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13/04/24, 05:32 Geografia e Ensino: 2. Recursos educacionais
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Entre os recursos educacionais mais utilizados nas situações de aprendizagem, destacamos os livros didáticos e outras publicações do gênero
informativo, como jornais e enciclopédias; ficção literária.
Ainda que os livros didáticos se destaquem como principais veiculadores de discursos geográficos, estes estão presentes também em outros
textos, verbais e não verbais, que circulam socialmente.
 
2.1. LIVRO DIDÁTICO
O livro didático é um valioso instrumento de apoio tanto para professores, na realização do planejamento de ensino, como para alunos, pelo
apoio nas situações de aprendizagem vividas em sala de aula.  
O texto didático é parte do gênero informativo; ele carrega, em sua tradição, um tom bastante prescritivo – o comando verbal predomina em
suas páginas, que são, de fato, manuais de ensino, destinados a oferecer uma estrutura para as atividades escolares.
O livro didático leva para a escola os discursos prescritos por seus autores, editores e também pelo Estado. No Brasil, além dos documentos
nacionais (parâmetros, orientações e diretrizes curriculares), os livros didáticos seguem, ainda, recomendações que o Ministério de Educação
determina para a avaliação e compra de livros para as redes públicas do país. Essa avaliação acaba por influenciar a trajetória das coleções de
livros também no mercado privado, já que a ausência de participação no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) pode ser entendida como
uma reprovação e implicar má reputação no mercado de livros.
Mudanças na abordagem de temas escolares por meio de lei
Um dos exemplos mais interessantes sobre o papel da escola diz respeito à elaboração de leis com o objetivo de introduzir e/ou modificar a
abordagem de temas no currículo escolar. O caso mais bem sucedido diz respeito à luta de movimentos sociais para que as escolas
abordassem a história e a cultura de brasileiros de origem africana.
Em 2003, a lei n. 10.639 estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira.
[...] Parágrafo 1º O conteúdo programático [...] incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no
Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas
áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
Parágrafo 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo
escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História brasileiras.
[...]
Artigo 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia nacional da consciência negra”. [...]
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm>. Acesso em: 9 ago. 2016.
Em 2008, outra lei acrescentou as mesmas exigências para a história e a cultura indígena.
As duas leis impulsionaram mudanças nos livros didáticos, que passaram a ter como exigência para aprovação no PNLD o uso de imagens de
pessoas negras ocupando lugares considerados prestigiados, como a medicina e os cargos políticos. Houve também grande estímulo à
publicação de novos materiais a respeito das contribuições de povos indígenas e africanos na formação da nação; abriu-se espaço nas escolas
para projetos que valorizam essas contribuições, incluindo manifestações artísticas jovens, como o hip hop, e também para discutir a
discriminação étnico-racial. São conquistas dos movimentos sociais que repercutem no fortalecimento da tolerância e da convivência entre
grupos sociais diversos na escola.
Retomando a ideia da transposição didática, é essencial reconhecer o livro didático como portador dos saberes a ensinar, não do saber ensinado,
que se realiza na sala de aula de maneira diversa. Em outras palavras, o saber a ensinar que o livro didático leva para a sala de aula não é o saber
ensinado na aula, posto que não há como controlar os procedimentos didáticos utilizados e as concepções de todos os envolvidos nas atividades
escolares. Por outro lado, o livro didático é uma mediação do saber produzido, assim, distante do “original” – o saber sábio, portanto, sofre
intensa transposição no processo de elaboração dos livros didáticos.
Uma das críticas mais frequentes ao livro didático diz respeito a seu uso irrestrito em sala de aula: uma parte dos professores organiza seus
planos de aula de acordo com as propostas de um livro didático – “seguir” o livro didático é uma prática ainda corrente nas escolas brasileiras.
Nessa situação, os discursos geográficos presentes no livro chegam aos alunos com pouca mediação do professor. Uma sugestão interessante é?
