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13/04/24, 05:31 Geografia e Ensino: 1. Saberes e procedimentos didáticos https://graduacao.cederj.edu.br/mod/page/view.php?id=142185 1/2 No desenvolvimento de suas aulas, o professor de geografia realiza vários procedimentos com o objetivo de transformar objetos de conhecimento em objetos de ensino. Para isso, faz uso da transposição didática e de diferentes recursos educacionais. O termo “transposição didática” foi pensado pelo sociólogo francês Michel Verret e posteriormente aplicado e desenvolvido pelo matemático francês Yves Chevallard, em uma conhecida publicação de 1985, La transposition didactique: du savoir savant au savoir enseigné. O que é a transposição didática? 1.1. Todo projeto social de ensino e de aprendizagem se constitui dialeticamente pela identificação e designação de conteúdos de saberes como conteúdos a ensinar. 1.2. Os conteúdos de saberes designados como aqueles a ensinar (explicitamente: nos programas; implicitamente: pela tradição, evolutiva, da interpretação dos programas), em geral, existem previamente ao movimento que os designa como tal. [...] 1.3. Um conteúdo de saber que foi designado como saber a ensinar sofre, a partir de então, um conjunto de transformações adaptativas que vão deixá-lo apto para ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O “trabalho” que transforma um objeto de saber a ensinar em um objeto de ensino é denominado transposição didática. CHEVALLARD, Yves. La transposición didáctica: del saber sabio al saber enseñado. 3. ed. Buenos Aires: Aique, 1998. p. 45. Traduzido pelas autoras. A transposição é entendida como um diálogo existente entre conhecimento, aluno e professor – não se constitui em um processo de mão única, como se pode ver na ilustração. O professor seleciona conteúdos e habilidades a serem desenvolvidas, criando situações de aprendizagem que estimulam o aluno a pensar sobre o assunto. Ao mesmo tempo, os diferentes ambientes de aprendizagem propiciam que os estudantes também compartilhem os saberes que trazem para a escola e troquem conhecimentos com o professor e entre eles. Os movimentos de transposição do “saber sábio” em saber a ensinar, e também aquele que parte do senso comum rumo a um saber sistematizado, demandam do professor uma razoável base teórica e metodológica para realizá-los com segurança. É preciso saber onde se quer chegar. Uma boa formação inicial pode fornecer subsídios para essa tarefa, de transformar as informações trazidas pelos alunos em conhecimento produzido na escola. A transposição didática corresponderia à vulgarização do saber acadêmico de forma que possa circular nas escolas – o saber escolar é, portanto, formado de conhecimento acadêmico e de ações didáticas. A vulgarização não é uma simplificação, um empobrecimento, mas, sim, uma seleção cuidadosa de conteúdos e procedimentos de forma a atingir um objetivo didático; é o objetivo que guia as escolhas que o professor irá fazer em seu plano de aula. Na geografia, há exemplos clássicos de transposição didática que resultaram em simplificações não pertinentes, como as associações entre planície e um “plano baixo”, assim como planalto a um “plano alto” – valorizou-se, nesse caso, a forma, não o processo físico. 1.2. MEDIAÇÃO DIDÁTICA Transpor conhecimentos não significa apenas transmitir ou adaptar determinado saber, mas principalmente recriar e produzir um novo conhecimento resultante desse processo. Por isso, diversos autores utilizam a expressão “mediação didática” para abordar esse processo. [...] O termo transposição tende a ser associado à ideia de reprodução, movimento de transportar de um lugar a outro, sem alterações. Mais coerentemente, devemo-nos referir a um processo de mediação didática. Todavia, não no sentido genérico, ação de relacionar duas ou mais coisas, de servir de intermediário ou “ponte”, de permitir a passagem de uma coisa a outra. Mas no sentido dialético: processo de constituição de uma realidade através de mediações contraditórias, de relações complexas, não imediatas, com um profundo sentido de dialogia. [...] O trabalho de didatização acaba por implicar, necessariamente, uma atividade de produção original. Por conseguinte, devemos recusar a imagem passiva da escola como receptáculo de subprodutos culturais da sociedade. Ao contrário, devemos respeitar e salientar o papel da escola como socializadora / produtora de conhecimentos. ? 13/04/24, 05:31 Geografia e Ensino: 1. Saberes e procedimentos didáticos https://graduacao.cederj.edu.br/mod/page/view.php?id=142185 2/2 LOPES, Alice Ribeiro Casimiro. Conhecimento escolar em química – processo de mediação didática da ciência. Química Nova, São Paulo, vol. 20, n. 5, set./out. 1997. p. 564 e 566. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/qn/v20n5/4901.pdf>. Acesso em: 9 ago. 2016. A recusa em enxergar a escola como “receptáculo” é uma das etapas necessárias para a compreensão da escola como espaço de socialização e produção de saberes. Retomando nosso ponto de partida: a escola desempenha um importante papel social na aquisição e desenvolvimento de saberes que serão mobilizados para a resolução de diversos problemas e fatos do cotidiano. Por intermédio dos componentes curriculares, como a geografia, são desenvolvidas habilidades necessárias à operacionalização de conhecimentos produzidos e códigos, como a cartografia, que habilitam o estudante a situar-se em um mundo tecnológico e globalizado com maior desenvoltura e capacidade. Para isso, contribui bastante a criação de situações de aprendizagem diversificadas; com a utilização dos recursos disponíveis, os professores podem realizar melhor seus programas escolares e, assim, envolver um número maior de estudantes. Última atualização: quarta-feira, 10 ago. 2016, 21:50
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