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Coordenação Karla Meura Rosângela Maria Herzer dos Santos Fernanda Osorio Organização Karla Meura Janaina Cordeiro Evelin Ferreira TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 2ª.ed. Porto Alegre, 2021 Copyright © 2021 by Ordem dos Advogados do Brasil Todos os direitos reservados Coordenação Karla Meura Rosângela Maria Herzer dos Santos Fernanda Osorio Organização Karla Meura Janaina Cordeiro Evelin Ferreira Capa: Victor Baldez Silva Jovita Cristina Garcia dos Santos – Bibliotecária CRB 10/1.517 A revisão de Língua Portuguesa e a digitação, bem como os conceitos emitidos em trabalhos assinados, são de responsabilidade dos seus autores. Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio Grande do Sul Rua Washington Luiz, 1110 –Centro Histórico CEP 90010-460 - Porto Alegre/RS ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL T248 Trajetórias da Advocacia Negra / Meura, Karla; Silva; Cordeiro, Janaina et.al (Orgs.). 2.ed. Porto Alegre: OAB/RS, 2021. 60.p. il. ISBN online: 978-65-88371-18-3 1. Histórias Negras. 2. Advocacia Negra. 3. Biografia. I. Karla Meura. II. Título CDU 929 DIRETORIA/GESTÃO 2019/2021 Presidente: Felipe Santa Cruz Vice-Presidente: Luiz Viana Queiroz Secretário-Geral: José Alberto Simonetti Secretário-Geral Adjunto: Ary Raghiant Neto Diretor Tesoureiro: José Augusto Araújo de Noronha ESCOLA NACIONAL DE ADVOCACIA – ENA Diretor-Geral: Ronnie Preuss Duarte ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL Presidente: Ricardo Ferreira Breier Vice-Presidente: Jorge Luiz Dias Fara Secretária-Geral: Regina Adylles Endler Guimarães Secretária-Geral Adjunta: Fabiana Azevedo da Cunha Barth Tesoureiro: André Luís Sonntag ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA Diretora-Geral: Rosângela Maria Herzer dos Santos Vice-Diretor: Darci Guimarães Ribeiro Diretora Administrativa-Financeira: Graziela Cardoso Vanin Diretora de Cursos Permanentes: Fernanda Corrêa Osório, Maria Cláudia Felten Diretor de Cursos Especiais: Ricardo Hermany Diretor de Cursos Não Presenciais: Eduardo Lemos Barbosa Diretora de Atividades Culturais: Cristiane da Costa Nery Diretor da Revista Eletrônica da ESA: Alexandre Torres Petry CONSELHO PEDAGÓGICO Alexandre Lima Wunderlich Paulo Antonio Caliendo Velloso da Silveira Jaqueline Mielke Silva Vera Maria Jacob de Fradera CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS ADVOGADOS Presidente: Pedro Zanette Alfonsin Vice-Presidente: Mariana Melara Reis Secretária-Geral: Neusa Maria Rolim Bastos Secretária-Geral Adjunta: Claridê Chitolina Taffarel Tesoureiro: Gustavo Juchem TRIBUNAL DE ÉTICA E DISCIPLINA Presidente: Cesar Souza Vice-Presidente: Gabriel Lopes Moreira CORREGEDORIA Corregedora: Maria Helena Camargo Dornelles Corregedores Adjuntos Maria Ercília Hostyn Gralha, Josana Rosolen Rivoli, Regina Pereira Soares OABPrev Presidente: Jorge Luiz Dias Fara Diretora Administrativa: Claudia Regina de Souza Bueno Diretor Financeiro: Ricardo Ehrensperger Ramos Diretor de Benefícios: Luiz Augusto Gonçalves de Gonçalves COOABCred-RS Presidente: Jorge Fernando Estevão Maciel Vice-Presidente: Márcia Isabel Heinen TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA SUMÁRIO PREFÁCIO........................................................................................................................................ 7 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................ 8 Adriana Ferreira Rodrigues ............................................................................................................. 9 Aline da Rosa Ajardo ...................................................................................................................... 12 Ana Paula Moraes ........................................................................................................................... 14 Caroline Albuquerque ..................................................................................................................... 16 Caroline Ribas Sérgio ..................................................................................................................... 18 Cristiane Eveline Ferreira da Silva ................................................................................................ 21 Diogo Rosa Souza ............................................................................................................................ 23 Evelin França - Eliane Clalmes Magalhães .................................................................................. 25 Erli Terezinha dos Santos ............................................................................................................... 28 Heleno Gary Rodrigues ................................................................................................................... 31 Karen Suélen Pereira da Silva ........................................................................................................ 32 Leonardo Santos Franco................................................................................................................. 34 Letícia Marques Padilha ................................................................................................................. 36 Letícia da Rosa dos Santos .............................................................................................................. 38 Liane da Silva Oliveira .................................................................................................................... 41 Luiz Carlos Marques Jr. ................................................................................................................. 43 Mateus da Silva Rosa Pereira ......................................................................................................... 45 Paulo dos Santos Maria .................................................................................................................. 47 Rudinei Horst .................................................................................................................................. 50 Silvia Cerqueira ............................................................................................................................... 52 Tatiana Metzdorf Viana .................................................................................................................. 56 Tatiane da Rosa Pinheiro Sampaio ................................................................................................ 59 TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 7 PREFÁCIO É com muita felicidade que recebi a incumbência de redigir o Prefácio da segunda edição do Livro Trajetórias da Advocacia Negra. Eu tive a honra de participar da Primeira Edição, e meu testemunho a respeito da Obra é que ela reflete toda uma construção da vida profissional de mulheres e homens negros. E de como esta construção forja profissionais dedicados, que na maioria das vezes necessitam de muita determinação para enfrentar as dificuldades de um mercado de trabalho, que não lhes permite em igualdade de condições, com outros profissionais com formação semelhante. Tal fato é resultado da longa tradição escravagista existente no DNA da Nação Brasileira e que ainda hoje lutamos para modificar. Apesar disso, nós podemos contar com o apoio de nossos antepassados, e familiares, que nos inspiram, levantam nossa autoestima, para que possamos chegar onde eles não chegaram, e nossas vitórias são resultado direto das lutas que eles lutaram no passado, ou lutam até hoje. As histórias que conheceremos através do Livro retratam o quanto determinação,força de vontade, e muita abnegação, podem nos levar a uma formação profissional, e que através dela possamos buscar os meios, para podermos nos tornar cidadãos de fato e de direito neste país. Vamos celebrar as Trajetórias Profissionais de nossos colegas! Vamos fazer isso através da leitura desta Obra! Artêmio Prado da Silva Vice-Presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB/RS. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 8 APRESENTAÇÃO É com muita alegria que nós integrantes da Diretoria e Membros da Comissão da Igualdade Racial da OABRS apresentamos a segunda edição do livro Trajetórias da Advocacia Negra. Não existem palavras para expressar a imensa satisfação que temos ao construir coletivamente um a nova edição deste livro colacionando histórias de vida de colegas negros e negras. São relatos, histórias de luta, de colegas advogados e advogadas de como conseguiram alcançar o tão sonhado diploma de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. De como o caminho apresentou obstáculos, barreiras, que foram ultrapassadas com muita luta, garra e persistência. E mais que isso, conquistaram o tão sonhado diploma com esforço, dedicação, abdicações e renúncias, mas o mais importante neste percurso, nunca caminharam sozinhos. Sabemos que a luta do povo preto para ocupar os espaços a que temos direito, porque são nossos também, é árdua, na maioria das vezes dolorosa, mas sempre com um propósito certo: representatividade. Queremos ver muitos outros pretos como nós ocupando espaços de decisão, visto que não temos dúvida do nosso potencial. E esta nova edição traz algumas dessas histórias de advogados negros e advogadas negras que em muitos pontos convergem entre si, visto que em várias delas há uma mulher negra ou mulheres negras que representam o alicerce da família. E em todas as histórias é marcante o respeito e admiração a nossa ancestralidade. A segunda edição do livro Trajetórias da Advocacia Negra é repleta de significados para a Comissão da Igualdade Racial da OABRS. Visto que recentemente conseguimos que esta comissão