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manter em sala de aula um conjunto de livros didáticos de forma a poder contar com diferentes abordagens e propostas didáticas – nas redes
públicas de ensino, trata-se de uma prática relativamente comum: a cada três anos, as escolas escolhem nova coleção e guardam uma pequena
quantidade de exemplares da coleção anterior, de forma a compor um repertório diverso de coleções didáticas.
Pode-se pensar que os livros didáticos exercem forte influência sobre os currículos das escolas, já que uma parte dos docentes utiliza esse
material como estrutura do plano de ensino. Essa relação, no entanto, é mais complexa, posto que as editoras de livros didáticos tentam produzir
livros que possam ser escolhidos pelo maior número de escolas – o objetivo principal é ter uma grande participação no mercado de didáticos.
Assim, as concepções dos professores de geografia influenciam a elaboração dos livros, da mesma forma que estes são parte da formação dos
professores (já discutimos o papel de nossa experiência como alunos na formação docente); há, ainda, outros sujeitos nessa perspectiva, como os
pais de alunos e os chamados formadores de opinião, como jornalistas. 
O livro didático para a escola básica tem algumas singularidades dentro do mercado de livros. O leitor do livro, o aluno, não participa da
decisão do que vai ler; quem escolhe a coleção a ser utilizada é o professor e/ou a direção da escola. No entanto, o cliente da empresa de
livros não é o aluno nem o professor: quem paga pelo livro é o governo (redes públicas) ou os responsáveis legais pelos alunos (rede privada).
Ao elaborar o livro, autores e editores precisam considerar as necessidades dos alunos (leitor), as demandas dos professores e das escolas
(aqueles que decidem o que comprar), as exigências dos avaliadores contratados pelo Ministério da Educação (principais clientes) e os
interesses dos pais/responsáveis pelos alunos das escolas privadas (clientes).
Tomemos como exemplo a situação dos livros de geografia das séries finais do ensino fundamental. Observe a seguir o sumário de um livro
didático de 7º ano adotado em um grande número de escolas brasileiras.
    
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Das oito unidades que compõem o volume, cinco são dedicadas às macrorregiões do IBGE – as abordagens fragmentam aspectos físicos da ocupação e elementos
socioeconômicos, que formam o conjunto de temas de cada região.
Essa coleção, que detém uma parcela muito significativa do mercado em seu segmento, influenciando, inclusive, a elaboração de coleções
didáticas em empresas concorrentes, apresenta uma seleção de temas e conteúdos muito distante do que propõem os PCN. Observe no quadro
a seguir a proposta dos parâmetros curriculares nacionais para o terceiro ciclo (6º e 7º anos) do ensino fundamental.
PCN: TERCEIRO CICLO – GEOGRAFIA
Eixo Tema Itens de trabalho
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A GEOGRAFIA
COMO UMA
POSSIBILIDADE
DE LEITURA E
COMPREENSÃO
DO MUNDO
A construção do
espaço: os
territórios e os
lugares (o tempo
da sociedade e o
tempo da
natureza)
. o trabalho e a apropriação
da natureza na construção
do território;
. as mudanças nas relações
sociais do trabalho e a
separação entre o campo e
a cidade;
. as diferentes técnicas e
costumes e a diversidade de
paisagens entre o campo e
a cidade;
. o ambiente natural e as
diferentes formas de
construção das moradias no
mundo: do iglu às tendas
dos desertos;
. o ambiente natural e a
diversidade das paisagens
agrárias no mundo: da
coleta nas florestas à
irrigação nas áreas
semiáridas e desérticas;
. os ritmos da natureza no
processo de produção das
condições materiais e da
organização social de vida
no campo e na cidade;
. o ritmo de trabalho:
aceleração e desaceleração
na produção do campo e da
cidade.
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A conquista do
lugar como
conquista da
cidadania
. o lugar como experiência
vivida dos homens com o
território e paisagens;
. o imaginário e as
representações da vida
cotidiana: o significado das
coisas e dos lugares unindo
e separando pessoas;
. o lugar como espaço
vivido mediato e imediato
dos homens na interação
com o mundo;
. o mundo como uma
pluralidade de lugares
interagindo entre si;
. a cidadania como a
consciência de pertencer e
interagir e sentir-se
integrado com pessoas e os
lugares;
. o drama do imigrante na
ruptura com o lugar de
origem tanto do campo
como da cidade;
. a segregação
socioeconômica e cultural
como fator de exclusão
social e estímulo à
criminalidade nas cidades.
