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1 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, APRENDIZAGEM E COMPORTAMENTO 1 Sumário Sumário .................................................................................................................... 1 NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 2 Introdução .................................................................................................................. 3 A criança – um ser em desenvolvimento ................................................................ 4 Os ambientes de aprendizagem ............................................................................... 7 Espaço x ambiente ................................................................................................................ 10 Dimensões do ambiente de aprendizagem .......................................................................... 10 Dimensão Física ......................................................................................................... 10 Dimensão Funcional ................................................................................................... 10 Dimensão Temporal ................................................................................................... 11 Dimensão Relacional .................................................................................................. 11 Ambiente de aprendizagem x psicomotricidade .................................................................. 11 Desenvolvimento cognitivo .................................................................................... 13 Os estudos de Jean Piaget (1896-1980) ................................................................................ 14 Teoria cognitiva de Piaget .......................................................................................... 15 Assimilação, Acomodação e Adaptação .................................................................... 16 As fases do desenvolvimento cognitivo ..................................................................... 18 O interacionismo de Vygotsky (1896-1934) ......................................................................... 21 As zonas de desenvolvimento Potencial, Real e Proximal ......................................... 22 Desenvolvimento sócio cognitivo de Wallon (1879-1962) ................................................... 24 Referências .............................................................................................................. 28 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido 3 Introdução Uma criança é um corpo em movimento que possui livre expressão e que precisa ser conduzida da melhor forma possível nesse processo de desenvolvimento, crescimento e interação. Eis que novamente nos deparamos com o aspecto “movimento” e que no caso do ser humano é a parte mais ampla e significativa do seu comportamento. O movimento envolve músculos, emoção e nervos, os quais são formados por um sistema de sinalizações que lhes permitem atuar de forma coordenada (BARROS; NEDIALCOVA, 1999). Movimento, desenvolvimento, aprendizagem e comportamento fazem parte de um sistema que usando uma metáfora urbana, seria um sistema de vias de trânsito ou mobilidade, onde encontraríamos avenidas, ruas, rotatórias, enfim, um sistema emaranhado que todos, pedestres e veículos devem respeitar para não se transformar num caos. Pedestre e veículos precisam das vias, todos se utilizam dos seus benefícios. Caso contrário, teríamos acidentes, retardos no trânsito, mortes... O desenvolvimento cognitivo é assim, um processo pelo qual os indivíduos adquirem conhecimento sobre o mundo ao longo da vida e o utilizam para seu crescimento, seu bem-estar, para a interação com as pessoas. Figura 1 - Desenvolvimento cognitivo 4 Falhas ou atrasos na aquisição desse conhecimento precisam ser identificados, se possível precocemente, observados, remediados ou corrigidos. Nosso objetivo é lançar mais reflexões do que soluções para questões que envolvem o desenvolvimento cognitivo e, consequentemente, a aprendizagem. Para tanto iniciaremos o caderno falando da criança enquanto ser humano em desenvolvimento, na sequência dos ambientes de aprendizagem e num terceiro bloco, o desenvolvimento cognitivo que passa evidentemente pelos estudos de Piaget, Wallon e Vygotsky. A criança – um ser em desenvolvimento Segundo consta no documento “Política Nacional de Educação Infantil” (BRASIL, 1994), a criança é um sujeito social e histórico que está inserido em uma sociedade na qual partilha de uma determinada cultura. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também contribui com ele. Figura 2 - Sistema interativo do ser humano A interação social da qual esse ser humano participa é um processo que se dá a partir e por meio de indivíduos com modos histórico e culturalmente determinados de agir, pensar e sentir, sendo inviável dissociar as dimensões cognitivas e afetivas 5 dessas interações e os planos psíquico e fisiológico do desenvolvimento decorrente (VYGOTSKI, 1986 e 1989). Nessa perspectiva, a interação social torna-se o espaço de constituição e desenvolvimento da consciência do ser humano desde que nasce (VYGOTSKI, 1991). A criança não é um adulto em miniatura. Ela é um ser único, completo e, ao mesmo tempo, em crescimento e desenvolvimento: É um ser humano completo porque tem características necessárias para ser considerado como tal: constituição física, formas de agir, pensar e sentir. É um ser em crescimento porque seu corpo está continuamente aumentando em peso e altura. É um ser em desenvolvimento porque essas características estão em permanente transformação. As mudanças que vão acontecendo são qualitativas e quantitativas - o recém- nascido é diferente do