se tornasse permanente dentro do sistema OABRS, e teremos uma grande representatividade da advocacia negra gaúcha no conselho desta Seccional na próxima gestão (2022-2025). Ganham a OAB, a comunidade negra e toda a sociedade com esses avanços. Que venham muitas outras histórias de trajetórias de advogados negros e advogadas negras que compõem o quadro do sistema OAB. Que sejamos muitos dentro desse sistema. Que ao olharmos para os lados nos sintamos representados. Que venham novos tempos! Letícia Marques Padilha Secretária Geral Adjunta da Comissão da Igualdade Racial da OAB/RS TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 9 Adriana Ferreira Rodrigues PRETA, POBRE, COM MAIS DE 45 ANOS, ADVOGADA, ESTA SOU EU, COM MUITO ORGULHO Adriana Ferreira Rodrigues, nasci em 19 de setembro de 1972, filha de Valdomiro Venceslau Rodrigues e Luiza Paula Ferreira Rodrigues, a caçula de 3 irmãos, natural de Porto Alegre. Como a maioria de nossos colegas pretos e pretas, sou oriunda de família simples, de parcos recursos, que atualmente depois de muitos caminhos percorrer consegui a minha formação de ensino superior. Tenho a felicidade de pertencer aos 7,12% de negros e pardos que se matriculam em instituições de ensino superior e apenas 3% que chegam a concluir o curso (dados do IBGE 2018). Meu primeiro sonho de profissão foi a de Engenharia Civil, que me fez concorrer a uma vaga no disputado vestibular da UFRGS, não obtendo sucesso. Quando despertou em mim o interesse pelo curso de Direito, prestei o vestibular na Universidade Pública e novamente não tive êxito, e no mesmo ano fui aprovada na Pontifícia Universidade Católica e na Universidade Luterana do Brasil, onde ingressei, pois, questões financeiras, pois a mensalidade era um pouco mais acessível, e meus pais, que eram funcionários públicos, teriam um pouco mais de condições de pagar. Meus irmãos também estavam nesta luta pela a conquista do diploma, mas infelizmente foram abandonando o sonho, assim como eu que tive que deixar de lado também. Muitos anos se passaram, acompanhava de longe alguns colegas se formando, qualificando-se e eu ficando apenas com o sonho de minha formatura. Neste período, direcionei minha vida profissional para a área da saúde, e qualifiquei e trabalhei por 20 anos em dois grandes hospitais de Porto Alegre, porém, sempre mantive TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 10 meu sonho de ser advogada em meus pensamentos. Houveram muitas tentativas para que eu pudesse concluir meu curso de Direito, foram quatro tentativas, que tiveram que ser abandonadas, por motivos financeiros, familiares, profissionais. Nunca tive muita certeza se conseguiria a minha graduação, mas sempre mantive o sonho acalentado no coração. Neste espaço de tempo, me casei, tive meu filho, minha casa, fui feliz, e sempre atenta ao progresso ou não de nosso povo preto. Já no início de minha “luta” para ingressar na Universidade pública, já percebi a dificuldade que enfrentaria, pois já no curso preparatório do vestibular que frequentei lá na década de 90, me dei conta eu já fazia parte de uma parcela ínfima pertencente naquele lugar, e como disse os obstáculos vieram, pois eu uma candidata oriunda de escola pública, sem ter familiares como referência com nível superior senti o golpe percebeu contrariedade de pertencer a UFRGS em um curso de “elite”, como, Engenharia (que foi meu primeira opção) ou no Direito, que foi a minha escolha de vida. Quando veio o ano de 2015, minha vida deu uma nova guinada, com a ajuda de meus pais, esposo e filho, retornei aos bancos universitário, desta vez ingressando para a PUC-RS, pois meu último trabalho na área da saúde, foi no Hospital São Lucas da PUC, onde o funcionário tem o benefício de um desconto de 40% nas mensalidades. A alegria de retomar o meu sonho tomou conta de meu coração e vibrei muito com este retorno, estudei muito. Porém, devido a uma crise financeira no Hospital, tiveram que fazer algumas demissões, e claro que a preta frequentado uma universidade, em um curso de elite, chamou a atenção, não agradando as pessoas, fui desligada, mesmo informando que necessitava do desconto para continuar meus estudos, os pedidos foram em vão e o desligamento veio antes do que eu projetava. Mas como a nossa palavra é a RESISTÊNCIA, quinze dias depois que fui demitida, fui selecionada para um estágio na Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, que desperto em mim uma nova perspectiva, e que me apontou novamente o baixo número de funcionário de carreira pretos e pretas, o que notei também no estágio da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Sempre me chamou a atenção o pequeno n´mero de Juízes e Promotores pretos e pretas e o grande percentual de pretos e pretas que são julgados e acusados, o que me faz concluir que nada é por acaso, nem mesmo esta desproporcionalidade. Precisamos “invadir” o sistema judiciário, é urgente ter mais Juízes, Promotores e Defensores Públicos pretos e pretas. A mudança deve ocorrer rapidamente. Finalmente, no dia 04 de janeiro de 2020, colei grau, vesti a garbosa toga e coloquei as mãos no meu tão sonhado diploma de Direito. O caminho até a conclusão teve altos e baixos, mas me orgulho do meu grau 10 no Trabalho de Conclusão de Curso e a aprovação na OAB logo depois da formatura. Atualmente tenho alguns novos objetivos, entre eles concluir minhas Pós- Graduações em Direito Civil e Processo Civil e a outra em Direito das Mulheres. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 11 Concluo deixando uma mensagem de esperança, de perseverança, de resistência. Devemos que superar as nossas dificuldades e ter a consciência de que nua é tarde para retomar os sonhos, nossa caminhada ainda é grande e temos que deixar o incentivo para as próximasgerações TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 12 Aline da Rosa Ajardo Advogada. OAB/RS 121.131. Subseção Estrela/RS No ano de 2013, conclui o ensino médio no Colégio Estadual Jacob Arnt, situado na minha cidade natal e atual, Bom Retiro do Sul/RS. No mesmo ano, prestei o ENEM e o Vestibular na Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES, na cidade de Lajeado. Com a aprovação, sem saber como pagaria os estudos, comecei a buscar o financiamento estudantil e consegui 100% de financiamento através do FIES. Em fevereiro de 2014 iniciei os estudos na instituição. Durante a faculdade, trabalhei por três anos como Monitora Educacional do Programa Mais Educação em duas escolas da minha cidade. Ganhava em torno de R$300,00 reais mensais. Meus pais pagavam o transporte e demais gastos com os estudos. Após o fim do programa, tive um curto período de estágio remunerado no Ministério Público, onde sofri muito com o racismo por parte de uma servidora. Recebi uma ligação telefônica, onde me chamavam para, durante uma semana, aprender com a outra estagiária, o trabalho que deveria ser realizado. Na semana em questão, fui dispensada, sob alegação de que eu estava fazendo muitas perguntas. Eu não poderia questionar! Esse foi o trunfo usado contra mim e contra eles eu não possuía armas. O resultado foi o meu desligamento em dois meses, com a justificativa de que eu não atendia quando solicitada. Procurei a universidade para que tomassem providencias, porém nada foi feito. Inclusive, após a minha reclamação, outros alunos procuraram a coordenação do curso para falar sobre o mesmo assunto. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 13 Esse foi um dos piores episódios de racismo que sofre durante a minha vida e que até hoje me embarga a voz e me dói ao falar. Mas isso, não tirou de mim a vontade de seguir em frente. Iniciei um outro estágio remunerado em uma Delegacia Especializada no Atendimento a Mulher da cidade de Lajeado/RS, onde fui bem tratada pelos colegas e superiores. Lá vivi experiencias únicas que agregaram muito ao meu crescimento pessoal e ao conhecimento jurídico. Nesse período, fui acolhida por uma professora do curso, Dra. Thaís Carnieletto Muller, nome que faço questão de citar nesse relato. Nunca me cobrou um centavo pela estadia em sua casa, que aliás, fazia questão de dizer que era minha também. Depois de um período, retornei para minha cidade, onde passei a estagiar na Delegacia de Polícia local, onde vivi um período também maravilhoso da minha vida. Em 2018, passei a atuar em um órgão da administração pública. Em 23 de março de 2019, colei grau no Teatro da Universidade do Vale do Taquari – Univates, uma turma de em torno de 60 alunos, com apenas duas alunas negras. Durante meu período na Administração Pública, adquiri muito conhecimento e tive oportunidade de aprender com um grande mentor, Dr. Luis Alberto Silva, ilustre membro da CIR/OABRS e grande persona na luta antirracista. Através dele, que eu entrei para a Comissão e me aquilombei na luta antirracista. Além do conhecimento adquirido, vivi novamente as consequências do racismo institucional, mas desta vez, muito mais forte e acompanhada dos meus colegas de comissão, não me deixei abater pela situação vivida. Me exonerei da função e me dedico exclusivamente a advocacia e maternidade, o que vale ressaltar aqui, pois ser mãe e advogada em tempo integral é de longe desafiador. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 14 Ana Paula Moraes OAB/RS 110.155 Natural de Porto Alegre, advogada, graduada em Direito pela Uniritter, 2017/2, Pós Graduada com especialização em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela FEMARGS, 2021/1. Tenho a lembrança de aos 06 (seis) anos de idade ao ser perguntada o que eu queria ser quando crescesse, responder com convicção que seria advogada. A inocência de uma criança não possuía ideia da dificuldade que seria para uma mulher negra e pobre conseguir ser uma operadora do direito. O tempo passou e o sonho de criança ficou distante, ao completar o ensino médio não consegui aprovação na universidade federal e não possuía condições financeiras de estudar em uma instituição particular. Segui a vida trabalhando, depois veio à maternidade e o sonho de ser advogada ficou esquecido. No ano de 2011 realizei as provas do ENEM e para minha surpresa com a média alcançada consegui uma bolsa integral pelo PROUNI para cursar Direito na Uniritter. Os cinco anos da graduação foram de superação, por muitas vezes tive vontade de desistir, complicado conviver em uma sala de aula onde a única pessoa negra é você, terrível a sensação de achar que você está em um local que não é seu. Mas todas as vezes que pensei em desistir, lembrava que seria a primeira pessoa da minha família a concluir um curso superior e persisti em busca da realização do meu sonho de infância. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 15 Sou formada há 03 anos, atuou de forma autônoma com ênfase na advocacia trabalhista, há mais ou menos um ano iniciei as atividades no escritório próprio juntamente com uma colega de faculdade. O começo sempre é complicado, principalmente para nós negros as dificuldades são sempre maiores, pois na maioria das vezes não temos familiares que já exerçam a profissão, não temos apadrinhamentos. No meu caso realizei estágio somente nos dois últimos anos do curso e muitas dúvidas e dificuldades são sanadas no dia a dia. Atualmente sou bolsista no Instituto de Acesso a Justiça (IAJ), instituto que possui um projeto que fornece bolsas de estudos para negros, pardos e indígenas em cursos preparatórios para carreiras jurídicas como magistratura, promotoria, defensoria. Este projeto maravilhoso já me proporcionou cursar o preparatório para magistratura do trabalho da FEMARGS, pois possuo a pretensão de me tornar juíza do trabalho. Fundamental o trabalho do IAJ na efetivação de uma ação afirmativa tão necessária, pois precisamos cada vez mais ocupar espaços de poder e mostrar nossa competência e capacidade para exercer qualquer função. Exerço minha profissão com muita honra e felicidade e espero que para as novas gerações as dificuldades em busca de uma formação acadêmica sejam menores. Tenho um orgulho enorme de ser mulher, negra e advogada. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 16 Caroline Albuquerque Me chamo Caroline Albuquerque, filha caçula da Maria Helena e irmã do Diego, nascida e criada em Porto Alegre. Minha história se mistura com a de tantos outros brasileiros, trabalhadores incansáveis e obstinados a encontrarem um caminho melhor, mais justo e mais igualitário. Aprendi a admirar a advocacia desde muito pequena, minha mãe se formou em Direito no final da década de 1970, depois de muito esforço. Temos uma origem extremamente humilde e isso, sabemos, dificulta o caminho de quem deseja progredir. Ainda criança a defensora já estava na minha personalidade, sempre tive um traço de justiça muito forte. Mas não foi tão simples assim para que eu entendesse o meu caminho, demorei um tempo para perceber que aquele perfil lutador já demonstrava o que viria pela frente. Mesmo com toda dificuldade, eu que fui criada por uma mulher fortíssima, acabei compreendendo que minha trajetória seria única e que não seria necessário que minha vida se desenvolvesse como a dos outros. Hoje posso dizer que a profissional que ingressou na graduação lá em 2010 nem de longe é a mesma. Me graduei em 2017 pela Uniritter, já aprovada no exame da OAB. Um orgulho imenso que levo comigo, pois sempre fui muito dedicada ao curso. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 17 Apesar de advogar desde 2017, minha experiência é bem anterior. Ingressei na carreira jurídica em 2008. Essas experiênciasconstruíram a profissional que sou hoje e ajudaram a formar a advogada empática que me tornei. Com as experiências, outros horizontes e algumas pessoas especiais que cruzaram o meu caminho, passei a entender meu lugar no mundo e assim a ser uma entusiasta da luta pela igualdade. Em 2020 concluí a especialização em Direitos Difusos e Coletivos pela FMP, o que me propiciou mergulhar de vez no universo antidiscriminatório. A representatividade como mulher, não branca e humilde dentro da advocacia é o que me impulsiona, mas também é meu maior desafio. Com diria Angela Davis: “Eu não estou mais aceitando as coisas que eu não posso mudar. Eu estou mudando as coisas que não posso aceitar. ” As normas de opressão são construídas histórica e culturalmente nas relações sociais assimétricas e hoje não cabe mais a nenhuma mulher absorver o papel subalterno, em qualquer campo de sua vida. Sem perceber, acabei virando uma agente mobilizadora nas minhas próprias relações, virando uma referência principalmente para mulheres que chegavam ao meu caminho. Para coroar essa trajetória, em um período completamente desafiador para todos, recebi em 2021 - com orgulho - o convite para ingressar na Comissão da Igualdade Racial da OAB/RS e fui acolhedoramente recebida por todos. A primeira ação como membro da comissão acabou ocorrendo logo após meu ingresso, e acredito ser este só o começo. Tenho muita fé de que juntos podemos transformar os desafios que chegam e só assim, juntos, podemos vencer. Sigo tentando pautar minha trajetória profissional e pessoal para tornar-me um instrumento que objetiva a busca da justiça e da mudança de pensamento, para inspirar e seguir um caminho de aprendizado e crescimento para melhorar a qualidade de vida de outras pessoas além de contribuir para construir um outro perfil para a sociedade brasileira. É na ação que a gente se encontra. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 18 Caroline Ribas Sérgio Meu nome é Caroline Ribas Sérgio, sou advogada, mulher e negra. Tenho 32 anos de idade, sou natural de Porto Alegre e hoje, a convite da Comissão de Igualdade Racial da OAB/RS estou compartilhando um pouco da minha história e desafios na advocacia. Minha história dentro do Direito, se iniciou em 2007, quando fui contemplada por meio do Programa Universidade para Todos -PROUNI, com uma bolsa integral para cursar Direito na PUCRS. Sempre estudei durante toda minha vida em escolas públicas e me considero até hoje uma aluna dedicada, pois gosto de estudar e desde pequena fui ensinada pela minha família que o crescimento pessoal e profissional é na base de muito estudo e dedicação. Não tenho uma família que financeiramente foi privilegiada, sendo que sempre meus pais, tiveram que conquistar tudo que tem hoje com base em muito trabalho. A minha história não foi diferente, como já dito, fui contemplada com uma bolsa integral para cursar Direito em 2007, sendo que se não fosse dessa forma, talvez hoje não seria advogada. Digo talvez, pois na época, com 17 anos de idade minha família sofria uma das piores crises financeiras, não tendo condições alguma de custear uma universidade privada ou um curso preparatório. Lembro que estudei muito em casa com livros antigos para o ENEM e dessa forma, obtive nota suficiente para ser beneficiada com a bolsa integral. Dentro da faculdade, lembro exatamente do dia que “pisei” dentro desse mundo novo, onde pude perceber de forma mais clara toda a diferença de classe social e racial. Por muitas vezes me senti “um peixe fora d’água”, ao participar de conversas com colegas de suas últimas viagens ao redor do mundo, bolsas de grife, carros de última geração presenteados pelos pais, apartamento ganho seu nenhum esforço, além de outras desigualdades gritantes comparadas ao meu mundo naquele momento. Ao longo do curso de Direito, tive a oportunidade de ir percebendo ainda mais, a escassez de pessoas negras dentro da Universidade. Haviam turmas de mais de 40 alunos, onde somente eu era a única aluna TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 19 negra. E isso se repetiu do primeiro ao último semestre da faculdade. Porém, isso nunca me fez desistir ou me sentir “menor” dentro da Universidade, me fazendo me dedicar mais ainda, conquistas boas notas, gabaritar o trabalho de conclusão com louvor e me formar com 22 anos de idade. O dia da formatura, considero o grande ápice da felicidade até hoje. Todo este filme de superação e desafios passava pela minha cabeça, mas com um sentimento lindo de “gratidão, eu venci! ”. Após a formatura então, fiz a prova da Ordem e passei logo de início, conquistando a minha tão sonhada vermelhinha. Na ocasião, trabalhava em um escritório de advocacia e assim fiquei durante 06 anos, até ter meu próprio escritório. Lembro que ao longo do curso, tive certeza que queria ser advogada. Nunca tive sonho de fazer concurso, nada disso. Meu sonho era ter meu próprio escritório e ser advogada. Contudo, não tinha experiência e nem condições financeiras de na época, “bancar” este sonho. Isso se tornou possível, após adquirir experiência nos escritórios que trabalhei, os quais somados a maturidade e planejamento financeiro, me fizeram concretizar meu sonho em fevereiro de 2018, onde tive a oportunidade de abrir meu escritório de advocacia em um lugar que considero dos meus sonhos aqui em Porto Alegre. Atualmente, tenho 03 pós-graduações, sendo duas na área de Direito de Família e Sucessões e a primeira, concluída em 2015 em Direito Processual Civil. Além disso, sempre gostei muito de escrever, o que me oportunizou ter mais de 12 artigos jurídicos escritos e publicados em revistas especializadas. No ano de 2019, fui convidada então a ingressar na área da Docência, me tornando professora em cursos de atualização do Direito, o qual se estendeu para um novo convite no presente ano, me tornando professora de Direitos Humanos em uma nova empresa. Em relação as dificuldades e preconceitos, estas permanecem existindo e acho difícil que um dia acabem. Nós negras e negros, percebemos o olhar e muitas vezes o descontentamento de pessoas que não suportam ver um negro em uma posição de sucesso ou melhor do que uma pessoa branca. É algo forte a ser dito, mas é a realidade. Vivo isso na pele cotidianamente e só quem sofre percebe pelo olhar, uma palavra dita, um comentário infeliz, um elogio disfarçado de crítica que querem nos fazer desistir e nos reduzir na sociedade. Infelizmente, ainda percebemos não só na advocacia, mas nas grandes empresas e bancas de advogados, a escassez de pessoas negras ocupando posições consideradas de sucesso. Tive a oportunidade de trabalhar em grandes bancas aqui da capital, onde não haviam chefes ou negros nas áreas de Coordenação. Coincidência? Até pode ser, mas na minha opinião é algo inerente ao preconceito da nossa sociedade. E isso vem diminuindo a base de muita luta, mas não o suficiente para alcançarmos a tão sonhada igualdade. Porém assim como teu o lado negativo, há o lado positivo, onde vejo que muitas pessoas se espelham na minha trajetória, se orgulham e se inspiram para seguirem seus caminhos, seja no Direito ou na vida. E isso que me motiva a ser uma pessoa melhor, a não desistir dos meus sonhos, a sempre batalhar e ser uma guerreira para alcançar tudo que almejo. Tudo alcançado com base na honestidade, ética e amor pelo que eu faço. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 20 Eu espero que cada vez mais a minha voz e a minha imagem, sirvam como exemplo para motivar mais mulheres negras e a nossa raça a batalhar, buscar pela justiça, buscar pela conquista dos nossos espaços e que este mundo seja cada vez mais igualitário para as próximas gerações que estão por vir. Agradeço a quem realizou a esta leitura e deixo um grande abraço a todos e todas que fazem parte da minha história, a qual só tenho a me orgulharcada vez mais. Com carinho, Caroline Ribas Sérgio. Porto Alegre, 24 de outubro de 2021. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 21 Cristiane Eveline Ferreira da Silva OAB/RS 88.235 Arícia Santos (Mediação) Sou a Cristiane, mulher preta, advogada, pai, mãe, filha, avó. Jamais pensei que algum dia pudesse ser advogada, quando pequena pensava em ser professora. Minha mãe era empregada doméstica, até que, quando eu fiz 11 anos, ela passou num concurso da prefeitura, para trabalhar de copeira, e, depois de mais alguns anos foi para o DMAE, onde ficou até se aposentar. Não teve infância, veio de Uruguaiana trazida pela minha avó para trabalhar de babá. Completei meu ensino médio e logo engravidei da minha filha mais velha, Marina, e dois anos depois veio a Roberta, e a perspectiva de estudar cada vez mais longe. Três anos depois, me separei, e voltei a morar na casa dos meus pais, com as gurias, que me ajudaram a cuidar delas, enquanto eu trabalhava e estudava. Na época eu trabalhava num restaurante na cidade de Cachoeirinha, e fazia um “free lance” num escritório em que eu havia trabalhado quando tinha 16 anos, Costa Pereira Advogados, da Dra. Fáride Belkis Costa Pereira. Eu fazia relatório de processos, porque digitava rápido, e conseguia fazer um bom relatório, mesmo não entendendo a matéria. Certo dia ela me questionou do porquê eu não estudava, e ele me aconselhou a voltar aos estudos, e fazer direito, pois eu teria um leque de possibilidades. Mas, como eu disse, jamais pensei que pudesse fazer isso. Em 2003, passei no vestibular da Unirriter, para direito, e fazia poucas cadeiras, já que não tinha condições financeiras. Fui, aos trancos e barracos, fazendo duas, três cadeiras por semestre, até que fiquei desempregada, não mais conseguindo manter os estudos. Em 2005 consegui emprego em uma, período em que minha colega de trabalho na época, Olga, me falou que o IPA estava oferecendo bolsa de estudos, em parceria com o TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 22 CECUNE – Centro Ecumênico de Cultura Negra – e então participei do processo seletivo, e fui aprovada. Com isso, começou a minha paixão e dedicação pelo direito, consegui aproveitar todas as disciplinas cursadas na outra faculdade, fazia todas as disciplinas possíveis e procurava sempre adiantar as cadeiras, e, em janeiro de 2010 eu me formei, e no, mesmo ano, em setembro nasceu meu filho Caio, fruto do meu segundo relacionamento. Neste período em trabalhava em uma outra imobiliária, na qual atuo até hoje, tendo passado por diversos setores, até ser advogada. Fiz especialização em Direito Imobiliário e Processo Civil. Hoje olho para trás e vejo que mudei o rumo da minha família. Minha mãe, se formou em Serviço Social, aos 54 anos, e minha filha mais velha cursa Enfermagem. A mais nova, Direito. E o caçula, quer fazer direito também. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 23 Diogo Rosa Souza Minha trajetória na Advocacia Último filho dos cinco que meu Pai teve e, também, último filho dos dois de minha Mãe, ou seja, o caçula de um casal negro. Ela Professora de Biologia na Rede Estadual de Educação. Ele Fiscal Florestal do Ibama. Por conta deste histórico nunca houve outra opção que não fosse buscar o sucesso através da Educação e fora justamente o gosto pelo estudo e pela leitura que me levou a escolher o Direito como objetivo de estudo e ramo de trabalho. E mesmo tendo minha mãe a experiência de formação universitária, nunca houve facilidade no curso da Faculdade de Direito. Sempre o único aluno negro ou apenas com mais um irmão em sala de aula, tendo a escola pública como origem houveram dificuldades em diversas matérias, em especial, no início do curso universitário onde fragilidades do ensino médio se mostravam evidentes. Ainda assim, o gosto pela leitura e estudo me forçaram a vencer esses e outros obstáculos, mas fora quando a metade do curso de graduação chegou, com todos os colegas fazendo estágios em escritórios – muitos em escritórios de pais, tios e avôs – enfrentei muita dificuldade para conseguir meu primeiro estágio. Entrevistas foram muitas, mas para um jovem negro com cabelo dreadlooks num ramo como o Direito era natural as barreiras, os olhares e as repostas ao final de todas as entrevistas e conversas sobre vagas de estágio em escritórios jurídicos sempre terminado com o comum e habitual “entraremos em contato”. Sem desanimar tive minhas experiências profissionais em escritórios, cartórios públicos, repartições públicas até com experiências como voluntario junto a Defensoria Pública e ao final, ainda consegui ser bolsista de iniciação cientifica, oportunidade que TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 24 culminou em minha pesquisa de monografia de conclusão de curso e posteriormente na minha primeira especialização após formado. Logo após a formatura, já ciente das dificuldades do mercado de trabalho para pessoas negras me obriguei a cortar meu cabelo após dez anos de uso com tranças no estilo dreadlooks, afinal, havia a necessidade de trabalhar e pagar as contas e o financiamento estudantil que me permitiu concluir meu curso dentro do prazo de cinco anos. Mesmo com cabelo cortado, terno e gravata alinhados conseguir a colocação no mercado ou mesmo um emprego em escritório tem sido uma batalha árdua. Contudo, meu desejo por me aprimorar me obrigou a buscar especialização e a partir daí a montar meu próprio escritório em parceria com outros colegas. O que não fez cessar as dúvidas, olhares e questionamentos ao ingressar de fóruns, tribunais, penitenciárias e demais órgãos públicos: “És advogado? ” Os questionamentos foram tantos que até retomei meu penteado de estudante, afinal, não parece fazer diferença se estou de tranças, black power ou dreadlooks sempre preciso me autoafirmar e deixar claro, seja por meio de minhas ações, postura, vestimentas ou, mesmo por meio de minhas petições de que sou um Homem Negro e Advogado. Daí a razão de ingressar na Comissão Especial de Igualdade Racial, para que o caminho de outros jovens negros não seja tão árduo, tão difícil como o meu e de tantos outros colegas foram. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 25 Evelin França (Mediadora) Eliane Clalmes Magalhães (Convidada) A faculdade é um espaço de formação para diversos profissionais do direito, inclusive advogados. É na graduação que nos sãos apresentados os alicerces para exercer a advocacia. Naquele lugar conhecemos futuros, advogados e outros profissionais do direito, ou seja, aquele espaço pode ser considerado um berço. Grande parte das experiências na universidade são revividas durante a vida profissional. Dificuldades em ter experiências em estágios, bem remunerados, são substituídas por obstáculos para se colocar no mercado de trabalho como advogada. A cor da pele e a classe econômica são fatores que influenciam na trajetória do advogado, desde o berço de suas aprendizagens. É necessário combater o preconceito para que práticas de crueldades em razão da cor da pele sejam repudiadas em todas as fases da vida profissional daqueles que defendem os direitos das pessoas. A dificuldade de relacionamento com professores em razão da classe econômica ou da cor da pele influenciam no desempenho do acadêmico de direito e consequentemente na vida profissional de qualquer possível futuro advogado (a) preto (a). Na Universidade do vale do Rio do Sinos eu era uma acadêmica duplamente desfavorecida. É inegável que a cor retinta de minha pele foi um fator determinante para que eu não fosse selecionada em diversas oportunidades de estágios, durante a faculdade. Fato que me conduzia a ter que trabalhar no comércio varejista, deixando de vivenciar diversas experiênciasfundamentais para meu amplo desenvolvimento na faculdade, afetando diretamente o início de minha trajetória como advogada. Ao longo dos