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O ESTUDO DA
NATUREZA E
SUA
IMPORTÂNCIA
PARA O
HOMEM
Os fenômenos
naturais, sua
regularidade e
possibilidade de
previsão pelo
homem
. planeta Terra: a nave em
que viajamos;
. como o relevo se forma: os
diferentes tipos de relevo;
. litosfera e movimentos
tectônicos: existem
terremotos no Brasil?;
. as formas de relevo, os
solos e sua ocupação:
urbana e rural;
. erosão e desertificação:
morte dos solos;
. as águas e o clima;
. águas e terras no Brasil;
. circulação atmosférica e
estações do ano;
. clima do Brasil: como os
diferentes tipos de clima
afetam as diferentes
regiões;
. o clima no cotidiano das
pessoas;
. as cidades e as alterações
climáticas;
. as florestas e sua interação
com o clima;
. previsão do tempo e clima;
. como conhecer a
vegetação brasileira: a
megadiversidade do mundo
tropical;
. florestas tropicais: como
funcionam essas centrais
energéticas;
. cerrados e interações com
o solos e o relevo;
. estudando e
compreendendo as
caatingas;
. saindo do mundo tropical
para entender o pampa;
. pinheiros do Brasil: as
florestas de araucária.
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A natureza e as
questões
socioambientais
. a floresta tropical vai
acabar?;
. as reservas extrativistas e o
desenvolvimento
sustentável;
. o lixo nas cidades: do
consumismo à poluição;
. poluição ambiental e modo
de vida urbano;
. poluição ambiental e modo
de produzir no campo;
. industrialização,
degradação do ambiente e
modo de vida;
. problemas ambientais que
atingem todo o planeta (o
efeito estufa, a destruição
da camada de ozônio e a
chuva ácida);
. plantar sem degradar:
outras formas de produzir
no campo;
. modo de vida urbano e
qualidade de vida;
. áreas protegidas e espaços
livres urbanos;
. o turismo e a degradação
do ambiente;
. conservação ambiental,
cidadania e pluralidade
cultural;
. conhecer a natureza e
respeitar suas leis próprias:
produzir sem degradar;
. pluralidade cultural e
etnociência;
. urbanização e degradação
ambiental.
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O CAMPO E A
CIDADE COMO
FORMAÇÕES
SOCIOESPACIAIS
O espaço como
acumulação de
tempos desiguais
. os monumentos, os
museus como referência
histórica na leitura e
compreensão das
transformações do espaço;
. a diversidade dos
conjuntos arquitetônicos
urbanos de monumentos
históricos diferentes e os
traçados das vias públicas
como referências de
compreensão de evolução
das formas e estruturas
urbanas;
. as cidades históricas
barrocas brasileiras:
paisagens preservadas e
importância para a indústria
do turismo;
. antiquários e feiras de
artesanato: o consumo do
tempo como mercadoria;
. as feiras livres como
sobrevivência do passado
na moderna urbanização;
. as festas e as tradições do
folclore brasileiro como
resistências e permanências
dos traços de nossas
identidades regionais;
. os engenhos e as usinas de
açúcar no Nordeste:
sobrevivência e superação
de um momento histórico;
. o latifúndio e o trabalho
tradicional como
sobrevivências do passado
nos tempos atuais;
. o arado e o trator nas
paisagens agrárias
brasileiras;
. a pequena propriedade de
subsistência, as relações de
parceria no campo e sua
coexistência com a
monocultura empresarial;
. as relações de trabalho
cooperativo e o extrativismo
como forma de
permanência e resistência às
relações competitivas do
trabalho assalariado.