bebê que engatinha, que é diferente daquele que já anda, já fala, já tirou as fraldas. O crescimento e o desenvolvimento da criança pequena ocorrem tanto no plano físico quanto no psicológico, pois um depende do outro (BRASIL, 1994). No que diz respeito às interações sociais, ressalta-se que a diversidade de parceiros e experiências potencializa o desenvolvimento infantil. Crianças expostas a uma gama ampliada de possibilidades interativas têm seu universo pessoal de significados ampliado, desde que se encontrem em contextos coletivos de qualidade. Essa afirmativa é considerada válida para todas as crianças, independentemente de sua origem social, pertinência étnico-racial, credo político ou religioso, desde que nascem. Pesquisas realizadas desde a década de 1970 enfatizam que todas as crianças podem aprender, mas não sob qualquer condição. Antes mesmode se expressarem por meio da linguagem verbal, bebês e crianças são capazes de interagir a partir de outras linguagens (corporal, gestual, musical, plástica, faz-de-conta, entre outras) desde que acompanhadas por parceiros mais experientes. 6 Eis algumas formas de intervenção que contribuem para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças: apoiar a organização em pequenos grupos, estimulando as trocas entre os parceiros; incentivar a brincadeira; dar-lhes tempo para desenvolver temas de trabalho a partir de propostas prévias; oferecer diferentes tipos de materiais em função dos objetivos que se tem em mente; organizar o tempo e o espaço de modo flexível. De acordo com Machado (1998) serão as iniciativas dos adultos que favorecerão a comunicação das crianças pequenas e o interesse de umas pelas outras, o que faz com que aprendam a perceber-se e a levar em conta os pontos de vista dos outros, permitindo a circulação das ideias, a complementação ou a resistência às iniciativas dos parceiros. A oposição entre parceiros, por exemplo, incita a própria argumentação, a objetivação do pensamento e o recuo reflexivo das crianças. Por sua vez, as crianças encontram-se em uma fase de vida em que dependem intensamente do adulto para sua sobrevivência. Elas precisam, portanto, ser cuidadas e educadas, o que implica: ser auxiliadas nas atividades que não puderem realizar sozinhas; ser atendidas em suas necessidades básicas físicas e psicológicas; ter atenção especial por parte do adulto em momentos peculiares de sua vida. Além disso, para que sua sobrevivência esteja garantida e seu crescimento e desenvolvimento sejam favorecidos, para que o cuidar/educar sejam efetivados, é necessário que sejam oferecidas às crianças dessa faixa etária condições de usufruírem plenamente suas possibilidades de apropriação e de produção de significados no mundo da natureza e da cultura. As crianças precisam ser apoiadas em suas iniciativas espontâneas e incentivadas a: 7 brincar; movimentar-se em espaços amplos e ao ar livre; expressar sentimentos e pensamentos; desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de expressão; ampliar permanentemente conhecimentos a respeito do mundo da natureza e da cultura apoiadas por estratégias pedagógicas apropriadas; diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação em creches, pré- escolas e centros de Educação Infantil (MACHADO, 2001). Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem (ANDRADE, 1997). Os ambientes de aprendizagem Sendo a criança um ser em desenvolvimento que necessita de estímulos favoráveis para esse pleno desenvolvimento, precisamos falar dos ambientes de aprendizagem, concordam? Todo ambiente, sem exceção, é um espaço organizado segundo certa concepção educacional, que espera determinados resultados. Há sempre um arranjo ambiental, mesmo que isso se traduza na existência de uma sala com pouco mobiliário e poucos objetos e brinquedos ou uma sala atulhada de berços dispostos lado a lado. No caso das creches ou escolas de educação infantil, o ambiente deveria ser considerado como um campo amplo de vivências e explorações, zona de múltiplos recursos e possibilidades para a criança reconhecer objetos, experiências, significados de palavras e expressões, além de ampliar o mundo de sensações e percepções (OLIVEIRA, 2010). Esse ambiente funciona como um recurso de desenvolvimento e, para isso, ele deve ser planejado pelo educador, parceiro privilegiado de que a criança dispõe. 8 A criança, desde cedo, reconhece o espaço físico ou atribui-lhe significações, avaliando intenções e valores que pensam ser-lhe próprios. Daí a importância de organizar os múltiplos espaços de modo que estimulem a exploração de interesses, rompendo com a mesmice e o imobilismo de certas propostas de trabalho de muitas instituições de educação infantil. O que importa verificar não são as qualidades ou os aspectos do ambiente, mas como eles são refratados pelo prisma da experiência emocional da criança e atuam como recursos que ela emprega para agir, explorar, significar e desenvolver- se (OLIVEIRA, 2010). Como diz Zabalza (1998), ao deixar à educação infantil a criança deve possuir um repertório de experiências e destrezas mais amplo, rico e eficaz, que expresse o trabalho educativo realizado durante os primeiros anos de escolaridade. Não se trata apenas da criança estar feliz e esteja sendo cuidada durante esses anos. Trata-se de fazer justiça ao seu potencial de desenvolvimento durante esses anos que são cruciais. Nessa perspectiva, uma proposta para crianças pequenas pode e deve possibilitar o avanço, não no sentido de promoção, mas o avanço de vivência e experiência, ampliando o repertório no âmbito do brincar, da socialização, da independência, da cultura e assim por diante. 9 Figura 3 - Ambientes de aprendizagem Froebel1 e Montessori2 foram alguns dos estudiosos que valorizaram o contato da criança com o ambiente. A proposta pedagógica de Montessori, por exemplo, estruturava-se em unir ambiente e material, pelos quais a criança iria se manifestar. 