anos, a falta de prática em estágios reduziu as minhas possíveis conexões e integrações com as redes de pessoas do meio social jurídico. Durante o período que frequentava o curso de direito me enxergava como uma pessoa privilegiada por ter a oportunidade de estudar. Talvez esse pensamento positivo e opção de deixar de ver todos os crimes que contra mim foram praticados, tenha sido a forma de me proteger e me fazer prosseguir. Naquela época, eu deixava de focar em tudo que não era positivo. Os comentários TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 26 maldosos dos colegas e professores, assim como os olhares de espanto e desprezo que me isolavam. Foram diversos cumprimentos que se quer eram correspondidos. Diversos trabalhos em grupo em que eu não era inserida por meus colegas e os professores nenhuma atitude adotavam. Em alguns momentos fui empurrada e até humilhada na frente daqueles que comigo estudavam, mas meu desejo de me tornar uma bacharela em direito era maior que a dor que me faziam sentir. Acreditava que a prática cruel de preconceito em razão da cor de minha pele e classe econômica não deveria ocorrer em um espaço de formação de futuros advogados, juízes, defensores, promotores, delegados, entre outros muitos profissionais do direito. A ingenuidade foi minha aliada, juntamente com a vontade de me tornar uma bacharela em direito, pois muitas condutas maldosas eu não percebia. Eu preferia naquele momento acreditar que as crueldades eram para meu bem. Meu único plano sempre foi me concluir o meu objetivo, apesar de não ter desenvolvido prévias estratégias para enfrentar aquele ambiente universitário sutilmente, cruel e hostil. Eu não tinha conhecimento sobre os códigos culturais e a dimensão sobre a importância do engajamento com professores e funcionários. Não sabia como o relacionamento com os professores poderia influenciar nas oportunidades acadêmicas e profissionais, até mesmo como advogada. Professores, alunos, funcionários e algumas exceções de pessoas negras ou com uma baixa renda, frequentam os mesmos ambientes. A proximidade entre pessoas de classe mais alta ou influentes por sua vez, gera um relacionamento de forma estratégica entre pessoas influentes da universidade ou do meio jurídico, fato que lhes proporciona apoio e conexões importantes durante a graduação. E após a conclusão do curso, sobretudo por meio de estágios e cartas de recomendações, muitos se colocavam e ainda se inserem no mercado de trabalho. No meu caso tive dificuldade de trabalhar em escritórios, após me tornar advogada. Então decidi de maneira autônoma identificar aqueles acadêmicos de direito que tinham dificuldades na graduação e oferecer meus serviços de apoio e consultoria. E a partir daquele momento passei auxiliar acadêmicos de direito a elaborarem suas pesquisas. Eu trabalhava e ainda trabalho como se fosse uma espécie de mentora ou coach daqueles que estão precisando de apoio para elaborar pesquisas acadêmicas ou trabalhos de conclusão de curso de direito ou preparar artigos ou ultrapassar qualquer outra dificuldade no curso de direito. Após me tornar uma bacharela, iniciei minha especialização em Direito Penal e Processo Penal no extinto IDC (Instituto de Desenvolvimento Cultural). Naquele espaço de aprendizagem não era nada diferente do que eu havia vivido na faculdade. Eu estava mais preparada para me defender, mas mesmo assim na apresentação do trabalho de conclusão do curso, a cor de minha pele virou a pauta dos professores. Minha pesquisa não tratava sobre a questão das cotas de negro no serviço público ou faculdade, mas muito tempo foi destinado para discutir sobre a (in) efetividade da inclusão racial nas faculdades. Os avaliadores do meu trabalho concluíram que os negros jamais se desenvolveriam como os não pretos na graduação, porque a convivência social é muito importante para aprendizagem e os pretos TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 27 são excluídos. Fiquei chocada, mas ressalto que o tema do meu trabalho não era a questão racial. Atualmente, existem leis para defender os animais irracionais, nesse sentido é inadmissível que em pleno século XXI, advogados sejam vítimas de racismo. O preconceito racial é um pilar maldito que é regado como uma planta, desde a faculdade. E a sociedade simula que não enxerga as condutas absurdas praticadas contra as minorias, desde a graduação. Nas delegacias e fóruns a prática sútil de preconceito continua acontecendo, mas é preciso colocar nossas mãos pretas nas canetas para extirpar essas práticas criminosas. Advogados negros não são cães que apanham calados! Há pessoas diferentes e precisam de advogados com perfis diversos. É incoerente ressaltar os obstáculos econômicos de alguns advogados pretos para associar a falta conhecimento e futuramente lhes acusar de incompetentes, devido a cultura preconceituosa de acreditar que advogados pretos não são inteligentes. Se é crime maltratar os animais é logico que também seja crime, se manter inerte perante a prática de condutas que desestruturam a vida profissional daqueles que se propõem a defender as pessoas. Não é segredo que a ditadura do racismo está presente em nossa sociedade, então é necessária a fiscalização para que de fato advogadas negras, como eu, estejam inseridas, até mesmo em cargos com poder de decisão. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 28 Erli Terezinha dos Santos Natural de Santo Antônio da Patrulha, em 1969 estabeleci residência em Novo Hamburgo, onde até a presente data tenho a sede do escritório profissional e onde realizei a maioria de minhas atividades profissionais. Quando desembarcou em Novo Hamburgo em 1969, vinda de Santo Antonio da Patrulha, Erli era uma jovem recém formada no curso de professora. Era uma anônima no meio da multidão. Deixou para trás sua terra natural e a família e veio em busca da realização de um sonho. Um sonho que acalentava desde menina. Ela queria ser advogada e projetava seu futuro atuando no direito empresarial. A história de Erli guarda semelhança com a de muita gente. Gente que luta com garra e determinação, enfrenta dificuldades financeiras, mas não abandona seus sonhos. Erli fez de seus sonhos uma realidade e agora se lança para novos desafios. Sempre com disposição, ética e seriedade, princípios que norteiam sua vida toda. A vida, porém, nem sempre lhe sorriu. De origem humilde, nascida na Vila Palmeira teve uma infância pobre. Ainda menina, trabalhou como doméstica, foi babá e trabalhou na lavoura, ajudando a família que vivia de agricultura. Para garantir os estuda da menina pobre, seus pais já falecidos colocaram-na no colégio interno, primeiramente em Taquari e após outros internatos até se formar. Amor, atenção, carinho, fé em Deus e a confiança na capacidade de liderança da filha não faltaram ao pai Juvenal João dos Santos, agricultor e construtor, e a mãe Antonia Machado dos Santos, doceira e parteira. Foram eles, seus pais, os professores e os amigos que incentivaram e apoiaram Erli na busca pelos seus ideais. A escolha por Novo Hamburgo, cidade que a acolheu e que Erli ama como se fosse filha dela, esteve alicerçada não apenas no sonho, mas também num projeto que ela começa a escrever assim que soube que a Prefeitura do Município abriria inscrições para um TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 29 concurso na rede municipal de ensino. Foi aprovada e contratada como professora e, depois, fez o vestibular na Unisinos, ingressando no curso de Direito. Formada em direito pela Unisinos em 1974, busquei aperfeiçoar minha formação acadêmica através da pós-graduação em Educação e Metodologia do Ensino Superior (Feevale); especializaçãoem Direito Tributário (IBET), Empresas Binacionais Brasil- Argentina (Universidade Del Salvador Argentina), Regulamentação de Comércio Internacional para Importação e Exportação (Unisinos); GBA/Global Business Administration - foco em Gestão Empresarial e Estratégias de Negócios Internacionais; cursos de extensão universitária nas áreas cível, penal e societária, Driot Civil- Procedure Civile (Sorbonne-Paris). Nas atividades relacionadas na área social e educacional destaco: passagem pela Secretaria de Educação de Novo Hamburgo, como assessora técnica e jurídica; presidente do Conselho Municipal de Educação de NH de 1994 a 1999; membro fundador da Associação Bem-Estar do Menor (ASBEM); professora universitária da Feevale de 1977 a 1987; criadora e coordenadora executiva do Programa de Advocacia Empresarial num Ambiente Global (PAEG), na Unisinos; assessora técnica e presidente da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social-FGTAS do Estado do Rio Grande do SUL - 2008/2010, bem como, palestrante em diversos assuntos, nas áreas sociais, educacionais e jurídicas. No direito, nestes últimos 25 anos, na coordenação do escritório E. Santos Advogados Associados minha atuação é totalmente voltada para a consultoria e assessoria jurídica empresarial, atendendo empresas de todos os portes, especialmente na região do Vale dos Sinos, tendo, recentemente, estendido a atuação para o Estado de Santa Catarina, com escritório em Itapema. Na E. Santos Advogados Associados agreguei a minha experiência a de jovens profissionais com alto nível de qualificação jurídica e técnica, compondo uma equipe multidisciplinar de advogados, consultores e auditores, fazendo com que E. Santos esteja entre os escritórios de boa avaliação da região. Assessorando empresas na prevenção de contingências, fazemos parte do planejamento estratégico da empresa, bem como, se busca as soluções jurídicas cabíveis às demandas existentes, com isto, procura-se dar ao empresário condições dele concentrar suas energias com foco na gestão do seu negócio. O reconhecimento pela atuação da advocacia, principalmente na área empresarial, resultou em prêmios e distinções concedidas no decorrer da trajetória profissional, dentre as quais: Título Mulher de Ouro do RS - 1991/92 - Porto Alegre; Personalidade Feminina da Região Sul - Destaque em Direito - 1995/Florianópolis/SC; Mérito Empresarial do RS – 2004 – Concedido pelo Programa Destaque Gaúcho; Prêmio Top Of Mind Brazil – 2006 e 2007 – Concedido pelo INBRAP – Instituto Brasileiro de Pesquisa de Opinião Pública; Medalha Mérito Rio-grandense – homenagem do Governo do Estado do RS - 2010. As dificuldades iniciais não impediram a construção de uma carreira profissional de sucesso, tornando-se uma advogada voltada para as áreas empresariais e de gestão corporativa, complementando sua formação com estudos no Brasil e no exterior. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 30 Ela nunca fez da adversidade um drama e nem da pobreza um frado pesado demais. Tudo isso lhe servia de estimulo para lutar por dias melhores. Construiu sua carreira com muita confiança e determinação e fez de sua vida um tributa a liberdade e ao trabalho. Erli é uma protagonista da história de sucesso. Advocacia, especialmente para mim, considero e a exerço como sendo ”UM VERDADEIRO SACERDÓCIO”. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 31 Heleno Gary Rodrigues Heleno Gary Rodrigues sou eu. Oriundo de uma família de atletas, onde os pais sempre primaram pela educação dos filhos interligando com o esporte. Assim, junto aos meus três irmãos ingressamos na SOGIPA – Sociedade de Ginástica de Porto Alegre. No clube ingressei no atletismo; diferente de meus irmãos mais novos que escolheram o basquete chegando a jogar fora do estado e representando a seleção gaúcha da modalidade e de minha irmã que ingressou no voleibol onde ainda hoje representa a seleção brasileira se consagrou em 2012 campeã olímpica e vice-campeã olímpica em 2021. No meu primeiro ano de participação esportiva foi beneficiado com um bolsa de estudos no colégio metodista Americano, onde me formei no ensino fundamental e médio. Posteriormente, recebendo nova bolsa de estudo, agora no ensino superior me formei na Faculdade São Judas Tadeu no ano de 2012 em Ciências Jurídicas e Sociais. Já nas pistas de atletismo me consagrei campeão brasileiro e por duas vezes medalhistas em campeonatos sul-americanos. Encerrei minhas atividades esportivas no ano de 2012 quando ao me formar iniciei minhas atividades laborais. Assim, no mesmo ano de formatura fui convidado a fundar o escritório Tofani&Garay, onde atualmente atuo na área de advocacia empresarial e do trabalho, tendo especialização em direito desportivo pela Escola Superior da Magistratura – AJURIS e Pós Graduação em Direito Público. Hoje. Em paralelo com os afazeres do escritório ainda possuo uma empresa de Ensino de Esportes praticados na areia, Futevôlei e Vôlei de praia. Junto a Ordem dos Advogados do Rio Grande do Sul, sou membro da Comissão da Verdade Sobre a Escravidão Negra do Estado do Rio Grande do Sul da OAB/RS – Desde a sua fundação em 02 de abril 2015. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 32 Karen Suélen Pereira da Silva Minha Trajetória de Orgulho Karen Suélen Pereira da Silva, mulher negra, antirracista, advogada previdenciarista e familiarista, pós-graduada em Direito da Seguridade Social. Sou neta de Marilene e Natália, filha de José Maria e Jacqueline, mãe da Luísa e da Jadeh e esposa do Mateus. Faço esta menção, pois são minha rede de apoio e inspiração, pessoas impares e plurais que refletem muito do que sou e do que entrego na minha vida pessoal e profissional. Sou a filha mais velha, de um casal jovem que vive uma história de amor e união há 37 anos. Pelo lado materno tenho a referência da minha avó Marilene (in memoriam), mulher forte precisou criar educar três filhas solo, e viveu m prol da família até o fim da sua vida. Minha avó paterna casou-se jovem, assumindo dois enteados, tendo mais quatro filhos, perdido uma quando tinha um ano e vivendo um casamento machista, culminando no divórcio depois de 30 anos de casamento. Assim, já na minha trajetória tenho presente a questão racial, do patriarcado, do machismo, o que já entranham na minha personalidade por si só. Meus pais não possuem ensino superior, tendo meu pai estudado até a quarta série do ensino fundamental, já minha mãe concluiu o ensino médio. Eu sou a primeira neta a me formar em uma Universidade. Nunca repeti o ano escolar, concluindo o ensino médio com 16 anos. Após, fui trabalhar, mas continuava fazendo curso pré-vestibular, sendo aprovada para bolsa integral do Programa do Governo Federal PROUNI para o curso de Direito em 2006, aos 19 anos. Aos 22 anos descobri a gravidez do meu primeiro amor Luísa, fato o qual mudou toda minha realidade, pois além de mergulhar no mundo real da maternidade, sou mãe solo. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 33 Entretanto, ela foi a minha primeira mola na vida, queria ser a melhor, lhe ofertar o “mundo” e suprir todas suas ausências. Com o amadurecimento percebi e entendi que não era o que ela precisava, e aprendo todos os dias mais um pouco com minhas meninas. Entretanto, foi o apoio incondicional dos meus pais o fator determinante para a conclusão do curso de Direito, bem como da aprovação 4 anos depois na OAB. Eles são o início, meio e fim! Após, trabalhei por cinco anos como advogados em um escritório de advocacia. Ao saber da chegada do meu segundo amor, Jadeh, decidi e percebi que era hora de fazer a minha advocacia, pelo menos tentar. No ano de 2020, passei a advogar de forma autônoma, intimista, muito em virtude da pandemia, aproveitando o tempo para me reciclar e posicionar a minha advocacia, descobrindo oque me faz feliz nela e como posso ser útil verdadeiramente. Assim, no ano de 2021 decidi coisas grandes, me casei, abri com uma colega meu escritório e estou aqui contando minha trajetória neste projeto lindo da nossa Comissão da Igualdade Racial da Seccional OAB/RS. Expresso ainda, minha gratidão ao meu esposo e amigo Mateus, o qual me apoia e ajuda incondicionalmente para que possa realizar meus projetos. Enfim, deixo a você a seguinte mensagem: tenhamos na vida doses de sensatez, loucura e ousadia, não sejamos submissos a crenças limitantes, lutemos pelo que cremos, sejamos leais com nossa ancestralidade e nunca esqueçamos de sermos gratos a Deus e quem nos estendeu a mão, sempre. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 34 Leonardo Santos Franco Advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, Presidente da CIROABRS Subseção Montenegro. Minha trajetória dentro do mundo do Direito, música e luta antirracista se misturam ao longo dos meus 32 anos. Embora com várias indecisões ao longo da Faculdade, minha caminhada no Direito começou desde muito novo, mais precisamente quando eu tinha em torno de cinco anos de idade, quando defendi minha irmã mais nova no casamento da minha dinda em que queriam barrá-la por algum motivo formal. Da mesma forma, nos tempos de escola, quando era eu quem defendia a turma quando nos metíamos em confusão. Enfim, um defensor de causas juvenis. Na escola foi onde tive os primeiros contatos com a música e quando decidi que queria aprender a tocar violão para montar uma banda. Aos 14 anos fiz aula de violão e teoria musical, algo que expandiu meus horizontes e se tornou a minha paixão. Também na adolescência, embora o meio em que eu vivia era majoritariamente branco, foi onde a luta antirracista começou a despertar em mim, seja argumentando com amigos que tinham posturas racistas, seja assistindo filmes e músicas que abordassem o tema. Saindo da escola cursei Direito pela Unisinos, e foi aí que aprendi a gostar e compreender todas as nuances do universo jurídico. Meu avô já era advogado, então eu tinha a quem puxar, porém, não foi amor à primeira vista, pois quando entrei na Faculdade eu ainda não sabia bem o que queria fazer, então escolhi aquilo que me circundou a vida inteira, que foi o Direito. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 35 Lembro que não foi nada fácil para meus pais conseguirem pagar o curso de Direito, visto que, além de mim, havia meu irmão cursando Comércio Exterior, e posteriormente minha irmã cursando Nutrição. Então, toda educação que tive, dentro e fora de casa, devo a eles. A bem da verdade devo tudo a eles, pois tudo que tinha eram eles que me davam. Durante a faculdade comecei estagiando em um escritório de advocacia em Montenegro/RS, depois na Receita Estadual, vindo então, em 2011, a estagiar no escritório em que hoje sou sócio. Em julho/2013 fui aprovado no Exame da Ordem e em janeiro/2014 me formei no curso de Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, e desde então atuo como advogado na Ferreira & Franco Sociedade de Advogados. Em julho/2018 concluí minha pós-graduação em Direito e Processo do Trabalho pelo IMED. Foi através da advocacia que pude me deparar mais de perto com as desigualdades sociais, com o desespero das pessoas que contribuíram por uma vida inteira e que no momento em que necessitam o amparo do governo, este não olha para elas. Foi através da advocacia que me deparei com atitudes racistas de colegas, o que me fez abrir os olhos, renovando toda a luta antirracista que havia despertado em mim quando mais jovem. E, a partir daí, foi quando decidi, através de uma conversa com o Presidente da CUFA de Montenegro, criar a Comissão Especial de Igualdade Racial da OABRS Subseção Montenegro, e me tornar Presidente da CIROABRS Subseção Montenegro. Através do envolvimento com a CIR, a advocacia e o Direito começaram a ter um novo sentido para mim, pois pude aliar a luta antirracista com a profissão que escolhi seguir. Desde então idealizei, junto com a Presidente da CIROABRS, Karla Meura, o projeto CIR Cultural, fui mediador da mesa que tratou acerca das Cotas Raciais no Sistema OAB no 3º Seminário Internacional pela Igualdade Racial e estou engajado na criação do Conselho dos Direitos dos Povos Negros na Prefeitura de Montenegro, RS. Enfim, sou grato a tudo e todos que estão comigo nessa caminhada, ficando apenas com o coração apertado pelo fato do meu pai não estar vendo fisicamente as minhas conquistas, no entanto, tendo a certeza de que ele sempre estará olhando por mim. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 36 Letícia Marques Padilha Meu nome é Letícia Marques Padilha, sou advogada negra, mestra em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, secretária geral adjunta da Comissão da Igualdade Racial OABRS, membra da Comissão da Verdade Sobre a Escravidão Negra OABRS, membra da Comissão da Igualdade Racial da Associação Brasileira de Advogados, integrante do Movimento Negro Unificado e do Cômite Estadual Contra a Tortura/RS. Importante expor o meu currículo para que compreendam o meu lugar de fala. Visto que eu, Letícia, sou filha de um militar da reserva do Exército Brasileiro, Luiz Carlos R. Padilha, e de uma professora de matemática, Heloisa Helena M. Padilha, neta de uma mulher negra doméstica e de uma mulher branca do lar, e de dois homens, um branco e outro negro, ambos militares do Exército Brasileiro. Minha vida certamente é bem diferente da grande maioria da população negra, visto que meu pai, homem negro, muito cedo percebeu que através do estudo poderia ter uma vida melhor. Filho de uma mãe analfabeta e de um pai que viajava muito a trabalho. Mas que apesar da mãe ser analfabeta ela tinha consciência de que através do estudo seria a forma de uma haveria a oportunidade de uma vida melhor, então sempre incentivou os filhos nos estudos. Assim meu pai traçou desde cedo o caminho que desejava seguir, ainda criança decidiu fazer o concurso de admissão do Colégio Militar de Porto Alegre/RS, foi aprovado e decidiu seguir a carreira militar como oficial do Exército. O caminho não foi fácil, mas seguiu rumo à Academia Militar das Agulhas Negras (Resende/RJ) e de lá saiu aspirante no ano de 1977. Em 1978 casou-se com minha mãe e, em 1980 eu nasci, e posteriormente em 1982 nasceu minha irmã Liziane. Meus pais concluíram o ensino superior após terem constituído família, meu pai formou-se em Direito e minha mãe em Matemática. Recordo-me que meus pais estudavam durante à noite, eu e minha irmã tínhamos entre 9 e 7 anos de idade, morávamos na cidade do Rio de Janeiro, longe da família (residia no Rio Grande do Sul), ficávamos as noites de TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 37 segunda a sexta-feira sozinhas em casa para que nossos pais pudessem estudar e concluir a faculdade. E assim, meus pais conseguiram alcançar o tão sonhado diploma na universidade. Repiso que minha trajetória foi muito diferente da maioria das pessoas negras, visto que nunca tive que preocupar-me se haveria comida na mesa, se haveria uma casa quentinha, se eu teria uma escola etc. Meu pai sempre dizia que a minha preocupação e da minha irmã deveria ser apenas com os estudos, e assim cresci, preocupando-me somente em estudar. Estudei em escolas particulares e no colégio militar, local em que me formei no primeiro e segundo graus. Aos 19 anos ingressei na universidade e com 25 anos me graduei-me na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Tive oportunidade de conhecer e morar em outros estados do Brasil e países. Tudo isso como consequência dos esforços e das conquistas dos meus pais, mas não gosto de falar no mérito pessoal deles, até porque não me sinto bem utilizando a palavra meritocracia. Precisamosfalar é da realidade da maioria da população negra brasileira, é com esses indivíduos que temos que nos preocupar, visto que são as maiores vítimas da violência diária decorrentes do racismo. Não que o racismo não ocupe todos os lugares, pois ele existe independe da classe social, mas são as pessoas negras menos favorecidas social e economicamente que são as grandes vítimas de violência somente pela cor de sua pele. A cor da pele chega antes do que qualquer coisa. Eu Letícia, na maioria das vezes era a única negra ocupando os espaços, inclusive meu primeiro trabalho como profissional depois de formada em Direito foi trabalhar como assessora de desembargador no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Iniciei ocupado o cargo de secretária e logo em seguida fui promovida à assessora de desembargador. Incomodava-me o fato de ser uma das únicas negras a trabalhar num prédio que contava com 145 (cento e quarenta e cinco) desembargadores, e cada uma tinha 1 (um) secretário e 2 (dois) ou 3 (três) assessores. Todavia, eu não conseguia expressar o que me deixava desconfortável. Com o passar dos anos e com a maturidade percebi efetivamente o que me incomodava: o racismo, a história de sofrimento, de violência da população negra, da minha gente, do meu povo. Então comecei a estudar fervorosamente a causa negra. Notei que tanto no colégio, como na universidade essa pauta foi esquecida, negada. E depois de uma boa caminhada nas questões raciais percebi o quanto nos foi tirado, ocultado e negado. E hoje, sigo meus estudos acerca do racismo e das práticas antirracistas, lutando diariamente e incansavelmente pela causa negra. Dentro da OABRS pude me descobrir como advogada negra e questionadora das pautas raciais. Desejo igualdade de oportunidades para comunidade negra na sociedade brasileira. Desejo um mundo mais igual para todos independente da cor da pele. Desejo deixar o caminho mais leve, menos árduo para os que vierem depois de mim, assim como meus ancestrais fizeram. Enfim, essa foi a minha trajetória, essa é a minha história que divido com vocês e com o sonho de ainda ver o Estado brasileiro se retratar publicamente, como forma de reparação, pelo período escravista que perdurou por aproximadamente 400 (quatrocentos) anos, e que até hoje vivemos os resquícios daquele período. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 38 Letícia da Rosa dos Santos Minha trajetória Me chamo Letícia da Rosa dos Santos, tenho 36 anos, sou a filha mais velha da D. Elete Terezinha Dorneles da Rosa, mulher negra, que desde pequena começou como doméstica e após trabalhar nas mais diversas atividades, nas quais, muitas vezes, por ser uma mulher negra, não havia diferenciação no manuseio com cargas e trabalhos braçais. Desde cedo aprendi que ser mulher não significa ser frágil, muito pelo contrário: sem nós mulheres não existe futuro, não existe progresso. Por que me atrevo a dizer isso? Porque minha mãe (embora eu tenha pai vivo e me relacione com ele até hoje) foi responsável por tudo que me tornei e me ensinou a não depender de ninguém, principalmente, financeiramente. Cresci em Guaíba, uma cidade vizinha de Porto Alegre/RS, no bairro Santa Rita, que faz divisa com um outro bairro chamado Cohab. Cresci com a falsa ilusão que a Santa Rita sempre era melhor e via as pessoas se ofenderem quando diziam que era tudo uma coisa só. Nunca entendia o porquê daquilo. Cursei todo o ensino fundamental na mesma escola, numa escola pública municipal, no mesmo bairro, e me recordo que na 5ª série uma professora de matemática resolveu fazer algo diferente e questionou a todos o que queriam ser quando crescessem. Para mim, o Direito sempre foi meu objetivo, acho que sequer sabia ler direito, mas ele já estava lá, intrínseco. Me lembro bem desse dia na aula, pois não me recordo de ter sido questionada por ninguém mais além daquela professora, tanto o é que os próprios coleguinhas surpresos com o meu sonho atrevido deram risada. Lembro disto até hoje e agradeço a ela imensamente, pois não fosse ela, poderia não ter passado de um pensamento vago. O ensino médio também foi cursado em escola pública e, por falta de informação, experiência ou mais interesse da minha parte, somente na metade do curso é que tomei conhecimento da necessidade de cursar o vestibular para poder conseguir uma vaga no ensino superior. Pense no meu desespero?! Embora minha bagagem no ensino fundamental TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 39 até pudesse ser boa, o ensino médio deixou muito a desejar e, na adolescência, sem alguém que nos estimule, perdemos excelentes oportunidades e eu, por sequer saber deixei de me dedicar como deveria, de olho no meu objetivo. Contudo, eu tinha um sonho: arremanguei as mangas, enfrentei meus monstros, virei noites, finais de semana e não passei de primeira, nem na segunda. Na minha família cresci sem estímulo ao debate racial, muito pelo contrário, cresci aprendendo a cultivar, dentro da própria família piadas e comentários racistas, além de ser “adestrada” a não ocupar certos lugares, pois “ali não era para vocês: pobres e pretos” (ouvi isso de um parente!). Cansei, desisti e fui fazer um curso técnico, na expectativa de com isso ter condições de pagar a faculdade algum dia. Fiz uma prova pleiteando uma vaga para secretariado na antiga Escola Técnica da UFRGS e, para minha sorte fui uma das primeiras colocadas. Bingo! Os meses seguintes, dentro da escola técnica serviram na verdade como uma revisão e, autoafirmação, pois ao longo do ensino médio fui desestimulada, desenganada a dar continuidade nos meus sonhos, mas dentro do novo curso, encontrei professores formidáveis que souberam me motivar e voltar a acreditar que eu sabia bem mais do que imaginava, tanto é que foi graças a essas mestras e mestres que muito contribuíram, ainda que sem saber, para que eu pudesse com tranquilidade seguir meus estudos para o Enem. Foi bem difícil, cansativo, como sempre. No dia da prova não