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analise do discurso-14

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Fonte [3]
O primeiro deles, de número 7, assimila o conceito a fala, opondo-o a língua, evocando a célebre 
dicotomia saussureana. Evidentemente, discurso não se confunde com fala. Se Análise do Discurso 
equivalesse a análise da fala, no sentido que Saussure dá a esse termo, aquela não passaria de um 
dispositivo técnico de análise da materialidade dos sons. Isso porque, para Saussure, a fala é o 
mecanismo psicofísico de execução da língua. Em suma, conforme a 7ª definição de Houaiss para 
discurso, a Análise do Discurso seria o mesmo que análise fonética, o que absolutamente não bate com a 
realidade (os próprios foneticistas não se diriam praticando análise do discurso).
Ferdinand de Saussure (1857-1913) [4]
Na oitava definição, temos a consideração do discurso, mais uma vez, como objeto relacionado à 
fala. Ele é identificado como “maior do que a sentença”. Vale ainda dizer que esse sentido do dicionário, 
que inclusive dá como exemplo o nome de nossa disciplina, advém certamente do que é considerada a 
primeira utilização da expressão “análise do discurso”: “Discourse analysis” (em português “Análise do 
discurso” ou “Análise de discurso”) foi o título de um artigo do linguista norte-americano Zellig Sabbetai 
Harris, publicado no número 28 da revista Language, em 1952, traduzido para o francês e publicado no 
número 13 da revista francesa Langage, em 1969, apenas um ano após a fundação oficial da Análise do 
Discurso francesa. Visando aplicar a descrição sintática da frase ao texto, Harris considera discurso o 
conjunto articulado de sentenças. Assim, para Harris, do mesmo modo que, na frase, a análise sintática 
procede verificando as regras de articulação entre os elementos constituintes (nomes, verbos, 
preposições, artigos, etc.), a análise do discurso deveria proceder verificando as regras de articulação 
entre as frases em um texto. Desse modo, o discurso é definido como um conglomerado de frases 
articuladas e, portanto, como diz o dicionário, maior do que a sentença. De fato, o discurso como realidade 
empírica tem natureza diferente da sentença. Porém não em relação ao tamanho, mas à sua própria 
condição de existência. Enquanto que o discurso é uma realização concreta de uma interação entre 
sujeitos, a sentença é a realização de uma estrutura linguística. Nesse sentido, o discurso pode ser menor 
(ex.: “bom, eu... ”) ou maior (ex.: um romance), não sendo, portanto, o tamanho que os diferencia. 
Voltaremos mais adiante a essa questão. Para aprofundar essa discussão sugerimos o artigo Zellig 
Harris: 50 anos depois [5], de Carlos Alberto Faraco.
Passemos à definição de número 10, para depois nos voltarmos para a 9. O sentido 10 aponta para 
um uso muito específico da palavra discurso: “discurso direto, discurso indireto, discurso indireto livre”. A 
rigor, trata-se de esquemas de reportação de enunciados ou de recortes de enunciados. Ou seja, fórmulas 
usadas para o encaixamento de trechos da enunciação alheia. São fartamente conhecidos não apenas por 
ser procedimento comum na enunciação, mas também por serem muito trabalhados na escola. Embora 
seja um fenômeno importantíssimo para a AD, como veremos na aula 03, não é esse o sentido de discurso 
tomado pela AD, uma vez que será preferível tomar como discurso o enunciado reportador, não o 
reportado nem o esquema da reportação. Ainda mais se considerarmos que o “discurso” no discurso é 
sempre modificado de alguma maneira, nunca se conservando tal qual ele aconteceu, diferentemente do 
que a expressão “discurso direto” sugere. Em poucas palavras, podemos dizer que o discurso reportado 
não é de fato um discurso no sentido privilegiado pela AD.
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