1 Friedrich Wilhelm August Fröbel (1782-1852), pedagogo e pedagogista alemão, fundador do primeiro jardim de infância. Esse nome reflete um princípio que Froebel compartilhava com outros pensadores de seu tempo: o de que a criança é como uma planta em sua fase de formação, exigindo cuidados periódicos para que cresça de maneira saudável. 2 Maria Tecla Artemisia Montessori (1870-1952), educadora, médica e pedagoga italiana. O método Montessori parte do concreto rumo ao abstrato. Baseia-se na observação de que meninos e meninas aprendem melhor pela experiência direta de procura e descoberta. Para tornar esse processo o mais rico possível, a educadora italiana desenvolveu os materiais didáticos que constituem um dos aspectos mais conhecidos de seu trabalho. São objetos simples, mas muito atraentes, e projetados para provocar o raciocínio. Há materiais pensados para auxiliar todo tipo de aprendizado, do sistema decimal à estrutura da linguagem. 10 Esse ambiente adequado continha mobiliário de acordo com o tamanho das crianças, e elas podiam trocá-los de lugar, permitindo autonomia de movimentar-se pelo espaço e modificá-lo. Montessori compreendia que, ao realizar uma atividade do seu interesse, a criança não se cansava do trabalho, e por meio dessa exploração dos objetos ela se desenvolvia dentro de um ambiente preparado para ela. Os materiais utilizados eram construídos com a finalidade de desenvolver as noções espaciais e os sentidos (HORN, 2004). Espaço x ambiente Espaço aqui é entendido como espaço físico: “[...] locais para atividade caracterizados por objetos, pelos materiais didáticos, e pela decoração” (FORNERO, 1998, p. 232), relacionado às questões objetivas (HORN, 2004). Já o termo ambiente envolve o conjunto do espaço físico e as relações que nele se estabelecem, “[...] palavra que vem do latim e significa “ao que cerca ou envolve” (FORNERO, 1998, p. 233), relacionado às questões subjetivas (HORN, 2004). Dimensões do ambiente de aprendizagem No âmbito da escola, o Ambiente de Aprendizagem configura-se por meio de quatro dimensões (física, funcional, temporal e relacional), as quais são bem definidas, mas inter-relacionadas (FORNERO, 1998). Dimensão Física Compreende os objetos e materiais que compõem o ambiente. É o espaço físico, como o mobiliário, elementos decorativos, etc. Dimensão Funcional É caracterizada pela forma de utilização dos espaços. Um tapete pode servir tanto para um encontroe comunicação quanto um canto de construções, por exemplo. 11 Dessa maneira podemos falar em canto das construções, do jogo simbólico, da música, da biblioteca, etc. Dimensão Temporal Refere-se à organização do tempo, portanto ao período em que serão utilizados os diferentes espaços. O tempo das atividades está necessariamente ligado ao espaço onde se realiza cada uma delas. Dimensão Relacional Refere-se às diferentes relações que se estabelecem dentro da sala de aula, como os modos de se ter acesso aos espaços, às normas e a forma como se estabelecem os grupos para a realização das atividades (grandes ou pequenos grupos, duplas, individual). A interação entre essas dimensões permite que o espaço escolar se torne um elemento do currículo, pois ele pode favorecer ou limitar as interações das crianças de acordo com a sua organização espacial; com o tempo que as crianças passam nesse espaço; com a decoração e com as relações que nele serão estabelecidas, e com a função que ele exerce dentro da escola (FORNERO, 1998). Ambiente de aprendizagem x psicomotricidade E quais, então, são as relações que podemos fazer com a Psicomotricidade? Fonseca (1996) destaca o caráter preventivo da psicomotricidade, afirmando ser a exploração do corpo, em termos de seus potenciais uma “propedêutica das aprendizagens escolares”, especialmente, a alfabetização. Para o autor as atividades desenvolvidas na escola como a escrita, a leitura, o ditado, a redação, a cópia, o cálculo, o grafismo, enfim todos movimentos, estão ligados à evolução das possibilidades motoras e as dificuldades escolares estão, portanto, diretamente relacionadas aos aspectos psicomotores. Todavia, a Psicomotricidade, não pode ser analisada fora do comportamento e da aprendizagem, e este, para além de ser uma relação inteligível entre estímulos e respostas, é antes 12 de mais nada, uma sequência de ações, ou seja, uma sequência espaço-temporal intencional. Se tomarmos a definição de Hutardo3 (1991, p. 91) para Psicomotricidade, temos como justificar a ação do professor que, ao apropriar-se dos recursos psicomotores, poderá promover práticas psicomotoras com caráter preventivo. Essa ação difere da reeducação, prática que normalmente ocorre no campo da clínica psicomotora. A intervenção preventiva acontece na medida em que dá condições à criança de se desenvolver melhor em seu ambiente. As práticas psicomotoras realizadas como atividades regulares no cotidiano da instituição de educação infantil favorecem o desenvolvimento psicomotor da criança, tendo nesse caso um caráter preventivo (IMAI, 2005). Um exemplo de prática psicomotora preventiva pode ser visto quando oferecemos as condições favoráveis para o desenvolvimento psicomotor de uma criança ameaçada pela vida sedentária que leva em seu lar. Esse fato tem se tornado cada vez mais comum nos grandes centros. Essa situação pode ser justificada pelos avanços tecnológicos em nossa sociedade que oferecem muitas vezes diversão e recreação com o mínimo de esforço físico. Para muitas crianças, o espaço escolar é, talvez, o único lugar no qual irão passar várias horas de seu dia brincando, com segurança, em grandes áreas, tendo contato com areia, parque e interagindo com outras crianças. Nesses contextos educativos, elas terão, muitas vezes, as condições favoráveis para o seu desenvolvimento afetivo, social, cognitivo, psicológico, motor e, em especial, no campo psicomotor (IMAI, 2005). Nessa direção, é fácil perceber que a educação infantil necessita de professores com uma formação ampla em diversas áreas do conhecimento: cognitiva, psicológica, motora, neurológica e psicomotora, para atender às necessidades de sua clientela. Esse profissional tem pela frente um grande desafio, superar as barreiras impostas pelo despreparo em lidar com situações que exigem conhecimentos em áreas específicas, que outrora não se acreditava serem de seu domínio. A ação 3 Ciência da educação que enfoca a unidade indivisível do homem (constituída pelo soma e psique), educando o movimento ao mesmo tempo em que põe em jogo as funções intelectuais. 