo para que você saiba aplicar o conhecimento científico na sua atuação, algo muito importante para que você se destaque como um profissional ético e competente. REFERÊNCIAS BRASIL. Resolução CNS nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Dispõe sobre as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2013. BRASIL. Resolução CNS nº 510, de 07 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2016. COMISSÃO NACIONAL DE ÉTICA EM PESQUISA (CONEP). CEP por Macrorregiões. Disponível em: <http://bit. ly/3pwDnDO>. Acesso em: 02 jan. 2021. 70 INICIAÇÃO CIENTÍFICA DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. Disponível em: https:// www.dicio.com.br/tema/ Acesso em: 01 de fevereiro de 2021. MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia e história das ciências: a revolução científica. 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