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A modernização
capitalista e a
redefinição nas
relações entre o
campo e a cidade
. a entrada das
multinacionais no campo e
seu papel nas exportações
brasileiras;
. os problemas enfrentados
atualmente pelos pequenos
e médios produtores do
campo;
. o abastecimento das
cidades e o papel do
pequeno e médio produtor
do campo;
. a mecanização, a
automação e a
concentração de
propriedade e o problema
dos sem-terra;
. os sem-teto nas
metrópoles e suas relações
com processo de
modernização capitalista;
. as metrópoles como centro
de gestão das inovações
tecnológicas e gestão do
capital e suas repercussões
no campo;
. modernização e
desemprego no campo e na
cidade;.
. a importância da reforma
agrária como solução para
os grandes problemas
sociais do campo e da
cidade no Brasil.
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O papel do
Estado e das
classes sociais e a
sociedade
urbano-industrial
brasileira
. a transição da hegemonia
das oligarquias agrárias
para a burguesia industrial-
financeira na organização
política do Estado brasileiro;
. o deslocamento do pólo
do poder econômico da
região Nordeste para o
Sudeste brasileiro;
. o crescimento do
proletariado no campo e na
cidade e sua presença na
organização política do
Estado brasileiro;
. o .milagre brasileiro. e a
posição do Brasil no
conjunto das relações
políticas internacionais;
. as políticas neoliberais, o
Estado brasileiro e as atuais
perspectivas de
desenvolvimento para a
sociedade brasileira.
A cultura e o
consumo: uma
nova interação
entre o campo e
a cidade
. os hábitos de consumo das
pessoas do campo antes e
após o surto de
industrialização dos anos
50;
. a influência das formas de
viver na cidade e no campo
e a expansão dos meios de
comunicação e dos
transportes;
. a sociabilidade entre as
pessoas e os grupos sociais
no campo e na cidade;
. a mídia, o imaginário social
e os movimentos
migratórios do campo para
a cidade;
. as relações de troca
monetária do homem no
campo e as possibilidades
de sua inserção no mundo
urbano.
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A CARTOGRAFIA
COMO
INSTRUMENTO
NA
APROXIMAÇÃO
DOS LUGARES E
DO MUNDO
Da alfabetização
cartográfica à
leitura crítica e
mapeamento
consciente
. os conceitos de escala e
suas diferenciações e
importância para as análises
espaciais nos estudos de
Geografia;
. pontos cardeais,utilidades
práticas e referenciais nos
mapas;
. orientação e medição
cartográfica;
. coordenadas geográficas;
. uso de cartas para orientar
trajetos no cotidiano;
. localização e representação
em mapas, maquetes e
croquis;
. localização e representação
das posições na sala de
aula, em casa, no bairro e na
cidade;
. leitura, criação e
organização de legendas;
. análise de mapas temáticos
da cidade, do estado e do
Brasil;
. estudo com base em
plantas e cartas temáticas
simples;
. a utilização de diferentes
tipos de mapas: mapas de
itinerário, turísticos,
climáticos, relevo, vegetação
etc.;
. confecção pelos alunos de
croquis cartográficos
elementares para analisar
informações e estabelecer
correlação entre fatos.
A consulta ao sumário do livro didático, embora proporcione uma leitura rasa do conteúdo da obra, possibilita depreender que não se trata de
uma coleção de forte diálogo com as indicações temáticas dos PCN. Isso seguramente se repetiria se analisássemos todo o catálogo das
principais editoras de didáticos instaladas no Brasil, pois não se pode encontrar neles, atualmente, uma obra de geografia para esse segmento
que não traga a divisão regional do Brasil no volume 7 (as macrorregiões do IBGE ou os chamados complexos regionais) e os conjuntos regionais
mundiais (em geral, por continente) nos volumes 8 e 9. Venceu a tradição?
Há quem argumente que os livros didáticos impõem essa abordagem típica da monografia regional. O fato é que as coleções mais vendidas no
mercado editorial correspondem àquelas que apresentam grande fragmentação na abordagem geográfica. As editoras, empresas que adotam
práticas bastante monopolistas, investem no que, desde seu ponto de vista, é um produto rentável: na geografia das séries finais do ensino
fundamental, só é rentável hoje produzir obras com essas características. Não há sequer espaço para as chamadas obras de nicho, que são, em
geral, adotadas por escolas com projeto político-pedagógico ousado – as experiências de construção de coleções chamadas de temáticas, em
que a abordagem regional ocupava um espaço diminuto, foram um grande fracasso comercial; a última dessas obras foi distratada há mais de 5
anos.