13 educativa preventiva pode contribuir para diminuir ou mesmo solucionar possíveis dificuldades durante o processo de desenvolvimento psicomotor, impedindo que essas dificuldades possam comprometer as futuras aprendizagens escolares (IMAI, 2005). Enfim, o conhecimento aliado à prática e experiência do profissional, certamente conduzirá a mudanças significativas em sua prática psicomotora com caráter preventivo. Anote aí: Ausência de espaços, ambientes de aprendizagem pobres, privação de movimento são fatores que não contribuem para um desenvolvimento cognitivo efetivo. O desenvolvimento resulta de combinações entre aquilo que o organismo traz e as circunstâncias oferecidas pelo meio [...] e que os esquemas de assimilação vão se modificando progressivamente, considerando os estágios de desenvolvimento (PIAGET, 1974). Desenvolvimento cognitivo Como já citamos, o desenvolvimento cognitivo pode ser entendido como um processo pelo qual os indivíduos adquirem conhecimento sobre o mundo ao longo da vida, mas vai muito além de entrar em contato com uma informação nova e armazená- la (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2018). Contrapondo-se ao behaviorismo que centra a sua atenção no comportamento humano, o cognitivismo propõe analisar a mente, o ato de conhecer; como o homem desenvolve seu conhecimento acerca do mundo, analisando os aspectos que intervém no processo “estímulo/resposta”. Seguindo esse modo de compreensão Moreira (1999) ratifica que a psicologia cognitiva preocupa-se com o processo de compreensão, transformação, armazenamento e utilização das informações, envolvida no plano da cognição. A teoria cognitiva estuda a cognição, os processos mentais que estão por detrás do comportamento, ou seja, é a faculdade ou processo de adquirir conhecimento. 14 A abordagem cognitivista, apesar de ter surgido quase no mesmo período que o behaviorismo, teve grande efervescência nos anos de 1990, resgatando estudos teóricos da Psicologia Cognitiva como aqueles desenvolvidos por Piaget e Vygotsky. Estes teóricos não desenvolveram propriamente uma teoria da aprendizagem, mas seus estudos serviram de pressuposto para teóricos do campo educacional, que se apropriando desse referencial elaboraram e desenvolveram a teoria da aprendizagem denominada de Construtivismo (SANTOS, 2013). Vamos começar nossos estudos com Jean Piaget, mas lembramos que fazem parte dessa turma da Teoria Cognitiva, Lev S. Vygotsky e Henri Wallon. Os estudos de Jean Piaget (1896-1980) O site Portal Educação oferece uma biografia interessante sobre Jean Piaget, da qual extraímos os pontos que interessam aos nossos estudos sobre o desenvolvimento cognitivo. Psicólogo e filósofo suíço, ficou conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da Inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia. Interessado por História Natural desde a infância, estudo biologia e Filosofia, se tornando doutor em Biologia em 1918. Formado aos 22 anos foi para Zurich, onde trabalhou como psicólogo experimental. Lá ele frequentou aulas lecionadas por Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clínica. Essas experiências influenciaram-no em seu trabalho. Ele passou a combinar a psicologia experimental, que é um estudo formal e sistemático, com métodos informais de psicologia: entrevistas, conversas e análises de pacientes. Em 1919, trabalhou também com Alfred Binet, psicólogo infantil que desenvolveu testes de inteligência, padronizados para crianças. Piaget notou que crianças francesasda mesma faixa etária cometiam erros semelhantes nesses testes e concluiu que o pensamento lógico se desenvolve gradualmente. 15 Nesse mesmo ano Piaget iniciou seus estudos experimentais sobre a mente humana e começou a pesquisar também sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de Biologia levou-o a enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa. A partir de observações e entrevistas com crianças começou a estabelecer relações entre o sujeito que conhece e o mundo que tenta conhecer e passou a investigar a natureza e a gênese do conhecimento nos processos e estágios de desenvolvimento. Casou-se em 1923 e teve três filhas. Delas vieram, a partir de estudos e observações que realizou ao lado de sua esposa, a maior parte de suas teorias. Enquanto prosseguia com suas pesquisas e publicações de trabalhos, Piaget lecionou em diversas universidades europeias. Registros revelam que ele foi o único suíço a ser convidado para lecionar na Universidade de Sorbonne (Paris, França), onde permaneceu de 1952 a 1963. Até a data de seu falecimento, Piaget fundou e dirigiu o Centro Internacional para Epistemologia Genética, em Genebra (Suiça). Ao longo de sua brilhante carreira, Piaget escreveu mais de 75 livros e centenas de trabalhos científicos. Piaget foi um dos mais importantes psicólogos e pesquisadores do século XX. Para ele, a aprendizagem só acontece com a ordem e desordem daquilo que já existe dentro de cada