queria ir, mas minha mãe insistiu. Acabei fazendo a prova, muito mais para não desapontá-la. Semanas depois saiu o resultado: Consegui uma boa colocação e consegui uma bolsa integral. Ainda cética quanto as consequências, encaminhei os documentos, dando continuidade no processo, apresentando os documentos. Sempre incrédula que aquilo estava de fato acontecendo, até que começaram as aulas. Pensei que as coisas mudariam, seriam mais fáceis: quem dera! Iniciei, em março de 2007, meus estudos na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Cursava a graduação à tarde, fazia um estágio pela manhã e ainda dando continuidade ao curso técnico à noite, chegava em casa sempre muito tarde e saia muito cedo. Em seguida, concluído o curso técnico, pude trocar o turno da faculdade para à noite e, assim, pleitear estágios na área jurídica. Logo surgiram oportunidades. Em 2012 recebi meu diploma e, em 2014, após me tornei advogada. Pouca coisa mudou, mas com o tempo, pescando uma experiência daqui outra dali e, por sempre ter sido uma mente inquieta, me percebi sozinha, conseguiria dar andamento nos meus planos, nos meus sonhos. Claro que precisava de ajuda de outros, mas não precisava criar raízes dentro de um escritório, onde na maioria das vezes, por querer ser simpática e servir o café ao cliente, era destratada ou até mesmo testada quanto as minhas competências/conhecimento, sem falar que, por não ser negra de pele escura, para a branquitude eu negra jamais serei e, diante disso, os coleguinhas aproveitam a brecha para lançar mãos das suas piadas infames. Trabalhar com fone nos ouvidos passou a não ser mais uma opção, mas o único caminho para não criar atritos. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 40 O caminho nunca foi fácil e sei que ainda assim, por eu não ter a pele retinta usufrui de excelentes oportunidades em bons escritórios, muito embora, até meados de 2016nesses espaços sempre havia alguma coisa no ar que me incomodava, mas por conhecer muito superficialmente a pauta racial muita coisa passava despercebida ou com tom de “tudo bem, eu sei que você não fez por mau”. Em 2017, tomei conhecimento dos grupos de estudos promovido pela ESA/OAB e, por curiosidade, me inscrevi, participei uma vez de um grupo, mas não gostei, não me senti pertencente àquele espaço. Em 2018, vi uma oportunidade num grupo de estudos de questões raciais promovido pela ESA, me inscrevi e comecei a participar. Embora boa parte dos demais colegas do grupo demonstrarem já um grande percurso na pauta racial, vi uma oportunidade de ali aprender, entender, enfim, melhorar meus argumentos. Pela primeira vez me senti pertencente a um espaço dentro da OAB e, desde então, procuro agregar valor ao mesmo que tem contribuído de uma forma inimaginável na minha trajetória profissional e, por conseguinte, pessoal. Por consequência, acabei ingressando também na Comissão de Igualdade Racial na qual passei, ainda que minimamente, a contribuir na divulgação de questões raciais dentro de outras esferas que participo. Foi participando dessas coletividades que tomei conhecimento das diversas facetas do racismo, dentre elas, o racismo ligado à propriedade, que me perturba muito, pois eu cresci vivenciando essa realidade, com a pobreza e a precariedade de serviços essenciais e nunca entendia o porquê daquilo tudo. Desde então procuro sempre que posso trazer alguma contribuição, na verdade mais demonstrando uma inquietude minha, resolvendo alguma ânsia que sei que outros também padecem como eu. Agradeço a essa coletividade por hoje não mais me perceber sozinha na minha trajetória. Pude me rebelar, no melhor sentido possível e, graças a essa rede de apoio que descobri (em constante construção), há pouco mais de um ano decidi não mais ser ponte para sonhos de outros, mas dar início de fato aos meus. Tem dado certo. Alguns tropeços ainda surgem, mas, graças aí meu atrevimento e a minha inquietude, essa coletividade na qual me sinto inserida, recuar não é mais uma opção, a não ser que seja para pegar impulso e ir adiante. Sou grata aos que me abriram caminhos até chegar aqui e espero poder contribuir à altura para os próximos. A caminhada não é fácil, mas hoje podemos e devemos estar em todos os espaços, quer alguns gostem, ou não. Obrigada à OAB que através desta Comissão da Igualdade Racial vem oportunizando os debates sempre tão oportunos e tornando-nos visíveis e pertencentes não somente à esta Comissão, mas dentro da instituição OAB, dentro da advocacia. Seguimos! TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 41 Liane da Silva Oliveira Brasileira, Advogada, natural de Porto Alegre, filha de pais negros Nasci em Porto Alegre, e, em meados do ano 1982, minha família e eu fomos instalar residência no município de Alvorada. Foi neste município que cresci e vivi boa parte de minha infância. Na minha adolescência, estudei no Colégio São Judas Tadeu, em Porto Alegre, época em que pude dividir com colegas de classe, os sonhos e anseios a respeito do ingresso em Faculdade. Nessa época, não havia pessoa graduada em Direito na minha família. Porém, foi pensando nos futuros prestígios que uma carreira jurídica poderia proporcionar, bem como nos desafios e estímulos que acompanhariam no decorrer do Curso da Graduação, optei pelo curso de Direito. Prestei concurso vestibular na UNISINOS, ULBRA Canoas e PUCRS. Tive aprovação em ambas as Universidades. Escolhi a Universidade UNISINOS que tem uma boa conceituação na Faculdade de Direito. Ao entrar para a faculdade, toda expectativa que havia sido gerada durante o processo de ingresso, da escolha do curso ao concurso vestibular, foi consolidada em cada disciplina cursada. O sentimento era de amor à primeira vista; de haver dado o passo certo; feito a escolha perfeita que combinou exatamente ao meu perfil de adorar leituras, de vencer obstáculos, de conhecer os meus direitos e os meus deveres. Dediquei-me inteiramente ao curso, buscando sempre as melhores colocações em notas, concluindo-o no 2º semestre do ano 2008. No ano 2009, para alcançar habilitação para prestar advocacia, realizei o Exame da OAB, tendo minha aprovação em julho daquele ano, e o recebimento de carteira em outubro do mesmo ano. Nesta época já trabalhava como funcionária pública do município de Alvorada. E, com o recebimento da carteira de habilitação para a advocacia, foi difícil conciliar as atividades. Por determinado período fiz alguns trabalhos jurídicos (processos) para amigos, familiares e certas indicações. E, em 2010, tive grande oportunidade de trabalhar no escritório de advocacia de uma colega que era, também, procuradora do município. Atuando TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 42 na área trabalhista, permaneci prestando serviço no escritório por três anos, período em que adquiri grande experiência na área do Direito do Trabalho. Em 2013, fui convidada para exercer Assessoria Jurídica na Secretaria Municipal de Educação. Oportunidade em que pude me qualificar quanto a direitos e deveres no funcionalismo público, bem como na área de educação e do ECA. No ano de 2015, me tornei mãe, licenciando-me do trabalho tanto na Prefeitura Municipal, quanto na advocacia. Após o retorno da licença maternidade, fui convidada a gerenciar o Conselho Tutelar do Município, oportunidade em que pude me qualificar, bem como ganhar grande experiência nos Direitos da Criança e do Adolescente. No ano de 2016, dei o pontapé inicial com a abertura de escritório de advocacia, no município de Porto Alegre, composto por três advogadas negras. Neste escritório, fizemos trabalhos de assessoria jurídica comunitária em diversas Agremiações e Escolas de Samba de Porto Alegre e região metropolitana, atendendo gratuitamente suas comunidades. No ano de 2018, foi o ano de aceitar um novo desafio, qual seja, de dar início a um empreendimento próprio, vindo a instalar-me profissionalmente no município de Alvorada, cidade que dispõe de grande demanda jurídica. Desde então, venho desempenhando a advocacia no município, atuando nas áreas trabalhista, cível, família, previdenciário, comercial e bancário. Por fim, neste ano 2021, dei início a uma pós graduação em direito tributário, matéria que também fará parte do meu campo de atuação. Após esse breve resumo de minha trajetória, tenho que o curso de Direito oferece, entre outras vantagens, o prestígio de ter um vasto conhecimento daquilo que é direito e/ou dever. Ainda, é um curso que oportuniza seguir diversas carreiras. E, por que escolher a advocacia? Exercer a advocacia é cumprir com uma função que é essencial à Justiça. E acrescento que tem uma grande função social, pois ser advogado é, além de defender o direito de seu cliente, orientá-lo, dirimir qualquer dúvida, mediar conflito. Ser advogada requer sim muita coragem, e, esta profissão que escolhi seguir por plena identificação pessoal. TRAJETÓRIAS DA ADVOCACIA NEGRA 43 Luiz Carlos Marques Jr. Natural de Santa Cruz do Sul/RS, comecei minha trajetória profissional, ainda que não ligada ao Direito, basicamente trabalhando na indústria metalúrgica/fumageira, setor que é a principal economia da cidade. Vim de uma família humilde, como a grande parte da população brasileira, então, desde cedo percebi que o estudo seria a grande motivação para realizar sonhos e talvez a única saída na busca de uma vida digna e honrada. Sempre tive aversão às injustiças, principalmente sociais, e é nesse contexto que o Direito entrou na minha vida. Uma forma de ajudar as pessoas e um apoio fundamental para auxiliar os menos favorecidos, que ainda hoje tem dificuldades imensas, tanto no acesso, quanto na garantia na busca de justiça e de direitos. Assim, com muita luta, consegui
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