Por que professores escolhem livros pautados em monografias regionais e na geografia da natureza? Há certamente uma infinidade de
possibilidades de se responder essa questão. Seria, no entanto, muito interessante considerarmos que, para transpor ou mediar o processo de
ensino e de aprendizagem, o professor precisa sentir-se seguro. Pode ser, então, que prefira utilizar essas abordagens estanques sobre os
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fenômenos geográficos porque elas lhe são familiares e porque elas possibilitam repetir os discursos e os planos de aula todos os anos, já que
desconsideram as dinâmicas espaciais. Os processos naturais são apresentados sem contextos sociais e, a despeito dos numerosos debates
geográficos a respeito dessas abordagens, ainda há grande desconhecimento da perspectiva geográfica – boa parte dos professores de
geografia das séries finais do ensino fundamental acredita que se trata de uma abordagem geográfica, a não ser nas poucas situações em que
ocorrem conflitos com o programa de ciências naturais.
 
2.2. OUTROS RECURSOS EDUCACIONAIS: JORNAIS, REVISTAS E ESTUDOS DO
MEIO
Além do livro didático, os discursos também chegam aos alunos por meio de atividades que se apoiam em outros gêneros textuais, como jornais
e romances, por exemplo, assim como por meio de visitas e estudos do meio.
Os jornais trazem matérias que são reveladoras de determinadas práticas sociais e políticas, portadoras de ideologias; é interessante trazer para a
sala de aula textos jornalísticos que dialoguem com os conteúdos geográficos abordados no plano de aula, pois, assim, é possível trabalhar
dissonâncias entre o saber acadêmico e aquele que circula socialmente de forma mais ampla.
Imprensa e ideologia
Em um congresso de geografia realizado recentemente, foram bastante discutidas pelos participantes as abordagens jornalísticas sobre o
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Diversos jornais, que conhecidamente se opõem à ação do movimento, utilizam o verbo
“invadir” para referir-se às práticas do movimento ao ingressar em uma propriedade com o objetivo de pressionar pela reforma agrária. Os
meios de comunicação que utilizam o verbo “ocupar” para a mesma prática revelam outro olhar sobre o movimento.
Invadir corresponde a assaltar, enquanto ocupar pressupõe entrar em algo vazio ou reivindicar. Quem seriam os assaltantes? De acordo com
grande parte dos meios de comunicação, são os filhos e netos de camponeses, indígenas e quilombolas expulsos do campo, que procuram
onde plantar e morar.
A mediação mais pertinente, ao levar para a sala de aula textos jornalísticos, consiste em analisar diversas matérias sobre um mesmo assunto em
sala de aula e discutir semelhanças e diferenças na abordagem. Como essas fontes de informação formam opiniões, os professores devem estar
atentos aos discursos explícitos ou implícitos que são levados para a sala de aula.
O mesmo ocorre quando são discutidos conflitos mundiais, como os do Oriente Médio; esses jornais transmitem direta e indiretamente valores
dos grupso que representam, por meio do vocabulário escolhido e de imagens e símbolos que apresentam.
As imagens transmitem mensagens aos estudantes; o mesmo ocorre com esculturas e edificações. Nos estudos em torno da escola, nas visitas às
áreas centrais e a outros lugares, os educadores explicam seus percursos, com base nos discursos geográficos que construíram. O centro da
cidade, com seus prédios erigidos em diferentes épocas, expressa as marcas de diferentes desenvolvimentos. Os símbolos que a ideologia
patrimonial cria, em diversos pontos de visitação pública, também expressam visões de mundo, pois estátuas e placas de bronze homenageiam
diferentes personalidades. 
Última atualização: quarta-feira, 10 ago. 2016, 22:27

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