um (https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/psicologia/jean-piaget- biografia/53974). Teoria cognitiva de Piaget Feita está breve síntese de sua biografia é possível deduzir que Psicologia do desenvolvimento, teoria cognitiva e a epistemologia genética4 foram seus campos de estudo e a essência do seu trabalho ensina que, ao observarmos cuidadosamente a 4 Estudo da gênese do conhecimento 16 maneira com que o conhecimento se desenvolve nas crianças, podemos entender melhor a natureza do conhecimento humano. Apoiado na Psicologia, Piaget escolheu o método clínico, caracterizado pela proposição de situações problemas aos sujeitos pesquisados. Desta forma, ele estudou a evolução do pensamento e da moralidade, observando o modo como crianças e adolescentes, em diferentes idades, solucionavam diversos testes, experimentos e exercícios. Constatou, então, que a criança e o adulto embora possuam níveis diferentes na capacidade de conhecer, utilizam os mesmos mecanismos cognitivos. Assim, quando necessitamos conhecer algo, seja uma informação, uma ideia, uma troca afetiva, uma forma de executar uma tarefa, uma solução de um problema matemático ou pessoal etc., manifestamos um desequilíbrio no nosso organismo. Então, mobilizamos em nossa mente mecanismos que vão nos permitir restabelecer o equilíbrio, ou seja, agir para atender aquela necessidade, para buscar conhecer o que queremos. Nesse processo de permanente reajustamento, o sujeito aciona os mecanismos de: assimilação e acomodação. Assimilação, Acomodação e Adaptação Na assimilação, o sujeito entra em contato com a realidade externa, trazendo para as estruturas mentais que já possui, os dados/informações sobre aquilo que está desejando conhecer. Por exemplo, uma criança de 8 anos se depara com um livro novo. Ao ler o texto, ela traz para as suas estruturas de pensamento aquelas informações que ali estão, ou seja, palavras, frases e gravuras. Ela está assimilando material com o qual entrou em contato. Mas, nesse processo de leitura, ela vai confrontando as novas informações e descobertas encontradas no livro, com aquilo que ela já sabe, ou seja, com os conhecimentos que já possui. Nesse confronto, ela entra em contato com informações desconhecidas, com conhecimentos para os quais o seu pensamento ainda não tinha esquemas adequados de compreensão. Por exemplo, a criança se depara com 17 palavras de significado desconhecido, com sinais que representam interrogação, com linguagens metafóricas etc. Diante desses desafios, entra em ação o mecanismo de acomodação. Agora, a criança precisará modificar suas estruturas de pensamento, buscar informações que já possui, duvidar, comparar, analisar afim de acomodar o novo conhecimento e, por conseguinte, alcançar um equilíbrio nesse aspecto. Essa criança, então, avançou em seu conhecimento construindo novos esquemas, que lhe permitirão novas aquisições cada vez mais complexas. Quanto mais conhecer, mais poderá avançar em seu desenvolvimento cognitivo. Esse processo de assimilação leva a ação e o pensamento a se acomodarem a estes, ou seja, o sujeito é impelido a transformar suas estruturas cognitivas prévias, com o intuito de ajudar-se a cada nova experiência. A esses mecanismos, Piaget denominou de invariantes funcionais, porque sempre estarão funcionando da mesma forma seja na criança, no adolescente ou no adulto. Ao equilíbrio destas assimilações e acomodações Piaget denominou adaptação, pois o desenvolvimento mental se dará no sentido de promover uma adaptação mais precisa à realidade. Nessa dinâmica da equilibração, é preciso lembrar que existem não só as funções constantes, mas também as estruturas variáveis que são as formas de organização de atividade mental, tanto no que se refere ao aspecto motor ou intelectual de um lado, quanto ao aspecto afetivo em suas dimensões social e individual. Estas estruturas se constroem através de diferentes estágios do desenvolvimento cognitivo. Cada estágio é caracterizado por estruturas originais que o distingue dos anteriores. A essência dessas estruturas vai se mantendo nos estágios seguintes. Entender as características centrais presentes em cada um desses estágios nos permite compreender melhor a dinâmica do desenvolvimento postulado por Piaget (XAVIER; NUNES, 2013). 18 Anote aí: O objetivo central da obra de Piaget foi investigar como o ser humano constrói o conhecimento, isto é, como o sujeito passa de um estado de menos conhecimento para um estado de maior conhecimento. As fases do desenvolvimento cognitivo a)Estágio sensório-motor: Esse primeiro estágio envolve aumentos no número e na complexidade de capacidades sensoriais (input) e motoras (output) durante a infância – aproximadamente do nascimento a cerca de 18-24 meses de idade -. Segundo Piaget, as primeiras adaptações do bebê são reflexivas. Gradualmente, os bebês obtêm controle consciente e intencional sobre suas ações motoras. A princípio, eles agem assim para manter ou repetir sensações interessantes. Mais tarde, entretanto, exploram ativamente seu mundo físico e buscam com afinco novas e interessantes sensações. Ao longo das primeiras fases do desenvolvimento cognitivo sensório-motor, a cognição infantil parece focalizar-se apenas no que eles podem perceber imediatamente, pelos seus sentidos. Os bebês nada concebem que não lhes seja imediatamente perceptível. De acordo com Piaget, eles não têm um senso de permanência do objeto, pela qual os objetos continuam a existir, mesmo quando imperceptível aos bebês. Por exemplo, antes de aproximadamente 9 meses de idade, os que observam um objeto quando está sendo escondido de sua vista não o procurarão, uma vez escondido. Se um bebê de 4 meses de idade estivesse observando você esconder um chocalho debaixo de um cobertor, esse bebê não tentaria encontrar o chocalho sob o cobertor, enquanto um de 9 meses tentaria (TEIXEIRA, 2015). No fim do período sensório-motor (18-24 meses de idade), as crianças começaram a mostrar sinais de pensamento representativo representações internas de estímulos externos. Nessa transição para o estágio pré-operatório, a criança começa a ser capaz de pensar sobre pessoas e objetos que não são necessariamente perceptíveis naquele momento.19 Figura 4 - Estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget b)Estágio pré-operatório: No estágio pré-operatório, da idade aproximada de 1 1/2 ou 2 anos a cerca de 6 ou 7 anos, a criança começa a desenvolver ativamente as representações mentais internas, que se iniciaram no fim do estágio sensório-motor. Segundo Piaget, o aparecimento do pensamento representativo, durante o estágio pré-operatório, abre o caminho para o desenvolvimento subsequente do pensamento lógico, durante o estágio de operações concretas. Com o pensamento representativo, chega a comunicação verbal. Entretanto a comunicação é amplamente egocêntrica. Uma conversação pode parecer sem qualquer coerência. A criança diz o está em sua mente, sem considerar muito o que outra pessoa disse. À medida que as crianças se desenvolvem, no entanto, levam cada vez mais em consideração o que os outros disseram, quando criam seus próprios comentários e respostas. A capacidade para manipular os símbolos verbais para objetos e ações ainda que egocentricamente acompanha a capacidade para manipular conceitos, e o estágio pré-operatório caracteriza-se por acréscimo no desenvolvimento conceitual. Todavia, a capacidade infantil para manipular conceitos ainda é bastante limitada durante este estágio. Por exemplo, durante esta fase as crianças exibem centração uma tendência para focalizar somente um aspecto especialmente observável de um objeto ou uma situação complicada. 20 Muitas modificações do desenvolvimento ocorrem durante este estágio. A experimentação intencional e ativa das crianças com a linguagem e com objetos em seus ambientes resulta em enormes acréscimos, no desenvolvimento conceitual e linguístico. Esses desenvolvimentos auxiliam a abrir caminho para o desenvolvimento cognitivo ulterior, durante o estágio de operações concretas. c)Estágio Operatório Concreto: No estágio de operações concretas, aproximadamente dos 7 ou 8 anos até os 11 ou 12 anos de idade, as crianças tornam-se capazes de manipular mentalmente as representações internas que formaram, durante o período pré-operatório. Em outras palavras, eles agora não só têm ideias e memórias dos objetos, mas também podem realizar operações mentais com essas ideias e memórias. Entretanto, podem agir assim apenas quanto a objetos concretos (por exemplo, ideias e memórias de carros, alimentos, brinquedos, e outras coisas tangíveis) daí a denominação de “operações concretas”. Talvez, a evidência mais forte da mudança do pensamento pré-operatório para o pensamento representativo do estágio operatório concreto seja vista nos experimentos clássicos de Piaget sobre conservação da quantidade. Na conservação, a criança é capaz de conservar mentalmente (lembrar-se) uma dada quantidade, embora observe modificações na aparência do objeto ou da substância. Esses experimentos investigaram as respostas das crianças a se uma quantidade de alguma coisa (por exemplo, o número de peças do jogo de damas, a quantidade de líquido ou o volume de massa) era conservada, apesar de modificações na aparência (TEIXEIRA, 2015). D)Estágio Operatório Formal O estágio operatório formal, aproximadamente dos 11 ou 12 anos de idade em diante, envolve operações mentais sobre abstrações e símbolos que podem não ter formas concretas ou físicas. Além do mais, as crianças começam a compreender algumas coisas que elas mesmas não tinham experimentado diretamente. Durante o estágio de operações concretas, elas começam a ser capazes de ver a perspectiva dos outros, se a perspectiva alternativa pode ser manipulada concretamente. Por exemplo, elas podem imaginar como outra criança pode ver uma cena (por exemplo, a pintura de uma cidade) quando sentam em lados opostos de uma mesa onde a cena 21 é exibida. Durante as operações formais, entretanto, finalmente elas são completamente capazes de adotar outras perspectivas além das suas próprias, mesmo quando não estão trabalhando com objetos concretos. Além disso, no estágio de operações formais, as pessoas procuram intencionalmente criar uma representação mental sistemática das situações com as quais se deparam. Anote aí: Para Piaget, tais estágios ocorrem em quase as mesmas idades para as diferentes crianças e cada um se constrói sobre o estágio precedente. Eles ocorrem em uma ordem fixa e são irreversíveis: uma vez que uma criança entre em um novo estágio, ela pensa nos aspectos que caracterizam esse estágio, independentemente do domínio da tarefa, da tarefa específica ou mesmo do contexto no qual a tarefa é apresentada. Ela jamais pensa nos aspectos que caracterizam um estágio anterior do desenvolvimento cognitivo. O interacionismo de Vygotsky (1896-1934) Lev Semyonovich Vygotsky nasceu na Bielo-Russia. Foi um pensador importante em sua área e época, pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida, no entanto, só veio a ser descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais muitos anos após a sua morte. Coelho e Pisoni (2012) contam que enquanto cursava Direito também participava dos cursos de História e Filosofia. A partir de suas experiências através da formação de professores na escola local do estado, dedicou-se ao estudo dos distúrbios de aprendizagem e de linguagem, das diversas formas de deficiências congênitas e adquiridas, e assim graduou-se em Medicina, fundou o laboratório de psicologia da Escola de Professores de Gomel, dando várias palestras que posteriormente foram publicadas no livro Psicologia Pedagógica no ano de 1926. Influenciado pelas ideias de Marx, Vygotsky desenvolveu sua teoria sobre funções psicológicas superiores, e como a linguagem e o pensamento estão 22 fortemente conectados. Curiosamente suas obras não obtiveram sucesso na União Soviética, território marxista, sendo conhecido por lá como comunista de direita. Tanto Vygotsky como Piaget compartilham de ideias construtivistas onde a única aprendizagem significativa é aquela que ocorre através da interação entre sujeito, objetos e outros sujeitos (COELHO; PISONI, 2012). Vygotsky considera que a aprendizagem é o elemento fundamental e antecessor ao desenvolvimento e destaca a importância das relações sociais, valorizando sempre a realização de tarefas coletivamente. Para Vygotsky (1991), a criança nasce apenas com as funções cognitivas elementares que se ampliam para as funções complexas a partir do contato com a cultura, o que não acontece automaticamente, mas sim por meio de intermediações de outros sujeitos, sendo essas intermediações responsáveis por formar significados e valores sociais e históricos. O que proporciona a particularidade das subjetividades individuais é a forma como os conteúdos culturais são combinados e processados no interior de cada um de nós. Da mesma forma, o desenvolvimento mental ocorre de maneira única em cada pessoa, a partir de como o mundo é experienciado, e “a cultura se torna parte da natureza humana, num processo histórico, que ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem”. (OLIVEIRA, 1992, p.24). É essencial na teoria de Vygotsky a compreensão de que a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, é um processo contínuo e está intrinsecamente ligada às relações sociais, pois ao nascer a criança é mergulhada no universo simbólico e na linguagem, e ao se relacionar essa linguagem se torna sua também, organizando os processos mentais e impulsionando novas buscas. As zonas de desenvolvimento Potencial, Real e Proximal Para lidar com a aprendizagem das crianças, na concepção sócio histórica, é preciso se atentar não apenas para o que ela realiza sozinha, mas para o que faz com ajuda, pistas e orientação de alguém mais habilidoso na tarefa a ser realizada. 23 Para isso, Vygotsky(1984) diferencia Desenvolvimento Potencial, Desenvolvimento Real e Desenvolvimento Proximal: - Zona de desenvolvimento potencial: é toda atividade e/ou conhecimento que a criança ainda não domina, mas que se espera que seja capaz de saber e/ou realizar, independentemente da cultura em que está inserida. - Zona de desenvolvimento real: é tudo aquilo que a criança é capaz de realizar sozinha, conquistas já consolidadas, “processos mentais que já se estabeleceram; ciclos de desenvolvimento que já se completara” (LEITE et al, 2009, p.206). Nessa zona, está pressuposto que a criança já tenha conhecimentos prévios sobre as atividades que realiza. - Zona de desenvolvimento proximal: é a distância entre o que a criança já pode realizar sozinha e aquilo que ela somente é capaz de desenvolver com auxílio de outra pessoa. Na zona de desenvolvimento proximal, o aspecto fundamental é a realização de atividades com a ajuda de um mediador que possibilita a concretização do desenvolvimento que está próximo, ajuda a transformar o desenvolvimento potencial em desenvolvimento real. Assim, conforme Vygotsky (1984) essa é a zona cooperativa do conhecimento. A mediação seria elemento fundamental para a constituição dos processos mentais superiores. Segundo Oliveira (1993, p.26), a mediação consiste num “processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento”. Na mediação simbólica, os signos ficam entre os sujeitos e os objetos do mundo, funcionando como representação social dos objetos e mediando a relação do homem com o mundo e com outros homens. É a partir da mediação simbólica que ocorrem as funções mentais superiores, e consequentemente o aprendizado. Os signos auxiliam os processos psicológicos organizando-os, também “oferecem suporte concreto para a ação do homem no mundo” (OLIVEIRA, 1993. p.34). 24 Desenvolvimento sócio cognitivo de Wallon (1879-1962) Henri P. H. Wallon, filósofo, médico, psicólogo e político francês, tornou-se conhecido por seus estudos sobre Psicologia do Desenvolvimento, focando principalmente a infância, em que assume uma postura notadamente interacionista (GALVÃO, 2000). Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Portanto, são identificados quatro temas na teoria de Wallon: 1. A questão da motricidade: Entende que a motricidade é a primeira forma de manifestação do ser humano, que suas primeiras manifestações são afetivas. 2. A questão da emoção: A emoção é orgânica e social. É orgânica porque tem controle sub-cortical e tem repercussões tônicas. A emoção faz parte da vida orgânica e cognitiva. É através dela que o indivíduo se socializa. 3. A questão da inteligência: A inteligência se desenvolve através de “saltos”. Para que estes “saltos” ocorram é necessário o amadurecimento neurológico e também a influência da cultura. Ele descreve dois momentos principais: a inteligência sensório-motora; a inteligência representativa. Para que ocorra, então, o “salto” da inteligência sensório-motora para a representativa são necessários os elementos neurológicos e também a influência da cultura. A inteligência representativa iniciaria, desta forma, em uma fase pré-categorial, onde o pensamento é sincrético, permitindo a “circulação” entre eles. 4. A formação do “eu”: A construção do eu depende essencialmente do outro. Seja para ser referência, seja para ser negado. Principalmente a partir do instante em que a criança começa a viver a chamada crise de oposição, em que a negação do 25 outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria. Isso se dá aos 3 anos de idade, a hora de saber que “eu” sou. Para Wallon, o mérito da Educação é desenvolver o máximo as potencialidades de cada indivíduo. É nesse mesmo indivíduo que devem ser buscadas as possibilidades de superação, compensação e equilíbrio funcionais. Wallon argumenta que as trocas relacionais da criança com os outros são fundamentais para o desenvolvimento da pessoa. As crianças nascem imersas em um mundo cultural e simbólico, no qual ficarão envolvidas em um “sincretismo subjetivo”, por pelo menos três anos. Durante esse período, de completa indiferenciação entre a criança e o ambiente humano, sua compreensão das coisas dependerá dos outros, que darão às suas ações e movimentos formato e expressão. Antes do surgimento da linguagem falada, as crianças comunicam-se e constituem-se como sujeitos com significado, através da ação e interpretação do meio entre humanos, construindo suas próprias emoções, que é seu primeiro sistema de comunicação expressiva. Estes processos comunicativos-expressivos acontecem em trocas sociais como a imitação. Imitando, a criança desdobra, lentamente, a nova capacidade que está a construir (pela participação do outro ela se diferenciará dos outros) formando sua subjetividade. Pela imitação, a criança expressa seus desejos de participar e se diferenciar dos outros constituindo-se em sujeito próprio. Wallon propõe estágios de desenvolvimento, assim como Piaget, porém, ele não é adepto da ideia de que a criança cresce de maneira linear. O desenvolvimento humano tem momentos de crise, isto é, uma criança ou um adulto não são capazes de se desenvolver sem conflitos. A criança se desenvolve com seus conflitos internos e, para ele, cada estágio estabelece uma forma específica de interação com o outro, é um desenvolvimento conflituoso. No início do desenvolvimento existe uma preponderância do biológico e após o social adquire maior força. Assim como Vygotsky, Wallon acredita que o social é imprescindível. A cultura e a linguagem fornecem ao pensamento os elementos para evoluir, sofisticar. A parte cognitiva social é muito flexível, não existindo linearidade no desenvolvimento, sendo este descontínuo e, por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, como um movimento que tende ao crescimento. 26 De acordo com Galvão (2000) no primeiro ano de vida, a criança interage com o meio regida pela afetividade, isto é, o estágio impulsivo-emocional, definido pela simbiose afetiva da criança em seu meio social. A criança começa a negociar, com seu mundo sócio-afetivo, os significados próprios, via expressões tônicas. As emoções intermediam sua relação com o mundo. Do estágio sensório-motor ao projetivo (1 a 3 anos), predominam as atividades de investigação, exploração e conhecimento do mundo social e físico. No estágio sensório-motor, permanece a subordinação a um sincretismo subjetivo (a lógica da criança ainda não está presente). Neste estágio predominam as relações cognitivas da criança com o meio. Wallon identifica o sincretismo como sendo a principal característica do pensamento infantil. Os fenômenos típicos do pensamento sincrético são: fabulação, contradição, tautologia e elisão. Dos 3 aos 6 anos, no estágio personalístico, aparece a imitação inteligente, a qual constrói os significados diferenciados que a criança dá para a própria ação. Nessa fase, a criança está voltada novamente para si própria. Para isso, a criança coloca-se em oposição ao outro num mecanismo de diferenciar-se. A criança, mediada pela fala e pelo domínio do “meu/minha”, faz com que as ideias atinjam o sentimento de propriedade das coisas. A tarefa central é o processo de formação da personalidade. Aos 6 anos a criança passa ao estágio categorial trazendo avanços na inteligência. No estágio da adolescência, a criança volta-se a questões pessoais, morais, predominando a afetividade. Ainda conforme Galvão (2000), é nesse estágio que se intensifica a realização das diferenciaçõesnecessárias à redução do sincretismo do pensamento. Esta redução do sincretismo e o estabelecimento da função categorial dependem do meio cultural no qual está inserida a criança. Recapitulando: Nossos estudos passaram por reconhecer a criança como um ser em desenvolvimento, vimos a importância dos ambientes de aprendizagem, e aprofundamos nas contribuições da corrente cognitivista, especificamente pelos estudos de Piaget, Vygotsky ou Wallon. Pois bem, podemos concluir então que a 27 aprendizagem é um processo dinâmico, contínuo, global, pessoal, gradativo e cumulativo: Processo dinâmico - Por realizar-se somente com a atividade do ser aprendente. A aprendizagem não é um processo de absorção passiva, carece de atividade tanto externa (física) quanto interna (afetivo-emocional, intelectual e social). Processo contínuo - Porque está presente na vida do ser em todas as fases da vida: no início da vida, na infância, adolescência, idade adulta e no envelhecimento. Processo global - Por envolver todos os aspectos constitutivos da personalidade do ser no ato de aprender. Processo pessoal - Visto que a aprendizagem é intransferível de pessoa para pessoa apesar da escola, movida por concepções antigas, ter acreditado que os professores ao ensinar os conteúdos de suas aulas levavam os alunos à aprenderem. Processo gradativo - Por se realizar por meio de operações crescentemente complexas. A cada aprendizagem novos elementos são acrescidos às experiências anteriores (pontos de ancoragem) em dimensão gradativa e ascendente. Processo cumulativo - Visto que a experiência de aprendizagem atual utiliza-se das experiências anteriores (SANTANA, 2014). Figura 5 - Esquema das teorias do desenvolvimento cognitivo 28 Referências ANDRADE, C. D. de. Marinheiro. In: A senha do mundo. 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